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1 C URSO M ARCO LEGAL DA PRIMEIRA INFÂNCIA Trilha Medidas Protetivas Aula 4: O afastamento do convívio familiar e os cuidados às crianças na primeira infância em serviços de acolhimento 2 Aula 4: O afastamento do convívio familiar e os cuidados às crianças na primeira infância em serviços de acolhimento1 Nesta aula você poderá conhecer melhor as especificidades do atendimento às crianças na primeira infância em serviços de acolhimento e entender as consequências do afastamento do convívio familiar e da institucionalização: Em que medida a institucionalização afeta o desenvolvimento das crianças e quais cuidados são necessários para a que a medida de acolhimento seja de fato reparadora e não revitimizadora? Como vimos na Trilha Marco Legal, Ciência e Políticas Públicas, a convivência familiar e comunitária é um direito fundamental da criança e do adolescente, sendo amplamente reconhecida a importância dos vínculos afetivos. Os avanços científicos também constituem a base dos dispositivos do ECA sobre a medida protetiva de acolhimento prevista no Art. 101 (Lei no 8.069/1990), incluindo: o caráter excepcional e provisório da medida e da priorização, nestes casos, do acolhimento familiar (Lei no 8.069/1990, art. 34). Os serviços de acolhimento fazem parte do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), coordenado nacionalmente pela Secretaria Nacional de Assistência Social. No âmbito dos Estados, Distrito Federal e Municípios, a execução destes serviços é coordenada pelo órgão gestor da Assistência Social - Secretarias de Assistência Social ou correlatas. Estes serviços podem ser público-estatais ou público não-estatais, prestados por Organizações da Sociedade Civil (OSC). 1Elaborado por Juliana M. Fernandes Pereira, Secretaria Nacional de Assistência Social, Secretaria Especial do Desenvolvimento Social, Ministério da Cidadania. Contribuições: Sylvia Nabinger, Doutora em Direito de Família, Universitè de Lyon III e Claudia Vidigal, Psicóloga, Representante da Fundação Bernard van Leer no Brasil. 3 Figura 1: Quadro síntese com descrição dos Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes, públicos e parâmetros para recursos humanos (Fonte: SNAS/SEDS/Ministério da Cidadania). As vivências que levam à aplicação da medida protetiva de acolhimento representam intenso sofrimento psíquico, sobretudo quando estes eventos ocorrem nos primeiros anos de vida. Assim, quando a medida for necessária, é fundamental que a criança possa contar com cuidados nos serviços de acolhimento que, além de suas necessidades básicas, proporcionem a construção de vínculos afetivos seguros e significativos com os cuidadores diretos e experiências favorecedoras de seu desenvolvimento. Além disso, é importante que possam conviver em comunidade e construir vínculos comunitários significativos e o sentimento de pertencimento. Diversas pesquisas já mostraram que o ambiente familiar saudável, com vínculos afetivos estáveis e seguros, é o melhor lugar para o desenvolvimento da criança e do adolescente. No entanto, muitas vezes o ambiente familiar representa risco, ensejando a aplicação da medida protetiva de acolhimento. Por outro lado, as pesquisas também evidenciaram que os cuidados massificados em instituições totais não são capazes de atender às necessidades emocionais e de desenvolvimento, sobretudo nos primeiros anos de vida. Os abrigos institucionais vêm passando por um processo de transformação importante nas últimas décadas. Não falamos mais de instituições totais, mas sim de grandes grupos, a maioria dos abrigos consegue atender grupos de aproximadamente 20 crianças e adolescentes, visando se adequar às Orientações Técnicas para Serviços de Acolhimento (2009). Contudo, muitas práticas ainda seguem a lógica da organização institucional, para viabilizar o cotidiano, dificultando o cuidado individualizado, afetivo e singular, apesar dos avanços e esforços nesse sentido. 4 4.1. Efeitos da institucionalização No contexto da Segunda Guerra Mundial diversos estudos mostraram a importância dos vínculos afetivos nos primeiros anos de vida e os possíveis impactos ao desenvolvimento, em decorrência da institucionalização prolongada marcada por cuidados massificados e privações afetivas. O estudo “Órfãos da Romênia”, realizado por Charles Nelson, Charles Zeanah e Natan Fox, a partir de 2000, corroborou o que já havia sido apontado no século XX por autores como Bowlby, Winnicott e Spitz. O estudo consistiu em uma pesquisa longitudinal com 136 crianças entre 6 meses e 2,5 anos, sem problemas neurológicos ou genéticos, acolhidas em instituições na Romênia nos primeiros anos de vida. Metade dessas crianças foi transferida para cuidados em famílias acolhedoras que foram preparadas e acompanhadas. A pesquisa contou, ainda, com um grupo controle de 72 crianças que viviam com suas famílias e não passaram pela experiência da institucionalização. Por meio do estudo, os pesquisadores acompanharam o desenvolvimento das crianças e constataram que o atendimento em instituições superlotadas e com pouco estímulo físico e/ou social pode impactar o desenvolvimento, com efeitos de longo prazo, em nível emocional, cognitivo, da linguagem, do crescimento físico, nas condições para lidar com o estresse, entre outros. Especialmente nos primeiros 2 anos de vida, que identificaram ser um período crítico do desenvolvimento humano. Por outro lado, a retomada do convívio em ambiente familiar favorável, nessa fase – e o quanto antes - pode contribuir para a preservação do desenvolvimento, conforme constatado a partir do acompanhamento do desenvolvimento das crianças que foram transferidas para famílias acolhedoras (GERAÇÃO AMANHÃ, 2019). VÍDEO 1 Pílula do documentário: “O Começo da Vida” sobre o estudo Órfãos da Romênia. