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Código Logístico 59723 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6720-6 9 7 8 8 5 3 8 7 6 7 2 0 6 M O BILID AD AD E E LO G ÍSTICA U R BAN A R afaela Aparecida de Alm eida Mobilidade e logística urbana Rafaela Aparecida de Almeida IESDE BRASIL 2021 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2021 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Kawin Ounprasertsuk/aguiters/buffaloboy/Hendry084/Zoart/Artizarus/Studio/Shutterstock CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ A45m Almeida, Rafaela Aparecida de Mobilidade e logística urbana / Rafaela Aparecida de Almeida. - 1. ed. - Curitiba [PR] : Iesde, 2021. 110 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6720-6 1. Urbanização - Brasil. 2. Crescimento urbano. 3. Planejamento urba- no. I. Título. 21-71692 CDD: 307.760981 CDU: 316.334.56(81) Rafaela Aparecida de Almeida Doutoranda e mestra em Gestão Urbana pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Especialista em Negócios Internacionais pelo Centro Universitário Internacional (Uninter). Secretária executiva bilíngue pelo Centro Universitário Diocesano do Sudoeste do Paraná (Unics). É membro do corpo editorial da Revista Brasileira de Gestão Urbana (Urbe). Atuou por 12 anos no ambiente organizacional nas áreas de comércio exterior e logística internacional. Atualmente, é docente nos cursos de Secretariado, Administração, Logística e Comércio Exterior; também é pesquisadora nas áreas de mobilidade e logística urbana. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 Espaço urbano 9 1.1 Contextualização do processo de urbanização das cidades 9 1.2 Espaço urbano: morfologia 13 1.3 Espaço urbano: desenho urbano 17 1.4 Diretrizes da estrutura urbana 20 2 Mobilidade urbana 27 2.1 Introdução à mobilidade urbana 27 2.2 A mobilidade no planejamento urbano 34 2.3 Sistemas de transporte de pessoas e cargas 36 3 Mobilidade ativa, sustentável e acessível 45 3.1 Mobilidade ativa e sustentável 45 3.2 Ciclomobilidade e caminhabilidade 50 3.3 Acessibilidade 54 4 Logística urbana 62 4.1 Introdução à logística urbana 62 4.2 Dimensões da logística urbana 69 4.3 Soluções regulamentares 74 5 Distribuição urbanade mercadorias 80 5.1 Soluções operacionais 81 5.2 Soluções de infraestrutura 85 5.3 Formas alternativas de entrega de mercadorias 90 6 Mobilidade urbana e logística urbana 94 6.1 Smart cities 95 6.2 Smart mobility 99 6.3 As cidades do futuro 102 Resolução das Atividades 106 Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! Esta obra tem por objetivo abordar as principais temáticas que envolvem a mobilidade e a logística urbana. Ao estudarmos essas duas temáticas, precisamos perceber o espaço urbano como o grande pano de fundo por detrás delas, compreendendo que é nesse espaço que ocorrem os movimentos de pessoas e de mercadorias. Ainda, que esses movimentos interferem no desenvolvimento ambiental, econômico e social das cidades e, consequentemente, na qualidade de vida de seus habitantes. O conteúdo deste livro foi dividido estruturalmente em seis capítulos, a fim de proporcionar a você um amplo conhecimento a respeito da mobilidade de pessoas e da distribuição de cargas no contexto urbano. O primeiro capítulo contextualiza o processo de urbanização vivenciado por cidades do mundo todo desde as Revoluções Industriais e mais especificamente no Brasil a partir da década de 1950, quando se intensificou seu processo de industrialização, de modo a construir o conhecimento base para a compreensão dos conceitos da morfologia urbana (formas) e do desenho urbano (funções) com vistas à compreensão das diretrizes da estrutura urbana. Atualmente, mais da metade da população mundial vive em áreas urbanas. Com o crescimento populacional, as cidades se expandem horizontalmente, incentivando o surgimento de bairros em regiões mais afastadas de seu eixo central e tornando evidente a importância da mobilidade urbana como forma de conectar origem e destino, bem como fator de desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida urbana. Nesse sentido, o segundo capítulo apresenta os conceitos base da mobilidade urbana, os modos de circulação disponíveis e a mobilidade como um dos pilares do planejamento urbano. O terceiro capítulo tem como eixo central a mobilidade ativa e sustentável, também conhecida como mobilidade não motorizada, na qual a propulsão humana é o “combustível” para o transporte de pessoas e de bens. Portanto, serão abordados os APRESENTAÇÃOVídeo 8 Mobilidade e logística urbana conceitos que permeiam a ciclomobilidade e a caminhabilidade na construção de cidades mais sustentáveis, acessíveis e inclusivas. Se por um lado a mobilidade trata do movimento de pessoas, a logística urbana diz respeito à distribuição de cargas, também conhecida como last mile, ou seja, a última etapa que bens e produtos percorrem até chegarem aos seus consumidores. O quarto capítulo trata dos conceitos base da logística urbana e das dimensões que a compõem: a espacial, os atores urbanos e a dimensão dos impactos que ela pode causar no espaço urbano, bem como as soluções regulamentares que vêm sendo implementadas em diversos países como forma de amenizar esses impactos. A logística urbana é um elemento que vem ganhando cada vez mais notoriedade e, nesse sentido, novas soluções precisam ser pensadas para o enfrentamento das negatividades que ela impõe às cidades, como congestionamentos, poluição sonora e emissões de gases poluentes. O quinto capítulo discorre sobre as soluções operacionais, de infraestrutura e formas alternativas de entrega que já estão sendo testadas em todo o mundo para reduzir os impactos provocados pela logística urbana. O sexto, e último, capítulo é um convite para a reflexão a respeito do futuro das cidades no que tange à mobilidade e à logística urbana, apresentando os conceitos de smart city e smart mobility associando o uso das tecnologias de informação e comunicação (TIC) ao planejamento urbano. Os temas abordados nesta obra proporcionarão a você, leitor, uma visão ampla das práticas da gestão urbana voltadas à mobilidade e à logística urbana. Bons estudos! Espaço urbano 9 1 Espaço urbano Com o estudo deste capítulo você será capaz de: • Compreender a evolução da dinâmica urbana. • Conhecer os conceitos de morfologia e desenho urbano. • Conhecer as diretrizes que regulamentam a estrutura urbana. Objetivos de aprendizagem O crescimento demográfico urbano se intensificou, principalmente, a par- tir da Segunda Guerra Mundial, associada à Segunda Revolução Industrial e à Revolução Verde. É nesse contexto que iniciamos este capítulo, que terá como eixo central o estudo das cidades em uma abordagem mais ampla. Começamos com a contextualização do processo de urbanização vivido nos últimos séculos, abordando os fatos e marcos históricos que incentivaram as populaçõesmundiais a migrarem das zonas rurais para as áreas urbanas, intensificando o crescimento demográfico nas cidades. Apresentaremos, na sequência, os conceitos de morfologia urbana, relacionada à forma física da cidade, e de desenho urbano, referente às funções também da cidade, composto de elementos como ruas, bairros e marcos, os quais diferenciam uma cidade da outra de acordo com seu planejamento ou evolução histórica. Para finalizar, trabalharemos as diretrizes da estrutura urbana no Brasil, representada pelo Estatuto da Cidade a nível federal, e os planos diretores a nível municipal, que são instrumentos que dão suporte e nor- teiam o planejamento e a gestão urbana. 1.1 Contextualização do processo de urbanização das cidades Vídeo Antes de iniciarmos nossos estudos a respeito do processo de urba- nização das cidades, converse com pessoas de mais idade em sua fa- mília ou na de amigos e pergunte como eram as cidades onde vivem ou viviam há 50 anos. Muitas delas, provavelmente, irão relatar uma fase em que esses lugares eram pequenos vilarejos, com pouca infraestru- tura e um número reduzido de habitantes, um cenário muito diferente do que conhecemos hoje em dia. As cidades se desenvolveram ao longo do tempo, devido a fatores como aumento populacional, revoluções industriais e migração popula- cional das áreas rurais para as urbanas. Mas, afinal, o que é a cidade? Existem diversas definições, de acordo com cada área de estudo; no entanto, podemos resumidamente dizer que cidade é um espaço físico, delimitado por um perímetro urbano, onde ocorrem interações entre seus cidadãos e o meio. De acordo com o DDesenvolvimento (2021, p. 1), dicionário do desenvolvimento elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU), cidade é: uma área urbanizada, que se diferencia de vilas e outros espaços urbanos através de vários critérios: população, infraestrutura, organização, serviços, entre outros. Uma cidade caracteriza-se por um estilo de vida particular dos seus habitantes, pela urbani- zação e pela concentração de atividades econômicas. Garbossa e Silva (2016) destacam que existem cidades seculares ou milenares, localizadas no Oriente Médio, mas foram o nascimento do comércio marítimo e o início das transações financeiras e comerciais, no final do século XV e início do século XVI, que marcaram o fortaleci- mento das cidades. O processo de industrialização vivenciado no século XIX repre- senta outro fator de propulsão do desenvolvimento urbano, segui- do pelo crescimento demográfico, principalmente em cidades da Inglaterra e França, como consequência de progressos científicos e técnicos (GARBOSSA; SILVA, 2016). Esse processo de desenvolvimento culmina na Segunda Revolução Industrial, que se inicia na metade do século XIX e termina durante a Segunda Guerra Mundial. Nesse período, para a contextualização das cidades, precisamos observar dois fatores. O primeiro é que os avanços tecnológicos permitiram Peaky Blinders se passa na cidade de Birmingham, Inglaterra, em 1919, formada meses após o final da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Nela, é possível identificar, como pano de fundo, como eram as cidades inglesas nesse período. Série SNEHIT PHOTO/Shutterstock 1010 Mobilidade e logística urbanaMobilidade e logística urbana Espaço urbano 11 o surgimento de novas indústrias e a in- trodução de novos meios de produção, aumentando a capacidade produtiva. A in- dustrialização, antes limitada à Inglaterra, se expande para outros países da Europa e para os Estados Unidos e Japão. Esses fatores demandaram mais mão de obra para o trabalho nas indústrias, o que incentivou a migração de pessoas das áreas rurais para as urbanas, formando os chamados guetos. As cidades recebiam um alto contingente de pessoas, porém não havia infraestrutura e condições sanitárias para recebê-las. Nessa época, cerca de 15% da população mundial já havia deixado o campo para viver nas cidades. O segundo ponto de destaque é o final da Segunda Guerra Mundial, marcado pelo retorno das tropas aos seus países e pelo fenômeno cha- mado baby boomer 1 , desencadeando um novo crescimento demográ- fico e incentivando a produção e o consumo (SANTOS, 2013). Com esses marcos históricos, intensifica-se o processo de urbaniza- ção nos principais centros urbanos mundiais, alterando, assim, a dinâ- mica das cidades. 1.1.1 Processo de urbanização no Brasil Vale destacar que enquanto as novas cidades e a transformação das já existentes ocorriam de maneira acelerada na Europa, o Brasil vivenciava a formação de seus primeiros aglomerados urbanos, princi- palmente nas regiões litorâneas do país. Até 1940, a população vivia essencialmente em áreas rurais, traba- lhando no cultivo do café, nas regiões de Minas Gerais e São Paulo ou na extração de borracha nos estados do Pará e Amazonas, por exem- plo. O processo de industrialização no Brasil ocorreu tardiamente, a partir dos anos de 1940 a 1950. No entanto, é esse fenômeno que passa a integrar o território nacional e expandir o consumo em formas diversas. Com isso, essa nova base econômica desencadeia o cresci- mento demográfico e a urbanização das cidades médias e grandes, es- pecialmente das capitais dos estados (SANTOS, 2013). Everett Collection/Shutterstock Pessoas nascidas entre 1946 e 1964 nos pós-guerra, gerando aumento considerável da natalidade em países europeus e nos Estados Unidos. 1 Acesse o link a seguir e acompanhe o mapa da evolução da população mundial de 1500 até a estimativa para 2050. Disponível em: https://www. visualcapitalist.com/mapping-the- worlds-urban-population-in-2050/. Acesso em: 9 abr. 2021. Curiosidade https://www.visualcapitalist.com/mapping-the-worlds-urban-population-in-2050/ https://www.visualcapitalist.com/mapping-the-worlds-urban-population-in-2050/ https://www.visualcapitalist.com/mapping-the-worlds-urban-population-in-2050/ 12 Mobilidade e logística urbana Nesse momento, o processo de urbanização nas cidades brasileiras ainda era lento. A partir da década de 1970, ocorre a inversão do local de residência dos brasileiros, quando mais da metade (56%) passa a viver em áreas urbanas, conforme mostram os dados apresentados no gráfico a seguir. Gráfico 1 Taxa de urbanização brasileira Fonte: Elaborada pela autora com base em IBGE, 2021. 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2007 2010 69 31 64 36 55 45 44 56 32 68 24 76 19 81 17 83 16 84 População rural (%) População urbana (%) Associado ao processo de industrialização, há um fenômeno deno- minado Revolução Verde, que é o conjunto de inovações tecnológicas com vistas a desenvolver e melhorar a produção agrícola e aumen- tar a produção de alimentos a partir das décadas de 1960 e 1970 (SANTOS, 2013). Com uma agricultura mais desenvolvida e a tomada de tecnologias no campo, o Brasil viveu o movimento do êxodo rural em direção aos centros urbanos. A associação desses fenômenos ou marcos na história acelerou o processo de urbanização nas cidades. Santos (2013) destaca que, em 1950, as cidades brasileiras, com população entre 20 mil e 50 mil habi- tantes, somavam uma população aproximada de 7 milhões. Em 1980, esse número saltou para 38 milhões de habitantes. Nas cidades com po- pulação de mais de um milhão de habitantes, esses dados foram de 6,5 milhões de habitantes em 1950 para 29 milhões de residentes em 1980. Espaço urbano 13 É após esse momento que se dá uma urbanização mais concentrada, com a multiplicação das cidades de tamanho intermediário e, posteriormente, com o estágio de me- tropolização (SANTOS, 2013). Segundo dados do Censo do IBGE de 2010, mais de 80% da população brasileira vive em cidades (IBGE, 2021). De acordo com dados da ONU (UNITED NATIONS, 2019), no ano 2018, cerca de 55,3% da população mundial vivia em área urbanas; para 2030, a estimativa é que esse número aumente para 60% e que uma em cada três pessoas viva emcidades com pelo menos meio milhão de habitantes. Essas informações demonstram que a população mundial está cada vez mais concentrada nas cidades e que a grande variabilidade em tamanho, morfologia e distribuição geográfica dessas, entre e dentro dos países, precisa ser considerada, a fim de implementar com sucesso um planejamento urbano e territorial sustentável e equilibrado, em diferentes escalas geográficas. Vale destacar que, de acordo com a posição geográfica e o tipo de crescimento ou desenvolvimento, as cidades foram se modificando ao longo do tempo e adquirindo formas (morfologia) e funções (desenho urbano) diferentes umas das outras. Beautiful landscape/Shutterstock 1.2 Espaço urbano: morfologia Vídeo Para Garbossa e Silva (2016), a cidade vai além da estrutura espacial que constitui o seu espaço; ela é o resultado da apropriação social e cultural do espaço, da sua história e dos seus fatores econômicos e políticos, que, juntos, determinam a sua forma. Feche os olhos por um momento e imagine a cidade onde você mora. Quais são as principais vias? Quais são os bairros mais importantes? Há monumentos históricos ou praças nela? Qual é o formato das quadras? Você sabia que todos esses elementos, dentre outros, fazem parte da morfologia urbana? Vamos entender melhor a seguir. O termo morfologia vem do grego (morphé + lógos + ía) e significa a ciência que estuda a forma. A palavra urbano, por sua vez, deriva do latim (urbanus), com o sentido de algo relacionado à urbe ou à ci- dade. Portanto, a morfologia urbana diz respeito à forma da cidade. Observe as imagens a seguir: 14 Mobilidade e logística urbana Figura 1 Seul, capital da Coreia do Sul Figura 2 Bangkok, capital da Tailândia Efi re d/ Sh ut te rs to ck M AG NI FI ER /S hu tte rs to ck Conforme é possível observar nas figuras apresentadas, cada cida- de possui uma morfologia (formas) com características específicas. De acordo com Lamas (2014, p. 38), a morfologia urbana pode ser definida como “o estudo da forma do meio urbano, das suas partes físicas exte- riores, ou elementos morfológicos, e na sua produção e transformação no tempo”. Esse conceito é reforçado por Carmona et al. (2010), que a definem como a análise da configuração dos assentamentos humanos, atentando-se aos padrões locais de desenvolvimento e aos processos de mudança ao longo do tempo. Lamas (2014) destaca que a leitura físico-espacial e morfológica da cidade permite diferenciar um espaço ou uma forma de outros, e que, por meio da sucessão e estruturação de feições formais e de dimen- sões setoriais, torna-se possível compreender o contexto urbanístico. O autor define a morfologia urbana como resultante da organização dos elementos morfológicos, com base nos seguintes aspectos comuns a todas as cidades: Quantitativos: aspectos quantificáveis, como superfícies, fluxos e densidades. Qualitativos: englobam o tratamento espacial, que deve ser voltado ao conforto ambiental, como arborização e conforto térmico. Funcionais: atividades e necessidades humanas, inclusive as condições de utilização do solo. Figurativos: abrangem a comunicação estética dos componentes paisagísticos – monumentos, praças e jardins, por exemplo. Orientativos: características relacionadas aos sentidos humanos e aos processos perceptivos. Vi su al G en er at io n/ Sh ut te rs to ck Espaço urbano 15 Lamas (2014) acrescenta que as formas urbanas vão além das con- cepções estéticas, ideológicas, culturais e arquitetônicas, pois se encon- tram relacionadas às condições comportamentais, à utilização espacial e à integração comunitária. Isso influencia diretamente a vida social no comportamento e bem-estar dos cidadãos, levando em considera- ção os diferentes comportamentos dos indivíduos nos mais distintos espaços urbanos. Para Rossi (2001, p. 17), a morfologia urbana é “a descrição das for- mas de um fato urbano”, onde as regiões do espaço urbanizado são definidas por caracteres de homogeneidade física e social, analisando as atividades que os grupos sociais manifestam com base em determi- nadas características territoriais. Rossi (2001) trabalha o conceito de cidade como sistema espacial formado por várias partes com características próprias, a saber: Bairros: setores relativamente autônomos dentro da cidade, que independem uns dos outros e se referem a toda a estrutura urbana. São caracterizados como uma unidade morfológica e estrutural, com conteúdo social próprio e funções peculiares. Ruas: responsáveis por manter as cidades vivas. São caracterizadas de acordo com as trocas que nelas acontecem, sejam comerciais, culturais ou sociais, além de permitir a circulação dos fluxos de pessoas e cargas. Residência: relacionada ao modo de viver de uma determinada sociedade, estando intimamente ligada à forma urbana por meio da maneira como são idealizados os tipos e as características das edificações residenciais. Vi su al G en er at io n/ Sh ut te rs to ck De acordo com Lamas (2014), a morfologia urbana é classificada pelas seguintes escalas ou dimensões da forma urbana: Cidade Representada pela articulação e distribuição de diferentes formas da dimensão urbana, diferenciando os bairros entre si, arruamentos e zonas habitacionais e formando, assim, os seus elementos primários ou estruturantes. Bairro Corresponde às partes homogêneas identificáveis, sendo com- posto de uma estrutura de vias, praças ou escalas inferiores. (Continua) Se an P av on e/ Le on ar do d a/ Sh ut te rs to ck 16 Mobilidade e logística urbana Rua Trata-se da menor porção do espaço urbano e está relacionada diretamente com a formação e o crescimento da cidade, estando, ainda, vinculada à importância da mobilidade de pessoas e do deslocamento de bens. Praça Configura o espaço coletivo onde ocorrem o encontro de pessoas, a permanência dos cidadãos, os acontecimentos históricos, as práticas sociais e as manifestações da vida urbana. Qi nJ in /B AB AR OG A/ Sh ut te rs to ck Na perspectiva de Lynch (2011), um dos grandes autores do urbanismo, os elementos da forma física podem ser divididos em cinco, que se interligam: Vias: simbolizam os caminhos nos quais as pessoas se deslocam usual, ocasional ou potencialmente dentro da cidade, além de compreenderem outros elementos organizados que se relacionam ao longo desses eixos. Limites: representam as fronteiras entre duas partes do espaço para manter uma região isolada de outra e para permanecerem organizadas. Bairros: compreendem um dos elementos mais importantes, tal qual as vias, podendo ser de tamanho médio ou grande, onde os cidadãos os reconhecem por suas características comuns e identificáveis. Nós: são pontos focais ou locais estratégicos dentro da cidade – geralmente, os cruzamentos de ruas onde as atividades estão concentradas, servindo como elemento polarizador ou símbolo de um bairro. Marcos: são representados por objetos físicos situados dentro da cidade ou a uma determinada distância, a ponto de se tornarem símbolos de direcionamento; podem, ainda, ser locais, como fachadas de lojas, árvores ou outros detalhes urbanos utilizados como indicadores de identidade da cidade. Vi su al G en er at io n/ Sh ut te rs to ck Por meio das classificações apresentadas, percebemos que os ele- mentos morfológicos não estão apenas interligados, sendo possível também ver semelhanças entre eles. Embora esses elementos possam ser encontrados em praticamente todas as cidades que conhecemos, o que os diferencia é o modo como se posicionam e se organizam na construção do espaço urbano ou, então, a maneira como cada cidade foi construída e se desenvolveu ao longo de sua história. Assista ao vídeo Arquite- tura urbana e a forma da cidade – a construção do espaço urbano, publicado pelo canal Bea Pac, e am- plie o seu conhecimento a respeito do surgimento e dos tipos de cidades, conhecendo alguns exemplos de como a morfologia podeapre- sentar diferenças entre algumas das principais cidades do mundo. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=gzkth-D-_ pY. Acesso em: 9 abr. 2021. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=gzkth-D-_pY https://www.youtube.com/watch?v=gzkth-D-_pY https://www.youtube.com/watch?v=gzkth-D-_pY Espaço urbano 17 Para Lamas (2014), a forma da cidade se relaciona com a sua função, de modo a permitir o desenvolvimento das atividades que nela se processam, vinculando a morfologia (formas) ao desenho urbano (funções). 