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Material Teórico 
Direito de Família 
 
Filiação 
 
Profª Marlene Lessa 
 
 
cod CivilFamiliaCDSG202107_ a04 
 
 
 
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Filiação 
 
 
É o vínculo existente entre pais e filhos. 
Vem a ser a relação de parentesco 
consanguíneo em linha reta de primeiro 
grau entre uma pessoa e aqueles que 
lhe deram a vida (Antonio Chaves). 
Também possuem vínculo de filiação 
aqueles que o estabeleceram de forma 
artificial: 
 
 
Nem sempre a filiação decorre de uma 
união sexual, pois pode provir de uma 
inseminação artificial homóloga (artigo 
1.597, III, CC) ou heteróloga, desde que 
tenha autorização do marido (artigo 
1.597, IV, CC) e de fertilização de 
proveta – in vitro. 
 
 
Silvio Rodrigues, ao falar sobre os tipos de inseminação artificial, informa: 
 
 
[...] homóloga é a inseminação promovida com o material 
genético (sêmen e óvulo) dos próprios cônjuges; 
heteróloga é a fecundação realizada com material 
genético de pelo menos um terceiro, aproveitando ou não o 
gameta (sêmen ou óvulos) de um ou de outro cônjuge; e, 
por fim, embriões excedentários são aqueles resultantes 
da inseminação promovida artificialmente, mas não 
introduzidos no útero materno. 
 
A Constituição Federal em seu artigo 199, parágrafo 4° 
prevê a necessidade da regulamentação em lei das 
condições e requisitos para garantir ética e compatibilidade 
com os direitos da pessoa humana frente ao 
desenvolvimento científico – é o chamado Biodireito. 
 
Pelo dispositivo constitucional é vedado qualquer tipo de COMERCIALIZAÇÃO, 
motivo pelo qual a gestação de substituição (aluguel de ventre ou “barriga de 
aluguel”) não é admissível a título oneroso, possibilitando apenas a doação (a 
título gratuito). 
 
A Resolução do Conselho Federal de Medicina Nº 2.168/2017, em seu item VII, 
permite a cessão temporária de útero, sem fins lucrativos, considerado o 
parentesco até quarto grau. 
 
 
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A antiga lei n. 8.974/95, atualmente substituída pela Lei 11.105/2005, foi o 
marco para regular o uso de técnicas de engenharia genética e para gerir as 
responsabilidades quando da manipulação de organismos geneticamente 
modificados. 
 
Uma questão que surge da reprodução heteróloga é o direito da criança ou 
adolescente, fruto da inseminação, ter direito a conhecer sua origem biológica, 
sobretudo para fins de saúde (doenças hereditárias) ou casamento (conhecer 
se há vínculo genético com futuro consorte). A maior parte dos doutrinadores 
aponta que - em casos de risco: perda da vida ou, manutenção da saúde, ou 
ainda, para evitar casamento incestuoso, é possível a quebra de sigilo do 
doador do material genético. 
 
Classificação 
 
A filiação, antigamente, podia ser classificada em matrimonial: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
E extramatrimonial: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Juridicamente, não há que se fazer tal distinção, ante o disposto na 
Constituição Federal de 1988, artigo 227, parágrafo 6°, e nas Leis n. 8.069/90 
(Estatuto da Criança e do Adolescente) e 8560/92, pois os filhos, havidos ou 
 
Legítima, se oriunda da união 
de pessoas ligadas por 
matrimônio válido ao tempo da 
concepção ou se resultante de 
união matrimonial, que veio a 
ser anulada, posteriormente, 
estando ou não de boa fé os 
cônjuges. 
 
Legitimada, decorrente de 
uma união de pessoas que, 
após o nascimento do filho, 
vieram a convolar núpcias. 
 
Ilegítima, provinda de 
pessoas que estão impedidas 
de casar ou que não querem 
contrair casamento, podendo 
ser espúria (adulterina ou 
incestuosa) ou natural. 
 
