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Aula 4 - Afastamento do convivio familiar e servicos de acolhimento

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1 
C 
 
URSO M
 
ARCO LEGAL 
DA PRIMEIRA INFÂNCIA 
Trilha Medidas Protetivas
Aula 4: O afastamento do convívio familiar e os 
cuidados às crianças na primeira infância em
serviços de acolhimento
2 
Aula 4: O afastamento do convívio familiar e os cuidados 
às crianças na primeira infância em serviços de 
acolhimento1 
Nesta aula você poderá conhecer melhor as especificidades do atendimento às 
crianças na primeira infância em serviços de acolhimento e entender as consequências do 
afastamento do convívio familiar e da institucionalização: Em que medida a institucionalização 
afeta o desenvolvimento das crianças e quais cuidados são necessários para a que a medida de 
acolhimento seja de fato reparadora e não revitimizadora? 
Como vimos na Trilha Marco Legal, Ciência e Políticas Públicas, a convivência familiar e 
comunitária é um direito fundamental da criança e do adolescente, sendo amplamente 
reconhecida a importância dos vínculos afetivos. Os avanços científicos também constituem a 
base dos dispositivos do ECA sobre a medida protetiva de acolhimento prevista no Art. 101 
(Lei no 8.069/1990), incluindo: o caráter excepcional e provisório da medida e da priorização, 
nestes casos, do acolhimento familiar (Lei no 8.069/1990, art. 34). 
Os serviços de acolhimento fazem parte do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), 
coordenado nacionalmente pela Secretaria Nacional de Assistência Social. No âmbito dos 
Estados, Distrito Federal e Municípios, a execução destes serviços é coordenada pelo órgão 
gestor da Assistência Social - Secretarias de Assistência Social ou correlatas. Estes serviços 
podem ser público-estatais ou público não-estatais, prestados por Organizações da Sociedade 
Civil (OSC). 
1Elaborado por Juliana M. Fernandes Pereira, Secretaria Nacional de Assistência Social, Secretaria 
Especial do Desenvolvimento Social, Ministério da Cidadania. 
Contribuições: Sylvia Nabinger, Doutora em Direito de Família, Universitè de Lyon III e Claudia Vidigal, 
Psicóloga, Representante da Fundação Bernard van Leer no Brasil. 
 
 
3 
 
 
Figura 1: Quadro síntese com descrição dos Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes, públicos e 
parâmetros para recursos humanos (Fonte: SNAS/SEDS/Ministério da Cidadania). 
 
As vivências que levam à aplicação da medida protetiva de acolhimento representam 
intenso sofrimento psíquico, sobretudo quando estes eventos ocorrem nos primeiros anos 
de vida. Assim, quando a medida for necessária, é fundamental que a criança possa contar 
com cuidados nos serviços de acolhimento que, além de suas necessidades básicas, 
proporcionem a construção de vínculos afetivos seguros e significativos com os cuidadores 
diretos e experiências favorecedoras de seu desenvolvimento. Além disso, é importante que 
possam conviver em comunidade e construir vínculos comunitários significativos e o 
sentimento de pertencimento. 
Diversas pesquisas já mostraram que o ambiente familiar saudável, com vínculos 
afetivos estáveis e seguros, é o melhor lugar para o desenvolvimento da criança e do 
adolescente. No entanto, muitas vezes o ambiente familiar representa risco, ensejando a 
aplicação da medida protetiva de acolhimento. Por outro lado, as pesquisas também 
evidenciaram que os cuidados massificados em instituições totais não são capazes de atender 
às necessidades emocionais e de desenvolvimento, sobretudo nos primeiros anos de vida. Os 
abrigos institucionais vêm passando por um processo de transformação importante nas 
últimas décadas. Não falamos mais de instituições totais, mas sim de grandes grupos, a maioria 
dos abrigos consegue atender grupos de aproximadamente 20 crianças e adolescentes, 
visando se adequar às Orientações Técnicas para Serviços de Acolhimento (2009). Contudo, 
muitas práticas ainda seguem a lógica da organização institucional, para viabilizar o cotidiano, 
dificultando o cuidado individualizado, afetivo e singular, apesar dos avanços e esforços nesse 
sentido. 
 
 
4 
 
4.1. Efeitos da institucionalização 
No contexto da Segunda Guerra Mundial diversos estudos mostraram a importância 
dos vínculos afetivos nos primeiros anos de vida e os possíveis impactos ao desenvolvimento, 
em decorrência da institucionalização prolongada marcada por cuidados massificados e 
privações afetivas. 
O estudo “Órfãos da Romênia”, realizado por Charles Nelson, Charles Zeanah e Natan 
Fox, a partir de 2000, corroborou o que já havia sido apontado no século XX por autores como 
Bowlby, Winnicott e Spitz. O estudo consistiu em uma pesquisa longitudinal com 136 crianças 
entre 6 meses e 2,5 anos, sem problemas neurológicos ou genéticos, acolhidas em instituições 
na Romênia nos primeiros anos de vida. Metade dessas crianças foi transferida para cuidados 
em famílias acolhedoras que foram preparadas e acompanhadas. A pesquisa contou, ainda, 
com um grupo controle de 72 crianças que viviam com suas famílias e não passaram pela 
experiência da institucionalização. 
Por meio do estudo, os pesquisadores acompanharam o desenvolvimento das crianças 
e constataram que o atendimento em instituições superlotadas e com pouco estímulo físico 
e/ou social pode impactar o desenvolvimento, com efeitos de longo prazo, em nível 
emocional, cognitivo, da linguagem, do crescimento físico, nas condições para lidar com o 
estresse, entre outros. Especialmente nos primeiros 2 anos de vida, que identificaram ser um 
período crítico do desenvolvimento humano. 
Por outro lado, a retomada do convívio em ambiente familiar favorável, nessa fase – e 
o quanto antes - pode contribuir para a preservação do desenvolvimento, conforme 
constatado a partir do acompanhamento do desenvolvimento das crianças que foram 
transferidas para famílias acolhedoras (GERAÇÃO AMANHÃ, 2019). 
 