1.3 Espaço urbano: desenho urbano Vídeo A morfologia urbana se conecta ao desenho urbano pela definição de um modo de utilização e de comunicação com a arquitetura, o que vai além de organizar o território, procurando se comunicar estética e significativamente com suas funções (LAMAS, 2014). De acordo com Del Rio (1990, p. 45), o desenho urbano é o “campo disciplinar que trata a dimensão físico-ambiental da cidade, enquanto conjunto de sistemas físico-espaciais e sistemas de atividades que inte- ragem com a população através de suas vivências, percepções e ações cotidianas”, ou seja, por meio do processo inconsciente de seus usuá- rios. Assim, as funções da cidade podem ser expressas pelo melhor aproveitamento dos seus componentes espaciais e pelo modo como seus habitantes percebem e vivenciam suas funções. Da ni el T rin ity /W ik im ed ia C om m on s Dessa forma, Carmona et al. (2010) apontam seis dimensões para o desenho urbano: 18 Mobilidade e logística urbana Morfológica: consiste na associação da forma às características urbanas, por exemplo, a tipologia das ruas e dos quarteirões. Perceptual: relaciona-se à percepção socioambiental e à construção social do lugar, englobando o sentimento de pertencimento e a maneira como as pessoas percebem o espaço à sua volta. Social: ocorre pela relação entre indivíduos e espaços, com destaque para aspectos de domínio público, de segurança e de controle espacial, como ambientes que permitem a permanência e socialização dos indivíduos. Visual: refere-se às preferências estéticas dos usuários, envolvendo fatores de qualidade paisagística. Funcional: garante as condições de mobilidade e da existência de lugares para pessoas, independentemente de estrato social, permitindo os mo- vimentos urbanos. Temporal: trata da interpretação do tempo e de suas interferências espaciais. Vi su al G en er at io n/ Sh ut te rs to ck Quando pensamos nas funções que uma cidade deve oferecer a seus habitantes, é comum que nos venha à mente que o desenho urbano deve contemplar moradias, locais de trabalho, infraestrutura viária e lazer. Mas você sabia que o desenho urbano vai muito além disso? E, ain- da, que ele está associado à qualidade de vida oferecida pela cidade? O desenho urbano possui elevado impacto sobre a natureza e a vida nas cidades; é por essa razão que, ao se criar núcleos ou redesenhar aqueles já existentes, esses espaços precisam ser pensados de acordo com as necessidades físicas e sociais de seus habitantes, fornecendo lugares que podem ser sustentáveis em vários aspectos: social, am- biental e econômico (LANG, 2005). Com um adequado desenho urbano, é possível criar ambientes e espaços públicos atrativos, seguros, acessíveis e agradáveis, volta- dos à dimensão e à escala humana, onde as pessoas desejam viver, trabalhar e aproveitar momentos de lazer. Assim, torna-se possível conectar pessoas e lugares públicos, movimento e forma urbana, e natureza e tecido construído, garantindo-se o propósito de cidades atrativas (DETR, 2000). Para entender melhor, vejamos o exemplo de duas imagens distin- tas, na cidade de Curitiba, no estado do Paraná. Espaço urbano 19 ju an ig na ci o sc he no ne /S hu tte rs to ck De t-a na n/ Sh ut te rs to ck Avenida Cândido de Abreu e suas vias destinadas aos veículos (à esquerda) e Rua XV de Novembro, via exclusiva de pedestres (à direita). A primeira imagem demonstra uma via com poucos atrativos visuais e nenhum espaço para convivência ou interação entre os cidadãos. Já na segunda imagem, vemos uma via exclusiva para pedestres, com atrativos visuais, bancos para que as pessoas possam descansar ou interagir entre si, muitos pontos de comércio, arborização que ofe- rece sombreamento em dias de calor, entre outros elementos. Qual dos dois locais oferece maior segurança, acessibilidade e pare- ce mais agradável? É nesse sentido que o desenho urbano atua. Del Rio (1990) reforça que o desenho urbano busca um agencia- mento da área urbana que seja coerente para os seus usuários, es- pecialmente na integração dos elementos das dimensões físicas e ambientais. Para o autor, a qualidade da cidade está vinculada ao tra- tamento de suas partes, como calçadas, lotes e quarteirões, e ao modo como se vinculam ao todo. Com base nessa perspectiva, o autor define os seguintes critérios de qualidade do meio urbano: Utilização do solo: vinculada aos tipos de funções e à intensidade de uso do solo e das edificações. Tem o intuito de promover uma área urbanizada com a maior vitalidade possível. Configuração espacial: relacionada aos conjuntos edificados já existentes e aos novos, compatibilizando tipologias morfológicas. Circulação viária e estacionamento: entendidos como um sistema de movi- mentos, que possui elementos vitais para a animação e sobrevivência social e econômica da cidade. Vi su al G en er at io n/ Sh ut te rs to ck (Continua) 20 Mobilidade e logística urbana Espaços livres: dizem respeito às atividades sociais (encontros), culturais (even- tos), funcionais (circulação) e higiênicas (mentais e físicas), que dão vida à cidade. Percursos de pedestres: vinculados aos sistemas de circulação viária, que permitem ir e vir, integrando as relações sociais e econômicas e permitindo a caminhabilidade com segurança e acessibilidade. Atividades de apoio: ligadas à vitalidade dos espaços urbanos, que possibilitam a realização de atividades comerciais e de interatividade. Mobiliário urbano: composto de elementos que permitem o funcionamento da cidade, como iluminação pública, sistemas de sinalização e pontos de ônibus. Segundo Sallem (2006), o desenho urbano deve estar focado na experiência cotidiana humana, confrontando e entendendo os proble- mas formais da cidade, de modo que favoreça tanto a boa configuração da forma quanto as possibilidades de interesse da gestão urbana. Essa questão é reforçada por Teixeira (2013) ao ressaltar sua importância no processo de planejamento urbano, dentro de um contexto de valoriza- ção do processo consciente de desenho da cidade, como ferramenta fundamental para a construção de uma morfologia otimizada. Nesse sentido, é possível entender que o desenho urbano está re- lacionado ao domínio público, incorporando dois aspectos diferentes: o espaço comum, voltado à estruturação física e formal da cidade; e a instituição governamental responsável pela construção político- -econômica, ou seja, o planejamento urbano (CARMONA et al., 2010). No Brasil, as diretrizes do planejamento urbano estão ligadas ao Estatuto da Cidade e aos planos diretores instituídos em cada município. 1.4 Diretrizes da estrutura urbana Vídeo De acordo com Duarte, Sánchez e Libardi (2012, p. 26), o planejamen- to urbano tem como objetivo o estudo da cidade, de modo a envolver as relações e características físicas e também as sociais, culturais e econô- micas, podendo ser definido como “o conjunto de medidas tomadas para que sejam atingidos os objetivos desejados, tendo em vista os recursos disponíveis e os fatores externos que podem influir nesse processo”. Rezende e Castor (2006, p. 1) destacam que o planejamento urbano “estabelece as regras de ocupação de solo, define as principais estraté- gias e políticas do município e explicita as restrições, as proibições e as No livro Introdução ao de- senho urbano no processo de planejamento, o autor contempla informações a respeito das dimensõesque devem permear o processo de planejamen- to urbano, sendo elas físico-ambientais e físico- -espaciais. O conheci- mento dessas dimensões ajudará na melhor com- preensão do desenho urbano, associando-o aos conteúdos estudados. DEL RIO, V. São Paulo: Pini, 1990. Livro Espaço urbano 21 limitações que deverão ser observadas para manter e aumentar a qualidade de vida para seus munícipes”. 1.4.1 Estatuto da Cidade No Brasil, a principal normativa que dire- ciona o planejamento urbano é a Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001, conhecida como Estatuto da Cidade. Essa lei regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição Federal de 1988 e estabelece diretrizes gerais da política urbana e normas de ordem pública e de interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cida- dãos, bem como do equilíbrio ambiental (BRASIL, 2001). De acordo com o artigo 2º da referida lei, a política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais (BRASIL, 2001): I – Garantia do direito a cidades sustentáveis Buscando garantir o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambien- tal, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as atuais e futuras gerações. II – Gestão democrática por meio da participação da população Ocorrendo na formulação, execução e acompanhamento de planos, progra- mas e projetos de desenvolvimento urbano. IV – Planejamento do desenvolvimento das cidades Voltando-se para melhorar a distribuição espacial da população e das atividades econômicas, corrigindo as distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente. V – Oferta de equipamentos urbanos e comunitários Oferecendo transporte e serviços públicos adequados aos interesses e às necessidades da população, bem como às características locais. III – Cooperação entre os governos, a iniciativa privada e os demais setores da sociedade no processo de urbanização Levando em consideração o atendimento dos interesses sociais. (Continua) RossHelen/Shutterstock 22 Mobilidade e logística urbana VI – Ordenação e controle do uso do solo Visando ao uso adequado de imóveis urbanos, de modo a evitar o uso excessivo ou inadequado em relação à infraestrutura urbana, à retenção especulativa de imóvel urbano, à deterioração das áreas urbanizadas e à poluição e degradação ambiental. VII – Integração e complementaridade entre as atividades urbanas e rurais Objetivando o desenvolvimento socioeconômico do município. IX – Justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do processo de urbanização Distribuindo de maneira mais isonômica os investimentos públicos em prol do interesse coletivo. X – Adequação dos instrumentos de política econômica, tributária e financeira e dos gastos públicos aos objetivos do desenvolvimento urbano Buscando o controle dos gastos públicos e a arrecadação dos tributos. XI – Recuperação dos investimentos do Poder Público Decorrendo da valorização de imóveis urbanos. XIV – Regularização fundiária e urbanização Regulamentando áreas ocupadas por população de baixa renda. XV – Simplificação da legislação de parcelamento, uso e ocupação do solo Permitindo a redução dos custos e o aumento da oferta dos lotes e das unidades habitacionais. XII – Proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e arqueológico Objetivando a preservação cultural, histórica e ambiental da cidade. VIII – Adoção de padrões de produção e consumo de bens e serviços e de expansão urbana compatíveis com os limites da sustentabilidade ambiental Visando à permissão para a instalação de equipamento e serviços. XIII – Audiência do Poder Público municipal Ocorrendo com participação da população interessada nos processos de implantação de empreendimentos ou atividades com efeitos potencialmente negativos sobre o meio ambiente natural ou construído, o conforto ou a segurança da população. (Continua) Espaço urbano 23 XVI – Isonomia de condições para os agentes públicos e privados na promoção de empreendimentos e atividades relativos ao processo de urbanização, atendido o interesse social Incentivando o empreendedorismo social. XVII – Estímulo à utilização, nos parcelamentos do solo e nas edifica- ções urbanas, de sistemas operacionais, padrões construtivos e aportes tecnológicos que objetivem a redução de impactos ambientais e a economia de recursos naturais Incentivando construções sustentáveis, com uso de energia renovável, captação de água, áreas verdes, dentre outros. XIX – Garantia de condições condignas de acessibilidade, utilização e conforto nas dependências internas das edificações urbanas Garantindo a acessibilidade e igualdade a todos os grupos sociais, com diferentes tipos de mobilidade. XVIII – Tratamento prioritário às obras e edificações de infraestrutura de energia, telecomunicações, abastecimento de água e saneamento Estabelecendo normas gerais aplicáveis ao processo de licenciamento, instalação e compartilhamento de infraestrutura de telecomunicações, com o propósito de torná-lo compatível com o desenvolvimento so- cioeconômico do país. Dentre os instrumentos da política urbana, instituídos pelo Estatuto da Cidade, a nível municipal, destaca-se o Plano Diretor. 1.4.2 Plano Diretor Muito antes da promulgação do Estatuto da Cidade, alguns municí- pios, como é o caso de Curitiba e Rio de Janeiro, já tinham, na década de 1940, instituído propostas inovadoras para o seu ordenamento ur- bano, pautadas no intitulado Plano Agache 2 . No entanto, é a referida lei que introduz a obrigatoriedade da elaboração dos planos diretores e da participação da população em diferentes etapas de sua elabora- ção, por meio das chamadas audiências públicas (DUARTE; SÁNCHEZ; LIBARDI, 2012). De acordo com o Estatuto da Cidade, em seus artigos 39 e 40, a pro- priedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigên- cias fundamentais de ordenação da cidade expressas no Plano Diretor. Criado por Alfred Agache e fina- lizado em 1930, é considerado o primeiro Plano Diretor brasileiro. 2 24 Mobilidade e logística urbana É por meio dele que é assegurado o atendimento das necessidades dos cidadãos quanto à qualidade de vida, à justiça social e ao desen- volvimento das atividades econômicas. O Plano Diretor, dessa forma, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana (BRASIL, 2001). Esse documento é obrigatório para as cidades com mais de 20 mil habitantes, os integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas e, ainda, os de áreas de especial interesse turístico ou inse- ridas em local de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental de âmbito regional ou nacional. No caso de cidades com mais de 500 mil habitantes, deverá ser elaborado um plano de transporte urbano integrado, sendo compatível com o Plano Diretor ou estando nele inserido (BRASIL, 2001). Vale destacar, ainda, que o Plano Diretor deverá ser revisto pelo me- nos a cada 10 anos, promovendo audiências públicas e debates com a participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade quando for elaborado (BRASIL, 2001). Nesse momento, você deve estar se perguntando quem são os res- ponsáveis pela elaboração desse documento. Duarte (2011, p. 103) destaca que, em sua elaboração, es- tão envolvidos “técnicos, políticos, organizações da socie- dade civil (como ONGs, associações de classes, etc.) e toda e qualquer pessoa”, uma vez que as audiências públicas permitem a participação da sociedade como um todo. O autor acrescenta que as diretrizes básicas do plano de cada cidade são propostas por um corpo técnico, o qual pode ser formado por ur- banistas, engenheiros,médicos, agrônomos, economistas e geógrafos. Esse corpo técnico pode ser formado pelos profissionais internos da prefeitura ou pelos externos de ONGs ou empresas privadas, o que permite trazer uma nova visão para a solução dos pro- blemas da cidade (DUARTE, 2011). A aprovação do Plano Diretor é feita pela Câmara Municipal; no en- tanto, o seu acompanhamento e os ajustes podem e devem ser feitos ao longo dos 10 anos de sua vigência. Que tal realizar uma pesquisa para saber se sua cidade possui um plano diretor? Após sua investigação, não esqueça de compartilhar as informações com seus vizinhos, familiares e amigos. Dica Valmedia/Shutterstock Espaço urbano 25 1.4.3 Planos de Mobilidade Urbana (PlanMob) Conforme vimos, cidades com mais de 500 mil habitantes têm que, obrigatoriamente, criar um plano de transporte urbano integra- do. Esse plano é elaborado por cada município com base no Plano de Mobilidade Urbana (PlanMob), o qual visa orientar municípios e estados para a construção de seus planos, de acordo com as diretri- zes da Política Nacional de Mobilidade Urbana (Lei n. 12.587/2012). À Secretaria Nacional de Mobilidade e Desenvolvimento Regional e Urbano (SMDRU) cabe o papel de estimular a modernização e a disse- minação dos padrões de mobilidade, além de orientar e instituir dire- trizes voltadas para as cidades e regiões metropolitanas (BRASIL, 2012). Diversas cidades buscaram implementar diretrizes como forma de melhorar a gestão urbana ao longo do tempo. No Brasil, a Constituição de 1988 representou o grande marco do planejamento urbano, con- solidado posteriormente pela promulgação do Estatuto da Cidade em 2001, o qual definiu o Plano Diretor como instrumento que direciona as ações dos municípios em prol da melhoria da qualidade das cidades e da vida de seus habitantes. CONSIDERAÇÕES FINAIS Se fizermos uma viagem no tempo por meio de fotografias antigas, veremos o quanto as cidades se modificaram com o passar dos anos, não apenas em sua forma física (morfologia), mas também em seu desenho urbano. Sendo assim, as funções da cidade se modificam de acordo com as transformações por ela vivenciadas e pela busca de melhorias na qua- lidade de vida de seus habitantes. Compreender essas transformações e conhecer os instrumentos da gestão urbana nos permite como estudantes e como cidadãos participar ativamente do processo de melhoria contínua de nossas cidades. ATIVIDADES 1. Quais foram as duas revoluções que contribuíram para o processo de urbanização das cidades? Descreva cada uma delas. 2. Diferencie morfologia urbana de desenho urbano. 3. Defina o que é o Estatuto da Cidade. Vídeo 26 Mobilidade e logística urbana REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001. Diário Oficial da União. Poder Executivo, Brasília, DF, 11 jul. 2001. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ leis_2001/l10257.htm. Acesso em: 9 abr. 2021. BRASIL. Lei n. 12.587, de 3 de janeiro de 2012. Diário Oficial da União. Poder Legislativo, Brasília, DF, 4 jan. 2012. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011- 2014/2012/lei/l12587.htm. Acesso em: 9 abr. 2021. CARMONA, M. et al. Public places, urban spaces: the dimensions of urban design. 2. ed. Oxford: Elsevier, 2010. DDESENVOLVIMENTO. Cidades. 2021. Disponível em: https://ddesenvolvimento.com/wp- content/uploads/2019/01/DD_CIDADES.pdf. Acesso em: 9 abr. 2021. DEL RIO, V. Introdução ao desenho urbano no processo de planejamento. São Paulo: Pini, 1990. DETR. Urban design in the planning system: towards better practice. London: Government Digital Service, 2000. DUARTE, F.; SÁNCHEZ, K.; LIBARDI, R. Introdução à mobilidade urbana. Curitiba: Juruá, 2012. GARBOSSA. R. A.; SILVA, R. S. O processo de produção do espaço urbano: impactos e desafios de uma nova urbanização. Curitiba: InterSaberes, 2016. [e-book] IBGE. Taxa de urbanização. 2021. Disponível em: https://seriesestatisticas.ibge.gov.br/ series.aspx?vcodigo=POP122. Acesso em: 9 abr. 2021. LAMAS, J. M. R. G. Morfologia urbana e o desenho da cidade. 7. ed. Lisboa: Fundação Caloustre Gulbenkian; Fundação para a Ciência e Tecnologia, 2014. LANG, J. Urban design: a typology of procedures and products. Burlington: Architectural; Elsevier, 2005. LYNCH, K. A. A imagem da cidade. 3. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011. REZENDE, D. A.; CASTOR; B. V. J. Planejamento estratégico municipal: empreendedorismo participativo nos municípios e prefeituras. 2. ed. Rio de Janeiro: Brasport, 2006. ROSSI, A. A arquitetura da cidade. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. SALLEM, A. L. Morfologia e desenho urbano na configuração da cidade planejada: o caso de Curitiba. 2006. Dissertação (Mestrado em Gestão Urbana) – Centro de Ciências Exatas e de tecnologia, Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba. SANTOS. M. A urbanização brasileira. 5. ed. São Paulo: USP, 2013. TEIXEIRA, M. F. I. M. Conceitos contemporâneos sobre planejamento urbano, desenho urbano e sua relação. Cadernos de Arquitetura e Urbanismo, Belo Horizonte, v. 20, n. 26, p. 74-93, 2013. UNITED NATIONS. World urbanization prospects: the 2018 revision. New York, 2019. Disponível em: https://population.un.org/wup/Publications/Files/WUP2018-Report.pdf. 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Objetivos de aprendizagem Todos os dias, quando precisamos nos locomover de um ponto a ou- tro da cidade, seja para irmos ao trabalho, seja para estudarmos, termos momentos de lazer ou qualquer outra atividade, estamos vivenciando a mobilidade urbana. Neste capítulo, iremos nos aprofundar na mobilidade urbana, inicial- mente conhecendo os seus conceitos e a integração dos diferentes mo- dais na busca por melhorias na qualidade de vida dos cidadãos. Na sequência, estudaremos quais são as diretrizes que orientam a ela- boração de planos diretores e planos setoriais de mobilidade urbana, res- saltando a importância de se levar em consideração as particularidades e a realidade de cada município. Por fim, analisaremos o sistema de modos de transporte de pessoas e de cargas, dividindo-os em não motorizados, como é o caso da caminhabi- lidade e da bicicleta, e em motorizados, os quais se referem ao transporte público, aos veículos individuais e às motocicletas. 2.1 Introdução à mobilidade urbana Vídeo Atualmente, mais da metade da população mundial vive em áreas urbanas. Associado a esse fator, houve o espraiamento das cidades, ou seja, a sua expansão horizontal, por meio do surgimento de bair- ros ou regiões distantes ou afastadas de seu eixo central. Como conse- quência, tivemos o aumento dos movimentos urbanos – isto é, pessoas que vivem em determinados bairros ou regiões e precisam se deslocar 28 Mobilidade e logística urbana para trabalhar, estudar ou realizar atividades de lazer –, também conhecidos como movimentos pendulares. A formação de novas localizações para traba- lho, estudo, serviços e lazer impulsionou a geração de mais viagens nas cidades, e é nesse sentido que a mobilidade urbana atua, tendo como principal função a promoção do deslocamento de pessoas e, ainda, con- tribuindopara a equidade de acesso dos sujeitos a bens, serviços e oportunidades (TURBAY, 2020). Para uma melhor compreensão, vamos diferenciar os conceitos de mobilidade e transporte. A mobilidade representa o conjunto estrutu- rado de modos e infraestruturas que possibilitam o deslocamento e a acessibilidade das pessoas nos espaços urbanos. O transporte, por sua vez, é um meio, um sistema, pelo qual é possível exercer a mobilida- de, ou seja, refere-se estritamente aos serviços e modos utilizados nos movimentos dentro da cidade ou, também, à forma como a população acessa os destinos desejados (MASSUCHETO, 2020; ALMEIDA 2018). No Brasil, a Lei n. 12.587/2012 institui a Política Nacional de Mobilidade Urbana e, em seu artigo 4º, define a mobilidade como a “condição em que se realizam os deslocamentos de pessoas e cargas no espaço urbano” e o transporte como o “conjunto dos modos e servi- ços de transporte público e privado utilizados para o deslocamento de pessoas e cargas” (BRASIL, 2012), conforme ilustrado na Figura 1. Figura 1 Infraestrutura e modos de circulação no âmbito da mobilidade urbana Vias e logradouros Calçadas e ciclovias Bicicletas Transportes públicos Pedestres Veículos particulares Motocicletas Infraestruturas de circulação Modos de circulação Motorizados Não motorizados Mobilidade urbana Fonte: Elaborada pela autora com base em Brasil, 2012. Christian Mueller/Shutterstock Mobilidade urbana 29 A Lei n. 12.587 (BRASIL, 2012), em seu artigo 3º, define o Sistema Nacional de Mobilidade Urbana como “o conjunto organizado e coor- denado dos modos de transporte, de serviços e de infraestruturas que garante os deslocamentos de pessoas e cargas no território do Municí- pio”. Nesse sentido, a mobilidade urbana contempla a infraestrutura de circulação e os modos de transporte. 2.1.1 Infraestrutura de circulação De acordo com a Lei n. 12.587 (BRASIL, 2012), fazem parte das infraestruturas de mobilidade urbana: I – vias e demais logradouros públicos, inclusive metroferrovias, hidrovias e ciclovias; II – estacionamentos; III – terminais, estações e demais conexões; IV – pontos para embarque e desembarque de passageiros e cargas; V – sinalização viária e de trânsito; VI – equipamentos e instalações; e VII – instrumentos de controle, fiscalização, arrecadação de taxas e tarifas e difusão de informações. No que diz respeito à infraestrutura e circulação urbana, destaca- mos a Lei n. 9.503, de 23 de setembro de 1997, que institui o Código de Trânsito Brasileiro e traz, em seu artigo 6º, os seguintes objetivos: I – estabelecer diretrizes da Política Nacional de Trânsito, com vistas à segurança, à fluidez, ao conforto, à defesa ambiental e à educação para o trânsito, e fiscalizar seu cumprimento; II – fixar, mediante normas e procedimentos, a padronização de critérios técnicos, financeiros e administrativos para a execução das atividades de trânsito; III – estabelecer a sistemática de fluxos permanentes de informa- ções entre os seus diversos órgãos e entidades, a fim de facilitar o processo decisório e a integração do Sistema. (BRASIL, 1997) Para entender melhor a infraestrutura de trânsito, no contexto da mobilidade urbana, vamos aprofundar nosso conhecimento a respeito de dois itens: as calçadas e as vias. A Lei n. 9.503 define calçada como “parte da via, normalmente se- gregada e em nível diferente, não destinada à circulação de veículos, re- servada ao trânsito de pedestres e, quando possível, à implantação de mobiliário urbano, sinalização, vegetação e outros fins” e passeio como Indicamos a leitura do livro Introdução à mobilidade urbana, que apresenta conhecimentos a respeito da mobilidade urbana e dos sistemas de transporte que são cases de sucesso pelo mundo. DUARTE, F.; LIBARDI, R.; SÁNCHEZ, K. Curitiba: Juruá, 2012. Livro 30 Mobilidade e logística urbana “parte da calçada ou da pista de rolamento, neste último caso, sepa- rada por pintura ou elemento físico separador, livre de interferências, destinada à circulação exclusiva de pedestres e, excepcionalmente, de ciclistas” (BRASIL, 1997). Lamounier (2015, p. 5), por sua vez, ressalta que uma calçada que atenda a pedestres e, ao mesmo tempo, possa acomodar o mobiliário urbano deve conter três faixas: Faixa de serviço: localizada próxima à guia, é destinada à instalação do mobiliá- rio urbano (postes, sinalização de trânsito, lixeiras, árvores e rampas de acesso). Faixa livre: representada pela faixa central, sendo considerada a mais importante, a qual é destinada exclusivamente à circulação de pedestres e, eventualmente, de ciclistas. Faixa de acesso: situada mais próxima dos imóveis ou permitido o acesso a eles, serve como apoio às propriedades e contempla a presença de vegetação, de rampas e de toldos. ve ro nc hi ck _8 4/ Sh ut te rs to ck Essas três faixas estão representadas na Figura 2. Figura 2 Composição da calçada por faixas Di bi gu in ho /W ik im ed ia C om m on s MIN. 2,10 Faixa de acessoFaixa de serviço 0,70 m 1,20 m Faixa livre Largura da Calçada An na F ra jto va / Sh ut te rs to ck A faixa de serviço tem, no mínimo, 0,70 m; a faixa livre tem largura mínima de 1,20 m e altura livre de 2,10 m; apenas as calçadas com mais de 2 m possuem faixa de acesso. Vale destacar que as calçadas devem oferecer as condições ne- cessárias de acessibilidade para todos os grupos de pessoas, ou seja, sem Mobilidade urbana 31 obstáculos e declividade, com rampas de acesso, toldos para proteção contra intempéries, piso adequado e, se possível, locais para descanso. As vias podem ser definidas como os “caminhos físicos preparados para a circulação de pessoas e veículos” (VASCONCELLOS, 2012, p. 77), sendo formadas por dois elementos: as calçadas e o leito carroçável, onde há a circulação de veículos motorizados e bicicletas. Segundo Vasconcellos (2012), as vias podem ser classificadas de acordo com sua função no espaço da cidade, sendo elas: Vias locais: aquelas que são usualmente encontradas em áreas residenciais, que tendem a ser mais estreitas e a ter apenas o tráfego local. Vias coletoras: responsáveis por “coletar” o tráfego das áreas residenciais e distribuí-lo para aquelas com maior capacidade de circulação. Vias arteriais: por sua largura maior, são capazes de suportar um tráfego mais volumoso, podendo ser expressas, quando não há cruzamentos ou semáforos, ou comuns, quando há interrupções. ve ro nc hi ck _8 4/ Sh ut te rs to ck As características mais importantes das vias passam pela qualidade da sinalização de trânsito, pelo estabelecimento de velocidade máxima e pelo tipo de piso, de modo que elas possam oferecer conforto, segu- rança e fluidez aos seus usuários (VASCONCELLOS, 2012). 