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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 3 2 MOBILIDADE URBANA E OS DIFERENTES MODAIS ...................................... 4 3 A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE MOBILIDADE URBANA ........................ 7 3.1 Fundamentos da gestão da mobilidade urbana ................................... 11 3.2 Política Nacional de Mobilidade Urbana — Lei Nº 12.587/12 ............... 16 4 ACESSIBILIDADE ............................................................................................. 19 4.1 Estrutura e organização das calçadas .................................................. 23 4.2 Sinalização tátil..................................................................................... 25 4.3 Faixa de travessia ................................................................................ 26 4.4 Rebaixamento de calçadas para travessia de pedestres ..................... 27 5 ACESSIBILIDADE URBANA E MOBILIDADE SUSTENTÁVEL ........................ 30 6 O PLANEJAMENTO URBANO ......................................................................... 34 7 GESTÃO DA DEMANDA DE MOBILIDADE ..................................................... 37 8 IMPLEMENTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE PLANO SUSTENTÁVEL DE MOBILIDADE URBANA .......................................................................................... 39 8.1 Papel das ciclovias e ciclofaixas na mobilidade urbana ....................... 42 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 47 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro — quase improvável — um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para ser esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 MOBILIDADE URBANA E OS DIFERENTES MODAIS A mobilidade urbana pode ser conceituada como a facilidade na realização de deslocamentos de pessoas e bens no espaço urbano, que podem ser realizados por veículos, utilizando a infraestrutura viária presente. Esse tema é uma grande fonte de debate atualmente, embora seja uma preocupação antiga, desde que surgiram os primeiros veículos. De acordo com Portugal (2017), o Império Romano já tomava medidas que visavam o controle e a organização do tráfego de carroças e carruagens. No entanto, esse debate foi levado a um patamar mais técnico e científico somente no início do século XX, com o uso dos veículos motorizados conflitando com a circulação de pedestres nas vias públicas. A mobilidade é fruto de um processo de desenvolvimento urbano baseado nas condições socioeconômicas das pessoas. Na maioria das cidades brasileiras, os postos de trabalho localizam-se nas regiões centrais, ao passo que grande parte dos trabalhadores residem nas regiões periféricas, o que acaba influenciando na mobilidade dessas pessoas, uma vez que elas precisam percorrer grandes distâncias diariamente. Segundo Vasconcelos (2013), trabalhadores passam cotidianamente em média de 4 a 5 horas no transporte, reduzindo sua qualidade de vida. Portanto, a mobilidade urbana está relacionada com as formas de uso e a ocupação da cidade e com a garantia de acesso aos bens que uma região oferece. A ocupação urbana dispersa, torna sua administração mais complexa, elevando os custos e dificultando o atendimento voltado à demanda de viagens por meio do transporte, para as populações que residem distantes dos centros urbanos. Dessa forma, quanto menos estruturado for o desenvolvimento da cidade, menor vai ser sua eficiência, competitividade e mobilidade. Conforme os dados do Sistema de Informações de Mobilidade Urbana da Associação Nacional de Transportes Públicos (2020), que compila os dados dos municípios com população acima de 60.000 habitantes, durante o ano de 2018 foram realizadas 67 bilhões de viagens nesses municípios, correspondendo acerca de 223 5 milhões de viagens diárias, sendo a maioria realizadas a pé e de bicicleta, representando 28 bilhões, seguida do transporte motorizado individual através de automóveis e motocicletas, que corresponde a 20,3 bilhões de viagens. Observe o gráfico 1 a seguir, para verificar os dados dos demais meios de transporte. Gráfico 1 - Número de viagens por transporte. Fonte: Sistema de Informações de Mobilidade Urbana da Associação Nacional de Transportes Públicos (2020, p. 7). Segundo Vasconcellos (2013), é importante analisar a evolução do conceito de mobilidade ao longo da história e sua relação com os diferentes modais de transporte. Podemos começar pela década de 1930, marcada pela passagem da economia agrária para industrial, em que predominava o transporte ferroviário. A partir disso, com a aprovação do Plano Nacional de Viação, o transporte rodoviário passou a ser melhor estruturado e a principal opção para a mobilidade de pessoas e mercadorias, sendo fundamentado pela necessidade de uma ocupação mais abrangente no território nacional. Entre as décadas de 1930 e 1940, os bondes elétricos eram predominantes como veículos utilizados no transporte público. No entanto, com a evolução da indústria automobilística, o ônibus passou a ocupar esse lugar, visto que os bondes não conseguiam acompanhar a expansão urbana acelerada. A partir da década de 1960, a 6 indústria automobilística trouxe novas mudanças para a mobilidade urbana, incentivando o uso de automóveis tanto por medidas diretas, que no caso eram as condições facilitadas de compra de um automóvel e a criação da infraestrutura urbana para seu uso, quanto por medidas indiretas que correspondiam à liberdade irrestrita de circulação, gratuidade nos estacionamentos públicos, licenciamento anual a preços irrisórios, dentre outras medidas. Assim, o automóvel passou a ter papel de destaque e a infraestrutura de mobilidade urbana foi pautada com base nas necessidades de uso desses veículos. Até a metade da década de 1970, a participação do governo federal na mobilidade urbana era ínfima, sendo esse setor, de atribuição dos governos estaduais e municipais. Com o crescimento acelerado e disperso nas cidades brasileiras, foi necessária a entrada dos entes federativos em função das crescentes críticas ao sistema de transporte da época, que já não comportava o crescimento das cidades. Assim, foi realizada uma reformulação e a partir disso, surgiram os primeiros sistemas de transportes urbanos. A mobilidade dos anos 1980 foi marcada pela organização política do setor, sendo o fato principal, a criação da Associação Nacional das Empresas de Transporte Urbano. Já a década de 1990, no que lhe concerne, foi marcada pela expansão do uso de motocicletas, inclusive com apoio das indústrias e do governo. 7 3 A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE MOBILIDADE URBANA Fonte: fgm-go.org.br O crescimento desordenado das cidades produz reflexos negativos sobre os transportes urbanos e acaba desenvolvendo cidades menos acessíveis para todos os habitantes. Uma política de investimentos quenão favorece o transporte público e uma política de uso do solo que não considere a mobilidade urbana, contribui para o aparecimento de um número crescente de veículos particulares nas ruas, agravando os congestionamentos e gerando uma pressão política por maior capacidade de tráfego das avenidas, túneis e viadutos (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2005). O aumento do tempo de viagem provocado pelos congestionamentos, faz com que o transporte público fique cada vez mais lento e desacreditado. Em consequência, os moradores procuram os meios de transporte possíveis, com a tendência sempre crescente do aumento do número de automóveis particulares e o surgimento de modos alternativos ao transporte público, tais como vans e mototáxis. Poucas cidades valorizam, assim como poucos usuários se beneficiam, do uso de sistemas de circulação de pedestres ou do uso de veículos não motorizados, devido ao pouco incentivo por parte das políticas públicas ou mesmo devido a condições não 8 favoráveis, apesar de serem sistemas que podem ser pensados de forma universalizada, além de oferecem vantagens à saúde e ao meio ambiente. O crescimento do uso de veículos contribui para o aumento da emissão de gases de efeito estufa, assim como o aumento do número de viagens motorizadas, significa um aumento de consumo energético por habitante transportado, acarretando uma dependência crescente de fontes de energia não renováveis. Nesse sentido, depreende-se que a degradação da qualidade de vida e os custos econômico, social e ambiental relacionados aos transportes urbanos podem ser muito elevados. Conforme o Ministério das Cidades (2005), vale ressaltar que as diferentes particularidades que as cidades