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FUNDAMENTOS HISTÓRICOS, SOCIOCULTURAIS, ÉTICOS E DIDÁTICA APLICADOS À EDUCAÇÃO FÍSICA PROF.A DRA. PAULA MARRONI Reitor: Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira Pró-Reitoria Acadêmica Maria Albertina Ferreira do Nascimento Diretoria EAD: Prof.a Dra. Gisele Caroline Novakowski PRODUÇÃO DE MATERIAIS Diagramação: Alan Michel Bariani Thiago Bruno Peraro Revisão Textual: Fernando Sachetti Bomfim Marta Yumi Ando Simone Barbosa Produção Audiovisual: Adriano Vieira Marques Márcio Alexandre Júnior Lara Osmar da Conceição Calisto Gestão de Produção: Cristiane Alves © Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo (a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá. Primeiramente, deixo uma frase de Sócrates para reflexão: “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida.” Cada um de nós tem uma grande responsabilidade sobre as escolhas que fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica e profissional, refletindo diretamente em nossa vida pessoal e em nossas relações com a sociedade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente e busca por tecnologia, informação e conhecimento advindos de profissionais que possuam novas habilidades para liderança e sobrevivência no mercado de trabalho. De fato, a tecnologia e a comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e nos proporcionando momentos inesquecíveis. Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a Distância, a proporcionar um ensino de qualidade, capaz de formar cidadãos integrantes de uma sociedade justa, preparados para o mercado de trabalho, como planejadores e líderes atuantes. Que esta nova caminhada lhes traga muita experiência, conhecimento e sucesso. Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira REITOR 33WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 01 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................................. 4 1. CONSIDERAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA ......................................................................... 6 1.1 A IMPORTÂNCIA DE ESTUDAR HISTÓRIA .......................................................................................................... 6 1.2 ELEMENTOS DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA RELACIONADOS À PERIODIZAÇÃO: DA PRÉ-HISTÓRIA À TRANSIÇÃO DO MEDIEVO PARA A MODERNIDADE ............................................................................................... 11 2. A IMPORTÂNCIA DA ERA DAS REVOLUÇÕES, DO CIENTIFICISMO CRESCENTE E DAS NOVAS RELAÇÕES SOCIAIS ....................................................................................................................................................................... 18 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................................................... 20 CONSIDERAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA PROF.A DRA. PAULA MARRONI ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: FUNDAMENTOS HISTÓRICOS, SOCIOCULTURAIS, ÉTICOS E DIDÁTICA APLICADOS À EDUCAÇÃO FÍSICA 4WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC OS , S OC IO CU LT UR AI S, ÉT IC OS E D ID ÁT IC A AP LI CA DO S À ED UC AÇ ÃO F ÍS IC A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Seja bem-vindo(a) à apostila de “Fundamentos Históricos, Socioculturais, Éticos e Didática Aplicados à Educação Física”. Eu vou acompanhar você ao longo do desenvolvimento de uma disciplina muito importante para a sua formação como futuro professor de educação física. Esta disciplina é determinante para que você assuma uma postura ante sua profissão. Muitas vezes, ao ingressar em um curso de educação física, seja ele bacharelado ou licenciatura, temos muita ânsia de aprender os conteúdos específicos de trabalho, mais práticos ou mais direcionados à atuação direta, como os esportes ou as danças, não acreditando muito na importância de disciplinas de formação inicial ou básica. Minha tarefa para esta disciplina é, portanto, bastante desafiadora: ao mesmo tempo em que é necessário apresentar todos os conteúdos a respeito da nossa formação, também tenho a tarefa de aproximar você desse conteúdo com novo olhar, que entende a importância desse tipo de disciplina para a formação profissional. Sendo assim, posso iniciar com alguns questionamentos para que você entenda qual a necessidade de estudar sobre esses assuntos. Por exemplo, muito em breve, você terá um diploma de educação física e irá trabalhar na área, se tudo correr bem. Quando te questionarem sobre a diferença entre licenciatura e bacharelado, como você pode responder? Você entende os movimentos históricos e sociais que levaram a educação física a separar e, em seguida, assumir novamente uma formação só? Quanto tempo faz que a educação física é separada em licenciatura e bacharelado? Aliás, o que é educação física para você? Você está estudando este assunto há algum tempo já, como você define educação física? E quando ela surgiu? Será que ela sempre existiu ou ela dependeu de alguns elementos de contexto histórico, econômico, político, cultural e social para se estabelecer como ela é hoje? O que você sabe sobre as relações sociais que determinaram a educação física como área de conhecimento? Ela é igual aqui no Brasil e nos outros países? Qual a formação necessária para ser professor de educação física? Como você observa, por exemplo, as musas fitness, os influenciadores digitais, que não são professores de educação física indicando treinos? E como você observa também instrutores de academia prescrevendo suplementos? 5WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC OS , S OC IO CU LT UR AI S, ÉT IC OS E D ID ÁT IC A AP LI CA DO S À ED UC AÇ ÃO F ÍS IC A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Todas essas discussões são possíveis quando você se dedica a estudar uma disciplina de formação como esta. Não que ela responda a todas essas questões, mas ela lhe oferece meios para poder refletir sobre todas essas questões e formular a sua própria opinião. Vamos conhecer, então, como ela vai se dividir? Possuímos quatro unidades: reservaremos as duas primeiras para o que chamamos de introdução à educação física, e as duas últimas para o que chamamos de didática em educação física. Os elementos históricos, sociais e éticos perpassam todas as unidades. Na primeira unidade, abordaremos especificamente a história da educação física, a importância de se estudar história e uma reflexão sobre todas as disciplinas que se iniciam com retomadas históricas. Trataremos brevemente da relação entre a história das práticas corporais e os diferentes períodos históricos. Assim, abordaremos, de certa forma, a educação física da pré-história até à revolução industrial, pois precisamos de um pouco de espaço para entender as relações entre as estruturas capitalistas e a instituição da educação física. Já na segunda unidade, avançaremos para algumas das raízes europeias da educação física no Brasil e abordaremos as revoluções conceituais que a nossa área sofreu no Brasil a partir da década de 1970. Assim, poderemos atingir o objetivo da segunda unidade, que, apesar de iniciar com o fim da retomada histórica, se propõe a abordar um pouquinho mais a respeito dos dilemas entre licenciatura e bacharelado, principalmente ao final da década de 1990 e início dos anos 2000. Essa discussão a respeito da formação profissional também introduz o estudo a respeito da ética na nossa profissão. Sendo assim, encerramos com a discussão a respeito de ética profissional a primeira parte da nossa disciplina destinada à introdução à educação física. Na terceira unidade, iniciamos a compreensão da didática retomando relações históricas com o tipo de abordagem e seu contexto. Trataremos desde abordagens pedagógicas mais amplas,do fim do século 19 até a década de 1980, e a partir da década de 1990, especificamente as metodologias emergentes em educação física. O objetivo é que você consiga definir uma forma de abordagem para suas aulas, e até entenda como foram realizadas as aulas de educação física quando você era estudante. Na quarta e última unidade, abordaremos alguns aspectos técnicos e formais, que são objetos de estudo da didática. Os dois principais são plano de ensino e plano de aula. No plano de ensino, compreenderemos as questões relacionadas à ementa, aos objetivos, conteúdos, tipos de avaliação, às estruturas de currículo. Brevemente, teremos contato com algumas questões relacionadas às políticas públicas para a educação, para que você entenda um pouco mais sobre diretrizes curriculares e base nacional comum curricular aplicadas à educação física. No que se refere ao plano de aula, abordaremos as estruturas de espaço para as aulas, recursos pessoais, físicos e materiais, abordagens pedagógicas predominantes e referências que fundamentam cada plano de aula. Como você pôde observar, é uma disciplina de conteúdo bastante extenso, amplo e complexo, para ser reduzida apenas a uma apostila como esta. Mas esperamos que, ao final deste desafio, seja um pouco mais fácil para você responder as perguntas que fiz no início desta introdução. Vamos lá? 6WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC OS , S OC IO CU LT UR AI S, ÉT IC OS E D ID ÁT IC A AP LI CA DO S À ED UC AÇ ÃO F ÍS IC A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. CONSIDERAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA Iniciamos as nossas reflexões na primeira unidade. Esta unidade se propõe a tratar dos elementos históricos da educação física. Para desenvolver esse conteúdo, relembraremos a importância de se estudar história e as relações com as retomadas históricas realizadas em cada uma das disciplinas do seu curso. Em seguida, abordaremos alguns elementos mais especificamente relacionados à história da educação física