2.1.2 Modos de circulação Com relação aos modos de transporte urbano, eles podem ser di- vididos entre motorizados e não motorizados, para o transporte de cargas ou de pessoas, e classificados quanto à característica de seu serviço em: coletivos (quando permitem o transporte em massa) ou individuais (para viagens individuais). No que se refere à sua natureza, são definidos como público (quando ofertado pela iniciativa pública) ou privado (quando se trata de veículos particulares) (BRASIL, 2012). Portanto, a mobilidade urbana envolve a organização do uso e da ocupação do solo, com vistas à garantia de acesso dos cidadãos aos equipamentos urbanos necessários ao funcionamento da cidade, dentre eles: escolas, hospitais, supermercados, parques, praças e áreas de lazer em geral. Assim, tem como objetivo permitir a acessi- bilidade e o direito de se locomover, bem como a qualidade de vida de todos os seus habitantes. Assista ao vídeo Mobili- dade Urbana – Episódio 1, publicado pelo canal BDT Filmes, e conheça a reali- dade brasileira no que diz respeito à predominância do transporte individual e às suas consequências para o espaço urbano. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=7UvsvdXObcI.Acesso em: 14 abr. 2021. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=7UvsvdXObcI https://www.youtube.com/watch?v=7UvsvdXObcI https://www.youtube.com/watch?v=7UvsvdXObcI 32 Mobilidade e logística urbana É comum que, ao pensarmos em mobilidade, nos venham em mente os terríveis congestionamentos, o alto índice de polui- ção, os ônibus lotados e as horas gastas com deslocamentos, ou seja, todas aquelas consequências do uso excessivo do transporte individual, da oferta de transporte público incompatível com a demanda e das grandes distâncias entre o ponto de origem e o de destino. No entanto, a mobilidade urbana vai muito além disso. Precisamos pensar que ela envolve as ques- tões de infraestrutura, dos modos de transporte, do meio ambiente, da acessibilidade e da segurança nos deslocamentos. Nesse sentido, Massucheto (2020) ressalta que apenas por meio de um planejamento sistêmico e estratégico é possível minimi- zar os entraves da mobilidade, buscando soluções que tenham como propósito a melhoria dos sistemas já existentes. Nosal e Solecka (2014) acrescentam que uma das formas de me- lhoria é a integração do transporte público, a qual pode ocorrer nos seguintes níveis: Integração da infraestrutura: ocorre pela combinação e integração dos ele- mentos que compõem a estrutura de transporte, desde a localização de pontos de ônibus, passarelas e travessias de pedestre até a análise da sinergia em diferentes modais. Integração organizacional: engloba todos os níveis da rede de transporte que atende às áreas urbanas. Trabalha no sentido de integrar os diferentes meios de transporte, garantindo a continuidade de uma viagem no menor tempo possível. A ela estão relacionados a coordenação de horários, a frequência e os itinerários. Integração econômica: refere-se à organização de viagens por diferentes meios de transporte, fazendo uso da integração tarifária, nos casos em que há transbordo ou até mesmo troca de modal. Integração informacional: consiste em proporcionar aos passageiros informa- ções, em tempo real, sobre suas viagens, permitindo-lhes tomadas de decisão e maior flexibilidade com relação a horários, rotas, atrasos e até mesmo acidentes. Integração espacial: envolve o desenvolvimento espacial específico de algumas formas urbanas com a rede de transporte existente, ou seja, o alinhamento entre o planejamento e a gestão do uso, e a ocupação do solo com o planejamento de transporte. ve ro nc hi ck _8 4/ Sh ut te rs to ck jpreat/Shutterstock Nesse sentido, é possível inferirmos que a integração dos siste- mas de transporte público, associada ao uso de tecnologias, é uma das maneiras mais eficazes, na atualidade, de ampliar e melhorar a mobilidade dentro das cidades. É nesse cenário que incluímos a questão da intermodalidade, dada pelo uso de diferentes meios de transporte pelos passa- geiros em uma viagem. Nosal e Solecka (2014) destacam que a intermodalidade requer a integração de rotas e informações, bem como a coordenação de horários e unificação de tickets, e, ainda, que a sua melhoria no transporte de passageiros é um elemento-chave no desenvolvimento de um sistema de transporte eficiente e integrado. Vamos pensar juntos: como essa intermodalidade pode ocorrer ou ser melhorada no contexto urbano? Ela pode ocorrer, por exemplo, quando paraciclos são postos próximos a terminais de ônibus ou estações de metrô, quando po- demos realizar uma parte do transporte com veículos de aplicativo e a outra parte com transporte público, quando podemos levar bi- cicletas dentro de trens, metrôs ou, até mesmo, ônibus ou quando compartilhamos caronas. Os sistemas de transporte integrados e as tecnologias devem colaborar para a qualidade dos deslocamentos urbanos. Assim, para que isso ocorra, é importante a estruturação institucional, re- presentada por sistemas de planejamento e gestão, como é o caso dos planos diretores municipais (TURBAY, 2020). O grande desafio dos gestores urbanos, portanto, é pensar a integração intermodal como uma grande rede, composta de nós (pontos de articulação) que podem ser terminais de integração, uso das tecnolo- gias, unificação de tarifas ou, inclusive, unificação informacional. O Moovit permite associar todas as opções de mobilidade em um único aplicativo: ônibus, trem, metrôs, bicicletas e outros aplicativos de transporte, como o Uber. Curiosidade Aleksandra Suzi/Shutterstock Mobilidade urbanaMobilidade urbana 3333 34 Mobilidade e logística urbana 2.2 A mobilidade no planejamento urbano Vídeo Quando abordamos a mobilidade urbana, precisamos entender que existem legislações que são tratadas por diferentes entes federativos, que são os federais, estaduais e municipais. Para chegarmos aos pla- nos municipais de mobilidade urbana (PlanMob), vamos analisar quais diretrizes ocorrem em cada nível, conforme apresentado na Figura 3. Figura 3 Diretrizes do planejamento da mobilidade urbana Plano Diretor municipal Planos setoriais Planos setoriais Planos setoriais Estatuto da Cidade Política Nacional de Modalidade Urbana Constituição Federal (artigos 182 e 183) Fonte: Elaborada pela autora com base em Brasil, 1988; 2012. A Constituição Federal de 1988, em seus artigos 182 e 183, dá sustentação à autonomia dos municípios com relação à política urba- na, sendo que é o artigo 182 que estabelece a obrigatoriedade do Plano Diretor para cidades com mais de 20 mil habitantes: Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo poder público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das fun- ções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. § 1º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório Mobilidade urbana 35 para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana. § 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade ex- pressas no plano diretor. (BRASIL, 1988) Os referidos artigos estabelecem diretrizes generalistas sobre as políticas urbanas, havendo a necessidade de leis complementares. É nesse sentido que é promulgada a Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001, conhecida como Estatuto da Cidade, a qual traz diretrizes e instrumentos legais, econômicos e processuais para o planejamento urbano (DUARTE; SÁNCHEZ; LIBARDI, 2011). Esse estatuto, em seus instrumentos de política pública, apresenta o plano diretor como o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana, sendo parte integrante do processo de planejamento mu- nicipal, devendo o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e o orçamento anual incorporar as diretrizes e as prioridades nele contidas (BRASIL, 2001). É importante lembrar que a elaboração dos planos diretores, embo- ra tenha orientações federais, deve estar alinhada à realidade e às par- ticularidades de cada município, e que o Estatuto da Cidade não dispõe de tratativas voltadas à mobilidade urbana, estabelecendo apenas que as cidades com mais de 500 mil habitantes devam elaborar um plano de transporte urbano integrado, que seja compatível com seu Plano Diretor ou esteja nele inserido (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2015). Sendo assim, o plano de mobilidade urbana passa a fazer par- te dos planos setoriais dos municípios. Tomemos como exemplo os planos setoriais da cidade de Curitiba (PR): Plano Setorial de Mobilidade de Transporte Integrado, Plano Setorial de Habitação, Plano Setorial de Desenvolvimento Econômico, Plano Setorial de Desenvolvimento Social, Plano Setorial de Defesa Social e de Defesa Civil, Plano Setorial de Desenvolvimento Ambiental e Plano Setorial de Saneamento (IPPUC, 2021). No caso da cidade de São Paulo (SP), compete às secretarias o desenvolvimento de seus planos setoriais, como o Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, o Plano Municipal de Habitação, o PlanoMunicipal de Mobilidade, o Plano Municipal de Saneamento, entre ou- tros (CIDADE DE SÃO PAULO, 2020). É importante destacar que a Lei n. 10.257/2011 (Estatuto da Cidade) e a Lei n. 12.587/2012 (Política Nacional de Mobilidade Urbana) são da esfera federal, ou seja, seus direcionamentos têm amplitude nacional, sendo que a segunda direciona os municípios quanto a princípios, objetivos e diretrizes voltados especifica- mente para a mobilidade urbana de pessoas e de cargas. Atenção 36 Mobilidade e logística urbana Outro exemplo é a cidade de Fortaleza (CE), que possui um planeja- mento com estratégias a serem implementadas, contemplando: Plano Mestre Urbanístico, Plano de Mobilidade e Plano de Desenvolvimento Econômico e Social (PREFEITURA DE FORTALEZA, 2021). Nos três exemplos apresentados, é possível notar a existên- cia de um plano setorial relacionado à gestão da mobilidade. Isso ocorre porque o artigo 24 da Lei n. 12.587/2012 determina que os municípios acima de 20 mil habitantes bem como aqueles obriga- dos por lei realizem a elaboração de seus planos de modo a con- templar a mobilidade urbana, sendo esse um requisito para que tenham acesso a recursos federais para investimento no setor (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2015). Um importante instrumento utilizado pelo Governo Federal para orientar municípios e estados para a construção de PlanMobs, munici- pais e regionais, é o Caderno de Referência PlanMob, elaborado pelas equipes técnicas de governo e por profissionais. Esse caderno aborda, por exemplo, questões relacionadas aos componentes do sistema de mobilidade urbana, ao meio ambiente, ao planejamento urbano e à estrutura e ao conteúdo do plano de mobilidade urbana. Com base nessa análise do eixo estruturante das diretrizes da mo- bilidade urbana no Brasil e de suas prerrogativas, ressaltamos que a implementação e a efetivação dos planos municipais, diretores e da mobilidade urbana dependem do processo de gestão do plano de ação estabelecido nesses documentos. No entanto, o processo não se finda na elaboração dos planos, visto que se trata de um processo cíclico, com revisões recorrentes e adoção de novas ações à medida que a di- nâmica das cidades vai se transformando. 2.3 Sistemas de transporte de pessoas e cargas Vídeo Ao se pensar nos sistemas de transporte urbano, do ponto de vista da gestão urbana, há de se priorizar o transporte coletivo em detrimen- to do individual e o não motorizado em relação ao motorizado. Já pela perspectiva do usuário, a busca será sempre pelo modo de transpor- te que lhe traga maior comodidade, seja mais acessível, tenha menos custo e realize seu deslocamento no menor tempo possível. Convido você, agora, a pensar na mobilidade urbana no seu dia a dia. Quais são os seus principais destinos? Qual(is) modo(s) de trans- Que tal pesquisar se a sua cidade possui um PlanMob? Dica Struck/Wikimedia Commons porte você utiliza? Quanto tempo gasta em seus deslocamentos? Quais são os custos? Para aqueles que moram em cidades menores, é muito provável que os deslocamentos ocorram a pé, de bicicleta, com veículo indivi- dual e, às vezes, com transporte público. É possível que esses desloca- mentos ocorram em minutos, dificilmente ultrapassando horas. No entanto, para quem mora em grandes metrópoles, o cenário muda completamente, sendo necessária, para muitos, a combinação de diferentes modais, como deslocamento a pé, ônibus, metrô, trem, veículo de aplicativo ou veículo individual. Além disso, nesse contexto, o tempo gasto no deslocamento pode, em alguns casos, ser contabili- zado em horas, desde a origem até o destino. Dessa forma, os modos de transporte urbano podem ser divididos entre motorizados e não motorizados, como veremos a seguir. 2.3.1 Modos de transporte não motorizados Vamos iniciar pelos modos de transporte não motorizados, também conhecidos como meios de acesso à mobilidade ativa ou sustentável, por causarem menor impacto ao meio ambiente, sem emissões de poluen- tes e sem causar congestionamentos. A caminhada representa a forma mais natural de deslocamento. Mui- tas pessoas realizam viagens a pé, seja para a conexão com um modo complementar – transporte público, por exemplo, para atividades de lazer – ou pequenos deslocamentos, para acessar destinos próximos. Gehl (2014) destaca que a distância aceitável para ser percorrida a pé é de 500 metros, mas que isso pode variar conforme a qualidade do percurso. Se o conforto for baixo, a caminhada será mais curta, ao passo que, se o percurso for acessível, confortável e interessante, haverá es- tímulos para se atingir destinos mais distantes. Muitas cidades têm trabalhado no sentido de incentivar a caminhabilidade, criando melhores condições de acessibilidade, seja pela melhoria de suas calçadas ou pela implementação de vias exclusivas de pedestres, como é o caso da Rua XV de Novembro, na cidade de Curitiba. Acesse o link a seguir e conheça a realidade da mobilidade urbana no Brasil. Você pode acompanhar o mapa da evolução da população mundial de 1500 até a estimativa para 2020. Disponível em: https://static. portaldaindustria.com.br/media/ filer_public/7f/1d/7f1de722- 455b-4a18-bc0a-6bdc5430b9a7/ retratosdasociedadebrasileira_27_ mobilidadeurbana.pdf. Acesso em: 14 abr. 2021. Saiba mais Mobilidade urbanaMobilidade urbana 3737 https://static.portaldaindustria.com.br/media/filer_public/7f/1d/7f1de722-455b-4a18-bc0a-6bdc5430b9a7/retratosdasociedadebrasileira_27_mobilidadeurbana.pdf https://static.portaldaindustria.com.br/media/filer_public/7f/1d/7f1de722-455b-4a18-bc0a-6bdc5430b9a7/retratosdasociedadebrasileira_27_mobilidadeurbana.pdf https://static.portaldaindustria.com.br/media/filer_public/7f/1d/7f1de722-455b-4a18-bc0a-6bdc5430b9a7/retratosdasociedadebrasileira_27_mobilidadeurbana.pdf https://static.portaldaindustria.com.br/media/filer_public/7f/1d/7f1de722-455b-4a18-bc0a-6bdc5430b9a7/retratosdasociedadebrasileira_27_mobilidadeurbana.pdf https://static.portaldaindustria.com.br/media/filer_public/7f/1d/7f1de722-455b-4a18-bc0a-6bdc5430b9a7/retratosdasociedadebrasileira_27_mobilidadeurbana.pdf https://static.portaldaindustria.com.br/media/filer_public/7f/1d/7f1de722-455b-4a18-bc0a-6bdc5430b9a7/retratosdasociedadebrasileira_27_mobilidadeurbana.pdf 38 Mobilidade e logística urbana O segundo modo de transporte não motorizado são as bicicletas, sendo um dos veículos mais utilizados no mundo. Duarte, Sánchez e Libardi (2012) destacam que a bicicleta é uma alternativa barata de transporte, vista como símbolo do transporte sustentável. Ela é acessível a grande parte da população, sendo normalmente utilizada para pe- quenos percursos, tanto para o transporte de pessoas quanto para o de cargas. Dentre as suas principais vantagens do uso, Vasconcellos (2012) destaca o baixo custo de aquisição, operação e manutenção, a facilidade de utilização e es- tacionamento, além dos benefícios à saúde. Quanto às desvantagens, o autor ressalta a falta de segurança no trân- sito, bem como de estrutura viária e de sinalização adequada. Nesse sentido, o desafio das cidades é oferecer aos ciclistas condi- ções de locomoção, principalmente por meio da criação das ciclofaixas ou ciclovias e de paraciclos para o estacionamento. 2.3.2 Modos de transporte motorizados Para Massucheto (2020, p. 23), os modais motorizados “são caracteri- zados pelos meios de transporte que envolverão o uso de qualquer tipo de veículo motorizado para realizar um deslocamento”. Podem, ainda, ser subcategorizados em: individuais ou coletivos, públicos ou privados. O transporte público coletivo é o principal meio de deslocamento, sendo essencial para o funcionamento das cidades. No entanto, repre- senta um dos maiores desafios dos gestores públicos. Duarte, Sánchez e Libardi (2012) ressaltam que ele deve prover de maneira eficaz e de- mocrática a mobilidade e acessibilidade urbana, garantindo segurança e conforto aos seus usuários. De acordo com o Guia de TransportePúblico Coletivo (TPC) (BNDES, 2017), os modos podem ser divididos em três grupos: Sistemas por ônibus: contemplam os sistemas de faixa exclusiva, corredor central e BRT (bus rapid transit ou ônibus de trânsito rápido). (Continua) Art iza ru s/ Sh ut te rs to ck A reportagem As 20 melhores cidades do mundo para as bicicletas, segundo a Copenhagenize 2019 mostra cidades da Europa, Ásia, América do Sul e América do Norte que se propõem a res- tabelecer a aceitação e a prática da bicicleta como um meio de transporte. Disponível em: https://inbec.com. br/blog/as-20-melhores-cidades- mundo-para-bicicletas-segundo- copenhagenize-2019. Acesso em: 14 abr. 2021. Saiba mais Daisy Daisy/Shutterstock https://inbec.com.br/blog/as-20-melhores-cidades-mundo-para-bicicletas-segundo-copenhagenize-2019 https://inbec.com.br/blog/as-20-melhores-cidades-mundo-para-bicicletas-segundo-copenhagenize-2019 https://inbec.com.br/blog/as-20-melhores-cidades-mundo-para-bicicletas-segundo-copenhagenize-2019 https://inbec.com.br/blog/as-20-melhores-cidades-mundo-para-bicicletas-segundo-copenhagenize-2019 Mobilidade urbana 39 Sistemas sobre trilhos (metroferroviários): contemplam VLT (veículo leve sobre trilhos), monotrilho, metrô e trem urbano. Zoa rt S tu di o/ Sh ut te rs to ck Outros sistemas aplicáveis a casos específicos: contemplam barca, teleférico e aeromóvel. aa rro ws /S hu tte rs to ck Segundo o guia TPC (BNDES, 2017), nos sistemas que utilizam ônibus, busca-se a racionalização do número de linhas, com vistas a melhorar a regularidade da operação e garantir uma oferta de veí- culos suficiente nos trechos e nos períodos de maior concentração da demanda. Embora nesses modelos haja a supressão de faixas do tráfego geral, ela é compensada pelo transporte de um maior número de pessoas, quando se compara ao transporte individual motorizado. Veja a seguir alguns sistemas de ônibus mais utilizados e bem-sucedidos no Brasil. Corredor central Trata-se de faixas exclusivas localizadas do lado esquerdo da pista, normalmen- te no eixo central de via com pista dupla, junto ao canteiro central separador das pistas. A segregação do tráfego geral pode ser física, por meio de dispositivos separadores (canteiros), que estabelecem um conceito de pista exclusiva para ônibus, ou apenas com sinalização horizontal, constituída por uma linha contínua branca. É adequado para frequências de até 100 ônibus/hora/sentido, isto é, cerca de 8 mil passageiros/hora/sentido. Exemplo: Corredor Santo Amaro/Nove de Julho (corredor de ônibus da cidade de São Paulo). As ia Tr av el /S hu tte rs to ck Faixa exclusiva Nesse modelo, ocorre a segregação do tráfego geral (em faixa exclusiva do lado direito), indicada por meio de sinalização vertical e horizontal, restringindo o trânsito dos veículos nas faixas exclusivas, sem componentes físicos para a separação e com proibição de estacionamento. Exemplo: BRS Copacabana (sistema rápido de ônibus da cidade do Rio de Janeiro). Ed ua rd o Lu iz / W ik im ed ia C om m on s BRT Sistema de alto desempenho, composto de linhas de ônibus estruturais com alto nível de priorização no sistema de mobilidade e capacidade de transporte que pode chegar a 35 mil passageiros/hora/sentido. Sua segregação física é feita por meio de sinalizadores na via ou de canteiros separadores, que definem uma faixa ou pista exclusiva. Exemplo: ônibus biarticulado da Rede Integrada de Transporte da cidade de Curitiba. M ar io R ob er to D ur an O rti z/ W ik im ed ia C om m on s 40 Mobilidade e logística urbana Conforme traz o Guia TPC (BNDES, 2017), os veículos sobre tri- lhos mais conhecidos no Brasil são: VLT, monotrilho, metrô e trem urbano. Esses sistemas são recomendados para cidades de médio e grande porte e regiões metropolitanas, com operações com se- gregação total ou com mínimas intersecções nos trechos menos adensados. Eles requerem sistemas de controle operacional cen- tralizados em um Centro de Controle Operacional (CCO) 1 , e o seu planejamento deve ocorrer de maneira integrada aos demais siste- mas de transporte coletivo da região de influência, sendo, portan- to, as integrações física, tarifária e operacional os requisitos para sua funcionalidade. Assim, tais modelos de sistema de transporte podem ser observados a seguir. Veículo leve sobre trilhos (VLT) Também conhecido como tramway ou tram, é um sistema sobre trilhos que utiliza veículos com tração elétrica, com composições de tamanhos e capacidades variá- veis, entre 280 e 660 passageiros. É implantado em vias exclusivas, e apenas os cruzamentos são compartilhados com o tráfego geral. Destaca-se pelo conforto, baixo nível de ruído e baixo impacto visual. Na capital do Rio de Janeiro, existe uma rede, a VLT Carioca, que percorre o centro e o porto da cidade. Le on id A nd ro no v/ Sh ut te rs to ck Monotrilho É definido como um trilho singelo que serve de via para o veículo de passageiro, po- dendo ser suspenso ou apoiado sobre uma viga trilho de concreto. Tem estrutura geralmente elevada ou, em alguns trechos, operações em túneis subterrâneos e capacidade de até 1.000 passageiros. Sua adoção no Brasil ainda é recente, tendo como exemplo uma linha em funcionamento na cidade de São Paulo. xm 4t hx /S hu tte rs to ck Metrô Trata-se de um sistema sobre trilhos completamente segregado do tráfego geral, construído em via elevada, em superfície ou subterrâneo, que, por sua alta capaci- dade de transporte, representa uma solução viável para áreas urbanas adensadas, com grandes fluxos de demanda. Exemplos, como o metrô do Rio de Janeiro, possuem capacidade de transporte de 1.600 a 2.000 passageiros por composição. M ar io R ob er to D ur an O rti z/ W ik im ed ia C om m on s Trem urbano Sistema de alta capacidade de transporte (mais de 40 mil passageiros/hora/senti- do), que possui abrangência regional, podendo fazer atendimentos intermunicipais em regiões metropolitanas. É implantado em superfície, em via permanente com trilhos posicionados em bitolas variadas. Algumas capitais do Brasil utilizam esse sistema, como Rio de Janeiro e São Paulo, e outras, apesar de fazerem uso da denominação de metrô, usam sistemas com características de trem urbano, como Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre. Go ve rn o do E st ad o de S ão P au lo / W ik im ed ia C om m on s Trata-se de centros de controle e comando, onde há a gestão e o monitoramento, por meio do uso de tecnologias, das ocorrências relacionadas a questões de mobilidade. 