brasileiras apresentam, como as características regionais de demandas dado o tamanho da população e o desenvolvimento econômico- social e institucional, resultam em uma grande diversidade de modos e condições de mobilidade mas, de maneira geral, o quadro nas grandes cidades e regiões metropolitanas apresenta um ciclo vicioso, em boa parte explicado pela falta de um planejamento integrado entre transporte e uso do solo. Sendo assim, entende-se que o crescimento desordenado induz a mais e maiores deslocamentos, contribuindo para piorar a qualidade do transporte coletivo, aumentando a pressão por mais infraestrutura e para o espraiamento das cidades. Além disso, estas condições levam ao aumento da dependência do automóvel, contribuindo também para a inviabilidade do transporte público, segregando especialmente os mais pobres e realimentando o círculo vicioso. Pode-se dizer então que, paradoxalmente, à medida que se aumenta o número de veículos particulares circulantes, acontece uma redução geral da mobilidade devido aos congestionamentos. Embora sejam realizados representativos investimentos em infraestrutura, como a construção de viadutos para melhorar o fluxo de veículos, os benefícios rapidamente desaparecem, visto que acabam se tornando um estímulo a maior utilização do transporte individual. A criação do Ministério das Cidades e a interlocução da sociedade no processo de realização das Conferências das Cidades, além dos inúmeros encontros sobre políticas urbanas, enfatizaram a necessidade de novas visões e ações para melhorar a 9 qualidade de vida nas cidades. Os primeiros esforços se dirigiram na definição de diretrizes nacionais, que destacaram a relação dos transportes com a política do uso do solo e habitação. Os debates avançam quanto a necessidade de superar efetivamente os limites setoriais e adotar um conceito de mobilidade urbana, que oriente as ações necessárias para a implementação de uma política que permita aos cidadãos, o direito de acesso seguro e eficiente aos espaços urbanos e devolva às cidades o atributo de sustentabilidade socioeconômica e ambiental que muitas perderam (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2005). Este conceito tem como ponto de partida a percepção de que transporte não é um fim, mas uma forma da população acessar os destinos desejados na cidade. Desta forma, o sistema de mobilidade urbana, pode ser considerado como um conjunto estruturado de modos, redes e infraestruturas que garantem o deslocamento das pessoas na cidade e mantém fortes interações com as demais políticas urbanas. Considerando que a característica essencial de um sistema é a interação de suas partes e não os desempenhos dos seus componentes de forma individual, um fator determinante de todo o sistema é exatamente como as suas partes se encaixam, sendo diretamente relacionado com o nível de interação e compatibilidade entre agentes e processos intervenientes no sistema. Por decorrência, uma boa integração das partes, ou seja, modos, serviços e infraestrutura, é fundamental para a melhoria do sistema de mobilidade urbana, assim como é altamente relevante o papel do gestor público deste sistema, para que as melhoras sejam contínuas e atendam às necessidades da população. No caso da mobilidade urbana, as relações e complementaridades entre a política de mobilidade e as demais políticas urbanas, são tão importantes quanto as interações entre os modos e infraestruturas de transporte. A mobilidade urbana, dessa maneira, pode ser entendida como resultado da interação dos fluxos de deslocamento de pessoas e bens no espaço urbano, contemplando tanto os fluxos motorizados, quanto os não motorizados. Ela é, portanto, um atributo da cidade sendo determinada, principalmente, pelo desenvolvimento 10 socioeconômico, pela apropriação do espaço e pela evolução tecnológica, enquanto o transporte urbano refere-se estritamente aos serviços e modos de transportes utilizados nos deslocamentos no espaço urbano (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2005). A ideia de mobilidade é centrada nas pessoas que transitam, requerendo que seja possibilitada a todos a satisfação individual e coletiva de atingir os destinos desejados, bem como as necessidades e prazeres cotidianos. Passa-se agora a valorizar, no desenvolvimento urbano, as demandas de mobilidade peculiares dos usuários em geral e particularmente aqueles que necessitam de atenção especial, como as crianças, as pessoas com deficiência e os idosos. A promoção da mobilidade urbana compreende a construção de um sistema que garanta e facilite aos cidadãos, hoje e no futuro, o acesso físico às oportunidades e às funções econômicas e sociais das cidades, além disso, requer a ênfase no transporte público coletivo e não no transporte individual, o que significa, em simultâneo, uma orientação de inclusão social, de racionalidade de investimentos públicos e de redução de congestionamentos, poluição e acidentes. Os equipamentos e infraestruturas de transporte, circulação e distribuição, tanto de objetos, quanto de pessoas, fazem da mobilidade urbana um elemento decisivo na conformação das possibilidades de desenvolvimento de uma cidade. As cidades que implementam políticas sustentáveis de mobilidade, oferecem um maior dinamismo das funções urbanas, numa maior e melhor circulação de pessoas, bens e mercadorias, que se traduzem na valorização do espaço público, na sustentabilidade e no desenvolvimento econômico e social. Do ponto de vista do gerenciamento público, é preciso deixar claro as prioridades e tomar atitudes coerentes com as mesmas, como por exemplo, se a prioridade for o incentivo ao transporte público eficiente e a melhoria da circulação no centro, torna-se necessário o desestímulo à circulação de automóveis em áreas centrais (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2005). Deve-se considerar ainda, a necessidade de trabalhar as diferenças entre o que é socialmente desejável em termos de mobilidade para todos e as aspirações individuais. Ainda que individualmente desejável, não é socialmente viável nem 11 ambientalmente sustentável, resolver as questões de mobilidade pelo transporte individual,como é fartamente ilustrado pelos congestionamentos nas grandes cidades. Daí a necessidade de amplo esclarecimento da população e disponibilização, aos técnicos e gestores, de instrumentos que contribuam para construir a cidade sustentável. 3.1 Fundamentos da gestão da mobilidade urbana Desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, buscava-se uma regulamentação de nível federal. Dessa forma, ao longo dos anos foram adotadas medidas isoladas e dispersas com relação a melhoria da mobilidade urbana e foi somente após a promulgação da Lei nº 12.587 de 3 de janeiro de 2012, a qual instituiu a Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU), que essas medidas passaram a ser sistematizadas. A referida Lei foi amplamente discutida pela sociedade e por parlamentares por cerca de 17 anos até a elaboração de seu texto final, constituindo-se a partir de então como um dos principais elementos utilizados para auxiliar a gestão da mobilidade urbana. A PNMU é considerada então, um instrumento das políticas de desenvolvimento urbano com a função de integrar os diferentes modos de transporte, assim como implementar melhorias na acessibilidade e na mobilidade no território das cidades brasileiras. A sua existência direciona as ações a serem realizadas, integrando-as ao desenvolvimento urbano, estando de forma geral, relacionada a outras políticas setoriais, como a de habitação, saneamento básico, gestão e uso do solo. Além disso, a PNMU oferece segurança jurídica para que os municípios implementem medidas que priorizem os meios de transporte não motorizados e coletivos em detrimento ao transporte individual, devendo tais medidas considerar os fundamentos da mesma. Para a efetivação da PNMU é utilizado um instrumento denominado plano de mobilidade urbana (PMU), que deve contemplar todas as diretrizes estabelecidas. Ele pode ser considerado uma ferramenta de planejamento, que define objetivos e ações 12 que visem a solução de problemas, bem como metas a serem alcançadas pelo sistema de uma mobilidade urbana de um município. É fundamental a participação social na elaboração dos PMUs, para que as necessidades da sociedade sejam atendidas, bem como para a sua legitimação e sustentação política durante sua implementação e continuidade. A participação social pode acontecer por meio da promoção de audiências e debates, divulgação de informações, discussões públicas sobre a minuta do plano, oficinas para recebimento de propostas e sugestões, avaliações