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transtornos de personalidade

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Problema no caráter, na personalidade ou no temperamento?
R.P.L., 38 anos, sexo masculino, prefeito de uma cidade do interior de São Paulo, foi indiciado por desviar dinheiro da compra de insumos para um hospital municipal em dezembro de 2020. Mensagens no seu celular apreendido comprovaram o total descaso e a ausência de empatia com as pessoas que foram prejudicadas e com as mortes ocorridas. A promotoria se assustou com uma mensagem na qual o prefeito diz sentir prazer em estar ganhando nesse momento e não seguir as regras da sociedade. O desvio de dinheiro foi considerado irrisório frente ao seu patrimônio pessoal. R.P.L, chorando, negou tudo e alegou está sendo injustiçado, porque, na verdade, ele ama os cidadãos.
O DSM-5 defini transtorno de personalidade como um padrão persistente de experiência interna e comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do individuo, o padrão é inflexível, começa na adolescência ou no inicio da idade adulta, é estável ao longo do tempo, leva a sofrimento ou prejuízo e se manifesta em pelos menos duas das áreas: cognição, afetividade, funcionamento interpessoal ou controle de impulsos. Quando os traços de personalidade são rígidos e mal-adaptativos e produzem prejuízo funcional, ou sofrimento subjetivo, é possível diagnosticar um transtorno da personalidade.
Classificação: Os subtipos de transtornos de personalidade são classificados em grupos:
A: Esquizotípico, esquizoide e paranoide, características estranhas ou de afastamento.
B: narcisista, bordeline, antissocial e histriônico, características dramáticas, impulsivas ou erráticas.
C:Obssesivo-compulsivo, dependente e evitativo, transtornos que compartilham a característica de ansiedade e medo.
Os três grupos baseiam-se em semelhanças descritivas.
Etiologia:
-Genética, os transtornos do grupo A tem mais chance de acontecer em pessoas que tem parentes esquizofrênicos. Já os do grupo B são estão relacionados a transtornos por uso do álcool, a depressão também é comum nos antecedentes de pacientes com borderline.
-Fatores biológicos: 
Transtorno da personalidade paranoide: Caracteriza-se por suspeita e desconfiança arragaidas em relação a pessoas em geral. Costuma ser hostil, irritável e irascível, intolerantes, cônjuges patologicamente ciumentos e mal-humorados.
Epidemiologia: Prevalência de 2-4% da população, maior incidência se tiver familiares esquizofrênicos. Maior frequência em homens.
Diagnostico: Durante a entrevista psiquiátrica os pacientes podem apresentar modos formais e agir perplexos por terem que buscar ajuda psiquiátrica. Tensão muscular, incapacidade de relaxar e necessidade de vasculhar o ambiente por pistas podem ser sinais evidentes, e seus modos são com frequência sérios e sem humor. Embora algumas bases de seus argumentos possam ser falsas, sua fala é dirigida a objetivos e logica. Seu conteúdo de pensamento demonstra evidencias de projeção, preconceito.
Características clinicas: Como característica principal tem a suspeita e desconfiança excessivas em relação a outras pessoas expressas como uma tendência global de interpretar os atos dos outros como malévolos, ameaçadores, exploradores. Essa tendência começa no inicio da vida adulta e surge em diversos contextos. Esses indivíduos “esperam” ser lesados ou questionados sem qualquer justificativa, costumam questionar a lealdade ou integridade de caráter de amigos ou sócios. Costumam ser patologicamente ciumentos e sem motivo questionam a fidelilidade de seus parceiros.
Essas pessoas tem afeto restrito e parecem frias, sem emoção, orgulham-se da sua racionalidade e objetividade, mas isso não corresponde a realidade; Demonstram ausência de afeição e impressionam-se e prestam bastante atenção a poder e nível hierárquico. Expressam desdém em relação a indivíduos que percebam como fracos, doentios, debilitados ou deficientes de alguma forma. Em situações sociais, essas pessoas podem transmitir uma ideia de profissionalismo e eficiência, mas costumam gerar medo e conflito em outras pessoas.
Tratamento: Pode ser feito a psicoterapia, os terapeutas devem tratar esses pacientes de forma direta. A farmacoterapia é útil para lidar com a agitação e ansiedade do paciente, benzodiazepínicos podem ser utilizados ou antipsicoticos.
Transtorno da personalidade esquizoide: Caracterizado por um padrão vitalício de retraimento social, esses indivíduos costumam ser vistos como excêntricos, isolados ou solitários.
Diagnostico: No exame inicial, o paciente pode parecer pouco a vontade, raramente tolera contato visual, e o entrevistador pode supor que esse tipo de paciente esteja ansioso para que a entrevista termine. Seu afeto pode ser constrito, distante ou inadequadamente sério. Esses indivíduos acham difícil não levar as coisas a sério, seus esforços para parecer engraçado podem parecer adolescentes e fora de contexto. Sua fala é dirigida a objetivos, mas são propensos a fornecer respostas curtas as perguntas e evitar conversas espontâneas. Algumas vezes, podem usar figuras de linguagem incomum, como metáforas estranhas e podem ficar fascinados por objetos inanimados. Seu sensório é intacto, a memoria funciona bem, e suas interpretações de provérbios são abstratas.