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=QmKggL2oJeo PARA SABER MAIS Caso deseje mais informações s este estudo, indicamos o site: http://www.bucharestearlyinterventionproject.org/. https://www.youtube.com/watch?v=QmKggL2oJeo 5 4.2. Proteção ao Desenvolvimento Infantil durante o Acolhimento Quando a medida protetiva de acolhimento é necessária para assegurar proteção, as vinculações positivas com cuidadores diretos podem funcionar como elementos de promoção do desenvolvimento das crianças e adolescentes, até que seja possível a retomada da convivência familiar, por meio da reintegração ao convívio com a família de origem ou, na sua impossibilidade, por meio da adoção. Para as crianças na primeira infância, nestas situações, o atendimento em Serviços de Acolhimento em Famílias Acolhedoras pode ser particularmente benéfico à proteção a seu desenvolvimento integral. A seguir serão abordados alguns aspectos importantes a serem observados na organização e oferta dos serviços de acolhimento (institucional e familiar) para a proteção ao desenvolvimento das crianças na primeira infância e a seus direitos, como o direito de brincar e pode crescer e se desenvolver em uma família. Tais aspectos devem orientar a elaboração do Plano Individual de Atendimento (PIA) de cada criança. O PIA deve prever, necessariamente, ações que possam ser desenvolvidas pelo próprio serviço de acolhimento- por meio da atuação da equipe técnica, dos educadores/cuidadores e das famílias acolhedoras, dos demais componentes da rede socioassistencial e das demais políticas públicas e, ainda, pelas equipes interprofissionais da Justiça da Infância e da Juventude e de outros órgãos do Sistema de Justiça. 6 4.2.1. Oferta de cuidados de qualidade e proteção ao desenvolvimento integral das crianças na primeira infância durante o período de acolhimento2 As crianças na primeira infância podem ser encaminhadas a serviços de acolhimento por razões diversas, como a entrega voluntária pela mãe para adoção (até quese formalize o consentimento da guarda por habilitados para adotar) ou pelo afastamento do convívio familiar mediante a aplicação da medida protetiva de acolhimento frente à ameaça ou violação de direitos. Um papel fundamental dos serviços de acolhimento é assegurar cuidados personalizados e de qualidade que possam ser responsivos às demandas das crianças na primeira infância e proporcionar-lhes novas experiências de vinculação seguras e significativas, oportunizando um ambiente favorável para o desenvolvimento integral durante o período de acolhimento. Art. 31. O art. 92 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 , passa a vigorar acrescido do seguinte § 7º : “Art. 92. ........................................................................................................................... § 7º Quando se tratar de criança de 0 (zero) a 3 (três) anos em acolhimento institucional, dar-se-á especial atenção à atuação de educadores de referência estáveis e qualitativamente significativos, às rotinas específicas e ao atendimento das necessidades básicas, incluindo as de afeto como prioritárias.” (NR) (Lei nº 13.257/2016) Quando o acolhimento é necessário, deve-se buscar preservar e fortalecer os vínculos com a família de origem e os vínculos comunitários preexistentes. Os serviços devem desenvolver um trabalho em rede, envolvendo o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), a equipe interprofissional do Sistema de Justiça e outros atores relevantes da rede, de modo a viabilizar a reintegração familiar segura, junto a familiares com vínculos afetivos. Na impossibilidade da reintegração ao convívio com a família de origem com vínculos, a criança deve ser encaminhada para adoção. O trabalho com o acompanhamento da situação familiar é imprescindível para que a medida protetiva de acolhimento não se prolongue para além do necessário. Em todo este 2 Elaborado por Juliana M. Fernandes Pereira, Secretaria Nacional de Assistência Social, Secretaria Especial do Desenvolvimento Social, Ministério da Cidadania. Texto extraído da publicação Orientações Técnicas para Elaboração do Plano Individual de Atendimento (PIA) de Crianças e Adolescentes em Serviços de Acolhimento (BRASIL, 2016), com adaptações para a abordagem do acolhimento às crianças na primeira infância. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm#art92%C2%A77 7 percurso, os cuidados à criança e o acompanhamento de sua situação familiar deve ser orientado pelo Plano Individual de Atendimento (PIA). A oferta de cuidados de qualidade no serviço de acolhimento e o trabalho efetivo com o acompanhamento de sua situação familiar para subsidiar a tomada de decisão pela autoridade judiciária, exigem, essencialmente, articulações em rede, uma vez que esta responsabilidade extrapola a função do serviço de acolhimento e da própria política de Assistência Social. Por isso, devem constar do PIA os compromissos firmados com a rede e ancorados, sempre que possível, em fluxos, acordos e outras estratégias definidas localmente para assegurar a intersetorialidade no atendimento às necessidades e aos direitos de crianças e adolescentes em serviços de acolhimento. As especificidades da primeira infância e a singularidade de cada criança É importante que a equipe técnica, os demais profissionais do serviço de acolhimento e as famílias acolhedoras tenham conhecimento sobre o desenvolvimento na primeira infância: demandas de cuidados, apoio e estímulos, desafios e aquisições próprias a esta etapa, etc. Este conhecimento contribui para uma compreensão sensível caso a caso e para a provisão de cuidados personalizados e de qualidade durante o acolhimento. Neste sentido, os educadores/cuidadores e as famílias acolhedoras precisam ser preparados para lidar com o histórico de cada criança e ter acesso às informações que sejam relevantes para proporcionar uma compreensão mais sensível que permita um melhor manejo no cuidado cotidiano. Estes conhecimentos podem favorecer interações positivas no contexto do acolhimento entre pares e entre acolhidos e cuidadores. No caso de crianças com necessidades específicas, como deficiência, questões de saúde e outras, é importante que o serviço de acolhimento possa contar com o suporte da rede para o atendimento, com orientações sobre cuidados e modos de interação específicos no cotidiano do acolhimento. O olhar para as singularidades da primeira infância nos serviços de acolhimento deve contemplar outras especificidades, ainda, como adolescentes grávidas ou com filhos pequenos, em serviços de acolhimento, grupo de irmãos e pertencimento a povos e comunidades tradicionais. Neste último caso, antropólogos e representantes de povos e comunidades tradicionais podem apoiar a compreensão das especificidades e a oferta de atendimento culturalmente adequado. 