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A CONTRIBUIÇÃO DA OBRA CRÔNICAS PARA LER NA ESCOLA DE CARLOS HEITOR CONY PARA O DESENVOLVIMENTO DE UMA CONSCIENCIA CRITICA

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1 
 
 
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO – UEMA 
CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE PEDREIRAS – CESP 
CURSO DE LETRAS 
 
 
 
 
 
FRANCIVALDO FEITOSA VALENTIM 
 
 
 
 
 
A CONTRIBUIÇÃO DA OBRA: CRÔNICAS PARA LER NA ESCOLA, DE 
CARLOS HEITOR CONY PARA O DESENVOLVIMENTO DE UMA 
CONSCIÊNCIA CRÍTICA. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pedreiras 
 2012 
 
 
2 
 
FRANCIVALDO FEITOSA VALENTIM 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A CONTRIBUIÇÃO DA OBRA: CRÔNICAS PARA LER NA ESCOLA, DE 
CARLOS HEITOR CONY PARA O DESENVOLVIMENTO DE UMA 
CONSCIÊNCIA CRÍTICA. 
Monografia apresentada à Coordenação do 
Curso de Letras da Universidade Estadual do 
Maranhão – UEMA/ CESPE, como requisito 
para a obtenção do grau de Licenciatura em 
Letras – Habilitação Língua Portuguesa e 
respectivas literaturas. 
 
Orientadora: Prof.ª Esp. Samara 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pedreiras 
2012 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
VALENTIM, Francivaldo Feitosa. 
 
A CONTRIBUIÇÃO DA OBRA: CRÔNICAS PARA LER NA 
ESCOLA, DE CARLOS HEITOR CONY PARA O 
DESENVOLVIMENTO DE UMA CONSCIÊNCIA CRÍTICA. 
Francivaldo Feitosa Valentim. 
Número de pág. da monografia 54 
Monografia. Graduação em Letras Licenciatura Habilitação Língua 
Portuguesa e Respectivas Literaturas – Centro de Estudos Superiores 
de Pedreiras – MA. Pedreiras – MA, 2012. 
 
1. Crônica. Carlos Heitor Cony. Consciência Crítica. Jornalismo. 
Literatura. II Título 
 
 
CDU: 800:396 
4 
 
FRANCIVALDO FEITOSA VALENTIM 
 
A CONTRIBUIÇÃO DA OBRA: CRÔNICAS PARA LER NA ESCOLA, DE 
CARLOS HEITOR CONY PARA O DESENVOLVIMENTO DE UMA 
CONSCIÊNCIA CRÍTICA. 
 
Monografia apresentada à Coordenação do 
Curso de Letras da Universidade Estadual do 
Maranhão – UEMA/ CESPE, como requisito 
para a obtenção do grau de Licenciatura em 
Letras – Habilitação Língua Portuguesa e 
respectivas literaturas. 
 
 
 
Aprovada em _____/______/2012. 
 
 
 
_______________________________________ 
Profª. Esp. Samara 
Orientadora 
 
 
 
________________________________________ 
1º Examinador (a) 
 
 
 
 
________________________________________ 
2º Examinador (a) 
 
 
 
 
 
5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Deus, 
A minha amada, 
A minha família, 
A minha orientadora. 
 
6 
 
AGRADECIMENTOS 
 
A Deus, que sempre foi e será a maior fortaleza da minha vida, 
Ao meu amor, Ana Paula, a quem atribuo meus agradecimentos de modo especial, pois 
ela esteve ao meu lado durante todo este trabalho. 
À minha família, que sempre esteve ao meu lado, em todos os momentos. 
Aos meus queridos professores, que fizeram parte desta caminhada no curso de letra. 
À minha orientadora, professora e amiga, Samara, a quem sempre vou devotar um 
pedacinho da minha lembrança. 
Aos meus colegas de turma que sempre me deram força nos momentos em que a 
vontade de desistir batia à minha porta. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Não dá para viver sem um truque. A noite, enquanto 
espera o sono, esboce novos planos que lhe tragam, se 
não a glória, pelo menos o suficiente para continuar a fazer 
novos planos para um amanhã. Pode ser um amanhã 
simples, modesto, que seja apenas um amanhã.” (Carlos 
Heitor Cony) 
 
