Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Tratamento de Efluentes Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Dra. Roberta Maria Salvador Navarro Revisão Textual: Profa. Esp. Kelciane da Rocha Campos Tecnologias de Tratamento: Etapas do Processo de Tratamento de Efluentes: Tratamentos Preliminares • Tratamento de Água • Físico-químico • Biológico • Tratamento de água para consumo • Tratamento de Efluentes • Tipos de Tratamentos • Desarenação • Coagulação • Flotação • Decantação · Nesta unidade, abordaremos os conceitos iniciais dos tratamentos de efluentes em sua fase preliminar. Serão discutidos os tratamentos necessários para a limpeza da água, bem como suas aplicações mais adequadas ao tipo de água captada para consumo. OBJETIVO DE APRENDIZADO Leia atentamente o conteúdo desta unidade, que lhe possibilitará conhecer os conceitos básicos dos tratamentos de água e de efluentes. Você também encontrará nesta unidade uma atividade composta por questões de múltipla escolha, relacionadas com o conteúdo estudado. Além disso, terá a oportunidade de reforçar seus conhecimentos por meio de uma atividade reflexiva. É extremante importante que você consulte os materiais complementares, pois são ricos em informações, possibilitando-lhe o aprofundamento de seus estudos sobre esse assunto. ORIENTAÇÕES Tecnologias de Tratamento: Etapas do Processo de Tratamento de Efl uentes: Tratamentos Preliminares UNIDADE Tecnologias de Tratamento: Etapas do Processo de Tratamento de Efluentes: Tratamentos Preliminares Contextualização Para iniciar esta unidade, leia os textos disponíveis nos links a seguir: G1 SÃO PAULO. Alckmin vai usar esgoto tratado para abastecimento na Guarapiranga. Disponível em: http://goo.gl/JeGD2c. FABHAT. Bairros de SP ainda despejam esgoto no Tietê. Disponível em: http://goo.gl/br7MFt. Ex pl or Reflita sobre o uso dos efluentes nos abastecimentos das cidades ser uma alternativa viável e segura. Oriente sua reflexão através do seguinte questionamento: é possível aplicar tais conceitos apenas em localidades em situação de crise hídrica ou deve-se estendê-los a outras localidades? E quais seriam os benefícios e os malefícios de tal prática? 6 7 Tratamento de Água Existem diversos tipos de tratamentos de efluentes, mas é possível dividir em dois tipos de tratamentos principais: o tratamento de água para consumo e o tratamento de efluentes residuais. Efluentes estes que podem ser provenientes de fontes diversas, como por exemplo: esgotos industriais, esgotos domésticos, efluentes de agricultura, de pecuária, etc. Segundo a Opersan (2015), os efluentes podem ser classificados de acordo com a sua periculosidade, levando em consideração as propriedades físicas, químicas ou infectocontagiosas. A periculosidade dos efluentes depende de fatores como natureza (inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenicidade), concentração, mobilidade, persistência, bioacumulação e degradação. Os efluentes podem ser divididos em classe I e II se apresentarem riscos à saúde pública ou se apresentam riscos ao meio ambiente, quando o resíduo é manuseado ou destinado de forma inadequada. • Classe I: são considerados perigosos por apresentarem risco ao meio ambiente e à saúde pública e se faz necessário o tratamento e/ou disposição especiais. Apresentam uma ou mais das características descritas a seguir: reatividade, toxicidade, inflamabilidade, patogenicidade e corrosividade; Causando ou aumentando a mortalidade por incidência de doenças. • Classe II: são os efluentes considerados não perigosos. Classe I ou II, todos os efluentes necessitam de tratamento adequado para remover seus resíduos e seus contaminantes antes de serem devolvidos aos corpos de água. Para que se cumpra essa norma os efluentes são tratados com processos físico-quimícos e/ou biológicos caso exista a necessidade. Físico-químico Os tratamentos físico-químicos são aconselhados aos efluentes caracterizados de classe I, como descrito anteriormente. E podem ser conforme descritos abaixo: • Tratamento Físico-Químico por bateladas: os efluentes são armazenados com o objetivo de formarem uma mistura de materiais residuais similares, depois são levados aos reatores, onde são tratados de forma adequada como por exemplo: realizando tratamentos de precipitação química, quebra ácida, oxidação, redução, entre outros. • Tratamento Físico-Químico contínuo: é um tratamento que segue o mesmo protocolo do processo por bateladas, entretanto, é um processo mais rápido, uma vez que é usado em efluentes cujas características podem variar grandemente e pouco espaço de tempo. 