 
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não do matrimônio, têm os mesmos direitos e qualificações, sendo proibidas 
designações discriminatórias - Artigo 1.596 do CC. 
 
O Princípio da igualdade jurídica de todos os filhos garante que todos tenham 
DIREITO AO NOME, ALIMENTOS e SUCESSÃO. 
 
 
Filiação Matrimonial 
 
 
A filiação legítima é a que se origina na constância do casamento dos pais, 
ainda que anulado ou nulo, portanto, o casamento dos genitores deve ocorrer 
antes do nascimento do filho, como também, da concepção. 
 
 
1. Presunção legal da paternidade 
 
O marido é o presumido pai da criança (presunção relativa, que admite prova 
em contrário): 
 
Se o (a) filho (a) é nascido 180 dias após o estabelecimento da 
convivência conjugal ou dentro de 300 dias após a dissolução da 
sociedade conjugal (artigo 1.597, I e II do CC). 
 
Se o (a) filho (a) é havido por fecundação artificial homóloga, 
mesmo que falecido o marido. 
 
Se o (a) filho (a) havido, a qualquer tempo, quando se tratar de 
embriões excedentários, decorrentes de concepção artificial 
homóloga e havido por inseminação artificial heteróloga, desde 
que, como o consentimento do marido (artigo 1.597, III, IV e V do 
CC). 
 
Portanto, a legitimidade do filho não é inerente ao matrimônio. Daí ser uma 
presunção legal da paternidade “juris tantum”. 
 
Por outro lado, não se pode elidir a presunção da paternidade, nem contestar a 
legitimidade do filho se: 
 
a) o marido, antes de se casar, tinha ciência da gravidez da mulher, caso 
em que há presunção de que, implicitamente, admite que o filho é seu 
ou que deseja assumir essa paternidade, mesmo que não seja 
responsável por ela, para poupar seu consorte, salvando-lhe a honra. 
 
b) o marido assistiu, pessoalmente, ou por procurador, à lavratura do termo 
de nascimento do filho, sem contestar a paternidade. Assim, não poderá 
alegar mais tarde a ilegitimidade do filho, pois deveria ressalvar que o 
nascimento do bebê se deu antes dos 6 meses da convivência conjugal, 
acrescentando que se reserva o direito de propor, oportunamente, a 
ação negatória de paternidade. 
 
 
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Os filhos nascidos dentro de 300 dias subsequentes à dissolução da 
sociedade conjugal, por morte, separação judicial, divórcio ou anulação, pois 
a gestação humana não vai além desse prazo. 
 
O filho nascido no 10° mês após a dissolução da sociedade conjugal é 
considerado legítimo, pois poderia ser concebido no último dia de vigência do 
enlace matrimonial. 
 
2. Ação negatória de paternidade 
 
Esta ação é de ordem pessoal, sendo privativa do marido ou 
suposto pai, pois só ele tem legitimatio ad causam (legitimação) 
para propô-la (artigo 1.601 do CC). A ação tem cabimento para o 
pai que reconheceu filho no assento de nascimento, mas que 
descobriu e tem indícios de não ser o pai natural. 
 
A ação não tem prazo para ser proposta, é imprescritível e se 
porventura falecer o marido/ pai durante a lide, aos herdeiros será 
lícito continuá-la (artigos 1.599 e 1.597, V). 
 
Portanto, o marido para contestar a paternidade deve mover ação 
judicial, provando uma das circunstâncias taxativamente 
enumeradas em lei (artigo 1.599, 1.600, 1.602 e 1.597, V): 
 
Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do 
casamento os filhos: 
V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que 
tenha prévia autorização do marido. 
 
