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Código Logístico 59723 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6720-6 9 7 8 8 5 3 8 7 6 7 2 0 6 M O BILID AD AD E E LO G ÍSTICA U R BAN A R afaela Aparecida de Alm eida Mobilidade e logística urbana Rafaela Aparecida de Almeida IESDE BRASIL 2021 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2021 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Kawin Ounprasertsuk/aguiters/buffaloboy/Hendry084/Zoart/Artizarus/Studio/Shutterstock CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ A45m Almeida, Rafaela Aparecida de Mobilidade e logística urbana / Rafaela Aparecida de Almeida. - 1. ed. - Curitiba [PR] : Iesde, 2021. 110 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6720-6 1. Urbanização - Brasil. 2. Crescimento urbano. 3. Planejamento urba- no. I. Título. 21-71692 CDD: 307.760981 CDU: 316.334.56(81) Rafaela Aparecida de Almeida Doutoranda e mestra em Gestão Urbana pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Especialista em Negócios Internacionais pelo Centro Universitário Internacional (Uninter). Secretária executiva bilíngue pelo Centro Universitário Diocesano do Sudoeste do Paraná (Unics). É membro do corpo editorial da Revista Brasileira de Gestão Urbana (Urbe). Atuou por 12 anos no ambiente organizacional nas áreas de comércio exterior e logística internacional. Atualmente, é docente nos cursos de Secretariado, Administração, Logística e Comércio Exterior; também é pesquisadora nas áreas de mobilidade e logística urbana. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 Espaço urbano 9 1.1 Contextualização do processo de urbanização das cidades 9 1.2 Espaço urbano: morfologia 13 1.3 Espaço urbano: desenho urbano 17 1.4 Diretrizes da estrutura urbana 20 2 Mobilidade urbana 27 2.1 Introdução à mobilidade urbana 27 2.2 A mobilidade no planejamento urbano 34 2.3 Sistemas de transporte de pessoas e cargas 36 3 Mobilidade ativa, sustentável e acessível 45 3.1 Mobilidade ativa e sustentável 45 3.2 Ciclomobilidade e caminhabilidade 50 3.3 Acessibilidade 54 4 Logística urbana 62 4.1 Introdução à logística urbana 62 4.2 Dimensões da logística urbana 69 4.3 Soluções regulamentares 74 5 Distribuição urbanade mercadorias 80 5.1 Soluções operacionais 81 5.2 Soluções de infraestrutura 85 5.3 Formas alternativas de entrega de mercadorias 90 6 Mobilidade urbana e logística urbana 94 6.1 Smart cities 95 6.2 Smart mobility 99 6.3 As cidades do futuro 102 Resolução das Atividades 106 Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! Esta obra tem por objetivo abordar as principais temáticas que envolvem a mobilidade e a logística urbana. Ao estudarmos essas duas temáticas, precisamos perceber o espaço urbano como o grande pano de fundo por detrás delas, compreendendo que é nesse espaço que ocorrem os movimentos de pessoas e de mercadorias. Ainda, que esses movimentos interferem no desenvolvimento ambiental, econômico e social das cidades e, consequentemente, na qualidade de vida de seus habitantes. O conteúdo deste livro foi dividido estruturalmente em seis capítulos, a fim de proporcionar a você um amplo conhecimento a respeito da mobilidade de pessoas e da distribuição de cargas no contexto urbano. O primeiro capítulo contextualiza o processo de urbanização vivenciado por cidades do mundo todo desde as Revoluções Industriais e mais especificamente no Brasil a partir da década de 1950, quando se intensificou seu processo de industrialização, de modo a construir o conhecimento base para a compreensão dos conceitos da morfologia urbana (formas) e do desenho urbano (funções) com vistas à compreensão das diretrizes da estrutura urbana. Atualmente, mais da metade da população mundial vive em áreas urbanas. Com o crescimento populacional, as cidades se expandem horizontalmente, incentivando o surgimento de bairros em regiões mais afastadas de seu eixo central e tornando evidente a importância da mobilidade urbana como forma de conectar origem e destino, bem como fator de desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida urbana. Nesse sentido, o segundo capítulo apresenta os conceitos base da mobilidade urbana, os modos de circulação disponíveis e a mobilidade como um dos pilares do planejamento urbano. O terceiro capítulo tem como eixo central a mobilidade ativa e sustentável, também conhecida como mobilidade não motorizada, na qual a propulsão humana é o “combustível” para o transporte de pessoas e de bens. Portanto, serão abordados os APRESENTAÇÃOVídeo 8 Mobilidade e logística urbana conceitos que permeiam a ciclomobilidade e a caminhabilidade na construção de cidades mais sustentáveis, acessíveis e inclusivas. Se por um lado a mobilidade trata do movimento de pessoas, a logística urbana diz respeito à distribuição de cargas, também conhecida como last mile, ou seja, a última etapa que bens e produtos percorrem até chegarem aos seus consumidores. O quarto capítulo trata dos conceitos base da logística urbana e das dimensões que a compõem: a espacial, os atores urbanos e a dimensão dos impactos que ela pode causar no espaço urbano, bem como as soluções regulamentares que vêm sendo implementadas em diversos países como forma de amenizar esses impactos. A logística urbana é um elemento que vem ganhando cada vez mais notoriedade e, nesse sentido, novas soluções precisam ser pensadas para o enfrentamento das negatividades que ela impõe às cidades, como congestionamentos, poluição sonora e emissões de gases poluentes. O quinto capítulo discorre sobre as soluções operacionais, de infraestrutura e formas alternativas de entrega que já estão sendo testadas em todo o mundo para reduzir os impactos provocados pela logística urbana. O sexto, e último, capítulo é um convite para a reflexão a respeito do futuro das cidades no que tange à mobilidade e à logística urbana, apresentando os conceitos de smart city e smart mobility associando o uso das tecnologias de informação e comunicação (TIC) ao planejamento urbano. Os temas abordados nesta obra proporcionarão a você, leitor, uma visão ampla das práticas da gestão urbana voltadas à mobilidade e à logística urbana. Bons estudos! Espaço urbano 9 1 Espaço urbano Com o estudo deste capítulo você será capaz de: • Compreender a evolução da dinâmica urbana. • Conhecer os conceitos de morfologia e desenho urbano. • Conhecer as diretrizes que regulamentam a estrutura urbana. Objetivos de aprendizagem O crescimento demográfico urbano se intensificou, principalmente, a par- tir da Segunda Guerra Mundial, associada à Segunda Revolução Industrial e à Revolução Verde. É nesse contexto que iniciamos este capítulo, que terá como eixo central o estudo das cidades em uma abordagem mais ampla. Começamos com a contextualização do processo de urbanização vivido nos últimos séculos, abordando os fatos e marcos históricos que incentivaram as populaçõesmundiais a migrarem das zonas rurais para as áreas urbanas, intensificando o crescimento demográfico nas cidades. Apresentaremos, na sequência, os conceitos de morfologia urbana, relacionada à forma física da cidade, e de desenho urbano, referente às funções também da cidade, composto de elementos como ruas, bairros e marcos, os quais diferenciam uma cidade da outra de acordo com seu planejamento ou evolução histórica. Para finalizar, trabalharemos as diretrizes da estrutura urbana no Brasil, representada pelo Estatuto da Cidade a nível federal, e os planos diretores a nível municipal, que são instrumentos que dão suporte e nor- teiam o planejamento e a gestão urbana. 1.1 Contextualização do processo de urbanização das cidades Vídeo Antes de iniciarmos nossos estudos a respeito do processo de urba- nização das cidades, converse com pessoas de mais idade em sua fa- mília ou na de amigos e pergunte como eram as cidades onde vivem ou viviam há 50 anos. Muitas delas, provavelmente, irão relatar uma fase em que esses lugares eram pequenos vilarejos, com pouca infraestru- tura e um número reduzido de habitantes, um cenário muito diferente do que conhecemos hoje em dia. As cidades se desenvolveram ao longo do tempo, devido a fatores como aumento populacional, revoluções industriais e migração popula- cional das áreas rurais para as urbanas. Mas, afinal, o que é a cidade? Existem diversas definições, de acordo com cada área de estudo; no entanto, podemos resumidamente dizer que cidade é um espaço físico, delimitado por um perímetro urbano, onde ocorrem interações entre seus cidadãos e o meio. De acordo com o DDesenvolvimento (2021, p. 1), dicionário do desenvolvimento elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU), cidade é: uma área urbanizada, que se diferencia de vilas e outros espaços urbanos através de vários critérios: população, infraestrutura, organização, serviços, entre outros. Uma cidade caracteriza-se por um estilo de vida particular dos seus habitantes, pela urbani- zação e pela concentração de atividades econômicas. Garbossa e Silva (2016) destacam que existem cidades seculares ou milenares, localizadas no Oriente Médio, mas foram o nascimento do comércio marítimo e o início das transações financeiras e comerciais, no final do século XV e início do século XVI, que marcaram o fortaleci- mento das cidades. O processo de industrialização vivenciado no século XIX repre- senta outro fator de propulsão do desenvolvimento urbano, segui- do pelo crescimento demográfico, principalmente em cidades da Inglaterra e França, como consequência de progressos científicos e técnicos (GARBOSSA; SILVA, 2016). Esse processo de desenvolvimento culmina na Segunda