7 UNIDADE Tecnologias de Tratamento: Etapas do Processo de Tratamento de Efluentes: Tratamentos Preliminares • Tratamento por Termo Compressão a Vácuo (TCV): é realizada uma evaporação da parte líquida do efluente, concentrando ainda mais os materiais residuais existentes (sólidos ou pastosos) na mistura. Biológico Para efluentes de classe II, os considerados não perigosos, é instruído a utilização de um tratamento, uma vez que as matérias orgânicas presentes neste tipo de efluente, conseguem se decompor através do uso de micro-organismos especiais. A DBO e a DQO (parâmetros descritos na Unidade I), são conceitos fundamentais para a caracterização dos efluentes biológicos, pois é por meio da relação DBO/ DQO que se verifica a capacidade de biodegrabilidade e, com isso, os custos e o tempo despendido para o tratamento do resíduo. Para análise do efluente biológico são solicitados também: Série de Sólidos; BTEX: (hidrocarbonetos como o Benzeno, Tolueno, Etil-Benzeno e Xileno que podem causar entre outras doenças o câncer). Alguns exemplos de efluentes biológicos são: Fossa Séptica, Caixa de gordura, Chorume e Efluentes provenientes de indústrias alimentícias e da agroindústria. Tratamento de água para consumo As 214 estações de tratamento de água (ETAs) da Sabesp (2015) 28 abastecem a Região Metropolitana de São Paulo, e as outras 186 fornecem água aos municípios do interior e litoral do Estado. Atualmente, são tratados 111 mil litros de água por segundo. O processo convencional de tratamento de água utilizado pela SABESP (2015) é dividido em diversas etapas. Nas quais, um rígido controle de dosagem de produtos químicos e acompanhamento dos padrões de qualidade é realizado. Cada uma dessas etapas e a sua descrição estão relacionadas abaixo. • Pré-cloração – Primeiro, o cloro é adicionado assim que a água chega à estação, com o objetivo de facilitar a remoção de matéria orgânica e metais. • Pré-alcalinização – Após a adição de cloro, a água recebe cal ou soda, que auxiliam no controle do pH acertando a níveis exigidos nas fases seguintes do tratamento. • Fator pH – O índice pH refere-se à água ser um ácido, uma base, ou nenhum deles (neutra). Um pH de 7 é neutro; um pH abaixo de 7 é ácido e um pH acima de 7 é básico ou alcalino. Para o consumo humano, recomenda-se um pH entre 6,0 e 9,5. Ver figura 1. 8 9 • Coagulação – Nesta fase, é adicionado um coagulante que pode ser sulfato de alumínio, cloreto férrico ou outro, seguido de uma agitação vigorosa da água. Assim, as partículas de sujeira ficam desestabilizadas e mais fáceis de formar agregados. • Floculação – Após a coagulação, há uma mistura lenta da água, que serve para provocar a formação de flocos maiores com as partículas. • Decantação – A água permanece em grandes tanques para descansar, com o objetivo de separar os flocos de sujeira formados na etapa anterior. • Filtração – Após a decantação, a água atravessa tanques-filtros formados por pedras, areia e carvão antracito, os quais são responsáveis por reter a sujeira de partículas menores que ainda possa restar da fase de decantação. • Pós-alcalinização – Em seguida, é feita a correção final do pH da água, para evitar a corrosão ou incrustação das tubulações de transporte de água. • Desinfecção – Nesta etapa é feita nova e última adição de clorona água antes de sua saída da Estação de Tratamento, garantindo assim a potabilidade e a qualidade da água fornecida aos usuários, com o objetivo de eliminar o restante das bactérias e vírus que possam estar presentes na água e que possam causar doenças a população que consome essa água. • Fluoretação – A Lei nº 6.050, de 24 de maio de 1974, dispõe sobre a fluoretação da água em sistemas de abastecimento quando existir estação de tratamento. Um dos objetivos é de prevenir cáries. Figura 1 – Escala de pH, faixa de indicação de ácidos, álcalis e substâncias neutras Importante! Você sabia que A desinfecção da água com cloro é uma das técnicas mais antigas de tratamento? Desde que passou a ser utilizada, houve queda no índice de mortalidade infantil e redução das doenças provocadas pela água contaminada. Acesse o site, assista o vídeo e saiba mais: http://goo.gl/9R5Ay Você Sabia? 