1 Conheceremos agora três sistemas de TPC que possuem caracterís- ticas distintas daqueles apresentados anteriormente: teleférico, barcas e aeromóvel (BNDES, 2017). Teleférico Normalmente, é adotado como transporte turístico; mas, recentemente, vem sendo utilizado para transporte de passageiros, como uma alternativa de solução de mobilidade vertical, em áreas com alguma densidade ocupacional e topografia acentuada. Trata-se de um sistema suspenso, que transporta cabines fechadas (gôndolas), com capacidade de 6 a 15 pessoas, sustentadas por cabos. Exemplo: teleférico no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. la zy lla m a/ Sh ut te rto ck Barcas Podem ser utilizadas na travessia de baías ou em locais onde há restrições e dificuldades para a circulação por modos terrestres, em especial de travessias de grandes massas de água. Podem atender exclusivamente os passageiros ou também serviços de passageiros e de transporte de veículos (ferry boat). Exemplo: as barcas que ligam as cidades de Rio de Janeiro e Niterói. An dr ev ru as /W ik im ed ia C om m on s Aeromóvel Trata-se de uma tecnologia nacional desenvolvida no Rio Grande do Sul. A estrutu- ra da via é elevada sobre vigas e pilares e não existe tração embarcada; opera sem a presença de condutor, sendo sua propulsão pneumática por meio de ventiladores industriais posicionados ao longoda linha. Possui capacidade para 150 passagei- ros. Atualmente, no Brasil, encontra-se em operação comercial apenas uma linha, entre o metrô de Porto Alegre e o Aeroporto Salgado Filho. Eu ge ni o Ha ns en /W ik im ed ia C om m on s Destacamos que, no caso do transporte público, usualmente há cobrança de tarifa do usuário, e é, ainda, regulamentado pelo Poder Público. No transporte motorizado, destacam-se os modos individuais, como é o caso de automóveis, motocicletas, táxis e, mais recentemen- te, dos veículos por aplicativo. Assim, vivemos em um país com uma cul- tura altamente voltada para o uso dos veí- culos particulares individuais: o automóvel. Duarte, Sánchez e Libardi (2012) ressaltam que esse modo de transporte produz efei- tos caóticos para as cidades, no que se re- fere à segurança e à qualidade de vida, e que a crescente frota de veículos vem pro- vocando níveis nunca vistos de congestio- namento e de poluição do ar. Kichigin/Shuttertock Mobilidade urbanaMobilidade urbana 4141 FREELY ART/Shutterstock Nesse sentido, muitas cidades vêm adotando medidas de restrição ao uso do automóvel, como forma de promover a democratização do espaço público e de incentivar a caminhabilidade e o uso da bicicleta e dos transportes públicos. Entre as medidas mais comuns estão rodízio de placas, restrição dos horários de circulação, pedágio urbano e, até mesmo, a restrição de circulação em determinadas áreas, a exemplo de algumas cidades europeias (DUARTE; SÁNCHEZ; LIBARDI, 2012). Além disso, o Brasil tem presenciado o crescente número de motocicletas circulando nas áreas urbanas. Por repre- sentar um baixo custo quando comparado ao automóvel, bem como relativa facilidade para estacionar e maior ra- pidez, esse modo de transporte vem sendo utilizado não somente para o deslocamento de pessoas, mas princi- palmente para serviços de entrega de mercadorias e do- cumentos, sobretudo com a intensificação de entregas de produtos provenientes do e-commerce e serviços de delivery (DUARTE; SÁNCHEZ; LIBARDI, 2012; VASCONCELLOS, 2012). Os autores destacam, ainda, a grande preocupação com o trân- sito envolvendo motociclistas e a necessidade de uma reestruturação urbana que comporte o aumento excessivo desses veículos, possibili- tando um fluxo ordenado e a integração com outros sistemas modais. Um outro transporte motorizado, que pode ser de uso individual ou compartilhado, é o táxi. No entanto, esse modo tem perdido espaço para os aplicativos de mobilidade, em que a proposta é que o usuário possa solicitar o serviço de transporte por meio de um aplicativo, que visa conectar motoristas e passageiros. Dia 22 de setembro é conside- rado o Dia Mundial das Cidades sem Carro, uma forma de defesa ao meio ambiente e à qualidade de vida nas cidades. Curiosidade Celso Pupo/Shutterstock 4242 Mobilidade e logística urbanaMobilidade e logística urbana Mobilidade urbana 43 No Brasil, a Lei n. 13.640, de 26 de março de 2018, regulamenta o transporte remunerado privado individual de passageiros, definido como o serviço remunerado de transporte de passageiros, não aberto ao público, para a realização de viagens individualizadas ou comparti- lhadas, solicitadas exclusivamente por usuários previamente cadastra- dos em aplicativos ou em outras plataformas de comunicação em rede (BRASIL, 2018). Vale destacar que, atualmente, esse modo não é mais exclusividade do transporte de pessoas, uma vez que já existem aplicativos dispo- níveis para compras em supermercados, por exemplo, e entregas de documentos e de encomendas. Dessa forma, os modos de transporte vêm evoluindo ao longo dos anos, acompanhando as evoluções tecnológicas disponíveis. No entanto, mesmo com essa maior disponibilidade de modos, as cida- des ainda enfrentam o desafio de oferecer infraestrutura compatível com as demandas de sua população e legislações pertinentes, com vistas à melhoria da qualidade dos deslocamentos e, como conse- quência, da qualidade de vida em si. Leia o texto O que é um aplicativo de mobilidade urbana? para conhecer melhor os tipos de aplica- tivos de mobilidade urba- na, os seus impactos e os problemas de mobilidade urbana existentes. Disponível em: https://usemobile. com.br/aplicativo-mobilidade- urbana/. Acesso em: 13 abr. 2021 Saiba mais CONSIDERAÇÕES FINAIS A mobilidade é um dos principais fatores do desenvolvimento e da me- lhoria da qualidade de vida urbana. Para os cidadãos, o desafio está em bus- car as melhores e mais sustentáveis alternativas em seus deslocamentos. Por outro lado, para a gestão urbana, o desafio perpassa pelo investi- mento em infraestrutura e modos de transporte público eficientes e sus- tentáveis, os quais sejam capazes de atender às demandas populacionais de cada município por meio do alinhamento de tecnologias e da integra- ção entre modais. Nesse sentido, as legislações vigentes vêm para direcionar a gestão pública e criar instrumentos que possam propor, implementar e monito- rar as ações de melhoria contínua na mobilidade urbana. ATIVIDADES 1. Diferencie infraestrutura de circulação de modos de circulação. 2. Descreva as três faixas que uma calçada deve contemplar. 3. Cite e descreva os três grupos de modos de transporte disponíveis no Brasil. Vídeo https://usemobile.com.br/aplicativo-mobilidade-urbana/ https://usemobile.com.br/aplicativo-mobilidade-urbana/ https://usemobile.com.br/aplicativo-mobilidade-urbana/ 44 Mobilidade e logística urbana REFERÊNCIAS ALMEIDA, R. A. Paisagem socializada: acessibilidade urbana de calçadas e passeios de uso público por pessoas com mobilidade reduzida em Curitiba, Paraná. 2018. Dissertação (Mestrado em Gestão Urbana) – PUCPR, Curitiba, PR. BNDES. GUIA TPC: orientações para seleção de tecnologias e implementação de projetos de transporte público coletivo. 2017. Disponível em: https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/ handle/1408/14921. Acesso em: 14 abr. 2021. BRASIL. Constituição Federal (1988). Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ Constituicao.htm. Acesso em: 14 abr. 2021. BRASIL. Lei n. 9.503, de 23 de setembro de 1997. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 24 set. 1997. 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Objetivos de aprendizagem Se pudéssemos escolher entre viver em uma cidade tomada por gran- des congestionamentos e poluição ou viver em uma cidade onde fosse pos- sível ir ao trabalho, à escola ou ao lazer de bicicleta ou a pé, é muito provável que escolheríamos a segunda opção. Essa tem sido a escolha de muitos cidadãos e muitas cidades ao redor do mundo. Neste capítulo abordaremos o conceito de mobilidade ativa e sustentável e conheceremos alternativas que vêm sendo implementadas por algumas cidades como forma de incentivo para tal mobilidade. Na sequência, analisaremos os critérios e as características vinculadas à ciclomobilidade e à caminhabilidade, componentes da mobilidade ativa. Por fim, veremos que a acessibilidade está totalmente atrelada à caminha- bilidade e analisaremos quais são os critérios necessários para que uma cidade possa ser acessível a todos os atores da vida urbana. 3.1 Mobilidade ativa e sustentável Vídeo Antes de iniciarmos esta seção, pense como são seus deslocamen- tos pela cidade. Como você vai ao trabalho? Como se desloca para atividades culturais, de estudos, compras e consultas médicas? Agora pense em seus deslocamentos mais curtos, de até 5 km, de que forma eles são feitos? A pé? De bicicleta? De carro? De moto? 46 Mobilidade e logística urbana NadyGinzburg/Shutterstock Esse desafio nos permite analisar como vivemos em nossa cidade, se presos a congestionamentos e isolados em nossos carros, compartilhando o transporte pú- blico com outros usuários, ou pedalando e caminhando e, dessa maneira, viven- ciando a cidade, praticando uma atividade física e reduzindo os índices de emissão de poluentes. É nesse sentido que atua a mobilidade ativa, também conhecida como mobilidade não motorizada ou mobilidade suave. Nela, a propulsão humana é o “combustível” para o transporte de pessoas e de bens, sendo o andar a pé e de bicicleta os meios mais usuais. Dessa forma, ela faz parte da mobilidade sustentável, sendo a mais barata, saudável e com con- sumo energético mais eficiente para distâncias de até 5 km (COSTA, 2015). De acordo com a Lei n. 12.587/2012 (BRASIL, 2012), o transporte não motorizado deve ser priorizado em relação ao motorizado. No entanto, na prática, muitas vezes o que é visto é a supervalorização dos automó- veis, especialmente daqueles de uso individual. Ao final da Segunda Guerra Mundial, na década de 1950, o de- senvolvimento acelerado da indústria automobilística provocou mu- danças em todo o mundo, e, desde então, o carro passou a ser visto como o elemento principal da mobilidade. Nesse período, o veículo passou a ser a prioridade nas cidades e não mais o cidadão (LOPES; SANTOS; LOBO, 2010). Simonelli (2020) destaca que, nas últimas décadas, as cidades vêm perdendo suas ca- racterísticas de ambientes construídos para pessoas e os planos urbanos são voltados para a acomodação de veículos automo- tores, com pouco espaço destinado à con- vivência, como parques, praças, calçadas e passeios. Sendo assim, “a mudança dos pa- drões de deslocamento dos habitantes atra- Kzenon/Shutterstock Mobilidade ativa, sustentável e acessível 47 vés do uso de meios de transporte não motorizados é crucial para a construção de centros urbanos com padrões de qualidade de vida mais elevados” (IEMA, 2010, p. 10). Você deve estar se perguntando quais são as consequências para as cidades se elas não incentivarem ou contemplarem, em seus planos diretores, a mobilidade ativa ou sustentável. Ao priorizar o transporte motorizado individual, o planejamento de transportes acarreta sérios problemas ambientais e de saúde pública, tais como a degradação da qualidade do ar e o aquecimento global causados pela emissão de po- luentes e gases do efeito estufa. Somados a esses fatores, temos o impacto do aumento dos conges- tionamentos e o aumento dos custos com ampliação da capacidade viável e de estacionamentos, quase como um ciclo sem fim, conforme representado na figura a seguir. Mais vias Congestionamento CongestionamentoMais carros Mais carros Mais vias Figura 1 Ciclo dos congestionamentos Fonte: IEMA, 2010, p. 12. Por outro lado, quando uma cidade incentiva a mobilidade sus- tentável, ela tem mais chances de reduzir os impactos ambientais, so- ciais e econômicos da mobilidade urbana, em seus modos e meios de locomoção e de uso dos espaços e recursos, promovendo, dessa forma, a qualidade de vida para seus cidadãos (MAZZAROTTO; SILVA, 2017). Gehl (2014) acrescenta que os movimentos urbanos realizados a pé ou de bicicletas utilizam menos recursos e afetam o meio ambiente menos que os demais modos de transporte, uma vez que, neles, os usuários fornecem a energia, sendo esta uma forma de transporte ba- rata, silenciosa e que não causa impactos ambientais de poluição. Os planejadores urbanos têm percebido as vantagens proporcio- nadas pela mobilidade ativa, as desvantagens do uso dos veículos individuais e os impactos por eles causados e têm buscado alterna- tivas para o incentivo das caminhadas e da ciclomobilidade. Dentre 48 Mobilidade e logística urbana Canetti/Shutterstock essas políticas encontram-se: desestímulo do uso do transporte individual motoriza- do, por meio da redução ou da eliminação de espaço para estacionamento, retirada de uma das vias destinadas aos veículos, redu- ção dos limites de velocidade (vias calmas) e viabilização de ruas completas, espaços com- partilhados e implementação de ciclovias. A via calma é uma via compartilhada por car- ros, motos e bicicletas, onde os pedestres têm prio- ridade total nas travessias e há uma faixa preferencial para bicicletas (bicicaixas), usualmente da cor vermelha, em que os car- ros são proibidos de trafegar. Um exemplo é a Avenida Sete de Setembro, em Curitiba, que possui a chamada via calma (CURITIBA, 2021). Já as ruas completas são ruas que possuem espaços destinados a cada usuário, como para pedestres, ciclistas, ônibus ou carros. Um exemplo é a Avenida Paulista, em São Paulo, representada na Figura 2. O conceito tem como base distribuir o espaço de maneira mais democrática, beneficiando todos os usuários. Com acesso a ruas mais completas, os cidadãos se sentem seguros para adotar padrões de deslocamento mais sustentáveis e com menos impacto ambiental, fazendo uso da bicicleta e por meio de caminhabilidade (ENTENDA..., 2017). Figura 2 Exemplo de rua completa Di eg o Gr an di/S hu tte rs to ck Carga e descarga Pedestres Transporte público Faixa de ciclista Transporte privado Mobilidade ativa, sustentável e acessível 49 Destacam-se como os principais objetivos das ruas completas (EN- TENDA..., 2017): Priorização dos deslocamentos por transporte coletivo, a pé e de bicicleta. Apoio à diversidade de usos do solo, mesclando residências, comércio e serviços. Incentivo à permanência das pessoas nos espaços públicos e não apenas a passagem. Estímulo à igualdade, segurança, saúde, tornando os espaços urbanos mais com- partilhados e vivos. ve ro nc hi ck _8 4/ Sh ut te rs to ck Os espaços compartilhados (shared space) são uma estratégia fundamentada na ideia de que ruas de maior velocidade se tornam hostis a pedestres e a ciclistas e inibem ou desestimulam a presença de modos de deslocamento não motorizados. Nesse modelo, as ruas ou avenidas não dispõem de semáforos, placas de sinalização, lomba- das, nem meios-fios. No lugar do asfalto, são utilizados pisos de peças pré-moldadas de concreto coloridas (intertravados). As calçadas e as ruas possuem o mesmo nivelamento, onde circulam, no mesmo espa- ço, ônibus, carros, motocicletas, bicicletas e pedestres. A primeira cidade a implementar esse modelo foi Drachten, na Holanda, e hoje o conceito já é adotado em várias cidades ao redor do mundo. SA Kh an Ph ot og ra ph y/ Sh ut te rs to ck O conceito de shared space foi criado pelo engenheiro de tráfego rodoviário holandês Hans Monderman. A cidade de Leeuwarden, também na Holanda, adota o experimento que já provou melhorar a segurança no trânsito. Assista ao vídeo do seminário online Ruas completas, O que são Ruas Completas: conceitos e benefícios, promovido pela WRI Brasil e pela Frente Nacional de Prefeitos (FNP), e conheça melhor esse modelo e sua implementação. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=zjJb5c9FzCg. Acesso em: 17 mai. 2021. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=zjJb5c9FzCg https://www.youtube.com/watch?v=zjJb5c9FzCg https://www.youtube.com/watch?v=zjJb5c9FzCg 50 Mobilidade e logística urbana Com base nos modelos apresentados, a seguir aprofunda- remos nosso conhecimento a respeito da ciclomobilidade e da caminhabilidade. 3.2 Ciclomobilidade e caminhabilidade Vídeo Do ponto de vista ambiental, a bicicleta é o símbolo do transporte sustentável e acessível à grande massa populacional, sendo um modo barato e que necessita de infraestrutura simples (DUARTE; SÁNCHEZ; LIBARDI, 2012). Ao uso da bicicleta como forma de locomoção, é dado o nome de ciclomobilidade. Vasconcellos (2012) reforça que a organização do espaço urbano para acomodar as bicicletas pode ser feita de várias formas, desde vias compartilhadas (com sinalização convencional) até a construção de ci- clovias e ciclofaixas. Vamos conhecer a diferença entre elas. Representam o compartilhamento das vias com diferentes modos de transporte, com sinalização no piso indicando o tráfego de ciclistas. Usualmente é construída junto às demais vias e, portanto, menos isolada do tráfego motorizado. Normalmente de mão única. Totalmente segregada do tráfego motorizado, podendo ser construída ao lado de uma rua, avenida ou em locais específicos, como nos canteiros centrais, em calçadas ou cruzando áreas maiores, como parques. Ciclofaixa CicloviaVias compartilhadas VT T St ud io /S hu tte rs to ck Ax el B ue ck er t/ Sh ut te rs to ck Br un o M ar tin s Im ag en s/ Sh ut te rs to ck Cidades de grande e de médio porte no mundo inteiro, por exem- plo, Londres (Inglaterra), Dessau (Alemanha), Amsterdã, Roterdã, Delft e Utrecht (Holanda), Bruges (Bélgica) e Paris (França), vêm adaptando seus espaços viários para o uso da bicicleta, criando infraestruturas apropria- das, com redes de ciclovias, sinalização adequada, sistemas de aluguel Mobilidade ativa, sustentável e acessível 51 de bicicletas de baixo custo, bicicletários e estacionamentos para bicicle- tas como formas de incentivo ao uso desse modal (IEMA, 2010). Conforme vimos, a bicicleta vem sendo cada vez mais incorpora- da ao planejamento urbano em diversas cidades, no entanto, ainda há muito o que se fazer para incentivar seu uso e trazer segurança aos seus usuários e, assim, consolidá-la como meio de transporte. Nesse sentido, o Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA, 2010, p. 46) des- taca como pontos de atenção para a implantação de ruas cicláveis: Não considerar o automóvel como a única forma de deslocamento; Dividir o espaço público de uma maneira mais justa e democrática; Priorizar a bicicleta e o pedestre em todos os projetos viários; Implantar redes de ciclovias e suas infraestruturas auxiliares (bicicletários, si- nalização etc.); Desenhar e planejar o sistema viário de maneira que o uso da bicicleta e do passeio público seja mais seguro e atrativo. He nd ry 08 4/ Sh ut te rs to ck Vale destacar que o incentivo à mobilidade ativa está relacionado às oportunidades iguais de acesso ao espaço público. Gehl (2014) evi- dencia que a igualdade é incentivada quando as pessoas caminham e andam de bicicleta em combinação com outros modos de transporte e que isso lhes permite ganhos, como aumento da qualidade de vida e melhoria de questões ambientais e da saúde populacional. O conceito de caminhabilidade (walkability, em inglês) foi utilizado pela primeira vez em 1993, no Canadá, e volta-se para as condições do espaço urbano sob o ponto de vista do pedestre (ITDP, 2019). Em linhas gerais, pode ser definido como “a medida em que as características do ambiente urbano favorecem a sua utilização para deslocamentos a pé” (ITDP, 2019, p. 9) e compreende aspectos tais como: As condições e dimensões das calçadas e cruzamentos; A atratividade e densidade da vizinhança; A percepção de segurança pública; As condições de segurança viária. Ja ni s Ab ol in s/ Sh ut te rs to ck Conheça o inovador estacionamento para bici- cletas no Japão assistindo ao vídeo do link. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=xDs1bf- Id8g. Acesso em: 17 mai. 2021. Curiosidade Um dos defensores da ciclomobilidade e da cami- nhabilidade é o autor Jan Gehl, que em sua obra Ci- dade para pessoas aborda questões fundamentais para a qualidade de vida na cidade e a valorização dos espaços públicos, defendendo a valoriza- ção da vida por meio da mobilidade ativa. GEHL, J. São Paulo: Perspectiva, 2013. Livro https://www.youtube.com/watch?v=xDs1bf-Id8g https://www.youtube.com/watch?v=xDs1bf-Id8g https://www.youtube.com/watch?v=xDs1bf-Id8g 52 Mobilidade e logística urbana Quando uma cidade oferece condições de caminhabilidade aos seus cidadãos, motiva as pessoas a andarem com mais frequência e a utilizarem o espaço urbano. O Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP, 2019, p. 9) destaca que seu foco não deve estar apenas nos elementos físicos, mas também em “atributos do uso do solo, da política ou da gestão urbana que contribuem para valorizar os espaços públicos, a saúde física e mental dos cidadãos e as relações sociais e econômicas na escala da rua e do bairro”. Malatesta (2017) acrescenta que a caminhabilidade é exercida por meio de aspectos envolvidos na extensão de um trajeto, articulada de modo que possa ser integrada às demais redes de mobilidade dispos- tas no espaço urbano, considerando que, muitas vezes, a caminhada é o ponto de conexão com outros modais de transporte. A caminhabilidade pode trazer vários benefícios para o ambiente urbano, tais como (CITIES..., 2021): Econômicos Incluem atratividade urbanística, economia local, regeneração urbana e redução de custos. Sociais Favorecem a saúde, o bem-estar, a segurança, a igualdade social. Ambientais Envolvem serviços ecossistêmicos, capacidade de vida e eficiência de transporte e redução de índices de poluição. Políticos Associados à liderança, à governança, ao desenvol- vimento sustentávele a oportunidades de melho- rias no planejamento urbano. bu ffa lo bo y/ Sh ut te rs to ck Que a caminhabilidade traz benefícios para as cidades e para seus habitantes já sabemos, mas você deve estar se perguntando como tor- nar uma cidade caminhável. Ou, ainda, se é possível medir o quanto uma cidade é caminhável. Mobilidade ativa, sustentável e acessível 53 Se você se fez esses questionamentos, saiba que não está sozi- nho. Muitos estudiosos de diferentes áreas já desenvolveram ferra- mentas ou propuseram índices de caminhabilidade visando avaliar os aspectos do ambiente urbano que favorecem ou desestimulam a caminhada. Tomaremos como base o iCam 2.0 – Índice de Caminhabilidade do ITDP Brasil, composto de quinze indicadores agrupados em seis dife- rentes categorias, conforme mostra o quadro a seguir. Quadro 1 Indicadores da caminhabilidade Categoria Indicadores Descrição Calçada – Largura; – Pavimentação. Incorpora a dimensão de caminhabilidade relativa à in- fraestrutura, considerando dimensões, superfície e ma- nutenção do piso adequadas ao pedestre. Mobilidade – Dimensão das quadras; – Distância a pé ao transporte. Visa medir a disponibilidade e o acesso ao transporte público, bem como a permeabilidade da malha urbana. Atração – Fachadas fisicamente permeá- veis; – Fachadas visualmente ativas; – Uso público diurno e noturno; – Usos mistos. Relaciona-se às características de uso do solo que poten- cializam a atração de pedestres, avaliando atributos do espaço construído que podem ter um impacto decisivo na intensidade do uso das rotas de pedestres e na sua distribuição ao longo do dia ou semana. Segurança viária – Tipologia da rua; – Travessias. Relacionada à segurança de pedestres no que tange aos riscos de colisões e fatalidades em relação ao tráfego de veículos motorizados, assim como à adequação de tra- vessias a requisitos de conforto e acessibilidade universal. Segurança pública – Iluminação; – Fluxo de pedestres diurno e no- turno. Direcionada para a influência do desenho urbano e das edificações no número de ocorrências e na sensação de segurança transmitida aos pedestres. Ambiente – Sombra e abrigo; – Poluição sonora; – Coleta de lixo e limpeza. Agrupa indicadores relacionados a aspectos ambientais que possam afetar as condições de caminhabilidade de um espaço urbano. Esses indicadores estão relaciona- dos a aspectos de conforto, como sombra e abrigo, e a condições ambientais, como poluição sonora e limpeza urbana. Fonte: ITDP, 2019, p. 14-15. Independentemente da metodologia utilizada, o que importa é sempre levar em consideração a dimensão humana com vistas ao pedestre e a compreensão de que a caminhabilidade integra-se a uma rede maior, com os demais modais de transporte. Para que uma cidade seja caminhável, ela deve associar-se aos critérios da acessibilidade, os quais veremos a seguir. Para conhecer o iCam 2.0 na íntegra, acesse o link a seguir. Disponível em: http://itdpbrasil. org/wp-content/uploads/2019/05/ Caminhabilidade_Volume-3_ Ferramenta-ALTA.pdf. Acesso em: 17 mai. 2021. Saiba mais 54 Mobilidade e logística urbana 3.3 Acessibilidade Vídeo Os princípios da caminhabilidade e da acessibilidade são indisso- ciáveis, sendo o primeiro considerado o ato de caminhar, os valores e as características espaciais da paisagem e do desenho urbano, os quais visam à promoção da justiça e da igualdade social. O segundo diz respeito às facilidades que possibilitam os deslocamentos serem feitos com autonomia, rapidez e segurança por todos os cidadãos (FAJARDO, 2017; RODRIGUES, 2017). na m pi x/ Sh ut te rs to ck A acessibilidade visa prover a utilização autônoma e segura no es- paço urbano para pessoas de qualquer idade, estatura ou limitação de mobilidade, não podendo ser interpretada como um fato isolado dentro do desenho urbano, mas como parte da mobilidade da cidade (DUARTE; SÁNCHEZ; LIBARDI, 2012). Oliveira (2014) acrescenta que a acessibilidade engloba medidas proativas de combate à falta de qualidade das funções urbanas e à possibilidade de translocação de um ponto a outro, com foco prin- cipal nas pessoas. De acordo com as especificações da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2015, p. 2) a acessibilidade é tida como a “possibilida- de e condição de alcance, percepção e entendimento para a utilização com segurança e autonomia de edificações, espaço, mobiliário, equipa- Mobilidade ativa, sustentável e acessível 55 mento urbano e elementos” por todos os atores da vida social, incluin- do aqueles com mobilidade reduzida. A Lei Federal n. 12.587/2012 a descreve como: condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, siste- mas e meios de comunicação e informação, por pessoa porta- dora de deficiência ou com mobilidade reduzida. (BRASIL, 2012) Vasconcellos (2012) a divide em dois tipos: a macroacessibilidade, relacionada à facilidade de atravessar o espaço e atingir as construções e os equipamentos urbanos desejados por meio dos sistemas viários; e a microacessibilidade, referente à capacidade relativa ao acesso direto aos veículos ou destinos desejados. Uma cidade acessível, portanto, é