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Puerpério fisiológico Lavínia Vasconcellos Patrus Pena 2021 2021 Puerpério: momento complexo e delicado, mas muitas vezes é esquecido e pouco valorizado, mulheres ficam pouco assistidas -> período que sucede o parto em que ocorre processos involutivos e de recuperação do organismo materno após o parto Mulher sofre mudanças físicas e experimenta sensações de angústia, medo e inseguranças com a chegada do bebê -> pai é fundamental no apoio da mãe durante o puerpério Divisão: Puerpério imediato Puerpério tardio Puerpério remoto 1º-10º dia após o parto 11º-42º após o parto 43º-60º dia após o parto · Alguns autores defendem que a puerpério dura 12 meses ao invés de 6 semanas Sistema Reprodutivo Sofre eventos catabólicos e involutivos das estruturas hiperplasiadas/hipertrofiadas durante a gravidez Hemostasia da ferida placentária: quando ocorre a dequitação da placenta, o local onde ela ficava inserida vira uma ferida · Retração e contração do miométrio -> colabamento de artérias · Colapso parcial de circulação das artérias e veias ovarianas · Redução do fluxo dos vasos uterinos: acotovelamento dos pedículos vasculares e modificações hemodinâmicas posteriores à eliminação da fistula A-V representada pela circulação uteroplacentária · Trombose dos orifícios vasculares abertos na região placentária Ligaduras vivas de Pinard: ocorrem devido à contração da musculatura uterina, colabando os vasos uterinos Simultaneamente a isso: trombose dos vasos uterinos e involução de vasos e da musculatura Involução afetada por: paridade, tipo de parto e lactação Primíparas, normalmente pós-parto, o útero se mantém com uma contração tônica, ele fica + constantemente contraído Multíparas: útero contrai-se em intervalos regulares Mulheres que amamentam costumam ter uma involução uterina + rápida: amamentação libera ocitocina, que contribui para a contração uterina -> contrações puerperais + acentuadas durante a amamentação, que se tornam + brandas ao final do 3° dia pós-parto Imediatamente após a expulsão da placenta: útero está ao nível da cicatriz umbilical A partir do 2º dia pós-parto, ele regride, em média, 1 cm por dia -> após a 2ª semana pós-parto, não é + palpável no abdome -> após 1 mês pós-parto, ele retorna ao tamanho pré-gestacional Útero imediatamente pós-parto possui 1kg e está na altura da cicatriz umbilical -> 8 a 10 dias pós-parto ele já chega à metade desse tamanho Sítio de Implantação Placentária Quando a placenta dequita, forma-se uma ferida no sítio de implantação placentário · Placenta normal invade a decídua e o miométrio -> quando ela sai, fica uma ferida aberta muito vascularizada Decídua superficial sai com a placenta e sofre necrose Decídua basal (não eliminada com a placenta) -> dividida em leito superficial (sofre necrose) e leito basal (responsável pela proliferação de um novo endométrio) Depois que a placenta sai, o sítio de inserção placentário é maior do que a palma de uma mão -> poucos dias pós-parto, com a involução adequada do útero, esse sítio passa a ter 2-3 cm Devemos avaliar quantidade do sangramento e qualidade do sangramento, para saber se o processo de involução está adequado · Lochia rubra (até 3º-4º dia): sangue neocoagulado, tecido necrótico e plasma · Lochia serosa (5º-10º dia): plasma, sangue em quantidade reduzida, fragmentos de decídua · Lochia alba (2-3 semanas): exsudação serosa, células deciduais, muco cervical, flora Proliferação profunda do endométrio a partir das margens Desenvolvimento dos tecidos endometriais a partir das glândulas e do estroma remanescentes após o desprendimento Proliferação aumentada no sítio de inserção placentária: esse local perdeu + células e ficou + lesado Proporções Uterinas: · Útero involui como um todo, involui o corpo, o istmo e o colo · Transição entre o corpo e o colo uterino (secção da cesária) sofre uma involução rápida -> uma camada + fina · Involução do Colo Uterino: · No período expulsivo: dilatação cervical 10 cm · Algumas horas após o secundamento: 3-4 cm · 10 dias após o parto: colo fechado · Até 3-4 meses: edema do estroma e infiltração celular · Pacientes que tiveram parto normal passam a ter o orifício externo em formato de fenda · Vulva e Vagina: · Vagina precisa esticar (pele, músculo e mucosa) -> muitas vezes, canal vaginal não possui elasticidade suficiente e no momento que ocorre a passagem, podem ocorrer lacerações · Lacerações superficiais (pele e mucosa) pequenas não precisaram ser suturadas cicatrizam