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SISTEMAS DE TRANSPORTES OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Identificar as contribuições dos diferentes modais para a mobilidade urbana no Brasil. > Elencar os fundamentos da gestão da mobilidade urbana. > Destacar o papel de ciclovias e ciclofaixas na mobilidade urbana. Introdução Grande parte das cidades brasileiras passou por um processo de urbanização acelerado e desordenado, o que resultou na dificuldade de atendimentos aos deslocamentos diários, com grandes distâncias a serem percorridas. Nesse contexto, entra a mobilidade urbana como uma ferramenta de desenvolvimento social e econômico. Neste capítulo, vamos abordar o conceito sobre mobilidade urbana e as principais contribuições dos diferentes modais de transporte ao longo da evolução da urbanização. Também abordaremos os fundamentos e princípios da gestão da mobilidade urbana pautados pela Política Nacional de Mobilidade Urbana e o Plano de Mobilidade Urbana, e, por fim, discutiremos a importância das bicicletas, ciclovias e ciclofaixas em busca de uma integração multimodal que torne o transporte mais ágil e a mobilidade urbana mais sustentável. Mobilidade urbana e os diferentes modais A mobilidade urbana pode ser conceituada como a facilidade na realização de deslocamentos de pessoas e bens no espaço urbano, que podem ser realizados por meio de veículos utilizando a infraestrutura viária presente. Esse tema Mobilidade urbana Eduarda Pereira Barbosa é uma grande fonte de debate atualmente, embora seja uma preocupação antiga, desde que surgiram os primeiros veículos. De acordo com Portugal (2017), o Império Romano já tomava medidas que visavam ao controle e à organização do tráfego de carroças e carruagens. No entanto, esse debate foi levado a um patamar mais técnico e científico somente no início do século XX, com o uso dos veículos motorizados conflitando com a circulação de pedestres nas vias públicas. A forma como ocorre a mobilidade é fruto de um processo de desen- volvimento urbano baseado nas condições socioeconômicas das pessoas. Em grande parte das cidades brasileiras, as regiões periféricas são habitadas pelos indivíduos de menor poder aquisitivo, o que resulta no aumento das distâncias a serem percorridas diariamente pelas pessoas, uma vez que uma grande quantidade de empregos se situa nas regiões centrais de uma cidade. Trabalhadores passam, em média, de 4 a 5 horas no transporte, o que reduz sua qualidade de vida (VASCONCELLOS, 2013). Portanto, a mobilidade urbana está relacionada com as formas de uso e a ocupação da cidade e com a garantia de acesso aos bens que uma região oferece. Veja, na Figura 1, a representação da evolução da distância estimada do centro à periferia em algumas cidades brasileiras contabilizadas de 1960 a 2000. Figura 1. Distância estimada entre o centro e a periferia em cidades brasileiras. Fonte: Vasconcellos (2013, p. 17). Mobilidade urbana2 Uma ocupação urbana dispersa torna a sua administração mais complexa e eleva os custos e dificulta o atendimento em relação à demanda de viagens por meio do transporte, influenciando a oferta para as populações morado- ras distantes dos centros urbanos. Assim, quanto menos estruturado for o desenvolvimento da cidade, menores serão sua eficiência, competitividade e mobilidade (PORTUGAL, 2017). De acordo com os dados do Sistema de Informações de Mobilidade Urbana da Associação Nacional de Transportes Públicos (2020), que compila os dados dos municípios com população acima de 60.000 habitantes, durante o ano de 2018 foram realizadas cerca de 67 bilhões de viagens nesses municípios, o que corresponde a aproximadamente 223 milhões de viagens diárias, sendo a maioria realizada a pé e de bicicleta — que representam 28 bilhões — seguida do transporte motorizado individual por meio de automóveis e motocicletas — que corresponde a 20,3 bilhões de viagens. Veja a Figura 2 para verificar os dados dos demais modos de transporte. Figura 2. Número de viagens por meio de transporte. Fonte: Sistema de Informações de Mobilidade Urbana da Associação Nacional de Transportes Públicos (2020, p. 7). 