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SENTIDO E REFERÊNCIA PARA GOTTLOB FREGE Friedrich Ludwig Gottlob Frege foi um grande matemático e filósofo alemão. Nesse sentido, Frege participou daquilo que chamamos de “virada linguística”, a qual ocorre quando a Filosofia se estende e tentar compreender as questões sobre a linguagem, ou seja, havia uma relação direta entre os problemas filosóficos e o ponto linguístico. Por essa análise, era tido que os problemas metafísicos não possuíam uma determinada solução devido à uma má compreensão da linguagem. Frege vai desenvolver uma lógica diferente daquela clássica, fundada por Aristóteles. Esse novo modelo lógico advém com uma necessidade da Filosofia analítica, que, em termos mais gerais, procura analisar a linguagem por intermédio de suas estruturas sintáticas e semânticas. Dentro dessa perspectiva, o autor vai trabalhar sob duas ópticas, a fim de lidar com a questão da linguagem, a saber; o sentido e a referência, os quais são o cerne principal deste trabalho. Como já supracitado, será ponderada uma análise acerca do sentido e da referência para Frege. Assim sendo, será discorrido aqui, de modo breve, os desdobramentos dessa implicação. Nessa circunstância, ao abordar questão da linguagem, tem-se dois problemas de comunicação: palavras iguais com sentidos diferentes e palavras diferentes que se referem a uma mesma coisa. Desse modo, e de forma sucinta, o autor destaca que a referência é o próprio objeto. A título de exemplo, podemos dizer que ao falarmos de uma caneca, esta é a chamada referência. Ao passo que a referência é o objeto, o sentido designa o modo bem como falamos acerca daquele tal objeto. Nesse mesmo caso da caneca, o modo como nos exprimimos sobre a caneca seria o sentido. Ademais, por mais que não me proponho a abordar a questão sobre a representação, é válido discorrer sobre esta. Nesse panorama, Frege vai dizer que a representação é “subjetiva”, afinal, ela é interna, pessoal e, podemos também a considerar, como mental. A representação é tomada como pessoal, uma vez que exprime os nossos sentimentos perante às palavras, ou seja, cada um possui um sentimento diferente, já que parte de percepções e vivências distintas. Para introduzir essa breve discussão acerca da referência, deve salientar que, para Frege, algumas distinções devem ser feitas, a saber; entre psicológico e lógico, entre subjetivo e objetivo e entre conceito e objeto. Além disso, só se pode denotar uma determinada palavra numa condição contextual, isto é, quando ela está inserida em algum contexto, fora isso, ela não terá sentido. Assim, após tecer as referidas considerações introdutórias, ao abordar a questão da referência, deve-se ter uma certa cautela para não se deixar levar pela confusão entre que se possa ter em relação ao sentido. Nessa condição, a fim de introduzir esse ponto, Miguens (2007, p. 94) abre espaço para esta discussão: 1.sentido e referência são dois ingredientes distintos da significação de um nome próprio, 2. o nome próprio exprime um sentido e designa uma referência, 3. é o sentido do nome próprio que determina a sua referência e não o contrário, 4. é por ser o sentido a determinar a referência e não o contrário que é possível que um mesmo objecto seja identificado por mais do que um nome próprio, 5. o sentido é um critério de identificação da referência e não algo como uma imagem privada. Partindo dessa inferência, em outros termos, pode-se afirmar que a referência é definida a partir do sentido do nome próprio e é designada pelo mesmo. Além disso, é afirmado que pelo fato de o sentido determinar a referência que é possível que exista mais de um nome próprio para uma mesma coisa. Dentro dessa circunstância, deve-se destacar então que para que exista uma referência é necessário que exista um nome próprio que vá designá-la. Além do mais, esse nome próprio, enquanto palavra, só deve existir na condição de estar inserido num contexto, para que possa fazer algum sentido (MIGUENS, 2007, p. 84) Nesse sentido, a questão do contexto é de suma importância, uma vez que este irá, de fato, fazer a distinção de significado entre duas palavras iguais. Sendo assim, quando se tem uma palavra contextualizada, tem-se seu significado e seu sentido de nome próprio e, consequentemente, é gerada a referência. Ao considerar a referência como algo que se refere ao objeto do qual se fala, pode-se citar como exemplo uma ideia clássica, a da palavra manga. Para sabermos, especificamente, do sentido que se deseja exprimir, deve-se contextualizar a palavra, já que pode ser tanto manga fruta, como manga de uma blusa. Ao realizar a contextualização, tem-se um sentido de nome próprio e, consequentemente, é gerada uma referência. Desse modo, quando se fala sobre referência, por exemplo, tem-se a manga de uma camisa. Aqui já contextualizada, a referência, puramente dita, é uma, a de manga de uma camisa, mas a representação sobre essa manga é totalmente singular, pessoal, objetiva. Isso ocorre, uma vez que para cada indivíduo existem percepções distintas sobre esta manga. Sendo assim, pode-se imaginar diversos tipos de mangas diferente, com cores e tamanhos distintos. Por mais que o objeto abordado seja apenas um único, ele é abordado das mais variadas formas possíveis. Posso me referir a uma manga verde musgo, ao passo que também posso falar sobre uma manga da cor azul mesclada com cinza. Isso vai se desdobrando e, talvez podemos afirmar que é quase incalculável as várias possibilidades de se estabelecer uma referência a um mesmo objeto. À vista da abordagem feita sobre referência, trataremos agora sobre o sentido. Vale iniciar essa discussão definindo sentido como o modo como falamos de um determinado objeto. Dessa maneira, cabe destacar que referência e sentido, apesar de serem coisas distintas, estão diretamente relacionados. Dentro dessa conjuntura, Frege (2009, p. 132) discorre: O sentido de um nome próprio é apreendido por todos que estejam suficientemente familiarizados com a linguagem ou com a totalidade de designações a que o nome próprio pertence, isto, porém, só de maneira parcial elucida a referência do nome, caso ele tenha uma. Para conhecimento total da referência exigir-se-ia que fossemos capazes de dizer, de imediato, para cada sentido dado pertence ou não a essa referência. A partir desta análise, e em outros termos, pode-se afirmar que quando ele fala sobre uma determinada familiaridade com o nome próprio, certamente está se referindo a necessidade que se tem de contextualizar. Ademais, afirma que para que se conhecesse totalmente uma referência, teria de ser capaz de julgar, de modo imediato, se o referido sentido seria pertencente a essa referência. No entanto, até o atual o momento, isso não foi possível. Além disso, é válido pontuar que toda expressão tem um sentido, ou seja, toda sentença possui um modo de como se designar a ela. Segundo Frege “Quando se quer falar do sentido de uma expressão “A”, pode-se fazê-lo simplesmente através da locução “o sentido da expressão ‘A’” (FREGE, 2009, p. 134). Outro aspecto que o autor coloca é a diferença entre palavras expressões e sentenças completas. Nessa circunstância, estas se diferem entre si, tanto em relação às ideias, quanto ao sentido (FREGE, 2009, p.136). Aqui é válido frisar, por fim, que elas não se diferem quanto à referência. Referências Bibliográficas COSTA, Max William Alexandre. Uma introdução à Filosofia da linguagem. Editora Intersaberes. Curitiba: 2015. CARDOSO, Tomás Ribeiro. Nomes vazios: um estudo do problema e de cinco soluções. Brasília: 2011. FREGE, Friedrich. Lógica e Filosofia da Linguagem. Editora USP. São Paulo: 2009. MIGUENS, Sofia. Filosofia da linguagem uma introdução. Porto: 2007.
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