Características clinicas: Esses pacientes parecem frios e indiferentes, exibem um retraimento distante e demonstram falta de envolvimento com eventos diários e com as preocupações de terceiros. Parecem caladas, distantes, isoladas e insociáveis. Não apresentam desejo de estabelecer laços afetivos. As historias de vida dessas pessoas refletem interesses solitários e sucesso em empregos solitários e não competitivos que outras pessoas acham difíceis de tolerar. Sua vida sexual pode existir apenas na fantasia, homens podem não se casar porque são incapazes de atingir intimidade, as mulheres podem concordar de forma passiva a se casar com homens agressivos que deseje o casamento. Esses indivíduos costumam manifestar uma incapacidade vitalícia de expressar diretamente a raiva, eles podem investir energias em interesses não humanos como matemática e astronomia e podem ser muito ligados a animais.
Tratamento: A psicoterapia deve ser instituída a esses paciente. Farmacoterapia com pequenas doses de antipsicoticos, antidepressivos e psicoestimulantes também pode beneficiar alguns pacientes.
Transtorno da personalidade esquizotipica: Esses pacientes exibem características estranhas ou excêntricas impressionantes, mesmo para leigos como pensamento magico, ideias de referencia, ilusões e desrealização.
Características clinicas: Esses indivíduos exibem perturbação de pensamento e comunicação. Embora não haja transtorno do pensamento totalmente manifesto, sua fala pode ser distinta ou peculiar, pode fazer sentido apenas para eles mesmo e as vezes necessita de interpretação. Podem desconhecer seus próprios sentimentos e podem ter extrema sensibilidade e consciência a respeito dos sentimentos alheios, sobretudo os negativos como raiva. Esses indivíduos podem ser supersticiosos e alegar ser dotado de superpoderes. Seu mundo interior pode estar cheio de relacionamentos imaginários vividos e temores e fantasias infantis. São indivíduos isolados e tem poucos ou nenhum amigo, pode ter concomitantemente o transtorno de boderline.
Tratamento: A terapia é fundamental, pode utilizar antipsicoticos para lidar com as ideias de referencia, ilusões e outros sintomas.
Transtorno da personalidade antissocial: Consiste na incapacidade de se adequar as regras sociais que normalmente governam diversos aspectos do comportamento adolescente e adulto de um individuo.
Diagnostico: Podem parecer calmos e confiáveis, mas estão disfarçando a tensão, hostilidade, irritabilidade e fúria. Uma entrevista de estresse, na qual o paciente é confrontado vigorosamente com incoerências pode ser necessária para revelar a patologia. Entre os exames diagnósticos devem estar exames neurológicos, visto que esses pacientes costumam demonstrar resultados de EEG anormais e leves sinais neurológicos podem ser utilizados para confirmaro diagnostico.
Características clinicas: Os indivíduos podem parecer normais e até mesmo simpáticos e lisonjeiro, contudo, suas historias revelam perturbação do funcionamento ou varias áreas da vida. Mentiras, roubos, brigas, abuso de substancias e atividades ilegais são experiências típicas desses indivíduos. Não exibem ansiedade nem depressão, suas explicações para seu comportamento antissocial o fazem parecer gratuito, mas seu conteúdo mental revela a ausência de delírios e de outros sinais de pensamento irracional. Costumam ser manipuladores e com frequência podem convencer outras pessoas a participar de esquemas para obter dinheiro fácil ou para alcançar fama e notoriedade. Esses indivíduos não costumam falar a verdade e não são confiáveis. Promiscuidade, abuso conjugal e infantil são eventos comuns em suas vidas e não exibem qualquer remorso por tais atos.
Tratamento: A farmacoterapia pode ser usada para lidar com sintomas incapacitantes como ansiedade, raiva e depressão.
Transtorno da personalidade de borderline: Os indivíduos se encontram no limiar entre neurose e psicose e tem por característica afeto, humor, comportamento, relações objetais e autoimagem extraordinariamente instáveis.
Características clinicas: Esses indivíduos quase sempre parecem estar em crise, mudanças de humor são comuns. A pessoa pode estar inclinada a discussões em um momento, deprimida no momento seguinte e mais tarde se quixar de não ter sentimentos. Pode apresentar episódios psicóticos de curta duração em vez de crises psicóticas totalmente manifestas, e seus sintomas psicóticos quase sempre são limitados, questionados e fugazes. Possuem comportamento de extrema imprevisibilidade, a natureza dolorosa da sua vida reflete em atos autodestrutíveis repetidos. Esses pacientes podem cortar os pulsos e executar outras formas de automutilação para obter ajuda dos outros, para exprimir raiva ou para se anestesiar do afeto que a consome. Se sentem dependentes e hostis, seus relacionamentos interpessoais são tumultuados, podem ser dependentes de amigos que tem grande intimidade e quando se frustam, expressam grande raiva dirigida aos amigos mais íntimos. Essas pessoas não conseguem tolerar a ideia de ficar sozinhas e preferem uma busca frenética por companhia, sem importar o quanto ela lhe seja insatisfatória
Tratamento: A farmacoterapia pode utilizar antipsicoticos para controlar a raiva e hostilidade, antidepressivos para melhorar o humor reprimido, IMAOs também podem ser utilizados para modular o comportamento.