8 O PIA deve conter ações voltadas ao apoio da adolescente gestante e mãe para cuidar e proteger o seu filho por meio de atenções no serviço e fora dele. Nos termos do Art. 19 do ECA, §5º e §6º, será garantida a convivência integral da criança com a mãe adolescente que estiver em acolhimento institucional, devendo esta última contar com assistência de equipe multidisciplinar, salvo em situações em que a manutenção do convívio seja prejudicial à proteção e ao desenvolvimento do filho. No caso dos adolescentes pais, devem ser incluídas no PIA ações com o objetivo de promover a paternidade responsável e o contato contínuo com a criança. Infraestrutura e organização do serviço de acolhimento No caso de crianças na primeira infância, é muito importante que tenham um espaço para brincar e que os brinquedos estejam acessíveis a seu alcance. No caso dos bebês, deve-se evitar que fiquem em berços ou carrinhos sozinhos, sem nenhum estímulo e com possibilidades limitadas de movimentarem-se. A organização de espaços com tapetes e brinquedos acessíveis pode estimular o brincar livre e os movimentos espontâneos. Na organização do ambiente, tanto no acolhimento institucional quanto no familiar, deve-se atentar, ainda, para: a segurança e a adoção de medidas de prevenção de acidentes domésticos, o quantitativo de acolhidos por quarto, a acessibilidade, a disponibilização de espaços para atividades pedagógicas, a guarda de materiais de uso pessoal e espaços individualizados para os pertences próprios. Atitude receptiva e acolhedora no momento da chegada da criança Deve-se dar especial atenção ao momento de chegada da criança ao serviço, esta acolhida que deve ser realizada de forma respeitosa, acolhedora e afetuosa. O momento do afastamento do convívio familiar e da chegada no serviço de acolhimento pode ser particularmente doloroso para as crianças. Muitas podem desconhecer ou não compreender o motivo pelo qual foram afastadas do convívio familiar, o que pode desencadear reações emocionais e levá-las a interpretar o acolhimento como uma espécie de punição (BRASIL, 2009). É importante que as crianças na primeira infância, inclusive os bebês, possam ter acesso a informações sobre o que se passou e porquê foram afastadas da família. Os bebês, embora não verbalizem, possuem percepções sobre a situação e podem ficar particularmente 9 angustiados se ninguém lhes explicar o que aconteceu. Estas conversas devem ser conduzidas de modo adequado ao estágio de desenvolvimento da criança, por pessoas preparadas para esta abordagem, para que sejam de fato benéficas à criança. Nos momentos iniciais no serviço de acolhimento, pode-se, gradativamente, apresentar à criança– inclusive aos bebês - o espaço e as pessoas com quem conviverá e explicar as regras de convívio adotadas, com meios adequados a seu estágio de desenvolvimento. Atendimento personalizado e individualizado O respeito à singularidade e o fortalecimentoda identidade da criança podem ser favorecidos por atividades como a comemoração do seu aniversário, o contar com objetos de uso pessoal e de espaços para guardar seus pertences, e a realização de registros fotográficos, com a montagem de um livro com sua história de vida. Este livro pode conter informações, lembranças e fotografias, e deve ser periodicamente atualizado. Este tipo de registro é particularmente importante para as crianças na primeira infância que, em razão das características próprias a esta fase do desenvolvimento, não guardarão muitas memórias deste período. Esta atividade deve ser realizada com o apoio dos educadores/cuidadores, da família acolhedora ou de outra pessoa preparada e autorizada para tanto, assegurando-se que a criança participe do processo. O cérebro de um bebê realiza mais de um milhão de sinapses por segundo. Essa capacidade de desenvolvimento de conexões nunca mais irá ocorrer com tamanha potência, em momento nenhum da vida. Trata-se de uma janela de oportunidade em que as experiências têm um papel fundamental para que cada um atinja seu pleno potencial. Conversar com a criança, brincar com ela e criar oportunidades para que brinque sozinha ou com outras crianças além de estar conectado com seus interesses buscando ser responsivo, faz toda a diferença na promoção do desenvolvimento integral. Vínculos no serviço de acolhimento É importante planejar ações que possam favorecer a construção de uma relação afetiva e de confiança entre a criança, a família acolhedora ou os educadores/cuidadores e entre pares. No caso de crianças na primeira infância, os momentos de cuidados – troca de fraldas, banho, alimentação e sono – são privilegiados para a interação com o cuidador direto e a 10 construção de vínculos afetivos seguros e de confiança. Estes cuidados devem ser prestados com delicadeza, sem movimentos abruptos. É importante que os cuidadores diretos olhem as crianças nos olhos, conversem com elas e expliquem o que vai ser feito, sobretudo para os bebês ou crianças recém-chegadas ao acolhimento, para que possam se sentir mais seguras. As interações e os vínculos afetivos construídos nos serviços de acolhimento podem favorecer a construção do senso de identidade, pela criança, e de um sentimento de pertencimento. O educador/cuidador e a família acolhedora devem ter clareza quanto a seu papel de vincular-se afetivamente às crianças/adolescentes atendidos e contribuir para a construção de um ambiente familiar, evitando, porém, “se apossar” da criança ou do adolescente e competir ou desvalorizar a família e origem ou substituta. O serviço de acolhimento, não deve ter a pretensão de ocupar o lugar da família da criança ou adolescente, mas contribuir para o fortalecimento dos vínculos familiares, favorecendo o processo de reintegração familiar ou o encaminhamento para família substituta, quando for o caso (BRASIL, 2009, p. 53). Porque priorizar o Acolhimento Familiar Quando a criança é acolhida por uma família acolhedora, assegura-se a continuidade do desenvolvimento em ambiente familiar, com vínculos mais estáveis, ainda que em uma família transitória. Além disso, a criança tem a oportunidade de participar da vida comunitária, junto à família acolhedora. No caso dos serviços de acolhimento institucional, o modelo de casas-lares é mais semelhante ao ambiente familiar. Todavia, nos abrigos institucionais, o regime de revezamento por turnos dos educadores/cuidadores e a rotatividade destes profissionais dificulta o estabelecimento de vínculos afetivos seguros. Assim, quando o acolhimento de crianças