aquela que permite a integração plena e exitosa entre os cidadãos e os ambientes onde ocorrem seus deslocamentos, principalmente para grupos de mobilidade reduzida permanente ou temporária, como é o caso de idosos, gestantes, obe- sos e pessoas com deficiência. Nesse sentido, Duarte, Sánchez e Libardi (2012, p. 21) expõem que “a acessibilidade de pessoas com restrição de mobilidade não se resu- me à possibilidade de entrar em um determinado local ou veículo, mas na capacidade de se deslocar pela cidade, utilizando os vários sistemas de modais de transporte organizados a partir de uma rede”. Sendo assim, a acessibilidade deve associar-se ao conceito de de- senho universal, quando o ambiente urbano atende simultaneamente às necessidades de todas as pessoas, em suas diferentes fases da vida, de modo autônomo, seguro e confortável. Ou seja, o espaço público é desenhado de tal forma que se torna inclusivo e livre de barreiras físicas que condicionam ou impedem o acesso e a movimentação de determinados grupos sociais (ALMEIDA, 2018). Logo, as condições de acessibilidade devem estar atreladas ao uso das calçadas, por meio da utilização de critérios e parâmetros técni- cos que possibilitem melhores características para a mobilidade, como padrão dos passeios, tipos de materiais utilizados, condição de inclina- ção e continuidade, sensação de segurança, nível de conservação, grau de luminosidade, entre outros (ALMEIDA, 2018). No ambiente urbano, são as calçadas e os passeios que permitem os deslocamentos das pessoas ocorrerem de maneira contínua e segu- ra. Almeida (2018) destaca cinco critérios para uma calçada acessível: Acessibilidade Relacionada à utilização de maneira autônoma, independente e segura das calçadas e dos passeios, por meio da disposição de áreas com condições físicas apropriadas ao seu uso, com comodidade, resguardo e proteção, tendo como essenciais os princípios do amplo acesso e da fácil circulação. Conectividade Referente à condição de continuidade do trajeto, permitindo que o percurso seja percorrido, do início ao fim, com autonomia, por todas as pessoas, sem a necessidade de desvios de obstáculos ou sem a impossibilidade de sua conclusão devido à ausência de travessias em mesmo nível ou de sinalização adequada. Seguridade Pertinente à sensação de segurança real e percebida pelo pedestre durante seu deslocamento, proporcionada pela copresença de transeuntes, pela incidência de espaços com iluminação adequada e por equipamentos urbanos de incentivo ao uso do espaço público, permitindo que as pessoas possam ver e serem vistas sem a sensação de risco eminente.Ambientação Relacionada à paisagem e aos critérios de ambientação, os quais devem interagir com os elementos vinculados à usualidade e à acessibilidade no uso e na percepção das calçadas e dos passeios. Manutenção Voltada às características físicas dadas pelos tipos de pavimento e de revestimento, bem como pela aderência do piso, declividade, no que tange ao conforto e à segurança dos transeuntes. Vamos compreender melhor cada um desses cinco critérios. Duarte, Sánchez e Libardi (2012) explicam que calçadas acessíveis são aquelas nas quais o pedestre caminha em percursos livres de barreiras, permi- tindo o alcance de seu destino com conforto e segurança. W ac hi wi t/ Sh ut te rs to ck 5656 Mobilidade e logística urbanaMobilidade e logística urbana Mobilidade ativa, sustentável e acessível 57 robbin lee/Shutterstock Nesse sentido, é possível compreendermos que qualquer indi- víduo poderá percorrer aquele percurso de maneira autônoma, ou seja, sem necessitar da ajuda de outras pessoas, e segura, isto é, sem colocar em risco sua vida e com conforto, livre de situações desagra- dáveis ou desconfortáveis. Para que uma calçada ou um percurso sejam acessíveis, devem apresentar características como: pavimentação homogênea, rebaixa- mento das calçadas junto às travessias, ausência de degraus, sinaliza- ção de alerta ou piso tátil direcional e mobiliário fora da faixa livre para a circulação de pedestres. A manutenção indica os aspectos de qualidade e condição do piso que podem facilitar ou não o ato de caminhar, ou até mesmo causar evasão do uso das calçadas. Em seus deslocamentos, os pedestres optam por percursos nos quais se sentem confortáveis. Sendo assim, um percurso com boa manutenção deve incluir: uma calçada pavimentada com material fir- me (sem pedras soltas), antiderrapante, não trepidante e com transição sem interferên- cias entre tipos diferenciados de pavimen- tação. Percursos com declividade, perigo de escorregar ou cair, pisos em más condições de conservação ou escorregadios tendem a ser evitados pelos pedestres e se tornam inacessíveis para pessoas com mobilidade reduzida (ALMEIDA, 2018). El lyy /S hu tte rs to ck 58 Mobilidade e logística urbana A conectividade está vinculada à interligação das distâncias percorridas, à viabilidade do caminho e às facilidades e conveniên- cias entre a origem e o destino, o que envolve os locais de tra- vessia, ou seja, pontos de cruzamento entre pedestres e veículos motorizados e conexão ou acesso a outros modais de transporte. Para que haja a conectividade completa entre origem e destino, o percurso deve apresentar elementos como: continuidade da faixa livre no mesmo nível e sem necessidade de desvio de obstáculos, possibilidade do fluxo de pessoas nos dois sentidos, mobiliário ur- bano localizado fora da faixa livre para circulação de pedestre, tra- vessia em mesmo nível (faixa elevada ou rebaixamento da guia) e elementos de infraestrutura de serviços públicos no passeio fora da faixa de circulação (ALMEIDA, 2018). ra ng iz zz /S hu tte rs to ck Quando um percurso coloca os pedestres em risco, ele lhes cau- sa a sensação de insegurança, isso ocorre em locais onde há risco de quedas, normalmente causadas por más condições de manu- tenção, presença de áreas de recuo ou de pouca visibilidade, tre- chos segmentados por muros altos, que impedem a conexão visual ou em travessias onde estão sujeitos a atropelamentos. Em con- trapartida, a sensação de segurança pode ser garantida quando o leito carroçável (via de automóveis) é segregado da calçada, e também quando há presença de outras pessoas, viaturas policiais, Para saber mais a respei- to dos critérios necessá- rios para que uma calçada seja acessível, assista ao vídeo Campanha Calçadas do Brasil + 2018 | Acessi- bilidade, a calçada em si, publicado pelo canal MobilizeBrasil. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=ekSXnGlzgW0. Acesso em: 18 jun. 2021. Saiba mais https://www.youtube.com/watch?v=ekSXnGlzgW0 https://www.youtube.com/watch?v=ekSXnGlzgW0 https://www.youtube.com/watch?v=ekSXnGlzgW0 Mobilidade ativa, sustentável e acessível 59 câmeras de vigilância e áreas com boa iluminação e visibilidade, aumentando a confiança das pessoas (ALMEIDA, 2018). Durante as caminhadas, as pessoas tendem a escolher caminhos onde se sintam seguras e envolvidas com o meio. Uma boa ambientação estimula os pedestres a permanecerem e a desfrutarem do espaço, em vez de apenas estarem de passagem. Dessa for- ma, para que haja esse estímulo, os espaços devem incluir locais de convivência, bancos para descanso, sombreamento de árvores, jardins, elementos culturais e atrativos visuais, ou seja, atrativos que incen- tivem o convívio e a interação social (ALMEIDA, 2018). É preciso compreender que a aces- sibilidade vai muito além de apenas oferecer critérios técnicos, como guias rebaixadas, piso tátil ou direcional, ela inclui dar segurança às pessoas, ofere- cer atrativos visuais, incentivar a perma- nência nos espaços e garantir autonomia desde o ponto de origem até o destino de todos os grupos sociais. E esse é um grande desafio para os gestores urbanos. Mikhail Starodubov/Shutterstock CONSIDERAÇÕES FINAIS Durante muitos anos, o veículo de transporte individual foi o grande protagonista do ambiente urbano, sendo até mesmo considerado um símbolo de status na sociedade. Mas à medida que o tempo foi passando, cenas de congestionamentos e poluição passaram a ser mais frequentes, colocando os carros como grandes “vilões” do espaço urbano. É diante desse cenário que os gestores urbanos têm repensado a mobilidade, trazendo ao protagonismo a mobilidade ativa, mais bara- ta, mais saudável e com menor impacto no meio ambiente. Assim, aos poucos, os carros saem de cena para dar espaço à caminhabilidade e à ciclomobilidade, trazendo novamente vida aos espaços urbanos. 60 Mobilidade e logística urbana ATIVIDADES 1. Conceitue a mobilidade ativa. 2. Diferencie: vias compartilhadas, ciclofaixa e ciclovia. 3. Descreva os cinco critérios de uma calçada acessível. REFERÊNCIAS ABNT. 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Rio de Janeiro: SENAC, 2012. 62 Mobilidade e logística urbana 4 Logística urbana Com o estudo deste capítulo você será capaz de: • Assimilar os conceitos da logística urbana. • Conhecer as partes que compõem a distribuição de cargas nas cidades e as soluções regulamentares do Poder Público. Objetivos de aprendizagem A logística urbana desempenha um papel importante nas atividades sociais das cidades. Especialmente após a intensificação do processo de urbanização, do surgimento do e-commerce, quando um número crescente de pessoas passou a adquirir produtos on-line e tê-los entre- gues em suas casas, aumentou o conflito de interesses entre os dife- rentes atores envolvidos nos sistemas de distribuição logística. Nesse novo cenário, a logística urbana torna-se cada vez mais signi- ficativa, tendo atribuições que vão além da otimização do transporte de cargas e levando em consideração também os problemas ambientais decorrentes de congestionamentos, poluição e gastos com combustí- veis. É nesse sentido que essa temática precisa ser alinhada ao pla- nejamento urbano, uma vez que uma política de distribuição eficiente pode trazer melhorias para o desenvolvimento econômico, qualidade de vida e redução dos impactos ambientais, além de atender ao novo perfil dos consumidores, cada vez mais ávidos por receber suas enco- mendas no menor tempo possível. Assim, neste capítulo estudaremos os conceitos iniciais dessa temá- tica, as dimensões nela envolvidas e as soluções regulamentares que o nosso país tem adotado como forma de reduzir seus impactos no ambiente urbano. 4.1 Introdução à logística urbana Vídeo A logística é responsável pelas atividades de movimentação e ar- mazenamento que visam facilitar o escoamento dos produtos, já que recursos e consumidores, em geral, encontram-se distantes entre si. Logística urbana 63 Cabe a essa área reduzir as distâncias entre a produção e a demanda para que os consumidores tenham bens e serviços no momento certo e nas condições que desejam (BALLOU, 2012). A evolução da logística é dividida, de acordo com Novaes (2007), em quatro grandes fases. A primeira possui atuação segmentada, tendo o alto volume de estoque como seu elemento-chave. Uma segunda fase, conhecida como integração rígida, é voltada à racionalização de proces- sos e à integração com outros setores intraorganizacionais. Na terceira fase, com o desenvolvimento dos softwares de gestão, a logística atinge uma integração flexível que permite a junção entre diferentes elos de uma cadeia logística, fase na qual o foco passa a ser a satisfação do cliente e a redução dos estoques. Na quarta fase a logística passa a atuar de maneira estratégica nas organizações visando a um diferencial competitivo. Essa fase repre- senta um momento disruptivo dessa área, alterando a dinâmica das cadeias de suprimentos, com destaque para: estoque zero e prazos de entrega cada vez mais curtos; logística puxada (é a demanda dos clien- tes que impulsiona o sistema de produção e distribuição); maior nível de exigência por parte dos consumidores; intensificação do e-commerce; uso intensivo da informação e das tecnologias de informação (NOVAES, 2007). Essas quatro fases estão representadas na figura a seguir. Figura 1 Fases da evolução logística Fonte: Elaborada pela autora com base em Novaes, 2007. AB C Ve ct or Il lu st ra tio n/ Ov ch in nk ov V la di m ir/ 20 0d gr /E lla gr in /S hu tte rs to ckAtuação segmentada Integração flexível Integração rígida Integração estratégica Aumento do volume de estoque Satisfação do cliente e redução de estoques Integração de setores organizacionais Estoque zero e logística puxada 64 Mobilidade e logística urbana São essas mudanças que alteram o padrão de distribuição. Os va- rejistas que tinham grande volume de mercadoria em estoque passam a trabalhar com base na demanda em um sistema puxado de merca- dorias, o que exige entregas mais frequentes e em quantidades mais fragmentadas (BALLOU 2012). É notória também a mudança no padrão de vida e de consumo da população urbana, o que tem aumentado o fluxo de pessoas e bens em virtude da compra de produtos e serviços por meio do e-commerce. Em resposta a esse novo padrão logístico, surge uma nova área de planejamento de transportes e distribuição de cargas que recebe dife- rentes denominações: City Logistics (logística da cidade), ou ainda Last Mile (última milha), que trata do processo de otimização total das ati- vidades de logística urbana, considerando o entorno socioambiental e econômico, financeiro e energético da circulação de mercadorias no espaço urbano (TANIGUCHI et al., 2001; BERNARDES; FERREIRA, 2013). Taniguchi et al. (2001) definem a logística urbana como um pro- cesso de otimização das atividades de distribuição de mercadorias em áreas urbanas, realizadas por entidades públicas e privadas, conside- rando fatores como o aumento e o congestionamento do tráfego e o consumo de energia na estrutura do mercado econômico. Dada a importância da distribuição de mercadorias nos centros ur- banos, Stathopoulos, Valeri e Marcucci (2012) destacam que essa se tornou uma questão crítica no planejamento das cidades, exigindo uma solução abrangente que facilite a introdução de políticas de logís- tica urbana e que considere as partes interessadas: clientes, governo local, prestadores de serviços de logística, habitantes e varejistas. 4.1.2 A logística urbana no contexto urbano Da década de 1950 em diante, principalmente nos países em desen- volvimento, assistiu-se a uma mudança na concentração da população das áreas rurais para as cidades como consequência de um intenso processo de industrialização. De acordo com dados da ONU (2019), no ano 2018, cerca de 55,3% da população mundial viviam em área urba- nas; para 2030, a estimativa é de que esse número aumente para 60% e que uma em cada três pessoas viva em cidades com pelo menos meio milhão de habitantes. Logística urbana65 O intenso processo de urbanização estimula uma maior procura pela produção de energia, transporte de mercadorias e passageiros. Diante desse cenário, a distribuição de bens passa a desempenhar um importante papel na garantia do abastecimento dos suprimentos des- tinados à manutenção, ao desenvolvimento e à garantia da qualidade de vida da população urbana (ASIH et al., 2017; TANIGUCHI et al., 2001). Ta va riu s/ Sh ut te rs to ck Anand et al. (2015) apontam que os avanços no transporte e na in- formação, aliados à globalização, desencadearam a abundância de di- versos produtos disponíveis no mercado, alterando, assim, os sistemas de distribuição urbana e demandando maior adaptação da logística a essa nova realidade mundial. Lindholm e Behrends (2012) acrescentam que as atividades econômi- cas realizadas nos centros urbanos exigem a circulação de bens e mer- cadorias, unindo fabricantes e embarcadores aos consumidores finais, e que permitir a acessibilidade a esses produtos é a principal função do transporte urbano de cargas, sendo as necessidades de acessibilidade o que impulsiona todo o sistema de transporte urbano de carga. Somam-se a esses fatores algumas tendências importantes viven- ciadas pela logística e que impactam diretamente a distribuição de car- gas (JANJEVIC; KAMINSKY; NDIAYE, 2013): Intensificação do comércio internacional. Tendência à terceirização de atividades não essenciais, incluindo logística. Redução do volume de estoque, com base na metodologia just-in-time. Fatores dinâmicos, incluindo o ritmo e o risco de obsolescência de produtos ou, ainda, a velocidade de lançamento de novos produtos no mercado. Busca por experiências satisfatórias para os clientes. Tecnologia da informação e integração sistêmica entre diferentes elos da cadeia logística. Surgimento do e-commerce e, como consequência, tendência à movimenta- ção de remessas menores e mais frequentes (suprimento sensível ao tempo). Ve ct or fa ir. co m /S hu tte rs to ck Tais fatores desencadearam o aumento na quantidade de entregas realizadas, tornando-as mais pulverizadas e havendo, em decorrência disso, maior circulação de veículos de carga por quilômetro rodado em áreas urbanas (ARNOLD et al., 2018). Vale destacar que, se por um lado o transporte integra distâncias, pessoas e materiais, por outro aumenta os níveis de congestionamento, ruído e poluição, bem como agrava os problemas ambientais causados pelo tráfego. Um segundo conflito ocorre dentro das áreas comerciais urbanas: aquele entre comerciantes que desejam receber seus produ- tos em um horário conveniente para eles e residentes que esperam condições de tranquilidade e segurança em sua circulação diária, ou seja, na mobilidade urbana (TANIGUCHI et al., 2001). Montoya-Torres, Muñoz-Villamizar e Vega-Mejía (2016) afirmam que a estrutura e a capacidade da rede de transporte urbano impactam di- Lightspring/Shutterstock 6666 Mobilidade e logística urbanaMobilidade e logística urbana Logística urbana 67 retamente o nível de acessibilidade ou a facilidade de se deslocar de um lugar para outro. Também explicam que as novas tendências do comércio varejista e da inovação tecnológica hoje presentes nas ca- deias de abastecimento e distribuição têm exigido cada vez mais méto- dos eficientes de planejamento de transporte nas cidades. Apesar da consciência sobre os problemas gerados em sua área urbana pela distribuição de bens, nem todas as cidades implementam as soluções propostas ou observam pesquisas de logística urbana para orientar seu processo de planejamen- to urbano (SANTOS; AGUIAR, 2013). As soluções mais comuns encontradas pelos gestores urbanos são restrição de veículos de grande porte, aplicação da janela de tempo de descarga, rotas logísticas e centros de distribuição (SAKAI; KAWAMURA; HYODO, 2016; ASIH et al., 2017). Nesse sentido, a logística urbana busca tratar do processo de oti- mização das atividades logísticas e de transporte em áreas urbanas, trazendo lucros para organizações privadas por meio de redução de custos de frete, redução de estoques, melhor aproveitamento de ro- tas e veículos, entre outros, e em paralelo ao setor público pela re- dução de intensos congestionamentos e problemas socioambientais ( BERNARDES; FERREIRA, 2013). Portanto, o grande desafio da logísti- ca urbana passa a ser o alinhamento dos interesses dos diversos ato- res: embarcadores, transportadores, destinatários, poder público e consumidores. Nessa perspectiva, Taniguchi et al. (2001) complementam que a lo- gística urbana consiste em encontrar formas eficientes e eficazes de transporte de mercadorias em áreas urbanas, levando em considera- ção os efeitos negativos sobre o congestionamento, a segurança e o meio ambiente e tendo como característica distintiva o reconhecimen- to explícito de que o transporte de bens em áreas urbanas tem impac- tos negativos e positivos na vida das pessoas que vivem nessas áreas. Taniguchi et al. (2001) destacam também que a logística urbana é di- vidida em três dimensões: as questões espaciais, os atores envolvidos e os impactos causados. Li gh ts pr in g/ Sh ut te rs to ck Uma das obras de referência sobre o tema da logística urbana é o livro Logística urbana: fundamentos e aplicações, o qual aborda a temá- tica por meio de textos escritos por diferentes especialistas que discu- tem como resolver os problemas urbanos sob o viés de uma abordagem técnico-científica. PRATA, B. de A. et al. (org.). Curitiba: CRV, 2012. Livro 68 Mobilidade e logística urbana Espaciais Atores Impactos Referem-se às fronteiras geográficas e ao espaço em que ocorrem as distribuições; contemplam as vias por onde circulam os veículos, bem como os armazéns ou centros de distribuição urbanos utilizados por varejistas ou transportadores. São os envolvidos no processo, englobando varejistas, transportadores, consumidores e o poder público. É a amplitude dos efeitos, como congestionamento, questões ambientais, impactos sociais, custos envolvidos. Do n Pa bl o/ Po pT ik a/ Gu as /S hu tte rs to ck A Figura 2 representa a interação das três dimensões, ou seja, do espaço urbano, onde ocorrem os movimentos de distribuição e recebi- mento de cargas, fazendo uso de uma infraestrutura urbana, a qual é regulamentada pelo poder público e, ainda, os impactos causados por esses movimentos no ambiente urbano, tais como econômicos, am- bientais e sociais. Figura 2 Dimensões da logística urbana Espaço urbano Transportadores Embarcadores/varejistas Poder Público Entes reguladores Consumidor Consumidor Financeiro Social Meio ambiente Energia Economia Infraestrutura urbana Terminais Vias CDs Fonte: Elaborada pela autora. Logística urbana 69 Compreender a relação entre essas três dimensões permitirá uma melhor análise da logística urbana e a elaboração de soluções para a re- dução dos seus impactos no ambiente urbano e, concomitantemente, melhoria dos serviços para consumidores. 4.2 Dimensões da logística urbana Vídeo As dimensões da logística interagem entre si no ambiente urbano e dividem-se em: espacial (voltada à infraestrutura urbana), atores (en- volvidos na logística urbana) e os impactos causados. Veremos cada uma delas a seguir. 4.2.1 Dimensão espacial A dimensão espacial pode ser relacionada à infraestrutura urbana, que muitas vezes passa despercebida no dia a dia dos cidadãos. As infraestru- turas são, em grande parte, responsáveis pela sensação de estabilidade das funções cotidianas no espaço urbano, onde há a sensação de que os sistemas funcionam e continuarão funcionando, sem a necessidade de pensamento ou ação por parte dos usuários (EDWARDS, 2003). As infraestruturas constituem um ambiente artificial e são conside- radas úteis e confortáveis à vida moderna. Nesse sentido, em grandes sistemas infraestruturais, como o da logística urbana, há combinação de atividades vinculadas a serviços, produçãoe consumo. Portanto, a logística urbana, dentro desse contexto, faz parte de infraestruturas múltiplas e interligadas que fazem parte de sistemas maiores e que podem tanto melhorar a movimentação de bens na cidade quanto res- tringi-la (PROCOPIUCK, 2011). Com base nesse viés, é possível relacionar a logística urbana a um modelo de sistema técnico dividido em de primeira e de segunda ordem: 70 Mobilidade e logística urbana Sistema de primeira ordem Veículos de carga Modais de transporte Centros de distribuição Sistema de segunda ordem Sistema viário Sistemas de gestão de tráfego Sinalização urbana No sistema de primeira ordem temos a estrutura disponibilizada usualmente pelo setor privado, que são veículos de carga (ou a com- binação de diferentes modais de transporte) e centros de distribuição urbanos; já no de segunda ordem a infraestrutura urbana em si é re- presentada por componentes como o sistema viário, locais para carga e descarga, sistemas de gestão de tráfego e de sinalização urbana. Para que esses dois sistemas possam interagir no espaço urbano, é necessária a interferência de sistemas políticos e sociais, ou seja, deve haver regulamentação desses sistemas por parte principalmente do poder público, o que é feito por meio dos planos diretores e das leis orgânicas (municipais). Procopiuck (2011) ressalta que as infraestruturas são compostas não somente de aspectos constitutivos físicos – nesse caso, a dimen- são espacial –, mas também de elementos legais, corporativos, políticos e econômicos, nos quais a administração pública é responsável pela construção de infraestruturas com atuação do setor privado, represen- tado pelas organizações detentoras de grandes capitais e de igualmen- te grandes capacidades tecnogerenciais, o que nos remete à segunda dimensão da logística urbana. 4.2.2 Dimensão de atores da logística urbana No que diz respeito à logística urbana, ela é representada por ato- res da esfera pública (poder público), da iniciativa privada (embarca- dores e transportadores) e pela população que habita e interage com o ambiente urbano. Tais atores possuem diferentes necessidades e expectativas, podendo ser definidos como aqueles que têm interesse na decisão a ser tomada, mesmo que não tenham um papel formal no processo de tomada de decisão (GATTA; MARCUCCI; LE PIRA, 2017). 4.2.2.1 Embarcadores Os embarcadores são o ponto de partida da lo- gística urbana, responsáveis pelo planejamento e gerenciamento da distribuição física e detêm as mer- cadorias que serão distribuídas. São representados por produtores, varejistas e atacadistas que possuem o objetivo de reduzir cus- tos e tempos relacionados, garantindo a qualidade nas entregas da última milha por meio de decisões que envolvem os métodos de reabastecimento, ho- rários, locais e veículos de entrega (TANIGUCHI et al., 2001). 