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AVALIAÇÃO LABORATORIAL DO FÍGADO Aline Moraes – Medicina Veterinária – UNIFAA. 2021 ANATOMIA DO FÍGADO O fígado é a maior glândula isolada do corpo e corresponde de 2 a 5% do peso corporal no organismo. Potencial mitótico dos hepatócitos é mantido durante toda a vida do organismo + hipertrofia = restauração do órgão lesado. A exposição crônica geralmente resulta na alteração da função orgânica, na diminuição do órgão e no aumento do tecido conjuntivo fibroso intra-hepático (cirrose). FUNÇÕES DO FÍGADO As funções hepáticas diretamente relacionadas aos hepatócitos são: Síntese e armazenamento o Albumina o Fibrinogênio o Aalfa e beta-globulinas o Lipoproteínas o Colesterol o Glicogênio (glicogênese) o Vitamina A, D, K e complexo B o Todos os fatores de coagulação, exceto o fator VIII e do cálcio Secreção e excreção Funções relacionadas à síntese e secreção de substâncias que são lançadas à bile. Bilirrubina: pigmento biliar derivado do metabolismo da hemoglobina. Colesterol, gorduras, fosfolipídios, eletrólitos também são componentes da bile. A reabsorção seletiva de alguns componentes da bile e a sua ressecreção posterior pelo fígado são realizadas através da circulação enterro-hepática. Biotransformação O organismo produz (hormônios, metabolitos), absorve (toxinas) ou recebe inoculação (drogas) de compostos biologicamente ativos e/ou tóxicos. A função fagocitária das células de Kupffer complementa a atividade biotransformadora do hepatócito. Metabolismo CHO → gliconeogênese; ciclo do ácido lático PTN → desaminação e produção de acetoácidos (síntese de LPD ↔ a.a cetogênicos) LPD → oxidação das gorduras; corpos cetônicos ↔ hepatócitos Devido à notável diversidade do fígado, a disfunção desse órgão pode resultar em diversas anormalidades laboratoriais. DOENÇA HEPÁTICA X INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA Doença hepática: Inclui quaisquer distúrbios que causam lesão de hepatócitos e/ou colestase, como: Hipóxia Doenças metabólicas (hiperadrenocorticismo) Intoxicação Inflamação Neoplasia Traumatismo mecânico Obstrução de ducto biliar extra ou intra- hepática É comum o fígado ser secundariamente acometido por doenças primárias em outros tecidos. Insuficiência hepática: Decorrente de doença hepática, sendo reconhecida pela insuficiência em depurar o sangue das substancias normalmente excretadas pelo fígado e pela falha na síntese de substancias normalmente produzidas por ele. Nem sempre a doença hepática resulta em insuficiência hepática. Insuficiência ↔ > 70 – 80% perda da massa hepática funcional. Os testes p/ diagnóstico de doença ou insuficiência hepática incluem: Dosagem da atividade sérica de enzimas que detectam lesão de hepatócitos Dosagem da atividade sérica de enzimas que detectam colestase Testes que avaliam função hepática ENZIMAS DE EXTRAVASAMENTO (ALT AST SDH GLDH) Enzimas que passam p/ o espaço extracelular e, em seguida, p/ o sangue. Estão presentes no citosol e/ou em organelas que extravasam após lesão celular subletal ou letal (necrose) O aumento da atividade sérica pode ser detectado nas primeiras horas após a lesão. DE INDUÇÃO (ALP) Envolve o ↑ da produção de uma enzimas por células que normalmente a sintetizam em menor quantidade induzido por algum tipo de estimulo → ↑ liberação da enzima pelas células ↑ atividade no soro sanguíneo Estão presentes nas membranas celulares e seu aumento depende principalmente do aumento da produção e ocorre mais lentamente (em dias em vez de horas) ESPECIFICIDADE TECIDUAL DAS ENZIMAS Está relacionada com: Presença ou ausência da enzima no tecido: ↑ da atividade sérica de uma enzima ↔ apenas os tecidos onde essa enzima está presente são considerados locais potenciais de lesão [ ] de enzimas nos tecidos: Pode estar em vários tecidos, mas sua [ ] é ↑ apenas em um ou em algum deles; ↑ da atividade