na primeira infância for necessário, deve-se priorizar seu encaminhamento para famílias acolhedoras. Art.91, § 7º - Quando se tratar de criança de 0 (zero) a 3 (três) anos em acolhimento institucional, dar-se-á especial atenção à atuação de educadores de referência estáveis e qualitativamente significativos, às rotinas específicas e ao atendimento das necessidades básicas, incluindo as de afeto como prioritárias. (Lei 8.069/1990. Incluído pela Lei nº 13.257/2016 – Marco Legal da Primeira Infância) O brincar e a autonomia O brincar é um direito e uma atividade fundamental na primeira infância que contribui para a expressão de sentimentos e para o desenvolvimento da autonomia, da aprendizagem, http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13257.htm#art31 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13257.htm#art31 11 da criatividade, da linguagem e da socialização; etc. As crianças devem ter oportunidades para brincar, com brinquedos e brincadeiras apropriadas à cada idade, de movimentar-se e interagir, nestes momentos, com os cuidadores, com outras crianças e com o ambiente. É importante que possam também brincar de forma livre e autônoma, explorando os brinquedos e o ambiente com curiosidade, à sua maneira; ouvir leituras de livros e “brincar” de ler; ouvir e cantar músicas infantis; e brincar de faz-de-conta, usando a imaginação; e ter contato com a natureza. Nos primeiros anos de vida a autonomia pode ser estimulada de forma gradativa por meio do brincar, do autocuidado - para se alimentar e se vestir de forma autônoma - do incentivo para organizar gradativamente seus objetos pessoais e guardar seus brinquedos; da realização das atividades escolares; e das escolhas e tomada de decisões, como, por exemplo, escolher entre uma brincadeira e outra. Para incentivar a autonomia deve-se buscar aquisições gradativas – das mais simples às mais complexas - sempre observando o que é apropriado ao estágio de desenvolvimento de cada criança. As crianças devem ser incentivadas a participar das decisões coletivas no serviço de acolhimento, como melhorias na organização do ambiente ou construção das regras de convívio, o que pode ser viabilizado por meio de “assembleias” ou de outras atividades lúdicas. Podem também participar de atividades rotineiras e domésticas que sejam apropriadas à sua faixa etária e que não prejudiquem seus estudos e o brincar. É importante que as crianças acessem serviços da rede e outros recursos da comunidade que possam favorecer o brincar e o desenvolvimento da autonomia, de potencialidades, da socialização e de aquisições próprias a esta faixa etária. Assim, é importante que sejam oportunizadas experiências como ir à creche e à escola, brincar em parques e praças da comunidade, andar de bicicleta, fazer passeios, acompanhar pequenas compras no comércio, ter oportunidades de observar como se lida com dinheiro, etc. Informação e participação da criança e da família na tomada de decisão Deve-se assegurar a escuta e o olhar individualizado para a criança, a fim de conhecer suas expectativas, desejos, medos e opiniões. É fundamental que sejam oportunizados momentos nos quais possam ter acesso a informações sobre sua situação jurídica e familiar, demonstrar o que esperam, se expressar e, portanto, participar das decisões que impactem no seu desenvolvimento e trajetória de vida. Essa participação deverá estar sempre associada à avaliação quanto aos riscos à sua integridade física e psíquica e à proteção aos direitos assegurados pelo ECA. 12 É importante que a escuta e a participação da criança na tomada de decisão sobre sua trajetória sejam conduzidas de forma cuidadosa, por meio de estratégias adequadas a seu estágio de desenvolvimento, como atividades lúdicas, construção de histórias, desenhos e outras, sempre respeitando seu tempo e limites. É importante que os bebês também sejam informados sobre sua situação e sobre possíveis decisões sobre suas vidas. Nesses momentos é importante observar suas reações emocionais e ser responsivo a elas, com abordagem afetuosa Os cuidadores/educadores do serviço de acolhimento, a família acolhedora e até mesmo pessoas da comunidade com vínculo significativo com a criança tambémdevem ser ouvidos e orientados para apoiar a escuta adequada da criança. Isto porque a relação de proximidade e confiança estabelecida pode favorecer a expressão da criança, além do conhecimento de suas necessidades, expectativas e desejos. É imprescindível que a família de origem seja também sempre informada, incluída e ouvida. Sua opinião precisa ser considerada para a tomada de decisões. É importante que suas expectativas, motivações, potencialidades, dificuldades, necessidades e desejos sejam conhecidos e que possam opinar, sobretudo quanto às ações capazes de apoiar uma possível retomada do convívio com a criança. Em casos de colocação em família substituta, esta deve, igualmente, participar desse processo e ser escutada para a adequada preparação para o desligamento da criança. Capacitação dos educadores/cuidadores Ações de capacitação e de educação permanente para as famílias acolhedoras e os educadores/cuidadores devem contemplar a importância da construção de vínculos afetivos seguros com as crianças, que são fundamentais para o desenvolvimento saudável. Estas ações podem ser organizadas com vários formatos que vão desde a capacitação por intermédio do acesso a cursos, até a incorporação no cotidiano dos serviços de atividades simples, como rodas de conversas sistemáticas da equipe com os cuidadores, grupos de estudos a partir da discussão de algum caso ou filme, treinamentos em serviço, etc. Famílias acolhedoras experientes podem participar de atividades, compartilhando suas vivências e aprendizados com outras famílias que estejam sendo preparadas ou acompanhadas. A capacitação deve ser sempre planejada como um percurso e conduzida de forma gradativa. É importante que contemple o conhecimento sobre o desenvolvimento na primeira infância e a preparação para observar, escutar e abordar com a criança questões mais 13 sensíveis, como o afastamento do convívio familiar, o acolhimento e o desligamento, quando for o caso, em razão da reintegração familiar ou encaminhamento para adoção. O processo de formação continuada deve se dar também a partir das dúvidas e angústias que surgem no cotidiano dos cuidados e relações com as crianças