VÍDEO 1 
Pílula do documentário: “O Começo da Vida” sobre o estudo Órfãos da Romênia. Disponível 
em: https://www.youtube.com/watch?v=QmKggL2oJeo 
PARA SABER MAIS 
 Caso deseje mais informações s este estudo, indicamos o site: 
http://www.bucharestearlyinterventionproject.org/. 
 
https://www.youtube.com/watch?v=QmKggL2oJeo
 
 
5 
 
4.2. Proteção ao Desenvolvimento Infantil durante o Acolhimento 
Quando a medida protetiva de acolhimento é necessária para assegurar proteção, as 
vinculações positivas com cuidadores diretos podem funcionar como elementos de promoção 
do desenvolvimento das crianças e adolescentes, até que seja possível a retomada da 
convivência familiar, por meio da reintegração ao convívio com a família de origem ou, na sua 
impossibilidade, por meio da adoção. Para as crianças na primeira infância, nestas situações, o 
atendimento em Serviços de Acolhimento em Famílias Acolhedoras pode ser particularmente 
benéfico à proteção a seu desenvolvimento integral. 
A seguir serão abordados alguns aspectos importantes a serem observados na 
organização e oferta dos serviços de acolhimento (institucional e familiar) para a proteção ao 
desenvolvimento das crianças na primeira infância e a seus direitos, como o direito de brincar 
e pode crescer e se desenvolver em uma família. Tais aspectos devem orientar a elaboração do 
Plano Individual de Atendimento (PIA) de cada criança. 
O PIA deve prever, necessariamente, ações que possam ser desenvolvidas pelo próprio 
serviço de acolhimento- por meio da atuação da equipe técnica, dos educadores/cuidadores e 
das famílias acolhedoras, dos demais componentes da rede socioassistencial e das demais 
políticas públicas e, ainda, pelas equipes interprofissionais da Justiça da Infância e da 
Juventude e de outros órgãos do Sistema de Justiça. 
 
 
 
6 
 
4.2.1. Oferta de cuidados de qualidade e proteção ao desenvolvimento 
integral das crianças na primeira infância durante o período de 
acolhimento2 
 
As crianças na primeira infância podem ser encaminhadas a serviços de acolhimento 
por razões diversas, como a entrega voluntária pela mãe para adoção (até quese formalize o 
consentimento da guarda por habilitados para adotar) ou pelo afastamento do convívio 
familiar mediante a aplicação da medida protetiva de acolhimento frente à ameaça ou violação 
de direitos. 
Um papel fundamental dos serviços de acolhimento é assegurar cuidados 
personalizados e de qualidade que possam ser responsivos às demandas das crianças na 
primeira infância e proporcionar-lhes novas experiências de vinculação seguras e significativas, 
oportunizando um ambiente favorável para o desenvolvimento integral durante o período de 
acolhimento. 
Art. 31. O art. 92 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 , passa a vigorar 
acrescido do seguinte § 7º : 
“Art. 92. 
........................................................................................................................... 
§ 7º Quando se tratar de criança de 0 (zero) a 3 (três) anos em acolhimento 
institucional, dar-se-á especial atenção à atuação de educadores de 
referência estáveis e qualitativamente significativos, às rotinas específicas e 
ao atendimento das necessidades básicas, incluindo as de afeto como 
prioritárias.” (NR) (Lei nº 13.257/2016) 
 
Quando o acolhimento é necessário, deve-se buscar preservar e fortalecer os vínculos 
com a família de origem e os vínculos comunitários preexistentes. Os serviços devem 
desenvolver um trabalho em rede, envolvendo o Centro de Referência Especializado de 
Assistência Social (CREAS), a equipe interprofissional do Sistema de Justiça e outros atores 
relevantes da rede, de modo a viabilizar a reintegração familiar segura, junto a familiares com 
vínculos afetivos. Na impossibilidade da reintegração ao convívio com a família de origem com 
vínculos, a criança deve ser encaminhada para adoção. 
O trabalho com o acompanhamento da situação familiar é imprescindível para que a 
medida protetiva de acolhimento não se prolongue para além do necessário. Em todo este 
 
2 Elaborado por Juliana M. Fernandes Pereira, Secretaria Nacional de Assistência Social, Secretaria 
Especial do Desenvolvimento Social, Ministério da Cidadania. Texto extraído da publicação Orientações 
Técnicas para Elaboração do Plano Individual de Atendimento (PIA) de Crianças e Adolescentes em 
Serviços de Acolhimento (BRASIL, 2016), com adaptações para a abordagem do acolhimento às crianças 
na primeira infância. 
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm#art92%C2%A77
 
 
7 
percurso, os cuidados à criança e o acompanhamento de sua situação familiar deve ser 
orientado pelo Plano Individual de Atendimento (PIA). 
A oferta de cuidados de qualidade no serviço de acolhimento e o trabalho efetivo com 
o acompanhamento de sua situação familiar para subsidiar a tomada de decisão pela 
autoridade judiciária, exigem, essencialmente, articulações em rede, uma vez que esta 
responsabilidade extrapola a função do serviço de acolhimento e da própria política de 
Assistência Social. Por isso, devem constar do PIA os compromissos firmados com a rede e 
ancorados, sempre que possível, em fluxos, acordos e outras estratégias definidas localmente 
para assegurar a intersetorialidade no atendimento às necessidades e aos direitos de crianças 
e adolescentes em serviços de acolhimento. 
As especificidades da primeira infância e a singularidade de cada criança 
 
É importante que a equipe técnica, os demais profissionais do serviço de acolhimento 
e as famílias acolhedoras tenham conhecimento sobre o desenvolvimento na primeira 
infância: demandas de cuidados, apoio e estímulos, desafios e aquisições próprias a esta 
etapa, etc. Este conhecimento contribui para uma compreensão sensível caso a caso e para a 
provisão de cuidados personalizados e de qualidade durante o acolhimento. 
Neste sentido, os educadores/cuidadores e as famílias acolhedoras precisam ser 
preparados para lidar com o histórico de cada criança e ter acesso às informações que sejam 
relevantes para proporcionar uma compreensão mais sensível que permita um melhor manejo 
no cuidado cotidiano. Estes conhecimentos podem favorecer interações positivas no contexto 
do acolhimento entre pares e entre acolhidos e cuidadores. 
No caso de crianças com necessidades específicas, como deficiência, questões de 
saúde e outras, é importante que o serviço de acolhimento possa contar com o suporte da 
rede para o atendimento, com orientações sobre cuidados e modos de interação específicos 
no cotidiano do acolhimento. 
O olhar para as singularidades da primeira infância nos serviços de acolhimento deve 
contemplar outras especificidades, ainda, como adolescentes grávidas ou com filhos 
pequenos, em serviços de acolhimento, grupo de irmãos e pertencimento a povos e 
comunidades tradicionais. Neste último caso, antropólogos e representantes de povos e 
comunidades tradicionais podem apoiar a compreensão das especificidades e a oferta de 
atendimento culturalmente adequado. 
 