16,1 2,7 18,8 17,3 3,0 20,3 1,7 26,3 28,0 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 Ônibus Trilhos TC Auto Moto TI Bici A Pé TNM Bi lh õe s de v ia ge ns /a no Total = 67,0 bilhões de viagens/ano Segundo Vasconcellos (2013), é importante analisar a evolução do conceito de mobilidade ao longo da história e sua relação com os diferentes modais de transporte. Podemos começar pela década de 1930, marcada pela passa- gem da economia agrária para industrial, em que predominava o trasporte Mobilidade urbana 3 ferroviário, e a partir disso, com a aprovação do Plano Nacional de Viação, o transporte rodoviário passou a ser melhor estruturado — e a principal opção para a mobilidade de pessoas e mercadorias. Esse fato foi fundamentado na necessidade de uma ocupação mais abrangente do território nacional. Entre as décadas de 1930 e 1940, os bondes elétricos eram predominantes como veículo utilizado no transporte público. No entanto, com a evolução da indústria automobilística, o ônibus passou a ocupar esse lugar, uma vez que os bondes não eram capazes de acompanhar a expansão urbana acelerada. A partir da década de 1960, a indústria aumobilística modificou a forma como a mobilidade urbana funcionava até então; o uso de automóveis foi incen- tivado tanto por medidas diretas, como condições facilitadas de compra de um automóvel e a criação da infraestrutura urbana para seu uso, quanto por medidas indiretas que correspondiam à liberdade irrestrita de circulação, gratuidade nos estacionamentos públicos, licenciamento anual a preços irrisórios e outros. Assim, o automóvel passou a ter papel de destaque, e a infraestrutura de mobilidade urbana foi pautada com base nas necessidades de uso desses veículos. Até a metade da década de 1970, a participação do governo federal na mobilidade urbana era ínfima, sendo esse setor de atribuição dos governos estadual e municipal. Com um crescimento acelerado e disperso nas cidades brasileiras, foi necessária a entrada dos entes federativos em função das crescentes críticas ao sistema de transporte da época que nais comportava o crescimento da cidade. Assim, foi realizada uma reformulação e a partir disso, surgiram os primeiros sistemas de transportes urbanos. A mobilidade dos anos 1980 foi marcada pela organização política do setor, sendo o fato principal a criação da Associação Nacional das Empresas de Transporte Ur- bano. Os anos 1990, por sua vez, foram marcados pela expansão do uso de motocicletas, inclusive com apoio das indústrias e do governo. Na próxima seção, serão abordados os fundamentos da gestão de mo- bilidade urbana, assim como a Política Nacional de Mobilidade Urbana e o plano de mobilidade urbana. Fundamentos da gestão da mobilidade urbana A legislação é um dos principais elementos utilizados para auxiliar a gestão da mobilidade urbana, e desde a promulgação da Constituição Federal de 1988 buscava-se uma regulamentação de nível federal. Dessa forma, ao longo dos Mobilidade urbana4 anos foram adotadas medidas isoladas e dispersas com relação à melhoria da mobilidade urbana. Somente após a promulgação da Lei nº 12587 de 2012 (BRASIL, 2012), que instituiu a Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU), essas medidas passaram a ser sistematizadas. Essa lei foi amplamente dis- cutida pela sociedade em geral e por parlamentares por cerca de 17 anos até a elaboração de seu texto final. A Política Nacional de Mobilidade Urbana é considerada um instrumento das políticas de desenvolvimento urbano com a função de integrar os dife- rentes modos de transporte, assim como implementar melhorias na acessi- bilidade e na mobilidade no território das cidades brasileiras (BRASIL, 2012). A existência da PNMU direciona as ações a serem realizadas integrando-as com o desenvolvimento urbano em geral; assim, devem estar relacionadas a outras políticassetoriais, como a de habitação, saneamento básico, gestão e uso do solo. Além disso, são objetivos da PNMU (BRASIL, 2012, documento on-line): Reduzir as desigualdades e promover a inclusão social. Promover o acesso aos serviços básicos e equipamentos sociais. Proporcionar melhoria nas condições urbanas da população no que se refere a acessibilidade e mobilidade. Promover o desenvolvimento sustentável com a mitigação dos custos ambientais e socioeconômicos dos deslocamentos de pessoas e cargas nas