acolhidas. Conectar as experiências com os conteúdos e evidências cientificas já existentes sobre os mais variados temas é fundamental para que o processo formativo tenha de fato um sentido para quem participa dele. Muitas vezes, lidamos com questões ligadas a conteúdos emocionais e inconscientes, não apenas com a falta de informações. Criar espaço para que esses conteúdos possam ser percebidos, expressados e elaborados aprimora o serviço de acolhimento, seja ele qual for. Temporalidade Durante o acolhimento, um aspecto que não se pode perder de vida é a questão do tempo. A previsão no ECA de que a permanência no serviço de acolhimento institucional não deve se prolongar por mais de 18 (dezoito) meses, salvo nos casos em que for necessária para atender ao superior interesse da criança ou adolescente, tem como objetivo, justamente, evitar possíveis impactos ao desenvolvimento, em razão do prolongamento desnecessário da privação do convívio em ambiente familiar, especialmente na primeira infância. Além disso, deve-se considerar que a percepção da de tempo da criança não é a mesma do adulto. Fortalecimento dos vínculos e do convívio saudável com a família de origem O investimento na preservação e no fortalecimento dos vínculos familiares deve ser buscado sempre que não houver determinação judicial em contrário e considerar a motivação da família e da criança para a manutenção dos vínculos e a retomada do convívio. Deve abranger ações voltadas a: • contato, (re)aproximação, presença e participação da família na vida da criança; • construção da relação de confiança entre crianças e suas famílias e destas com os profissionais do serviço de acolhimento; • identificação de convívio prévio e de vínculos significativos na família extensa, com ações que viabilizem o fortalecimento de tais vínculos; • acompanhamento da família (natural ou extensa), em parceria com a rede, visando a potencialização da capacidade de proteção e cuidados e o fortalecimento das redes 14 sociais de apoio que possam favorecer a retomada do convívio e apoiar os cuidados com a criança, no caso de reintegração familiar. O fortalecimento de vínculos e do convívio saudável da criança com sua família de origem deve contemplar, necessariamente, ações voltadas às: • questões subjetivas:relativas ao campo relacional, envolvendo vinculações e afeto; motivações para a retomada do convívio; expectativas, sonhos e desejos; fortalecimento da autonomia; identificação de potencialidades das crianças e suas famílias; empoderamento e ampliação das competências relacionais da família; construção de novos projetos de vida que envolvam a retomada do convívio; mudanças em padrões de relacionamento; conscientização por parte da família acerca dos motivos que levaram ao acolhimento e de sua função junto à criança; compromissos assumidos frente à perspectiva da retomada do convívio (acesso a serviços convivência e fortalecimento de vínculos, PAIF, etc); • questões objetivas:relativas à ampliação de acessos a recursos das diversas políticas públicas que possam impactar as condições concretas de vida e apoiar a família no desempenho do cuidado e proteção da criança (acesso a programas de transferência de renda, a benefícios, oportunidades de preparação e participação do mundo do trabalho, moradia, etc). As ações voltadas a responder às vulnerabilidades objetivas são fundamentais para apoiar as famílias, ampliar o acesso a recursos, suportes e apoios das diversas políticas públicas e reduzir o estresse e as tensões advindos da própria condição de exclusão, de não acesso e dificuldades reais para conciliar cuidados e sobrevivência do núcleo familiar. Na mesma direção, as ações voltadas às questões subjetivas são fundamentais para empoderar a família, construir novos padrões de relacionamento, evitar agravamentos e reduzir vulnerabilidades e riscos, buscando a efetiva superação das situações que tenham motivado o afastamento da criança ou adolescente. Considerar essas duas dimensões é fundamental para que a reintegração familiar seja exitosa e não ocorra a necessidade de novos afastamentos. Para contemplar estas duas dimensões no trabalho com as famílias, o PIA deve prever, necessariamente, ações nessa direção que possam ser desenvolvidas pelo próprio serviço de acolhimento, por meio da atuação da equipe técnica e dos educadores/cuidadores, assim como pela rede socioassistencial mais ampla e as demais políticas públicas. 15 A convivência comunitária Toda criança que esteja em serviço de acolhimento deve ter o seu direito à convivência comunitária resguardado. De acordo com o ECA, o acolhimento, quando necessário, deve ocorrer em serviço o mais próximo possível da residência dos pais ou responsáveis, como objetivo de facilitar o contato da criança e preservar vínculos comunitários já existentes (amigos, vizinhos, pessoas com vínculos significativos na comunidade, etc.). Nessa direção, as Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes (CNAS e CONANDA, 2009) recomendam que, sempre que possível, as crianças sejam mantidas na mesma creche ou escola e nas demais atividades que costumavam frequentar antes do acolhimento (esportivas, culturais, religiosas, dentre outras). Quando uma criança é acolhida, é importante que se busque identificar pessoas da comunidade com vínculos significativos e se avalie o benefício de propiciar, desde o início, a manutenção destes contatos. No caso de crianças originárias de povos e comunidades tradicionais, a preservação da convivência e dos vínculos com sua comunidade de origem são fundamentais para reduzir os impactos do acolhimento.Durante o acolhimento as crianças devem ter a oportunidade de construir novos vínculos comunitários. É importante que participem da vida diária da comunidade (festividades, eventos, etc.) e se relacionem com crianças e adolescentes da comunidade. É recomendado, ainda, que atividades esportivas, culturais e de lazer sejam realizadas de modo individualizado, para facilitar o contato e o estabelecimento de vínculos com outras crianças da comunidade, considerando, ainda, o interesse, as habilidades e o estágio de desenvolvimento de cada criança. Garantidas restrições essenciais à sua segurança, crianças e adolescentes devem circular pela comunidade de modo semelhante àqueles de sua mesma faixa etária – caminhando, usando o transporte público ou bicicletas – contando com a companhia de educadores/cuidadores ou outros responsáveis quando o seu grau de desenvolvimento ou a situação assim exigir. No convívio com a comunidade deve ser oportunizado que crianças e adolescentes possam tanto receber seus colegas nas dependências do serviço como participar, por exemplo, de festas de aniversário de colegas da escola. (BRASIL, 2009, p.57). 