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Terapêutica em Nefrologia · Tratamento Conservador da DRC · História natural: progressão lenta para DRC terminal (estágio 5), independente da doença de base, a partir de lesão estabelecida · Gatilho (start para progressão): perda de massa renal > 50%, ou perda menor, mas com outros fatores presentes (HAS, obesidade, hiperlipidemia) · Adaptação: hiperfiltração dos néfrons remanescentes → aumento do fluxo plasmático glomerular e da diferença de pressão hidráulica transglomerular · Teoria do néfron intacto: redução do RFG em alguns néfrons e elevação compensatória em outros (intactos) → elevação da filtração por néfron → essa elevação é a responsável pela lesão a longo prazo (o próprio mecanismo de adaptação para manter a homeostase induz lesão e glomeruloesclerose) · Mecanismos de adaptação: trade-off ou “preço a pagar” · O preço a pagar para manutenção da homeostase na DRC é a própria perda da função renal · Perda de néfrons → redução do leito capilar glomerular total → hiperperfusão → hipertrofia dos glomérulos remanescentes → hipertensão e lesão glomerular → proteinúria · A proteinúria induz toxicidade mesangial e tubular → glomeruloesclerose e fibrose túbulo-intersticial · A magnitude da proteinúria → principal fator preditor de progressão · A partir do gatilho de perda do nº de néfrons (> 50%), entra numa evolução inexorável; outros fatores associados, como a própria doença, idade, outras drogas, etc, podem ajudar na velocidade de progressão · Objetivo do tratamento conservador da DRC · Proteinúria < 500 mg/dia · Fazer com que a redução do RFG não seja maior que 1 mL/min/ano (relativo à idade) – que é o que habitualmente o ser humano perde a partir da 5ª década de vida (ou seja, tentar reduzir ao máximo a progressão adicional que a DRC promove) · Medidas · Dieta, evitar drogas nefrotóxicas, controle da HAS e do DM · Controle da proteinúria, hiperlipidemia, retenção de fósforo, acidose metabólica, anemia, hiperuricemia/obesidade/tabagismo · Dieta · Restrição proteica → evidências experimentais: · Redução da pressão intraglomerular · Menor expressão de citocinas e fatores de crescimento · Menor produção de matriz · Proteção contra glomeruloesclerose · A restrição proteica possui evidências clínicas de efeito em nefropatia diabética e outras glomerulopatias · Estágios 1 a 3: 0,75 g/kg/dia · Estágio 4 sem sinais de desnutrição: 0,6 g/kg/dia · Cuidado com desnutrição · Restrição de sódio, potássio e fósforo (não diretamente relacionados à redução da progressão da DRC por si, mas dos riscos associados à DRC) · Evitar drogas nefrotóxicas · Aminoglicosídeos (correção de doses dos ATB) · AINEs (substituir por outras drogas – analgésicos, corticoides) · Drogas antirretrovirais · Radiocontrastes (preferir os radiocontrastes iso-osmolares, que são menos nefrotóxicos, aos hiperosmolares) · Contraste para-magnético (RM): gadolíneo · Apesar de ser bem menos nefrotóxico que os radiocontrastes (só tem cerca de 10% da toxicidade dos radiocontrastes), apresentam risco de fibrose sistêmica nefrogênica, sobretudo se RFG < 30 mL/min · RFG < 30 – proíbe o uso de contraste por gadolíneo · Controle da pressão arterial · Controle da PAS → melhor correlação com retardo da progressão-redução da pressão intraglomerular · Objetivo: PA sentado < 130 x 80 mmHg · Uso em associações sequenciais · Contudo, precisa ser seletivo, saber o que usar · Inibidores da ECA ou bloqueadores dos receptores de angiotensina II → reduzem resistência da arteríola eferente induzida por angiotensina II · Bloqueadores de canais de cálcio não-dihidropiridínicos (verapamil, diltiazem) · Bloqueadores de canais de cálcio dihidropiridínicos (amlodipina) · Simpaticolíticos de ação central (clonidina) · Alfa-bloqueadores · Vasodilatadores · Beta-bloqueadores (em situações especiais) OBS: usar sempre o menor número de drogas possível, tendo o melhor efeito possível. · Controle do DM · Objetivo: HbA1c < 7% · Incluir inibidores do SGLT-2 (cotransportador sódio-glicose 2, a nível de túbulo proximal) · Deve ser associado aos iECA/BRA e também reduzem proteinúria · Induz natriurese tubular proximal · Maior aporte de sódio à mácula densa · Ativação do feedback túbulo-glomerular · Isso gera vasoconstrição da arteríola aferente · Assim, há redução da pressão intraglomerular e da proteinúria · Reduz progressão da disfunção renal OBS: quando esse efeito é aliado ao efeito de vasodilatação da arteríola eferente dos iECA, o efeito de redução da proteinúria é amplificado. · Controle da Proteinúria: iSGLT2 + iECA ou BRA · A proteinúria gera: · Toxicidade mesangial · Sobrecarga tubular · Toxicidade por ferro/transferrina, ácidos graxos ligados à albumina · Indução de moléculas · As recomendações abaixo não são tão fortes de evidência científica feito as acima (nível 1), mas há sugestões de que melhoram a progressão. · Controle de lípides · Hiperlipemia: estimula proliferação celular mesangial · Maior expressão mesangial de receptor de LDL em doença glomerular crônica · A indicação do tratamento com estatinas (inibidores da HMG-CoA) ainda não é totalmente recomendada → parecem inibir esses efeitos, independentemente dos lípides séricos · Controle da hiperfosfatemia · Hiperfosfatemia e hipocalcemia, elevação do PTH e deficiência de vitamina D · Precipitação de fosfato de cálcio no interstício renal → reação inflamatória com fibrose intersticial e atrofia tubular · Tratamento: restrição de fósforo e uso de quelantes orais (carbonato de cálcio, sevelamer) → isso pode servir como controle de progressão da própria DRC · Controle da acidose metabólica · Uso de bicarbonato de sódio · Além de melhorar a condição clínica, parece que pode reduzir a velocidade de progressão da DRC · Correção da anemia: comprovadamente melhora da DRC · Anemia é um fator de risco para progressão e evolução CV adversa · Objetivo: Hb de 11-12 g/dL com eritropoietina recombinante · Controle da hiperuricemia: controverso, ainda não se sabe se é interessante tratar a hiperuricemia se não há manifestação associada, com intuito de apenas · Alopurinol · Controle da obesidade · Redução, mesmo moderada, reduz proteinúria · Evitar tabagismo Controle de edemas relacionados a doenças renais · Edema é o acúmulo de água e sódio no espaço intersticial, evidente a partir de 3-4L de excesso · Expansão do volume extracelular → aumento da água e do sódio corporal totais · Ingesta de sal e água → perdas renais e extrarrenais · Doenças Renais · Síndrome nefrítica/lesão renal aguda/doença renal crônica · Redução do RFG · Retenção primária de sódio · Síndrome nefrótica: existem 2 teorias para explicar o edema, são mecanismos que se completam de acordo com o estado de volume intravascular que o paciente se apresenta · Desequilíbrio das forças de Starling → “underfilling” · Retenção primária de sódio → “overfilling” → pacientes com volemia normal/aumentada; · Pode até ter underfilling por trás, pela redução da pressão oncótica, mas é possível que haja retenção primária de sódio, causando normovolemia Teoria do underfilling Teoria do overfilling · Medidas de tratamento do edema · Restrição de sódio: 2-3 g/dia · Diuréticos · Reduzem reabsorção tubular de sódio: osmóticos (manitol), inibidores da anidrase carbônica (acetazolamida), de alça (furosemida), tiazídicos (hidroclorotiazida), poupadores de potássio (amilorida) · Agem no lado luminal do epitélio tubular, precisam estar em concentração adequada para essa ação · Antagonistas da aldosterona: espironolactona · Em especial, a furosemida, ligados a proteínas (Na Snef) · Hipoalbuminemia: necessidade de doses mais elevadas de furosemida · Edema intestinal dificulta absorção de