cidades. Consolidar a gestão democrática como instrumento e garantia da construção contínua do aprimoramento da mobilidade urbana. A PNMU oferece segurança jurídica para que os municípios implementem medidas para dar prioridade aos modos de transporte não motorizados e coletivos em vez de ao transporte individual (BRASIL, 2012). Essas medidas devem considerar os fundamentos da PNMU, sendo estes (BRASIL, 2012, documento on-line): Acessibilidade universal. Desenvolvimento sustentável das cidades, nas dimensões socioeconômicas e ambientais. Equidade no acesso dos cidadãos ao transporte público coletivo. Eficiência, eficácia e efetividade na prestação dos serviços de transporte urbano. Gestão democrática e controle social do planejamento e avaliação da Política Nacional de Mobilidade Urbana. Segurança nos deslocamentos das pessoas. Justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do uso dos diferentes modos e serviços. Equidade no uso do espaço público de circulação, vias e logradouros; e Eficiência, eficácia e efetividade na circulação urbana. Mobilidade urbana 5 Para a efetivação da PNMU é utilizado um instrumento denominado plano de mobilidade urbana (PMU), que deve contemplar todas as diretrizes esta- belecidas. Ele pode ser considerado uma ferramenta de planejamento que define objetivos e ações que visem à solução de problemas, bem como metas a serem alcançadas por um sistema de uma mobilidade urbana de um muni- cípio (INSTITUTO DE POLÍTICAS DE TRANSPORTE E DESENVOLVIMENTO, 2016). O PMU foi instituído por meio da Lei nº 12587, a mesma que instituiu a PNMU, para que os municípios brasileiros possam planejar melhor o crescimento das cidades, priorizando o transporte coletivo e não motorizado, o que representa uma iniciativa distinta do modelo tradicional de mobilidade que incentivava o uso de meios de transportes individuais (BRASIL, 2012). No entanto, não são todas as cidades do país que devem elaborar esse documento; de acordo com a Lei nº 12587, ficam obrigados a elaborar e aprovar o Plano de mobilidade urbana os municípios que tenham uma das seguintes características (BRASIL, 2012, documento on-line): I - com mais de 20.000 (vinte mil) habitantes; II - integrantes de regiões metropolitanas, regiões integradas de desenvolvimento econômico e aglomerações urbanas com população total superior a 1.000.000 (um milhão) de habitantes; III - integrantes de áreas de interesse turístico, incluídas cidades litorâneas que têm sua dinâmica de mobilidade normalmente alterada nos finais de semana, feriados e períodos de férias, em função do aporte de turistas, conforme critérios a serem estabelecidos pelo Poder Executivo. É fundamental a participação social na elaboração dos PMUs para aten- der às necessidades da sociedade para a sua legitimação e sustentação política durante a implementação e continuidade (SÃO PAULO, 2015). Isso pode acontecer por meio da promoção de audiências e debates, divulgação de informações, discussões públicas sobre a minuta do plano, oficinas para recebimento de propostas e sugestões, avaliações das versões preliminares do plano, criação de ouvidorias e órgãos responsáveis por elaborar o plano e a participação de membros da sociedade civil nos órgãos responsáveis pela mobilidade urbana municipal e outros (INSTITUTO DE POLÍTICAS DE TRANSPORTE E DESENVOLVIMENTO, 2016). Mobilidade urbana6 O PMU deve contemplar o transporte público coletivo, a circulação viária, a infraestrutura do sistema de mobilidade urbana, a acessibilidade para pessoas com deficiência e restrições de mobilidade, a integração dos modos de transporte público com modos privados e não motorizados, polos gera- dores de viagem, áreas de estacionamentos públicos ou privados, áreas e horários de acesso e circulação restrita, os mecanismos de financiamento de transporte público e avaliação, revisão e atualização do plano em períodos que não sejam superiores a 10 anos (BRASIL, 2012). Segundo disposto na Lei nº 12.587, cabe aos municípios (BRASIL, 2012): I — planejar, executar e avaliar a política de mobilidade urbana, bem como promover a regulamentação dos serviços de transporte urbano; II — prestar, direta, indiretamente ou por gestão associada, os serviços de transporte público coletivo urbano, que