sérica enzima ↔ tecidos de maior [ ] são os locais mais prováveis de lesão Destino da enzima após extravasamento ou secreção: Alguns tecidos podem apresentar ↑ [ ] de enzimas extravasadas ou secretadas, mas não alcançam a corrente sanguínea. Por ex.: lesão às células do ep. renal com extravasamento de GGT, com ↑ da atividade de GGT na urina, mas atividade sérica inalterada TESTES DE FUNÇÃO HEPÁTICA Incluem mensurações séricas de substancias que normalmente são removidas do sangue pelo fígado para, em seguida, serem metabolizados ou excretados pelo sistema biliar. DETECÇÃO DE LESÃO DE HEPATÓCITOS Determinados pelas atividades de enzimas séricas de extravasamento hepatocelular. ALT (alanina aminotransferase) Transaminase hepato-específica dos carnívoros utilizada p/ avaliação de lesão hepática ↔ liberada por hepatócitos lesionados Livre no citoplasma. Não é totalmente hepatoespecífica ↔ doença ou lesão muscular grave pode ↑ da atividade sérica Atividade de ALT nos mm: ↓ que no fígado Como a massa muscular ↑ que massa hepática → massa muscular: fonte significativa de extravasamento de ALT ↔ considerar a possibilidade de necrose ou lesão subletal de células musculares AST (aspartato aminotranferase) Presente em ↑ [ ] nos hepatócitos e nas células musculares (esqueléticas e cardíacas) ↔ menos hepatoespecífica que ALT Mais sensível p/ detecção de alguns tipos dele lesão de hepatócitos. Por ex.: gatos com lipidose hepática GLDH (glutamato desidrogenase) ↑ [ ] nas mitocôndrias dos hepatócitos Lesões reversíveis e irreversíveis de ALT: ↑ atividade sérica de GLDH TESTES P/ DETECÇÃO DE COLESTASE Comprometimento do fluxo biliar é detectado pelas enzimas ALP / FA e GGT. ALP / FA (fosfatase alcalina) Enzima de indução presente nas membranas celulares, sintetizada no fígado, ossos, rins, intestinos, pâncreas e placenta. Maior atividade sérica normal de ALP é oriunda do fígado. ↑ produção de ALP e de sua atividade sérica = colestase / maior atividade osteoblástica / indução por medicamentos / doenças crônicas Gatos: possuem menores quantidades de FA hepatocelular ↔ qualquer elevação de atividade nessa espécie é significativa p/ diagnostico de distúrbios hepatocelulares, mas nem todos os gatos com doença hepatocelular podem apresentar elevação de FA. Alterações nos valores de FA podem estar relacionadas à: o Lipidose hepática o Colangites e colangiohepatites o Hipertieoidismo o Diabetes mellitus BILIRRUBINAS Envolve a mensuração do teor de bilirrubina total, direta (conjugada) e indireta (não conjugada) no soro sanguíneo São formadas fisiologicamente através da degradação da hemoglobina, uma proteína conjugada composta das frações heme e globina. Heme: sintetizada na mitocôndria eritrocitária e somente produzida em células eritróides imaturas, até o estágio de reticulócitos. Origina ferro (reciclado) e protoporfirina (biliverdina → bilirrubina) Globina: sintetizada nos ribossomos de eritrócitos nucleados e transformada em aminoácidos. A hemoglobina é liberada de forma livre quando ocorre hemólise, sendo rapidamente decomposta (meia-vida de 4 horas) por oxidação, ligando-se à haptoglobina e rapidamente excretada nos rins com hemoglobinúria ou destruída pelos retículos. A bilirrubina liberada no plasma é ligada à albumina p/ o transporte até as células hepáticas, onde é conjugada em ácido glicurônico. A bilirrubina conjugada (direta) é normalmente secretada através dos canalículos biliares e excretada pela bile na luz intestinal. No trato intestinal, a bilirrubina é degradada por bactérias a urobilinogênio para sua excreção via fezes. Pequenas quantidades de bilirrubinadireta e urobilinogênio normalmente escapam à re-excreção hepática e são excretadas na urina. Bilirrubina indireta ↔ responsável pela icterícia Alteração das bilirrubinas A bilirrubina não conjugada (indireta) é liberada pelos macrófagos e carreada pela albumina