Transtorno da personalidade histriônico: São pessoas excitáveis e emotivas e comportam-se de forma dramática, florida e extrovertida. Contudo, há uma incapacidade de manter ligações profundas e duradouras
Diagnostico: Costumam ser cooperativos e ávidos para fornecer uma historia detalhada. Gesticulações e exclamações dramáticas são comuns, eles cometem deslizes frequentes e sua linguagem é pitoresca.
Características clinicas: Essas pessoas exibem um grau elevado de comportamento em busca de atenção, tendem a exagerar seus pensamentos e sentimentos e fazem as coisas parecerem mais importantes do que realmente são. Exibem ataque de raiva, choro e acusações quando não são o centro das atenções ou não estão recebendo elogios ou aprovação. O comportamento sedutor é comum.
Transtorno da personalidade narcisista: São caracterizados por um senso aguçado de autoimportancia, ausência de empatia e sentimentos grandiosos de serem únicas. Contudo, por trás dessas características há uma autoestima frágil e vuneravel as menores criticas.
Características clinicas: Essas pessoas tem um sentimento de autoimportancia grandioso, consideram-se especiais e esperam tratamento especial. Lidam mal com criticas e podem ficar com raiva quando alguém ousa critica-las, ou podem parecer completamente indiferentes a criticas. Querem que as coisas sejam do seu jeito e com frequência tem ambição de obter fama e fortuna. Seus relacionamentos são pouco importantes e podem deixar outras pessoas furiosas com sua recusa em obedecer as regras convencionais de comportamento. A exploração interpessoal é frequente. Não conseguem demonstrar empatia e fingem simpatia apenas para atingir seus objetivos egoístas. São suscetíveis a depressão devido a frágil autoestima.
Transtorno da personalidade evitativa: Exibem sensibilidade extrema a rejeição e podem levar vidas socialmente retraídas. Embora sejam tímidos, não são associais e demonstram grande desejo por companhia, mas precisam de garantias muito forte de aceitação não-critica. Em geral, são descritas com complexo de inferioridade.
Diagnostico: A característica mais evidente do paciente é a ansiedade acerca de falar com um entrevistador. Seu comportamento tenso e nervoso parasse se expandir e retrair confirme a percepção de ser apreciado ou não pelo entrevistador 
Características clinicas: A hipersensibilidade á rejeição por outros é a característica clinica mais marcante, e o principal traço da personalidade é a timidez. Essas pessoas desejam o afeto e a segurança da companhia humana, mas justificam sua esquiva a relacionamentos por medo da rejeição. Ao conversar com alguém, eles expressam incerteza, demonstram falta de autoconfiança e podem falar de modo discreto, temem falar em publico ou fazer pedidos a outras pessoas. Tem inclinação a interpretar mal os comentários alheios como depreciativos ou ridicularizadores. Na esfera profissional, costumam assumir empregos que recebem pouca atenção, parecem ser tímidos e ansioso por agradar.
Transtorno da personalidade dependente: São pessoas que subordinam suas próprias vontades as necessidades de outros, fazem outra pessoa assumir a responsabilidade por áreas importantes de suas vidas, não tem autoconfiança e podem experimentar desconforto intenso ao ficar sozinhas por mais do que breves períodos. 
Características clinicas: Caracteriza-se por um padrão global de comportamento dependente e submisso, não conseguem tomar decisões sem excessivo aconselhamento e tranquilização dos outros. Evitam posições de responsabilidade e ficam ansiosas se precisam assumir um papel de liderança, preferem ser submissas. Buscam pessoas de quem possam depender, seus relacionamentos são distorcidos devido a sua necessidade de estar apegado a outra pessoa.
Transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva: Caracterizado por constrição emocional, organização, perseverança, teimosia e indecisão. A característica essencial é um padrão de perfeccionismo e inflexibilidade. 
Características clinicas: São obcecados por regras, regulamentos, método, limpeza, organização e desejo de alcançar a perfeição, eles insistem que as regras devem ser seguidas de forma rígida e não conseguem tolerar o que consideram infrações. São capazes de trabalhar durante muito tempo, contando que seja um trabalho com rotina e que não exija mudanças a qual possa não se adaptar. São formais, sérios e não costumam ter senso de humor, são incapazes de ceder e insistem para que os outros se submetam a suas necessidades. Anseiam por agradar quem considera “poderoso”, são indecisos e possuem poucos amigos.

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