8 
 
RESUMO 
 
 
A crônica é um gênero que apresenta dupla filiação, já que possuindo tempo e o espaço 
curtos permitem o tratamento literário a temas jornalísticos, e que possui como 
característica principal a narração de fatos atuais que redigidos de forma pessoal 
compõem artigos em jornais e revistas, o que explica serem consideras textos de uma 
vida útil muito pequena. Existiram, porém, cronistas como Rubem Braga e Drummond 
de Andrade que atribuíram a este gênero tal sensibilidade humana e esmero linguístico e 
literário, que seus escritos foram na mesmice de um jornal que se repete diariamente, o 
novo, o único, o original. Características estas percebidas dentro da produção de Carlos 
Heitor Cony. O autor possui uma literatura vasta que vai além das crônicas, mas nesta é 
que chama mais atenção, pois a usa com tanta eficácia que tem despertado a curiosidade 
de leitores e os levando a meditarem em seus pensamentos. Por tal este trabalho tem 
como objetivo, a partir de ampla pesquisa bibliográfica, analisar de que forma a obra 
Crônicas Para Ler Na Escola, de Carlos Heitor Cony contribui para o desenvolvimento 
de uma consciência crítica. Para isso contextualizar-se-á a crônica não só dentro da 
perspectiva histórico-literária, mas também crítico-social que vai desde a conceituação 
do termo e funções do gênero até a relação autor e leitor dentro da produção cronística. 
Culminando na relação Cony e a tecnologia: uma porta aberta para o pensamento 
crítico, finalizando no pressuposto Lirismo e nostalgia conyniana: uma reflexão sobre o 
ontem e o agora. 
 
 
Palavras-chave: Crônica. Carlos Heitor Cony. Consciência Crítica. Jornalismo. 
Literatura. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
ABSTRACT 
 
 
 
The chronicle is a genre that has dual membership since having time and space allow 
short treatment the literary journalistic themes, and which has as main feature the 
narration of current events that make up a personal written articles in newspapers and 
magazines, which explains they think are texts of a very short lifespan. There were, 
however, as chroniclers Rubem Braga and Drummond de Andrade who attributed this 
genre such human sensitivity and care linguistic and literary, that his writings were in 
the stillness of a newspaper that is repeated daily, the new, the only, the original. 
These perceived characteristics within the production of Carlos Heitor Cony. The 
author has a vast literature that goes beyond chronicles, but this is most striking 
because the uses so effectively that has aroused the curiosity of readers and taking 
them to meditate on your thoughts. For such this paper aims, from broad literature 
search, analyze how the work Chronicles To Read In School, Carlos Heitor Cony 
contributes to the development of a critical consciousness. To contextualize that will 
chronicle not only within the literary-historical perspective, but also critical social-
ranging from conceptualization of the term gender roles and relationship to the author 
and reader in the production cronística. Culminating in relation Cony and technology: 
an open door to critical thinking, ending the assumption Lyricism and nostalgia 
conyniana: a reflection on yesterday and now 
 
 
 
 
Keywords: Chronicle. Carlos Heitor Cony. Critical Consciousness. Journalism. 
Literature. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................... 10 
2 A CRÔNICA: HISTÓRIA E SINGULARIDADES ............................ 13 
2.1 Conceito de Crônica e algumas caracteristicas .................................... 16 
2.2 A crônica e suas classificações ............................................................... 17 
2.2.1 Luís Beltrão .............................................................................................. 
2.2.2 Afrânio Coutinho ...................................................................................... 
2.2.3 Massud Moisés .......................................................................................... 
2.2.4 Antonio Candido ...................................................................................... 
3 CRÔNICA: PARA OS PERÍODICOS OU PARA A 
LITERATURA? ...................................................................................... 
 