das versões preliminares do plano, criação de ouvidorias e de órgãos com a responsabilidade de elaboração do plano. Inicialmente, o prazo de entrega do PMU para os municípios contemplados, seria até o dia 12 de abril de 2020. No entanto, este prazo foi prorrogado através da Lei nº 14.000 de 19 de maio de 2020, a qual em seu parágrafo quarto afirma que: § 4º O Plano de Mobilidade Urbana deve ser elaborado e aprovado nos seguintes prazos: I - até 12 de abril de 2022, para Municípios com mais de 250.000 (duzentos e cinquenta mil) habitantes; II - até 12 de abril de 2023, para Municípios com até 250.000 (duzentos e cinquenta mil) habitantes (BRASIL, 2020). Essa prorrogação foi importante, pois os municípios que não conseguiram tender ao prazo inicial, ficariam proibidos de receber recursos da União para esse setor, mas devido a essa alteração, as cidades que ainda não haviam apresentado o documento puderam voltar a receber os recursos. O processo de elaboração de um PMU, geralmente é elaborado por agentes da administração pública, os quais passam por várias fases com o objetivo de que o planejamento seja dinâmico e flexível. De acordo com Bohler-Baedeker, Kost e Merforth (2015), a elaboração do PMU pode auxiliar na identificação dos reais desafios enfrentados pelas cidades, podendo ainda apresentar os prejuízos que serão causados caso as cidades continuem a se desenvolver da mesma forma. Os planos de transporte com abordagem tradicional e generalizada, possuem foco na movimentação dos carros para expansão da infraestrutura, entretanto, o melhor para todos, seria ter como foco a mobilidade e acessibilidade para todos os grupos http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12587.htm#art24%A74.1 13 populacionais. A seguir, no quadro 1, será apresentado um comparativo entre o planejamento tradicional de transporte e o planejamento da mobilidade sustentável. Quadro 1 - Comparativo entre planejamento tradicional e planejamento sustentável. Fonte: Rupprecht Consult, 2014. Com esse comparativo, fica evidente que o melhor para as cidades é o investimento em soluções de transporte sustentável, visto que as mesmas passam a ser mais atraentes para empresas, cidadãos e visitantes. Em trabalho desenvolvido por Bohler-Baedeker, Kost e Merforth (2015), são abordados tópicos sobre o PMU e como ele é aplicado em diferentes países além do Brasil. Foi possível constatar segundo os autores, que os objetivos específicos no plano podem se diferenciar entre os países, afinal, cada país possui uma demanda de meios de transporte, havendo locais em que o meio de transporte mais utilizado é o metrô, em outros utiliza-se mais os carros e em outros o transporte público, além de que em 14 alguns países as pessoas optam mais pelo uso de bicicletas ou até mesmo optam por caminhadas, dentre outros meios tradicionais de locomoção. No Brasil, são delineados requisitos básicos para um PMU, como a definição dos objetivos de divisão modal e as metas ambientais. Na tabela 1, apresenta-se uma visão geral dos objetivos que devem ser abordados nos PMUs. Tabela 1 - Elementos dos Planos de Mobilidade Urbana no Brasil. Fonte: Adaptado de Bohler-Baedeker, Kost e Merforth (2015) As diretrizes do PlanMob de 2015 são como um guia para preparação dos PMUs, apresentando um passo a passo para o planejamento da mobilidade urbana, bem como um conjunto de ferramentas, medidas e políticas que podem ser adotas 15 pelas cidades. Para o início de um PMU, espera-se que sejam discutidos os problemas atuais enfrentados pelo trânsito das cidades, abordando todos os tipos de transporte. Figura 1 - Esboço do processo do PMU para atualização das Diretrizes do PlanMob. Fonte: Bohler-Baedeker, Kost e Merforth (2015) 16 3.2 Política Nacional de Mobilidade Urbana — Lei Nº 12.587/12 Fonte: gov.br/ A Lei 12.587 de 03 de janeiro de 2012, institui as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana e a caracteriza como instrumento da política de desenvolvimento urbano de que tratam o inciso XX do Art. 21 da Constituição Federal que diz: “instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos” e o art. 182 que aborda sobre o desenvolvimento das funções sociais da cidade para garantir o bem estar dos habitantes e menciona sobre a política urbana (BRASIL, 1988). Essa política tem o objetivo de integrar os diferentes meios de transporte e trazer melhorias quanto a acessibilidade e mobilidade das pessoas e das cargas a serem transportadas no município. Já o Sistema Nacional de Mobilidade Urbana, conforme a Lei 12.587/12 é o conjunto organizado e coordenado dos modos de transporte, de serviços e de infraestruturas que garante os deslocamentos de pessoas e cargas no território do Município (BRASIL, 2012). A referida lei, menciona que existem modos de transporte urbano, os motorizados e os não motorizados, que são classificados em 3 formas diferentes: de acordo com o objetivo, a característica do serviço e a natureza do serviço. 17 Em consonância com a Lei 12.587/12, a criação da Política Nacional de Mobilidade foi baseada nos seguintes princípios (BRASIL, 2012): • Acessibilidade universal; • Desenvolvimento sustentável das cidades, nas dimensões socioeconômicase ambientais; • Equidade no acesso dos cidadãos ao transporte público coletivo; • Eficiência, eficácia e efetividade na prestação dos serviços de transporte urbano; • Gestão democrática e controle social do planejamento e avaliação da Política Nacional de Mobilidade Urbana; • Segurança nos deslocamentos das pessoas; • Justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do uso de diferentes modos e serviços; • Equidade no uso do espaço público de circulação, vias e logradouros; • Eficiência, eficácia na circulação urbana. E orientada pelas diretrizes seguintes (BRASIL, 2012): • Integração com a política de desenvolvimento urbano e respectivas políticas sensoriais de habitação, saneamento básico, planejamento e gestão do uso do solo no âmbito dos entes federativos; • Prioridade dos modos de transportes não motorizados sobre os motorizados e dos serviços de transporte público coletivo sobre o transporte individual motorizado; • Integração entre os modos e serviços de transporte urbano; • Mitigação dos custos ambientais, sociais e econômicos dos deslocamentos de pessoas e cargas na cidade; • Incentivo ao desenvolvimento científico-tecnológico e ao uso de energias renováveis e menos poluentes; • Priorização de projetos de transporte público coletivo estruturadores do território e indutores do desenvolvimento urbano integrado; 18 • Integração entre as cidades gêmeas localizadas na faixa de fronteira com outros países sobre a linha divisória internacional; • Garantia de sustentabilidade econômica das redes de transporte público coletivo de passageiros, de modo a preservar a continuidade, a universalidade e a modicidade tarifária do serviço. A Política Nacional de Mobilidade Urbana tem como objetivo a redução da desigualdade e a promoção da inclusão social, a promoção do acesso aos serviços básicos e aos equipamentos sociais, melhorar as condições urbanas da população no que se refere à acessibilidade e à mobilidade, a promoção do desenvolvimento sustentável com a mitigação dos custos ambientais e socioeconômicos dos deslocamentos de pessoas e cargas nas cidades e por último, mas não menos importante, a consolidação da gestão democrática como instrumento e garantia da construção contínua do aprimoramento da mobilidade urbana. A Lei 12.587/12 ainda possui artigos voltados ao transporte coletivo, privado e aos direitos dos usuários do Sistema Nacional de Mobilidade Urbana. Além disso, em seu Art. 26, é mencionada a sua aplicação “esta Lei se aplica, no que couber, ao planejamento, controle, fiscalização e operação dos serviços de transporte público coletivo intermunicipal, interestadual e internacional de caráter urbano” (BRASIL, 2012). 19 4 ACESSIBILIDADE Fonte: diariodainclusaosocial.com Segundo Scopell (2019), viver nos centros urbanos implica em rotinas agitadas, decorrentes por exemplo, do trânsito, da insegurança e da falta de espaços para atender à diversidade e multiplicidade dos sujeitos. Um dos principais problemas nas cidades, sejam elas pequenas ou grandes, diz respeito às questões de acessibilidade e mobilidade. Por muitos anos esses conceitos foram negligenciados, tendo em vista que a maioria das cidades brasileiras não são frutos de planejamento. Por isso, calçadas, vias e acessos foram construídos sem embasamento de normativas e em desacordo com os ideais de um bom deslocamento. Em todo o mundo existem pessoas que apresentam limitações quanto a mobilidade, a qual pode ser decorrente da idade, da condição de gestante, de alguma deficiência ou mesmo acidente que tenha levado a redução da mobilidade do sujeito de forma temporária ou permanente. Entretanto, sabe-se que esses sujeitos precisam se locomover, sendo fundamental que essa locomoção se dê de forma fácil e segura, o que torna a questão da acessibilidade aspecto importante quando se trata de ações de planejamento urbano. 