Revolução Industrial, que se inicia na metade do século XIX e termina durante a Segunda Guerra Mundial. Nesse período, para a contextualização das cidades, precisamos observar dois fatores. O primeiro é que os avanços tecnológicos permitiram Peaky Blinders se passa na cidade de Birmingham, Inglaterra, em 1919, formada meses após o final da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Nela, é possível identificar, como pano de fundo, como eram as cidades inglesas nesse período. Série SNEHIT PHOTO/Shutterstock 1010 Mobilidade e logística urbanaMobilidade e logística urbana Espaço urbano 11 o surgimento de novas indústrias e a in- trodução de novos meios de produção, aumentando a capacidade produtiva. A in- dustrialização, antes limitada à Inglaterra, se expande para outros países da Europa e para os Estados Unidos e Japão. Esses fatores demandaram mais mão de obra para o trabalho nas indústrias, o que incentivou a migração de pessoas das áreas rurais para as urbanas, formando os chamados guetos. As cidades recebiam um alto contingente de pessoas, porém não havia infraestrutura e condições sanitárias para recebê-las. Nessa época, cerca de 15% da população mundial já havia deixado o campo para viver nas cidades. O segundo ponto de destaque é o final da Segunda Guerra Mundial, marcado pelo retorno das tropas aos seus países e pelo fenômeno cha- mado baby boomer 1 , desencadeando um novo crescimento demográ- fico e incentivando a produção e o consumo (SANTOS, 2013). Com esses marcos históricos, intensifica-se o processo de urbaniza- ção nos principais centros urbanos mundiais, alterando, assim, a dinâ- mica das cidades. 1.1.1 Processo de urbanização no Brasil Vale destacar que enquanto as novas cidades e a transformação das já existentes ocorriam de maneira acelerada na Europa, o Brasil vivenciava a formação de seus primeiros aglomerados urbanos, princi- palmente nas regiões litorâneas do país. Até 1940, a população vivia essencialmente em áreas rurais, traba- lhando no cultivo do café, nas regiões de Minas Gerais e São Paulo ou na extração de borracha nos estados do Pará e Amazonas, por exem- plo. O processo de industrialização no Brasil ocorreu tardiamente, a partir dos anos de 1940 a 1950. No entanto, é esse fenômeno que passa a integrar o território nacional e expandir o consumo em formas diversas. Com isso, essa nova base econômica desencadeia o cresci- mento demográfico e a urbanização das cidades médias e grandes, es- pecialmente das capitais dos estados (SANTOS, 2013). Everett Collection/Shutterstock Pessoas nascidas entre 1946 e 1964 nos pós-guerra, gerando aumento considerável da natalidade em países europeus e nos Estados Unidos. 1 Acesse o link a seguir e acompanhe o mapa da evolução da população mundial de 1500 até a estimativa para 2050. Disponível em: https://www. visualcapitalist.com/mapping-the- worlds-urban-population-in-2050/. Acesso em: 9 abr. 2021. Curiosidade https://www.visualcapitalist.com/mapping-the-worlds-urban-population-in-2050/ https://www.visualcapitalist.com/mapping-the-worlds-urban-population-in-2050/ https://www.visualcapitalist.com/mapping-the-worlds-urban-population-in-2050/ 12 Mobilidade e logística urbana Nesse momento, o processo de urbanização nas cidades brasileiras ainda era lento. A partir da década de 1970, ocorre a inversão do local de residência dos brasileiros, quando mais da metade (56%) passa a viver em áreas urbanas, conforme mostram os dados apresentados no gráfico a seguir. Gráfico 1 Taxa de urbanização brasileira Fonte: Elaborada pela autora com base em IBGE, 2021. 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2007 2010 69 31 64 36 55 45 44 56 32 68 24 76 19 81 17 83 16 84 População rural (%) População urbana (%) Associado ao processo de industrialização, há um fenômeno deno- minado Revolução Verde, que é o conjunto de inovações tecnológicas com vistas a desenvolver e melhorar a produção agrícola e aumen- tar a produção de alimentos a partir das décadas de 1960 e 1970 (SANTOS, 2013). Com uma agricultura mais desenvolvida e a tomada de tecnologias no campo, o Brasil viveu o movimento do êxodo rural em direção aos centros urbanos. A associação desses fenômenos ou marcos na história acelerou o processo de urbanização nas cidades. Santos (2013) destaca que, em 1950, as cidades brasileiras, com população entre 20 mil e 50 mil habi- tantes, somavam uma população aproximada de 7 milhões. Em 1980, esse número saltou para 38 milhões de habitantes. Nas cidades com po- pulação de mais de um milhão de habitantes, esses dados foram de 6,5 milhões de habitantes em 1950 para 29 milhões de residentes em 1980. Espaço urbano 13 É após esse momento que se dá uma urbanização mais concentrada, com a multiplicação das cidades de tamanho intermediário e, posteriormente, com o estágio de me- tropolização (SANTOS, 2013). Segundo dados do Censo do IBGE de 2010, mais de 80% da população brasileira vive em cidades (IBGE, 2021). De acordo com dados da ONU (UNITED NATIONS, 2019), no ano 2018, cerca de 55,3% da população mundial vivia em área urbanas; para 2030, a estimativa é que esse número aumente para 60% e que uma em cada três pessoas viva emcidades com pelo menos meio milhão de habitantes. Essas informações demonstram que a população mundial está cada vez mais concentrada nas cidades e que a grande variabilidade em tamanho, morfologia e distribuição geográfica dessas, entre e dentro dos países, precisa ser considerada, a fim de implementar com sucesso um planejamento urbano e territorial sustentável e equilibrado, em diferentes escalas geográficas. Vale destacar que, de acordo com a posição geográfica e o tipo de crescimento ou desenvolvimento, as cidades foram se modificando ao longo do tempo e adquirindo formas (morfologia) e funções (desenho urbano) diferentes umas das outras. Beautiful landscape/Shutterstock 1.2 Espaço urbano: morfologia Vídeo Para Garbossa e Silva (2016), a cidade vai além da estrutura espacial que constitui o seu espaço; ela é o resultado da apropriação social e cultural do espaço, da sua história e dos seus fatores econômicos e políticos, que, juntos, determinam a sua forma. Feche os olhos por um momento e imagine a cidade onde você mora. Quais são as principais vias? Quais são os bairros mais importantes? Há monumentos históricos ou praças nela? Qual é o formato das quadras? Você sabia que todos esses elementos, dentre outros, fazem parte da morfologia urbana? Vamos entender melhor a seguir. O termo morfologia vem do grego (morphé + lógos + ía) e significa a ciência que estuda a forma. A palavra urbano, por sua vez, deriva do latim (urbanus), com o sentido de algo relacionado à urbe ou à ci- dade. Portanto, a morfologia urbana diz respeito à forma da cidade. Observe as imagens a seguir: 14 Mobilidade e logística urbana Figura 1 Seul, capital da Coreia do Sul Figura 2 Bangkok, capital da Tailândia Efi re d/ Sh ut te rs to ck M AG NI FI ER /S hu tte rs to ck Conforme é possível observar nas figuras apresentadas, cada cida- de possui uma morfologia (formas) com características específicas. De acordo com Lamas (2014, p. 38), a morfologia urbana pode ser definida como “o estudo da forma do meio urbano, das suas partes físicas exte- riores, ou elementos morfológicos, e na sua produção e transformação no tempo”. Esse conceito é reforçado por Carmona et al. (2010), que a definem como a análise da configuração dos assentamentos humanos, atentando-se aos padrões locais de desenvolvimento e aos processos de mudança ao longo do tempo. Lamas (2014) destaca que a leitura físico-espacial e morfológica da cidade permite diferenciar um espaço ou uma forma de outros, e que, por meio da sucessão e estruturação de feições formais e de dimen- sões setoriais, torna-se possível compreender o contexto urbanístico. O autor define a morfologia urbana como resultante da organização dos elementos morfológicos, com base nos seguintes aspectos comuns a todas as cidades: Quantitativos: aspectos quantificáveis, como superfícies, fluxos e densidades. Qualitativos: englobam o tratamento espacial, que deve ser voltado ao conforto ambiental, como arborização e conforto térmico. Funcionais: atividades e necessidades humanas, inclusive as condições de utilização do solo. Figurativos: abrangem a comunicação estética dos componentes paisagísticos – monumentos, praças e jardins, por exemplo. Orientativos: características relacionadas aos sentidos humanos e aos processos perceptivos. Vi su al G en er at io n/ Sh ut te rs to ck Espaço urbano 15 Lamas (2014) acrescenta que as formas urbanas vão além das con- cepções estéticas, ideológicas, culturais e arquitetônicas, pois se encon- tram relacionadas às condições comportamentais, à utilização espacial e à integração comunitária. Isso influencia diretamente a vida social no comportamento e bem-estar dos cidadãos, levando em considera- ção os diferentes comportamentos dos indivíduos nos mais distintos espaços urbanos. Para Rossi (2001, p. 17), a morfologia urbana é “a descrição das for- mas de um fato urbano”, onde as regiões do espaço urbanizado são definidas por caracteres de homogeneidade física e social, analisando as atividades que os grupos sociais manifestam com base em determi- nadas características territoriais. Rossi (2001) trabalha o conceito de cidade como sistema espacial formado por várias partes com características próprias, a saber: Bairros: setores relativamente autônomos dentro da cidade, que independem uns dos outros e se referem a toda a estrutura urbana. São caracterizados como uma unidade morfológica e estrutural, com