e direcionaremos a nossa atenção aos primórdios das relações capitalistas, das revoluções burguesas e industriais, dos manuais europeus e das retomadas de jogos olímpicos. Esse período é muito intenso, importante para o desenvolvimento do conhecimento a respeito da nossa área e das relações que ocorreram e que possuem desdobramentos até os tempos atuais. Você vai perceber aqui uma transição com a próxima unidade, na qual abordaremos também alguns elementos relacionados às raízes europeias na história do Brasil, teoria defendida por Soares (2004), que se configura como uma das teorias bastante consideradas quando abordamos a história da educação física brasileira até hoje. 1.1 A Importância de Estudar História Durante o desenvolvimento do seu curso, você já deve ter se acostumado com o fato de que a grande maioria das disciplinas, principalmente as de cunho específico da educação física, estão iniciando as suas abordagens com retomadas históricas. Caso as retomadas não aconteçam no primeiro momento, a relação entre história e o objeto do estudo em questão ocorre em algum ponto do desenvolvimento da disciplina. Isso se dá porque cada uma das disciplinas precisa apontar contextualização histórica, para que seja mais fácil compreender outros elementos, como a contextualização social, econômica, política e cultural. A contextualização histórica auxilia também a compreender como uma disciplina é caracterizada atualmente, e por qual razão ela possui desmembramentos e às vezes panoramas que não fazem sentido se não forem observados pelo viés da história. É por essa razão que a nossa abordagem histórica a respeito da educação física acaba sendo um pouco mais abrangente, mas também focaliza alguns elementos que podem tangenciar conhecimentos que você já tenha adquirido. 7WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC OS , S OC IO CU LT UR AI S, ÉT IC OS E D ID ÁT IC A AP LI CA DO S À ED UC AÇ ÃO F ÍS IC A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Espero que você já tenha feito isso. Lá vem o spoiler: não vou dar essa resposta ao final desta apostila. Você mesma ou você mesmo é que vai, ao final da apostila, comparar o que você escreveu ou pensou agora com o que vai acumular de conhecimento nos próximos módulos. Isso vai ajudá-lo, enquanto profissional, a observar como você entende e a que se destina a educação física em sua opinião. Aqui você já tem uma pista sobre algo que vai nortear um pouco as nossas duas primeiras unidades: muitos autores apontam que a educação física passa por uma espécie de “crise de identidade”, já que ela não se define de apenas uma forma, e muito do que um profissional acredita que é a educação física diz respeito ao modo como esse profissional enxerga a área. Eu vou lhe contar o que penso que é a educação física, no meu ponto de vista, na segunda unidade. Voltando às diferentes observações que cada disciplina faz sobre os momentos históricos, é por essa razão que não precisamos passar por todos os momentos históricos para poder abordar a história da educação física. De certa forma, podemos nos dar ao luxo de elencar alguns que têm uma relação maior com o assunto central de que estamos tratando, que é basicamente a nossa formação profissional e a história da disciplina nesse contexto. Você sabe que já teve condição de observar, ao longo dos seus estudos para se formar em educação física, que a importância do estudo da história nos auxilia no processo de entender o que o homem acumulou de conhecimento ao longo do tempo e busca trazer e perpetuar como conhecimento para as próximas gerações. Essa ideia de trazer conhecimento ao homem ou humanidade ao homem é uma ideia desenvolvida e defendida por um grande teórico da educação chamado Dermeval Saviani (2005). Apesar de não ser um teórico específico da educação física, muitos de seus desenvolvimentos reverberam em nossa área e, por essa razão, é muito importante entender a sua participação em nossa área. Isso já deve ter acontecido com você: estudando, seja história da dança, seja história da ginástica, seja história dos jogos, perceber que algo já não é estranho e você já ouviu alguma coisa sobre aquele momento histórico em questão. A boa notícia é que isso vai acontecer bastante e que você vai refinar, cada vez mais, seus conhecimentos e ir conseguindo reconhecer essas diversas nuances sobre as contextualizações históricas, de forma que um assunto vai ajudá-lo a compreender melhor o outro. Portanto, não se trata aqui de substituir nenhum texto, os conhecimentos, muito menos hierarquizá-los, e sim somar todo esse conhecimento ao que você vem construindo sobre o que é e como se constituiu a educação física. Sua opinião sobre o assunto vai sendo reformulada a cada disciplina. Isso é construção de conhecimento! Pense nisso. Vamos já fazer um exercício? Escreva no seu caderno, com suas palavras, o que é educação física para você, hoje, agora, antes de ter acesso ao conhecimento e conteúdo desta disciplina. Se não tiver como escrever agora, ao menos, pense. O spoiler está chegando. 8WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC OS , S OC IO CU LT UR AI S, ÉT IC OS E D ID ÁT IC A AP LI CA DO S À ED UC AÇ ÃO F ÍS IC A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA É importante também elencar que o estudo da história não deve ser realizado somente a partir de teóricos da educação física. Esse elemento eu defendi no módulo de Ginástica e no de Dança. Se você foi ou for meu aluno ou minha aluna em um dos dois, reconhecerá a discussão. O estudo da história possui uma forma de pesquisa e de base específica e possui também os seus próprios métodos de desenvolvimento. É muito importante destacar isso, porque, muitas vezes, nós apenas reproduzimos autores da educação física e, quando estudamos história, entendemos que se trata de fontes secundárias ou terciárias a respeito de um assunto. Retomando a discussão sobrefonte, que também já foi realizada em algumas disciplinas do seu curso, apenas para relembrar: as fontes primárias são aqueles objetos ou comprovações primordiais a respeito de um assunto. As fontes secundárias são os escritos resultantes do contato de alguém com a fonte primária e sua descrição ou afirmações a respeito da experiência que teve no contato com a fonte primária. A fonte terciária é aquela que se apropria do conhecimento passado pela fonte secundária e elabora sua teoria sem ter tido contato com a fonte primária. Gosto sempre de usar a Idade Média como exemplo, pois foi o foco do meu doutorado. Quando reproduzimos ideias de que a idade média era uma época sem educação, sem o desenvolvimento de práticas corporais porque a igreja nos proibia, estamos fazendo uso de uma fonte terciária para o estudo da história, reproduzindo autores da educação física que possuem uma visão renascentista de como eram as práticas corporais na idade média. Quando temos o acesso a uma fonte primária, como, por exemplo, O livro da ordem de cavalaria, de Raimundo Lúlio, um livro do século 12, e percebemos que o autor buscava teorizar sobre como deveria acontecer o treinamento do cavaleiro para a cruzada, podemos entender que, durante a idade média, existiam livros escritos a respeito das práticas corporais e da tentativa de se registrar em palavras e ações realizadas com o corpo (MARRONI, 2015). Eu pessoalmente tive contato com uma transcrição desse livro, que pode ser considerada uma fonte secundária, pois eu não vi o original, mas como busca reproduzir as palavras existentes na fonte original, pode ser considerada uma fonte de pesquisa. Nossa sugestão aqui é que você conheça uma obra que se originou dos estudos sobre o trabalho de Saviani (2005). Ela se c’hama Uma didática para a pedagogia histórico-crítica. Elaborada por João Luiz Gasparin, um professor e pesquisador maringaense, a obra busca organizar os elementos da pedagogia histórico-crítica de forma a transformar essa abordagem pedagógica em uma materialidade em termos didáticos. A referência encontra-se ao final desta apostila. Fonte: Saraiva (2020). 9WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC OS , S OC IO CU LT UR AI S, ÉT IC OS E D ID ÁT IC A AP LI CA DO S À ED UC AÇ ÃO F ÍS IC A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Agora, por favor, siga o raciocínio comigo: compartilhando essa história com você, eu me torno a fonte secundária sobre a informação contida no livro, pois você não viu essa informação, você lê o que falo sobre ela. Inclusive, para os mais conservadores, me torno a fonte terciária, já que eu sei o que estava escrito a partir de uma transcrição do livro original. Legal, né? A partir dessa relação, você foi capaz de entender que existe um livro, entre muitos outros livros na idade média, que abordou o assunto práticas corporais. Assim, a partir disso, pode refletir a respeito de tudo o que já ouviu até hoje, de que, na idade média, não acontecia nada relacionado às práticas corporais, porque as pessoas supostamente eram proibidas pela igreja, por exemplo. Você consegue perceber, nesse exemplo dado, a importância de se estudar história pelo viés da história, e não somente pelo viés da educação física? É por essa razão que trazemos alguns elementos da historiografia e da história para que você entenda melhor que a relação com a história de uma área de conhecimento depende também do olhar e do ponto de vista que é estabelecido para aquela área de conhecimento. Muitas vezes, o ponto de vista é da classe dominante, ou dos que venceram a batalha e queimaram todas as outras informações a respeito dos povos que eles dominaram. Muitas vezes, estamos abordando também histórias de povos que reproduzem as suas falas de geração para geração de forma oral, sem escrevê-las. Neste sentido, se o seu ponto de vista é o de que é história apenas o que está escrito, não há validade nas informações que são passadas de