22 
3.1 A crônica e a disposiçãoirônica do jornalista ...................................... 23 
3.2 A crônica como gênero literário ............................................................. 28 
3.3 A crônica como expressão da oralidade na escrita ............................... 30 
3.4 A crônica e a formação do juízo público ............................................... 31 
4 O EXERCÍCIO ESCOLAR E A CRÔNICA ........................................ 32 
5 CARLOS HEITOR CONY: VIDA E OBRA......................................... 42 
5.1 As crônicas de Cony e a conversação com o leitor .............................. 43 
6 A CONTRIBUIÇÃO DA OBRA CRÔNICAS PARA LER NA 
ESCOLA, DE CARLOS HEITOR CONY PARA O 
DESENVOLVIMENTO DE UMA CONSCIÊNCIA CRÍTICA ......... 
 
 
48 
6.1 Cony e a tecnologia: uma porta aberta para o pensamento crítico..... 49 
6.2 Lirismo e nostalgia conyniana: uma reflexão sobre o ontem e o 
agora ......................................................................................................... 
 
49 
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................. 49 
 REFERÊNCIAS ....................................................................................... 51 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 Ao folhearmos as páginas de um jornal nos deparamos com a narrativa 
objetiva e imparcial de notícias. A crônica no então aparece como uma forma textual 
que viabiliza uma nova forma de retratar o cotidiano, o habitual, com mais 
impessoalidade e subjetivismo, pois é esta um gênero de interseção entre a literatura e o 
jornalismo. Ligada ao divertimento ou entretenimento, de uma forma geral, a crônica 
começou a firmar-se no Brasil na metade do século XIX e, desde então, transformou-se 
num gênero, para os jornais brasileiros, quase que inevitável e porque não dizer 
obrigatório. Sua história no país se funde com a própria trajetória do jornalismo 
contemporâneo. 
 Com efeito este tipo de narrativa merece um novo olhar, pois, embora desse 
modo, registrar o elemento circunstancial seja seu princípio básico, e por essa 
característica, principalmente, por sua brevidade, a crônica torne-se um gênero peculiar 
para que o leitor possa, ainda que indiretamente, construir sua opinião a respeito dos 
principais temas do noticiário nacional ou internacional. 
Vários dos que escreveram crônica em algum momento buscaram compreende-
la ou discuti-la, o que revela, ao menos, uma certa inquietação com esta modalidade 
discursiva tradicionalmente classificada como menor. Um primeiro exemplo é José de 
Alencar. Mais tarde, Machado de Assis que, dedica-se a discutir o folhetim, termo que 
ele, à moda de Alencar, usa para denominar o que hoje compreendemos como crônica. 
Com o passar do tempo alguns grandes nomes da contemporaneidade relegaram 
um espaço importante de suas publicações a este gênero, tais como Luís Fernando 
Veríssimo e Carlos Heitor Cony. Este último, autor do livro Crônicas Para Ler na 
Escola, objeto e ponto principal de análise e estudo deste trabalho, com vista as 
manifestações do diálogo estabelecido entre escritor e leitor, na formação de um senso 
ou consciência crítica. Pois em termos práticos Cony é um dos nomes mais onipresentes 
na mídia e na literatura brasileiras dos últimos 50 anos. 
Cony possui uma literatura vasta que vai além das crônicas, mas nesta é que 
chama mais atenção, pois a usa com tanta eficácia que tem despertado a curiosidade de 
leitores e os levando a meditarem em seus pensamentos. 
12 
 