conteúdo social próprio e funções peculiares. Ruas: responsáveis por manter as cidades vivas. São caracterizadas de acordo com as trocas que nelas acontecem, sejam comerciais, culturais ou sociais, além de permitir a circulação dos fluxos de pessoas e cargas. Residência: relacionada ao modo de viver de uma determinada sociedade, estando intimamente ligada à forma urbana por meio da maneira como são idealizados os tipos e as características das edificações residenciais. Vi su al G en er at io n/ Sh ut te rs to ck De acordo com Lamas (2014), a morfologia urbana é classificada pelas seguintes escalas ou dimensões da forma urbana: Cidade Representada pela articulação e distribuição de diferentes formas da dimensão urbana, diferenciando os bairros entre si, arruamentos e zonas habitacionais e formando, assim, os seus elementos primários ou estruturantes. Bairro Corresponde às partes homogêneas identificáveis, sendo com- posto de uma estrutura de vias, praças ou escalas inferiores. (Continua) Se an P av on e/ Le on ar do d a/ Sh ut te rs to ck 16 Mobilidade e logística urbana Rua Trata-se da menor porção do espaço urbano e está relacionada diretamente com a formação e o crescimento da cidade, estando, ainda, vinculada à importância da mobilidade de pessoas e do deslocamento de bens. Praça Configura o espaço coletivo onde ocorrem o encontro de pessoas, a permanência dos cidadãos, os acontecimentos históricos, as práticas sociais e as manifestações da vida urbana. Qi nJ in /B AB AR OG A/ Sh ut te rs to ck Na perspectiva de Lynch (2011), um dos grandes autores do urbanismo, os elementos da forma física podem ser divididos em cinco, que se interligam: Vias: simbolizam os caminhos nos quais as pessoas se deslocam usual, ocasional ou potencialmente dentro da cidade, além de compreenderem outros elementos organizados que se relacionam ao longo desses eixos. Limites: representam as fronteiras entre duas partes do espaço para manter uma região isolada de outra e para permanecerem organizadas. Bairros: compreendem um dos elementos mais importantes, tal qual as vias, podendo ser de tamanho médio ou grande, onde os cidadãos os reconhecem por suas características comuns e identificáveis. Nós: são pontos focais ou locais estratégicos dentro da cidade – geralmente, os cruzamentos de ruas onde as atividades estão concentradas, servindo como elemento polarizador ou símbolo de um bairro. Marcos: são representados por objetos físicos situados dentro da cidade ou a uma determinada distância, a ponto de se tornarem símbolos de direcionamento; podem, ainda, ser locais, como fachadas de lojas, árvores ou outros detalhes urbanos utilizados como indicadores de identidade da cidade. Vi su al G en er at io n/ Sh ut te rs to ck Por meio das classificações apresentadas, percebemos que os ele- mentos morfológicos não estão apenas interligados, sendo possível também ver semelhanças entre eles. Embora esses elementos possam ser encontrados em praticamente todas as cidades que conhecemos, o que os diferencia é o modo como se posicionam e se organizam na construção do espaço urbano ou, então, a maneira como cada cidade foi construída e se desenvolveu ao longo de sua história. Assista ao vídeo Arquite- tura urbana e a forma da cidade – a construção do espaço urbano, publicado pelo canal Bea Pac, e am- plie o seu conhecimento a respeito do surgimento e dos tipos de cidades, conhecendo alguns exemplos de como a morfologia podeapre- sentar diferenças entre algumas das principais cidades do mundo. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=gzkth-D-_ pY. Acesso em: 9 abr. 2021. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=gzkth-D-_pY https://www.youtube.com/watch?v=gzkth-D-_pY https://www.youtube.com/watch?v=gzkth-D-_pY Espaço urbano 17 Para Lamas (2014), a forma da cidade se relaciona com a sua função, de modo a permitir o desenvolvimento das atividades que nela se processam, vinculando a morfologia (formas) ao desenho urbano (funções). 1.3 Espaço urbano: desenho urbano Vídeo A morfologia urbana se conecta ao desenho urbano pela definição de um modo de utilização e de comunicação com a arquitetura, o que vai além de organizar o território, procurando se comunicar estética e significativamente com suas funções (LAMAS, 2014). De acordo com Del Rio (1990, p. 45), o desenho urbano é o “campo disciplinar que trata a dimensão físico-ambiental da cidade, enquanto conjunto de sistemas físico-espaciais e sistemas de atividades que inte- ragem com a população através de suas vivências, percepções e ações cotidianas”, ou seja, por meio do processo inconsciente de seus usuá- rios. Assim, as funções da cidade podem ser expressas pelo melhor aproveitamento dos seus componentes espaciais e pelo modo como seus habitantes percebem e vivenciam suas funções. Da ni el T rin ity /W ik im ed ia C om m on s Dessa forma, Carmona et al. (2010) apontam seis dimensões para o desenho urbano: 18 Mobilidade e logística urbana Morfológica: consiste na associação da forma às características urbanas, por exemplo, a tipologia das ruas e dos quarteirões. Perceptual: relaciona-se à percepção socioambiental e à construção social do lugar, englobando o sentimento de pertencimento e a maneira como as pessoas percebem o espaço à sua volta. Social: ocorre pela relação entre indivíduos e espaços, com destaque para aspectos de domínio público, de segurança e de controle espacial, como ambientes que permitem a permanência e socialização dos indivíduos. Visual: refere-se às preferências estéticas dos usuários, envolvendo fatores de qualidade paisagística. Funcional: garante as condições de mobilidade e da existência de lugares para pessoas, independentemente de estrato social, permitindo os mo- vimentos urbanos. Temporal: trata da interpretação do tempo e de suas interferências espaciais. Vi su al G en er at io n/ Sh ut te rs to ck Quando pensamos nas funções que uma cidade deve oferecer a seus habitantes, é comum que nos venha à mente que o desenho urbano deve contemplar moradias, locais de trabalho, infraestrutura viária e lazer. Mas você sabia que o desenho urbano vai muito além disso? E, ain- da, que ele está associado à qualidade de vida oferecida pela cidade? O desenho urbano possui elevado impacto sobre a natureza e a vida nas cidades; é por essa razão que, ao se criar núcleos ou redesenhar aqueles já existentes, esses espaços precisam ser pensados de acordo com as necessidades físicas e sociais de seus habitantes, fornecendo lugares que podem ser sustentáveis em vários aspectos: social, am- biental e econômico (LANG, 2005). Com um adequado desenho urbano, é possível criar ambientes e espaços públicos atrativos, seguros, acessíveis e agradáveis, volta- dos à dimensão e à escala humana, onde as pessoas desejam viver, trabalhar e aproveitar momentos de lazer. Assim, torna-se possível conectar pessoas e lugares públicos, movimento e forma urbana, e natureza e tecido construído, garantindo-se o propósito de cidades atrativas (DETR, 2000). Para entender melhor, vejamos o exemplo de duas imagens distin- tas, na cidade de Curitiba, no estado do Paraná. Espaço urbano 19 ju an ig na ci o sc he no ne /S hu tte rs to ck De t-a na n/ Sh ut te rs to ck Avenida Cândido de Abreu e suas vias destinadas aos veículos (à esquerda) e Rua XV de Novembro, via exclusiva de pedestres (à direita). A primeira imagem demonstra uma via com poucos atrativos visuais e nenhum espaço para convivência ou interação entre os cidadãos. Já na segunda imagem, vemos uma via exclusiva para pedestres, com atrativos visuais, bancos para que as pessoas possam descansar ou interagir entre si, muitos pontos de comércio, arborização que ofe- rece sombreamento em dias de calor, entre outros elementos. Qual dos dois locais oferece maior segurança, acessibilidade e pare- ce mais agradável? É nesse sentido que o desenho urbano atua. Del Rio (1990) reforça que o desenho urbano busca um agencia- mento da área urbana que seja coerente para os seus usuários, es- pecialmente na integração dos elementos das dimensões físicas e ambientais. Para o autor, a qualidade da cidade está vinculada ao tra- tamento de suas partes, como calçadas, lotes e quarteirões, e ao modo como se vinculam ao todo. Com base nessa perspectiva, o autor define os seguintes critérios de qualidade do meio urbano: Utilização do solo: vinculada aos tipos de funções e à intensidade de uso do solo e das edificações. Tem o intuito de promover uma área urbanizada com a maior vitalidade possível. Configuração espacial: relacionada aos conjuntos edificados já existentes e aos novos, compatibilizando tipologias morfológicas. Circulação viária e estacionamento: entendidos como um sistema de movi- mentos, que possui elementos vitais para a animação e sobrevivência social e econômica da cidade. Vi su al G en er at io n/ Sh ut te rs to ck (Continua) 20 Mobilidade e logística urbana Espaços livres: dizem respeito às atividades sociais (encontros), culturais (even- tos), funcionais (circulação) e higiênicas (mentais e físicas), que dão vida à cidade. Percursos de pedestres: vinculados aos sistemas de circulação viária, que permitem ir e vir, integrando as relações sociais e econômicas e permitindo a caminhabilidade com segurança e acessibilidade. Atividades de apoio: ligadas à vitalidade dos espaços urbanos, que possibilitam a realização de atividades comerciais e de interatividade. Mobiliário urbano: composto de elementos que permitem o funcionamento da cidade, como iluminação pública, sistemas de sinalização e pontos de ônibus. Segundo Sallem (2006), o desenho urbano deve estar focado na experiência cotidiana humana, confrontando e entendendo os proble- mas formais da cidade, de modo que favoreça tanto a boa configuração da forma quanto as possibilidades de interesse da gestão urbana. Essa questão é reforçada por Teixeira (2013) ao ressaltar sua importância no processo de planejamento urbano, dentro de um contexto de valoriza- ção do processo consciente de desenho da cidade, como ferramenta fundamental para a construção de uma morfologia otimizada. Nesse sentido, é possível entender que o desenho urbano está re- lacionado ao domínio público, incorporando dois aspectos diferentes: o espaço comum, voltado à estruturação física e formal da cidade; e a instituição governamental responsável pela construção político- -econômica, ou seja, o planejamento urbano (CARMONA et al., 2010). No Brasil, as diretrizes do planejamento urbano estão ligadas ao Estatuto da Cidade e aos planos diretores instituídos em cada município. 