até o fígado. Os hepatócitos removem a bilirrubina da albumina e formam um diglicuronato de bilirrubina (direta ou conjugada) que será secretada pelos canalículos biliares até a bile. Deve-se lembrar que normalmente ao existir sinais clínicos de problemas hepáticos 80% deste órgão está comprometido. Icterícia Bilirrubina total acima de 1mg/dL. A presença ou ausência de icterícia não pode ser avaliada com sentido diagnóstico ou prognóstico. Septicemia, ruptura vesical e enterites algumas vezes podem causar disfunção hepática secundária, podendo ocorrer icterícia. Hiperbilirrubinemia A hiperbilirrubinemia sempre indica doença hepatobiliar ou hematopoiética. Entretanto, há doenças hepáticas e hematopoiéticas não relacionadas com a icterícia, e as doenças nestes sistemas podem ser ainda secundárias a outras doenças. Pode ser classificada quanto à: o Liberação de bilirrubina em grande quantidade na circulação: pré- hepática Causada quando há aumento de aporte de bilirrubina ao fígado ↔ hemólise intravascular → hemoglobinemia → sobrecarga à conjunção hepática Sinais clínicos: urina e fezes escuras Retirar a causa hemolítica e ter atenção ao quadro hematológico do animal. o Falha de conjugação: hepática Causada por disfunção hepática por lesão toxica ou infecciosa ↔ redução da capacidade enzimática Obstrução dos canalículos biliares ↔ colestase ↑↑↑ bilirrubina indireta (disfunção) e bilirrubina direta ↑ urobilinogênio circulatório e urinário (lembrando que pode não haver aumento) o Deficiência na secreção: pós- hepática Ocorre por obstrução das vias biliares ↔ colestase ↑ bilirrubina direta (obstrução) ↑ bilirrubina indireta (dependendo da lesão hepatocelular causada pela colestase compressiva) Obstrução total: urobilinogenio ausente !!! Diferenciar a etiologia hepática da pós-hepática Colestase: Intra-hepática: prejuizo à excreção de bilirrubina direta ↔ infecção bacteriana extra-hepática → colestase funcional ou associada à sepse Extra-hepática: também secundária à lesões de intestino delgado ou de pâncreas ÁCIDOS BILIARES Ácidos biliares séricos Avaliação de função hepática, colestase e anormalidades da circulação porta, como um indicador sensível de colestase. São sintetizados nos hepatócitos a partir do colesterol. São armazenados e concentrados na vesícula biliar (em espécies que apresentam vesícula biliar). Emulsificação de gordura → digestão e absorção de lipídios e vitaminas lipossolúveis Possíveis causas de ↑ da [ ] sérica de ácidos biliares: Anormalidades da circulação porta ↔ shunt portossistêmico; displasia microvascular hepatoportal Prejuízos na depuração da primeira passagem dos ácidos biliares → alcançam a circulação sanguínea sistêmica Redução da massa hepática funcional ↔ importante em doenças hepáticas difusas (hepatite; necrose; hepatopatia por glicocorticoide) Menor excreção de ácidos biliares na bile ↔ decorrente de colestase hepática ou pós-hepática de qualquer causa, colestase funcional ou associada à sepse Gatos: ↑ [ ] de ácidos biliares ↔ shunt portossistêmico, colestase, cirrose, necrose, hepatite, lipidose e neoplasia Ácidos biliares na urina Quando ocorre ↑ [ ] de ácidos biliares a quantidade de ácidos biliares excretados na urina também ↑ [ ] PLASMÁTICA DE AMÔNIA E UREIA Amônia O ↑ do teor de amônia no sangue é razoavelmente específico e pouco sensível. Comum em animais com shunt portossistêmico (congênito ou secundário à cirrose grave) ↔ menor depuração de amônia da circulação porta Verificado quando há perda de 60% ou mais da massa hepática funcional. Ureia Sintetizada a partir da amônia e o meio pelo qual o organismo excreta produtos residuais nitrogenados. [ ] sanguínea de amônia ↑ e [ ] sanguínea de ureia ↓ ↔ insuficiência hepática OUTROS TESTES Relacionados com a síntese hepática: albumina, glicose, ureia e fatores de coagulação.
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