Art. 1.599. A prova da impotência do cônjuge para gerar, à 
época da concepção, ilide a presunção da paternidade. 
 
a) Adultério - tendo em vista que se achava fisicamente impossibilitado de 
coabitar com a mulher nos primeiros 121 dias ou mais, dos 300 que 
houverem precedido ao nascimento do filho. P. ex., porque se 
encontrava: preso; longe de sua mulher servindo as forças armadas, 
em local de conflito, embora esta última idéia esteja envelhecida, ante a 
possibilidade de inseminação artificial; acometido de doença grave, que 
impedia as relações sexuais, por ter ocasionado impotência coeundi 
(incapacidade para o coito) absoluta ou que acarretou impotência 
generandi (infecundidade ou incapacidade para gerar) absoluta. 
 
b) Separação de Corpos - que a esse tempo estavam os cônjuges 
legalmente separados, não tendo convivido um só dia sob o teto 
conjugal, hotel ou em casa de terceiro, daí a impossibilidade de ter 
havido qualquer relação sexual entre eles. Ainda, o artigo 1.600 do CC, 
afirma: não basta o adultério da mulher, com quem o marido vivia sob o 
mesmo teto, para elidir a presunção da legitimidadeda prole, porque, o 
filho pode ser do marido, não sendo cabível recusar a legitimidade do 
filho, com base em dúvidas. Entretanto o adultério pode servir como 
prova complementar na ação negatória de paternidade. 
 
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c) Que não havia possibilidade de inseminação artificial homóloga nem 
de fertilização de proveta. 
 
A ação é proposta contra o filho e como é menor, não pode ser representado 
pelo próprio autor, que seria seu representante legal, portanto o juiz nomeia um 
curador ad hoc, cuja intervenção não se dispensa por oficiar, no feito, o 
Ministério Público. A mãe embora não seja parte na lide, poderá intervir para 
assistir o filho. A sentença proferida deverá ser averbada à margem do registro 
de nascimento (Lei 6.015/73, artigo 29, parágrafo 1°, “letra b”) para a 
competente ratificação (RT, 542:70); sendo oponível erga omnes, produz efeito 
em relação aos outros membros da família. 
 
A ação admite cumulação de pedidos com a investigação de paternidade e 
retificação no assento de registro. 
 
 
3. Prova de filiação legítima 
 
Prova-se a filiação legítima: 
 
 
 
a) Pela certidão do termo do nascimento, 
inscrito no registro civil, de acordo com o 
artigo 51 e seguintes da Lei 6.015/73 e 
artigo 1.603 do CC. Ninguém pode 
contestar estado contrário ao que resulta 
deste registro, salvo provando-se erro ou 
falsidade deste (artigo 1.604 do CC). O 
oficial de registro civil comunicará o registro 
de nascimento ao Ministério da Economia e 
ao INSS pelo Sistema Nacional de 
Informações de Registro Civil (Sirc) ou por 
outro meio que venha a substituí-lo. 
(Incluído pela Lei nº 13.846, de 2019) 
 
 
b) Por qualquer modo admissível em direito, se o registro faltar, porque 
os pais não o fizeram ou porque se perdeu o livro ou se o termo de 
nascimento for defeituoso, como quando o filho é dado com nome 
diverso ou se lhe atribui paternidade incógnita, desde que (artigo 1.605, I 
e II, CC) haja começo de prova por escrito, proveniente dos pais, 
conjunta ou separadamente, como cartas familiares, declaração formal, 
diários onde registram que, em certa época, lhes nasceu um filho; 
existam veementes presunções resultantes de fatos já certos, ex. posse 
de estado de filho, ou seja, tem que provar o nomem, que a pessoa 
traga o nome paterno; o tractatus, que a pessoa seja tratada na família 
como filho legítimo, e a fama, ou seja, que tenha sido constantemente 
reconhecida pelos presumidos pais, pela família e pela sociedade como 
filho legítimo. Havendo estas situações, haverá a presunção juris tantum 
de filiação legítima. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13846.htm#art30
 
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A ação de prova da filiação legítima é pessoal, pois compete ao filho, 
enquanto viver, passando aos herdeiros, se ele morrer menor ou incapaz 
(artigo 1.606 do CC). Será imprescritível se proposta pelo filho e se, 
porventura, o filho morrer, seus herdeiros poderão movê-la, por terem interesse 
moral e material. Se o processo for declarado extinto os herdeiros não poderão 
continuar (artigo 1606, § único do CC). A sentença que declarar a 
legitimidade deverá ser averbada no registro de nascimento (Lei n. 6.015/73, 
artigo 29, parágrafo 1°). 
 