4.2.2.2 Transportadores São representados por transportadores, operadores logísticos, prestadores de serviços logísticos e empresas de entregas expressas, que recebem os produtos dos embarcadores e são responsáveis pela consolidação e desconsolidação de cargas, bem como por sua distri- buição para varejistas e consumidores finais. São eles que fazem uso da infraestrutura urbana para entrega e retirada de mercadorias, com vistas à otimização e ao equilíbrio de custos, à qualidade da operação de transporte e ao prazo de entrega reduzido. Essa classe de atores pode decidir quanto ao tipo de serviço de transporte, horário, veículo e possíveis instalações intermediárias (por exemplo, centros de distribuição urbana), assim como sobres roteiros de entregas que sejam mais adequadas às necessidades dos seus clientes (MUÑUZURI et al., 2012; RUSSO; COMI, 2011). Siwakorn1933/Shutterstock Gorodenkoff/Shutterstock Logística urbanaLogística urbana 7171 4.2.2.3 População/clientes A população (que habita, trabalha e realiza com- pras nas áreas urbanas) representa dois papéis: o primeiro de destinatários das mercadorias trans- portadas e o segundo como aqueles que sofrem com o impacto da interferência do fluxo de veículos e produtos (congestionamentos, poluição sonora e ambiental). Na condição de consumidor final, ela busca produtos que agreguem valor. Seus principais interesses são minimizar os obstáculos causados pelo transporte de mercadorias e ter uma variedade de produtos mais recentes, seja em ambientes on-line ou off-line, a um preço baixo ou alta qualidade em relação ao preço (RUSSO; COMI, 2011). 4.2.2.4 Poder público/administração pública Nesta classe, consideram-se os governos locais, estaduais e federais, que são responsáveis pelo planejamento e regulamentação da estrutura urbana em geral, permitindo que transportadores realizem suas opera- ções de transporte de modo eficaz e eficiente e, em paralelo, trazendo melhorias à qualidade de vida das cidades, reduzindo as externalidades negativas relacionadas ao transporte urbano de mercadorias, o que re- presenta um benefício também para os cidadãos (RUSSO; COMI, 2011). Le Pira et al. (2017) destacam que a logística urbana é um ambiente complexo caracterizado por conhecimento escasso e partes interessa- das heterogêneas com objetivos conflitantes, no qual os formuladores de políticas locais tentam encontrar um equilíbrio entre os interesses públicos e privados, visando à sustentabi- lidade da cidade e, ao mesmo tempo, promovendo a eficiência da distribui- ção física de mercadorias. Assim, vale destacar a importân- cia do engajamento entre os atores envolvidos na formulação de polí- ticas públicas, tornando-as menos conflitantes. Vadym Pastukh/Shutterstock Agora que você já conhece quem são os atores que compõem a logística urbana, que tal tentar identificá-los em sua cidade? Quem são os embarcadores, trans- portadores, população e poder público? Dica vitec/Shutterstock 7272 Mobilidade e logística urbanaMobilidade e logística urbana Logística urbana 73 4.2.3 Dimensão de impactos De acordo com Taniguchi et al. (2001), a dimensão dos impactos está relacionada às consequências ou à amplitude dos efeitos da logística urbana sobre o ambiente urbano, o que envolve fatores financeiros, sociais, energéticos, econômicos e ambientais. Russo e Comi (2011) afirmam que o grande desafio da gestão públi- ca, no que diz respeito à logística da cidade, está em equilibrar diferen- tes componentes dos objetivos de sustentabilidade (econômico, social e ambiental), levando em consideração os objetivos conflitantes das partes envolvidas – ou seja, de um lado, transportadoras e varejistas que operam na busca por eficiência (financeira, energética e econômi- ca) e, do outro, a administração pública, que regula o sistema de trans- porte na tentativa de minimizar efeitos negativos sociais e ambientais provocados pela logística urbana. No entanto, dentre os impactos causados pelos veículos de carga ur- bana, os que mais se destacam são aqueles que geram efeito ambien- tal negativo principalmente devido ao congestionamento do tráfego, à emissões de poluentes, à poluição do ar e emissão de CO2, à poluição sonora (ruídos) e à deterioração da infraestrutura viária (RUSSO; COMI, 2011). ilo za vr /S hu tte rs to ck Podemos concluir que a solução para os problemas da logística está no equilíbrio dos interesses dos diferentes atores a fim de otimi- zar e garantir o melhor uso da dimensão espacial, causando o menor impacto possível ao meio urbano. 74 Mobilidade e logística urbana 4.3 Soluções regulamentares Vídeo No Brasil, o marco regulatório da mobilidade e do transporte de cargas é a Lei n. 12.587/2012, a qual objetiva, por meio de suas diretri- zes, integrar os diferentes modos de transporte e a melhoria da aces- sibilidade e da mobilidade de pessoas e cargas no território municipal (BRASIL, 2012). Embora essa lei seja federal, ou seja, suas diretrizes são direcionadas a todos os municípios que fazem parte do território nacio- nal, cada um deles possui autonomiapara desenvolver seus planos di- retores e regulamentações que versem sobre a mobilidade, bem como sobre a distribuição de mercadorias nas áreas urbanas. A referida lei, em seu artigo 23, direciona aos municípios os instru- mentos que podem ser utilizados na gestão do sistema de transporte, dentre os quais destacamos os voltados principalmente ao transporte de cargas (BRASIL, 2012): Restrição ou controle de acesso e circulação, permanente ou temporário, de veículos motorizados em locais e horários predeterminados. Estipulação de padrões de emissão de poluentes e monitoramento e controle das emissões dos gases de efeito local e de efeito estufa, facultando a res- trição de acesso a determinadas vias em razão da criticidade dos índices de emissões de poluição. Aplicação de tributos sobre modos e serviços de transporte urbano pela utili- zação da infraestrutura urbana, visando desestimular o uso de determinados modos e serviços de mobilidade. Estabelecimento da política de estacionamentos de uso público e privado. Controle de uso e operação da infraestrutura viária destinada à circulação e operação do transporte de carga, concedendo prioridades ou restrições. Ve ct or fa ir. co m /S hu tte rs to ck Assim, é possível perceber que as soluções propostas visam prin- cipalmente à redução do congestionamento (por meio de medidas de restrição de circulação de veículos e aplicação de tributos), à diminui- ção da emissão de poluentes (por meio do controle e restrição de cir- culação) e à disposição de locais para carga e descarga (políticas de estacionamento público). Oliveira et al. (2018) apontam quatro soluções regulatórias que versam sobre a problematização da logística urbana, que veremos a seguir. 4.3.1 Pedágio urbano A aplicação de tributos sobre modos e serviços de transporte ur- bano pela utilização da infraestrutura urbana – visando desestimular o uso de determinados modos e serviços de mobilidade – é permitido no Brasil. É nesse contexto que se enquadra o pedágio urbano, indica- do como uma solução atenuadora no caso de cidades que enfrentam o problema dos grandes congestionamentos, sendo esse um meio de tarifação que busca taxar os usuários pelas externalidades negativas geradas quando fazem uso de determinadas vias nas horas de pico ou, então, quando a oferta disponível não é suficiente para atender à demanda. A ideia é que o uso dos veículos particulares seja desestimulado por meio da cobrança de taxas e, consequentemente, sejam reduzidos os índices de poluição e congestionamento. Em cidades como Estocolmo, Londres e Singapura essa já é uma prática comum. Um exemplo mais próximo ao Brasil é o da cidade de Santiago, no Chile, onde existe uma rede viária pedagiada que atravessa a cidade, com cobrança de tarifas diferentes de acordo com o tipo de veículo e horário do dia (em horá- rios de pico, por exemplo, a tarifação é maior). Embora esse tipo de medida possa trazer resultados positivos para as cidades, são impopulares do ponto de vista da população. Nesse sen- tido, Oliveira et al. (2018) observam que uma maneira de mitigar esse conflito é garantir a participação dos cidadãos no processo de elabo- ração e discussão das propostas com a fina- lidade de tornar autênticas e válidas as negociações antes que sejam realiza- das alterações na legislação. Conheça a experiência da implantação do pedágio urbano na cidade de Santiago acessando o link a seguir. Disponível em: http://www.antp. org.br/noticias/ponto-de-vista/a- experiencia-de-pedagio-urbano- em-santiago-chile.html. Acesso em: 24 maio 2021. Saiba mais Bikeworldtravel/Shutterstock Placa utilizada para alertar os motoristas sobre a entrada na zona de pedágio urbano (Congestion Charge zone). Logística urbanaLogística urbana 7575 http://www.antp.org.br/noticias/ponto-de-vista/a-experiencia-de-pedagio-urbano-em-santiago-chile.html http://www.antp.org.br/noticias/ponto-de-vista/a-experiencia-de-pedagio-urbano-em-santiago-chile.html http://www.antp.org.br/noticias/ponto-de-vista/a-experiencia-de-pedagio-urbano-em-santiago-chile.html http://www.antp.org.br/noticias/ponto-de-vista/a-experiencia-de-pedagio-urbano-em-santiago-chile.html 76 Mobilidade e logística urbana 4.3.2 Regulamentação de áreas de carga e descarga É muito provável que você já tenha presenciado alguma situação em que um caminhão ou veículo de menor porte estivesse parado em fila dupla para realizar uma operação de carga ou descarga. Isso ocor- re, muitas vezes, por não haver naquele perímetro urbano um es- paço específico para que esse tipo de operação aconteça. Apesar de se tratar de uma das práticas mais comuns e be- néficas à distribuição urbana de cargas nos centros urbanos, a dificuldade de encontrar um local regulamentado nas regiões centrais para estacionar e carregar/descarregar veículos é um dos principais problemas enfrentados pelos operadores de transporte. Esse tipo de medida objetiva ordenar e racionalizar o abas- tecimento comercial de determinadas regiões, sendo que a de- limitação da área de estacionamento ocorre por meio de placas de sinalização (local de início e término) ou sinalização no próprio piso. Em alguns casos, podem conter especificações como o dia e o período em que é permitida a utilização do espaço para essa finalidade (OLIVEIRA et al., 2018). 4.3.3 Restrição de circulação Outra medida de destaque é a restrição da circulação de veículos de carga, a qual limita o tráfego desses veículos em determinados horá- rios e regiões da cidade. Tais restrições podem ser espaciais (aquelas que impõem limites à entrada e aos deslocamentos de veículos de car- ga em uma área específica) ou temporais (aquelas que delimitam o pe- ríodo em que esses veículos podem acessar determinadas áreas ou fazer uso de determinadas infraestruturas urbanas. Podemos citar como exemplo o Decreto Municipal 934 da cidade de Curitiba (PR), o qual, dentre outras providências, proíbe a circulação de veículos acima de 7 toneladas e/ou comprimento acima de 7 metros no interior da zona central de tráfego no período compreendido entre as 9 e as 19 ho- ras em dias úteis e entre as 9 e as 13 horas e 30 minutos de sábado, com o propósito de facilitar a circulação na área central e manter bons níveis de fluidez do tráfego (CURITIBA, 2008). Alex006007/Shutterstock awab sky/Shutt erstock Logística urbana 77 Outros modelos podem ser encontrados em outras cidades do Brasil e no exterior. Que tal pesquisar se esse tipo de restrição ocorre na sua cidade? 4.3.4 Zonas de baixa emissão Uma das maneiras de reduzir os impactos ambientais provocados pela distribuição urbana de cargas é a implantação de zonas de baixa emissão (em inglês, Ultra Low Emission Zones – ULEZ). Nesse modelo, o objetivo é estimular o uso e a pulverização de veículos de baixa emis- são, como os elétricos, híbridos, as bicicletas e os triciclos e, ainda, proi- bir a circulação de veículos acima de determinado ano de fabricação. Al en a Ve as ey /S hu tte rs to ck Placa indicando aos motoristas que eles estão prestes a entrar na zona de baixa emissão (ULEZ). Esse modelo foi implementado inicialmente na Europa, onde é se- guido por diferentes países, a exemplo de cidades como Milão, Berlim, Amsterdam e Londres. Para que funcione, é importante que se faça um constante monitorando, que pode ser realizado por meio de câmeras espalhadas nessas zonas (OLIVEIRA et al., 2018). Vale destacar que medidas regulatórias precisam sempre buscar um consenso e equilíbrio entre os diferentes atores da logística urba- na, de modo que possam atender aos interesses de todos e promover a qualidade de vida das pessoas e cidades. Os veículos de carga representam apenas 4% da frota brasileira, mas são responsáveis por 49% das emissões de dióxido de carbono (CO2). Curiosidade 78 Mobilidade e logística urbana CONSIDERAÇÕES FINAIS É necessário compreender que a dinâmica da distribuição de cargas mudou. O cenário atual demonstraa tendência na redução do tamanho dos varejos, a busca pela multimodalidade e por formas mais sustentáveis de entregas nos centros urbanos, e o grande desafio da logística urba- na está em como alinhar os interesses desses diversos atores urbanos, ou seja, embarcadores, transportadores, recebedores, poder público e consumidores. Conhecer as dimensões que envolvem a logística urbana nos permi- te atuar de maneira mais ativa na construção de propostas de soluções voltadas para os problemas relacionados a essa temática, englobando políticas públicas e a interação de multiatores, valendo-se da máxima de que soluções eficientes decorrem da combinação do conjunto de conhe- cimentos de cada ator envolvido. ATIVIDADES 1. Conceitue logística urbana. 2. Quem são os atores envolvidos na logística urbana? Explique cada um deles. 3. Discorra brevemente sobre as soluções regulamentares propostas para a logística urbana. REFERÊNCIAS ANAND, N. et al. Relevance of city logistics modelling efforts: a review. transport reviews. A transnational transdisciplinary Journal, Canadá, n. 1647, p. 1-19, 2015. ARNOLD, F. et al. Simulation of B2C ecommerce distribution in Antwerp using cargo bikes and delivery points. European Transport Research Review, v. 10, n. 2, p. 1-13, 2018. ASIH, A. M. S. et al. 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Acesso em: 24 maio 2021. Vídeo Logística urbana 79 BRASIL. Lei n. 12.587, de 3 de janeiro de 2012. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 4 jan. 2012. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011- 2014/2012/lei/l12587.htm. Acesso em: 24 maio 2021. CURITIBA. Decreto n. 934, de 11 de setembro de 1997. Leis Municipais, 2008. Disponível em: https://leismunicipais.com.br/a/pr/c/curitiba/decreto/1997/93/934/decreto-n-934- 1997-disciplina-o-servico-de-carga-e-descarga-de-mercadorias-na-area-central-da-cidade- de-curitiba. Acesso em: 24 maio 2021. EDWARDS, P. N. Infrastructure and modernity: force, time and social organization in the history of sociotechnical systems. In: MISA, T, J.; BREY, P.; FEENBERG, A. (org.). Modernity and technology. Cambridge: The MIT Press, 2003. p.185-225. GATTA, V.; MARCUCCI, E.; LE PIRA, M. Smart urban freight planning process: integrating desk, living lab and. European Transport Research Review, v. 9, ed. 3, p. 1-114, 2017. 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Bingley, UK: Emerald, 2001. 80 Mobilidade e logística urbana 5 Distribuição urbana de mercadorias Com o estudo deste capítulo você será capaz de: • Conhecer as soluções operacionais e de infraestrutra para a distribuição de cargas no espaço urbano. • Conhecer as inovações que envolvem a multimodalidade e o uso de tecnologias na última milha. Objetivos de aprendizagem Os avanços das tecnologias da informação, assim como da globaliza- ção, principalmente a partir da década de 1990, trouxeram mudanças consideráveis às diversas áreas da logística. Além das modalidades de transporte de cargas, surge uma nova modalidade, a infovia, responsável pelo transporte virtual de documentos. Essas vias de comunicação eletrô- nica possibilitaram videoconferências e integração entre fornecedores e compradores, reduzindo não só tempo e custos como também a movi- mentação de pessoas. Se, por um lado, as infovias e seus avanços tecnológicos permitiram que as pessoas realizassem reuniões, estudassem e fizessem compras sem a ne- cessidade de se deslocar, por outro, a distribuição física de materiais aumen- tou significativamente, resultando em maior volume e frequência de veículos circulando nos centros urbanos. Tais mudanças demandaram alterações significativas na forma de pen- sar a última milha ou as entregas urbanas. Neste capítulo, estudaremos as soluções operacionais e de infraestrutura, além de formas alternativas de entrega que já vêm sendo testadas em todo o mundo a fim de reduzir os impactos provocados pela logística urbana, bem como trazer melhorias e maior eficiência a esse processo. Distribuição urbanade mercadorias 81 5.1 Soluções operacionais Vídeo O abastecimento de mercadorias em áreas urbanas é de fundamen- tal importância para o desenvolvimento e o crescimento econômico. No entanto, se pensarmos nos movimentos urbanos que ocorrem todos os dias nas cidades do mundo todo, iremos perceber que a mobilidade e a acessibilidade de pessoas e a distribuição de cargascompetem pelo mesmo espaço no mesmo período de tempo, gerando uma sobreposi- ção de viagens e, por consequência, aumentando os índices de conges- tionamento, de poluição sonora e de poluição do ar. Nesse sentido, os grandes desafios dos atores envolvidos na logís- tica urbana são reduzir esses impactos, melhorar a qualidade de vida urbana e, ao mesmo tempo, cumprir com a máxima da logística de en- tregar mais em menos tempo e com menor custo. Apresentamos a seguir algumas das soluções operacionais que já vêm sendo testadas em todo o mundo. 5.1.1 Entregas noturnas Quando veículos de entregas de mercadorias realizam suas ativi- dades no período de pico, competem com veículos particulares e de transporte público pelo mesmo espaço nas vias e principalmente por vagas apropriadas para carga e descarga. Para minimizar esse proble- ma, uma das alternativas, que já vem sendo testada em cidades nor- te-americanas e europeias, além da cidade de São Paulo, no Brasil, é a entrega noturna. al ph as pi rit .it /S hu tte rs to ck 82 Mobilidade e logística urbana Tal alternativa visa realizar entregas de mercadorias em estabele- cimentos de varejo fora do horário de pico, usualmente entre 20h e 7h, horário em que há menor circulação de veículos particulares e de transporte público. Oliveira (2012) destaca os principais benefícios da implementação de um sistema de entregas noturnas: Redução de atrasos e dos tempos de entrega. Redução do tempo de viagem. Redução das emissões de poluentes. Aumento da produtividade das equipes de trabalho. Consolidação de mercadorias em veículos de maior porte. Ao analisarmos os benefícios individualmente, entre os atores urba- nos, podemos observar: Se nt av io /S hu tte rs to ck Se nt av io /S hu tte rs to ck An dr ew K ra so vit ck ii/ Sh ut te rs to ck Transportadores • Ganhos com a utilização de veículos de grande porte. • Redução do tempo de viagem. • Redução de frota. • Redução de custos com combustível. População • Melhoria na mobilidade com redução do tempo de viagem. • Ganho de qualidade de vida. • Redução no tempo de recebimento de encomendas. Varejistas • Melhor organização no recebimento de mercadorias. • Redução da perturbação a clientes. • Maior tempo para conferências. É válido lembrar que a logística urbana é composta de vários atores, portanto, para que a entrega noturna se torne uma solução efetiva, faz-se necessária a cooperação entre os setores público e privado. Sen- do assim, Oliveira (2012) destaca as responsabilidades do poder públi- co, dos operadores de transporte e dos varejistas. Conheça o projeto-piloto de entregas noturnas em São Paulo, SP, e avalie os pontos positivos e nega- tivos da implementação desse sistema. Disponível em: http:// files-server.antp.org. br/_5dotSystem/download/ dcmDocument/2016/02/24/ EB80BD5B-7EED-4537-A1A1- 6B750B3F013F.pdf. Acesso em: 11 maio 2021. Saiba mais http://files-server.antp.org.br/_5dotSystem/download/dcmDocument/2016/02/24/EB80BD5B-7EED-4537-A1A1-6B750B3F013F.pdf http://files-server.antp.org.br/_5dotSystem/download/dcmDocument/2016/02/24/EB80BD5B-7EED-4537-A1A1-6B750B3F013F.pdf http://files-server.antp.org.br/_5dotSystem/download/dcmDocument/2016/02/24/EB80BD5B-7EED-4537-A1A1-6B750B3F013F.pdf http://files-server.antp.org.br/_5dotSystem/download/dcmDocument/2016/02/24/EB80BD5B-7EED-4537-A1A1-6B750B3F013F.pdf http://files-server.antp.org.br/_5dotSystem/download/dcmDocument/2016/02/24/EB80BD5B-7EED-4537-A1A1-6B750B3F013F.pdf http://files-server.antp.org.br/_5dotSystem/download/dcmDocument/2016/02/24/EB80BD5B-7EED-4537-A1A1-6B750B3F013F.pdf Distribuição urbanade mercadorias 83 Poder público Responsável pela estrutura necessária para a implementação da entrega noturna e pelas restrições de acesso a determinadas áreas e fatores de ruído. Operadores de transporte Responsáveis pelas negociações com os fornecedores para adaptar os equipamentos utilizados (como caminhões e equipamentos de carga e descarga mais silenciosos) e com os varejistas para o recebimento noturno. Varejistas Responsáveis por definir mecanismos, principalmente pela disposição de pessoal, para o recebimento de produtos no período noturno. Allies Interactive/Shutterstock Embora esse modelo seja um dos mais importantes para a logís- tica urbana, ele possui como principais entraves o aumento do nível de ruído no período noturno e o aumento com gastos em folha de pa- gamento, devido ao adicional noturno para os varejistas. Assim, antes da implementação dessa política, Oliveira (2012) destaca aspectos que precisam ser considerados: • Incentivo, pelo poder público, do uso de equipamentos com bai- xa emissão de ruídos. • Abertura do poder público para meios alternativos de distribui- ção de cargas. • Implementação de restrições de acesso a determinadas áreas. • Adaptação de varejistas para recebimento de mercadorias em período noturno. • Cooperação entre fornecedores e transportadores, com a garantia do uso de veículos e equipamentos com baixa emissão de ruído. • Treinamento de motoristas e entregadores. Para concluir, podemos inferir que a entrega noturna pode propor- cionar efeitos positivos tanto para a mobilidade de pessoas quanto para a distribuição de cargas, desde que as medidas sejam todas toma- das em conjunto pelos diferentes atores urbanos envolvidos. 84 Mobilidade e logística urbana 5.1.2 Faixas exclusivas para o transporte urbano de mercadorias A última milha, ou seja, a última “perna” que um produto percorre para chegar até o varejo ou até o consumidor final passa por um ciclo que vai desde o carregamento do veículo até o retorno desse veículo ao seu local de origem, conforme demonstrado na figura a seguir. Ke t4 up /S hu tte rs to ckCarregamento do veículo Tempo de viagem Busca por local para estacionar Tempo de descarga Retorno do veículo ao ponto de origem Figura 1 Ciclo da última milha Fonte: Elaborada pela autora com base em Oliveira, 2012. Nesse ciclo, o tempo de viagem e a busca por um local para estacio- nar são os fatores de maior impacto e que demandam maior tempo. Com a implementação de faixas exclusivas e de espaços exclusivos para carga e descarga, esses problemas são consideravelmente reduzidos. As faixas implantadas nas cidades brasileiras privilegiam a circulação do transporte de passageiros (transporte público), o que não ocorre no caso dos veículos de carga. Há ainda a necessidade de criação de políticas públicas que versem nessa direção. Oliveira et al. (2018) destacam que, em cidades como Barcelona (Es- panha) e Leeds (Inglaterra), esse modelo já vem sendo testado, trazen- do como benefícios: • Redução dos conflitos entre automóveis particulares e caminhões. • Redução da emissão de gases poluentes. • Redução de custos e tempos de viagem. Distribuição urbanade mercadorias 85 • Aumento da eficiência dos veículos de carga e consequentemen- te da produtividade. • Maior confiabilidade nos tempos de entrega e na movimentação de cargas. Vale ressaltar que o poder público é o principal agente responsá- vel pela implementação desse modelo. Para que essa implementação ocorra, deve haver uma demanda que a justifique, nem muito baixa, retirando outros veículos que possam ter maior volume, nem tão alta, que acabe por congestionar uma única via, nesse caso a exclusiva. 5.2 Soluções de infraestrutura Vídeo O acelerado desenvolvimento tecnológico e o advento do e-commerce, nas últimas duas décadas, provocaram mudanças no per- fil de compras dos consumidores. Diante desse cenário, o grande desa- fio da logística é fazer com que as mercadorias estejam cada vez mais próximas e acessíveis aos clientes. Em relação a isso, destacamos algumas tendências importantes vi- venciadas pela logística (JANJEVIC; KAMINSKY; NDIAYE, 2013): Movimentação de remessas menores e mais frequentes devido ao e-commerce. Intensificação do comércio internacional. Terceirização deatividades não essenciais, incluindo logística. Redução do volume de estoque, com base na metodologia just-in-time; Fatores dinâmicos, incluindo o ritmo e o risco de obsolescência de produtos ou a velocidade de lançamento no mercado de novos produtos. Busca por experiências satisfatórias de clientes. Tecnologia da informação e integração sistêmica entre diferentes elos da cadeia logística. Jo zs ef B ag ot a/ Sh ut te rs to ck 86 Mobilidade e logística urbana Tais tendências desencadearam o aumento da quantidade de en- tregas realizadas, tornando-as mais pulverizadas, em uma alta disper- são geográfica. Com isso, novas soluções de infraestrutura e suporte precisaram ser pensadas na logística urbana. Veremos algumas delas a seguir. 