16 4.3. Acompanhamento da situação familiar, preparação para o desligamento e acompanhamento após o desligamento O desligamento do serviço deve ser planejado como uma etapa que envolve o trabalho com a situação familiar, a identificação da melhor medida para o desligamento, a preparação dos envolvidos, o desligamento em si e o acompanhamento após o desligamento. No caso das crianças na primeira infância, o desligamento pode ser motivado pela possibilidade da reintegração familiar segura - com a família natural ou extensa com vínculos; ou da colocação em família adotiva. É importante que todos os envolvidos sejam preparados para o desligamento e que sejam realizados rituais para despedida, de forma gradativa, do ambiente do acolhimento, da família acolhedora, do educador/cuidador, dos demais profissionais e das outras crianças e adolescentes com os quais se tenha construído vínculos durante o acolhimento. O trabalho de acompanhamento da situação familiar e de preparação para o desligamento é essencial para se prevenir situações de retorno ao serviço de acolhimento após tentativa mal sucedida de reintegração familiar ou adoção, as quais podem ser ainda mais traumáticas, sobretudo, para crianças na primeira infância que já vivenciaram experiências anteriores de separações e rupturas de vínculos. O serviço de acolhimento precisa estar sensível e contemplar ações para o acolhimento das angústias e reações que podem emergir nas crianças e adolescentes que permanecem no serviço, a cada um que se desliga com a perspectiva de colocação em uma família definitiva. Desde o planejamento do desligamento, devem-se vislumbrar ações que serão desenvolvidas na etapa seguinte, ou seja, de acompanhamento após o desligamento, o que deve ser assegurado pelo período de pelo menos 6 (seis) meses em quaisquer destes casos. a. Reintegração Familiar Entende-se por reintegração familiar todo o percurso que abrange os investimentos nas possibilidades de retorno ao convívio com a família de origem (natural ou extensa com vínculo afetivo). Este percurso, que pode se iniciar logo após o Estudo da Situação, estende-se até o acompanhamento após o desligamento do serviço de acolhimento. Mais do que um reagrupamento físico, a reintegração familiar é um processo gradativo que envolve contatos iniciais com a família (natural ou extensa com vínculos), 17 acompanhamento da situação familiar, o trabalho com os vínculos afetivos, suportes à família para a superação da situação que motivou o acolhimento, compromissos assumidos pelos pais/responsáveis e a construção apoiada de um projeto conjunto (criança/adolescente e família) de retomada do convívio e manutenção dos vínculos afetivos (GRUPO INTERAGÊNCIA DE REINTEGRAÇÃO INFANTIL, 2016). Com base no ECA, a reintegração familiar deve ser viabilizada nos casos em que se mostrar a melhor medida para assegurar o superior interesse da criança. Além de uma avaliação de riscos à integridade da criança, os vínculos afetivos, o desejo pelo convívio e o comprometimento da família devem ocupar lugar central na decisão quanto à reintegração familiar, quer seja com a família natural, quer seja com a família extensa que mantenha vínculo de afeto e convivência com a criança. Os vínculos afetivos, as expectativas e os desejos pela retomada do convívio, aliados ao compromisso da família com a responsabilidade de proteção e cuidados, são aspectos que devem prevalecer sobre o mero vínculo consanguíneo, quando da avaliação acerca da reintegração familiar representar ou não a melhor medida para a criança.A família deve ser sempre informada, para que tenha consciência das possíveis decisões do Juiz da Infância e da Juventude e dos aspectos que serão considerados para tanto. É preciso que, ao longo do acompanhamento, sejam identificadas as necessidades da criança e de suas famílias, bem como fortalecidos os recursos (pessoais, familiares e de acesso à rede e a direitos) que possam contribuir para a superação dos motivos que levaram ao acolhimento, desempenho da função de cuidado e proteção e fortalecimento das possibilidades de retomada do convívio. No decorrer do acompanhamento familiar é preciso identificar, ainda, qual o contexto mais favorável e protegido para se viabilizar a reintegração familiar. Como exemplo podemos citar o de uma criança que, antes do acolhimento, vivia com os pais e sofreu violência do pai e que, posteriormente, é reintegrada ao convívio com a mãe e o avô. Ao longo de todo este percurso, deve-se assegurar o protagonismo da família e da criança, com escuta qualificada e atenta às expectativas, angústias e inseguranças, assim como aos anseios, desejos e medos que emergem não somente da separação do convívio, mas, também, da possibilidade de sua retomada. 18 Nesse sentido, é preciso que crianças e famílias: (...) entendam e concordem com as estratégias de reintegração e apoio. Assim, é importante ser claro sobre os serviços que estão sendo oferecidos (...), benefícios e riscos – e, em seguida, obter a permissão do pai/responsável e da criança/adolescente para continuar. É de extrema importância consultar as crianças/adolescentes regularmente e verificar continuamente o seu consentimento. (GRUPO INTERAGÊNCIAS, 2016, p. 16, com ajustes de tradução) Pessoas da família extensa e da comunidade que tenham vínculos afetivos significativos com a criança devem ser identificadas e envolvidas no processo de reintegração familiar. Isso porque fortalecer as redes familiares e sociais de apoio aos pais se constitui como ação de suma importância para o suporte no desempenho de seu papel de cuidado e proteção. Um processo de reintegração familiar seguro somente pode ser conduzido se contar com o suporte da rede. O acompanhamento da família pelo PAEFI, articulado ao serviço de acolhimento, tem papel central nesse sentido. Assim, é importante que esta parceria seja assegurada desde o planejamento inicial das ações previstas no PIA. Além disso, deve-se incluir a equipe interprofissional do poder Judiciário, de modo a assegurar agilidade na