20 Em virtude dessa diversidade de sujeitos e da falta de infraestrutura urbana adequada, nos últimos anos, as discussões sobre a acessibilidade têm se intensificado, culminando no desenvolvimento de leis que buscam suprir as necessidades de pessoas com dificuldades de locomoção. De acordo com o dicionário, a palavra acessibilidade significa “qualidade do que é acessível, do que tem acesso. Propriedade do material confeccionado para que qualquer pessoa tenha acesso, consiga ver, usar, compreender; diz-se, principalmente, do material que se destina à inclusão social de pessoas com alguma deficiência ” (DICIO ONLINE, 2022). Em um sentido mais abrangente, a acessibilidade é entendida como o acesso igualitário às oportunidades que a vida oferece: estudo, trabalho, lazer, bem-estar social e econômico, enfim, o alcance de metas que são, na verdade, direitos universais. Segundo Scopell (2019), a acessibilidade tem como objetivo facilitar e melhorar a qualidade de vida dos moradores dos mais diversos locais, permitindo a inclusão das pessoas em todos os ambientes e edificações. Dessa forma, é extremamente importante que todos os espaços sejam adaptados, propiciando uma efetiva independência e a proteção das pessoas. Fonte: revistaprojeto.com.br 21 O autor ainda evidencia, que nas discussões sobre essa temática, chama-se a atenção para a necessidade de que os novos projetos levem em consideração às demandas de acessibilidade, assim como, torna-se necessário que os edifícios já construídos, se adequem e garantam o acesso de todos. Ainda é importante ressaltar que a acessibilidade se refere ao âmbito global, ou seja, é necessário que os locais estejam adequados a todas as pessoas, incluindo deficientes físicos, visuais e auditivos. A NBR 9050:2020 (p. 2), define acessibilidade como: possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privado de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida (ABNT, 2020). Observa-se então que a acessibilidade está diretamente ligada ao conceito de mobilidade, visto que ambas se referem a uma condição criada para que todas as pessoas possam se locomover nos mais diversos lugares das cidades e por diferentes meios. Conforme o dicionário, mobilidade é a “qualidade daquilo que se move, do que se consegue movimentar, ou locomobilidade; capacidade de se mudar, de ir a outro lugar com rapidez: mobilidade de pessoas” (DICIO ONLINE, 2022). É preciso compreender que o conceito de acessibilidade não se restringe as questões de mobilidade, mas inclui questões de infraestrutura urbana do sistema viário, como por exemplo a presença de calçadas instáveis ou mesmo a ausência das mesmas, assim como a qualidade das estradas, as altas tarifas, as péssimas condições de sinalização aumentando os riscos de acidente, e até mesmo a falta de segurança para os ciclistas. Assim como a acessibilidade, a mobilidade também deve ser organizada e planejada visando facilitar os deslocamentos entre os diferentes espaços nas cidades, bem como a melhora da qualidade do transporte. Quando não há planejamento correto sobre o uso das estradas e dos meios de transporte, os centros urbanos acabam sendo prejudicados, pois, sofrem com um alto número de transportes particulares que inflam 22 as rodovias e provocam congestionamentos, além de poluírem e prejudicarem a qualidade de vida das cidades. As cidades são públicas, e por isso pertencem a todas as pessoas, o que garante que, independentemente da condição socioeconômica, étnica ou cultural, os espaços devem ter acesso livre e igualitário. Para isso, é necessário que eles sejamconstantemente revistos, adaptados e pensados conforme os princípios do desenho universal, para garantir que tanto os deslocamentos como o uso desses locais, aconteçam de maneira segura e eficaz. Dessa forma, tanto nos ambientes internos, quanto nos externos, dos espaços públicos e privados é imprescindível que haja condições de mobilidade, no que diz respeito a calçadas, vias e opções de transporte, bem como de acessibilidade, fazendo- se cumprir a legislação, para que todos consigam de forma segura chegar aos locais, adentrá-los e usufruí-los (SCOPELL, 2019). Conforme o Decreto nº 5.296 de 2 de dezembro de 2004, que regulamenta as Leis nos 10.048, de 8 de novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento as pessoas que especifica em seu art. 1º. “As pessoas com deficiência, os idosos com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, as gestantes, as lactantes, as pessoas com crianças de colo e os obesos terão atendimento prioritário, nos termos desta Lei. ” (BRASIL, 2000), e a Lei 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências, em seu Art. 15, aduz- se que “no planejamento e na urbanização das vias, praças, dos logradouros, parques e demais espaços de uso público, deverão ser cumpridas as exigências dispostas nas normas técnicas de acessibilidade da ABNT” (BRASIL, 2000). Além disso, nos dois parágrafos do referido artigo, são estabelecidas condições específicas visando uma melhor acessibilidade e mobilidade para a população. 23 4.1 Estrutura e organização das calçadas Sendo a “calçada parte da via, normalmente segregada e em nível diferente, não destinada à circulação de veículos e sim destinada ao trânsito de pedestres e, quando possível, à implantação de mobiliário urbano, sinalização, vegetação e outros fins” (TORRES, 2006, p.10), para que seja possível realizar uma análise mais profunda sobre sua organização, se fazem necessários alguns esclarecimentos a respeito de sua estrutura. Conforme a figura 2, a ABNT NBR 9050:2020, em seu item 6.12.3 determina que a largura de uma calçada pode ser dividida em três faixas de utilização, sendo: I) Faixa de serviço: utilizada para acomodação de mobiliário, canteiros, árvores, postes de iluminação ou sinalização da via. Nas calçadas a serem construídas é recomendável reservar uma faixa de serviço com no mínimo 0,70 cm de largura. II) Faixa livre (passeio): utilizada exclusivamente para a circulação de pedestres, devendo ser livre de obstáculos. Em caso de inclinação, esta deve ser de até 3%, além de ser contínua entre lotes e ter no mínimo 1,20 m de largura e 2,10 m de altura livre. III) Faixa de acesso: é o espaço de passagem da área pública para o lote/edificação. Essa faixa somente é possível em calçadas com largura superior à 2,00 m, podendo ser utilizada para construção de rampas de acesso aos lotes/edificações, mediante autorização do município. 24 Figura 2 - Faixa de uso da calçada Fonte: ABNT NBR 9050:2020. Ainda segundo a ABNT NBR 9050:2020, os pisos devem estar de acordo com as características de revestimento, inclinação e desnível, conforme descrito na própria norma. O revestimento e acabamento devem ter uma superfície regular, firme, estável, não trepidante para dispositivos com rodas, sendo necessário ser antiderrapante esteja ele, seco ou molhado. Além disso, é recomendável que não se utilize padronagem nos pisos que cause insegurança ao caminhar, como a utilização de estampas que causam impressão de tridimensionalidade. Ademais, a norma apresenta recomendações específicas para inclinação, desnível, grelhas de juntas e dilatação, tampas de caixas de inspeção e de visita, bem como sobre a utilização de capachos, forros, carpetes, tapetes e similares e a sinalização nos pisos. 25 4.2 Sinalização tátil Fonte: totalacessibilidade.com.br A sinalização tátil em pisos é um recurso adicional para garantir a segurança, orientação e mobilidade às pessoas, principalmente àquelas com deficiência visual ou surdo-cegueira. A utilização de piso tátil, deve ser caracterizado por textura e cor contrastantes em relação ao piso adjacente, destinando-se a construir um alerta ou linha-guia, que servirá de orientação, principalmente, a essas pessoas. Existem dois tipos do piso tátil, o de alerta e o direcional. A instalação desses tipos de piso, devem atender as recomendações da norma 16537, a qual estabelece que a sinalização tátil no piso deve atender quatro principais funções: a) função identificação de perigos (sinalização tátil alerta): informar sobre a existência de desníveis ou outras situações de risco permanente; b) função condução (sinalização tátil direcional): orientar o sentindo do deslocamento seguro; c) função mudança de direção (sinalização tátil alerta): informar as mudanças de direção ou opções de percursos; d) função marcação de atividade (sinalização tátil direcional ou alerta): orientar o posicionamento adequado para o uso de equipamentos ou serviços (ABNT, 2016, p. 4). 