1.4 Diretrizes da estrutura urbana Vídeo De acordo com Duarte, Sánchez e Libardi (2012, p. 26), o planejamen- to urbano tem como objetivo o estudo da cidade, de modo a envolver as relações e características físicas e também as sociais, culturais e econô- micas, podendo ser definido como “o conjunto de medidas tomadas para que sejam atingidos os objetivos desejados, tendo em vista os recursos disponíveis e os fatores externos que podem influir nesse processo”. Rezende e Castor (2006, p. 1) destacam que o planejamento urbano “estabelece as regras de ocupação de solo, define as principais estraté- gias e políticas do município e explicita as restrições, as proibições e as No livro Introdução ao de- senho urbano no processo de planejamento, o autor contempla informações a respeito das dimensõesque devem permear o processo de planejamen- to urbano, sendo elas físico-ambientais e físico- -espaciais. O conheci- mento dessas dimensões ajudará na melhor com- preensão do desenho urbano, associando-o aos conteúdos estudados. DEL RIO, V. São Paulo: Pini, 1990. Livro Espaço urbano 21 limitações que deverão ser observadas para manter e aumentar a qualidade de vida para seus munícipes”. 1.4.1 Estatuto da Cidade No Brasil, a principal normativa que dire- ciona o planejamento urbano é a Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001, conhecida como Estatuto da Cidade. Essa lei regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição Federal de 1988 e estabelece diretrizes gerais da política urbana e normas de ordem pública e de interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cida- dãos, bem como do equilíbrio ambiental (BRASIL, 2001). De acordo com o artigo 2º da referida lei, a política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais (BRASIL, 2001): I – Garantia do direito a cidades sustentáveis Buscando garantir o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambien- tal, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as atuais e futuras gerações. II – Gestão democrática por meio da participação da população Ocorrendo na formulação, execução e acompanhamento de planos, progra- mas e projetos de desenvolvimento urbano. IV – Planejamento do desenvolvimento das cidades Voltando-se para melhorar a distribuição espacial da população e das atividades econômicas, corrigindo as distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente. V – Oferta de equipamentos urbanos e comunitários Oferecendo transporte e serviços públicos adequados aos interesses e às necessidades da população, bem como às características locais. III – Cooperação entre os governos, a iniciativa privada e os demais setores da sociedade no processo de urbanização Levando em consideração o atendimento dos interesses sociais. (Continua) RossHelen/Shutterstock 22 Mobilidade e logística urbana VI – Ordenação e controle do uso do solo Visando ao uso adequado de imóveis urbanos, de modo a evitar o uso excessivo ou inadequado em relação à infraestrutura urbana, à retenção especulativa de imóvel urbano, à deterioração das áreas urbanizadas e à poluição e degradação ambiental. VII – Integração e complementaridade entre as atividades urbanas e rurais Objetivando o desenvolvimento socioeconômico do município. IX – Justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do processo de urbanização Distribuindo de maneira mais isonômica os investimentos públicos em prol do interesse coletivo. X – Adequação dos instrumentos de política econômica, tributária e financeira e dos gastos públicos aos objetivos do desenvolvimento urbano Buscando o controle dos gastos públicos e a arrecadação dos tributos. XI – Recuperação dos investimentos do Poder Público Decorrendo da valorização de imóveis urbanos. XIV – Regularização fundiária e urbanização Regulamentando áreas ocupadas por população de baixa renda. XV – Simplificação da legislação de parcelamento, uso e ocupação do solo Permitindo a redução dos custos e o aumento da oferta dos lotes e das unidades habitacionais. XII – Proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e arqueológico Objetivando a preservação cultural, histórica e ambiental da cidade. VIII – Adoção de padrões de produção e consumo de bens e serviços e de expansão urbana compatíveis com os limites da sustentabilidade ambiental Visando à permissão para a instalação de equipamento e serviços. XIII – Audiência do Poder Público municipal Ocorrendo com participação da população interessada nos processos de implantação de empreendimentos ou atividades com efeitos potencialmente negativos sobre o meio ambiente natural ou construído, o conforto ou a segurança da população. (Continua) Espaço urbano 23 XVI – Isonomia de condições para os agentes públicos e privados na promoção de empreendimentos e atividades relativos ao processo de urbanização, atendido o interesse social Incentivando o empreendedorismo social. XVII – Estímulo à utilização, nos parcelamentos do solo e nas edifica- ções urbanas, de sistemas operacionais, padrões construtivos e aportes tecnológicos que objetivem a redução de impactos ambientais e a economia de recursos naturais Incentivando construções sustentáveis, com uso de energia renovável, captação de água, áreas verdes, dentre outros. XIX – Garantia de condições condignas de acessibilidade, utilização e conforto nas dependências internas das edificações urbanas Garantindo a acessibilidade e igualdade a todos os grupos sociais, com diferentes tipos de mobilidade. XVIII – Tratamento prioritário às obras e edificações de infraestrutura de energia, telecomunicações, abastecimento de água e saneamento Estabelecendo normas gerais aplicáveis ao processo de licenciamento, instalação e compartilhamento de infraestrutura de telecomunicações, com o propósito de torná-lo compatível com o desenvolvimento so- cioeconômico do país. Dentre os instrumentos da política urbana, instituídos pelo Estatuto da Cidade, a nível municipal, destaca-se o Plano Diretor. 1.4.2 Plano Diretor Muito antes da promulgação do Estatuto da Cidade, alguns municí- pios, como é o caso de Curitiba e Rio de Janeiro, já tinham, na década de 1940, instituído propostas inovadoras para o seu ordenamento ur- bano, pautadas no intitulado Plano Agache 2 . No entanto, é a referida lei que introduz a obrigatoriedade da elaboração dos planos diretores e da participação da população em diferentes etapas de sua elabora- ção, por meio das chamadas audiências públicas (DUARTE; SÁNCHEZ; LIBARDI, 2012). De acordo com o Estatuto da Cidade, em seus artigos 39 e 40, a pro- priedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigên- cias fundamentais de ordenação da cidade expressas no Plano Diretor. Criado por Alfred Agache e fina- lizado em 1930, é considerado o primeiro Plano Diretor brasileiro. 2 24 Mobilidade e logística urbana É por meio dele que é assegurado o atendimento das necessidades dos cidadãos quanto à qualidade de vida, à justiça social e ao desen- volvimento das atividades econômicas. O Plano Diretor, dessa forma, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana (BRASIL, 2001). Esse documento é obrigatório para as cidades com mais de 20 mil habitantes, os integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas e, ainda, os de áreas de especial interesse turístico ou inse- ridas em local de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental de âmbito regional ou nacional. No caso de cidades com mais de 500 mil habitantes, deverá ser elaborado um plano de transporte urbano integrado, sendo compatível com o Plano Diretor ou estando nele inserido (BRASIL, 2001). Vale destacar, ainda, que o Plano Diretor deverá ser revisto pelo me- nos a cada 10 anos, promovendo audiências públicas e debates com a participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade quando for elaborado (BRASIL, 2001). Nesse momento, você deve estar se perguntando quem são os res- ponsáveis pela elaboração desse documento. Duarte (2011, p. 103) destaca que, em sua elaboração, es- tão envolvidos “técnicos, políticos, organizações da socie- dade civil (como ONGs, associações de classes, etc.) e toda e qualquer pessoa”, uma vez que as audiências públicas permitem a participação da sociedade como um todo. O autor acrescenta que as diretrizes básicas do plano de cada cidade são propostas por um corpo técnico, o qual pode ser formado por ur- banistas, engenheiros,médicos, agrônomos, economistas e geógrafos. Esse corpo técnico pode ser formado pelos profissionais internos da prefeitura ou pelos externos de ONGs ou empresas privadas, o que permite trazer uma nova visão para a solução dos pro- blemas da cidade (DUARTE, 2011). A aprovação do Plano Diretor é feita pela Câmara Municipal; no en- tanto, o seu acompanhamento e os ajustes podem e devem ser feitos ao longo dos 10 anos de sua vigência. Que tal realizar uma pesquisa para saber se sua cidade possui um plano diretor? Após sua investigação, não esqueça de compartilhar as informações com seus vizinhos, familiares e amigos. Dica Valmedia/Shutterstock Espaço urbano 25 1.4.3 Planos de Mobilidade Urbana (PlanMob) Conforme vimos, cidades com mais de 500 mil habitantes têm que, obrigatoriamente, criar um plano de transporte urbano integra- do. Esse plano é elaborado por cada município com base no Plano de Mobilidade Urbana (PlanMob), o qual visa orientar municípios e estados para a construção de seus planos, de acordo com as diretri- zes da Política Nacional de Mobilidade Urbana (Lei n. 12.587/2012). À Secretaria Nacional de Mobilidade e Desenvolvimento Regional e Urbano (SMDRU) cabe o papel de estimular a modernização e a disse- minação dos padrões de mobilidade, além de orientar e instituir dire- trizes voltadas para as cidades e regiões metropolitanas (BRASIL, 2012). Diversas cidades buscaram implementar diretrizes como forma de melhorar a gestão urbana ao longo do tempo. No Brasil, a Constituição de 1988 representou o grande marco do planejamento urbano, con- solidado posteriormente pela promulgação do Estatuto da Cidade em 2001, o qual definiu o Plano Diretor como instrumento que direciona as ações dos municípios em prol da melhoria da qualidade das cidades e da vida de seus habitantes. CONSIDERAÇÕES FINAIS Se fizermos uma viagem no tempo por meio de fotografias antigas, veremos o quanto as cidades se modificaram com o passar dos anos, não apenas em sua forma física (morfologia), mas também em seu desenho urbano. Sendo assim, as funções da cidade se modificam de acordo com as transformações por ela vivenciadas e pela busca de melhorias na qua- lidade de vida de seus habitantes. Compreender essas transformações e conhecer os instrumentos da gestão urbana nos permite como estudantes e como cidadãos participar ativamente do processo de melhoria contínua de nossas cidades. ATIVIDADES 1. Quais foram as duas revoluções que contribuíram para o processo de urbanização das cidades? Descreva cada uma delas. 2. Diferencie morfologia urbana de desenho urbano. 3. Defina o que é o Estatuto da Cidade. Vídeo 26 Mobilidade e logística urbana REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001. Diário Oficial da União. Poder Executivo, Brasília, DF, 11 jul. 2001. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ leis_2001/l10257.htm. Acesso em: 9 abr. 2021. BRASIL. Lei n. 12.587, de 3 de janeiro de 2012. Diário Oficial da União. Poder Legislativo, Brasília, DF, 4 jan. 2012. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011- 2014/2012/lei/l12587.htm. Acesso em: 9 abr. 2021. CARMONA, M. et al. Public places, urban spaces: the dimensions of urban design. 2. ed. Oxford: Elsevier, 2010. DDESENVOLVIMENTO. Cidades. 2021. Disponível em: https://ddesenvolvimento.com/wp- content/uploads/2019/01/DD_CIDADES.pdf. Acesso em: 9 abr. 2021. DEL RIO, V. Introdução ao desenho urbano no processo de planejamento. São Paulo: Pini, 1990. DETR. Urban design in the planning system: towards better practice. London: Government Digital Service, 2000. DUARTE, F.; SÁNCHEZ, K.; LIBARDI, R. Introdução à mobilidade urbana. Curitiba: Juruá, 2012. GARBOSSA. R. A.; SILVA, R. S. O processo de produção do espaço urbano: impactos e desafios de uma nova urbanização. Curitiba: InterSaberes, 2016. [e-book] IBGE. Taxa de urbanização. 2021. Disponível em: https://seriesestatisticas.ibge.gov.br/ series.aspx?vcodigo=POP122. Acesso em: 9 abr. 2021. LAMAS, J. M. R. G. Morfologia urbana e o desenho da cidade. 7. ed. Lisboa: Fundação Caloustre Gulbenkian; Fundação para a Ciência e Tecnologia, 2014. LANG, J. Urban design: a typology of procedures and products. Burlington: Architectural; Elsevier, 2005. LYNCH, K. A. A imagem da cidade. 3. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011. REZENDE, D. A.; CASTOR; B. V. J. Planejamento estratégico municipal: empreendedorismo participativo nos municípios e prefeituras. 2. ed. Rio de Janeiro: Brasport, 2006. ROSSI, A. A arquitetura da cidade. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. SALLEM, A. L. Morfologia e desenho urbano na configuração da cidade planejada: o caso de Curitiba. 2006. Dissertação (Mestrado em Gestão Urbana) – Centro de Ciências Exatas e de tecnologia, Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba. SANTOS. M. A urbanização brasileira. 5. ed. São Paulo: USP, 2013. TEIXEIRA, M. F. I. M. Conceitos contemporâneos sobre planejamento urbano, desenho urbano e sua relação. Cadernos de Arquitetura e Urbanismo, Belo Horizonte, v. 20, n. 26, p. 74-93, 2013. UNITED NATIONS. World urbanization prospects: the 2018 revision. New York, 2019. Disponível em: https://population.un.org/wup/Publications/Files/WUP2018-Report.pdf. 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Objetivos de aprendizagem Todos os dias, quando precisamos nos locomover de um ponto a ou- tro da cidade, seja para irmos ao trabalho, seja para estudarmos, termos momentos de lazer ou qualquer outra atividade, estamos vivenciando a mobilidade urbana. Neste capítulo, iremos nos aprofundar na mobilidade urbana, inicial- mente conhecendo os seus conceitos e a integração dos diferentes mo- dais na busca por melhorias na qualidade de vida dos cidadãos. Na sequência, estudaremos quais são as diretrizes que orientam a ela- boração de planos diretores e planos setoriais de mobilidade urbana, res- saltando a importância de se levar em consideração as particularidades e a realidade de cada município. Por fim, analisaremos o sistema de modos de transporte de pessoas e de cargas, dividindo-os em não motorizados, como é o caso da caminhabi- lidade e da bicicleta, e em motorizados, os quais se referem ao transporte público, aos veículos individuais e às motocicletas. 2.1 Introdução à mobilidade urbana Vídeo Atualmente, mais da metade da população mundial vive em áreas urbanas. Associado a esse fator, houve o espraiamento das cidades, ou seja, a sua expansão horizontal, por meio do surgimento de bair- ros ou regiões distantes ou afastadas de seu eixo central. Como conse- quência, tivemos o aumento dos movimentos urbanos – isto é, pessoas que vivem em determinados bairros ou regiões e precisam se deslocar 28 Mobilidade e logística urbana para trabalhar, estudar ou realizar atividades de lazer –, também conhecidos como movimentos pendulares. A formação de novas localizações para traba- lho, estudo, serviços e lazer impulsionou a geração de mais viagens nas cidades, e é nesse sentido que a mobilidade urbana atua, tendo como principal função a promoção do deslocamento de pessoas e, ainda, con- tribuindopara a equidade de acesso dos sujeitos a bens, serviços e oportunidades (TURBAY, 2020). Para uma melhor compreensão, vamos diferenciar os conceitos de mobilidade e transporte. A mobilidade representa o conjunto estrutu- rado de modos e infraestruturas que possibilitam o deslocamento e a acessibilidade das pessoas nos espaços urbanos. O transporte, por sua vez, é um meio, um sistema, pelo qual é possível exercer a mobilida- de, ou seja, refere-se estritamente aos serviços e modos utilizados nos movimentos dentro da cidade ou, também, à forma como a população acessa os destinos desejados (MASSUCHETO, 2020; ALMEIDA 2018). No Brasil, a Lei n. 12.587/2012 institui a Política Nacional de Mobilidade Urbana e, em seu artigo 4º, define a mobilidade como a “condição em que se realizam os deslocamentos de pessoas e cargas no espaço urbano” e o transporte como o “conjunto dos modos e servi- ços de transporte público e privado utilizados para o deslocamento de pessoas e cargas” (BRASIL, 2012), conforme ilustrado na Figura 1. Figura 1 Infraestrutura e modos de circulação no âmbito da mobilidade urbana Vias e logradouros Calçadas e ciclovias Bicicletas Transportes públicos Pedestres Veículos particulares Motocicletas Infraestruturas de circulação Modos de circulação Motorizados Não motorizados Mobilidade urbana Fonte: Elaborada pela autora com base em Brasil, 2012. Christian Mueller/Shutterstock Mobilidade urbana 29 A Lei n. 12.587 (BRASIL, 2012), em seu artigo 3º, define o Sistema Nacional de Mobilidade Urbana como “o conjunto organizado e coor- denado dos modos de transporte, de serviços e de infraestruturas que garante os deslocamentos de pessoas e cargas no território do Municí- pio”. Nesse sentido, a mobilidade urbana contempla a infraestrutura de circulação e os modos de transporte. 