 
 
Filiação Pré-Matrimonial 
 
 
Filho legitimado é aquele que adquire o 
status de legítimo pelo consequente 
matrimônio dos pais, por não ter sido 
concebido ou nascido na constância do 
casamento. 
 
A legitimação é um benefício legal que dá 
a condição de legítimo ao filho; para tanto 
requer o casamento de seus pais, mesmo 
in extremis, possibilitando aos genitores 
reparar sua falta e reabilitar o filho perante 
a sociedade. 
 
 
Efeitos 
 
A legitimação produz efeitos jurídicos, pois o subsequente matrimônio dos pais 
visa a apagar a irregularidade originária do nascimento do filho, supondo-se 
que sempre foi legítimo. A simples celebração do ato nupcial concede ao filho o 
estado de legitimado, como se ele fosse legítimo desde a sua concepção. 
 
 
Filiação Extramatrimonial (filho havido fora do casamento) 
 
 
É a que decorre de relações extramatrimoniais. 
 
 
1. Classificação decorrente do Código Civil de 1916 
 
a) Natural – que descendem de pais entre os quais não havia 
impedimento matrimonial. 
 
b) Espúrio – filhos nascidos da união entre o homem e a mulher, entre 
os quais, no momento da concepção, havia impedimento 
matrimonial. 
 
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2. Espúrio 
 
a) Adulterinos – nasceram de casal impedidos de se casarem, em 
razão de matrimônio anterior. 
 
b) Incestuosos – nascidos de homem e mulher impedidos de se 
casarem, em razão de parentesco, natural, civil, ou afim. 
 
3. Reconhecimento do Filho Natural 
 
É o ato que declara a filiação natural, estabelecendo juridicamente o 
parentesco entre pai e mãe e seu filho. 
 
 
4. Reconhecimento 
 
É um ato solene que exige forma prescrita em lei. 
 
Classifica-se em: 
 
a) Voluntário (1.607 do CC). É um ato pessoal dos genitores. Seja 
através de ato unilateral ou de ambos, que manifestam 
espontaneamente o vínculo entre pais e filhos. O filho ilegítimo 
(natural), agora passa a ser reconhecido como legítimo. É um ato 
irretratável e irrevogável, no entanto, pode ser anulado, ante a um 
vício de vontade ou falta de algumas formalidades que a lei 
determina. 
 
O reconhecimento dos filhos pode ser (art. 1.609 do CC) 
 
• No termo de nascimento; 
• Por testamento; 
• Por manifestação expressa nos autos; 
• Escritura Pública; 
 
 
Art. 1.609. O reconhecimento dos filhos havidos fora do 
casamento é irrevogável e será feito: 
I - no registro do nascimento; 
II - por escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em 
cartório; 
III - por testamento, ainda que incidentalmente manifestado; 
IV - por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que 
o reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do ato 
que o contém. 
Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o nascimento 
do filho ou ser posterior ao seu falecimento, se ele deixar 
descendentes. 
 
 
 
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b) Judicial 
 
Este tipo de reconhecimento resulta de sentença proferida em ação 
intentada para esse fim, pelo filho, tendo, portanto, caráter pessoal, 
embora os herdeiros do filho possam continuá-la. 
 
A investigação pode ser ajuizada, em face do pai ou da mãe ou dos dois, 
desde que observem os pressupostos legais. Portanto, existe a 
investigação de paternidade e a de maternidade. 
Pode ser contestada por qualquer pessoa que tenha interesse moral ou 
econômico (CC do art. 1.615). Ex.: a mulher do réu, seus filhos legítimos 
ou naturais reconhecidos, os parentes sucessíveis ou qualquer entidade 
obrigada ao pagamento de pensão aos herdeiros do suposto pai. 
 