 
8 
O PIA deve conter ações voltadas ao apoio da adolescente gestante e mãe para cuidar 
e proteger o seu filho por meio de atenções no serviço e fora dele. Nos termos do Art. 19 do 
ECA, §5º e §6º, será garantida a convivência integral da criança com a mãe adolescente que 
estiver em acolhimento institucional, devendo esta última contar com assistência de equipe 
multidisciplinar, salvo em situações em que a manutenção do convívio seja prejudicial à 
proteção e ao desenvolvimento do filho. No caso dos adolescentes pais, devem ser incluídas 
no PIA ações com o objetivo de promover a paternidade responsável e o contato contínuo com 
a criança. 
 
Infraestrutura e organização do serviço de acolhimento 
No caso de crianças na primeira infância, é muito importante que tenham um espaço 
para brincar e que os brinquedos estejam acessíveis a seu alcance. No caso dos bebês, deve-se 
evitar que fiquem em berços ou carrinhos sozinhos, sem nenhum estímulo e com 
possibilidades limitadas de movimentarem-se. A organização de espaços com tapetes e 
brinquedos acessíveis pode estimular o brincar livre e os movimentos espontâneos. 
Na organização do ambiente, tanto no acolhimento institucional quanto no familiar, 
deve-se atentar, ainda, para: a segurança e a adoção de medidas de prevenção de acidentes 
domésticos, o quantitativo de acolhidos por quarto, a acessibilidade, a disponibilização de 
espaços para atividades pedagógicas, a guarda de materiais de uso pessoal e espaços 
individualizados para os pertences próprios. 
Atitude receptiva e acolhedora no momento da chegada da criança 
Deve-se dar especial atenção ao momento de chegada da criança ao serviço, esta 
acolhida que deve ser realizada de forma respeitosa, acolhedora e afetuosa. O momento do 
afastamento do convívio familiar e da chegada no serviço de acolhimento pode ser 
particularmente doloroso para as crianças. Muitas podem desconhecer ou não compreender o 
motivo pelo qual foram afastadas do convívio familiar, o que pode desencadear reações 
emocionais e levá-las a interpretar o acolhimento como uma espécie de punição (BRASIL, 
2009). 
É importante que as crianças na primeira infância, inclusive os bebês, possam ter 
acesso a informações sobre o que se passou e porquê foram afastadas da família. Os bebês, 
embora não verbalizem, possuem percepções sobre a situação e podem ficar particularmente 
 
 
9 
angustiados se ninguém lhes explicar o que aconteceu. Estas conversas devem ser conduzidas 
de modo adequado ao estágio de desenvolvimento da criança, por pessoas preparadas para 
esta abordagem, para que sejam de fato benéficas à criança. 
Nos momentos iniciais no serviço de acolhimento, pode-se, gradativamente, 
apresentar à criança– inclusive aos bebês - o espaço e as pessoas com quem conviverá e 
explicar as regras de convívio adotadas, com meios adequados a seu estágio de 
desenvolvimento. 
Atendimento personalizado e individualizado 
O respeito à singularidade e o fortalecimentoda identidade da criança podem ser 
favorecidos por atividades como a comemoração do seu aniversário, o contar com objetos de 
uso pessoal e de espaços para guardar seus pertences, e a realização de registros fotográficos, 
com a montagem de um livro com sua história de vida. Este livro pode conter informações, 
lembranças e fotografias, e deve ser periodicamente atualizado. Este tipo de registro é 
particularmente importante para as crianças na primeira infância que, em razão das 
características próprias a esta fase do desenvolvimento, não guardarão muitas memórias deste 
período. Esta atividade deve ser realizada com o apoio dos educadores/cuidadores, da família 
acolhedora ou de outra pessoa preparada e autorizada para tanto, assegurando-se que a 
criança participe do processo. 
O cérebro de um bebê realiza mais de um milhão de sinapses por segundo. Essa 
capacidade de desenvolvimento de conexões nunca mais irá ocorrer com tamanha potência, 
em momento nenhum da vida. Trata-se de uma janela de oportunidade em que as 
experiências têm um papel fundamental para que cada um atinja seu pleno potencial. 
Conversar com a criança, brincar com ela e criar oportunidades para que brinque sozinha ou 
com outras crianças além de estar conectado com seus interesses buscando ser responsivo, faz 
toda a diferença na promoção do desenvolvimento integral. 
 
Vínculos no serviço de acolhimento 
 É importante planejar ações que possam favorecer a construção de uma relação 
afetiva e de confiança entre a criança, a família acolhedora ou os educadores/cuidadores e 
entre pares. 
No caso de crianças na primeira infância, os momentos de cuidados – troca de fraldas, 
banho, alimentação e sono – são privilegiados para a interação com o cuidador direto e a 
 
 
10 
construção de vínculos afetivos seguros e de confiança. Estes cuidados devem ser prestados 
com delicadeza, sem movimentos abruptos. É importante que os cuidadores diretos olhem as 
crianças nos olhos, conversem com elas e expliquem o que vai ser feito, sobretudo para os 
bebês ou crianças recém-chegadas ao acolhimento, para que possam se sentir mais seguras. 
As interações e os vínculos afetivos construídos nos serviços de acolhimento podem favorecer 
a construção do senso de identidade, pela criança, e de um sentimento de pertencimento. 
 
O educador/cuidador e a família acolhedora devem ter clareza 
quanto a seu papel de vincular-se afetivamente às 
crianças/adolescentes atendidos e contribuir para a construção de 
um ambiente familiar, evitando, porém, “se apossar” da criança ou 
do adolescente e competir ou desvalorizar a família e origem ou 
substituta. O serviço de acolhimento, não deve ter a pretensão de 
ocupar o lugar da família da criança ou adolescente, mas contribuir 
para o fortalecimento dos vínculos familiares, favorecendo o 
processo de reintegração familiar ou o encaminhamento para família 
substituta, quando for o caso (BRASIL, 2009, p. 53). 
 
Porque priorizar o Acolhimento Familiar 
Quando a criança é acolhida por uma família acolhedora, assegura-se a continuidade 
do desenvolvimento em ambiente familiar, com vínculos mais estáveis, ainda que em uma 
família transitória. Além disso, a criança tem a oportunidade de participar da vida comunitária, 
junto à família acolhedora. 
No caso dos serviços de acolhimento institucional, o modelo de casas-lares é mais 
semelhante ao ambiente familiar. Todavia, nos abrigos institucionais, o regime de 
revezamento por turnos dos educadores/cuidadores e a rotatividade destes profissionais 
dificulta o estabelecimento de vínculos afetivos seguros. Assim, quando o acolhimento de 
crianças na primeira infância for necessário, deve-se priorizar seu encaminhamento para 
famílias acolhedoras. 
 