2.1.1 Infraestrutura de circulação De acordo com a Lei n. 12.587 (BRASIL, 2012), fazem parte das infraestruturas de mobilidade urbana: I – vias e demais logradouros públicos, inclusive metroferrovias, hidrovias e ciclovias; II – estacionamentos; III – terminais, estações e demais conexões; IV – pontos para embarque e desembarque de passageiros e cargas; V – sinalização viária e de trânsito; VI – equipamentos e instalações; e VII – instrumentos de controle, fiscalização, arrecadação de taxas e tarifas e difusão de informações. No que diz respeito à infraestrutura e circulação urbana, destaca- mos a Lei n. 9.503, de 23 de setembro de 1997, que institui o Código de Trânsito Brasileiro e traz, em seu artigo 6º, os seguintes objetivos: I – estabelecer diretrizes da Política Nacional de Trânsito, com vistas à segurança, à fluidez, ao conforto, à defesa ambiental e à educação para o trânsito, e fiscalizar seu cumprimento; II – fixar, mediante normas e procedimentos, a padronização de critérios técnicos, financeiros e administrativos para a execução das atividades de trânsito; III – estabelecer a sistemática de fluxos permanentes de informa- ções entre os seus diversos órgãos e entidades, a fim de facilitar o processo decisório e a integração do Sistema. (BRASIL, 1997) Para entender melhor a infraestrutura de trânsito, no contexto da mobilidade urbana, vamos aprofundar nosso conhecimento a respeito de dois itens: as calçadas e as vias. A Lei n. 9.503 define calçada como “parte da via, normalmente se- gregada e em nível diferente, não destinada à circulação de veículos, re- servada ao trânsito de pedestres e, quando possível, à implantação de mobiliário urbano, sinalização, vegetação e outros fins” e passeio como Indicamos a leitura do livro Introdução à mobilidade urbana, que apresenta conhecimentos a respeito da mobilidade urbana e dos sistemas de transporte que são cases de sucesso pelo mundo. DUARTE, F.; LIBARDI, R.; SÁNCHEZ, K. Curitiba: Juruá, 2012. Livro 30 Mobilidade e logística urbana “parte da calçada ou da pista de rolamento, neste último caso, sepa- rada por pintura ou elemento físico separador, livre de interferências, destinada à circulação exclusiva de pedestres e, excepcionalmente, de ciclistas” (BRASIL, 1997). Lamounier (2015, p. 5), por sua vez, ressalta que uma calçada que atenda a pedestres e, ao mesmo tempo, possa acomodar o mobiliário urbano deve conter três faixas: Faixa de serviço: localizada próxima à guia, é destinada à instalação do mobiliá- rio urbano (postes, sinalização de trânsito, lixeiras, árvores e rampas de acesso). Faixa livre: representada pela faixa central, sendo considerada a mais importante, a qual é destinada exclusivamente à circulação de pedestres e, eventualmente, de ciclistas. Faixa de acesso: situada mais próxima dos imóveis ou permitido o acesso a eles, serve como apoio às propriedades e contempla a presença de vegetação, de rampas e de toldos. ve ro nc hi ck _8 4/ Sh ut te rs to ck Essas três faixas estão representadas na Figura 2. Figura 2 Composição da calçada por faixas Di bi gu in ho /W ik im ed ia C om m on s MIN. 2,10 Faixa de acessoFaixa de serviço 0,70 m 1,20 m Faixa livre Largura da Calçada An na F ra jto va / Sh ut te rs to ck A faixa de serviço tem, no mínimo, 0,70 m; a faixa livre tem largura mínima de 1,20 m e altura livre de 2,10 m; apenas as calçadas com mais de 2 m possuem faixa de acesso. Vale destacar que as calçadas devem oferecer as condições ne- cessárias de acessibilidade para todos os grupos de pessoas, ou seja, sem Mobilidade urbana 31 obstáculos e declividade, com rampas de acesso, toldos para proteção contra intempéries, piso adequado e, se possível, locais para descanso. As vias podem ser definidas como os “caminhos físicos preparados para a circulação de pessoas e veículos” (VASCONCELLOS, 2012, p. 77), sendo formadas por dois elementos: as calçadas e o leito carroçável, onde há a circulação de veículos motorizados e bicicletas. Segundo Vasconcellos (2012), as vias podem ser classificadas de acordo com sua função no espaço da cidade, sendo elas: Vias locais: aquelas que são usualmente encontradas em áreas residenciais, que tendem a ser mais estreitas e a ter apenas o tráfego local. Vias coletoras: responsáveis por “coletar” o tráfego das áreas residenciais e distribuí-lo para aquelas com maior capacidade de circulação. Vias arteriais: por sua largura maior, são capazes de suportar um tráfego mais volumoso, podendo ser expressas, quando não há cruzamentos ou semáforos, ou comuns, quando há interrupções. ve ro nc hi ck _8 4/ Sh ut te rs to ck As características mais importantes das vias passam pela qualidade da sinalização de trânsito, pelo estabelecimento de velocidade máxima e pelo tipo de piso, de modo que elas possam oferecer conforto, segu- rança e fluidez aos seus usuários (VASCONCELLOS, 2012). 2.1.2 Modos de circulação Com relação aos modos de transporte urbano, eles podem ser di- vididos entre motorizados e não motorizados, para o transporte de cargas ou de pessoas, e classificados quanto à característica de seu serviço em: coletivos (quando permitem o transporte em massa) ou individuais (para viagens individuais). No que se refere à sua natureza, são definidos como público (quando ofertado pela iniciativa pública) ou privado (quando se trata de veículos particulares) (BRASIL, 2012). Portanto, a mobilidade urbana envolve a organização do uso e da ocupação do solo, com vistas à garantia de acesso dos cidadãos aos equipamentos urbanos necessários ao funcionamento da cidade, dentre eles: escolas, hospitais, supermercados, parques, praças e áreas de lazer em geral. Assim, tem como objetivo permitir a acessi- bilidade e o direito de se locomover, bem como a qualidade de vida de todos os seus habitantes. Assista ao vídeo Mobili- dade Urbana – Episódio 1, publicado pelo canal BDT Filmes, e conheça a reali- dade brasileira no que diz respeito à predominância do transporte individual e às suas consequências para o espaço urbano. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=7UvsvdXObcI.Acesso em: 14 abr. 2021. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=7UvsvdXObcI https://www.youtube.com/watch?v=7UvsvdXObcI https://www.youtube.com/watch?v=7UvsvdXObcI 32 Mobilidade e logística urbana É comum que, ao pensarmos em mobilidade, nos venham em mente os terríveis congestionamentos, o alto índice de polui- ção, os ônibus lotados e as horas gastas com deslocamentos, ou seja, todas aquelas consequências do uso excessivo do transporte individual, da oferta de transporte público incompatível com a demanda e das grandes distâncias entre o ponto de origem e o de destino. No entanto, a mobilidade urbana vai muito além disso. Precisamos pensar que ela envolve as ques- tões de infraestrutura, dos modos de transporte, do meio ambiente, da acessibilidade e da segurança nos deslocamentos. Nesse sentido, Massucheto (2020) ressalta que apenas por meio de um planejamento sistêmico e estratégico é possível minimi- zar os entraves da mobilidade, buscando soluções que tenham como propósito a melhoria dos sistemas já existentes. Nosal e Solecka (2014) acrescentam que uma das formas de me- lhoria é a integração do transporte público, a qual pode ocorrer nos seguintes níveis: Integração da infraestrutura: ocorre pela combinação e integração dos ele- mentos que compõem a estrutura de transporte, desde a localização de pontos de ônibus, passarelas e travessias de pedestre até a análise da sinergia em diferentes modais. Integração organizacional: engloba todos os níveis da rede de transporte que atende às áreas urbanas. Trabalha no sentido de integrar os diferentes meios de transporte, garantindo a continuidade de uma viagem no menor tempo possível. A ela estão relacionados a coordenação de horários, a frequência e os itinerários. Integração econômica: refere-se à organização de viagens por diferentes meios de transporte, fazendo uso da integração tarifária, nos casos em que há transbordo ou até mesmo troca de modal. Integração informacional: consiste em proporcionar aos passageiros informa- ções, em tempo real, sobre suas viagens, permitindo-lhes tomadas de decisão e maior flexibilidade com relação a horários, rotas, atrasos e até mesmo acidentes. Integração espacial: envolve o desenvolvimento espacial específico de algumas formas urbanas com a rede de transporte existente, ou seja, o alinhamento entre o planejamento e a gestão do uso, e a ocupação do solo com o planejamento de transporte. ve ro nc hi ck _8 4/ Sh ut te rs to ck jpreat/Shutterstock Nesse sentido, é possível inferirmos que a integração dos siste- mas de transporte público, associada ao uso de tecnologias, é uma das maneiras mais eficazes, na atualidade, de ampliar e melhorar a mobilidade dentro das cidades. É nesse cenário que incluímos a questão da intermodalidade, dada pelo uso de diferentes meios de transporte pelos passa- geiros em uma viagem. Nosal e Solecka (2014) destacam que a intermodalidade requer a integração de rotas e informações, bem como a coordenação de horários e unificação de tickets, e, ainda, que a sua melhoria no transporte de passageiros é um elemento-chave no desenvolvimento de um sistema de transporte eficiente e integrado. Vamos pensar juntos: como essa intermodalidade pode ocorrer ou ser melhorada no contexto urbano? Ela pode ocorrer, por exemplo, quando paraciclos são postos próximos a terminais de ônibus ou estações de metrô, quando po- demos realizar uma parte do transporte com veículos de aplicativo e a outra parte com transporte público, quando podemos levar bi- cicletas dentro de trens, metrôs ou, até mesmo, ônibus ou quando compartilhamos caronas. Os sistemas de transporte integrados e as tecnologias devem colaborar para a qualidade dos deslocamentos urbanos. Assim, para que isso ocorra, é importante a estruturação institucional, re- presentada por sistemas de planejamento e gestão, como é o caso dos planos diretores municipais (TURBAY, 2020). O grande desafio dos gestores urbanos, portanto, é pensar a integração intermodal como uma grande rede, composta de nós (pontos de articulação) que podem ser terminais de integração, uso das tecnolo- gias, unificação de tarifas ou, inclusive, unificação informacional. O Moovit permite associar todas as opções de mobilidade em um único aplicativo: ônibus, trem, metrôs, bicicletas e outros aplicativos de transporte, como o Uber. Curiosidade Aleksandra Suzi/Shutterstock Mobilidade urbanaMobilidade urbana 3333 34 Mobilidade e logística