têm caráter essencial; III — capacitar pessoas e desenvolver as instituições vinculadas à política de mobilidade urbana do Município. Inicialmente, o prazo de entrega do PMU para os municípios contemplados ia até 12 de abril de 2020. No entanto, esse prazo foi prorrogado por da Lei nº 14000 de 2020 (BRASIL, 2020) para que as prefeituras elaborem os PMUs até 12 de abril de 2022, no caso de cidades com mais de 250 mil habitantes, e 12 de abril de 2023, para cidades com até 250 mil habitantes. Esse fato é importante, pois os municípios que não apresentam o PMU ficam proibidos de receber recursos da União para esse setor; assim, as cidades que ainda não apresentaram o documento podem voltar a receber os recursos. O processo de elaboração de um PMU deve ser dinâmico e flexível, permitindo a revisão periódica. Várias etapas devem ser seguidas pelos agentes da Administração Pública dos municípios (Figura 3). Mobilidade urbana 7 Figura 3. Etapas para a elaboração de um plano de mobilidade urbana. Fonte: Adaptada de São Paulo (2015). 1 Preparação 2 Definição do escopo 7 Avaliação e revisão 3 Procedimentos gerenciais 4 Elaboração 5 Aprovação 6 Implementação Passo a passo PLANO DE MOBILIDADE URBANA Veja, a seguir, as principais características de cada etapa (SÃO PAULO, 2015). � Preparação: consiste na definição do processo de construção do PMU, partindo da mobilização social, que representa o ponto inicial em termos políticos, técnicos e financeiros necessários. Além disso, é importante definir as responsabilidades dos agentes envolvidos no processo. Outra atividade realizada é a análise preliminar a respeito dos problemas de mobilidade no município para a elaboração de um pré-diagnóstico, assim como é realizada a estimativa dos recursos orçamentários, humanos e materiais necessários para desenvolver o PMU. Essa preparação envolve a tomada de decisão dos agentes polí- ticos locais, pois o PMU requer vontade política e comprometimento Mobilidade urbana8 técnico e financeiro para que a resistência a mudanças da sociedade seja vencida. Também deve ser definida a estrutura de gestão do processo, por exemplo, a comissão executiva, a comissão técnica e a comissão de acompanhamento. � Definição do escopo: nessa etapa é importante que a equipe conheça as expectativas para o futuro do município a fim de definir os objetivos a serem traçados, assim como a área de intervenção, considerando o pré-diagnóstico realizado. A definição de metas que possam ser mensuradas e implementadas a curto, médio e longo prazo é um dos principais requisitos para elaborar o PMU. � Procedimentos gerenciais: essa etapa abrange o termo de referência, a cooperação técnica e institucional para o início da elaboração do PMU. Nesse momento, buscam-se parcerias e são realizadas negocia- ções. Vale ressaltar que o termo de referência contém a descrição dos procedimentos e do produto esperado. � Elaboração: essa etapa consiste na efetivação dos trabalhos realizados para construir o PMU, assim, primeiro deve-se realizar o diagnóstico da atual situação da mobilidade no município, e, a partir disso, são avalia- dos os cenários apresentados e as possibilidadesde melhorias, depois são formuladas e avaliadas as propostas de solução apresentadas e também devem ser compatibilizadas as diretrizes de ordenamento territorial e preservação do meio ambiente; após isso é elaborado o programa de ação do PMU. Para a mensuração do êxito ou das difi- culdades para o alcance dos objetivos e metas traçados, é importante que sejam escolhidos os indicadores de desempenho para monitorar o andamento das ações realizadas. Por fim, se dá a consolidação do plano com a produção final dos textos e elementos gráficos necessários. � Aprovação: após a sua elaboração, o PMU deve ser discutido e avaliado antes de sua aprovação final. Assim, é revisado pelos agentes envolvi- dos por meio de uma audiência pública que apresentará as propostas gerais e específicas para a comunidade. � Implementação: é nessa etapa que o PMU sai do papel e deve ser efe- tivamente implementado de acordo com o plano de ação estipulado. De início, deve-se atentar para as metas de curto prazo com o intuito de que o PMU e suas ações entrem em descrédito com a sociedade. � Avaliação e