A sentença que reconhece o filho, tem eficácia absoluta, erga omnes, 
vale contra todos, nos seus efeitos pessoais e patrimoniais. Ainda, a 
sentença de primeiro grau que reconhecer a paternidade deverá fixar os 
alimentos do reconhecido que deles necessite. 
 
A sentença que julgar procedente a ação de investigação, deverá ser 
averbada no registro competente (Lei n° 6.015/73 – Lei de Registros 
Públicos, artigo 29, parágrafo 1°, letra “d”; art. 109, parágrafo 4º). 
 
 
Ação de Investigação de Paternidade 
 
Permite ao filho natural (artigo 1.916, CC), 
adulterino (Lei n. 883/49) e ao incestuoso (artigo 
227, parágrafo 6°, CF), mesmo se não dissolvida a 
sociedade conjugal, obter declaração de seu 
respectivo status familiae. 
 
Mediante ação ordinária, promovida pelo filho ou 
seu representante legal, se incapaz, contra o genitor 
ou seus herdeiros ou legatários, podendo ser 
cumulada com a de petição de herança, com a de 
alimentos e com a de anulação de registro civil. 
 
Caso o investigante falecer no decorrer da lide, seus herdeiros continuarão a 
ação, porém, se morrer antes de tê-la ajuizado, na opinião de muitos faltará 
aos seus sucessores legitimatio ad causam para promovê-la. 
 
No entanto, o novo Codex civil, em seu artigo 1.606, § único, permite que, se 
iniciadaa ação pelo filho, os herdeiros poderão continuá-la, salvo se julgado 
extinto o processo. 
 
 
 
 
 
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1. Casos de propositura de ação de investigação de paternidade no 
Código Civil de 1916: 
 
 
a) Concubinato, o filho poderia demandar se provasse que ao tempo de 
sua concepção sua mãe estava em concubinato com o pretendido pai 
(para ser pressuposto de admissibilidade da ação, era preciso haver 
coincidência do concubinato com o período normal da concepção). 
 
O réu poderá se defender: 
 
• negando a existência do concubinato; 
• demonstrando que o autor não foi gerado durante sua vigência; 
• invocando a exceptio plurium concubentium, ou seja, por ocasião 
da concepção, a mãe do investigante mantinha relações sexuais 
com outros homens, sendo por este motivo incerta a paternidade; 
• provando a impossibilidade física de ser o pai do investigante, 
devido ao seu internamento em hospital, viagem ou impotência 
acidental no momento da concepção. 
 
b) Rapto da mãe pelo suposto pai, ou relação sexual coincidente com a 
data da concepção. O autor deveria provar que houve rapto ou relação 
entre sua mãe e o suposto pai por ocasião de sua concepção e que sua 
mãe não mantinha, nessa época, relações com outro homem, sendo 
desnecessária a condenação criminal do raptor, mas seria 
imprescindível a honestidade da mulher. 
 
c) Existência de escrito daquele a quem se atribuiu a paternidade, 
reconhecendo-a expressamente, desde que não fosse vago, equívoco 
ou ambíguo, podendo ser público ou particular, assumido pelo suposto 
pai ou assinado por ele, apesar de escrito por outrem. A defesa poderia 
alegar falsidade de documento. 
 
 
2. Permissão para propositura de Ação de Investigação de Paternidade 
no Código Atual: 
 
Hodiernamente, não se faz necessário provar os requisitos previstos acima 
para a propositura de ação de investigação basta haver: dúvida, indícios, 
coerência do investigante para com o investigado. 
 