geração para geração, até que elas estejam escritas em algum lugar. Caso você se interesse em saber mais, indico a leitura da tese O Livro da ordem de cavalaria, de Raimundo Lúlio: uma proposta de educação social pautada no modelo de conduta virtuosa. Nele, você pode encontrar, no primeiro capítulo, uma arqueologia da fonte, na qual explico as formas de se acessar a fonte primária e reflexões a respeito do seu uso. A referência encontra-se ao final desta apostila, mas você pode acessá-la pelo link: http://www.ppe.uem.br/teses/2015%20-%20 Paula%20Marroni.pdf. Pode parecer muito distante esse exemplo, mas podemos abordar cantigas de roda, que vão sendo passadas de geração para geração pela tradição oral e que carregam em si uma série de ensinamentos e objetivos que nos permitem entender um pouco mais sobre a cultura daqueles povos. Podemos abordar as brincadeiras de rua que você fazia quando era criança e que algum amiguinho ou amiguinha sua, que veio de outra cidade, brincava a mesma coisa, mas de algum jeito diferente: porque naquela região houve alguma modificação nesse ensino de geração para geração. http://www.ppe.uem.br/teses/2015%20-%20Paula%20Marroni.pdf http://www.ppe.uem.br/teses/2015%20-%20Paula%20Marroni.pdf 10WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC OS , S OC IO CU LT UR AI S, ÉT IC OS E D ID ÁT IC A AP LI CA DO S À ED UC AÇ ÃO F ÍS IC A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Quando estudamos folclore ou outros elementos relacionados à cultura, entendemos mais o quanto esse tipo de registro acaba sendo usado como fonte principal em detrimento das informações ricas e das inúmeras possibilidades que a cultura oral pode nos passar. É por essa razão que alguns historiadores realizaram o que a gente chama de revolução documental, no fim da década de 1970 do século passado (BLOCH, 2001). Para eles, estudar a história oral, os silêncios não ditos pelas pessoas silenciadas ao longo da história e outros elementos devem ser considerados, e não somente a história oficial dos documentos militares ou dos registros escritos e desenhados. Hoje até consideramos um pouco mais comum falar sobre os silenciados da história ou considerar a história por meio de registros não escritos, como quando retomamos a história do circo por meio de cartazes e de bilhetes de entrada. Mas, antes dessa revolução documental, não era tão comum assim. Essa história nos permite refletir a respeito de uma série de relações antropológicas entre os gestos corporais que nós executamos hoje e o seu passado histórico. Como exemplo, temos a retomada antropológica que muitos autores fazem dos movimentos realizados no atletismo ou dos movimentos realizados na ginástica e sua relação com o homem primitivo, que buscava sobrevivência e abrigo. Talvez você não tenha percebido, mas já entramos fundo na história da educação física! Após entender o conceito de fonte e o conceito de revolução documental, o último elemento que gostamos de trazer à tona quando abordamos essas relações de retomada histórica é o conceito de periodização, ou seja, a divisão dos momentos históricos. A periodização clássica define cinco períodos históricos pelos quais teríamos passado, e alguns marcos históricos para que seja definida a passagem de um para outro deles. Figura 1 - Periodização histórica. Fonte: História fácil (2020). 11WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC OS , S OC IO CU LT UR AI S, ÉT IC OS E D ID ÁT IC A AP LI CA DO S À ED UC AÇ ÃO F ÍS IC A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Os cinco períodos históricos mais conhecidos são os seguintes. O período pré-histórico, antes da invenção da escrita. Em seguida, a antiguidade clássica, representada principalmente pelo apogeu das civilizações greco-romana, egípcia e mesopotâmica. Neste, a grande maioria das informações que temos é do leste europeu ou do centro da Eurásia e norte da África, o que não quer dizer que não existam elementos importantesna Ásia, Oceania e Américas. Em seguida, o período medieval, no qual a grande maioria das informações que temos é da Europa, leste europeu e África perto da região do mar mediterrâneo, e em seu final o período em que se iniciaram as grandes navegações. Na sequência, temos o período marcado pela história moderna, período de grandes colonizações ao redor do mundo e no qual o centro europeu sai de uma vida feudal para uma vida citadina e as estruturas sociais se consolidam de forma a culminar nas chamadas revoluções burguesas e industriais, que marcam o início da quinta e última fase, a era contemporânea. Para alguns autores, ainda nos localizamos na era contemporânea e, para outros, já estamos em uma nova era, que pode ser chamada de tecnológica ou digital. É importante ressaltar que a história é realizada por intermédio de rupturas e permanências. Isso significa que algumas das estruturas antigas ou medievais permanecem até hoje, enquanto outras estruturas já não são mais parte, não fazem sentido no mundo em que vivemos. São essas permanências e rupturas que, muitas vezes, nos fazem confundir uma época ou outra, pois trazem traços de sociedades que já não mais existem sobrepostos a características de outras sociedades. Sobre tudo isso de que tratamos até o momento, você já conseguiu observar que, quando abordamos a história da educação física, falamos um pouquinho de momentos que você já vem conhecendo ao longo das outras disciplinas. Por isso, retomaremos alguns deles que podem nos auxiliar mais agora. 1.2 Elementos da História da Educação Física Relacionados à Periodização: da Pré-História à Transição do Medievo para a Modernidade Quando tratamos dos elementos da história da educação física, tendo em vista uma organização baseada na periodização já mencionada, nos propomos a abordar brevemente um pouco da história das práticas corporais em cada uma das épocas. Entretanto, os elementos da cultura corporal, tais como os que tratamos como conteúdos estruturantes da educação física (jogos, dança, ginásticas, lutas, atividades na natureza e esportes individuais e coletivos), possuem um direcionamento histórico mais específico e se direcionam mais profundamente em cada disciplina. Nesse sentido, retomaremos alguns aspectos mais gerais acerca das relações entre história e práticas corporais nos períodos pré-história, história antiga, história medieval e história moderna. O período de transição entre a história medieval e moderna é tão profuso para nossa área, que continuará no próximo tópico. Além disso, a história contemporânea possui um link entre esta unidade e a Unidade 2. No que se refere à pré-história, ou seja, época em que não tínhamos ainda a história escrita, voltamos às nossas prerrogativas em cima de conhecimentos acumulados pelos cientistas das ciências biológicas, da história, da sociologia, da antropologia. Esses teóricos levam em consideração um conjunto de informações para trazer os elementos para entender o homem primitivo. 12WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC OS , S OC IO CU LT UR AI S, ÉT IC OS E D ID ÁT IC A AP LI CA DO S À ED UC AÇ ÃO F ÍS IC A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O referido filme tenta colocar a relação entre três diferentes grupos de seres humanos, cada um em um nível de evolução. Eles não necessariamente se encontraram na vida real, mas o desenrolar da história de encontros entre eles é para explicar, em um sentido figurativo, a relação entre esses três tipos diferentes de humanos e o nível de desenvolvimento civilizatório em que eles se encontravam. Resumidamente, os primeiros eram ainda peludos e selvagens, comunicavam-se por brunidos e viviam em cavernas. O segundo grupo era formado por homens já sem tantos pelos e que usavam roupas de animais, pois caçavam e guerreavam, o que significa que já dominavam o uso das mãos nas atividades produtivas e na manipulação das pedras lascadas, por exemplo. No terceiro nível, temos a representação de uma mulher sem pelos, que tomava banho, que pintava o corpo e que sabia fazer fogo. Os grupos anteriores usavam o fogo que vivia aceso, advindo de algum raio ou incêndio, sem que ninguém apagasse, pois não sabiam fazê-lo. Era o grande tesouro do grupo de nômades, que se revezavam em quem seria o guardião do fogo, ou o responsável para que aquela chama não se apagasse e pudesse ser útil à noite, quando parassem a caminhada para dormir, se aquecerem e se alimentarem com o calor do fogo. Essa mulher, do terceiro grupo, já vivia em uma civilização, com organização social e um líder. A organização da vida já estava em grupos, mas sempre mantendo a relação mútua com a natureza. Salientamos que, provavelmente, a atividade corporal dessa época realiza-se com vistas à sobrevivência. Aos poucos, o desenvolvimento e o progresso cultural podem ser observados ao longo da lapidação, do trabalho manual, da linguagem e da organização. Com o tempo, o trabalho também auxilia no desenvolvimento do corpo e vice-versa, com o aperfeiçoamento de habilidades que vão auxiliar no processo de sobrevivência. Nesse momento, o corpo era utilizado principalmente para a produção, a caça, a pesca e as lutas. A respeito desse assunto, um dos filmes mais comumente evocados para que compreendamos esse período histórico é a Guerra do fogo (ANNAUD, 1981). Deixamos aqui como sugestão para você. Figura 2 - A guerra do fogo. Fonte: Annaud (1981). 13WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC OS , S OC IO CU LT UR AI S, ÉT IC OS E D ID ÁT IC A AP LI CA DO S À ED UC AÇ ÃO F ÍS IC A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Com o passar do tempo, sugere-se que foi sendo inserido aos poucos a origem do lazer e da cultura física, de forma que o treinamento do corpo, com o objetivo de que estivesse pronto para situações de guerra, passou a ser uma prática realizada pelos grupos de humanos. A guerra e a sobrevivência ainda poderiam ser o foco principal, mas, ao invés de adquirirem a musculatura rígida por essas atividades, adquiriam-na antes, em treinamentos, podendo usufruir do vigor e da força física nos momentos de guerra. Você percebe a diferença? Com o passar do tempo, as organizações sociais também permitiram a crescente divisão de classes entre os dominantes e os dominados. Porém, vale ressaltar que as necessidades foram supridas, uma por uma. Inclusive, existem teorias que trazem a ideia de que é a criação de necessidades e a busca por saná-las que trazem o desenvolvimento humano. Com o tempo, também foi possível entender as relações de afetividade e sentimento. Dessa forma, não temos apenas as características biológicas de uma sociedade primitiva, mas uma sociedade que possui relações comunitárias e que evolui, consequentemente, faz-se uma sociedade com distinção entre as pessoas. Quando a comunicação passou a ser registrada, temos a ideia de escrita, que comumente é usada como o marco de transferência entre o período pré-histórico e o período histórico. O período histórico inicia-se com a antiguidade, ou história antiga. Estamos falando de alguns mil anos antes da era cristã, ou na nossa contagem de tempo a partir do ano 0 como referência. Nesse período, temos mais informações a respeito da região da Mesopotâmia, da Grécia ou do território que hoje chamamos de Grécia, e do antigo Egito. Porém, não se esqueça: isso não quer dizer que não tenhamos a possibilidade de descobrir muitas informações sobre as histórias das práticas corporais em outros locais do mundo, na mesma época. 14WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC OS , S OC IO CU LT UR AI S, ÉT IC OS E D ID ÁT IC A AP LI CA DO S À ED UC AÇ ÃO F ÍS IC A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Nós, da educação física, gostamos de focar bastante a nossa atenção na sociedade grega, por conta de algumas características que remontam à história da educação física no que se refere à própria constituição da ginásticae dos jogos olímpicos, da educação dos corpos e da relação saudável entre corpo e mente. Figura 3 - Os jogos olímpicos da Antiguidade. Fonte: Iglesias (2016). A sociedade grega passou por diferentes períodos: homérico, arcaico, clássico e helenístico. Existem registros de que as comemorações das vitórias com jogos e competições homenageando os deuses do Olimpo e os mortos na guerra tenham iniciado ainda no período homérico, de 1150 a 800 antes de Cristo. Você sabe por que tratamos esse período como “homérico”? O autor de duas obras importantes, Ilíada e Odisseia, teria sido Homero. Sobre esse período, temos poucas informações, e todas as que temos estão baseadas nas linhas dessas duas epopeias. É por essa razão que tratamos esse período como homérico. 15WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC OS , S OC IO CU LT UR AI S, ÉT IC OS E D ID ÁT IC A AP LI CA DO S À ED UC AÇ ÃO F ÍS IC A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Se pensarmos nos jogos para as comemorações de vitória, chamados de pan-helenísticos, é importante ressaltar que havia então mais de uma necessidade para um corpo com musculatura definida e força: não somente necessários para a guerra, mas também necessários para o esporte, um treino por vontade própria e não mais por sobrevivência. Avançando no tempo, no período arcaico, esses jogos passaram a ser tratados como os Jogos Olímpicos. Esses jogos determinavam se, para os deuses do Olimpo, poderiam ser cessadas as guerras e celebrar a harmonia entre os povos. Informações nos trazem a data de 776 a. C. como um dos primeiros Jogos Olímpicos registrados. Já adiantamos que eles terão uma grande pausa entre os anos 78 a. C. e 1896 d. C., quando retomamos os Jogos Olímpicos da Era Moderna. Falaremos desse assunto na próxima unidade. É também nesse período que, considerando as divisões sociais entre homens livres e escravos, temos um grupo que pôde se dedicar, principalmente se tratamos do período clássico, ao que chamamos de ócio. O ócio grego não tem muita relação com a vulgarização do termo na atualidade. Se hoje o tempo ocioso é visto de forma negativa como um tempo de desocupados, na Grécia antiga, o ócio era considerado o tempo que sobrava para se fazer ciência. A própria ginástica, usada como treinamento do corpo, que podia ou não ser aproveitada para a guerra e para os esportes, passa a ser praticada por seu apelo à sanidade mental e bons pensamentos que poderia trazer. É dessa época, na Grécia Antiga, a relação que se dá entre mente sã e corpo são, e a primeira característica que temos de valorização das práticas de atividade física para a qualidade de vida, mesmo que ela não tenha esse nome ainda nessa época. Normalmente, quando se trata de antiguidade, abordamos um pouco de algumas características que aconteceram no império romano, até mesmo antes de ele se tornar um império. O povo romano era um povo agropastoril, mas que possuía a prática de conquistar as terras vizinhas e anexá-las ao próprio território. Isso gerava algumas crises e algumas brigas internas, revelando inclusive uma luta de classes, o que fazia com que o povo romano fosse esse grupo muito voltado à guerra, seja contra agentes externos, seja com as brigas internas. Não é à toa que, normalmente, as características da história da educação física relacionadas ao povo romano envolvem mais a guerra, o desapego pela vida e o gosto pela violência e pelas práticas corporais que envolviam as lutas. Essas lutas podiam ocorrer entre homens, lutas entre homens e animais e gosto por assistir a lutas entre animais. Não podemos perder de vista a importância da religião nesse processo, da crescente formação de seitas que pregavam a igualdade social. Em uma delas, especificamente o cristianismo, o império romano encontrou solo fértil para sua expansão. Não percamos de vista, também, a importância que a religião cristã tem nesse processo de transição entre o que chamamos de antiguidade e medievo. Um dos marcos mais conhecidos para essa transição são as invasões bárbaras, a invasões de povos do Norte europeu, que auxiliarão no processo de fuga e direcionamento das pessoas para os interiores, o campo, que de forma crescente vão ser propriedades rurais constituídas como feudos. 16WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC OS , S OC IO CU LT UR AI S, ÉT IC OS E D ID ÁT IC A AP LI CA DO S À ED UC AÇ ÃO F ÍS IC A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Mas, atenção! Estamos abordando aqui uma história de aproximadamente 1000 anos, entre o início da idade média e seu apogeu e queda. Portanto, é muito importante destacar que a idade média não foi linear, ela possui uma série de fases. Resumidamente, essas fases vão desde o processo inicial de agrupamento e estabelecimento de relações pessoais, que vão resultar no futuro entre senhores feudais e seus vassalos. Além disso, são essas relações sociais que vão se materializar na constituição dos homens camponeses, que buscam abrigo em feudos, para poder ter segurança e um solo e, em troca, oferecem os alimentos básicos para a subsistência para os senhores. Figura 4 - Sociedade medieval. Fonte: Besen (2011). Como temos pouco espaço para abordar essas questões, é necessário que você tenha em mente que toda a magnitude da idade média e suas complexas relações não se resumem a esse parágrafo. São muitos os desenvolvimentos tecnológicos relacionados aos processos de plantio de produtividade agrícola, que vão sendo responsáveis pela existência de excedentes agrícolas, que permitem trocas com outras propriedades rurais. 17WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC OS , S OC IO CU LT UR AI S, ÉT IC OS E D ID ÁT IC A AP LI CA DO S À ED UC AÇ ÃO F ÍS IC A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Essas trocas, aos poucos, vão se constituir em grandes feiras populares e pontos de comércio e rotas de comerciantes de peregrinos e de exércitos. Essas rotas comerciais acabam estabelecendo alguns pontos de parada para dormir para se alimentar; aos poucos, vão sendo agrupados novos negócios, e não à toa as cidades acabam ressurgindo em locais estratégicos originados pelas rotas de comércio. Esse período, que marca o crescimento do comércio, a existência de vizinhos e de organizações que vão chamar de cidades, marca a transição entre o medievo e a idade moderna. As práticas destinadas ao lazer, à recreação também não deixaram de existir e foram passadas de geração para geração, algumas mais evidentes e relacionadas às festas e folguedos, às comemorações religiosas e às celebrações de guerra, outras um pouco mais relacionadas à diversão e às práticas dentro da vida privada, dentro das paredes do castelo e dos salões de baile. O corpo nunca deixou de ter o seu espaço, das mais variadas formas, conforme registrado por pintores do fim dessa época, que registram as práticas relacionadas às brincadeiras e ao cotidiano das pessoas. Nessa época, nós temos também os empreendimentos importantes realizados com fins religiosos e econômicos chamados de cruzadas, além do início do que tratamos como expansão marítima, que se relaciona à busca de novas terras que vão ser colonizadas e permitir o envio de matérias-primas para serem manufaturadas. Estamos em um período muito importante de transição entre a Idade Média e a Idade Moderna. Antes de encerrar essa parte da periodização, vamos refletir mais um pouco: onde ficou o corpo durante a idade média? O tempo todo, em todos os lugares, conforme você pôde observar, estudando a história das outras manifestações da cultura corporal de movimento. Você vai ver, ou relembrar, que os jogos, as lutas, os esportes, as danças, a ginástica e todas as práticas relacionadas ao corpo nunca deixaram de existir. Os pintores Georges Seurat e Peter Brueguel realizaram elementos muito importantes acerca de registros sobre as práticas corporais na idade média. 18WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO SHI ST ÓR IC OS , S OC IO CU LT UR AI S, ÉT IC OS E D ID ÁT IC A AP LI CA DO S À ED UC AÇ ÃO F ÍS IC A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 2. A IMPORTÂNCIA DA ERA DAS REVOLUÇÕES, DO CIENTIFICISMO CRESCENTE E DAS NOVAS RELAÇÕES SOCIAIS Conforme já salientei anteriormente, esse período, que transita entre a idade média e a idade moderna, possui tantas possibilidades de observação que também não seria possível de resumir aqui. Mas, no momento, vamos focar duas: o nascimento do capitalismo e os manuais científicos. Para tornar mais fácil a compreensão, quando abordamos o capitalismo, tratamos das relações de trabalho, que vão permitir a existência do ócio / lazer, a utilidade do corpo de forma saudável para proteger a população dos males e estarem mais saudáveis e aptos para o trabalho. Já quando tratamos dos manuais científicos, observamos a crescente cientifização, que busca registrar os elementos já acumulados pelo homem até então, em todas as áreas, movimento que começou já na última parte da idade média. Para isso, precisamos nos lembrar das relações entre os artesãos, que eram proprietários das oficinas de instrumentos de trabalho e de matérias-primas e que atuavam como pequenos empresários independentes. Nesse período, já não atuavam mais dentro do sistema manufatureiro doméstico. Alguns possuíam os materiais, as pequenas máquinas. Outros não possuíam nada, mas sabiam executar suas funções. Aqui temos as raízes do que chamamos de sistema capitalista, no qual um grupo vai deter os meios de produção e o outro grupo vai deter a sua força, que não tinha acesso às matérias- primas nem aos instrumentos para produção, mas sabia realizar a tarefa, vendia sua força de trabalho em troca, inicialmente, de produtos e, em seguida, de alimentos e, com o passar do tempo, em troca de uma moeda que se convencionou chamar de salário. Essas relações sociais vão culminar nos elementos adiante, que se relacionam com os horários de trabalho e a compreensão crescente, por parte dos proprietários dos meios de produção, de que era necessário aos trabalhadores que fossem saudáveis. As práticas corporais ao ar livre passam a ser incentivadas, de forma que o corpo permaneça forte e vigoroso para o trabalho e que os proprietários tenham menos funcionários doentes. Não havia leis trabalhistas como conhecemos, pois elas são fruto de tensões sociais, lutas e greves, nas quais os trabalhadores foram conquistando, aos poucos, o direito a ter, para além do período de descanso, um período sem trabalho, o que vai se chamar tempo livre, de direito ao lazer. Essa luta foi intencional e o oferecimento desse horário foi intencional também, já que os proprietários foram percebendo a necessidade de consumo da matéria-prima excedente no horário livre, além do relaxamento e descarga de emoções do trabalho, que permitiam ao trabalhador estar mais concentrado, apto e produtivo no dia seguinte. Paralelamente a toda essa situação das raízes capitalistas, que permitem a consideração das práticas corporais como uma forma de manter a sociedade saudável, o que vai demandar, aos poucos, profissionais que sejam capazes de lidar com essas questões, e também de momentos de lazer, que vai demandar equipamentos específicos para isso, nós temos a importância do processo de cientificismo. 19WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC OS , S OC IO CU LT UR AI S, ÉT IC OS E D ID ÁT IC A AP LI CA DO S À ED UC AÇ ÃO F ÍS IC A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Sobre esse assunto, resumidamente, abordamos que crescia, cada vez mais, a preocupação das sociedades europeias e do norte da África em registrar todos os elementos que haviam sido conhecidos e acumulados pelo ser humano, todas as sabedorias em todas as áreas técnicas, tecnológicas, científicas, sociais, humanas, artísticas e também corporais, entre outras. A preocupação com o registro dessas informações já vinha de alguns homens da idade média, e passa a ser uma prática mais profusa e intensa nos séculos seguintes, na Idade Moderna. Registrar em manuais as técnicas conhecidas, entre elas, as técnicas corporais, portanto, passa a ser uma prática crescente que vai culminar nos séculos 17 e 18. Em se tratando especificamente da Educação Física, nessa época, existem o que chamamos de manuais de ginástica, que buscam resolver um problema que a educação física sempre teve e sempre terá: registrar, em forma de linguagem escrita, os gestos corporais e sua amplitude de possibilidades e significados, que possuem uma matriz diferente da verbal e, por isso, difícil de se colocar em palavras. Essa dificuldade de descrever em palavras os gestos corporais você pode observar até hoje, quando você tenta descrever em palavras uma atividade de dança ou de recreação, e conseguir que algum colega consiga entender a prática à qual você se refere. Por essa razão, usamos tantas imagens, para tentar especificar um pouco mais o gesto ao qual estamos nos referindo em alguma descrição. Essa dificuldade que você sente, as pessoas sempre sentiram. E, provavelmente, vão sentir. 20WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC OS , S OC IO CU LT UR AI S, ÉT IC OS E D ID ÁT IC A AP LI CA DO S À ED UC AÇ ÃO F ÍS IC A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS São inúmeras as obras que buscam o registro dos gestos corporais de forma escrita. Sobre o medievo, já citamos O Livro da ordem de cavalaria, de Raimundo Lúlio (1272-1283), mas também temos O livro dos jogos, de Afonso X. Em se tratando dos períodos da Idade Moderna, uma das mais emblemáticas são os manuais de ginástica do século XVIII, como Ginástica e moral, do Coronel Amoros y Odeano, Ginástica para a juventude, de Guts Muths, entre outros. Vale ressaltar que, se as práticas corporais se conectavam, ao longo da história, bastante com a guerra, é importante compreender por qual razão as primeiras práticas de educação física, já na Idade Moderna, com vistas a práticas importantes para uma sociedade saudável, são realizadas, muitas vezes, por militares e ex-militares. É daí que você pode reconhecer as práticas de ginásticas calistênicas, de termos como educação física militarista, entre outros elementos. Perceba que há uma conexão muito intensa entre as práticas corporais da sociedade sendo conduzidas pelos militares e ex-militares. Continuaremos abordando algumas dessas características na segunda unidade, pois traremos algumas dessas relações capitalistas e dos manuais de ginástica para a educação física no Brasil. 2121WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 02 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................................. 22 1. COMPREENDENDO AS RELAÇÕES ENTRE AS MATRIZES EUROPEIAS PARA A EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA ................................................................................................................................................................ 23 2. A EDUCAÇÃO FÍSICA E A EDUCAÇÃO NO BRASIL: LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL BRASILEIRA...................... 28 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................................................... 35 A EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL E O PARADOXO LICENCIATURA E BACHARELADO: FRONTEIRAS COM A EDUCAÇÃO E A FORMAÇÃO PROFISSIONAL PROF.A DRA. PAULA MARRONI ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: FUNDAMENTOS HISTÓRICOS, SOCIOCULTURAIS, ÉTICOS E DIDÁTICA APLICADOS À EDUCAÇÃO FÍSICA 22WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC OS , S OC IO CU LT UR AI S, ÉT IC OS E D ID ÁT IC A AP LI CA DO S À ED UC AÇ ÃO F ÍS IC A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Nossa missão nesta unidade é bastante ousada! Avançar nas matrizes históricas da educação física no Brasil, entendendo por qual razão háuma crítica na constituição da educação física brasileira nos moldes europeus, para corpos europeus e não brasileiros. Essa é a primeira parte de nossa unidade. Em seguida, vamos avançar para alguns elementos da educação física no Brasil em termos do que chamamos de crise de identidade da educação física em nosso país: afinal, o que é educação física? Essa discussão fica ainda mais acentuada na década de 1970, com o retorno de profissionais brasileiros que fizeram seus estudos em outros países e começaram a se agrupar em congressos, estudos, grupos de trabalho. De posse desse conhecimento, você vai perceber, na próxima unidade, que esse momento do fim dos anos 1970 possui muita relação com as manifestações das abordagens pedagógicas da educação física no Brasil. Por isso, é necessário dar muita atenção aqui, pois retomaremos esse período de discussão entre a década de 1980 e 1990 e a educação física ao tratarmos de didática, na próxima unidade. Além disso, abordaremos algumas questões relacionadas à legislação brasileira e à educação física, focalizando algumas políticas públicas da educação aplicadas à educação física. Vamos nos concentrar em abordar a Constituição Federal de 1988 e o papel da educação e da educação física na LDB 9394/96 como os dois momentos mais importantes referentes à educação e à educação física. São as leis que embasam nossa área em todo o território nacional. Avançaremos então nos movimentos que culminaram no estabelecimento do profissional de educação física amparado por lei, que permitiu a formação de cursos de bacharelado no país e posterior ingresso único das habilitações entre licenciatura e bacharelado. Obviamente, este assunto é bastante dinâmico e vale observar, dependendo de quando você está tendo acesso a este material, se ele está atualizado nesse aspecto. Preparado? 23WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC OS , S OC IO CU LT UR AI S, ÉT IC OS E D ID ÁT IC A AP LI CA DO S À ED UC AÇ ÃO F ÍS IC A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. COMPREENDENDO AS RELAÇÕES ENTRE AS MATRIZES EUROPEIAS PARA A EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA Conforme vimos na unidade anterior, dois elementos muito importantes para a constituição da educação física como conhecemos hoje originam-se na Idade Moderna. Tanto a transição para o sistema capitalista, e todo o contexto de necessidade de saúde da população, quanto a elaboração de manuais de exercícios físicos, marcam o que chamamos de início da educação física enquanto área de conhecimento, como conhecemos hoje. Salientamos que, conforme você já compreendeu, isso não significa que as práticas corporais não tivessem acontecido antes na história da humanidade. Elas só não eram nomeadas como “educação física”. Os manuais de exercícios físicos, ou de ginástica, elaborados no século XVIII, possuem relação direta com as matrizes de escolas de ginástica da Europa. Nesse sentido, os movimentos ginásticos europeus relacionam-se com as escolas inglesa, alemã, nórdica e francesa. Esse é um assunto mais especificamente abordado nas disciplinas de Ginástica, mas é retomado aqui pela sua importância e relação com a temática. Quando abordamos os movimentos ginásticos europeus (SOARES, 2004), estamos falando de um homem saudável e necessário para o contexto específico daquela época. O contexto desse homem necessariamente saudável é apresentado por Soares, para quem o homem produtivo e biologicamente saudável era necessário para a sociedade que estava adentrando paulatinamente o sistema capitalista. Esse corpo se tratava de um corpo social, e não apenas individual. Era um corpo que vivia em sociedade e, se fosse saudável, auxiliaria no processo de seu desenvolvimento e, se fosse doente, prejudicaria não somente a si e aos seus, mas toda a força da cadeia produtiva. Para isso, era necessário que esse corpo possuísse saúde, disciplina e civismo. O livro Imagens da educação no corpo, de Carmen Lúcia Soares, salienta a importância da transição da idade média para a idade moderna e essas relações sociais que permeiam os manuais de ginástica e de moral. Ela pauta-se principalmente no manual de Ginástica e moral de Amoros y Odeano. A referência encontra-se ao final desta apostila. Fonte: Amazon (2020). 24WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC OS , S OC IO CU LT UR AI S, ÉT IC OS E D ID ÁT IC A AP LI CA DO S À ED UC AÇ ÃO F ÍS IC A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Essas três características são bastante comuns a todos os movimentos ginásticos europeus: saúde, disciplina e civismo. Entretanto, existem algumas especificidades, mas, ainda que com especificidades, esses movimentos ginásticos são elaborados no contexto da Europa e é por essa razão que eles são criticados quando se trata de educação física no Brasil. Afinal, para quem ainda não entendeu por qual razão nós estamos falando a respeito de como a educação física se consolidava na Europa, aqui vai uma explicação um pouco mais evidente: a matriz da educação física do nosso país veio dessa ambientação europeia, e muito se critica a respeito desse assunto. Sendo assim, quando tratamos da educação física no Brasil, são esses movimentos ginásticos europeus que se relacionam com a história das instituições médicas e militares em nosso país. Foram esses movimentos que inspiraram as raízes da educação física em nosso território nacional e, podemos dizer, que inspiraram toda a constituição da educação física no nosso país. Por essa razão, a educação física no Brasil também está carregada dos mesmos elementos: saúde, disciplina e civismo. Nesse sentido, tratamos aqui de uma prática corporal com foco nas práticas médicas e higiênicas, o que chamamos de medicalização da sociedade, dentro de um projeto burguês de civilidade que foi esboçado para o nosso país. Segundo Herold Júnior (2005), o século 19 é particularmente importante para o entendimento da educação física no Brasil, uma vez que os elementos importados de uma ginástica e uma educação corporal como disciplina obrigatória na Europa trouxeram as mesmas bases de valores sociais: ordem, força e fortes componentes morais. Em alguns ambientes, era importante verificar a simplicidade e a naturalidade dos movimentos, já que eles eram direcionados para o corpo do trabalhador. Não poderia, portanto, ser muito difícil em termos de execução, justamente porque uma técnica muito elaborada seria inacessível e não seria útil para seu objetivo final de manter a saúde do trabalhador, incentivando suas forças produtivas. Para este assunto, a melhor indicação de leitura é o livro Educação Física: raízes europeias e Brasil, de Carmen Lúcia Soares. Ela aborda cada um dos movimentos ginásticos europeus e tece reflexões acerca de como os movimentos ginásticos, importados para o Brasil sem as especificidades do público brasileiro, podem ter contribuído para uma educação física que, em seu início, seguia padrões higienistas e eugenistas, fundamentando-se prioritariamente em práticas similares às militares. Fonte: Amazon (2020). 25WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC OS , S OC IO CU LT UR AI S, ÉT IC OS E D ID ÁT IC A AP LI CA DO S À ED UC AÇ ÃO F ÍS IC A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA A este assunto, ainda segundo Herold Júnior (2005), a educação física no Brasil era considerada instrução física, pautada no patriotismo, mola propulsora de energia para o progresso do país e para educação de todos. Por essa razão, havia grande preconceito em relação a exercícios que fossem somente acrobáticos ou que possuíssem uma carga de excesso atlético, considerados até mesmo narcisistas. Essas práticas utilitárias ainda possuem mais matrizes. Sobre esse assunto, Herold Júnior (2005) traz uma citação do instrutor de práticas físicas Fernando de Azevedo. Este, no contexto do início do século XX no Brasil, sugere que, na educação física, é saudável e necessário mantera rotina de exercícios formais e excluir das escolas as práticas de funambulismo. Traduzimos essas práticas de funambulismo como práticas de ginástica ou de uma educação física mais acrobática. Ele ainda completa dizendo que, se tais práticas utilitárias fossem bastante realizadas, abrir-se- iam mais escolas e fechar-se-iam mais hospitais, pois a população seria saudável. Essas questões são muito importantes de serem mencionadas, pois a educação física no nosso país era tratada de forma higienista, considerada uma forma de retirar os males da sociedade, reduzindo os aspectos prejudiciais (os males) e as doenças que atrapalhavam os trabalhadores no seu dia a dia, de forma a torná-los mais sadios e dispostos e, por isso, mais produtivos. Ainda a respeito dessas raízes históricas da educação física no Brasil, segundo Ferreira Neto (1999), o início dos regulamentos de ensino sobre a educação física refere-se ao sistema de ensino militar entre 1889 e 1995. A sistematização da educação física entre militares e civis ocorre em 1919 com a criação da Associação Atlética da Escola Militar. Entre 1920 e 1945, essa associação se torna um dos elementos mais importantes do exército. Atenção: não podemos esquecer que, quando tratamos desse período, estamos tratando do período entre guerras, ou seja, mais uma relação importante para a educação física e as práticas de treinamento militar. A este período Ferreira Neto (1999) também relaciona as práticas higiênicas no início do século XX com Fernando de Azevedo, da mesma forma que Herold Júnior (2010). Fernando de Azevedo era um pedagogo patriota que era diretor da instrução pública no Rio de janeiro e pregava a existência da ginástica na escola. Observe que ponto importante temos aqui, ao observar que também no Brasil, o exercício físico possuía uma visão utilitária em termos de saúde social. Essa situação lembra muito a crítica que Soares (1998) realiza quando trata da educação física e dos movimentos ginásticos europeus na França, de forma que os Saltimbancos e os praticantes de acrobacias (que mais tarde farão parte do ambiente circense) fossem observados com atenção pela autoridade, pois transmitiam sentimentos dúbios de maravilhamento e medo, em práticas que não eram consideradas úteis para a sociedade. 26WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC OS , S OC IO CU LT UR AI S, ÉT IC OS E D ID ÁT IC A AP LI CA DO S À ED UC AÇ ÃO F ÍS IC A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Para você ter uma ideia, segundo Ferreira Neto (1999), a concepção de utilidade para as práticas corporais, ou seja, de práticas que possuíam alguma função para a sociedade, e não mera apresentação e arte, relacionava-se ao método francês de ensino da Ginástica. Isso se deu, segundo o autor, pelo fato de que os brasileiros da época consideravam que os processos da educação física e das práticas corporais resultavam no conhecimento prático do homem em movimento. Figura 1 - Excerto de informação histórica sobre a Ginástica no início do século passado. Fonte: Goellner (2010). Esse conhecimento prático do homem em movimento resultava no desenvolvimento harmonioso e na melhor exploração de todas as qualidades físicas e morais que constituem um aperfeiçoamento da natureza humana. Essas questões são proferidas principalmente pelo Estado Maior do Exército, em 1934 (FERREIRA NETO, 1999). Para essas práticas, o objetivo era assegurar o desenvolvimento do organismo e manter o indivíduo com boa saúde. Além disso, com as adaptações apropriadas para uma função profissional, o objetivo era também aumentar o rendimento do trabalhador. Levando esses elementos em consideração, podemos sugerir que as bases da ginástica laboral estavam estabelecidas e a consideração da educação física neste patamar, com essa função, abarcava praticamente a totalidade do que se supunha ser educação física na época. Essa visão perdurou por muito tempo em nosso país, e foi se abrir para outras possibilidades, principalmente a partir da década de 1970, quando, segundo Tani (2011), a maioria dos profissionais que tinha saído para estudar fora do Brasil retornava com uma nova visão sobre a educação física, sobre seu potencial e todas as bases que poderiam constituir a educação física naquele contexto. Novos rumos estavam se abrindo, abarcando, além dos esportes e das ginásticas, muitas outras práticas corporais. 27WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC OS , S OC IO CU LT UR AI S, ÉT IC OS E D ID ÁT IC A AP LI CA DO S À ED UC AÇ ÃO F ÍS IC A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O processo de consolidação da educação física enquanto identidade de área de conhecimento é demorado e passa por uma série de processos. Cada um dos elementos que hoje conhecemos como conteúdos estruturantes da educação física (jogos, danças, lutas, esporte, ginástica e, a partir da BNCC, atividades na natureza), foi sendo considerado aos poucos e por intermédio de muitas mudanças. Para entender melhor esse aspecto, exemplificamos com os conteúdos dança e lutas, que, historicamente, são praticadas e ensinadas por pessoas que não necessariamente pertencem à área de conhecimento da educação física. Figura 2 - As lutas ensinadas por mestres e não somente professores de educação física. Fonte: FEPLAM (2020). É possível observar também, atualmente, a busca por inserção de novas práticas corporais ou reconhecimento de que essas práticas corporais também fazem parte da educação física. Esse movimento é bastante dinâmico e vale observar que, por não ser estático, dependendo de quando você tiver acesso a este material, novas possibilidades de práticas já estejam inseridas no que consideramos hoje educação física. 28WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC OS , S OC IO CU LT UR AI S, ÉT IC OS E D ID ÁT IC A AP LI CA DO S À ED UC AÇ ÃO F ÍS IC A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Se considerarmos a Base Nacional Comum Curricular, por exemplo, ela determinou oficialmente em nosso país que as atividades físicas na natureza sejam consideradas parte da educação física, isso aconteceu em 2019. Observamos também uma série de teóricos que estudam a manifestação circense, como busca de uma legitimidade dentro da educação física para essa área, que atualmente vem sempre conectada com os elementos da ginástica. 2. A EDUCAÇÃO FÍSICA E A EDUCAÇÃO NO BRASIL: LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL BRASILEIRA Conforme já adiantamos na introdução desta unidade, lembre-se de que retornaremos a discutir alguns elementos sobre essa parte, quando abordarmos a história da didática e as relações da didática com a educação física. Esse período foi bastante profícuo no que se refere ao surgimento de novas abordagens e metodologias de ensino da educação e também da educação física. Por essa razão, continuamos a discussão desse período na próxima unidade, que objetiva aprofundar as abordagens pedagógicas e metodológicas para a educação física, que trataremos aqui como assunto de didática. A respeito desta unidade, seguiremos falando a respeito do final do século XX e alguns processos que relacionam educação física com a educação no Brasil. Entender um pouquinho a respeito da legislação brasileira e sua relação com a educação física é o objetivo deste subitem, para que a compreensão sobre a nossa formação profissional seja fundamentada. Sabemos que você já teve acesso ao conhecimento a respeito das políticas públicas e da legislação educacional brasileira, porém retomamos brevemente esse assunto aqui para que ele fique mais materializado para você, já que agora ele vai ser aplicado à educação física. Por essa razão, vamos abordar a Constituição Federal de 1988 e o papel da educação e da educação física nesse contexto, com a LDB 9394/96, e avançaremos para a compreensão de algumas situações relacionadas a órgãos internacionais que fomentam a educação no Brasil, e alguns indicadores que auxiliam nesseprocesso, que são previstos em planos decenais de educação. Existem outros documentos que auxiliam no processo também, que são os norteadores dos conteúdos a serem ensinados em todo o território nacional. Atualmente, esse documento chama-se Base Nacional Comum Curricular, mas ele já foi representado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais e pelas Diretrizes Curriculares. O documento que norteia a educação no Brasil é a Constituição Federal de 1988. Em seu artigo 205, determina-se que a educação é responsabilidade do Estado e da família. Aqui colocamos na íntegra o artigo 205 da constituição federal de 1988: [...] a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988). É possível observar que a educação é direito de todos e dever do Estado. Silva (2018) salienta que a própria constituição federal possibilitaria a efetivação de uma qualificada prática pedagógica da educação física no ambiente escolar. Nesse sentido, a educação física deve contribuir visando a vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social. 29WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC OS , S OC IO CU LT UR AI S, ÉT IC OS E D ID ÁT IC A AP LI CA DO S À ED UC AÇ ÃO F ÍS IC A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Outra lei que norteia a educação no nosso país e é muito importante de ser mencionada quando tratamos da Educação Física é a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, ou LDB (BRASIL, 1996). O número da LDB é 9394 e ela foi promulgada em 1996. Dessa forma, tratamos a ler como 9394/96. De acordo com essa lei, a educação física torna-se obrigatória no ambiente escolar. Ela é colocada como aliada ao desenvolvimento biopsicossocial do aluno: de acordo com a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação brasileira (LDB 9394/96), art. 26, § 3º, “[...] a Educação Física deve estar presente em todo o Ensino Básico, sendo componente curricular obrigatório da Educação Infantil ao Ensino Médio” (BRASIL, 1996). Presente no artigo 26 da lei, a educação física é colocada de forma integrada à proposta pedagógica da escola como um componente curricular obrigatório na educação básica, que deve se ajustar às faixas etárias e às condições da população escolar, de modo a contribuir para o desenvolvimento do organismo e da personalidade do educando. Figura 3 - A educação física escolar obrigatória. Fonte: Cruz (2015). No artigo A legislação educacional e a prática da Educação Física escolar, Beltrão e Ferreira (2013) traçam um panorama a respeito da legislação educacional brasileira e a educação física. As referências estão ao final desta apostila. 30WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC OS , S OC IO CU LT UR AI S, ÉT IC OS E D ID ÁT IC A AP LI CA DO S À ED UC AÇ ÃO F ÍS IC A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Essa questão nos faz abordar o contexto da formação de professores de educação física em nosso país. Nessa época, 1996, nossa formação era especificada, em geral, como o que chamamos de licenciatura plena. Nesse sentido, todas as pessoas com licenciatura plena em educação física poderiam atuar nos diversos segmentos da nossa área, independentemente de os espaços serem escolares (formais) ou não. É por essa razão que se dizia que os licenciados em educação física poderiam atuar em espaços formais ou não formais do ensino. Antes de avançar para a separação entre licenciatura e bacharelado, abordaremos brevemente aqui mais alguns documentos que podem ser interessantes para compreender a educação no nosso país. Ainda que o levantamento de elementos de legislação educacional brasileira dê a impressão de que tratar da educação básica refere-se a tratar somente da licenciatura, a formação profissional de nossa área está relacionada diretamente com os elementos que norteiam a educação no nosso país. Portanto, tratar desses assuntos envolve tanto a licenciatura quanto o bacharelado. Além da Constituição Federal (BRASIL, 1988) e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996), alguns documentos importantes para a educação em nosso país são os documentos que norteiam os conteúdos no território nacional e os planos decenais de educação. Sobre a Base Nacional Comum Curricular, sabemos que ela faz parte de uma série de tentativas já realizadas de se estabelecer conteúdos a serem ensinados, em cada série e disciplina, ao longo da extensão do território nacional. Com suas regionalidades observadas, são elaborados documentos que buscam sanar as lacunas a respeito da elaboração curricular ao longo do país. A primeira dessas tentativas foram o Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), que vigoraram principalmente na primeira década deste século em nosso país. Foram seguidos das Diretrizes Curriculares, que vigoraram até 2019. Em 2019, o documento que atualmente sustenta essa responsabilidade é a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). A respeito dos planos decenais de educação, eles são uma exigência para que sejam planificadas todas as metas a serem atingidas em 10 anos, com vistas a estabelecer uma espécie de prestação de contas às agências de fomento internacional que investem na educação brasileira. São muitas as organizações internacionais que investem na educação brasileira. Como exemplo, temos o Banco Mundial, o FMI, a ONU, a UNESCO, entre outras agências de fomento internacionais. A respeito do assunto educação física e Base Nacional Comum Curricular, sugerimos a leitura do artigo A educação física na BNCC: concepções e fundamentos políticos e pedagógicos, de Martineli et al. (2016). Nele, algumas reflexões são tecidas a respeito da especificidade da educação física escolar. A referência encontra-se ao final desta apostila. 31WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC OS , S OC IO CU LT UR AI S, ÉT IC OS E D ID ÁT IC A AP LI CA DO S À ED UC AÇ ÃO F ÍS IC A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Quando o investimento é realizado por uma dessas agências na educação do nosso país, é necessário que apresentemos alguns resultados. Para que esses resultados sejam apresentados no tempo definido, é traçado um planejamento, que é apresentado no plano decenal de educação. Atualmente, estamos avançando no segundo plano. O primeiro deles foi feito de 2000 a 2010, com uma pausa de 4 anos para reflexão e reelaboração, e o segundo plano, tendo iniciado em 2014, estende-se até 2024. Ações como a reorganização das séries iniciais, trazendo uma nova série antes dos 8 anos de educação que tínhamos, são exemplos de ações que estão inseridas dentro desse plano: o objetivo é aumentar o tempo mínimo de educação na escolarização do nosso país. Algumas outras metas preveem alguns indicadores que são determinados por meio de avaliações realizadas em todo território nacional. A Prova Brasil e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) são dois exemplos desses indicadores. No Ensino Superior, o exemplo desse indicador é o Exame Nacional de Avaliação do Ensino Superior (Enade). No caso do Ensino Superior, esses indicadores auxiliam no processo de compreensão da formação e de outros aspectos relacionados à educação em nosso país. Por isso, quando tratamos do Enade, a nota determina se um curso é considerado apto ou inapto a continuar formando profissionais para trabalharem na área específica do teste realizado. É por essa razão que muitas instituições se preocupam bastante com os indicadores a serem apresentados no Enade, que se soma a outros indicadores relacionados à formação dos professores e suas publicações, à estrutura da instituição e outros elementos que implicam diretamente a formação do aluno para o mercado de trabalho. Durante esse processo de formação profissional, muitas das áreas de formação buscam resolver demandas que aparecem conformeo tempo passa. Uma dessas demandas aconteceu em nossa área: a formação e uma luta crescente de profissionais que consideram que os quatro anos da licenciatura plena já não eram mais suficientes para formar um profissional que tivesse capacidade de atuar em dois campos muito distintos: a educação escolar (formal) e o ensino não formal. Essa consideração se dava pelo fato de que muitos profissionais saíam do meio acadêmico ou sem profundidade na sua formação como licenciados ou sem a devida profundidade na sua formação e atuação como bacharéis. Essa é uma das razões pelas quais podemos observar hoje uma separação da nossa área em bacharelado e licenciatura. É muito importante ter em mente que os elementos relacionados à educação física enquanto duas habilitações independentes datam de esforços que se concretizaram a partir do ano de 2006. Até então, em nosso país, a habilitação mais comum era da licenciatura plena. Entretanto, a partir do ano de 2006, evidenciou-se a separação entre educação física licenciatura para atuação no ensino formal nas instituições escolares, e a educação física bacharelado, para ser ministrada com vistas a formar profissionais para trabalhar no ambiente não formal de ensino. Uma das questões mais importantes que nos auxilia a compreender a separação entre a licenciatura e o bacharelado nos cursos de formação em educação física foi a consolidação dos conselhos nacionais e regionais de educação física. Os conselhos nacionais e regionais de educação física são um assunto bastante polêmico para a área. Aqui, mais do que concordar ou discordar da sua atuação, é importante entender quais são as propostas do conselho para a formação profissional, quais são as promessas e se essas fiscalizações têm sido realizadas ou não e se são benéficas para a formação profissional. 32WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC OS , S OC IO CU LT UR AI S, ÉT IC OS E D ID ÁT IC A AP LI CA DO S À ED UC AÇ ÃO F ÍS IC A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O conselho federal de educação física, de acordo com as informações que são passadas no próprio site do Confef, remonta a uma origem já nos anos 1940, na busca da formação da Associação dos Professores de Educação Física (APEF), localizada no RJ, RS e SP. Essa associação, localizada em três estados, formou a Federação Brasileira de Associações de Professores de Educação Física (FBAPEF), em 1946. O caminho foi longo. Avançando alguns anos, cabe ressaltar que, no início de 1994, muitos estudantes de educação física se preocupavam com o aumento de pessoas que não tinham formação na área atuando no mercado emergente, principalmente como instrutores de atividades físicas. Essa grande teia de colaboradores, assim chamada, constituiu, em 1995, um movimento nacional pela regulamentação do profissional de educação física. A figura a seguir representa esse movimento sob a visão do conselho nacional de educação física. Figura 4 - Teia de colaboradores do “Movimento nacional pela regulamentação do profissional de educação física”. Fonte: Confef (2020). Contudo, a aprovação da regulamentação da profissão de educação física no Brasil teve seu processo de regulamentação aprovado pelo congresso e promulgado pelo presidente da república em 1º de setembro de 1998. Por essa razão, o dia primeiro de setembro foi selecionado para comemoração do dia do profissional da educação física. A figura a seguir representa o Diário Oficial da União do dia 2 de setembro de 1998, com a publicação da Lei 9696 de 1º de setembro de 1998, que dispõe sobre a regulamentação da profissão de educação física e cria os respectivos conselho federal e conselhos regionais de educação física. 33WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC OS , S OC IO CU LT UR AI S, ÉT IC OS E D ID ÁT IC A AP LI CA DO S À ED UC AÇ ÃO F ÍS IC A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA É muito importante entender o debate que foi permitido após a regulamentação da profissão do professor de educação física, com essa característica mais exclusiva relacionada a uma ação de bacharelado. Consideramos ser este um importante marco nessa questão relacionada à divisão do curso entre licenciatura e bacharelado. Figura 5 - Diário Oficial da União de 2 de setembro de 1998. Fonte: Confef (2020). Entretanto, muitos profissionais da licenciatura permanecem comemorando o seu dia no dia 15 de outubro, dia do professor. Conforme salientamos, o movimento para reintegração de ambas as áreas da Educação Física é bastante intenso. As tensões e relaxamentos acerca dessas diferentes habilitações nunca deixaram de existir. A partir do ano de 2020, foi estabelecida a habilitação única para as licenciaturas e bacharelados, de forma que, a partir do terceiro ano, o aluno opta por uma das duas habilitações e pode complementar com a outra ao final de sua formação. 34WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC OS , S OC IO CU LT UR AI S, ÉT IC OS E D ID ÁT IC A AP LI CA DO S À ED UC AÇ ÃO F ÍS IC A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O movimento que busca a reunificação do curso de educação física em uma habilitação que contemple as duas formações é bastante grande. Nesse aspecto, salientamos que é muito importante que você leve em consideração que, como essa luta é bastante dinâmica, é possível que o panorama atual do momento em que você estiver tendo contato com este material já seja diferente do panorama em que estamos agora. Isso significa que você terá a oportunidade de adotar esta apostila como uma referência sobre como a educação física estava no ano de 2020 no Brasil. 35WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC OS , S OC IO CU LT UR AI S, ÉT IC OS E D ID ÁT IC A AP LI CA DO S À ED UC AÇ ÃO F ÍS IC A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, você teve a oportunidade de conhecer um pouco mais a respeito da constituição da educação física enquanto profissão e área de conhecimento em nosso país. Foi possível entender também que a educação física brasileira nasceu de uma forma relacionada ao que acontecia na educação física mundial, importada dos padrões europeus. Observamos também nesta unidade elementos relacionados às políticas públicas da educação e a inserção da educação física nesses elementos, além da constituição do curso de educação física e sua formação profissional segmentada. De posse de todo esse conhecimento, na próxima unidade, vamos abordar um pouco mais a respeito das características do processo de ensino-aprendizagem, que no geral chamamos de didática e que se referem ao ato de ensinar. 3636WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 03 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................................................37 1. A FORMA DE ENSINAR E A DIDÁTICA ...................................................................................................................38 2. A RELAÇÃO ENTRE A DIDÁTICA E OS DIFERENTES MOMENTOS HISTÓRICOS .............................................. 41 3. AS ABORDAGENS METODOLÓGICAS EM EDUCAÇÃO FÍSICA ............................................................................47 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................................... 51 REFLEXÕES A RESPEITO DA FORMA DE ENSINAR E A DIDÁTICA PROF.A DRA. PAULA MARRONI ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: FUNDAMENTOS HISTÓRICOS, SOCIOCULTURAIS, ÉTICOS E DIDÁTICA APLICADOS À EDUCAÇÃO FÍSICA 37WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC OS , S OC IO CU LT UR AI S, ÉT IC OS E D ID ÁT IC A AP LI CA DO S À ED UC AÇ ÃO F ÍS IC A | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Após conhecer um pouco mais sobre o universo da educação física em termos históricos
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