 Pois quando se fala da contribuição da literatura para o desenvolvimento da 
visão critica na sociedade a primeira coisa que vem a mente das pessoas são os 
romancistas sobre tudo os dos dois últimos períodos citados no parágrafo anterior, não 
se pensa, por exemplo, no gênero crônica ou em escritores como Cony, que não possui 
seus romances tão difusos nas escolas, é com base nesta verdade que se pretende 
mostrar que os cronistas possui tão relevante papel na sociedade e em seu 
desenvolvimento critico e social quanto os romancistas e por tal escolheu-se para estudo 
a obra e vida de Carlos Heitor Cony. 
 Seu livro, Crônicas Para Ler Na Escola foi publicado em 2009, é constituído 
por 49 narrativas, não está entre um dos seus best-sellers, mas representa uma 
compilação única que de forma singular estar intrinsecamente fundamentada em seu 
rico e extenso legado, engloba ideias simples e ao mesmo tempo complexas 
apresentadas ao leitor como um convite ao questionamento do circunstancial que por 
tantas vezes é fundamental. Embora as crônicas sejam de Cony a compilação e seleção 
das mesmas fora feita por Marisa Lajolo a partir das publicações feitas na Folha desde 
1993. 
 Em virtude dos pressupostos anteriormente mencionados é que o presente 
trabalho estrutura-se partindo da história, conceito e singularidades da crônica, 
prosseguindo pelas discussões da mesma enquanto gênero dentro das particularidades 
jornalísticas e literárias, para então analisarmos a manutenção do diálogo com o leitor e 
o uso da mesma na pratica escolar, e, posteriormente contextualizar os escritos crônicos 
de Cony, bem como a profunda análise da obra Crônicas Para Ler Na Escola, 
objetivando identificar a contribuição da mesma no desenvolvimento de uma 
consciência crítica, conhecedora dos juízos de valor que determinam cada ser. 
Culminando na relação Cony e a tecnologia: uma porta aberta para o pensamento 
crítico, finalizando no pressuposto Lirismo e nostalgia conyniana: uma reflexão sobre o 
ontem e o agora. 
Para isso foi empregado, na metodologia deste trabalho, fundamentalmente, a 
pesquisa, o fichamento, leitura e análises a partir de textos e livros correspondentes a 
temática estuda. 
 
13 
 
2 A CRÔNICA: HISTÓRIA E SINGULARIDADES 
 
A passagem da Idade Média para o Renascimento, ou seja, o Humanismo, possui 
nascimento em Portugal no ano de 1418. Citar este acontecimento faz-se necessário 
quando nos remetemos ao fato de que o Brasil foi colonizado por aquele país. 
 Feito este que também confere importância para o ano de 1418, que segundo as 
autoras Flora Bender e Ilka Laurito (1993, p. 11-12), é a designação de Fernão Lopes 
como guarda-mor da Torre do Tombo, local que funcionava como um arquivo de 
documentos do Reino. Em 1434, o rei D. Duarte elegeu o arquivista Fernão Lopes como 
“cronista-mor do Reino”. Ou seja, encarregaram-no de registrar, oficialmente, as 
façanhas dos antigos reis de Portugal e do, então, atual por meio de textos chamados de 
“caronyca”, isto é, crônica. 
Isso pode-se ver claramente, de acordo com Jorge de Sá, ao tratar da crônica 
como marco do início da literatura brasileira: 
A carta de Pero Vaz de Caminha a el-rei D. Manuel assinala o momento em 
que, pela primeira vez, a paisagem brasileira desperta o entusiasmo de um 
cronista, oferecendo-lhe matéria para o texto que seria considerado a nossa 
certidão de nascimento. Se a carta inaugura o nosso processo literário é 
bastante discutível. (...) Indiscutível, porém, é que o texto de Caminha é 
criação de um cronista no melhor sentido literário do termo, pois ele recria 
com engenho e arte tudo o que ele registra no contato direto com os índios e 
seus costumes naquele instante de confronto entre a cultura européia e a 
cultura primitiva. (SÁ, 1985, p. 5-6). 
Mas, muito tempo antes deste acontecimento já nas civilizações mais antigas e 
conhecidas como o Egito, a Suméria e a Assíria, por exemplo, surge um ser 
interessante: o escriba. Que estava ao encargo do rei, faraó, ou pessoa notável na ordem 
vigente. Fazia o registro de operações de venda e compra uma notificação elementar, 
preparava informações biográficas de ilustres e aristocratas, mas, fundamentalmente, 
seguia seus administrantes nas empreitadas bélicas, fazendo relatos de cada etapa, 
vitória, derrota ou conquista. 
Tais apontamentos seriam lidos, ao regressar das odisséias militares,pelos 
eclesiásticos ou sacerdotes, para encantamento da população que enviara seus filhos ao 
sacrifício pela honra do soberano chefe. Referências essas que podemos encontrar 
também dentro da Bíblia Sagrada: 
14 
 
A fim de que se busque no Livro das Crônicas de seus pais, e nele achará o 
rei e saberá que aquela cidade foi rebelde e danosa ao rei e às províncias e 
que nela tem havido rebeliões, desde os tempos antigos; pelo que foi a cidade 
destruida. (ESDRAS 4:15)
1
 