em 4 a 5 dias pós-parto -> algumas vezes, temos lacerações + profundas que precisam de sutura · 1º grau: afetam apenas a mucosa -> só precisam ser suturadas se sangrarem · 2º grau: alcançam a musculatura do assoalho pélvico, então sempre precisa de sutura · 3° grau: alcança esfíncter anal -> sempre suturadas · 4° grau: transfixa a mucosa retal -> sempre suturadas · Deve-se acompanhar a cicatrização, a retomada funcional do músculo e o risco de infecção · Lacerações em diferentes partes · Músculo bulbo cavernoso: tem inserção no clitóris e contorna o canal da vagina, que é + frequentemente afetado nas lacerações de parto e na episiotomia: fecha o canal vaginal Episiotomia: + utilizada de forma médio lateral direita (4) -> muitas vezes, corte da episiotomia maior do que a laceração que pode ocorrer durante o parto = utilizada apenas em casos indicados · Episiotomia mediana afeta o esfíncter anal, logo gera maior morbidade · Episiotomia era pensada como forma de proteger o períneo de alguma laceração grande -> hoje isso é controverso e é utilizado apenas em casos selecionados Além das lacerações, vagina tem que recuperar das alterações que ocorreram, mesmo se não houver lacerações ou se o parto for cesária · Mucosa e vascularização da vagina aumentam durante a gestação -> elas se reestruturam até a 3ª semana · Diâmetro diminui progressivamente · Pregueado começa a aparecer depois da 3ª semana pós-parto -> recuperação vaginal + lenta nas pacientes que amamentam · Prega himenial remanescente > carúnculas mirtiformes -> as pregas hiemais não ficam + contínuas, forma carúnculas, que parecem pólipos · Epitélio vaginal começa a proliferar de volta em 4-6 semanas Crise Vaginal: atrofia progressiva do epitélio escamoso de revestimento · Vagina diminui de tamanho, mas raramente retorna ao tamanho de uma mulher que nunca engravidou · Após 25º dia pós-parto: início do processo regenerativo do epitélio vaginal, que é + rápido nas não lactantes · Na gravidez: vários hormônios que contribuem para hipertrofia da vagina e da vulva -> para entrar em trabalho de parto, ocorre uma queda abrupta dos hormônios progesterona, estrogênio e betaHCG · Paciente que amamenta ainda produz prolactina e ocitocina, que aumentam a inibição de FSH, que reduz ainda + o estrogênio · Hipoestrogenismo deixa a vagina atrófica, semelhante ao que ocorre na menopausa · Retorno da ovulação ocorre 6-8 semanas após o parto nas mulheres que não amamentam e 17 semanas nas que amamentam -> tempo que demora para o epitélio voltar a proliferar · Produção baixa de estrogênio (inibição não é 100%) recupera o epitélio vaginal de forma bem devagar Sistema Urinário Quando o bebê sai, imediatamente ocorre aumento da capacidade vesical, pela descompressão do útero gravídico -> aumento da distensibilidade vesical Durante o parto, ocorre perda sanguínea -> perda de volume junto com o aumento da capacidade vesical faz com que a mulher possua diurese escassa nas primeiras 24h pós-parto -> + acentuado no parto cesárea, pois ocorre maior perda sanguínea Urina residual + bacteriúria + dilatação do sistema coletor = predisposição à infecção Ritmo de filtração glomerular retorna ao normal 2 semanas após o parto Ureteres dilatados retornam ao estado pré-gravídico em 2-8 semanas Incontinência urinária nos 1ºs dias após o parto é comum -> uretra e esfíncter podem estar machucados devido à passagem do feto Peritônio e Parede Abdominal Músculos da parede se encontram frouxos e readquirem o tônus após algumas semanas Pode haver persistência da diástase domúsculo reto abdominal Fibras ficam + finas e podem sofrer lesões Quando a paciente possui musculatura + forte/desenvolvida, retorno da musculatura abdominal ocorre + facilmente Musculatura do reto abdominal ainda não possui tônus suficiente para segurar o útero Alterações de pele: estrias gravídicas -> algumas vezes a pele não possui elasticidade suficiente para suportar o tanto que a barriga estica -> hidratação é uma das melhores maneiras para prevenir as estrias gravídicas Cesarianas: agressão maior à musculatura abdominal Sistema Sanguíneo Deve ocorrer redistribuição de líquidos Aumento de fibrinogênio e de fatores pró-coagulantes para proteger a mãe de risco de hemorragia Leucocitose muito importante, que pode chegar até 30.000 -> sem desvio para a esquerda: leucocitose inflamatória (de defesa), quase que profilática, já que a vagina está aberta Nas primeiras 24h: DC e FC não reduzidos -> começam a abaixar depois de 2 dias -> alcançam os níveis