Art.91, § 7º - Quando se tratar de criança de 0 (zero) a 3 (três) anos 
em acolhimento institucional, dar-se-á especial atenção à atuação de 
educadores de referência estáveis e qualitativamente significativos, 
às rotinas específicas e ao atendimento das necessidades básicas, 
incluindo as de afeto como prioritárias. (Lei 8.069/1990. Incluído pela 
Lei nº 13.257/2016 – Marco Legal da Primeira Infância) 
 
O brincar e a autonomia 
O brincar é um direito e uma atividade fundamental na primeira infância que contribui 
para a expressão de sentimentos e para o desenvolvimento da autonomia, da aprendizagem, 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13257.htm#art31
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13257.htm#art31
 
 
11 
da criatividade, da linguagem e da socialização; etc. As crianças devem ter oportunidades para 
brincar, com brinquedos e brincadeiras apropriadas à cada idade, de movimentar-se e 
interagir, nestes momentos, com os cuidadores, com outras crianças e com o ambiente. É 
importante que possam também brincar de forma livre e autônoma, explorando os brinquedos 
e o ambiente com curiosidade, à sua maneira; ouvir leituras de livros e “brincar” de ler; ouvir e 
cantar músicas infantis; e brincar de faz-de-conta, usando a imaginação; e ter contato com a 
natureza. 
Nos primeiros anos de vida a autonomia pode ser estimulada de forma gradativa por 
meio do brincar, do autocuidado - para se alimentar e se vestir de forma autônoma - do 
incentivo para organizar gradativamente seus objetos pessoais e guardar seus brinquedos; da 
realização das atividades escolares; e das escolhas e tomada de decisões, como, por exemplo, 
escolher entre uma brincadeira e outra. Para incentivar a autonomia deve-se buscar aquisições 
gradativas – das mais simples às mais complexas - sempre observando o que é apropriado ao 
estágio de desenvolvimento de cada criança. 
As crianças devem ser incentivadas a participar das decisões coletivas no serviço de 
acolhimento, como melhorias na organização do ambiente ou construção das regras de 
convívio, o que pode ser viabilizado por meio de “assembleias” ou de outras atividades lúdicas. 
Podem também participar de atividades rotineiras e domésticas que sejam apropriadas à sua 
faixa etária e que não prejudiquem seus estudos e o brincar. 
É importante que as crianças acessem serviços da rede e outros recursos da 
comunidade que possam favorecer o brincar e o desenvolvimento da autonomia, de 
potencialidades, da socialização e de aquisições próprias a esta faixa etária. Assim, é 
importante que sejam oportunizadas experiências como ir à creche e à escola, brincar em 
parques e praças da comunidade, andar de bicicleta, fazer passeios, acompanhar pequenas 
compras no comércio, ter oportunidades de observar como se lida com dinheiro, etc. 
Informação e participação da criança e da família na tomada de decisão 
Deve-se assegurar a escuta e o olhar individualizado para a criança, a fim de conhecer 
suas expectativas, desejos, medos e opiniões. É fundamental que sejam oportunizados 
momentos nos quais possam ter acesso a informações sobre sua situação jurídica e familiar, 
demonstrar o que esperam, se expressar e, portanto, participar das decisões que impactem no 
seu desenvolvimento e trajetória de vida. Essa participação deverá estar sempre associada à 
avaliação quanto aos riscos à sua integridade física e psíquica e à proteção aos direitos 
assegurados pelo ECA. 
 
 
12 
É importante que a escuta e a participação da criança na tomada de decisão sobre sua 
trajetória sejam conduzidas de forma cuidadosa, por meio de estratégias adequadas a seu 
estágio de desenvolvimento, como atividades lúdicas, construção de histórias, desenhos e 
outras, sempre respeitando seu tempo e limites. É importante que os bebês também sejam 
informados sobre sua situação e sobre possíveis decisões sobre suas vidas. Nesses momentos 
é importante observar suas reações emocionais e ser responsivo a elas, com abordagem 
afetuosa 
Os cuidadores/educadores do serviço de acolhimento, a família acolhedora e até 
mesmo pessoas da comunidade com vínculo significativo com a criança tambémdevem ser 
ouvidos e orientados para apoiar a escuta adequada da criança. Isto porque a relação de 
proximidade e confiança estabelecida pode favorecer a expressão da criança, além do 
conhecimento de suas necessidades, expectativas e desejos. 
É imprescindível que a família de origem seja também sempre informada, incluída e 
ouvida. Sua opinião precisa ser considerada para a tomada de decisões. É importante que suas 
expectativas, motivações, potencialidades, dificuldades, necessidades e desejos sejam 
conhecidos e que possam opinar, sobretudo quanto às ações capazes de apoiar uma possível 
retomada do convívio com a criança. Em casos de colocação em família substituta, esta deve, 
igualmente, participar desse processo e ser escutada para a adequada preparação para o 
desligamento da criança. 
Capacitação dos educadores/cuidadores 
Ações de capacitação e de educação permanente para as famílias acolhedoras e os 
educadores/cuidadores devem contemplar a importância da construção de vínculos afetivos 
seguros com as crianças, que são fundamentais para o desenvolvimento saudável. Estas ações 
podem ser organizadas com vários formatos que vão desde a capacitação por intermédio do 
acesso a cursos, até a incorporação no cotidiano dos serviços de atividades simples, como 
rodas de conversas sistemáticas da equipe com os cuidadores, grupos de estudos a partir da 
discussão de algum caso ou filme, treinamentos em serviço, etc. Famílias acolhedoras 
experientes podem participar de atividades, compartilhando suas vivências e aprendizados 
com outras famílias que estejam sendo preparadas ou acompanhadas. 
A capacitação deve ser sempre planejada como um percurso e conduzida de forma 
gradativa. É importante que contemple o conhecimento sobre o desenvolvimento na primeira 
infância e a preparação para observar, escutar e abordar com a criança questões mais 
 
 
13 
sensíveis, como o afastamento do convívio familiar, o acolhimento e o desligamento, quando 
for o caso, em razão da reintegração familiar ou encaminhamento para adoção. 
O processo de formação continuada deve se dar também a partir das dúvidas e 
angústias que surgem no cotidiano dos cuidados e relações com as crianças acolhidas. 
Conectar as experiências com os conteúdos e evidências cientificas já existentes sobre os mais 
variados temas é fundamental para que o processo formativo tenha de fato um sentido para 
quem participa dele. Muitas vezes, lidamos com questões ligadas a conteúdos emocionais e 
inconscientes, não apenas com a falta de informações. Criar espaço para que esses conteúdos 
possam ser percebidos, expressados e elaborados aprimora o serviço de acolhimento, seja ele 
qual for. 
 