revisão: é importante que o PMU seja revisado e atualizado periodicamente, tendo em vista que a mobilidade urbana é muito dinâmica. Assim, sempre surgem novas possibilidades de melhorias, assim como problemas a serem solucionados. Mobilidade urbana 9 Na próxima seção, será abordada a importância das bicicletas, ciclovias e ciclofaixas para a mobilidade urbana. Papel das ciclovias e ciclofaixas na mobilidade urbana A mobilidade tornou-se um elemento essencial para a vida em sociedade e o desenvolvimento econômico de uma determinada região; no entanto, seus efeitos negativos cada vez mais ganham destaque, como os ambientais — o alto consumo de energia, as emissões de gases do efeito estufa, a poluição do ar e sonora, a modificação da paisagem natural, entre outros (PORTU- GAL, 2017). Além disso, na definição das estratégias de mobilidade atuais, há prevalência do transporte motorizado individual, como os automóveis, potencializada por uma distribuição urbana desequilibrada que aumenta as distâncias entre os locais de moradias dos indivíduos e os locais de realização de atividades como ensino, lazer, trabalho e outras. Em função disso, o que se vê no sistema viário são os extensos congestionamentos causados pelo número excessivo de veículos nas vias, muitos acidentes no trânsito, assim como mortes decorrentes destes e a precarização dos sistemas de transporte público. Dessa forma, a predominância do transporte motorizado individual tornou-se insustentável, o que tem acelerado cada vez mais a busca por outras estratégias de mobilidade mais sustentáveis do que as convencionais, como o incentivo ao uso de outros modais. Nesse contexto, as bicicletas surgem como uma das principais possibilida- des de melhoria para a mobilidade urbana. Diversas cidades brasileiras têm buscado desenvolver sistemas cicloviários como forma de incentivo ao uso das bicicletas nos deslocamentos diários para trabalho, estudos, compras e outros. Apesar dos desafios, as experiências de países europeus como Holanda, Dinamarca, França e Alemanha mostram que é possível utilizar a bicicleta como um modo de transporte diário em detrimentos aos veículos particulares (CAMPOS; CARDOSO, 2016). São considerados fatores essenciais para aumentar o uso desse modo de transporte a segurança do ambiente, a integração da bicicleta com outras formas de transporte, a disponibilidade de bicicletários e intervenções com base na educação e em meios de comu- nicação (ARRUDA; JACOB, 2021). Mobilidade urbana10 Uma das formas de o governo brasileiro incentivar o uso de bicicletas como meio de transporte foi a criação, em 2004, do Programa Brasileiro de Mobilidade por Bicicletas, com o intuito de estabelecer políticas voltadas ao sistema cicloviário. As bicicletas são consideradas um modo de transporte ativo, ambientalmente e economicamente viável, sobretudo em pequenos e médios deslocamentos. Além desses benefícios, podem também ser citadas a ausência de impactos ambientais negativos, a ocupação de menores es- paços e a redução dos congestionamentos (AVELAR et al., 2019). De acordo com Avelar et al. (2019) esses benefícios podem ser potencializados por meio da integração das bicicletas com o transporte público, o que permite des- locamentos em maiores distâncias, pois cada modo de transporte aumenta a área de atuação do outro. A isso dá-se o nome de transporte multimodal, que representa a utilização de distintos modos de transportes para que um determinado destino seja alcançado; assim a integração da micromobilidade aos sistemas de transporte público pode ser considerada como proposta de melhoria para a mobilidade urbana (INSTITUTO DE POLÍTICAS DE TRANSPORTE E DESENVOLVIMENTO, 2021). Em estudos de Pereira (2021), com base em dados da Pesquisa de Orçamen- tos Familiares 2017–2018 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a frota de bicicletas no país era estimada em cerca de 33.203.198 unidades, o que corresponde a uma média de 16 unidades a cada 100 habitantes. O estado que apresenta maior quantidade é São Paulo, com aproximadamente 8.167.430 bicicletas, seguido do Paraná, com 2.230.584, e de Goiás, com 1.381.943. Pro- porcionalmente, o Mato Grosso do Sul é o estado com maior número por habitantes, sendo 26 veículos a cada 