urbana 2.2 A mobilidade no planejamento urbano Vídeo Quando abordamos a mobilidade urbana, precisamos entender que existem legislações que são tratadas por diferentes entes federativos, que são os federais, estaduais e municipais. Para chegarmos aos pla- nos municipais de mobilidade urbana (PlanMob), vamos analisar quais diretrizes ocorrem em cada nível, conforme apresentado na Figura 3. Figura 3 Diretrizes do planejamento da mobilidade urbana Plano Diretor municipal Planos setoriais Planos setoriais Planos setoriais Estatuto da Cidade Política Nacional de Modalidade Urbana Constituição Federal (artigos 182 e 183) Fonte: Elaborada pela autora com base em Brasil, 1988; 2012. A Constituição Federal de 1988, em seus artigos 182 e 183, dá sustentação à autonomia dos municípios com relação à política urba- na, sendo que é o artigo 182 que estabelece a obrigatoriedade do Plano Diretor para cidades com mais de 20 mil habitantes: Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo poder público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das fun- ções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. § 1º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório Mobilidade urbana 35 para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana. § 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade ex- pressas no plano diretor. (BRASIL, 1988) Os referidos artigos estabelecem diretrizes generalistas sobre as políticas urbanas, havendo a necessidade de leis complementares. É nesse sentido que é promulgada a Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001, conhecida como Estatuto da Cidade, a qual traz diretrizes e instrumentos legais, econômicos e processuais para o planejamento urbano (DUARTE; SÁNCHEZ; LIBARDI, 2011). Esse estatuto, em seus instrumentos de política pública, apresenta o plano diretor como o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana, sendo parte integrante do processo de planejamento mu- nicipal, devendo o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e o orçamento anual incorporar as diretrizes e as prioridades nele contidas (BRASIL, 2001). É importante lembrar que a elaboração dos planos diretores, embo- ra tenha orientações federais, deve estar alinhada à realidade e às par- ticularidades de cada município, e que o Estatuto da Cidade não dispõe de tratativas voltadas à mobilidade urbana, estabelecendo apenas que as cidades com mais de 500 mil habitantes devam elaborar um plano de transporte urbano integrado, que seja compatível com seu Plano Diretor ou esteja nele inserido (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2015). Sendo assim, o plano de mobilidade urbana passa a fazer par- te dos planos setoriais dos municípios. Tomemos como exemplo os planos setoriais da cidade de Curitiba (PR): Plano Setorial de Mobilidade de Transporte Integrado, Plano Setorial de Habitação, Plano Setorial de Desenvolvimento Econômico, Plano Setorial de Desenvolvimento Social, Plano Setorial de Defesa Social e de Defesa Civil, Plano Setorial de Desenvolvimento Ambiental e Plano Setorial de Saneamento (IPPUC, 2021). No caso da cidade de São Paulo (SP), compete às secretarias o desenvolvimento de seus planos setoriais, como o Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, o Plano Municipal de Habitação, o PlanoMunicipal de Mobilidade, o Plano Municipal de Saneamento, entre ou- tros (CIDADE DE SÃO PAULO, 2020). É importante destacar que a Lei n. 10.257/2011 (Estatuto da Cidade) e a Lei n. 12.587/2012 (Política Nacional de Mobilidade Urbana) são da esfera federal, ou seja, seus direcionamentos têm amplitude nacional, sendo que a segunda direciona os municípios quanto a princípios, objetivos e diretrizes voltados especifica- mente para a mobilidade urbana de pessoas e de cargas. Atenção 36 Mobilidade e logística urbana Outro exemplo é a cidade de Fortaleza (CE), que possui um planeja- mento com estratégias a serem implementadas, contemplando: Plano Mestre Urbanístico, Plano de Mobilidade e Plano de Desenvolvimento Econômico e Social (PREFEITURA DE FORTALEZA, 2021). Nos três exemplos apresentados, é possível notar a existên- cia de um plano setorial relacionado à gestão da mobilidade. Isso ocorre porque o artigo 24 da Lei n. 12.587/2012 determina que os municípios acima de 20 mil habitantes bem como aqueles obriga- dos por lei realizem a elaboração de seus planos de modo a con- templar a mobilidade urbana, sendo esse um requisito para que tenham acesso a recursos federais para investimento no setor (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2015). Um importante instrumento utilizado pelo Governo Federal para orientar municípios e estados para a construção de PlanMobs, munici- pais e regionais, é o Caderno de Referência PlanMob, elaborado pelas equipes técnicas de governo e por profissionais. Esse caderno aborda, por exemplo, questões relacionadas aos componentes do sistema de mobilidade urbana, ao meio ambiente, ao planejamento urbano e à estrutura e ao conteúdo do plano de mobilidade urbana. Com base nessa análise do eixo estruturante das diretrizes da mo- bilidade urbana no Brasil e de suas prerrogativas, ressaltamos que a implementação e a efetivação dos planos municipais, diretores e da mobilidade urbana dependem do processo de gestão do plano de ação estabelecido nesses documentos. No entanto, o processo não se finda na elaboração dos planos, visto que se trata de um processo cíclico, com revisões recorrentes e adoção de novas ações à medida que a di- nâmica das cidades vai se transformando. 2.3 Sistemas de transporte de pessoas e cargas Vídeo Ao se pensar nos sistemas de transporte urbano, do ponto de vista da gestão urbana, há de se priorizar o transporte coletivo em detrimen- to do individual e o não motorizado em relação ao motorizado. Já pela perspectiva do usuário, a busca será sempre pelo modo de transpor- te que lhe traga maior comodidade, seja mais acessível, tenha menos custo e realize seu deslocamento no menor tempo possível. Convido você, agora, a pensar na mobilidade urbana no seu dia a dia. Quais são os seus principais destinos? Qual(is) modo(s) de trans- Que tal pesquisar se a sua cidade possui um PlanMob? Dica Struck/Wikimedia Commons porte você utiliza? Quanto tempo gasta em seus deslocamentos? Quais são os custos? Para aqueles que moram em cidades menores, é muito provável que os deslocamentos ocorram a pé, de bicicleta, com veículo indivi- dual e, às vezes, com transporte público. É possível que esses desloca- mentos ocorram em minutos, dificilmente ultrapassando horas. No entanto, para quem mora em grandes metrópoles, o cenário muda completamente, sendo necessária, para muitos, a combinação de diferentes modais, como deslocamento a pé, ônibus, metrô, trem, veículo de aplicativo ou veículo individual. Além disso, nesse contexto, o tempo gasto no deslocamento pode, em alguns casos, ser contabili- zado em horas, desde a origem até o destino. Dessa forma, os modos de transporte urbano podem ser divididos entre motorizados e não motorizados, como veremos a seguir. 2.3.1 Modos de transporte não motorizados Vamos iniciar pelos modos de transporte não motorizados, também conhecidos como meios de acesso à mobilidade ativa ou sustentável, por causarem menor impacto ao meio ambiente, sem emissões de poluen- tes e sem causar congestionamentos. A caminhada representa a forma mais natural de deslocamento. Mui- tas pessoas realizam viagens a pé, seja para a conexão com um modo complementar – transporte público, por exemplo, para atividades de lazer – ou pequenos deslocamentos, para acessar destinos próximos. Gehl (2014) destaca que a distância aceitável para ser percorrida a pé é de 500 metros, mas que isso pode variar conforme a qualidade do percurso. Se o conforto for baixo, a caminhada será mais curta, ao passo que, se o percurso for acessível, confortável e interessante, haverá es- tímulos para se atingir destinos mais distantes. Muitas cidades têm trabalhado no sentido de incentivar a caminhabilidade, criando melhores condições de acessibilidade, seja pela melhoria de suas calçadas ou pela implementação de vias exclusivas de pedestres, como é o caso da Rua XV de Novembro, na cidade de Curitiba. Acesse o link a seguir e conheça a realidade da mobilidade urbana no Brasil. Você pode acompanhar o mapa da evolução da população mundial de 1500 até a estimativa para 2020. Disponível em: https://static. portaldaindustria.com.br/media/ filer_public/7f/1d/7f1de722- 455b-4a18-bc0a-6bdc5430b9a7/ retratosdasociedadebrasileira_27_ mobilidadeurbana.pdf. Acesso em: 14 abr. 2021. Saiba mais Mobilidade urbanaMobilidade urbana 3737 https://static.portaldaindustria.com.br/media/filer_public/7f/1d/7f1de722-455b-4a18-bc0a-6bdc5430b9a7/retratosdasociedadebrasileira_27_mobilidadeurbana.pdf https://static.portaldaindustria.com.br/media/filer_public/7f/1d/7f1de722-455b-4a18-bc0a-6bdc5430b9a7/retratosdasociedadebrasileira_27_mobilidadeurbana.pdf https://static.portaldaindustria.com.br/media/filer_public/7f/1d/7f1de722-455b-4a18-bc0a-6bdc5430b9a7/retratosdasociedadebrasileira_27_mobilidadeurbana.pdf https://static.portaldaindustria.com.br/media/filer_public/7f/1d/7f1de722-455b-4a18-bc0a-6bdc5430b9a7/retratosdasociedadebrasileira_27_mobilidadeurbana.pdf https://static.portaldaindustria.com.br/media/filer_public/7f/1d/7f1de722-455b-4a18-bc0a-6bdc5430b9a7/retratosdasociedadebrasileira_27_mobilidadeurbana.pdf https://static.portaldaindustria.com.br/media/filer_public/7f/1d/7f1de722-455b-4a18-bc0a-6bdc5430b9a7/retratosdasociedadebrasileira_27_mobilidadeurbana.pdf 38 Mobilidade e logística urbana O segundo modo de transporte não motorizado são as bicicletas, sendo um dos veículos mais utilizados no mundo. Duarte, Sánchez e Libardi (2012) destacam que a bicicleta é uma alternativa barata de transporte, vista como símbolo do transporte sustentável. Ela é acessível a grande parte da população, sendo normalmente utilizada para pe- quenos percursos, tanto para o transporte de pessoas quanto para o de cargas. Dentre as suas principais vantagens do uso, Vasconcellos (2012) destaca o baixo custo de aquisição, operação e manutenção, a facilidade de utilização e es- tacionamento, além dos benefícios à saúde. Quanto às desvantagens, o autor ressalta a falta de segurança no trân- sito, bem como de estrutura viária e de sinalização adequada. Nesse sentido, o desafio das cidades é oferecer aos ciclistas condi- ções de locomoção, principalmente por meio da criação das ciclofaixas ou ciclovias e de paraciclos para o estacionamento. 