Em ambas as citações observa-se o emprego do termo a partir de seu carater 
cronológico, na primeira relativo à história de um povo, na segunda os atos do rei é que 
são narrados, principalmente as ações vitoriosas. 
Ora, o restante dos atos de Jeroboão, e tudo quanto fez o seu poder, como 
pelejou e como reconquistou para Israel Damasco e Hamate, que tinham sido 
de Judá, porventura não estão escritos no livro das crônicas de Israel? (II 
REIS 14:28)
2
 
O que mais se acolhe, atualmente, da atividade dos antigos escribas é, 
seguramente, o noticiarista, designado de narrar os acontecimentos do dia-a-dia, para 
jornais, rádios e televisões, sem acrescentar-lhes explanação. 
É de fundamental relevância destacar que, mesmo com o passar do tempo todas 
aquelas cartas contemporâneas à Pero Vaz de Caminha, eram crônicas no sentido 
tradicional do termo, ou seja, relato cronológico, pois narravam o que ocorria no Novo 
Mundo. “A história de nossa literatura se inicia, pois, com a circunstância de um 
descobrimento: oficialmente, a Literatura Brasileira nasceu da crônica.” (SÁ, 1985, p. 
7). 
Outro marco importante para a crônica literária brasileira é o dia 2 de dezembro 
de 1852. Pois foi nesta data que Francisco Otaviano inaugurou o Jornal do Comércio 
do Rio de Janeiro, a seção A Semana, ou seja, os folhetins literários do Romantismo 
(BENDER e LAURITO, 1999, p. 29). Outros estudiosos compartilham e assinalam 
como nascimento da crônica brasileira como folhetim o ano de 1852: 
Bazar asiático, miscelânea de assuntos. Essa foi a definição do folhetim do 
século XIX para o escritor e folhetinista José de Alencar. Folhetim, 
inicialmente, era a denominação de qualquer seção de jornal, na qual 
publicavam-se desde ensaios a críticas literárias. Com o Romantismo, ele 
passou a representar uma fórmula literária presa à massificação da cultura, 
utilizado pela burguesia, classe que também se constituiu como principal 
público consumidor e o utilizava como uma forma de crítica à cultura 
aristocrática. Aparecia no rodapé dos jornais, onde eram publicados artigos, 
críticas literárias ou resenhas. (NEIVA, 2008) 
 
1
 BÍBLIA SAGRADA, traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e atualizada no 
Brasil. 2ª Ed. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil. 
2
 Ibdem. 
15 
 
Ainda reafirmando este mesmo ideário Melo comenta a importância deste 
espaço dentro dos jornais como ponto principal do surgimento da crônica, e da sua 
evolução até chegar ao que conhecemos hoje: 
É exatamente como folhetim que a crônica surge no jornalismo brasileiro. 
Um espaço que os jornais reservam, semanalmente, para o registro do que 
aconteceu no período. Sua redação é confiada a escritores (poetas ou 
ficcionistas). Segundo Afrânio Coutinho, o folhetim começou com Francisco 
Otaviano, em 1852, no Jornal do Comercio do Rio de Janeiro. Ali, ele 
assinava o ‘folhetim semanal’. Seus continuadores são José de Alencar, 
Manuel Antonio de Almeida, Machado de Assis, Raul Pompéia, Coelho 
Neto, etc. (MELO, 1985, p.113-114). 
No mais dentro deste período evolucionário pela qual este gênero passou, é 
importante destacar o desapego do fator cronológico e acrescentamento de suas 
possibilidades literárias, tais como afirma Neiva em seu artigo publicado em 2008: 
À medida que a crônica ganhou o seu espaço no jornal impresso, sobretudo, 
com os textos de Machado de Assis, no século XIX, o fator tempo passou a 
não ser tão fundamental. O aspecto cronológico cedeu caminho às inúmeras 
possibilidades de significados da crônica, à sua abrangência temática e 
linguística. (NEIVA, 2008) 
Com a entrada da Revolução Industrial na imprensa, a “crônica entrou em 
recesso”. Conforme Luiz Beltrão (1980. P.67), essa espécie de “recesso” aconteceu no 
período em que os jornais tornaram-se “big business”, ou seja, deixaram de ser de 
propriedade privada, trocaram o individualismo e tornaram-se grupais, pertencentes a 
alianças econômicos. 
Essa passagem no estilo de conduzir um jornal impresso, torná-lo semelhante a 
uma empresa, e, como o mesmo, profissionalizando-o e ambicionando a aquisição de 
ganhos, comprometeu diretamente as lógicas de produção das notícias e de tudo o que 
nele fosse divulgado. Continuamente o preceito pessoal e intimista dos jornais fora 
perdendo lugar para a objetividade no modo de se divulgar os eventos. 
De acordo com Neiva, a notícia converteu-se em propriedade de consumo e, 
desta forma, designava-se às requisições de seu público consumista. O corpo do jornal 
atravessou diferentes transformações e decompondo-se em seções especializadas 
aludindo, consequentemente, em “inovações na crônica contemporânea”: 
 