9 UNIDADE Tecnologias de Tratamento: Etapas do Processo de Tratamento de Efluentes: Tratamentos Preliminares Tratamento de Efluentes O tratamento de efluentes ideal é indicado de acordo com a carga poluidora e presença de contaminantes. Apenas especialistas podem avaliar e realizar a coleta de amostras para análise de diversos parâmetros que representam a carga orgânica e a carga tóxica dos efluentes. Os processos de tratamento podem ser classificados de formas diferentes, como por exemplo: em físicos, químicos e biológicos, ou também como: tratamentos primários, secundários e terciários, isto conforme a natureza dos poluentes a serem removidos e/ou das operações unitárias utilizadas para o tratamento. Nesta unidade será dado início aos estudos sobre os tratamentos primários, os demais poderão ser vistos nas unidades subsequentes. Processos físicos Os processos físicos são processos que retiram os sólidos sedimentáveis e flutuantes em suspensão através de separações físicas, tais como gradeamento, peneiramento, caixas separadoras de óleos e gorduras, sedimentação e flotação. Os processos físicos também conseguem remover a matéria orgânica e inorgânica em suspensão coloidal, reduzindo assim, ou eliminando a presença de microrganismos através dos processos de filtração em caixa de areia ou em membranas (microfiltração e ultrafiltração). Outra finalidade dos processos físicos é a de desinfecção, tais como a aplicação de radiação ultravioleta. Processos químicos Nesta etapa são adicionados produtos químicos em seu processo, como por exemplo agentes de coagulação, floculação, neutralização de pH, oxidação, redução e desinfecção em diferentes etapas dos sistemas de tratamento. É possível retirar os poluentes através das reações químicas, além de preparar a mistura de efluentes que será tratada nos posteriores processos. Os processos químicos mais aplicados são os descritos a seguir. Clarificação química que retira matéria orgânica coloidal, incluindo coliformes. É a primeira etapa de um tratamento convencional e é constituída de uma coagulação e flotação, ou um processor de sedimentação ou flotação, isto de acordo com o tamanho das partículas ou tipo de efluente. A filtração fina e a centrifugação também podem ser empregadas em efluentes industriais 10 11 Eletrocoagulação consegue remover a matéria orgânica, incluindo compostos coloidais, corantes e óleos/ gorduras. Deve-se promover a passagem de eletricidade pelo efluente, o que provoca uma desestabilização da solução e coagulando os contaminantes. É considerada uma tecnologia amigável, sem impacto ambiental. Concomitantemente, existe a formação de flocos coagulados insolúveis dos contaminantes, facilitando assim a remoção através da sedimentação, flotação ou filtração. A precipitação de fosfatos e outros sais é obtida através da remoção de nutrientes, e é realizada adicionado-se coagulantes químicos (compostos de ferro e ou alumínio), com o objetivo de reduzir a carga de fosfatos nos efluentes. No processo de cloração para desinfecção adiciona-se cloro, sódio ou hipoclorito de cálcio. A quantidade dependerá da quantidade de contaminantes presentes no efluente. Para uma eficiência no processo deve manter no mínimo 20 minutos de reação. Este processo evita o desenvolvimento de bactérias Devido ao alto potencial de oxidação a desinfecção feita através da adição de gás ozônio também pode ser utilizada para tratamento dos efluentes. Também é muito eficiente na remoção da coloração residual dos efluentes. O tratamento de cromo normalmente é realizado em duas etapas. A primeira consiste na redução de cromo hexavalente a trivalente, o que se faz necessário para a sua precipitação, pois os compostos do cromo hexavalente são solúveis nos efluentes em qualquer faixa de pH. Para isso, são utilizados quatro métodos convencionais, a redução com dióxido de enxofre, a redução com sulfitos (bissulfito ou metabissulfito), a redução com sulfato ferroso, e a precipitação com compostos de bário. A segunda etapa, acontece a remoção propriamente dita, através da a precipitação química do cromo trivalente. A redução do cianeto é outra etapa de extrema importância pois é um composto muito estável e não se decompõe por si mesmo