100 habitantes, e o Amazonas possui a menor taxa — sete bicicletas a cada 100 habitantes. A micromobilidade engloba as alternativas de transporte que podem ser utilizadas em trajetos curtos, conexões de primeiro e último grau para acesso ao transporte público, assim como o deslocamento dentro de um bairro ou entre bairros, geralmente de até 10 km. Os meios de transporte utilizados são aqueles considerados pequenos e leves e têm características como velocidades abaixo de 25 km/h, uso de tração elétrica ou humana e que podem ser individuais ou compartilhados (INSTITUTO DE POLÍTICAS DE TRANSPORTE E DESENVOLVIMENTO, 2021). Mobilidade urbana 11 A integração multimodal pode reduzir o tempo e o custo das viagens, oti- mizar o espaço viário e a estrutura espacial da cidade, reduzir interferências no trânsito, diminuir os impactos ambientais e a quantidade de acidentes no trânsito, assim como melhorar o conforto dos usuários (INSTITUTO DE POLÍTI- CAS DE TRANSPORTE E DESENVOLVIMENTO, 2021). Essa intermodalidade entre as bicicletas e o transporte público ocorre quando um trecho da viagem é percorrido com o uso da bicicleta e outro pelo transporte coletivo, que pode acontecer com o transporte da bicicleta nos ônibus ou metrôs ou próximo aos terminais. Para que a primeira alternativa possa ser utilizada, é necessário que os veículos do transporte coletivo passem por adaptações para que as bicicle- tas sejam transportadas em seu interior ou acopladas em uma parte externa. A segunda alternativa se dá com a instalação de estações ou bicicletários dentro ou próximo das estações (AVELAR et al., 2019). Além dessas ações, a implantação de ciclovias e ciclofaixas é essencial para auxiliar a integração multimodal. As ciclovias são estruturas destinadas à circulação exclusiva de ciclomo- tores em áreas urbanas, como as bicicletas, sendo separadas fisicamente da pista de tráfego comum. Dessa forma, essas vias oferecem maiores níveis de segurança e conforto aos ciclistas, assim como representam a preocupação com as melhorias de condições para eles, a valorização dos espaços públicos — pois podem ser implantadas em faixas de domínio das vias convencionais, em canteiros centrais, parques, margens de cursos d’água e espaços naturais — e a redução de gastos com a saúde pública, uma vez que estimulam o uso das bicicletas e, de forma indireta, auxiliam na melhoria da qualidade de vida das pessoas por meio da redução do sedentarismo (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND, 2016). Existem dois tipos principais de ciclovias: as unidirecionais, que fluem em um sentidoúnico, e as bidirecionais, que fluem nos dois sentidos. Na Figura 4, são apresentados os dois tipos. Figura 4. (a) Ciclovia unidirecional; (b) ciclovia bidirecional. Fonte: (A) Ajdin Kamber/Shutterstock.com; (b) yoojiwhan/Shutterstock.com. A B Mobilidade urbana12 Embora as ciclovias sejam de grande importância no sistema cicloviário, nem sempre são as soluções mais adequadas, sobretudo nas grandes cidades, onde não há muitos espaços disponíveis para a construção dessas estruturas. Ao mesmo tempo em que apresentam maiores níveis de segurança para os ciclistas, também têm desvantagens, sendo necessária a implantação de ciclofaixas, que representam uma parte da pista de rolamento destinada à circulação de bicicletas e delimitada por sinalização específica (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND, 2016). A opção pelo uso dessas vias se dá em função de maiores níveis de mobi- lidade. Embora as ciclovias ofereçam maior segurança aos usuários, por outro lado, carecem de conexão com mais pontos na cidade; assim, as ciclofaixas, por compartilharem espaço com as pistas de rolamentos, permitem o acesso a mais pontos, além de exigirem menores intervenções em termos de infraes- trutura. As vantagens das ciclofaixas vão além destas, como a maior rapidez em sua implantação e a baixa interferência nos cruzamentos, o que confere flexibilidade aos acessos (MIRANDA; CITADIN; ALVES, 2009). Uma ciclofaixa unidirecional geralmente consegue ser duas vezes mais barata do que uma ciclovia, em razão do pavimento já consolidado e de outros dispositivos, como a iluminação pública e a drenagem (MIRANDA, CITADIN, ALVES, 2009). Analisando o cenário