administração oral (algumas vezes, precisa iniciar com furosemida endovenoso porque seria pouco absorvido pelo intestino se dado de forma oral) *Não são usados para tratamento de doença renal. · Pacientes overfilled: doses altas, diuréticos de alça · Pacientes underfilled: uso de diurético de alça de forma menos agressiva ou de forma mais lenta e progressiva para atingiressas doses de furosemida – uso sob monitorização mais rigorosa (peso, PA, volume de diurese), para não fazer mobilização muito intensa e rápida, devido ao risco de hipovolemia e hipotensão · Iniciar sempre com diurético de alça: furosemida · Começar com doses elevadas e ir aumentando gradativamente de acordo com a resposta, preferir múltiplas administrações (devido à meia-vida curta; fazer 3-4x ao dia), iniciar com oral e se necessário converter para intravenoso; concomitante, fazer associado à infusão de albumina (sem evidência – visava teoricamente ligação da furosemida à albumina para que tivesse maior aporte da droga ao túbulo → estratégia que caiu em desuso) · Se não responder (resistência), associar tiazídico (hidroclorotiazida), poupador de potássio (amilorida), antagonista da aldosterona · Associação de forma gradativa, tendo parâmetro clínico para avaliar a resposta HAS primária e secundária · A abordagem inicialmente sempre deve ser de tratamento não medicamentoso · Tratamento não medicamentoso · Evitar o tabagismo · Acelera o tromboembolismo e eleva temporariamente a PA · Se o indivíduo não consegue parar de fumar, existem opções terapêuticas: vareniclina (agonista parcial do receptor nicotínico da acetilcolina), bupropiona (antidepressivo), nicotina (goma de mascar, pastilhas, adesivos) · Padrão alimentar · Padrões saudáveis (DASH: dietary approaches to stop hypertension), dieta do mediterrâneo (ricas em frutas, hortaliças, cereais, redução de gorduras, açúcar, carnes vermelhas → associados à redução da PA) · Restrição de sódio · Até 2g de sódio/dia · Existe efeito hipotensor na redução da ingesta de sódio · Perda de peso: fundamental · Redução da PA, mesmo sem alcançar o peso desejado (IMC < 25 + CC < 90 em homens e < 80 em mulheres → não se pegar só com o IMC) · Evitar consumo de álcool · Consumo abusivo → maior prevalência de hipertensão · Atividade física e exercício físico · Prática regular reduz incidência de hipertensão · Benefícios com exercícios físicos estruturados: treinamento aeróbico + resistido · Controle do estresse, espiritualidade, religiosidade · Tratamento medicamentoso · Objetivo: reduzir desfechos CV associados à HÁ · Principais classes: diuréticos, bloqueadores dos canais de cálcio, inibidores da ECA, bloqueadores dos receptores de angiot. II, beta-bloqueadores → redução da PA e diminuição de desfechos CV · Outras classes (não tem estudo associando-os a melhor desfecho CV, mas são necessárias e importantes na montagem de um esquema objetivando esse desfecho): alfa-bloqueadores, simpaticolíticos de ação central, vasodilatadores diretos · Esquemas · Monoterapia com DIUR/BCC/IECA/BRA/BB*, indicações: · HAS estágio 1 de risco baixo · Pré-HA com risco CV alto · Muito idosos e/ou frágeis *Em condições específicas de HAS (pós-IAM ou angina, IC com FE reduzida, mulheres com potencial de engravidar) · Combinação de drogas: preferencial, porque pode-se atuar em diferentes mecanismos de ação com doses menores; pode já começar com 2 fármacos · HAS estágio 1 de risco moderado e alto · HAS estágios 2 e 3 A única combinação proibida é a IECA+BRA. Hipertensão na DRC · Recomendação: PA < 130 x 80 (seja diabético ou não). Metas mais estreitas podem ser almejadas em casos selecionados, sob estrita vigilância e após compartilhamento de riscos com o paciente · IECA ou BRA são indicados para HA com ou sem proteinúria, mas sendo proscrita sua associação · Diuréticos tiazídicos, diuréticos de alça (de alça