2.3.2 Modos de transporte motorizados Para Massucheto (2020, p. 23), os modais motorizados “são caracteri- zados pelos meios de transporte que envolverão o uso de qualquer tipo de veículo motorizado para realizar um deslocamento”. Podem, ainda, ser subcategorizados em: individuais ou coletivos, públicos ou privados. O transporte público coletivo é o principal meio de deslocamento, sendo essencial para o funcionamento das cidades. No entanto, repre- senta um dos maiores desafios dos gestores públicos. Duarte, Sánchez e Libardi (2012) ressaltam que ele deve prover de maneira eficaz e de- mocrática a mobilidade e acessibilidade urbana, garantindo segurança e conforto aos seus usuários. De acordo com o Guia de TransportePúblico Coletivo (TPC) (BNDES, 2017), os modos podem ser divididos em três grupos: Sistemas por ônibus: contemplam os sistemas de faixa exclusiva, corredor central e BRT (bus rapid transit ou ônibus de trânsito rápido). (Continua) Art iza ru s/ Sh ut te rs to ck A reportagem As 20 melhores cidades do mundo para as bicicletas, segundo a Copenhagenize 2019 mostra cidades da Europa, Ásia, América do Sul e América do Norte que se propõem a res- tabelecer a aceitação e a prática da bicicleta como um meio de transporte. Disponível em: https://inbec.com. br/blog/as-20-melhores-cidades- mundo-para-bicicletas-segundo- copenhagenize-2019. Acesso em: 14 abr. 2021. Saiba mais Daisy Daisy/Shutterstock https://inbec.com.br/blog/as-20-melhores-cidades-mundo-para-bicicletas-segundo-copenhagenize-2019 https://inbec.com.br/blog/as-20-melhores-cidades-mundo-para-bicicletas-segundo-copenhagenize-2019 https://inbec.com.br/blog/as-20-melhores-cidades-mundo-para-bicicletas-segundo-copenhagenize-2019 https://inbec.com.br/blog/as-20-melhores-cidades-mundo-para-bicicletas-segundo-copenhagenize-2019 Mobilidade urbana 39 Sistemas sobre trilhos (metroferroviários): contemplam VLT (veículo leve sobre trilhos), monotrilho, metrô e trem urbano. Zoa rt S tu di o/ Sh ut te rs to ck Outros sistemas aplicáveis a casos específicos: contemplam barca, teleférico e aeromóvel. aa rro ws /S hu tte rs to ck Segundo o guia TPC (BNDES, 2017), nos sistemas que utilizam ônibus, busca-se a racionalização do número de linhas, com vistas a melhorar a regularidade da operação e garantir uma oferta de veí- culos suficiente nos trechos e nos períodos de maior concentração da demanda. Embora nesses modelos haja a supressão de faixas do tráfego geral, ela é compensada pelo transporte de um maior número de pessoas, quando se compara ao transporte individual motorizado. Veja a seguir alguns sistemas de ônibus mais utilizados e bem-sucedidos no Brasil. Corredor central Trata-se de faixas exclusivas localizadas do lado esquerdo da pista, normalmen- te no eixo central de via com pista dupla, junto ao canteiro central separador das pistas. A segregação do tráfego geral pode ser física, por meio de dispositivos separadores (canteiros), que estabelecem um conceito de pista exclusiva para ônibus, ou apenas com sinalização horizontal, constituída por uma linha contínua branca. É adequado para frequências de até 100 ônibus/hora/sentido, isto é, cerca de 8 mil passageiros/hora/sentido. Exemplo: Corredor Santo Amaro/Nove de Julho (corredor de ônibus da cidade de São Paulo). As ia Tr av el /S hu tte rs to ck Faixa exclusiva Nesse modelo, ocorre a segregação do tráfego geral (em faixa exclusiva do lado direito), indicada por meio de sinalização vertical e horizontal, restringindo o trânsito dos veículos nas faixas exclusivas, sem componentes físicos para a separação e com proibição de estacionamento. Exemplo: BRS Copacabana (sistema rápido de ônibus da cidade do Rio de Janeiro). Ed ua rd o Lu iz / W ik im ed ia C om m on s BRT Sistema de alto desempenho, composto de linhas de ônibus estruturais com alto nível de priorização no sistema de mobilidade e capacidade de transporte que pode chegar a 35 mil passageiros/hora/sentido. Sua segregação física é feita por meio de sinalizadores na via ou de canteiros separadores, que definem uma faixa ou pista exclusiva. Exemplo: ônibus biarticulado da Rede Integrada de Transporte da cidade de Curitiba. M ar io R ob er to D ur an O rti z/ W ik im ed ia C om m on s 40 Mobilidade e logística urbana Conforme traz o Guia TPC (BNDES, 2017), os veículos sobre tri- lhos mais conhecidos no Brasil são: VLT, monotrilho, metrô e trem urbano. Esses sistemas são recomendados para cidades de médio e grande porte e regiões metropolitanas, com operações com se- gregação total ou com mínimas intersecções nos trechos menos adensados. Eles requerem sistemas de controle operacional cen- tralizados em um Centro de Controle Operacional (CCO) 1 , e o seu planejamento deve ocorrer de maneira integrada aos demais siste- mas de transporte coletivo da região de influência, sendo, portan- to, as integrações física, tarifária e operacional os requisitos para sua funcionalidade. Assim, tais modelos de sistema de transporte podem ser observados a seguir. Veículo leve sobre trilhos (VLT) Também conhecido como tramway ou tram, é um sistema sobre trilhos que utiliza veículos com tração elétrica, com composições de tamanhos e capacidades variá- veis, entre 280 e 660 passageiros. É implantado em vias exclusivas, e apenas os cruzamentos são compartilhados com o tráfego geral. Destaca-se pelo conforto, baixo nível de ruído e baixo impacto visual. Na capital do Rio de Janeiro, existe uma rede, a VLT Carioca, que percorre o centro e o porto da cidade. Le on id A nd ro no v/ Sh ut te rs to ck Monotrilho É definido como um trilho singelo que serve de via para o veículo de passageiro, po- dendo ser suspenso ou apoiado sobre uma viga trilho de concreto. Tem estrutura geralmente elevada ou, em alguns trechos, operações em túneis subterrâneos e capacidade de até 1.000 passageiros. Sua adoção no Brasil ainda é recente, tendo como exemplo uma linha em funcionamento na cidade de São Paulo. xm 4t hx /S hu tte rs to ck Metrô Trata-se de um sistema sobre trilhos completamente segregado do tráfego geral, construído em via elevada, em superfície ou subterrâneo, que, por sua alta capaci- dade de transporte, representa uma solução viável para áreas urbanas adensadas, com grandes fluxos de demanda. Exemplos, como o metrô do Rio de Janeiro, possuem capacidade de transporte de 1.600 a 2.000 passageiros por composição. M ar io R ob er to D ur an O rti z/ W ik im ed ia C om m on s Trem urbano Sistema de alta capacidade de transporte (mais de 40 mil passageiros/hora/senti- do), que possui abrangência regional, podendo fazer atendimentos intermunicipais em regiões metropolitanas. É implantado em superfície, em via permanente com trilhos posicionados em bitolas variadas. Algumas capitais do Brasil utilizam esse sistema, como Rio de Janeiro e São Paulo, e outras, apesar de fazerem uso da denominação de metrô, usam sistemas com características de trem urbano, como Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre. Go ve rn o do E st ad o de S ão P au lo / W ik im ed ia C om m on s Trata-se de centros de controle e comando, onde há a gestão e o monitoramento, por meio do uso de tecnologias, das ocorrências relacionadas a questões de mobilidade. 1 Conheceremos agora três sistemas de TPC que possuem caracterís- ticas distintas daqueles apresentados anteriormente: teleférico, barcas e aeromóvel (BNDES, 2017). Teleférico Normalmente, é adotado como transporte turístico; mas, recentemente, vem sendo utilizado para transporte de passageiros, como uma alternativa de solução de mobilidade vertical, em áreas com alguma densidade ocupacional e topografia acentuada. Trata-se de um sistema suspenso, que transporta cabines fechadas (gôndolas), com capacidade de 6 a 15 pessoas, sustentadas por cabos. Exemplo: teleférico no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. la zy lla m a/ Sh ut te rto ck Barcas Podem ser utilizadas na travessia de baías ou em locais onde há restrições e dificuldades para a circulação por modos terrestres, em especial de travessias de grandes massas de água. Podem atender exclusivamente os passageiros ou também serviços de passageiros e de transporte de veículos (ferry boat). Exemplo: as barcas que ligam as cidades de Rio de Janeiro e Niterói. An dr ev ru as /W ik im ed ia C om m on s Aeromóvel Trata-se de uma tecnologia nacional desenvolvida no Rio Grande do Sul. A estrutu- ra da via é elevada sobre vigas e pilares e não existe tração embarcada; opera sem a presença de condutor, sendo sua propulsão pneumática por meio de ventiladores industriais posicionados ao longo
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