16 
 
Nessas condições, podemos observar que as colaborações dos literatos 
passaram a ocupar um espaço separado, pois o jornal não pretendia manter o 
predomínio do caráter literário em suas páginas. Assim, também a crônica 
passou a ter um lugar específico quanto à forma de distribuição das 
informações. O cronista do século XX preocupou-se com o espaço 
jornalístico que o seu texto ocupava (...).(NEIVA, 2008) 
Atualmente, a crônica é envolvente, abrangente, pois abarca lembrança e 
prenúncio, o atual e o decorrido, ficção e contestação, glorificação e reprovação. Fica 
livre dos dominadores, cada vez mais personalizada, pensando muito mais o 
subjetivismo do autor do que a praticidade ou objetivismo dos fatos. No Brasil, esse tipo 
de mistura trouxe grandes personalidades, tais como Viriato Correia, Humberto de 
Campos, João do Rio e, bem mais contemporaneamente, Rubem Braga, Fernando 
Sabino, Rachel de Queiroz, Paulo Francis, Carlos Drummond de Andrade, Otto Lara 
Resende, João Ubaldo Ribeiro, Luís Fernando Veríssimo e Carlos Heitor Cony. E o 
cronista converte-se em observador ocular de si próprio. 
 
2.1 Conceito de crônica e algumas características 
 
Etimologicamente falando o termo “crônica” possui sua fundamentação na 
cronologia, ou seja, referente às questões temporárias restringindo-se à narração de 
acontecimentos, sem o aprofundamento subjetivista e literário dos dias atuais, apenas 
concebida como um gênero histórico. Segundo Massuld Moisés: 
Do grego chronikós, relativo a tempo (chrónos), pelo latim chronica, o 
vocábulo “crônica” designava, no inicio da era cristã, uma lista ou relação de 
acontecimentos ordenados segundo a marcha do tempo, isto é, em seqüência 
cronológica. Situada entre os anais e a história, limitava-se a registrar os 
eventos sem aprofundar-lhes as causas ou tentar interpretá-los. Em tal 
acepção, a crônica atingiu o ápice depois do século XII, graças a Froissart, na 
França, Geoffrey of Monmouth, na Inglaterra, Fernão Lopes, em Portugal, 
Alfinso X, na Espanha, quando se aproximou estreitamente da historiografia, 
não sem ostentar traços de ficção literária. A partir da Renascença, o termo 
‘crônica’ cedeu vez a ‘história’, finalizando, por conseguinte, o seu milenar 
sincretismo. (MOISÉS, 2003, p.101) 
O sentido atualizado de crônica passou a ser aplicado no século XIX, quando tal 
termo revestiu-se de significado estritamente literário. O escritor Massaud Moisés 
esclarece que a larga propagação da imprensa favoreceu a palavra que, então, 
ligeiramente passou a ser uma “narrativa histórica” presente nos jornais impressos. 
http://www.coladaweb.com/literatura/autores/joao-ubaldo-ribeiro
17 
 