Provas para a ação de investigação de paternidade: 
 
a) A posse do estado de filho - o filho deve usar o nome do investigado 
(nomem), receber tratamento como filho (tractatus) e gozar na sociedade 
do conceito de filho do suposto pai (fama). Embora constitua mera 
aparência que, por si só, não basta para comprovar a filiação, possibilita 
sua investigação. Se o autor apenas provar que desfrutava da posse do 
estado de filho, sem acrescentar outra evidência, decairá, o pedido, sendo, 
portanto, prova subsidiária. 
 
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b) Testemunhal, acolhida pelo juiz com reserva, ante o fato de se deixarem, 
as testemunhas, influenciar pela amizade. 
 
c) Exame Prosopográfico, consiste na ampliação de fotografias do 
investigante e do investigado, justapondo-se uma a outra, por cortes 
longitudinais e transversais, inserindo algumas partes de uma na outra 
(nariz, olhos, orelha, raiz do cabelo, etc.), porém, ainda que prove 
semelhança entre os dois, não autoriza afirmar o vínculo jurídico, pois 
semelhança não induz relação de parentesco. 
 
d) Exame de sangue, adequado para excluir a paternidade se o filho e o 
pretenso pai pertencerem a diverso grupo sanguíneo. Se forem do mesmo 
grupo, não se pode proclamar a filiação, mas tão somente a mera 
possibilidade da relação biológica da paternidade, devido à circunstância de 
que os tipos sangüíneos e o fato RH, embora transmissíveis 
hereditariamente, são encontrados idênticos em milhões de pessoas. 
Destarte, se o tipo de sangue do investigante e do investigado for o mesmo, 
não quer dizer que sejam parentes, pode ser mera coincidência. O exame 
hematológico é prova negativa, só serve para excluir a paternidade. 
 
e) DNA Fingerprint (impressão digital do DNA). Devido à extrema 
variabilidade de sua estrutura, a probabilidade de se encontrar, ao acaso, 
duas pessoas com a mesma Impressão Digital de DNA é de 1 (uma) em 
cada 30 bilhões. Como a população da Terra é estimada em 5 bilhões de 
pessoas (com 2,5 bilhões de homens) é virtualmente impossível que haja 
coincidência. 
 
f) Exame odontológico, para auxiliar o magistrado, sendo prova subsidiária. 
 
 
 
 
Ação de Investigação de Maternidade 
 
 
 
É promovida contra a suposta mãe, ou se já tiver falecido, contra 
seus herdeiros, pelo próprio filho, se capaz, ou por seu 
representante legal, se incapaz. 
 
É raríssima devido a parêmia “mater semper certa est”, sendo 
vedada, quando tinha por fim atribuir a prole ilegítima à mulher 
casada. 
 
Exemplo: uma jovem, quando solteira, teve um filho com seu namorado, que foi 
criado por terceiros, e mais tarde se casou com outro homem, não podia, o filho 
ilegítimo, embora natural, demandar o reconhecimento da maternidade. 
 
Pelo atual Código, também não há mais exigências quanto a “legitimatio ad 
causam”, pois se o investigante menor ou incapaz falecer antes de intentar a 
ação, terá seu represente direito de intentá-la. 
 
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Efeitos do Reconhecimento de Filho 
 
 
1. Parentesco – vincula o reconhecido com o pai ou mãe, com parentesco de 
linha reta em 1o grau. 
2. Alimentos (recíproco) – estabelece vínculo para a obrigação de alimentar, 
inclusive dos pais quando idosos para com seu filho (quando maior de 
idade). 
3. Poder Familiar – vincula o direito dos pais sobre os filhos menores, para 
efeitos de direitos e deveres, em aspectos pessoais e patrimoniais. 
4. Sucessões – cria o laço de sucessão, tanto dos filhos como dos pais, na 
ordem de vocação hereditária. 
 
 
Súmulas do STJ: 
 
 
• 277 – Julgada procedente a investigação de paternidade, os 
alimentos são devidos a partir da citação. 
 
• 309 – O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante 
é o que compreende as três prestações anteriores ao ajuizamento 
da execução e as que se vencerem no curso do processo.

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