ou no meio ambiente. Tal redução é realizada através da oxidação do carbono, até o estado +4, como no CO2 ou no HCO3-, isto é obtido por meio de oxigênio molecular dissolvido aplicado a altas temperaturas e pressões. Precipitação de metais tóxicos (Cr, Cd, Ni, Pb, Cu, Hg e Ag, por exemplo) são normalmente removidos por precipitação química através da formação de hidróxidos pouco solúveis, retirados posteriormente por flotação, decantação ou sedimentação. Troca iônica é realizada através da adição de resinas de troca iônica que são copolímeros sintéticos produzidos a partir de estireno e divinilbenzeno e que são capazes de adsorver cátions e ânions de uma solução e os substituírem por quantidades equivalentes de outros íons de mesma carga. 11 UNIDADE Tecnologias de Tratamento: Etapas do Processo de Tratamento de Efluentes: Tratamentos Preliminares Processos biológicos O tratamento biológico de esgotos e efluentes industriais tem o objetivo de remover a matéria orgânica dissolvida e em suspensão ao transformá-la em sólidos sedimentáveis e/ou decantáveis (flocos biológicos) e gases. Resumidamente, os tratamentos biológicos reproduzem em menor tempo, os fenômenos que ocorrem na natureza. Existem inúmeros tratamentos disponíveis, entretanto seus principais processos são os descritos a seguir Nos processos aeróbios existe a presença de oxigênio pois as bactérias presentes nesse tipo de processo são, em sua maioria, heterótrofas aeróbias e facultativas e promovem a remoção da matéria orgânica com mais eficiência. Parâmetros como temperaturas específicas, pH e oxigênio dissolvido (OD) devem ser controlados, além de atender obedecer a relação da massa com os nutrientes de DBO que se alteram a cada estação. Os sistemas aeróbios mais comuns são lagoas aeradas, filtros biológicos e os sistemas de lodos ativados que propiciam a melhor eficiência em remoção de cargas. Os processos aeróbios são vantajosos pois possuem um maior rendimento de remoção de matéria orgânica, as emissões de odor são reduzidas e possui uma maior capacidade de absorver substâncias mais difíceis de serem degradadas. Os processos facultativos referem-se ao emprego de condições aeróbias e anaeróbias (com e sem oxigenação respectivamente), onde são realizados com o emprego de biofilmes (filtros biológicos, biodiscos e biocontactores) e por algumas lagoas (fotossintéticas e aeradas facultativas). Os processos anaeróbios são realizados sem a presença de oxigênio e ocorrem em lagoas anaeróbias, biodigestores, tanques sépticos, filtros anaeróbios e reatores de alta taxa, que possuem capacidade de receber grandes quantidades de carga. É possível transformar parte da matéria orgânica em gás carbônico e metano, por isso também é utilizado queimadores de gases, já que esse o metano é 21 vezes maispoluente que o CO2. 12 13 Tipos de Tratamentos O tratamento adequado para cada tipo de efluente é indicado conforme a quantidade de carga poluidora e a presença de tipos de contaminantes. Existem diversas tecnologias diferentes utilizadas, mas pode-se resumir em três principais: tratamentos primários, secundários e terciários. Tratamento primário Existem diversas etapas, nas etapas preliminares são retirados sólidos grosseiros dos efluentes. Tais sólidos podem ser desde plantas e animais mortos da captação de água para tratamento para consumo humano, como também restos de materiais produzidos e arrastados nos efluentes industriais, como por exemplo, restos de alimentos da indústria alimentícia; ou também detritos dos esgotos domésticos. Após a retirada dos sólidos o efluente segue para um tratamento primário constituído por processos físico-químicos. Nesta etapa procede-se a equalização e neutralização da carga do efluente a partir de um tanque de equalização e adição de produtos químicos. Seguidamente, ocorre a separação de partículas líquidas ou sólidas através de processos de floculação e sedimentação, utilizando floculadores e decantador (sedimentador) primário. Retenção em Grades e Peneiras - Gradeamento Os efluentes são primeiramente passados em sequencias pelas grades grossa, média e fina, com o objetivo de retirar os detritos sem o entupimento de nenhum tipo de grade. O material usado para a fabricação das grades deve ser adequado a fim de se evitar a corrosão rápida e, portanto, a necessidade de manutenção e/ ou troca constante das grades. Materiais ferrosos tem uma acentuada corrosão, portanto existe a necessidade de utilização de materiais alternativos como por exemplo: Aço inox ou fibra de vidro. Definições dos tamanhos da abertura das grades devem estar em concordância com a Norma NBR 12.209 – Elaboração de Projetos Hidráulico-Sanitários de Estações de Tratamento de Esgotos Sanitários, isto é, os espaçamentos (abertura) da grade grossa deve estar entre 40 e 100 mm, a grade média entre 20 e 40 mm e a grade fina entre 10 e 20 mm. Ver tabela 1 e figura 2. 