5.2.1 Pontos de coleta e retirada (click and collect) Dados do mais recente Webshoppers, estudo sobre o comércio ele- trônico brasileiro realizado desde 2001 pela Ebit|Nielsen, demonstram que, em um comparativo entre os anos de 2019 e 2020, o faturamento de compras pelo e-commerce teve um aumento de 41% (EBIT, 2020). Analisando esses números, precisamos pensar que as entregas se tornaram mais frequentes, mais pulverizadas, com um espraiamento urbano muito maior e, consequentemente, com um maior volume de viagens. Considerando que muitas dessas entregas são realizadas em horário comercial e em residências, temos um outro problema: as via- gens perdidas, ocasionadas pelo fato de o cliente não se encontrar no domicílio para receber o produto no momento da entrega. Ka sp ar s Gr in va ld s/ Sh ut te rs to ck Diante das problemáticas apresentadas, uma solução que vem ganhando espaço no mercado são os pontos de coleta e retirada. Tal solução vem sendo muito utilizada em compras on-line, em que o pro- duto pode ser retirado em uma loja do varejista ou de parceiros da plataforma e-commerce mais próxima do consumidor, ou, ainda, em “armários automatizados”, conhecidos como lockers, que podem estar localizados, por exemplo, em mercados, estações de metrô, postos de gasolina ou no próprio estacionamento de uma loja física. Nesse siste- ma para desbloqueio e retirada do produto é necessário o fornecimen- to de informações de identificação do pedido e senhas recebidas pelo cliente durante a compra. Laranjeiro (2018) destaca como principais vantagens desse modelo a redução da quantidade de não entregas e reentregas, a redução da quantidade de quilômetros rodados, e consequentemente das emis- sões de poluentes, e o aumento da produtividade (número de entre- gas/tempo) da operação. No Brasil, essa já é uma tendência utilizada por grandes varejistas que atuam com lojas físicas e virtuais e até mesmo supermercados, como é o caso de empresas como Leroy Merlin, Magazine Luiza, Natu- ra, Panvel e Hipermercado Extra. 5.2.2 Centro de distribuição urbana (CDU) Para que você possa entender melhor o conceito dos CDUs, vamos fazer um comparativo com a mobilidade urbana. Usualmente, para ha- bitantes de grandes centros urbanos, é comum a realização de cone- xões entre diferentes modais. Por exemplo, uma pessoa pode pegar um ônibus, ir até uma estação, pegar um trem e então realizar a última parte de seu trajeto a pé. Nesse caso, a estação ou terminal seria o ponto de conexão; o mesmo acontece com os CDUs. Oliveira et al. (2018) definem os CDUs como instalações que pos- suem a função de consolidar o fluxo de mercadorias por meio de vá- rios pontos de fornecimento (empresas) e em veículos menores, para posterior distribuição local ou em uma determinada região (conforme ilustrado na Figura 2). Ao contrário dos grandes armazéns localizados em áreas mais remotas, os CDUs são instalações menores, localizadas a uma distância de até 15 km dos grandes centros urbanos e que po- dem ser conhecidos também como hubs urbanos. Faça uma pesquisa e des- cubra se existem pontos de coleta e retirada em sua cidade. Dica Siwakorn1933/Shutterstock Distribuição urbanade mercadorias Distribuição urbanade mercadorias 8787 88 Mobilidade e logística urbana M ar is h/ Pa rk J i S un /S ea O wl /S hu tte rs to ck Centro de Distribuição Urbano (CDU) Espaço urbano Centro de distribuição Fornecedores Figura 2 Distribuição de carga urbana com CDU Fonte: Adaptada de Correia; Guerra; Oliveira, 2012. No modelo apresentado, o CDU serve como um hub, recebendo mercadorias em veículos de grande porte e realizando o transbordo ou consolidação em veículos de menor porte (motorizados ou não). Assim, reduz-se a quantidade de quilômetros percorridos nas cidades e con- sequentemente seus impactos negativos, como congestionamentos, ruídos e poluição. Correia, Guerra e Oliveira (2012) destacam as principais vantagens no uso dos CDUs: • Redução dos níveis de tráfego urbano: utilizando a consolida- ção de cargas ou transferência de modal, é possível reduzir o nú- mero de movimentações no período urbano. • Alteração do tipo de veículo utilizado: recebimento com veícu- los pesados, e entregas com veículos menores. • Redução dos impactos ambientais: a redução do número de viagens e a utilização de veículos menos poluentes diminuem os impactos ambientais. • Melhoria na eficiência do transporte urbano de cargas: dá-se pela maior ocupação dos veículos e pela redução do número de entregas, com veículos de maior porte. • Redução do estoque de produtos: dá-se pela proximidade dos pontos de destino, trabalhando com ajustes de demanda. No entanto, esse modelo apresenta algumas desvantagens, descri- tas a seguir por Correia, Guerra e Oliveira (2012): • Potencial aumento dos custos, pelo maior número de CDUs. • Um único CDU pode ter dificuldades na realização de toda a mo- vimentação de produtos, tendo em vista a variação de produtos e as diferentes exigências de manuseio e estocagem. • Um único CDU para uma área urbana pode perder a atratividade para muitos fluxos de suprimentos, devido ao nível de diversifica- ção requerido de uma rota normal. • Falta de cumprimento de regulamentações para veículos não in- clusos no esquema do CDU. Embora a solução do uso de CDUs seja uma alternativa discutida desde a década de 1990, principalmente na Europa, os estudos na área comprovam que houve poucos modelos implementados. No Brasil, um exemplo que podemos citar são os estudos de logística urbana desen- volvidos em 2014 na cidade de Curitiba, mas que não chegaram a ser implementados. Sendo assim, é possível inferir que essa é uma alternativa que ne- cessita da parceria e da interação entre a iniciativa privada e as políticas e iniciativas de regulamentação do poder público. 5.2.3 Espaço logístico urbano (ELU) Utilizados como ponto de apoio para os CDUs, o ELU consiste em pontos de transbordo que atuam na interface entre o envio e a recep- ção da mercadoria em áreas urbanas e que visam otimizar a entrega de mercadorias, considerando questões operacionais e ambientais (OLIVEIRA et al., 2016). Trata-se, portanto, de uma instalação logística situada relativamente próxima à área urbana, em que as entregas são consolidadas e realizadas dentro dessa área, com veículos de baixa emissão de poluentes, como veículos elétricos, de- nominados cargocycles. Conheça os estudos rea- lizados sobre a logística urbana e os CDUs em Curitiba acessando o link a seguir. Disponível em: https://ippuc.org.br/ mostrarpagina.php?pagina=327&i- dioma=1&liar=n%E3o. Acesso em: 15 jun 2021. Saiba mais No-Mad/Shutterstock Distribuição urbanade mercadorias Distribuição urbanade mercadorias 8989 https://ippuc.org.br/mostrarpagina.php?pagina=327&idioma=1&liar=n%E3o https://ippuc.org.br/mostrarpagina.php?pagina=327&idioma=1&liar=n%E3o https://ippuc.org.br/mostrarpagina.php?pagina=327&idioma=1&liar=n%E3o 90 Mobilidade e logística urbana Oliveira et al. (2016) descrevem os cargocycles como triciclos elétri- cos que possuem assistência para pedalar e uma capacidade de 1,5 m3, além de uma autonomia de 4 horas decirculação. Tais veículos possi- bilitam a circulação em áreas de pedestres, trazendo vantagens como a redução dos congestionamentos, menor custo operacional e redução dos impactos ambientais. Por se tratar de um conceito relativamente novo, esse exemplo pode ser observado em cidades francesas, principalmente em Paris, as quais vêm inspirando sistemas semelhantes, como o uso dessas bi- cicletas de carga, em outras cidades europeias (OLIVEIRA et al., 2018). 5.3 Formas alternativas de entrega de mercadoriasVídeo Quando falamos de logística ou até mesmo da própria logística ur- bana, a primeira imagem que nos vem à cabeça são os caminhões ou ainda caminhões parados em fila dupla ou locais impróprios para carga e descarga de mercadorias. Isso ocorre porque a maioria das cidades não possui infraestrutura necessária para dar suporte a esse tipo de atividade. Dessa forma, embarcadores e principalmente transportadores vêm buscando formas alternativas de realizar a última milha, associando multimodalidade (uso de dois ou mais modais) e novas tecnologias. Portanto, nesta seção, iremos retirar os caminhões de cena e conhe- cer novas alternativas de entrega, principalmente as que usam veículos não motorizados, movidos a combustíveis não fósseis ou que possuem baixa emissão de gases poluentes. Dolly • Trata-se de um tipo de veículo de movimentação, de duas ou quatro rodas, que permite movimentar os mais diversos produtos, especialmente caixas. • São utilizados quando os veículos de maior porte são deixados em áreas mais distantes ou em lugar próprio para carga e descarga e quando a movimentação até o ponto de entrega é realizada com o auxílio desse equipamento. sy lv1 ro b1 /S hu tte rs to ck Distribuição urbanade mercadorias 91 Cargo bike/triciclo • As bicicletas de carga e os triciclos, principalmente aqueles com assistência elétrica, são comuns em cidades europeias, por serem mais eficientes e economicamente rentáveis quando comparados a outros modos de transporte. • Permitem transportar cargas mais pesadas e de maior volume do que uma motocicleta e possuem a vantagem de não necessitar da busca por vagas para estacionar. Da is y D ai sy /S hu tte rs to ck Motocicleta • Assim como a bicicleta, possui alta representatividade em entregas de delivery e de pequeno porte, no entanto, com a possibilidade de realizar entregas em locais mais distantes. • Dentre suas principais vantagens estão: a redução de gastos com combustíveis, menor tempo de entrega e facilidade para estacionar, principalmente em áreas centrais. A empresa de delivery iFood começou a realizar testes de entregas com drones na cidade de Campinas, em São Paulo. Conheça melhor o assunto acessando o link a seguir. Disponível em: https://www. techtudo.com.br/noticias/2020/08/ ifood-vai-testar-entregas-com- drones-no-brasil-veja-perguntas- e-respostas.ghtml. Acesso em: 16 maio 2021. Curiosidade bl ur AZ /S hu tte rs to ck Bicicleta • Meio de transporte atualmente bastante comum em entregas, principalmente de delivery de lanchonetes, restaurantes e supermercados. • Pode ser utilizada em vias convencionais, ciclovias e vias compartilhadas. • Por se tratar de um modo não poluente e de baixo custo, vem sendo, cada vez mais, utilizada para entregas de menor porte em curtas distâncias. Lu ci an C om an /S hu tte rs to ck Drone • Embora pareça algo futurístico, as entregas com drones já vêm sendo testadas, primeiramente pela empresa Amazon e agora também no Brasil, por empresas de delivery, como é o caso do iFood. • Possui como vantagem a agilidade nas entregas, sem o enfrentamento de congestionamentos e com redução de impactos ambientais. No entanto, ainda esbarra nas questões de regulamentação. Fl ys to ck /S hu tte rs to ck https://www.techtudo.com.br/noticias/2020/08/ifood-vai-testar-entregas-com-drones-no-brasil-veja-perguntas-e-respostas.ghtml https://www.techtudo.com.br/noticias/2020/08/ifood-vai-testar-entregas-com-drones-no-brasil-veja-perguntas-e-respostas.ghtml https://www.techtudo.com.br/noticias/2020/08/ifood-vai-testar-entregas-com-drones-no-brasil-veja-perguntas-e-respostas.ghtml https://www.techtudo.com.br/noticias/2020/08/ifood-vai-testar-entregas-com-drones-no-brasil-veja-perguntas-e-respostas.ghtml https://www.techtudo.com.br/noticias/2020/08/ifood-vai-testar-entregas-com-drones-no-brasil-veja-perguntas-e-respostas.ghtml 92 Mobilidade e logística urbana Veículos elétricos • São uma alternativa de menor impacto ao meio ambiente, no entanto, enfrentam desafios como o alto custo de aquisição e a falta de infraestrutura de pontos de recarga. • Veículos movidos a eletricidade são mais ecológicos e sustentáveis, pois não emitem gases poluentes. São também silenciosos e mais econômicos, no que se refere a gastos com manutenções e por não exigirem a troca de óleo. Um dos exemplos de veículo elétrico de carga mais conhecido é o da empresa Cargohopper, que é movido à energia solar e pode ser encontra- do na cidade de Utrecht, Holanda. Acesse o vídeo a seguir para conhecer esse veículo. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=HaCxXtD9KzU. Acesso em: 16 maio 2021. Vídeo Ro na ld R am ps ch /S hu tte rs to ck Veículos autônomos • Dentre as alternativas apresentadas para a logística urbana, essa é a menos viável até o momento, já que esses veículos ainda esbarram na complexidade comercial e legislativa, uma vez que poucos países possuem legislação pertinente. • Veículos sem condutor humano estão sendo testados nos EUA, e, em 2020, a empresa Nuro foi a primeira a homologar o seu modelo de veículo autônomo no Departamento de Veículos Automotores (DMV) da Califórnia. m et am or wo rk s/ Sh ut te rs to ck Perboli e Rosano (2019) destacam que existe uma consciência emer- gente da necessidade de melhorar a mobilidade urbana e o transporte de cargas, tornando-os mais sustentáveis e competitivos ao misturar tecnologias tradicionais e emergentes, como bicicletas de carga, veí- culos autônomos e drones. Paddeu (2017), por sua vez, ressalta que os veículos elétricos podem ser uma boa solução para reduzir a poluição do ar e as emissões de gases de efeito estufa, relacionados ao trans- porte rodoviário de carga urbano. O que podemos perceber é que as formas alternativas de entregas estão se tornando cada vez mais acessíveis, mas elas não podem ser pensadas de modo isolado, precisa haver a interação do setor privado com as regulamentações necessárias por parte do poder público para que essas iniciativas possam ser viabilizadas. https://www.youtube.com/watch?v=HaCxXtD9KzU https://www.youtube.com/watch?v=HaCxXtD9KzU https://www.youtube.com/watch?v=HaCxXtD9KzU Distribuição urbanade mercadorias 93 CONSIDERAÇÕES FINAIS A logística urbana é um elemento que vem ganhando cada vez mais notoriedade e, nesse sentido, novas soluções precisam ser pensadas para o enfrentamento das negatividades que ela impõe às cidades, como con- gestionamentos, poluição sonora e emissão de gases poluentes. Neste capítulo, pudemos conhecer exemplos de soluções de logística urbana que podem ser e que vêm sendo implementadas em cidades do mundo todo. Mas vale ressaltar que uma forte característica da logística urbana são as relações multiator, em que o envolvimento de todos os ato- res tem se mostrado fundamental para o sucesso de novas estratégias, e que as soluções propostas precisam ir ao encontro da realidade local de cada cidade, em termos de infraestrutura, regulamentação ou demanda. ATIVIDADES 1. Cite os principais benefícios da implementação das entregas noturnas. 2. Destaque as principais vantagens dos pontos de coleta e retirada. 3. Diferencie Centros de Distribuição Urbana (CDU) de Espaços Logísticos Urbanos (ELU). REFERÊNCIAS CORREIA, V. de A.; GUERRA, A. L.; OLIVEIRA, L. K. de. Centros de distribuição urbano de mercadorias. In: PRATA, B. de A. et al.(orgs.). Logística urbana: fundamentos e aplicações. Curitiba: CRV, 2012. EBIT. 43ª ed. Webshoppers. 2020. Disponível em: https://www.mobiletime.com.br/wp- content/uploads/2021/03/Webshoppers_43.pdf. Acesso em: 7 jan. 2021. JANJEVIC, M.; KAMINSKY, P.; NDIAYE, A. B. Downscaling the consolidation of goods – state of the art and transferability of micro-consolidation initiatives. European Transport \ Trasporti Europei, Issue 54, Paper n° 4, 2013. LARANJEIRO, P. Pontos de retirada para e-commerce: solução logística cada vez mais presente no Brasil. Scambo Consultoria, 2018. Disponível em: https://scamboconsultoria. com.br/pontos-de-retirada-para-e-commerce-solucaologistica-cada-vez-mais-presente- no-brasil/. Acesso em 14 maio 2021. OLIVEIRA, L. K. et al. Análise dos benefícios de um espaço logístico urbano na distribuição urbana de mercadorias. Revista Produção Online, Florianópolis, SC, v. 16, n. 3, p. 988-1006, jul./set. 2016. OLIVEIRA, L. K. de. Distribuição noturna de mercadorias. In: PRATA, B. de A. et al. (orgs.). Logística Urbana: fundamentos e aplicações. Curitiba: CRV, 2012. 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Vídeo 94 Mobilidade e logística urbana 6 Mobilidade urbana e logística urbana Com o estudo deste capítulo você será capaz de: • Reconhecer a influência que a logística urbana exerce sobre a mobilidade urbana e vice-versa. • Entender o conceito de smart cities com base nos movimen- tos urbanos e avaliar as perspectivas para as cidades do fu- turo no que tange à mobilidade e à logística urbana. Objetivos de aprendizagem Vivemos na era da sociedade 4.0 em que a tecnologia e o virtual são integrados com o mundo físico e nos permitem viver em uma rede altamente integrada e conectada. Todos os dias saímos de casa com nossos smartphones, solicita- mos viagens de carro por aplicativos, realizamos pagamentos, fazemos compras e somos vigiados por câmeras de segurança. Mas você já pa- rou para pensar que essas simples ações do nosso cotidiano podem gerar dados que poderão ser trabalhados e transformados em infor- mações e servir de base para melhorias a fim de tornar as cidades mais inteligentes? O conceito de smart cities já faz parte do presente ou fará parte do futuro de cidades de todo o mundo, com a integração de tecnologia e informação para a criação de soluções inteligentes e sustentáveis, visando à melhoria da qualidade de vida da população. Neste capítulo, conheceremos esse conceito e suas dimensões, com ênfase na smart mobility, a mobilidade inteligente, finalizando com uma reflexão a res- peito das cidades do futuro. Mobilidade urbana e logística urbana 95 ty ny uk /S hu tte rs to ck Smart citiesSmart cities Cidades inteligentesCidades inteligentes Cidades digitaisCidades digitais 6.1 Smart cities Vídeo Você provavelmente já ouviu falar nos ter- mos cidades digitais, cidades inteligentes e smart cities. Mas você saberia dizer qual a diferença entre eles? De acordo com a Universidade das Nações Uni- das (UNU, 2016), esses são os três modelos de urba- nização que incorporam tecnologias digitais para resolver alguns dos desafios de urbanização e sustentabilidade. Ol lie T he D es ig ne r/ Sh ut te rs to ck Está relacionada à integração da tecnologia digital nos sistemas de infraestrutura central da cidade. Dessa forma, podemos inferir que se caracteriza como um sistema de pessoas ou de instituições conectadas pela infraestrutura de comunicação digital, em que o cidadão é o principal beneficiado dentro de uma sociedade com base em informações e conheci- mentos, o que envolve inclusão digital, aumento na transparência da gestão pública e maximização da distribui- ção das oportunidades de mercado (GUERREIRO, 2006; UNU, 2016). São aquelas que contam com a infraestrutura da cidade digital para construir edifícios inteligentes, sistemas de transporte, escolas, empresas, espaços públicos e serviços públicos, para integrá-los em sistemas urbanos inteligentes (UNU, 2016). Vão além das cidades inteligentes, pois utilizam-se de dados e redes informacionais para a tomada de decisão e o planejamento estratégico na gestão urbana, no desenvolvimento socioeconômico e na melhoria da qualidade de vida urbana (UNU, 2016). Cidade digital (digital city) Cidade inteligente (intelligent city) Smart cities Vamos entender melhor o conceito de smart cities para que possamos relacioná-lo aos movimentos urbanos. Junqueira (2015, p. 126) preconiza que smart city se refere “à capacidade de a cidade gerir melhor seus recursos, com mais efi- ciência, a partir do uso amplo de monitoramento e de cruzamento de informações, com o objetivo de melhor atender aos cidadãos e formular políticas públicas mais eficazes”. Para Brčić et al. (2018), smart city é uma área urbana que usa tecnologias de informação e comunicação, modelos de negócios e 96 Mobilidade e logística urbana soluções para aumentar a eficiência operacional, compartilhando informação com o público e melhorias – tanto da qualidade dos serviços quanto da qualidade de vida dos cidadãos. Camargo (2015) acrescenta que esse conceito pode ser associa- do, ainda, à resiliência e à sustentabilidade, ou seja, aquela cidade com flexibilidade e capacidade de adaptação, capaz de dar respos- tas rápidas e eficientes às ameaças externas, como mudanças cli- máticas e desastres naturais, e atender aos princípios básicos de segurança alimentar ou de qualquer outra natureza. Portanto, uma cidade é “smart” quando ela é capaz de respon- der às necessidades de seus habitantes de uma forma mais eficien- te e sustentável, atuando como um sistema de redes inteligentes. As contínuas inovações em tecnologia da informação e comuni- cação (TICs) têm propiciado inúmeras revoluções urbanas. Como tornar as cidades mais inteligentes é a pauta das grandes agendas globais para implementação de medidas de redução do impacto ambiental e melhoria da vida urbana dos cidadãos. As características de uma smart city podem ser divididas em seis dimensões, ilustradas na figura a seguir. bu ffa lo bo y/ Sh ut te rs to ck Mobilidade inteligente Transporte e TI Governança inteligente Participação Pessoas inteligentes Capital social e humano Dimensões das smart cities Ambiente inteligente Recursos naturais Vida inteligente Qualidade de vida Economia inteligente Competitividade Figura 1 Seis dimensões de uma smart city Fonte: Elaborada pela autora com base em Giffinger et al., 2007. Mobilidade urbana e logística urbana 97 Giffinger et al. (2007) e Lofhagen (2020) descrevem essas seis di- mensões conforme veremos a seguir. A dimensão da governança inteligente (smart governance) diz respeito ao uso da tecnologia para facilitar e apoiar o planejamento e a tomada de decisões nas cidades, melhorando os processos de- mocráticos e transformando como os serviços públicos são presta- dos de maneira eficaz e eficiente. São indicadores dessa dimensão: • participação dos cidadãos na tomada de decisões; • prestação de serviços públicos e sociais; • governança transparente; • estratégias políticas e perspectivas. A dimensão das pessoas inteligentes (smart people) é definida pelo nível de qualificação profissional e educacional de seus cidadãos, que, por sua vez, atuam na administração pública de maneira ativa e colaborativa, seja por meio de interações sociais ou nas convocações para participaçãopública. São indicadores dessa dimensão: • afinidade com a aprendizagem ao longo da vida; • pluralidade social e étnica; • flexibilidade; • criatividade; • cosmopolitismo/mente aberta; • participação na vida pública. A dimensão da economia inteligente (smart economy) foca a prestação de serviços públicos com excelência, a exemplo do sistema educacional de alta qualidade, das pesquisas científicas financiadas com recursos públicos, dos incentivos fiscais corporativos atrativos, como o incentivo ao empreendedorismo e à assistência médica de qualidade para a população. São indicadores dessa dimensão: • empreendedorismo; • imagem econômica e marcas registradas; • produtividade; • flexibilidade do mercado de trabalho; • incorporação internacional; • capacidade de transformação. Na obra Cidades susten- táveis, cidades inteligentes: desenvolvimento sustentá- vel num planeta urbano, debate-se como tornar as cidades sustentáveis e inteligentes, apresen- tando novos paradigmas e exemplificando as iniciativas bem-sucedidas de smart cities. A leitura auxiliará a construção do conhecimento a respeito das cidades do futuro. LEITE, C. Porto Alegre: Bookman, 2014. Livro 98 Mobilidade e logística urbana A dimensão da vida inteligente (smart living) está relacionada à capacidade de a cidade de adquirir e aplicar conhecimentos sobre seus habitantes e seu entorno a fim de cumprir as metas de confor- to e eficiência, alinhando cidadãos, poder público e inteligência ar- tificial. Essa dimensão inclui casas inteligentes e coisas inteligentes, facilitando a conexão de objetos do mundo físico à internet. São indicadores dessa dimensão: • instalações culturais; • condições de saúde; • segurança individual; • qualidade da habitação; • instalações de educação; • atratividade turística; • coesão social. A dimensão do ambiente inteligente (smart environment) con- siste na utilização de dispositivos que podem se adaptar às ativida- des humanas, com foco principal no monitoramento e na proteção ambiental e na eficiência energética. Volta-se à construção de edifí- cios inteligentes, à renovação nas formas de construção e ao com- partilhamento de espaços verdes. São indicadores dessa dimensão: • atratividade das condições naturais; • redução da poluição; • proteção ambiental; • gestão sustentável dos recursos. A dimensão da mobilidade inteligente (smart mobility) volta-se à gestão do trânsito e da mobilidade, ou seja, gestão do transpor- te público, de frotas, ciclomobilidade, estudos de origem e desti- no, apoio no uso de veículos elétricos, aplicações de rastreamento e logística e serviços de compartilhamento de carros. Tem como objetivo a otimização e a redução dos movimentos urbanos de pessoas e de cargas e, por consequência, a mitigação dos impactos ambientais. São indicadores dessa dimensão: • acessibilidade local; • acessibilidade internacional; • disponibilidade de infraestrutura de TIC; • sustentabilidade, inovação e segurança nos sistemas de transporte. Saiba como a tecnologia vem revolucionando os serviços públicos e a mobilidade urbana e criando cidadãos inteli- gentes para as cidades do futuro assistindo ao vídeo Cidades Inteligentes | Ex- presso Futuro Com Ronaldo Lemos. A série é produzida pelo Canal Futura e tem apresentação de Ronaldo Lemos. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=5KDhl1K3c5Q. Acesso em: 18 jun 2021. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=5KDhl1K3c5Q https://www.youtube.com/watch?v=5KDhl1K3c5Q https://www.youtube.com/watch?v=5KDhl1K3c5Q Mobilidade urbana e logística urbana 99 Para que uma cidade seja considerada uma smart city, ela deve integrar as seis dimensões, implementando soluções que tenham como objetivos a otimização de sua infraestrutura, o aumento de sua sustentabilidade e a melhoria da qualidade de vida de sua população. 6.2 Smart mobility Vídeo Considerando que as cidades têm se tornado cada vez mais urba- nas, o problema da mobilidade urbana vem se tornando complexo e urgente para o planejamento das cidades. Sendo assim, dentre as dimensões das cidades inteligentes, a mobilidade inteligente (smart mobility) é uma daquelas de maior destaque, uma vez que envolve aspectos das demais dimensões, tais como: questões ambientais, segurança, integração territorial e custos econômicos. O conceito de smart mobility é associado às soluções pautadas nas TICs. Nas smart cities, os gestores públicos utilizam os dados coletados de smartphones, câmeras de segurança e veículos, por exemplo, para elaborar soluções que ajudem os cidadãos a se des- locarem de maneira segura e eficiente. Rodrigues, Bastos e Mendes (2021) destacam os benefícios da asso- ciação da smart mobility com as seis dimensões das smart cities. Solveig Been/Shutterstock 100 Mobilidade e logística urbana metamorworks/Shutterstock Be nk wo rk s/ Sh ut te rs to ck Governança inteligente: resolução de conflitos e detecção de comportamento ilegal. Pessoas inteligentes: desenvolvimento de habilidades dos cidadãos em ambientes digitais. Economia inteligente: geração de novas fontes de renda, criação de poupança pessoal e promoção de uma economia de compartilhamento (economia solidária e colaborativa). Vida inteligente: melhoria da segurança e da qualidade de vida da população, redução dos isolamentos sociais e desenvolvimento de valores sociais. Ambiente inteligente: redução dos níveis de emissão de CO2 e da poluição sonora, contribuição para uma sociedade com menos uso de papel (less paper) e utilização de meios de transporte ecologicamente corretos. Mobilidade inteligente: simplificação de viagens, redução dos tempos de deslocamento e de congestionamentos, simplificação dos meios de pagamento de tarifas. Tomaszewska e Florea (2018) associam a mobilidade inteligente ao desenvolvimento da logística e das atividades de transporte com base no uso de tecnologias digitais inteligentes. Nesse caso, as TICs são utilizadas para a extração de bancos de dados que serão processados e irão se tornar fonte de informação para tomada de decisão quanto à gestão do trânsito, à redução de efeitos negativos da mobilidade (especialmente da poluição) e à otimiza- ção dos veículos. Alguns exemplos do uso da tecnologia na mobili- dade inteligente podem ser citados, como: a utilização de semáforos inteligentes, que analisam o fluxo de veículos das vias e, assim, determinam os tempos de parada e de liberação do trânsito; a análise dos fluxos de pessoas com base em estudos de origem e destino para determinar linhas de ônibus, seus pontos de pa- rada e até aumento do número de veículos disponíveis; o uso de aplicativos para compartilhamento de caronas e aluguel de bicicletas; a análise dos pontos de congestio- Mobilidade urbana e logística urbanaMobilidade urbana e logística urbana 100 Mobilidade urbana e logística urbana 101 namento para alterações nos sentidos das vias ou a abertura de pistas exclusivas para o transporte público. Portanto, podemos inferir que a mobilidade inteligente se utiliza de dados produzidos em tempo real e das TICs para estudos e análises de alternativas de transporte, em termos ambientais, sociais e economica- mente mais eficientes. É válido ressaltar que o conceito de smart mobility não se aplica somente à tomada de decisão por parte dos gestores urbanos, mas também aos cidadãos e à iniciativa privada. Vejamos algumas das possibilidades propiciadas aos diferentes atores urbanos no que tange à mobilidade inteligente. Li ttl e Ha nd C re at io ns / Sh ut te rs to ck Carsharing ou compartilhamento de carona Por meio do uso de GPS e de tecnologias móveis, é possível conectar motoristas a passageiros que estão viajando em rotas semelhantes, em tempo real e sem planejamento prévio. Exemplo: aplicativo BlaBlaCar. Serviços de transporte sob demanda Mais conhecido como veículos por aplicativos.Trata-se de plataformas on-line desenvolvidas para conectar veículos particulares à demanda de passageiros, fazendo uso dos sistemas de georreferenciamento. Exemplos: Uber, 99 e Cabify. Serviço de informação ao passageiro São aplicativos que fornecem informações precisas e em tempo real aos cidadãos sobre a disponibilidade de horários de veículos de transporte público (ônibus, metrô e trem), os valores de tarifa e o tempo de viagem. Também informam as melhores rotas de bicicleta e possibilitam associação com demais modos de transporte. Exemplos: Moovit e Cadê o ônibus. Gestão inteligente de tráfego Com base na coleta e na análise de dados dos movimentos urbanos, a gestão pública pode mitigar congestionamentos, ajustar horários de ônibus, trens e metrôs, aumentar o número de veículos em horários de pico, realizar mudança de rotas e ajuste de tarifas. Incentivo à mobilidade ativa Diz respeito à implementação de políticas públicas que possam minimizar os índices de emissões poluentes, tais como o incentivo à produção de veículos elétricos e a disposição de infraestrutura para incentivar a ciclomobilidade e caminhabilidade, reduzindo o uso dos veículos individuais e motorizados e, consequentemente, os índices de congestionamentos e as emissões de poluentes. O uso do conceito de smart mobilitily vem sendo implementado em cidades do mundo todo. Conheça o exemplo da linha de metrô inteligente na cidade de Barcelona (Espanha) lendo o texto Mobilidade inteligente para uma cidade inteligente: a Linha 9 liga Barcelona ao seu futuro. Disponível em: https://www.urban- hub.com/pt-br/smart_mobility/ mobilidade-inteligente-no-centro- da-cidade-inteligente-barcelona/. Acesso em: 18 jun. 2021. Saiba mais https://www.urban-hub.com/pt-br/smart_mobility/mobilidade-inteligente-no-centro-da-cidade-inteligente-barcelona/ https://www.urban-hub.com/pt-br/smart_mobility/mobilidade-inteligente-no-centro-da-cidade-inteligente-barcelona/ https://www.urban-hub.com/pt-br/smart_mobility/mobilidade-inteligente-no-centro-da-cidade-inteligente-barcelona/ https://www.urban-hub.com/pt-br/smart_mobility/mobilidade-inteligente-no-centro-da-cidade-inteligente-barcelona/ 102 Mobilidade e logística urbana É válido lembrar que todas essas soluções são pensadas com base nos dados coletados de câmeras, smartphones e redes de dados, e que o uso das TICs na mobilidade inteligente pode gerar, num futuro não tão distante, um sistema de trânsito muito diferente do que conhece- mos hoje, com ônibus que se deslocam até onde estão as demandas, redução dos índices de poluição, interação entre os diferentes modos de transporte e até mesmo com o uso de carros autônomos. Portanto, podemos concluir que o uso das TICs permite ampliar a capacidade de leitura de padrões de comportamento de viagens para fundamentar as tomadas de decisões relacionadas à mobilida- de urbana e seus impactos. 6.3 As cidades do futuro Vídeo Quando vemos notícias ou assistimos a vídeos de fábricas 100% au- tomatizadas, entregas sendo realizadas por drones, testes com veícu- los autônomos, impressoras 3D, casas inteligentes; parece uma cena de um filme futurístico, mas não é! Trata-se da Indústria 4.0, aquela voltada para a automatização, a Internet das Coisas e a inteligência artificial. Embora pareça algo do futuro, tudo isso já está presente em nosso dia a dia e muitas vezes nem percebemos. A Indústria 4.0 está no veículo por aplicativo que chamamos pelo nosso smartphone, no rastreamento em tempo real de uma encomenda de e-commerce, no caixa de autoatendimento do supermercado, e isso é possível graças às TICs. As tecnologias têm sido cada vez mais as aliadas a todos os stakeholders (atores) da sociedade – sejam cidadãos, empresas pri- vadas ou o setor público – na construção de cidades mais inteligentes e com melhor qualidade de vida. O desenvolvimento tec- nológico é uma dimensão que permite que as cidades sejam sustentáveis ao longo do tempo e mantenham ou ampliem as vanta- gens competitivas de seu sistema de produ- ção, bem como a qualidade de vida de seus cidadãos. elena bsl/Shu tterstock Mobilidade urbana e logística urbana 103 Vale destacar que, enquanto muitas cidades vêm se transformando em smart cities no pre- sente, no entanto, já existem aquelas que estão migrando para o conceito da sociedade 5.0, de olho em seu futuro. O termo surgiu no Japão, em 2016, quando o governo do país lançou seu plano para estimular a inovação até 2021. Posteriormente, em 2019, na Reunião do G20 e no Fórum Econômico Mundial, esse conceito voltou à pauta, tendo como ideia central o uso de ferramentas tecnológicas como forma de promo- ver o bem-estar humano, ou seja, o uso da tecnologia a serviço do ser humano (FERREIRA, 2020). Não é possível prever o futuro das cidades, mas podemos deduzir que a sociedade 5.0 levará em consideração alguns preceitos, tais como: All es s/S hu tte rst oc k Desenvolvimento sustentável • Implica promover o crescimento urbano sem desperdiçar os recursos naturais, fazendo sua reposição para garantir seu suprimento, diminuindo as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e aumentando a produtividade e a capacidade de se (re)produzir infinitamente. • Inclui, ainda, a humanização das cidades, tornando-as o melhor lugar para se viver (CAMARGO, 2015). Cidades globais • As cidades são colocadas em uma perspectiva global, respeitando suas características urbanas, ambientais, sua história e cultura local, e entendendo-as como um sistema, que terá dinâmicas diversificadas, mas que, ao mesmo tempo, estão conectadas globalmente com outras cidades por meio dos sistemas de informação e telecomunicação regional, nacional e global (FINGUERUT; FERNANDES, 2015). Territórios inteligentes • Trata-se de cidades que desenham seu futuro por meio da liderança, da participação da população e mediante processos que garantam a inovação. São, portanto, territórios com uma liderança e cooperação interinstitucional fortes e uma sociedade civil madura. • Em resumo, são espaços com cidadãos ativos capazes de se organizar para inventar e chegar a um consenso com relação a um projeto coerente para o futuro (VEGARA, 2015). Integração do mundo físico e virtual • As novas tecnologias eliminam as fronteiras que delimitavam as diversas atividades realizadas (educação, trabalho) no ambiente urbano, oportunizando o trabalho em rede. • A revolução digital transforma os fluxos e os nós das cidades, permitindo organizar a sociedade de maneira mais intensa e mais flexível, fazendo uso dos fluxos informacionais, ou seja, as pessoas podem realizar suas atividades de trabalho ou de estudos em qualquer território e sem a necessidade de realizar deslocamentos, desde que estejam conectadas a uma rede (VEGARA, 2015). Hang outs Ve ctro Pro/Shutterstock 104 Mobilidade e logística urbana Podemos dizer que o conceito de inteligência territorial é uma evolução das cidades inteligentes. Conheça melhor esse tema realizando a leitura do artigo Da cidade inteligente, ao território inovador, rumo à inteligência territorial, do autor Valdir Roque Dallabrida, publicado na revista Desen- volvimento em Questão. Acesso em: 18 jun. 2021. https://revistas.unijui.edu.br/index.php/desenvolvimentoemquestao/article/view/10739/6515 Artigo Além desses indicativos, é necessário que as cidades consigam desenvolver uma visão de longo prazo com base na definição de sua identidade, estabelecendo estratégias voltadas à qualidade de vida de seus cidadãos. É importante que elas definam e planejem o tipo de cidade que querem ser no futuro. A resposta não apenas definirá sua identidade, mas também o caminho da transformação que de- vem percorrer para alcançá-la. CONSIDERAÇÕES FINAIS O rápido crescimento urbano é um dos desafios da gestão pública em todo o mundo, uma vez que traz consigo problemas conhecidos – como infraestrutura insuficiente, baixa oferta de transportepúblico a toda a po- pulação, intenso fluxo de veículos, altos índices de poluição e dificuldades na distribuição de bens. O uso das TICs tem permitido aos gestores a análise de dados informa- cionais no planejamento urbano e nas tomadas de decisão a respeito de melhorias para a qualidade de vida dos cidadãos. Nesse sentido, as cidades do presente e do futuro conectam o mun- do real e o virtual, convertendo-as em territórios inteligentes, globais e voltados ao desenvolvimento sustentável. Vale lembrar que essa é uma construção conjunta entre os cidadãos participativos, o poder público e a iniciativa privada. ATIVIDADES 1. Diferencie cidade digital, cidade inteligente e smart city. 2. Defina smart mobility. 3. Descreva os benefícios da associação da smart mobility com as seis dimensões das smart cities. Vídeo https://revistas.unijui.edu.br/index.php/desenvolvimentoemquestao/article/view/10739/6515 Mobilidade urbana e logística urbana 105 REFERÊNCIAS BRČIĆ, D. et al. The Role of Smart mobility in Smart Cities. In: 5th INTERNATIONAL CONFERENCE ON ROAD AND RAIL INFRATRUCTURE. Anais [...] Zadar, Croatia: Cetra, maio. 2018. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Julijan- Jurak/publication/326594899_The_Role_of_Smart_Mobil ity_in_Smart_Cit ies/ links/5f5f5d9d299bf1d43c01e801/The-Role-of-Smart-Mobility-in-Smart-Cities.pdf. Acesso em: 18 jun. 2021. CAMARGO, A. Depoimento. In: Cidades inteligentes e mobilidade urbana. Cadernos FGV Projetos, ano 10, n. 24, out. 2015. Disponível em: https://fgvprojetos.fgv.br/sites/ fgvprojetos.fgv.br/files/cadernos_fgvprojetos_smart_cities_bilingue-final-web.pdf. Acesso em: 17 jun. 2021. FERREIRA, G. O que é a Sociedade 5.0. GZH, 16 jan. 2020. Disponível em: https:// gauchazh.cl icrbs.com.br/opiniao/noticia/2020/01/o-que-e-a-sociedade-5-0- ck5gg1lus00bo01oc1josf8lk.html. Acesso em: 17 jun. 2021. FINGUERUT, S.; FERNANDES, J. de. M. Planejando as cidades no século XXI. In: Cidades inteligentes e mobilidade urbana. Cadernos FGV Projetos, ano 10, n. 24, out. 2015. 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Quais foram as duas revoluções que contribuíram para o processo de urbanização das cidades? Descreva cada uma delas. A Segunda Revolução Industrial teve início na metade do século XIX e terminou durante a Segunda Guerra Mundial. Os avanços tecnológicos permitiram o surgimento de novas indústrias e a introdução de novos meios de produção, aumentando, assim, a capacidade produtiva. Esses fatores demandaram mais mão de obra para o trabalho nas indústrias, o que incentivou a migração de pessoas das áreas rurais para as urbanas. Já a Revolução Verde consiste no conjunto de inovações tecnológicas com vistas a desenvolver e melhorar a produção agrícola e aumentar a produção de alimentos a partir das décadas de 1960 e 1970. Com uma agricultura mais desenvolvida e a tomada de tecnologias no campo, o Brasil viveu o movimento do êxodo rural em direção aos centros urbanos. 2. Diferencie morfologia urbana de desenho urbano. A morfologia urbana está relacionada à forma física do espaço urbano, visando ao estudo da forma dos elementos morfológicos, bem como à sua produção e transformação ao longo do tempo. Já o desenho urbano está ligado às funções da cidade, exercidas por meio de ruas, quarteirões e bairros. 3. Defina o que é o Estatuto da Cidade. O Estatuto da Cidade, ou Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001, é a legislação que direciona as cidades na realização de seu planejamento urbano, sendo a primeira a regulamentar os artigos 182 e 183 da Constituição Federal de 1988. Por meio dessa lei, são estabelecidas as diretrizes gerais da política urbana e as normas de ordem pública e interesse social que, por sua vez, regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, além de buscar, em paralelo, o equilíbrio ambiental (BRASIL, 2001). 2 Mobilidade urbana 1. Diferencie infraestrutura de circulaçãode modos de circulação. A infraestrutura de circulação está relacionada às infraestruturas de mobilidade urbana, como: vias, calçadas, ciclovias, terminais e Resolução das Atividades 107 estacionamentos – ou seja, a estrutura necessária para a realização dos movimentos urbanos. Os modos de circulação contemplam os modos (transportes) e serviços oferecidos à população, sendo de uso público ou privado, que são utilizados no deslocamento de pessoas e cargas e podem ser motorizados e não motorizados. 2. Descreva as três faixas que uma calçada deve contemplar. Uma calçada pode conter três faixas: a primeira é conhecida como faixa de serviços, localizada próxima à guia, sendo aquela que contempla a instalação do mobiliário urbano; a segunda é a faixa livre, situada na faixa central, destinada exclusivamente à circulação de pedestres e eventualmente de ciclistas; e, por último, há a faixa de acesso aos imóveis, a qual serve como apoio às propriedades e contempla a presença de vegetação, rampas e toldos. 3. Cite e descreva os três grupos de modos de transporte disponíveis no Brasil. Os três grupos de modos disponíveis no Brasil são: sistemas por ônibus, que abrangem os sistemas de faixa exclusiva, corredor central e BRT; os sistemas sobre trilhos (metroferroviários), que contemplam o VLT, o monotrilho, o metrô e o trem urbano; e outros sistemas aplicáveis a casos específicos (barcas, teleférico e aeromóvel). 3 Mobilidade ativa, sustentável e acessível 1. Conceitue a mobilidade ativa. Mobilidade ativa é o uso da propulsão humana como “combustível” para o transporte de pessoas e de bens, por exemplo, andar a pé e de bicicleta, sendo opções mais baratas, saudáveis e com consumo energético mais eficiente para distâncias de até 5 km. 2. Diferencie: vias compartilhadas, ciclofaixa e ciclovia. As vias compartilhadas abrigam diferentes modos de transporte no mesmo espaço, sem qualquer tipo de segregação. A ciclofaixa, por sua vez, é construída junto às demais vias e, portanto, é menos isolada do tráfego motorizado. Já a ciclovia é totalmente segregada deste, podendo ser construída junto a uma rua, avenida ou locais específicos, por exemplo, canteiros centrais, calçadas, ou cruzando áreas maiores, como parques. 3. Descreva os cinco critérios de uma calçada acessível. A acessibilidade está relacionada à utilização – de maneira autônoma, independente e segura – de calçadas e passeios, com a disposição de condições físicas apropriadas ao seu uso, como guia rebaixada, piso tátil direcional e livre circulação. A manutenção está ligada ao 108 Mobilidade e logística urbana conforto e à segurança dos transeuntes, o que é possível por meio de características físicas ideais dos tipos de pavimento e de revestimento das calçadas. A conectividade refere-se à condição de continuidade do trajeto, permitindo que o percurso seja percorrido, do início ao fim, com autonomia, por todas as pessoas. O critério de segurança está relacionado tanto a estar protegido de riscos de atropelamentos quanto a riscos relativos à integridade do pedestre. A ambientação refere-se à interação do pedestre com o ambiente à sua volta. 4 Logística urbana 1. Conceitue logística urbana. Logística urbana, também conhecida como last mile e city logística, é o processo de otimização das atividades de distribuição de cargas em áreas urbanas, que são realizadas em conjunto por entidades públicas e privadas levando em consideração fatores como o aumento e o congestionamento do tráfego, a poluição e, ainda, o desejo de consumidores em receber suas encomendas no menor tempo possível. 2. Quem são os atores envolvidos na logística urbana? Explique cada um deles. Os atores da logística urbana são: embarcadores, que representam o ponto de partida da logística urbana, detentores das mercadorias que serão distribuídas; os transportadores, que recebem os produtos de empresas e são responsáveis pela sua distribuição para outras empresas ou consumidores finais; a população, que habita, trabalha e compra nas áreas urbanas e representa dois papéis (o primeiro de destinatários das mercadorias transportadas e o segundo daqueles que sofrem com o impacto da interferência do fluxo de veículos e produtos, como maior nível de congestionamento e poluição); e, por último, o poder público, responsável por disponibilizar melhores condições de infraestrutura urbana para os três outros atores envolvidos, bem como promover políticas que objetivem minimizar congestionamentos, acidentes de trânsito, ruídos e emissão de poluentes. 3. Discorra brevemente sobre as soluções regulamentares propostas para a logística urbana. O pedágio urbano visa à aplicação de tributos sobre modos e serviços de transporte urbano pela utilização da infraestrutura urbana, com o principal objetivo de desestimular o uso de determinadas áreas; a regulamentação de áreas de carga e descarga objetiva regulamentar Resolução das Atividades 109 e delimitar áreas para uso exclusivo de carga e descarga de veículos por meio de sinalização; a restrição da circulação de veículos de carga visa limitar o tráfego de veículos em determinados horários e regiões específicas da cidade; e as zonas de baixa emissão possuem como principal objetivo estimular o uso e a pulverização de veículos de baixa emissão de poluentes. 5 Distribuição urbana de mercadorias 1. Cite os principais benefícios da implementação das entregas noturnas. Os principais benefícios da implementação de um sistema de entregas noturnas são: redução de atrasos e dos tempos de entrega, redução do tempo de viagem dos veículos, redução das emissões de poluentes, aumento da produtividade das equipes de trabalho e possibilidade de consolidação de mercadorias em veículos de maior porte. 2. Destaque as principais vantagens dos pontos de coleta e retirada. Destacam-se como principais vantagens dos pontos de coleta e retirada: redução da quantidade de não entregas e reentregas, redução da quantidade de quilômetros rodados, redução das emissões de poluentes e aumento da produtividade (número de entregas/tempo) da operação. 3. Diferencie Centros de Distribuição Urbana (CDU) de Espaços Logísticos Urbanos (ELU). Centros de distribuição urbana são instalações responsáveis pela consolidação do fluxo de mercadorias com base em vários pontos de fornecimento (empresas), com recebimento de mercadorias em veículos de maior porte e consolidação em veículos menores, para posterior distribuição local ou em uma determinada região. Já o espaço logístico urbano serve como um ponto de apoio ao CDU, servindo como local de transbordo de mercadorias, para posterior distribuição, principalmente em veículos elétricos, como os cargocycles. 6 Mobilidade urbana e logística urbana 1. Diferencie cidade digital, cidade inteligente e smart city. A cidade digital é aquela na qual há integração da tecnologia digital nos sistemas de infraestrutura central da cidade, ou seja, aquela em que pessoas e instituições são conectadas por meio da infraestrutura de 110 Mobilidade e logística urbana comunicação digital. Já a cidade inteligente conta com a infraestrutura da cidade digital para construir edifícios inteligentes, sistemas de transporte, escolas, empresas, espaços públicos e serviços públicos a fim de integrá-los em sistemas urbanos inteligentes. A smart city, por sua vez, é capaz de gerir melhor seus recursos, com mais eficiência, por meio do uso amplo de monitoramento e de cruzamento de informações, com o objetivo de melhor atender aos cidadãos e formular políticas públicas mais eficazes. 2. Defina smart mobility. Smart mobility trata de soluções de mobilidade urbana pautadas nas tecnologias da informação e comunicação (TICs), ou seja, as cidades utilizam os dados coletados de smartphones, câmeras de segurança e veículos, por exemplo, na criação de soluções que ajudem a população a se deslocar de maneira segura e eficiente. 3. Descreva os benefícios da associação da smartmobility com as seis dimensões das smart cities. Governança inteligente: resolução de conflitos e detecção de comportamento ilegal; pessoas inteligentes: desenvolvimento de habilidades dos cidadãos em ambientes digitais; economia inteligente: geração de novas fontes de renda, criação de poupança pessoal e promoção de uma economia de compartilhamento (economia solidária e colaborativa); vida inteligente: melhoria da segurança e da qualidade de vida da polução, redução dos isolamentos sociais e desenvolvimento de valores sociais; ambiente inteligente: redução dos níveis de emissão de CO2 e da poluição sonora, contribuição para uma sociedade com menos uso de papel (less paper) e uso de meios de transporte ecologicamente corretos; mobilidade inteligente: simplificação de viagens, redução dos tempos de deslocamento e de congestionamentos, simplificação dos meios de pagamento de tarifas. Código Logístico 59723 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6720-6 9 7 8 8 5 3 8 7 6 7 2 0 6 M O BILID AD AD E E LO G ÍSTICA U R BAN A R afaela Aparecida de Alm eida Página em branco Página em branco