26 A referida norma apresenta todas as orientações necessárias para a instalação da sinalização tátil e visual, desde a metragem até as cores ideais para se usar em cada um dos casos, seja na sinalização de alerta ou de direção. 4.3 Faixa de travessia Fonte: novovarejo.com.br A norma 9050, define que a faixa de travessia de pedestres refere-se à “sinalização transversal ao leito carroçável, destinada a ordenar e indicar os deslocamentos dos pedestres para a travessia da via” (ABNT, 2020). Em sua última atualização, a referida norma estabeleceu que as travessias de pedestres, sejam em vias públicas, áreas internas em edificações ou até mesmo nos espaços de uso coletivo e privativo, com circulação de veículos, devem ser acessíveis com redução de percurso, faixa elevada ou com rebaixamento de calçada. Vale ressaltar que as travessias em vias públicas, em meio de quadra, próximo às esquinas ou em esquinas, é de responsabilidade do município, além do mais, a norma estabelece em seu item 6.12.7.3, recomendações quanto as faixas de travessia, como a redução do percurso, onde é recomendado o alargamento da calçada, nos casos de faixa elevada, essa deve atender uma legislação específica, já nos casos de 27 rebaixamento de calçadas, a norma estabelece medidas de altura, inclinação e largura da faixa. 4.4 Rebaixamento de calçadas para travessia de pedestres Segundo a ABNT NBR 9050:2020 (p. 78), “os rebaixamentos de calçadas devem ser construídos na direção do fluxo da travessia de pedestres” (ABNT, 2020). Seguido as orientações da referida norma, o acesso da calçada para via é realizado por meio de uma rampa, com sugestão de inclinação de 5%, sendo admitida no máximo 8,33% de inclinação, no sentido longitudinal e nas abas laterais. Além disso, a norma recomenda que o rebaixamento seja no mínimo de 1,20 m, sendo importante ressaltar que esse rebaixamento não pode reduzir a faixa livre de circulação da calçada, como é demonstrado no recorte da figura 3 a seguir: Figura 3 - Rebaixamento de calçada - Vista superior Fonte: ABNT NBR 9050:2020 Ainda de acordo com a NBR 9050:2020, não é permitido a existência de desnível entre o término do rebaixamento da calçada e o acostamento da via. Nos casos em que existe uma inclinação maior que 5%, é obrigatória a implantação de uma faixa de 28 acomodação com largura entre 0,45 m e 0,60 m ao longo da aresta de encontro de dois planos inclinados, como é mostrado na figura 4 abaixo: Figura 4 - Faixa de acomodação para travessia. Fonte: ABNT NBR 9050:2020. Existem situações em que as abas laterais de inclinação podem ser eliminadas, como nos casos em que o rebaixamentoestá localizado em ambientes verdes, como jardins ou canteiros e até mesmo quando se possui outros obstáculos, como demonstra a figura 5. Entretanto, considerando que cada caso é um caso, podem haver situações onde seja possível realizar uma adaptação das abas laterais, viabilizando que essas possuam inclinação maior ou igual a inclinação da rampa. 29 Figura 5 - Rebaixamento em calçada entre canteiros, sem abas laterais. Fonte: ABNT NBR 9050:2020. Nos casos em que as calçadas são estreitas o suficiente para não acomodar o rebaixamento, a norma 9050 recomenda a adoção do rebaixamento de rampas laterais sendo sua inclinação de no máximo 5%, sendo permitido a adoção de faixa elevada de travessia ou até mesmo a redução do percurso de travessia, mas isso fica a critério do órgão de trânsito de cada município. Apresenta-se na figura 6 a seguir, uma ilustração de uma solução para esses casos (ABNT, 2020). Figura 6 - Rebaixamento de calçadas estreitas - Vista superior. Fonte: ABNT NBR 9050:2020. 30 Vale ressaltar que cada cidade ou estado, possui atribuição para legislar por meio de decretos que versem sobre a padronização de passeios, bem como a sobre a obrigatoriedade ou não da implantação de rebaixamentos para acessibilidade das calçadas e vias. Como por exemplo, existem estados/cidades, que estabelecem por meio de decretos a obrigatoriedade de implantação de rebaixamento em todas as faixas de travessia de pedestres, em vagas de estacionamento destinadas a pessoas com deficiência, dentre outras situações, enquanto outros estados/cidades não determinam essas especificações. Neste material foram abordadas diferentes regulamentações para implantação do rebaixamento de calçadas, mas, por se tratar de um assunto que possui muitos detalhes a serem revistos, recomendamos que antes de iniciar qualquer obra, analise junto as normas regulamentadoras da ABNT e as normas elaboradas pelo órgão de trânsito de cada município, para se obter sucesso na finalização do projeto. 5 ACESSIBILIDADE URBANA E MOBILIDADE SUSTENTÁVEL Fonte: mobilize.org.br/ 31 A busca pelo crescimento e desenvolvimento econômico infelizmente afeta em sua maior parte o meio ambiente, pois com esse progresso surge o desmatamento, o aumento da poluição, a ausência de consciência quanto a utilização de água, dentre outras situações que por serem tão recorrentes, prejudicam diretamente a natureza. A sustentabilidade é uma bandeira levantada a tempos como uma alternativa na busca pela preservação do meio ambiente, assim como do desenvolvimento das cidades. Mas, para que esse trabalho tenha um crescimento gradual, torna-se necessário a implantação de programas voltados a conscientização da importância do uso correto dos recursos naturais, materiais e de energia. Alves e Raia Júnior (2009), confirmam que um fator importante a ser considerado como condicionante para mobilidade é a sustentabilidade urbana e ambiental, que pode ser promovida a partir da restrição de modos de transportes que produzem altos níveis de poluição, tanto sonora quanto do ar, as quais comprometem a qualidade de vida da população e causam impactos ambientais. A mobilidade urbana sustentável, é um assunto bastante discutido no meio acadêmico, se trata de um projeto que parte do princípio de sustentabilidade e de sua relação com o sistema de transporte e o uso do solo. A mobilidade sustentável no contexto socioeconômico da área urbana pode ser vista por ações sobre o uso e ocupação do solo e sobre a gestão dos transportes, visando proporcionar acesso aos bens e serviços de uma forma eficiente para todos os habitantes, e assim, mantendo ou melhorando a qualidade de vida da população atual sem prejudicar a geração futura (CAMPOS, 2006 apud ALVES; RAIA JÚNIOR, 2009 p. 8). De acordo com as dimensões do desenvolvimento sustentável, a mobilidade nesta visão, pode ser alcançada sob dois enfoques, estando um voltado para a adequação da oferta de transporte ao contexto socioeconômico, como as medidas que associam o transporte ao desenvolvimento urbano e a equidade social em relação aos deslocamentos e o outro voltado a qualidade ambiental, focando no uso da tecnologia e a forma de transporte a se utilizar. A mobilidade urbana sustentável se trata de um programa aplicado em algumas regiões, com a finalidade de reduzir o uso dos sistemas de transporte, ao invés de 32 deixar a demanda continuar crescendo e superlotando os espaços de tráfego. A ação desse programa, consiste em aumentar ações humanas influenciando as pessoas a caminharem mais, a fazer o uso de bicicletas, reduzindo assim, a utilização de meios mecânicos de transporte, tendo como resultado o desenvolvimento de uma natureza saudável. Para implementação e continuação desse projeto nas cidades, é sugerido que os órgãos públicos passem para população uma mensagem contrária sobre a mobilidade, sendo essa, a favor das opções sustentáveis, com base nos deslocamentos a pé ou de bicicleta e quando realmente for necessário, optar pelo transporte coletivo. Entende-se então, que a busca pela mobilidade urbana sustentável, bem como a sua manutenção, é um caminho lento a se percorrer, porém, é o melhor para se colocar em prática. Geralmente a mídia apresenta projetos exorbitantes, que requerem altos investimentos em infraestrutura, o que além de exigir grandes gastos aos cofres públicos, não apresentam toda certeza de resultados a curto ou médio prazo, ao contrário disso, a implementação desse projeto pode iniciar do simples, da mudança de hábitos, do plantio de árvores, colaborando assim com a natureza, o que de fato terá resultados. É importante ressaltar que os impactos das políticas urbanas que favorecem o uso do automóvel, não só causarão problemas relacionados ao meio ambiente, mas também alguns