13 UNIDADE Tecnologias de Tratamento: Etapas do Processo de Tratamento de Efluentes: Tratamentos Preliminares Tabela 1 – Espaçamento das grades utilizadas nos processos preliminares de tratamento de efluentes. Grades Grandes Médias Pequenas Espaçamento 40 a 100 mm 20 a 40 mm 10 a 20 mm Segundo IMHOFF (2002), o espaçamento (abertura) tem a vantagem de deixar passar a matéria fecal e os papéis, que serão removidos nos decantadores, retendo apenas sólidos inertes. A quantidade de material retido por meio de grades grosseiras varia entre 2 e 5 litros por habitante por ano. Para tal quantidade é suficiente a limpeza manual. O material gradeado deve ser enterrado ou então incinerado com o gás dos digestores. São necessários 100 m3 de gás por tonelada de material gradeado. A temperatura de combustão deve ser superior a 800°C para evitar problemas de maus odores. Após o gradeamento em muitos casos se faz necessário o uso de peneiras, como tratamento independente, para a separação de detritos de tamanhos um pouco menores que passam pela grade pequena, como é o caso de grandes rios ou do mar. Geralmente, é exigida a retenção de partículas de dimensões superiores a 3 mm. Porém a sua eficiência é relativamente baixa. A capacidade de remoção de material por peneiras não passa de um quinto da que se obtém em decantadores. Ainda segundo a Norma NBR 12.209, o tamanho da abertura das peneiras deve estar entre 25 e 10 mm. Existe ainda uma condição para o uso de peneiras, elas devem obrigatoriamente serem precedidas de grades para que não ocorra o entupimento das mesmas. (Ver figura 3) IMHOFF (2002) afirma que as peneiras podem retirar os sólidos dos efluentes e lançá-los em recipientes para transporte, ou então serem removidos por jatos de efluente tratado - ou por esguichos de água -, sendo a suspensão aquosa tratada posteriormente em decantadores ou em digestores. A quantidade de material retirado é de aproximadamente 35 litros por habitante em um ano. O teor de umidade é de 85% a 90% e o teor de matéria orgânica é de 85%. Figura 2 – Grades empregadas no tratamento primário de efluentes. Fonte: www.caern.rn.gov.br 14 15 Com o desenvolvimento da remoção mecanizada do lodo dos decantadores orientou-se a necessidade de reduzir o espaçamento das barras até 20 mm para proteger os mecanismos delicados do equipamento e das bombas. Ainda segundo IMHOFF (2002), o mecanismo de remoção poderá funcionar de maneira intermitente. O inconveniente dessas grades finas e que o material retido aumenta para 5 a 15 litros por habitante por ano, portanto para o triplo do das grades grosseiras, além de se ter uma indesejável retenção de material fecal e outras substâncias malcheirosas. Existem prensas para comprimir o material gradeado e reduzir seu volume para a metade, para facilitar o transporte. Pode-se evitar a disposição especial do material gradeado desintegrando-o através de trituradores (desintegradores de facas, bombas dilaceradoras ou trituradores rotativos de barras) e devolvendo-o à corrente líquida, com o que receberá o mesmo tratamento posterior que o lodo. É conveniente nem mesmo retirar o material gradeado do líquido e, sim, fazer passar a totalidade do esgoto bruto pelo triturador. Os trituradores devem ser precedidos de caixas de areia. Quando as águas residuárias contêm grande quantidade de estopa e outros produtos têxteis, como nos países industrializados, os desintegradores falham. Neste caso, é mais acertado recolher esses materiais por meio de grades. Os filtros de areia funcionam de maneira análoga às peneiras. Saiba mais sobre o gradeamento e a sua limpeza assistindo aos vídeos: • https://youtu.be/8hSI-nLMQHs • https://youtu.be/a9lLS2SSUWY Ex pl or 15 UNIDADE Tecnologias de Tratamento: Etapas do Processo de Tratamento de Efluentes: Tratamentos Preliminares Desarenação É nesta etapa onde a remoção de areia é feita por sedimentação. Os grãos de areia mais pesados que a matéria orgânica em suspensão, vão para o fundo do tanque, o efluente com tal matéria orgânica para os tratamentos posteriores (ver figura 3). Com essa remoção de areia é possível evitar abrasão nos equipamentos e tubulações; eliminar ou reduzir a possibilidade de obstrução em tubulações, tanques, orifícios, sifões, além de facilitar o transporte do líquido, principalmente a transferência de lodo, em suas diversas fases. Figura 3 – Caixas de desarenação: (a) ETE Ponta Grossa e (b) ETE KM6 – ambas em Natal – RG (CAERN, 2015) Fonte: www.caern.rn.gov.br Coagulação Grande parte das estações de tratamento de efluentes utiliza o processo de coagulação que envolve a utilização de produtos químicos com o objetivo de precipitar os sólidos em suspensão não-sedimentáveis e parte dos colóides sob a forma de flocos, provocando assim sua sedimentação, que, ao contrário disso, não seria possível a sua remoção por sedimentação, flotação ou filtração. Tanto a coagulação quanto a floculação são etapas importantíssimas no fluxograma de processos de tratamento de efluentes, principalmente na preparação da decantação ou da flotação e, assim, na filtração posterior. Uma coagulação bem realizada promove a eficiência das etapas posteriores. É comum os termos “coagulação” e “floculação” serem, frequentemente aplicados como sinônimos. Porém, segundo Richter (2002) coagulação é a alteração físico- química de partículas coloidais de uma água, caracterizada principalmente por cor e turbidez, produzindo partículas que possam ser removidas em seguida por um processo físico de separação, usualmente a sedimentação. A coagulação pode ser considerada como um processo constituído de duas fases subsequentes: a primeira - a coagulação, propriamente dita - envolve a adição de coagulantes químicos com 16 17 a finalidade de reduzir as forças que mantêm separadas as partículas em suspensão.A segunda fase da coagulação - a floculação - promove colisões entre as partículas previamente desestabilizadas na coagulação, por efeito de transporte de fluido, formando partículas de maior tamanho, visíveis a olho nu: os flocos. O processo de coagulação é realizado pela homogeneização rápida do coagulante com o efluente em seguida uma homogeneização mais lenta, com o objetivo de forma dos flocos. É, portanto, constituída a formação de um precipitado através da união de partículas primárias. O conhecimento do tempo de formação desse precipitado é fundamental no dimensionamento dos floculadores. O efluente é decantado durante 1 a 4 horas. O lodo formado é tipicamente flocoso. Os coagulantes aumentam a formação de lodo cerca de duas vezes mais que o formado pela sedimentação simples, aumentando assim, posteriormente, a quantidade de cinzas na incineração. O coagulante mais empregado é o sulfato de alumínio - Al2(SO4)3 • 14H2O. Como abordado na Unidade anterior, o pH de coagulação é um parâmetro singular na eficiência processo. Além de depender da quantidade de coagulante empregado, a eficiência da coagulação também depende da alcalinidade dos já existentes nos efluentes. Outro parâmetro que também influencia os processos de coagulação é a temperatura, por sua ação na constante de equilíbrio da água, fazendo variar o pOH para um dado pH de coagulação. A variação da temperatura provoca uma variação na viscosidade da mistura o que consequentemente altera os gradientes de velocidade aplicados, podendo ser necessário correções para a manutenção da eficiência do processo. Na primeira parte da coagulação, as reações de hidrólise é quase que instantânea após a adição do coagulante, seguida pela coagulação (outra fase rápida) e por uma floculação pericinética, onde há o crescimento das partículas sólidas primárias de até 10 micra (ver figura 4). A aeração facilita a floculação, bem como a recirculação de parte do lodo já depositado, juntando-o novamente ao afluente. Um processo posterior a floculação deve ser levado em consideração caso necessário, o processo de colisão onde flocos de grande e de pequeno tamanho possuem tempos de sedimentação diferentes, ou seja, as partículas possuem de diferentes tamanhos e densidade o que faz com que elas tenham velocidades diferentes de sedimentação. Caso exista uma grande concentração de flocos, pode dizer que o processo fica semelhante à filtração, melhorando assim o contato entre as partículas. 