pré-concepcionais em torno do 10º dia após o parto · Nas primeiras 24h, a mulher possui volume muito aumentado e diurese escassa, logo a mulher redistribui esse volume Resistência vascular periférica permanece baixa e retorna após 2 dias pós-parto -> retorno progressivo aos valores pré-gestacionais Volume sanguíneo: retorno aos níveis pré-gestacionais em 1 semana Perda Ponderal Ocorre pelo esvaziamento uterino (3 a 4kg de bebê e 1 a 2kg de líquido e placenta) Esvaziamento uterino elimina 5-6 Kgs Puerpério (2 a 7kg): diurese, secreção láctea e eliminação de lóquios Em 6 meses, a paciente atinge o peso pré-gestacional Edema Puerperal Descompressão da veia cava e redistribuição dos líquidos corporais -> aumento do volume plasmático -> extravasamento para 3º espaço (entre o 3° e o 5° dia pós-parto) Retorno ao nível pré-gravídico em 2 semanas Mamas Não volta a um status pré-gestacional -> mamas só completam o seu desenvolvimento durante a amamentação Na gestação: proliferação de células epiteliais alveolares, formação de novos ductos e desenvolvimento da arquitetura lobular Final da gestação: redução da proliferação, diferenciação para atividade secretora e aumento do tamanho das mamas: · Hipertrofia dos vasos sanguíneos, células mioepiteliais e tecido conjuntivo · Depósito de gordura e retenção de água e de eletrólitos Lactação Mamogênese -> lactogênese -> lactopoese Mamogênese: processo de proliferação, crescimento e desenvolvimento mamário, que ocorre durante a gravidez estimulado por estrogênio, progesterona e prolactina (doses não tão altas durante a gravidez) Lactogênese: 1ª síntese de leite, capacidade das células cuboidais dos alvéolos mamários produzirem leite -> mamas já se proliferaram e já produzem leite · Início da secreção láctea -> decréscimo da produção de esteroides (estimulam a mamogênese) -> redução do bloqueio da glândula mamária ao estímulo da prolactina > apojadura · Queda nos níveis de progesterona e estrogênio -> liberação de alfa-lactalbumina pela liberação de prolactina -> estimula lactose sintase · Apojadura ocorre no 3° dia após o parto: estrogênio e a progesterona diminuem e a prolactina aumenta Lactopoese: manutenção da lactação e ejeção de leite · Prolactina: hormônio + importante para manutenção -> secretada pela hipófise anterior (produção de leite) · Precisa-se de ocitocina para ocorrer esvaziamento das mamas · Principal estímulo para produção de ocitocina e de prolactina: sucção durante a amamentação -> amamentação em livre demanda é suficiente para manter estímulo (esvaziamento das mamas é indispensável para manter secreção láctea) · Intensidade e duração da lactação subsequente: depende da estimulação repetitiva da amamentação · Ejeção de leite (reflexo de descida) -> estimulado pela sucção -> + neurohipófise a secretar ocitocina · Além da sucção, existem estímulos visuais e auditivos que enviam sinais para receptores da hipófise para a produção dos hormônios · Algumas mães relatam que lembraram do filho ou escutaram o bebê chorando e o leite vazou · Algumas situações atrapalham: privação de sono, ansiedade, insegurança etc. -> liberação de neurotransmissores que inibem a produção de leite Nos primeiros dias: leite chamado de colostro -> feito basicamente de proteínas e anticorpos, sem grande quantidade calórica, é um leite + protetor · Depois, temos a transição para o leite maduro, que é + calórico, com maior quantidade de gordura -> ele fica isotônico em relação ao sangue Colostro Leite de transição Leite maduro Primeiros 5 dias 6º-15º dia A partir do 25º dia Transparente ou amarelado + volumoso Consistente e esbranquiçado Proteínas e imunoglobulinas Menos proteínas, + gorduras e carboidratos Gorduras e nutrientes Pega correta: essencial para o sucesso da amamentação · Bebê deve abocanhar toda a aréola, os lábios devem estar virados para fora (boca de peixe) e as narinas devem estar livres para respirar · Neném que vai até a mama Dificuldades frequentes na amamentação Ingurgitamento mamário: dor, incomodo, dificuldade de amamentação e febre leve, mesmo sem infecção · 3º-4º dia pós-parto · Febre em menos de 24 horas · Congestão vascular ou linfática + acúmulo de leite -> distensão tecidual excessiva -> dor e desconforto · Fatores implicados: início tardio da amamentação (amamentação no Golden Hour, 1 hora após o parto, é um fator protetor), mamadas infrequentes, sucção ineficaz do recém-nascido, uso de fórmulas e de complementos (o bebê mama menos) · Tratamento/prevenção: mamadas precoces em livre