efeitos indiretos como por exemplo, acidentes, congestionamentos e a má qualidade de outras categorias de transporte como o transporte de massa, a caminhada e o ciclismo. Ao caminhar pelas ruas da cidade, pode-se observar vias e espaços públicos, sem qualquer mecanismo de acessibilidade. É nesse sentido que se agregam novos conceitos relacionados à mobilidade urbana, entre eles: a mobilidade urbana ampla e democrática, a universalização do transporte público, a acessibilidade universal e a valorização do deslocamento de pedestres e ciclistas, de forma a não os prejudicar e nem os colocar em risco. A opção de mobilidade urbana sustentável, objetiva uma melhora na qualidade de vida, mas, essa somente é possível, se as estruturas dos transportes públicos e 33 coletivos, fossem condizentes com as necessidades da população, pois conforme Carvalho (2016), os sistemas de transporte público sofrem com estruturas administrativas frágeis, o que resulta nas más condições de transportes encontradas na realidade, que levam por exemplo, na superlotação das conduções, diariamente relatada pela população. A mobilidade urbana sustentável, deve ser resultado de uma série de políticas de transporte, as quais objetivam promover a circulação ampla e democrática nos espaços urbanos, priorizando modos de transporte coletivos e não motorizados em um ambiente eficiente, socialmente inclusivo e ecológico, o que infelizmente diante do atual cenário, coloca em xeque se somente a criação dessas políticas será o suficiente para garantir a preservação do meio ambiente, visto que a união entre a população e os órgãos responsáveis, bem como o comprometimento dos mesmos, é fundamental na luta pela sustentabilidade. Para garantir mobilidade e acessibilidade de qualidade, é preciso que as políticas e ações busquem a ‘interface’ entre o ambiente natural, o construído e o sistema de transporte. Também há a necessidadede mudar a organização do sistema viário, para que esse espaço não priorize o uso de carros. Seu objetivo central, deve ser garantir espaços urbanos que atendam às necessidades de deslocamento de pedestres, ciclistas e usuários de transporte público. Os carros particulares não devem mais ter prioridade, pois só assim, será possível considerar a mobilidade urbana sustentável e a acessibilidade universal. De modo geral, o ideal em uma mobilidade urbana sustentável, é que os pedestres estejam no topo da pirâmide de valorização, posteriormente, a priorização e os esforços em ações que promovam a utilização de transportes não motorizados, seguido pelo transporte público e coletivo e, por último, o transporte privado, conforme figura 7. 34 Figura 7 - Apresentação da realidade em comparação com o ideal na mobilidade urbana. Fonte: sustentabilidade.sebrae.com.br 6 O PLANEJAMENTO URBANO O planejamento geral de uma cidade ou região, envolve todos os aspectos pertinentes ao tema, como as formas desejáveis de uso e ocupação do solo, a oferta e a disposição física de equipamentos públicos de educação, saúde, justiça e lazer, o sistema viário e de transportes públicos, os sistemas de abastecimento de energia e de água, o sistema de esgotos, a coleta de lixo e outros. Comumente, as questões urbanas e outras atividades inter-relacionadas, são administradas pelo Poder Público, nas estruturas administrativas, de forma estanque, o que torna esta abordagem, um dos problemas para a construção de um novo modelo de cidade sustentável. Naturalmente, a estrutura da administração pública deve considerar aspectos característicos de cada local, sejam eles técnicos, políticos ou culturais, além de refletir concepções e prioridades também particulares. Além disso, nas cidades maiores, a complexidade dos problemas, as diversidades regionais e o tamanho da própria estrutura gestora, exigem a divisão de atribuições e especialização das equipes, devendo também haver, a máxima articulação e coordenação entre as diversas unidades. 35 Nesse cenário, o conceito de mobilidade urbana para a construção de cidades sustentáveis surge como uma novidade, precisando ainda consolidar um conjunto de denominações, conceitos e significados, visto que esses termos são empregados em outros contextos, com significados um pouco distintos. No planejamento geral, o item da mobilidade se expressa diretamente pela definição, a implantação e o gerenciamento dos diferentes sistemas, meios e infraestruturas inerentes, como o sistema viário (passeios, diferentes vias para os diversos modais, equipamentos e mobiliário) , pela oferta de modos públicos e privados de transporte motorizados e não motorizados, assim como por demais elementos relacionadas, como estacionamentos, polos geradores de tráfego, questões ambientais, segurança viária e acessibilidade. No entanto, muitas dessas ações são fortemente impactadas pela forma como a cidade se organizou fisicamente e pela distribuição dos locais de moradia e de trabalho das pessoas, assim como pela localização de demais atividades como comércio, serviços e lazer. Por isso, a análise da organização do ambiente construído das cidades e a integração com os planos que orientam a evolução dessa organização, tal como o Plano Diretor e outros planos municipais, são fundamentais para a elaboração dos planos de mobilidade. Embora o Plano de Mobilidade Urbana tenha uma expressão geral, é interessante identificar quatro áreas centrais de intervenção que dele fazem parte. No tocante ao poder de intervenção desse plano, uma ação é indireta, outra é mista e às duas restantes são diretas. A forma indireta refere-se ao planejamento urbano, a forma mista refere-se a gestão da demanda, já as formas diretas referem-se ao planejamento de transportes e ao planejamento da circulação. Mesmo que essas formas de intervenção estejam muito interligadas, a identificação isolada das mesmas é útil para uma análise inicial (MOTTA et al., 2015). O planejamento urbano é área indireta, pois ele define em leis específicas como o espaço deve ser ocupado e usado, para os mais diversos fins. A sua ligação com a mobilidade, está no fato de que estas decisões têm impacto direto nas estratégias de mobilidade das pessoas, que precisam selecionar os destinos que querem alcançar e 36 as formas de mobilidade que desejam usar, dentro de suas possibilidades. Em geral, o Plano de Mobilidade Urbana, não consegue alterar as leis urbanísticas de uso e ocupação do solo, objeto de ações específicas do Poder Público. No entanto, o referido plano, pode mostrar os problemas relacionados às condições atuais de uso e ocupação do solo e atuar para elas serem modificadas. A gestão da demanda por viagens é representada por um conjunto de ações cujo objetivo é interferir na decisão das pessoas sobre qual modo de deslocamento elas usarão, ou seja, a gestão da demanda ocorre antes que as pessoas saiam às ruas, ela é uma ação mista em relação ao poder de intervenção do planejamento da mobilidade, pois envolve tanto ações que requerem apoio de outras esferas do governo como por exemplo, o aumento do custo de usar um automóvel, quanto ações no domínio exclusivo do Plano de Mobilidade Urbana como a definição de horários de uso de determinadas vias. Já as ações do planejamento de transportes e do planejamento da circulação são diretas, na forma de decisões integrais do ponto de vista legal e operacional. O planejamento de transportes define a infraestrutura de circulação, que vai permitir o deslocamento de pessoas e mercadorias, bem como os veículos e os serviços que serão ofertados. A infraestrutura é constituída por ruas, calçadas, vias férreas e terminais e, no caso do transporte público, pelos veículos que farão o transporte, a estrutura das linhas e a frequência das viagens. O planejamento da circulação define como a estrutura viária será utilizada pelas pessoas e pelos veículos, ela envolve quatro atividades relacionadas: a legislação, que define as regras de utilização das vias e calçadas (Código de Trânsito), a engenharia de tráfego, que define o esquema de circulação, a educação, que define como as pessoas serão treinadas para usar o sistema viário e a fiscalização, que controla o respeito às leis de trânsito. Sua relação com a gestão da demanda, a qual tenta influenciar as pessoas antes que saiam às ruas, é que o planejamento da circulação atua sobre as pessoas que já optaram por formas de deslocamento e estão circulando nas ruas. 37 7 GESTÃO DA DEMANDA DE MOBILIDADE Fonte: igetran.com.br Também conhecida como GDM, a Gestão da Demanda de Mobilidade aborda sobre a aplicação de estratégias e políticas constituídas por várias ações desenvolvidas de forma integrada, que atuam nas decisões e nas características