Temporalidade 
Durante o acolhimento, um aspecto que não se pode perder de vida é a questão do 
tempo. A previsão no ECA de que a permanência no serviço de acolhimento institucional não 
deve se prolongar por mais de 18 (dezoito) meses, salvo nos casos em que for necessária para 
atender ao superior interesse da criança ou adolescente, tem como objetivo, justamente, 
evitar possíveis impactos ao desenvolvimento, em razão do prolongamento desnecessário da 
privação do convívio em ambiente familiar, especialmente na primeira infância. Além disso, 
deve-se considerar que a percepção da de tempo da criança não é a mesma do adulto. 
Fortalecimento dos vínculos e do convívio saudável com a família de 
origem 
O investimento na preservação e no fortalecimento dos vínculos familiares deve ser 
buscado sempre que não houver determinação judicial em contrário e considerar a motivação 
da família e da criança para a manutenção dos vínculos e a retomada do convívio. Deve 
abranger ações voltadas a: 
• contato, (re)aproximação, presença e participação da família na vida da criança; 
• construção da relação de confiança entre crianças e suas famílias e destas com os 
profissionais do serviço de acolhimento; 
• identificação de convívio prévio e de vínculos significativos na família extensa, com 
ações que viabilizem o fortalecimento de tais vínculos; 
• acompanhamento da família (natural ou extensa), em parceria com a rede, visando a 
potencialização da capacidade de proteção e cuidados e o fortalecimento das redes 
 
 
14 
sociais de apoio que possam favorecer a retomada do convívio e apoiar os cuidados 
com a criança, no caso de reintegração familiar. 
O fortalecimento de vínculos e do convívio saudável da criança com sua família de 
origem deve contemplar, necessariamente, ações voltadas às: 
• questões subjetivas:relativas ao campo relacional, envolvendo vinculações e 
afeto; motivações para a retomada do convívio; expectativas, sonhos e desejos; 
fortalecimento da autonomia; identificação de potencialidades das crianças e 
suas famílias; empoderamento e ampliação das competências relacionais da 
família; construção de novos projetos de vida que envolvam a retomada do 
convívio; mudanças em padrões de relacionamento; conscientização por parte 
da família acerca dos motivos que levaram ao acolhimento e de sua função 
junto à criança; compromissos assumidos frente à perspectiva da retomada do 
convívio (acesso a serviços convivência e fortalecimento de vínculos, PAIF, etc); 
• questões objetivas:relativas à ampliação de acessos a recursos das diversas 
políticas públicas que possam impactar as condições concretas de vida e apoiar 
a família no desempenho do cuidado e proteção da criança (acesso a programas 
de transferência de renda, a benefícios, oportunidades de preparação e 
participação do mundo do trabalho, moradia, etc). 
As ações voltadas a responder às vulnerabilidades objetivas são fundamentais para 
apoiar as famílias, ampliar o acesso a recursos, suportes e apoios das diversas políticas públicas 
e reduzir o estresse e as tensões advindos da própria condição de exclusão, de não acesso e 
dificuldades reais para conciliar cuidados e sobrevivência do núcleo familiar. Na mesma 
direção, as ações voltadas às questões subjetivas são fundamentais para empoderar a família, 
construir novos padrões de relacionamento, evitar agravamentos e reduzir vulnerabilidades e 
riscos, buscando a efetiva superação das situações que tenham motivado o afastamento da 
criança ou adolescente. 
Considerar essas duas dimensões é fundamental para que a reintegração familiar seja 
exitosa e não ocorra a necessidade de novos afastamentos. Para contemplar estas duas 
dimensões no trabalho com as famílias, o PIA deve prever, necessariamente, ações nessa 
direção que possam ser desenvolvidas pelo próprio serviço de acolhimento, por meio da 
atuação da equipe técnica e dos educadores/cuidadores, assim como pela rede 
socioassistencial mais ampla e as demais políticas públicas. 
 
 
 
15 
 
A convivência comunitária 
Toda criança que esteja em serviço de acolhimento deve ter o seu direito à convivência 
comunitária resguardado. De acordo com o ECA, o acolhimento, quando necessário, deve 
ocorrer em serviço o mais próximo possível da residência dos pais ou responsáveis, como 
objetivo de facilitar o contato da criança e preservar vínculos comunitários já existentes 
(amigos, vizinhos, pessoas com vínculos significativos na comunidade, etc.). Nessa direção, as 
Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes (CNAS e 
CONANDA, 2009) recomendam que, sempre que possível, as crianças sejam mantidas na 
mesma creche ou escola e nas demais atividades que costumavam frequentar antes do 
acolhimento (esportivas, culturais, religiosas, dentre outras). 
Quando uma criança é acolhida, é importante que se busque identificar pessoas da 
comunidade com vínculos significativos e se avalie o benefício de propiciar, desde o início, a 
manutenção destes contatos. No caso de crianças originárias de povos e comunidades 
tradicionais, a preservação da convivência e dos vínculos com sua comunidade de origem são 
fundamentais para reduzir os impactos do acolhimento.Durante o acolhimento as crianças devem ter a oportunidade de construir novos 
vínculos comunitários. É importante que participem da vida diária da comunidade 
(festividades, eventos, etc.) e se relacionem com crianças e adolescentes da comunidade. É 
recomendado, ainda, que atividades esportivas, culturais e de lazer sejam realizadas de modo 
individualizado, para facilitar o contato e o estabelecimento de vínculos com outras crianças 
da comunidade, considerando, ainda, o interesse, as habilidades e o estágio de 
desenvolvimento de cada criança. 
Garantidas restrições essenciais à sua segurança, crianças e adolescentes 
devem circular pela comunidade de modo semelhante àqueles de sua 
mesma faixa etária – caminhando, usando o transporte público ou 
bicicletas – contando com a companhia de educadores/cuidadores ou 
outros responsáveis quando o seu grau de desenvolvimento ou a situação 
assim exigir. No convívio com a comunidade deve ser oportunizado que 
crianças e adolescentes possam tanto receber seus colegas nas 
dependências do serviço como participar, por exemplo, de festas de 
aniversário de colegas da escola. (BRASIL, 2009, p.57). 
 