nos estágios mais avançados, G4 e G5) e BCC são eficazes especialmente em associação com BCC ou BRA. Lesão Renal Aguda · Medidas Clínicas · Manipulação inicial 1. Definição da etiologia 2. Classificação da severidade 3. Avaliação de riscos e complicações · Considerar urgência se: estágio 1 de etiologia indefinida ou comorbidades associadas; ou estágios 2 e 3 · Na prática, LRA é urgência no sentido de manipulação inicial, independendo do estado · Definição de diálise de urgência · Edema pulmonar · Hipercalemia > 6,5 mEq/L ou hipercalemia associada a sinais ou sintomas (fraqueza muscular, distúrbios de condução cardíaca) · Hipercalemia > 5,5 mEq/L com risco de evolução (rabdomiólise, sangramento digestivo) · Sinais de uremia: pericardite, rebaixamento de nível de consciência não esclarecido · Acidose metabólica severa (pH < 7,1) e hipervolemia · Medidas clínicas pré-hemodiálise · Hipervolemia com edema pulmonar, se oligúria e hemodinamicamente estável → furosemida 80-200 mg IV (atentar que o uso de furosemida não substitui a diálise, isso é uma medida clínica pré-diálise, e não substituição) · Hipercalemia → infusão de insulina com glicose endovenosa; gluconato de cálcio para inibir a hiper-reatividade do miocárdio; uso de resinas de troca intestinal (via oral ou através de enemas de retenção) · Manipulação subsequente · Identificação da etiologia · Tratamento de causas reversíveis (ex: hipotensão, depleção de volume, obstrução) · Evitar insultos associados: AINEs, IECAs, BRAs, ajustar dose/suspender drogas nefrotóxicas, ajustar doses de drogas de excreção renal ou substituí-las, hipotensão, radiocontrastes · IECAs e BRAs reduzem pressão da arteríola eferente; se paciente hipotenso, precisa suspender anti-hipertensivos, porque ajudam a piorar a função renal nessa situação · O efeito hemodinâmico de IECAs e BRAs na situação de LRA por hipovolemia é deletério (ao contrário do hipervolêmico na DRC, que é benéfico) · Avaliação e correção da volemia · O ideal é fazer a reposição de fluidos endovenosos → melhorar DC e oxigenação tecidual, monitorizar PAM, pode prevenir progressão para necrose tubular aguda · Preferir soluções cristaloides (evitar soluções coloides; as cristaloides são melhores, mais efetivas, de menos complicações e acesso mais rápido) · Avaliar resposta para definir quanto será dado de volume; se LRA intrínseca já estabelecida, precisa trabalhar com o controle da hipervolemia (pode ser induzida caso se trate a hipovolemia mais do que o necessário) · Avaliação e correção de distúrbios acidobásicos · Adequação nutricional · Monitorização e tratamento de sangramentos: LRA gera tendência à disfunção plaquetária e sangramentos Litíase urinária · Crise aguda · Hidratação · Anti-eméticos · Anti-espasmódicos · AINEs · Morfina e seus derivados · Medidas gerais · Aumento da ingesta hídrica (30 mL/kg de peso por dia) · Estímulo à atividade física · Orientação dietética de acordo com o distúrbio identificado · Adequar ingesta de sal e de proteína animal · Evitar alimentos ricos em oxalato (espinafre, beterraba, cacau, chás, suplementos de vitamina C) · Estimular consumo de alimentos ricos em potássio e frutas cítricas · Drogas · Tiazídicos: indicados na hipercalciúria · Inibidor da xantina-oxidase (alopurinol): indicado na hiperuricosúria · Citrato de potássio: hipocitratúria, hiperuricosúria, ATR, hipercalciúria · Drogas específicas · Hiperoxalúria: piridoxina → coenzima da AGT → maior conversão do glioxilato para glicina que para oxalato · Cistinúria: D-penicilamina/tiopronina → criam complexos solúveis com a cistina · Estruvita: ácido aceto-hidroxâmico → inibidor da urease · O tratamento definitivo consiste na retirada do cálculo, que está contaminado com a bactéria, mas pode-se lançar mão desse fármaco como medida provisória
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