17 UNIDADE Tecnologias de Tratamento: Etapas do Processo de Tratamento de Efluentes: Tratamentos Preliminares Figura 4 – Formação de flocos em um processo de coagulação/ floculação. (Sabesp 2015) Flotação Também é um tratamento físico-químico onde são adicionadas nuvens de bolhas de ar em uma suspensão coloidal. As partículas em suspensão no efluente, aderem as bolhas de ar e, portanto, são levadas para a superfície do efluente, formando uma espuma que pode ser retirada do efluente com maior facilidade. Existem dois tipos de flotação: por ar dissolvido, com microbolhas da ordem de micra; e por ar disperso, com bolhas maiores, para separação de partículas de maior tamanho. A eficiência do processo de flotação ou é dependente da relação ar/sólidos e tamanho da bolha. Quanto maior a vazão de ar empregado menor será o tamanho da bolha, e, portanto, mais eficiente o processo. Decantação Essa é uma técnica de separação física de misturas formadas principalmente por sólidos em líquidos. Ela consiste em deixar a mistura em repouso para que, em razão da diferença de densidade e da ação da gravidade, os sólidos sedimentem, ou seja, depositem-se no fundo do recipiente para serem então separados da parte líquida, que fica em cima. Como já descrito anteriormente, em muitos casos se faz necessário a adição de coagulante com o objetivo de formar aglomerados ou flocos maiores que sedimentam com maior agilidade. A retirada de partículas pequenas é feita pela sedimentação simples nos pré- sedimentadores, removendo partículas igual ou superior a 0,1 mm (100 μm). A sedimentação de partículas maiores, as conhecidas como floculentas é normalmente denominada decantação, tais processos são realizados em tanques de decantação ou decantadores (ver figuras 5). 18 19 Em qualquer tipo de decantador e necessária atenção à retirada de escuma (substâncias flutuantes se acumulam na superfície da água) pois podem causar odores desagradáveis. Essa retirada é realizada por dispositivos de remoção da escuma. A quantidade de sólidos sedimentáveis define a eficiência de um decantador, são caracterizados como sedimentáveis todos os sólidos que decantam em um cone de 40 cm de altura, em 2 horas. O tipo de efluente define a relação entre sólidos sedimentáveis e sólidos em suspensão. Quanto mais fresco e mais concentrado for o esgoto maior será a eficiência da decantação. Segundo Richter (2002) a concentração de sólidos também interfere na sedimentação separando-a em quatro tipos distintos: discreta, floculante, interferida e compressão. Também são definidas como classes 1, 2, 3 e 4.Sedimentação classe 1 é onde as partículas em suspensão são mantidas na água pelas forças de arraste causadas pelo seu movimento. Como tais forças variam com a sexta potência da velocidade, a redução desta pode provocar o assentamento das partículas. • Sedimentação classe 2: a maior parte das soluções em suspensão no tratamento de água ou no tratamento de esgotos são floculentas por sua própria natureza ou pela ação de coagulantes; os flocos sofrem variações de volume e densidade devidas às colisões e ao arrasto que experimentam durante seu assentamento. • Sedimentação classe 3: ocorre quando flocos ou partículas discretas em altas concentrações tornam-se muito próximos surgindo interações entre eles, de modo que o deslocamento da água produzido pelo assentamento de uma partícula afeta a velocidade relativa de sedimentação daí partículas vizinhas. Também é conhecida como sedimentação interferida, pela interferência mútua entre os flocos ou partículas. • A sedimentação classe 4, ou compressão, aplica-se ao material ou lodo já depositado, definindo as leis de seu adensamento. Depois dos processos preliminares, o efluente ainda não está seguro para ser lançado no meio ambiente. O Efluente necessita ainda passar pelos tratamentos secundários e em alguns casos tratamentos terciários. Saiba como é realizada cada etapa do processo de tratamento do esgoto na ETE – Mauá. Primeiro ocorre o bombeamento do esgoto bruto que chega à Estação de Tratamento para o gradeamento, onde é feita a remoção de sólidos grosseiros. Após o gradeamento, o esgoto passa pelo processo de remoção de areia e é bombeado para os biorreatores, onde é realizado o tratamento biológico. https://youtu.be/PpFf81DBiMY Ex pl or 19 UNIDADE Tecnologias de Tratamento: Etapas do Processo de Tratamento de Efluentes: Tratamentos Preliminares Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Para complementar os conhecimentos adquiridos nesta unidade, assista aos vídeos a seguir: Vídeos EP ENGENHARIA DO PROCESSO. Estação de tratamento de efluentes e reciclagem de água. Disponível em: https://youtu.be/Uep2Pb6on6E - Acesso em: 03 out. 2015 SABESP. Tratamento de esgotos. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=OwTZCoRR0LI - Acesso em: 03 out. 2015 Essas referências enriquecerão sua compreensão para o bom desenvolvimento de seus estudos. 20 21 Referências ABES – Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental. 1ª Oficina de Trabalho sobre Operação de Tratamento de Esgotos Sanitários da Câmara Temática de Tratamento de Esgotos da ABES. Tratamento preliminar (gradeamento, desarenadores, medição de vazão e coleta de amostras do afluente etc.). Disponível em: <http://www.abes-dn.org.br/eventos/abes/1oficina- tratamento-preliminar>. Acesso em: 24 set. 2015. BATTALHA, B. H. L. Controle da qualidade daágua para consumo humano. CETESB, 1977. CAERN - Companhia de água e esgoto do Rio Grande do Norte. Tratamento de esgoto. Publicado em 14/01/2014. Disponível em: http://goo.gl/TYXvXF Acesso em: 26 set. 2015. FABHAT – Fundação Agência da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê. Bairros de SP ainda despejam esgoto no Tietê. Disponível em: <http://www.fabhat.org. br/site/index.php?option=com_content&task=view&id=12&Itemid=66>. Acesso em: 22 set. 2015. G1 SÃO PAULO. Alckmin vai usar esgoto tratado para abastecimento na Guarapiranga. Publicado em 05/11/2014. Disponível em: <http://g1.globo. com/sao-paulo/noticia/2014/11/alckmin-vai-usar-esgoto-tratado-para- abastecimento-na-guarapiranga.html>. Acesso em: 22 set. 2015. IMHOFF, K. I.; IMHOFF, K. R. Manual de tratamento de águas residuárias. São Paulo: Edgard Blücher Ltda, 2002. 3ª reimpressão. JORDÃO, E. P.; PESSOA, C. A. Tratamento de esgotos domésticos: concepção clássica de tratamentos de esgoto. CETESB, 1975. MCIENTÍFICA. Escala de pH. Disponível em <http://www.blog.mcientifica.com. br/a-escala-de-ph/>. Acesso em: 24 set. 2015. NOVA OPERSAN SOLUÇÕES AMBIENTAIS. Guia: tratamento de efluentes. Disponível em: <http://info.opersan.com.br/guia-tratamento-de-efluentes?porta lId=138299&hsFormKey=edd9021418bcb34207c738e36782cadc&submissio nGuid=7c2af5be-9bb9-4f33-a044-e26831a941cd#widget_1636347>. Acesso em: 22 set. 2015. PALÁCIO DO PLANALTO – PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Governo Federal. Lei nº 6.050, de 24 de maio de 1974. Disponível em <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6050.htm>. Acesso em: 22 set. 2015. RICHTER, C. A.; NETTO, J, M. A. Tratamento de água tecnologia atualizada. São Paulo: Edgard Blücher Ltda, 2002. 4ª reimpressão. RODRIGUES, A. B. Tratamento e destino dos esgotos domésticos no meio rural. Porto Alegre: Emater, 2003. 21 RUBIM, C. O trabalho da flotação e aeração. Revista TAE – especializada em tratamento de água e efluentes. Publicado em 04/04/2013. Disponível em <http:// www.revistatae.com.br/noticiaInt.asp?id=5804>. Acesso em: 26 set. 2015. SABESP. Tratamento de água. Disponível em: <http://site.sabesp.com.br/site/ interna/Default.aspx?secaoId=47>. Acesso em: 21 set. 2015. SILVA, D. O.; CARVALHO, A. R. P. KURITA Soluções em engenharia de tratamento de águas. Etapas de um tratamento de efluente. Disponível em <http://www. kurita.com.br/adm/download/Etapas_do_Tratamento_de_Efluentes.pdf >. Acesso em: 22 set. 2015. UFOP - Universidade Federal de Ouro Preto. Minas Gerais. Departamento de Engenharia Civil – Saneamento Urbano. Decantação e flotação - Filtração e desinfecção. Disponível em: <http://www.em.ufop.br/deciv/ departamento/~anibal/1Aula%209%20-%20Tratamento%20de%20agua%20 -%20Decantacao%20Filtracao%20desinfeccao.pdf>. Acesso em: 26 set. 2015. VON SPERLLING, M. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. Editora da UFMG, 1996. VON SPERLLING, M. Lagoas de estabilização. Editora da UFMG, 1896. VON SPERLLING, M. Lodos ativados. Editora da UFMG, 1997. VON SPERLLING, M. Lodos de esgotos: tratamentos e disposição final I. Editora da UFMG, 2001. 22
Compartilhar