 
 
 
 
16 
 
4.3. Acompanhamento da situação familiar, preparação para o 
desligamento e acompanhamento após o desligamento 
O desligamento do serviço deve ser planejado como uma etapa que envolve o trabalho 
com a situação familiar, a identificação da melhor medida para o desligamento, a preparação 
dos envolvidos, o desligamento em si e o acompanhamento após o desligamento. 
No caso das crianças na primeira infância, o desligamento pode ser motivado pela 
possibilidade da reintegração familiar segura - com a família natural ou extensa com vínculos; 
ou da colocação em família adotiva. É importante que todos os envolvidos sejam preparados 
para o desligamento e que sejam realizados rituais para despedida, de forma gradativa, do 
ambiente do acolhimento, da família acolhedora, do educador/cuidador, dos demais 
profissionais e das outras crianças e adolescentes com os quais se tenha construído vínculos 
durante o acolhimento. 
O trabalho de acompanhamento da situação familiar e de preparação para o 
desligamento é essencial para se prevenir situações de retorno ao serviço de acolhimento após 
tentativa mal sucedida de reintegração familiar ou adoção, as quais podem ser ainda mais 
traumáticas, sobretudo, para crianças na primeira infância que já vivenciaram experiências 
anteriores de separações e rupturas de vínculos. 
O serviço de acolhimento precisa estar sensível e contemplar ações para o 
acolhimento das angústias e reações que podem emergir nas crianças e adolescentes que 
permanecem no serviço, a cada um que se desliga com a perspectiva de colocação em uma 
família definitiva. 
Desde o planejamento do desligamento, devem-se vislumbrar ações que serão 
desenvolvidas na etapa seguinte, ou seja, de acompanhamento após o desligamento, o que 
deve ser assegurado pelo período de pelo menos 6 (seis) meses em quaisquer destes casos. 
a. Reintegração Familiar 
Entende-se por reintegração familiar todo o percurso que abrange os investimentos 
nas possibilidades de retorno ao convívio com a família de origem (natural ou extensa com 
vínculo afetivo). Este percurso, que pode se iniciar logo após o Estudo da Situação, estende-se 
até o acompanhamento após o desligamento do serviço de acolhimento. 
Mais do que um reagrupamento físico, a reintegração familiar é um processo gradativo 
que envolve contatos iniciais com a família (natural ou extensa com vínculos), 
 
 
17 
acompanhamento da situação familiar, o trabalho com os vínculos afetivos, suportes à família 
para a superação da situação que motivou o acolhimento, compromissos assumidos pelos 
pais/responsáveis e a construção apoiada de um projeto conjunto (criança/adolescente e 
família) de retomada do convívio e manutenção dos vínculos afetivos (GRUPO INTERAGÊNCIA 
DE REINTEGRAÇÃO INFANTIL, 2016). Com base no ECA, a reintegração familiar deve ser 
viabilizada nos casos em que se mostrar a melhor medida para assegurar o superior interesse 
da criança. 
Além de uma avaliação de riscos à integridade da criança, os vínculos afetivos, o desejo 
pelo convívio e o comprometimento da família devem ocupar lugar central na decisão quanto 
à reintegração familiar, quer seja com a família natural, quer seja com a família extensa que 
mantenha vínculo de afeto e convivência com a criança. 
Os vínculos afetivos, as expectativas e os desejos pela retomada do convívio, aliados 
ao compromisso da família com a responsabilidade de proteção e cuidados, são aspectos que 
devem prevalecer sobre o mero vínculo consanguíneo, quando da avaliação acerca da 
reintegração familiar representar ou não a melhor medida para a criança.A família deve ser 
sempre informada, para que tenha consciência das possíveis decisões do Juiz da Infância e da 
Juventude e dos aspectos que serão considerados para tanto. 
É preciso que, ao longo do acompanhamento, sejam identificadas as necessidades da 
criança e de suas famílias, bem como fortalecidos os recursos (pessoais, familiares e de acesso 
à rede e a direitos) que possam contribuir para a superação dos motivos que levaram ao 
acolhimento, desempenho da função de cuidado e proteção e fortalecimento das 
possibilidades de retomada do convívio. 
No decorrer do acompanhamento familiar é preciso identificar, ainda, qual o contexto 
mais favorável e protegido para se viabilizar a reintegração familiar. Como exemplo podemos 
citar o de uma criança que, antes do acolhimento, vivia com os pais e sofreu violência do pai e 
que, posteriormente, é reintegrada ao convívio com a mãe e o avô. 
Ao longo de todo este percurso, deve-se assegurar o protagonismo da família e da 
criança, com escuta qualificada e atenta às expectativas, angústias e inseguranças, assim como 
aos anseios, desejos e medos que emergem não somente da separação do convívio, mas, 
também, da possibilidade de sua retomada. 
 
 
 
 
 
 
18 
 
Nesse sentido, é preciso que crianças e famílias: 
(...) entendam e concordem com as estratégias de reintegração e 
apoio. Assim, é importante ser claro sobre os serviços que estão 
sendo oferecidos (...), benefícios e riscos – e, em seguida, obter a 
permissão do pai/responsável e da criança/adolescente para 
continuar. É de extrema importância consultar as 
crianças/adolescentes regularmente e verificar continuamente o seu 
consentimento. (GRUPO INTERAGÊNCIAS, 2016, p. 16, com ajustes de 
tradução) 
 
Pessoas da família extensa e da comunidade que tenham vínculos afetivos 
significativos com a criança devem ser identificadas e envolvidas no processo de reintegração 
familiar. Isso porque fortalecer as redes familiares e sociais de apoio aos pais se constitui como 
ação de suma importância para o suporte no desempenho de seu papel de cuidado e 
proteção. 
Um processo de reintegração familiar seguro somente pode ser conduzido se contar 
com o suporte da rede. O acompanhamento da família pelo PAEFI, articulado ao serviço de 
acolhimento, tem papel central nesse sentido. Assim, é importante que esta parceria seja 
assegurada desde o planejamento inicial das ações previstas no PIA. Além disso, deve-se incluir 
a equipe interprofissional do poder Judiciário, de modo a assegurar agilidade na comunicação 
e acompanhamento sistemático dos casos por parte da Justiça. 
Realizadas todas as ações necessárias, há dois desfechos possíveis: a conclusão da 
possibilidade de reintegração familiar ou a constatação da impossibilidade de reintegração ao 
convívio com a família de origem e, portanto, a necessidade de se adotar os procedimentos 
necessários ao encaminhamento para adoção. Recomenda-se que esta conclusão envolva, 
além do serviço de acolhimento e do CREAS, os profissionais da equipe interprofissional da 
Justiça da Infância e da Juventude e da rede que estejam acompanhando a família e a 
criança/adolescente.Sendo concluída a impossibilidade de reintegração familiar, em observância aos 
dispositivos legais, o serviço de acolhimento deverá enviar “relatório fundamentado ao 
Ministério Público, no qual conste a descrição pormenorizada das providências tomadas e a 
expressa recomendação (...) para a destituição do poder familiar, ou destituição de tutela ou 
guarda” (ECA, Art. 101, §9º). O ECA prevê, ainda, prazos para o Ministério Público ingressar 
com ação de destituição do poder familiar, a partir do recebimento do relatório e a inclusão no 
cadastro de crianças e adolescentes em condições de serem adotados (ECA, Art. 50). 
Quando o acompanhamento apontar possibilidades mais concretas de retomada do 
convívio familiar, recomenda-se que o serviço de acolhimento discuta o caso com a equipe 
 