dos deslocamentos urbanos para promoção da mobilidade urbana voltada à sustentabilidade. (BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO E MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL, 2020). A GMD vai além de uma simples metodologia, afinal é uma ferramenta relevante na política pública, que auxilia os municípios a atuarem na priorização de meios sustentáveis e no desestímulo a utilização intensa do transporte individual motorizado. Mas, esta gestão, não substitui a ampliação da oferta dos sistemas de transporte público ou de infraestrutura de mobilidade nos casos em que são necessárias. Esse programa pode ser incluído em um processo de elaboração ou de revisão do Plano de Mobilidade Urbana (PMU) de maneira a qualifica-lo, e nos casos em que não se possui o PMU ou em casos em que ele já tenha sido concebido, ainda é possível desenvolver o programa de GDM em um outro momento, com a condição de 38 que este seja compatível com o PMU e os demais instrumentos de planejamento, seja em nívelmunicipal, estadual ou distrital. O GDM é um programa que não existe apenas no Brasil, sendo aplicado em outros países, porém com nomenclaturas diferentes. Na Europa, os termos mais comumente utilizados são Mobility Management (Gestão da Mobilidade) e Travel Demand Management - TDM (Gestão da Demanda de Viagens), enquanto nos Estados Unidos o termo Transportation Demand Management - TDM (Gestão da Demanda de Transporte) é mais difundido. Embora existam diferentes nomenclaturas, todas possuem o mesmo objetivo – influenciar o comportamento dos deslocamentos da população (BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO; MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL, 2020). No Brasil, o conceito de GDM não é tão divulgado, embora existam ações desse programa no país há décadas, que são executadas com outros intuitos. Porém, assim como em outros países da América Latina, a GDM não se estruturou no país como um programa de fato, indo na lógica de ferramenta de apoio ao planejamento de mobilidade. Um bom exemplo de GDM, são os estacionamentos rotativos, que são muito conhecidos em todas as cidades, uma vez que frequentemente são implementados com o intuito de reduzir o aumento da rotatividade nas vagas públicas disponíveis, assim como a operação de horário de pico, a qual conhecida como rodízio, passou a ser adotada em torno de 1990 na cidade de São Paulo, com o objetivo de reduzir os congestionamentos. No quadro 2 estão apresentados outros exemplos de medidas de GDM, utilizados no Brasil: 39 Quadro 2 - Exemplos de GDM Fonte: Adaptado de Banco Interamericano de Desenvolvimento, Ministério do Desenvolvimento Regional (2020). 8 IMPLEMENTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE PLANO SUSTENTÁVEL DE MOBILIDADE URBANA A sustentabilidade urbana e ambiental é uma área que necessita ser considerada como condicionante para mobilidade, e que pode ser promovida pela restrição de meios de transporte que emitem grandes poluições tanto sonora quanto no ar, comprometendo a qualidade de vida da população e consequentemente causando impactos no meio ambiente. Diante deste tipo de situação, o ideal é a implementação da mobilidade urbana sustentável, com o princípio em sustentabilidade relacionado ao sistema de transportes e o uso do solo, essa iniciativa proporciona o acesso a bens e serviços de forma eficiente para a população, trazendo melhora a qualidade de vida da atual população, e evitando que a futura população seja prejudicada. De acordo com as dimensões do desenvolvimento sustentável, a mobilidade no ângulo da sustentabilidade é algo que pode ser alcançado sob duas maneiras: primeiro 40 voltado a adequação da oferta de transporte ao contexto socioeconômico e o segundo, voltado a qualidade ambiental. No primeiro caso, se encaixam medidas que ligam o transporte ao desenvolvimento urbano e também a equidade social, voltada aos deslocamentos, já no segundo caso, se adequam a tecnologia e o meio de transporte a ser usado. De acordo com Correa (2013), a mobilidade urbana sustentável também precisa ser considerada como um resultado do conjunto de políticas, voltadas ao transporte e a circulação, para levarem a população um acesso amplo e democrático ao espaço, utilizando os meios de transporte coletivo e não motorizado de forma efetiva, inclusiva socialmente e ecologicamente sustentável. Figura 8 - Espaço ocupado pelo mesmo número de pessoas quando elas vão de ônibus, bicicleta e carro. Fonte: sustentaacoes.com A nova conduta implementada, volta a atenção para o deslocamento das pessoas e não de veículos, levando principalmente em consideração as pessoas que têm restrição de mobilidade. Os impactos causados pelas políticas urbanas é um ponto importante a ser considerado, visto que esses concedem privilégio a utilização de automóveis, promovendo além de problemas voltados ao meio ambiente como também impactos 41 indiretos, como os acidentes de trânsito, congestionamentos e a baixa qualidade dos demais meios de transporte, como o coletivo, o uso das bicicletas e a caminhada. Esse privilégio concedido a utilização de automóveis faz com que os demais meios de transportes sejam prejudicados, afinal, com o aumento de automóveis no sistema viário urbano, os pedestres e ciclistas são ainda mais expostos aos riscos, o que compromete a mobilidade e acessibilidade segura desses. Ao realizar uma caminhada pelas ruas, é notório a falta de estrutura nas vias e nos espaços públicos, sendo esses carentes de mecanismos de acessibilidade para as pessoas que apresentam limitações de movimentos, e voltado a este assunto os novos conceitos devem ser inseridos na mobilidade urbana, dentre as sugestões de melhoria, cabe destacar o acesso amplo e democrático a cidade, a universalização do acesso ao meio de transporte público e a acessibilidade universal e valorização de deslocamentos dos pedestres e ciclistas em desfavor dos outros meios de transporte. Essa implementação não é voltada a eliminação das barreiras para um determinado grupo de pessoas, mas sim, a inclusão de especificidades do universo das pessoas no desenho urbano. Em outras palavras e de maneira ampla, a acessibilidade é compreendida como uma equiparação de oportunidades de acesso ao que a vida tem a oferecer como o estudo, trabalho, lazer e principalmente o bem-estar seja ele social ou econômico, afinal, a acessibilidade deve levar a facilidade das pessoas a realizarem seus objetivos que na verdade são seus por direito de maneira universal. Além de tudo o que já fora mencionado aqui, é necessário compreender que o conceito de acessibilidade não se limita as pessoas que apresentam limitações de movimentos, mas também as pessoas que não possuem acesso ou que passam por restrições quanto a infraestrutura urbana no sistema viário, um exemplo dessa falta de estrutura é a falta de calçadas ou até a presença dela, mas em estado precário, as péssimas condições de operação nas vias e principalmente a ausência de segurança aos pedestres e ciclistas, levando ao aumento de acidentes no trânsito, já no caso do transporte público, são exemplos de restrições, as deficiências das linhas, as altas tarifas e as operações precárias como a ausência de manutenção dos veículos, sendo colocado em circulação veículos velhos sem as devidas manutenções. 42 Para realmente assegurar a mobilidade e a acessibilidade urbana de qualidade é necessário que as políticas e ações procurem por atuar de maneira articulado entre o ambiente natural o ambiente construído com o sistema de transporte, isto é, a atuação articulada entre o planejamento urbano, do transporte e o ambiental. Assim, pensar na mobilidade urbana é também pensar na forma de organizar a utilização e ocupação das cidades e na melhor maneira de garantir o acesso das pessoas a tudo que a cidade oferta e não somente pensar nas questões de transporte e trânsito. 8.1 Papel das ciclovias e ciclofaixas na mobilidade urbana A mobilidade tornou-se um elemento essencial para a vida em sociedade e o desenvolvimento econômico de uma determinada região, no entanto, ela também tem causado alguns impactos negativos, principalmente quanto as questões ambientais, entre as quais estão o aumento da emissão de gases que potencializam o efeito estufa, a poluição do ar e sonora, a modificação da paisagem natural, entre outros (PORTUGAL, 2017). Além disso, na definição das estratégias de mobilidade atuais, há a prevalência do transporte motorizado individual, como os automóveis, potencializada por uma distribuição urbana desequilibrada, que aumenta as distâncias entre os locais de moradias dos indivíduos e os locais de realização de atividades como ensino, lazer, trabalho e outras. Em função disso, o que se observa no sistema viário são os extensos congestionamentos causados pelo número excessivo de veículosnas vias, muitos acidentes no trânsito, assim como mortes decorrentes destes e a precarização dos sistemas de transporte público. Dessa forma, a predominância do transporte motorizado individual tornou-se insustentável, o que tem torna cada vez mais necessária, a busca por estratégias de mobilidade mais sustentáveis do que as convencionais, como o incentivo ao uso de outros modais. Nesse contexto, as bicicletas surgem como uma das principais possibilidades de melhoria para a mobilidade urbana. 