comunicação e acompanhamento sistemático dos casos por parte da Justiça. Realizadas todas as ações necessárias, há dois desfechos possíveis: a conclusão da possibilidade de reintegração familiar ou a constatação da impossibilidade de reintegração ao convívio com a família de origem e, portanto, a necessidade de se adotar os procedimentos necessários ao encaminhamento para adoção. Recomenda-se que esta conclusão envolva, além do serviço de acolhimento e do CREAS, os profissionais da equipe interprofissional da Justiça da Infância e da Juventude e da rede que estejam acompanhando a família e a criança/adolescente.Sendo concluída a impossibilidade de reintegração familiar, em observância aos dispositivos legais, o serviço de acolhimento deverá enviar “relatório fundamentado ao Ministério Público, no qual conste a descrição pormenorizada das providências tomadas e a expressa recomendação (...) para a destituição do poder familiar, ou destituição de tutela ou guarda” (ECA, Art. 101, §9º). O ECA prevê, ainda, prazos para o Ministério Público ingressar com ação de destituição do poder familiar, a partir do recebimento do relatório e a inclusão no cadastro de crianças e adolescentes em condições de serem adotados (ECA, Art. 50). Quando o acompanhamento apontar possibilidades mais concretas de retomada do convívio familiar, recomenda-se que o serviço de acolhimento discuta o caso com a equipe 19 interprofissional da Justiça da Infância e da Juventude e dê ciência à autoridade judiciária de que serão iniciadas as medidas para a preparação da família e da criança para o desligamento e a retomada gradativa do convívio. De acordo com o Art. 19, § 1o do ECA “Toda criança ou adolescente que estiver inserido em programa de acolhimento familiar ou institucional terá sua situação reavaliada, no máximo, a cada 3 (três) meses, devendo a autoridade judiciária competente, com base em relatório elaborado por equipe interprofissional ou multidisciplinar, decidir de forma fundamentada pela possibilidade de reintegração familiar ou pela colocação em família substituta”. Estas medidas podem incluir, por exemplo, o início de visitas da criança ao lar da família de origem para passar finais de semana, de modo a viabilizar um retorno gradativo e as adaptações necessárias. Assim, o acompanhamento da família e da criança durante a preparação para o desligamento deve apoiar a construção de uma perspectiva de retorno e contemplar escuta e conversas que contribuam para seu planejamento concreto e trabalho tanto com questões subjetivas – como inseguranças e expectativas e possíveis mudanças na dinâmica familiar a partir do retorno, reaproximação afetiva, etc. – como com questões objetivas – como vaga em creche ou escola no território onde vive a família, integração dos responsáveis familiares ao mundo do trabalho e acesso à renda, reorganização da rotina diária da família a partir do retorno da criança, assim como mudanças na rotina diária da própria criança, compromissos por parte da família, etc. Autorizado o desligamento pela autoridade judiciária, a criança retornará ao convívio com a família, sendo recomendado que haja acompanhamento do CREAS, em parceria com o serviço de acolhimento, durante o período após o desligamento. No acompanhamento após o desligamento, é importante que os profissionais envolvidos atuem como mediadores deste processo. Não se trata de “fazer por”, mas de estar presente e fornecer suportes e mediações para que a família seja a protagonista deste processo, fortalecendo sua capacidade de tomar decisões, iniciativas, de reorganizar sua rotina diária, de reestabelecer uma relação de afeto segura com a criança, etc. Isso contribuirá para o fortalecimento da autoestima e confiança da própria família em suas capacidades. Os profissionais devem estar disponíveis para trabalhar com questões socioemocionais. Isso porque, nesse momento, podem emergir, por exemplo, sentimentos de angústias e reações decorrentes da separação, sobretudo por parte da criança; “mitos” e “crenças”, por parte da família, de que a criança estaria melhor cuidada no serviço de 20 acolhimento em razão da ausência de recursos materiais e “choques” gerados pelas diferenças culturais, de rotina, regras e funcionamento do lar familiar e do serviço de acolhimento, podendo este risco ser maior nos casos de afastamento mais prolongado. Você pode ouvir a seguir um relato de uma cuidadora, acerca de um serviço de acolhimento premiado por boa prática de reintegração familiar: A importância do cuidar https://anchor.fm/obraseducativas/episodes/A-importncia-do-cuidar---Elma-en1s1g O encerramento do acompanhamento pela equipe do serviço de acolhimento não implica, necessariamente, no desligamento da família de outros serviços que possam estar acompanhando-a. Assim, pode-se avaliar se a família continua em acompanhamento no CREAS, no CRAS, em outros serviços da rede, para atender suas necessidades, sem que isso esteja mais permeado sob a égide da questão legal. O desligamento do serviço de acolhimento deve estar embasado em informações confiáveis de que o retorno à família de origem é uma decisão viável e segura no que se refere à proteção e à garantia do melhor interesse da criança. Apenas quando esgotada esta possibilidade, deve-se buscar o encaminhamento para família substituta. b. Adoção: Em alguns casos, as ações do PIA voltadas à promoção da reintegração familiar poderão levar à identificação da impossibilidade da retomada do convívio com a família de origem (natural ou extensa), levando a ações e articulações com o Poder Judiciário e o Ministério Público para subsidiar a tomada de decisão e encaminhamento para colocação em família substituta, como forma de garantir o direito à convivência familiar. É importante destacar que esta medida é de competência exclusiva da autoridade judiciária. A adoção será tratada com mais detalhes na Unidade 4. https://anchor.fm/obraseducativas/episodes/A-importncia-do-cuidar---Elma-en1s1g 21 Figura 2: Quadro síntese do Percurso de trabalho caso-a-caso nos serviços de acolhimento. Fonte: SNAS/SEDS/MC. Elaboração: Gabinete/SNAS/SEDS/MC Para saber mais sobre os Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes e o Trabalho de Reintegração Familiar: • BRASIL. Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária. Brasília, CONANDA e CNAS, 2006. Disponível em: http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/Pla no_Defesa_CriancasAdolescentes%20.pdf http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/Plano_Defesa_CriancasAdolescentes%20.pdf http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/Plano_Defesa_CriancasAdolescentes%20.pdf 22 • Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais (BRASIL, 2009). Resolução CNAS nº 109, de 11 de novembro de 2009, que reúne os serviços socioassistenciais que integram o SUAS e sua descrição, inclusive os serviços de acolhimento para crianças e adolescentes. Disponível em: http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Normativas/ti pificacao.pdf • Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes” (BRASIL, 2009). Normativa do SUAS que reúne os parâmetros para a organização, o funcionamento e o atendimento nesses serviços, em suas diferentes modalidades de oferta, incluindo desde orientações metodológicas, sobre os recursos humanos, até o espaço físico. Disponível em: http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/orie ntacoes-tecnicas-servicos-de-alcolhimento.pdf • Orientações Técnicas para Elaboração do Plano Individual de Atendimento (PIA) de Crianças e Adolescentes em Serviços de Acolhimento (BRASIL, 2009). O documento reúne orientações para o planejamento caso-a-caso do PIA, com as ações e atividades a serem desenvolvidas com a criança/adolescente e sua família durante o período de acolhimento. Disponível em: http://blog.mds.gov.br/redesuas/plano-individual-de-acolhimento-pia- orientacoes-tecnicas/ • CENSO SUAS: Realizado anualmente pela Secretaria Especial de Desenvolvimento Social do Ministério da Cidadania, tem a finalidade de coletar informações sobre os serviços que integram o SUAS. É a maior fonte de informações do SUAS sobre os serviços de acolhimento para crianças e adolescentes existentes no país, reunindo dadosinformados pelos municípios, DF e Estados. Disponível em: http://aplicacoes.mds.gov.br/snas/vigilancia/index2.php • Prontuário Suas – Acolhimento Institucional de Crianças e Adolescentes: Instrumento que visa organizar e qualificar as informações relativas à criança/adolescentes e de suas relações familiares e afetivas, e que são necessárias ao diagnóstico, ao planejamento e ao acompanhamento do trabalho social.Constituído por um conjunto de fichas independentes destinadas ao registro da rotina individual de cada criança e adolescente em serviço de acolhimento, http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Normativas/tipificacao.pdf http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Normativas/tipificacao.pdf http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/orientacoes-tecnicas-servicos-de-alcolhimento.pdf http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/orientacoes-tecnicas-servicos-de-alcolhimento.pdf http://blog.mds.gov.br/redesuas/plano-individual-de-acolhimento-pia-orientacoes-tecnicas/ http://blog.mds.gov.br/redesuas/plano-individual-de-acolhimento-pia-orientacoes-tecnicas/ http://aplicacoes.mds.gov.br/snas/vigilancia/index2.php 23 o Prontuário SUAS – Acolhimento para Crianças e Adolescentes permite o acompanhamento da jornada e da história do usuário na sua relação com os serviços socioassistenciais. Disponível em: http://blog.mds.gov.br/redesuas/prontuario-suas-acolhimento/ e http://blog.mds.gov.br/redesuas/wp- content/uploads/2019/01/Manual_Prontuario-Eletr%C3%B4nico-do- SUAS_Acolhimento-de-Crian%C3%A7a-e-Adolescente-1.pdf • Provimento CNJ n.º 32/2013 do Conselho Nacional de Justiça. Normativa do CNJ que estabelece a obrigatoriedade da realização das Audiências Concentradas para reavaliação semestral das medidas de acolhimento, por meio da homologação e revisão dos PIAS de crianças e adolescentes acolhidos, a serem realizadas sempre que possível nas dependências das entidades de acolhimento, com a presença dos atores do Sistema de Garantia de Direitos da criança e do adolescente. Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/atos-normativos?documento=1789 https://geracaoamanha.org.br/orfaos-da-romenia/ • GRUPO INTERAGÊNCIA DE REINTEGRAÇÃO INFANTIL. Diretrizes para reintegração familiar de crianças e adolescentes, 2016. Disponível em: https://movimento- nacional.s3.amazonaws.com/uploads/ckeditor/attachments/149/RG_BrazPortugu ese_digital.pdf • BRASIL. Serviço de acolhimento para crianças e adolescentes: Proteção integral e garantia de direitos. Brasília, MDS e Fiocruz, 2018. Disponível em: http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/201 9/Curso_Serv_%20acolhimento_criancas_adolesc_protecaointegral.pdf • Guia Prático de Trabalho Social com Famílias. Rio de Janeiro: Associação Terra dos Homens (Autores: Adriana P.S.Graham e Valéria Brahim), 2013. • Fazendo Valer um Direito. Grupo de Trabalho Nacional Pró-Convivência Familiar e Comunitária. Rio de Janeiro: Terra dos Homens, 2008. • De Volta para Casa: A Experiência da Casa de Acolhida Novella no Fortalecimento da Convivência Familiar e Comunitária. (Autora: Maria Lúcia C. R. Gulassa). São Paulo: Fundação ABRINQ, 2007. Disponível em: https://issuu.com/fundacaoabrinq/docs/de_volta_pra_casa_fadc/35 http://blog.mds.gov.br/redesuas/prontuario-suas-acolhimento/ http://blog.mds.gov.br/redesuas/wp-content/uploads/2019/01/Manual_Prontuario-Eletr%C3%B4nico-do-SUAS_Acolhimento-de-Crian%C3%A7a-e-Adolescente-1.pdf http://blog.mds.gov.br/redesuas/wp-content/uploads/2019/01/Manual_Prontuario-Eletr%C3%B4nico-do-SUAS_Acolhimento-de-Crian%C3%A7a-e-Adolescente-1.pdf http://blog.mds.gov.br/redesuas/wp-content/uploads/2019/01/Manual_Prontuario-Eletr%C3%B4nico-do-SUAS_Acolhimento-de-Crian%C3%A7a-e-Adolescente-1.pdf https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/atos-normativos?documento=1789 https://geracaoamanha.org.br/orfaos-da-romenia/ https://movimento-nacional.s3.amazonaws.com/uploads/ckeditor/attachments/149/RG_BrazPortuguese_digital.pdf https://movimento-nacional.s3.amazonaws.com/uploads/ckeditor/attachments/149/RG_BrazPortuguese_digital.pdf https://movimento-nacional.s3.amazonaws.com/uploads/ckeditor/attachments/149/RG_BrazPortuguese_digital.pdf http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/2019/Curso_Serv_%20acolhimento_criancas_adolesc_protecaointegral.pdf http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/2019/Curso_Serv_%20acolhimento_criancas_adolesc_protecaointegral.pdf https://issuu.com/fundacaoabrinq/docs/de_volta_pra_casa_fadc/35