 
19 
interprofissional da Justiça da Infância e da Juventude e dê ciência à autoridade judiciária de 
que serão iniciadas as medidas para a preparação da família e da criança para o desligamento 
e a retomada gradativa do convívio. 
 
De acordo com o Art. 19, § 1o do ECA “Toda criança ou adolescente que estiver 
inserido em programa de acolhimento familiar ou institucional terá sua situação 
reavaliada, no máximo, a cada 3 (três) meses, devendo a autoridade judiciária 
competente, com base em relatório elaborado por equipe interprofissional ou 
multidisciplinar, decidir de forma fundamentada pela possibilidade de reintegração 
familiar ou pela colocação em família substituta”. 
 
Estas medidas podem incluir, por exemplo, o início de visitas da criança ao lar da 
família de origem para passar finais de semana, de modo a viabilizar um retorno gradativo e as 
adaptações necessárias. Assim, o acompanhamento da família e da criança durante a 
preparação para o desligamento deve apoiar a construção de uma perspectiva de retorno e 
contemplar escuta e conversas que contribuam para seu planejamento concreto e trabalho 
tanto com questões subjetivas – como inseguranças e expectativas e possíveis mudanças na 
dinâmica familiar a partir do retorno, reaproximação afetiva, etc. – como com questões 
objetivas – como vaga em creche ou escola no território onde vive a família, integração dos 
responsáveis familiares ao mundo do trabalho e acesso à renda, reorganização da rotina diária 
da família a partir do retorno da criança, assim como mudanças na rotina diária da própria 
criança, compromissos por parte da família, etc. 
Autorizado o desligamento pela autoridade judiciária, a criança retornará ao convívio 
com a família, sendo recomendado que haja acompanhamento do CREAS, em parceria com o 
serviço de acolhimento, durante o período após o desligamento. 
No acompanhamento após o desligamento, é importante que os profissionais 
envolvidos atuem como mediadores deste processo. Não se trata de “fazer por”, mas de estar 
presente e fornecer suportes e mediações para que a família seja a protagonista deste 
processo, fortalecendo sua capacidade de tomar decisões, iniciativas, de reorganizar sua rotina 
diária, de reestabelecer uma relação de afeto segura com a criança, etc. Isso contribuirá para o 
fortalecimento da autoestima e confiança da própria família em suas capacidades. 
Os profissionais devem estar disponíveis para trabalhar com questões 
socioemocionais. Isso porque, nesse momento, podem emergir, por exemplo, sentimentos de 
angústias e reações decorrentes da separação, sobretudo por parte da criança; “mitos” e 
“crenças”, por parte da família, de que a criança estaria melhor cuidada no serviço de 
 
 
20 
acolhimento em razão da ausência de recursos materiais e “choques” gerados pelas diferenças 
culturais, de rotina, regras e funcionamento do lar familiar e do serviço de acolhimento, 
podendo este risco ser maior nos casos de afastamento mais prolongado. 
 
Você pode ouvir a seguir um relato de uma cuidadora, acerca de um serviço de 
acolhimento premiado por boa prática de reintegração familiar: A importância do 
cuidar https://anchor.fm/obraseducativas/episodes/A-importncia-do-cuidar---Elma-en1s1g 
O encerramento do acompanhamento pela equipe do serviço de acolhimento não 
implica, necessariamente, no desligamento da família de outros serviços que possam estar 
acompanhando-a. Assim, pode-se avaliar se a família continua em acompanhamento no 
CREAS, no CRAS, em outros serviços da rede, para atender suas necessidades, sem que isso 
esteja mais permeado sob a égide da questão legal. 
 
 
O desligamento do serviço de acolhimento deve estar embasado em informações 
confiáveis de que o retorno à família de origem é uma decisão viável e segura no que se 
refere à proteção e à garantia do melhor interesse da criança. Apenas quando esgotada 
esta possibilidade, deve-se buscar o encaminhamento para família substituta. 
 
b. Adoção: 
Em alguns casos, as ações do PIA voltadas à promoção da reintegração familiar poderão levar à 
identificação da impossibilidade da retomada do convívio com a família de origem (natural ou 
extensa), levando a ações e articulações com o Poder Judiciário e o Ministério Público para 
subsidiar a tomada de decisão e encaminhamento para colocação em família substituta, como 
forma de garantir o direito à convivência familiar. É importante destacar que esta medida é de 
competência exclusiva da autoridade judiciária. A adoção será tratada com mais detalhes na 
Unidade 4. 
https://anchor.fm/obraseducativas/episodes/A-importncia-do-cuidar---Elma-en1s1g
 
 
21 
 
Figura 2: Quadro síntese do Percurso de trabalho caso-a-caso nos serviços de acolhimento. 
Fonte: SNAS/SEDS/MC. Elaboração: Gabinete/SNAS/SEDS/MC 
 
 
Para saber mais sobre os Serviços de Acolhimento para Crianças e 
Adolescentes e o Trabalho de Reintegração Familiar: 
 
 
 
• BRASIL. Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e 
Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária. Brasília, CONANDA e CNAS, 
2006. Disponível em: 
http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/Pla
no_Defesa_CriancasAdolescentes%20.pdf 
http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/Plano_Defesa_CriancasAdolescentes%20.pdf
http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/Plano_Defesa_CriancasAdolescentes%20.pdf
 