43 Diversas cidades brasileiras têm buscado desenvolver sistemas cicloviários, com o intuito de incentivar o uso das bicicletas nos deslocamentos diários, como para trabalho, faculdade, compras e outros. Apesar dos desafios, as experiências de países europeus como Holanda, Dinamarca, França e Alemanha, mostram ser possível utilizar a bicicleta como um modo de transporte diário em detrimentos aos veículos particulares (CAMPOS; CARDOSO, 2016). São considerados fatores essenciais para aumentar o uso desse modo de transporte a segurança do ambiente, a integração da bicicleta com outras formas de transporte, a disponibilidade de bicicletários e intervenções com base na educação e em meios de comunicação (ARRUDA; JACOB, 2021). Uma das formas encontradas pelo governo brasileiro para incentivar o uso de bicicletas como meio de transporte, foi a criação em 2004, do Programa Brasileiro de Mobilidade por Bicicletas, com o intuito de estabelecer políticas voltadas ao sistema cicloviário. As bicicletas são consideradas um meio de transporte ativo, ambiental e economicamente viável, sobretudo em pequenos e médios deslocamentos. Além desses benefícios, podem também ser citado a ausência de impactos ambientais negativos, a ocupação de menores espaços e a redução dos congestionamentos (AVELAR et al., 2019). De acordo com Avelar et al. (2019) esses benefícios podem ser potencializados por meio da integração das bicicletas com o transporte público, permitindo deslocamentos em maiores distâncias, pois cada meio de transporte aumenta a área de atuação do outro. A isso dá-se o nome de transporte multimodal, que representa a utilização de distintos modos de transportes para que um determinado destino seja alcançado. A partir disso, a integração da micromobilidade aos sistemas de transporte público pode ser considerada como proposta de melhoria para a mobilidade urbana (INSTITUTO DE POLÍTICAS DE TRANSPORTE E DESENVOLVIMENTO, 2021). A micromobilidade engloba as alternativas de transporte que podem ser utilizadas em trajetos curtos, conexões de primeiro e último grau para acesso ao transporte público, assim como o deslocamento dentro de um bairro ou entre bairros, geralmente de até 10 km. Os meios de transporte utilizados são aqueles considerados pequenos e leves com características como velocidades abaixo de 25 km/h, uso de tração elétrica ou humana e podem ser individuais ou compartilhados (INSTITUTO DE POLÍTICAS DE TRANSPORTE E DESENVOLVIMENTO, 2021). 44 Em estudos de Pereira (2021), com base em dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017 – 2018, desenvolvida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a frota de bicicletas no país era estimada em cerca de 33.203.198 unidades, correspondendo a uma média de 16 unidades a cada 100 habitantes. O estado que apresentava maior quantidade era São Paulo, com cerca de 8.167.430 bicicletas, seguido do Paraná, com 2.230.584 e de Goiás, com 1.381.943. Proporcionalmente, o Mato Grosso do Sul era o estado com maior número por habitantes, sendo 26 veículos a cada 100 habitantes e o Amazonas possui a menor taxa, sendo sete bicicletas a cada 100 habitantes. A integração multimodal pode reduzir o tempo e o custo das viagens, otimizar o espaço viário e a estrutura espacial da cidade, reduzir interferências no trânsito, diminuir os impactos ambientais e a quantidade de acidentes no trânsito, assim como melhorar o conforto dos usuários. Essa intermodalidade, entre as bicicletas e o transporte público, ocorre quando um trecho da viagem é percorrido com o uso de bicicleta e outro pelo transporte coletivo, que pode acontecer com o transporte da bicicleta nos ônibus ou metrôs, ou próximo aos terminais. Para que a primeira alternativa possa ser utilizada, é necessário que os veículos do transporte coletivo passem por adaptações para que as bicicletas sejam transportadas em seu interior ou acopladas em uma parte externa. A segunda alternativa, se dá com a instalação de estações ou bicicletários dentro, ou próximo das estações (AVELAR et al., 2019). Além dessas ações, a implantação de ciclovias e ciclofaixas é essencial para auxiliar a integração multimodal. As ciclovias são estruturas separadas fisicamente da pista de tráfego comum, destinadas à circulação exclusiva de ciclomotores em áreas urbanas, Dessa forma, essas vias oferecem maiores níveis de segurança e conforto aos ciclistas, assim como representam a preocupação com as melhorias de condições para eles, a valorização dos espaços públicos, uma vez que podem ser implantadas em faixas de domínio das vias convencionais, em canteiros centrais, parques, margens de cursos d’água e espaços naturais. Além disso, o incentivo ao uso das ciclovias, pode contribuir com a 45 redução de gastos com a saúde pública, considerando que o uso das bicicletas impacta na qualidade de vida das pessoas, por meio da redução do sedentarismo (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND, 2016). Existem dois tipos principais de ciclovias: as unidirecionais, que fluem em um sentido único, e as bidirecionais, que fluem nos dois sentidos. Na figura 9, são apresentados os dois tipos: Figura 9 - (a) Ciclovia unidirecional; (b) ciclovia bidirecional. Fonte: (a) Ajdin Kamber/Shutterstock.com; (b) yoojiwhan/Shutterstock.com. Embora as ciclovias sejam de grande importância no sistema cicloviário, nem sempre são as soluções mais adequadas, como nos casos de cidades que não dispõe de muitos espaços disponíveis para construção dessas estruturas, o que compromete os níveis de segurança dos ciclistas, tornando a construção da ciclovia uma desvantagem. Dessa forma, passa a ser necessário a implantação de ciclofaixas, que representam uma parte da pista de rolamento destinada à circulação de bicicletas e delimitada por sinalização específica (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND, 2016). A opção pelo uso dessas vias se dá em função de maiores níveis de mobilidade. Embora as ciclovias ofereçam maior segurança aos usuários, por outro lado, carecem de conexão com mais pontos na cidade, assim, as ciclofaixas saem em vantagem, por compartilharem espaço com as pistas de rolamentos, permitem o acesso a mais pontos, além de exigirem menores intervenções na infraestrutura. Entre suas vantagens está a maior rapidez em sua implementação, já que geralmente, uma ciclofaixa unidirecional 46 consegue ser duas vezes mais barata do que uma ciclovia, em razão do pavimento já consolidado e de outros dispositivos como a iluminação pública e a drenagem (MIRANDA, CITADIN, ALVES, 2009). Analisando o cenário da malha cicloviária brasileira, São Paulo é a capital com maior extensão de ciclovias e ciclofaixas, com cerca de 680 km. Consoante o Plano de Metas 2021/2024 da Prefeitura de São Paulo, é prevista a implantação de mais 300 km (SÃO PAULO, 2021). Outras capitais com maior malha no país são Brasília e Rio de Janeiro, com respectivamente, 465 e 458 km de extensão. Entre as capitais com menor malha, estão Macapá, São Luís e Porto Velho (VELASCO et al., 2018). Em termos proporcionais, Rio Branco se destaca por possuir cerca de 13,38% de vias destinadas ao uso de bicicletas, além de Vitória com 10,27%, e Rio de Janeiro com 6,59%. Apesar de possuir a maior extensão, a malha cicloviária de São Paulo corresponde a apenas 2,93% do total, ao passoque outras capitais como São Luís, Porto Velho e Manaus também são destaque, com os menores percentuais, respectivamente, 1,24%, 1,10% e 0,85%. Mesmo com os avanços obtidos nas últimas décadas, as cidades brasileiras ainda estão aquém da estrutura cicloviária das cidades europeias, o que evidencia que ainda há um longo caminho a ser traçado para o uso efetivo das bicicletas como transporte eficiente. 47 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Acessibilidade In.: Dicio, Dicionário Online de Português. Porto: 7Graus, 2022. Disponível em: https://www.dicio.com.br/acessibilidade/. Acesso em: 27 jun. 2022. 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