demanda, correção da pega, esvaziamento das mamas, aplicação de compressas de gelo, analgésico/anti-inflamatórios · Ordenha manual ou auxílio de bombas (deve ser bem orientado, pois pode causar fissuras) Fissuras mamilares: normalmente nos primeiros dias do aleitamento · Prevenção: cuidados com as mamas na hora da amamentação · Tratamento: pomadas cicatrizantes à base de lanolina · Uso de bicos de silicone em caso de mamilos planos ou invertidos Mastite: por volta da 3ª semana pós-parto · Incidência de 5-10% · Estase láctea -> distensão alveolar -> obstrução ao fluxo de leite -> proliferação bacteriana (normalmente bactéria de pele mesmo) · Quadro clínico: dor, cefaleia, febre, náusea, vômitos, edema, calor e hiperemia mamária · Pode ter sinais sistêmicos e evoluir para sepse · Tratamento: antibióticos (penicilinas e cefalosporinas 1ª geração), compressão fria e drenagem de abscesso · Mastite não contraindica amamentação -> mãe deve seguir amamentando para tentar esvaziar a mama Abcesso mamário: drenagem Alterações Psicológicas Blues puerperal Depressão puerperal Psicose puerperal 50-70% das puérperas 10-15% 1 a 5/1000 nascimentos Humor depressivo, fadiga, insônia ansiedade Sensação de incapacidade e de culpa, transtorno de sono, mudanças de humor e tristeza Transtorno do sono, irritabilidade, mudanças de humor, sintomas psicóticos, como delírios e alucinações Pico entre 3º-6º dia de nascimento Maioria dos casos ocorrem nos 2º meses após o parto Ocorre na 1ª semana ao 1º mês Não necessária hospitalização Pode precisar de hospitalização Pode precisar de hospitalização Geralmente dura menos que 1 semana Duração variável Duração variável Se dura + de 1 mês: procurar ajuda profissional Melhor prognóstico que outras depressões Pode ser o início Apoio familiar e dos profissionais de saúde Tratamento com profissional especializado Tratamento com profissionais da saúde mental Sentimento de culpa, perda de interesse pelo bebê, perda de interesse pela sua rotina acendem alerta Maior frequência em pacientes que já possuem alterações psicológicas prévias, mas podem ocorrer com qualquer paciente -> rastrear todas as puérperas com alguma escala validada, perguntar e sondar respostas (Escala de depressão perinatal de Edinburgh) Revisão Puerperal: · Revisão precoce: 1ª semana pós-parto: ferida cirúrgica, estado hematológico, rastreamento de infecção puerperal, exame das mamas e peso · Revisão tardia: entre 30º e 42º dia após o parto: liberação para exercícios físicos,completar esquema de vacinação, coleta de material para citologia oncótica e planejamento familiar (exercícios físicos e atividade sexual 40 dias após o parto) Contracepção no puerpério: deve ser iniciado na 3ª ou 4ª semana após o parto em mulheres com aleitamento misto -> iniciar pelo menos 5 dias antes da atividade sexual · Pode-se usar hormônio: progesterona não muda a qualidade do leite: injetável trimestral, preservativo, DIU e pílula oral de progesterona (POP) · Não se pode usar estrogênio, pois ele reduz a quantidade e a qualidade do leite Ovulação pode recomeçar 6 a 8 semanas pós-parto, principalmente para pacientes que não estão amamentando (lactação causa amenorreia -> sem folículo selecionado para ser o dominante, por um bloqueio de eixo hormonal) · Prolactina elevada -> redução de FSH e de LH -> não seleciona folículo dominante -> não ovula · Amenorreia ocorre na paciente em amamentação exclusiva em livre demanda · 1ª ovulação pós-parto ocorre antes do 1º sangramento, logo isso é um ponto de falha importante, pois não é possível saber quando a paciente ovulou, o que pode causar uma nova gravidez DIU pós-parto imediato: · Taxa do DIU mudar de lugar é muito maior do que quando ele é inserido 6 semanas pós-parto, pois o útero gravídico é grande e vai involuindo -> colocar o DIU nesse momento pode ser uma oportunidade para a paciente que não consegue retornar à consulta futuramente · Contraindicações: sinais de infecção e sangramento pós-parto aumentado (atonia uterino, sangramento pós-parto etc.) · DIU pode piorar a recuperação do endométrio, a contração uterina e a hemorragia Imunização pós-parto: · Janela de oportunidade para as vacinas contraindicadas na gravidez e que a paciente não tenha vacinado · Vacinas contraindicadas na gestação e recomendadas no puerpério: tríplice viral, varicela e HPV · Ao tomar a febre amarela: amamentação deve ser suspensa por 10 dias após administração da vacina 3 lAVÍNIA VASCONCELLOS PATRUS pena
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