 
22 
• Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais (BRASIL, 2009). Resolução 
CNAS nº 109, de 11 de novembro de 2009, que reúne os serviços socioassistenciais 
que integram o SUAS e sua descrição, inclusive os serviços de acolhimento para 
crianças e adolescentes. Disponível em: 
http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Normativas/ti
pificacao.pdf 
• Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes” 
(BRASIL, 2009). Normativa do SUAS que reúne os parâmetros para a organização, o 
funcionamento e o atendimento nesses serviços, em suas diferentes modalidades 
de oferta, incluindo desde orientações metodológicas, sobre os recursos humanos, 
até o espaço físico. Disponível em: 
http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/orie
ntacoes-tecnicas-servicos-de-alcolhimento.pdf 
• Orientações Técnicas para Elaboração do Plano Individual de Atendimento (PIA) 
de Crianças e Adolescentes em Serviços de Acolhimento (BRASIL, 2009). O 
documento reúne orientações para o planejamento caso-a-caso do PIA, com as 
ações e atividades a serem desenvolvidas com a criança/adolescente e sua família 
durante o período de acolhimento. Disponível em: 
http://blog.mds.gov.br/redesuas/plano-individual-de-acolhimento-pia-
orientacoes-tecnicas/ 
• CENSO SUAS: Realizado anualmente pela Secretaria Especial de Desenvolvimento 
Social do Ministério da Cidadania, tem a finalidade de coletar informações sobre os 
serviços que integram o SUAS. É a maior fonte de informações do SUAS sobre os 
serviços de acolhimento para crianças e adolescentes existentes no país, reunindo 
dadosinformados pelos municípios, DF e Estados. Disponível em: 
http://aplicacoes.mds.gov.br/snas/vigilancia/index2.php 
• Prontuário Suas – Acolhimento Institucional de Crianças e Adolescentes: 
Instrumento que visa organizar e qualificar as informações relativas à 
criança/adolescentes e de suas relações familiares e afetivas, e que são necessárias 
ao diagnóstico, ao planejamento e ao acompanhamento do trabalho 
social.Constituído por um conjunto de fichas independentes destinadas ao registro 
da rotina individual de cada criança e adolescente em serviço de acolhimento, 
http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Normativas/tipificacao.pdf
http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Normativas/tipificacao.pdf
http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/orientacoes-tecnicas-servicos-de-alcolhimento.pdf
http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/orientacoes-tecnicas-servicos-de-alcolhimento.pdf
http://blog.mds.gov.br/redesuas/plano-individual-de-acolhimento-pia-orientacoes-tecnicas/
http://blog.mds.gov.br/redesuas/plano-individual-de-acolhimento-pia-orientacoes-tecnicas/
http://aplicacoes.mds.gov.br/snas/vigilancia/index2.php
 
 
23 
o Prontuário SUAS – Acolhimento para Crianças e Adolescentes permite o 
acompanhamento da jornada e da história do usuário na sua relação com os 
serviços socioassistenciais. Disponível em: 
http://blog.mds.gov.br/redesuas/prontuario-suas-acolhimento/ e 
http://blog.mds.gov.br/redesuas/wp-
content/uploads/2019/01/Manual_Prontuario-Eletr%C3%B4nico-do-
SUAS_Acolhimento-de-Crian%C3%A7a-e-Adolescente-1.pdf 
• Provimento CNJ n.º 32/2013 do Conselho Nacional de Justiça. Normativa do CNJ 
que estabelece a obrigatoriedade da realização das Audiências Concentradas para 
reavaliação semestral das medidas de acolhimento, por meio da homologação e 
revisão dos PIAS de crianças e adolescentes acolhidos, a serem realizadas sempre 
que possível nas dependências das entidades de acolhimento, com a presença dos 
atores do Sistema de Garantia de Direitos da criança e do adolescente. Disponível 
em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/atos-normativos?documento=1789 
https://geracaoamanha.org.br/orfaos-da-romenia/ 
• GRUPO INTERAGÊNCIA DE REINTEGRAÇÃO INFANTIL. Diretrizes para reintegração 
familiar de crianças e adolescentes, 2016. Disponível em: https://movimento-
nacional.s3.amazonaws.com/uploads/ckeditor/attachments/149/RG_BrazPortugu
ese_digital.pdf 
• BRASIL. Serviço de acolhimento para crianças e adolescentes: Proteção integral e 
garantia de direitos. Brasília, MDS e Fiocruz, 2018. Disponível em: 
http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/201
9/Curso_Serv_%20acolhimento_criancas_adolesc_protecaointegral.pdf 
• Guia Prático de Trabalho Social com Famílias. Rio de Janeiro: Associação Terra dos 
Homens (Autores: Adriana P.S.Graham e Valéria Brahim), 2013. 
• Fazendo Valer um Direito. Grupo de Trabalho Nacional Pró-Convivência Familiar e 
Comunitária. Rio de Janeiro: Terra dos Homens, 2008. 
• De Volta para Casa: A Experiência da Casa de Acolhida Novella no Fortalecimento 
da Convivência Familiar e Comunitária. (Autora: Maria Lúcia C. R. Gulassa). São 
Paulo: Fundação ABRINQ, 2007. Disponível em: 
https://issuu.com/fundacaoabrinq/docs/de_volta_pra_casa_fadc/35 
 
http://blog.mds.gov.br/redesuas/prontuario-suas-acolhimento/
http://blog.mds.gov.br/redesuas/wp-content/uploads/2019/01/Manual_Prontuario-Eletr%C3%B4nico-do-SUAS_Acolhimento-de-Crian%C3%A7a-e-Adolescente-1.pdf
http://blog.mds.gov.br/redesuas/wp-content/uploads/2019/01/Manual_Prontuario-Eletr%C3%B4nico-do-SUAS_Acolhimento-de-Crian%C3%A7a-e-Adolescente-1.pdf
http://blog.mds.gov.br/redesuas/wp-content/uploads/2019/01/Manual_Prontuario-Eletr%C3%B4nico-do-SUAS_Acolhimento-de-Crian%C3%A7a-e-Adolescente-1.pdf
https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/atos-normativos?documento=1789
https://geracaoamanha.org.br/orfaos-da-romenia/
https://movimento-nacional.s3.amazonaws.com/uploads/ckeditor/attachments/149/RG_BrazPortuguese_digital.pdf
https://movimento-nacional.s3.amazonaws.com/uploads/ckeditor/attachments/149/RG_BrazPortuguese_digital.pdf
https://movimento-nacional.s3.amazonaws.com/uploads/ckeditor/attachments/149/RG_BrazPortuguese_digital.pdf
http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/2019/Curso_Serv_%20acolhimento_criancas_adolesc_protecaointegral.pdf
http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/2019/Curso_Serv_%20acolhimento_criancas_adolesc_protecaointegral.pdf
https://issuu.com/fundacaoabrinq/docs/de_volta_pra_casa_fadc/35