da malha cicloviária brasileira, São Paulo é a capital com maior extensão de ciclovias e ciclofaixas, com cerca de 681 km. De acordo com o Plano de Metas 2021/2024 da Prefeitura de São Paulo, é prevista a implantação de mais 300 km (SÃO PAULO, 2021). Outras capitais com maior malha no país são Brasília e Rio de Janeiro, com, respectivamente, 465 e 458 km de extensão. As capitais com menor malha são Macapá, São Luís e Porto Velho (VELASCO et al., 2018). Em termos proporcionais, Rio Branco se destaca por possuir cerca de 13,38% de vias destinadas ao uso de bicicletas, além de Vitória, com 10,27%, e Rio de Janeiro, com 6,59%. Apesar de possuir a maior extensão, a malha cicloviária de São Paulo corresponde a apenas 2,93% do total; outras capitais como São Luís, Porto Velho e Manaus também são destaque, com os menores percentuais, respectivamente, 1,24%, 1,10% e 0,85%. Mesmo com os avanços obtidos nas últimas décadas, as cidades brasileiras ainda estão aquém da estrutura cicloviária das cidades europeias, o que evidencia que ainda há um longo caminho a ser traçado para o uso efetivo das bicicletas como um meio de transporte eficiente. Neste capítulo, você teve a oportunidade de estudar os conceitos sobre mobilidade urbana, as principais contribuições de cada modal de transporte ao longo dos anos até os dias atuais, e a relação do desenvolvimento com as condições econômicas da população. Além disso, viu os fundamentos da Mobilidade urbana 13 gestão da mobilidade urbana por meio da Política Nacional de Mobilidade Urbana e do plano de mobilidade urbana. E, por fim, abordamos a importância das bicicletas, ciclovias e ciclofaixas para buscar uma mobilidade mais ágil e sustentável. Referências ARRUDA, A. M.; JACOB, J. B. Percepção das características e condições importantes das ciclovias e ciclofaixas de uma cidade brasileira de porte médio, segundo ciclistas. In: CONGRESSO LATINOAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, 1., 2021, [S. l.]. Anais [...]. Tupã: Associação Amigos da Natureza da Alta Paulista, 2021. p. 150–163. Disponível em: https://www.eventoanap.org.br/data/inscricoes/8246/form4135251831. pdf. Acesso em: 31 out. 2021. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND. Projeto técnico de ciclovias. São Paulo: ABCP, 2016. 15 p. Disponível em: https://abcp.org.br/ciclovias/. Acesso em: 31 out. 2021. AVELAR, F. B. et al. A bicicleta como meio de transporte integrado a estações de metrô: o caso da estação Santa Tereza (Belo Horizonte/MG). In: CONGRESSO DE PESQUISA E ENSINO EM TRANSPORTES, 33., 2019, Balneário Camboriú. Anais […]. Rio de Janeiro: Anpet, 2019. p. 3047–3058. Disponível em: http://www.anpet.org.br/anais/documentos/2019/ Planejamento%20Territorial%20do%20Transporte/Mobilidade%20e%20Acessibili- dade/3_383_AC.pdf. Acesso em: 31 out. 2021. BRASIL. Lei nº 12.587, de 3 de janeiro de 2012. Institui as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana; revoga dispositivos dos Decretos-Leis nºs 3.326, de 3 de junho de 1941, e 5.405, de 13 de abril de 1943, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e das Leis nºs 5.917, de 10 de setembro de 1973, e 6.261, de 14 de novembro de 1975; e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 2012. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12587.htm. Acesso em: 31 out. 2021. BRASIL. Lei nº 14.000, de 19 de maio de 2020. Altera a Lei nº 12.587, de 3 de janeiro de 2012, que institui as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana, para dispor sobre a elaboração do Plano de Mobilidade Urbana pelos Municípios. Brasília: Presidência da República, 2020. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019- 2022/2020/lei/L14000.htm. Acesso em: 31 out. 2021. CAMPOS, V. B. G.; CARDOSO, P. B. Metodologia para planejamento de um de sistema cicloviário. Transportes, Rio de Janeiro, v. 24, n. 4, p. 39–48, 2016. Disponível em: https:// revistatransportes.org.br/anpet/article/view/1158. Acesso em: 31 out. 2021. INSTITUTO DE POLÍTICAS DE TRANSPORTE E DESENVOLVIMENTO. Como maximizar a micromobilidade: oportunidades para integrar a micromobilidade ao transporte público. Rio de Janeiro: ITDP, 2021. 13 p. Rio de Janeiro: ITDP, 2016. 16 p. 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