É em 1799 que o seu aparecimento ocorre,mercê dos feuilletons dados à 
estampa por Julien-Louis Geofroy no Journal de Débats, que se publicava 
em Paris. Fazendo a crítica diária da atividade dramática, esse professor de 
Retórica na verdade cultivava uma forma ainda embrionária de crônica, 
evidente no fato de reunir os seus artigos em seis volumes, sob o título de 
Cours de Littérature Dramatique (1819-1820). (MOISÉS 1988, p. 245) 
Coutinho (1986, p. 121) adota o mesmo caminho e escreve que a crônica foi 
recebendo aparência semântica distinta, convertendo-se em gênero particular, 
rigorosamente ao jornalismo unido: 
Assim, “crônica” passou a significar outra coisa: um gênero literário de 
prosa, ao qual menos importa o assunto, em geral efêmero, do que as 
qualidades de estilo, a variedade, a finura e argúcia na apreciação, a graça na 
análise de fatos miúdos e sem importância, ou na crítica de pessoas. 
“Crônicas” são pequenas produções em prosa, com essas características, 
aparecidas em jornais ou revistas. A princípio, no século XIX, chamavam-se 
as crônicas “folhetins”, estampados em geral em rodapés dos jornais 
(feuilletons – folhetins). 
Percebe Coutinho (1986, p. 123) que, a significação do expressão crônica 
evolucionou para indicar, atualmente, um “comentário ligeiro ou a divagação pessoal 
feita com bom gosto literário, ligada estreitamente à idéia da imprensa periódica, pois 
nela revela-se o cronista”. O Autor assinala que o caráter da crônica necessita alongar 
para os contornos simples e para o nuance acessível, de conversa e bate-papo. Referente 
à linguagem: 
A crônica deve empregar de preferência a linguagem da atualidade, não 
evitando de maneira sistemática os idiomatismos, epítetos circunstanciais e 
certos jogos de palavras que se formam eventualmente para desaparecer 
algum tempo depois. Sem essa prática, a crônica deixaria de refletir o espírito 
da época, uma vez que a língua corrente constitui a mais viva expressão da 
sociedade humana, no tempo. A linguagem e, mais expressivamente, a gíria 
social, é um tempero importantíssimo na confecção de uma crônica. 
(COUTINHO, 1986, p. 134) 
Observa, Massaud Moisés (1988, p. 255) na precisão e na subjetividade as 
peculiaridades particulares da crônica. Para o ele, a crônica é um escrito pequeno, de 
meia coluna de jornal ou de página de revista, e o que vale ao leitor é a veridicidade 
emotiva do cronista, e não a veracidade de caráter prático, quer dizer, sua forma de ver 
o mundo, pretexto pelo qual o gênero localiza-se no limite da poesia e com o conto. 
A crônica, ainda para o autor (1988, p. 256-257), constrói-se em volta de 
abundantemente pouco ou coisa nenhuma e é através da maneira simples, ágil, verbal e 
poética que se apóia, “cronista sem estilo parece incongruência”. O Moisés marca que o 
18 
 
texto da crônica tem que ser direto, jornalístico, de adjacente apreensão, instintivo, 
provido de todo o arsenal simbólico que as aproxima de obras literárias. 
Assim sendo, a crônica tem sido comumente distinguida pelos estudiosos como 
uma narrativa ou argumentação, pessoal, leve, breve, direta, sem formalidades, 
insinuativa, bem humorada ou irônica, crítica, satírica, emotiva, isto referente à poética, 
ao uso do sentimental, da fantasia e também de temas do dia-a-dia que algumas vezes 
são corriqueiros, banais e até medíocres, com o desígnio claro de envolver o leitor. 
A crônica, normalmente, apresenta quantidade abreviada de personagens ou até 
mesmo nenhum, podendo serem nomeados ou não, os quais são pintados sem maior 
aprofundamento psicológico. 
De norma, a narrativa em primeira pessoa, é uma conversa que se amplia entre o 
cronista e o leitor, pelo qual o primeiro comunica sua visão de mundo ao último, que a 
sorve numa atmosfera de cumplicidade agradável e prazerosa. Beltrão, ao interrogar 
para quem o cronista escreve, termina por delinear uma representação provável daquele 
que recebe a mensagem: 
Às vezes, é fato, a gente escreve para algum amigo; a crônica é uma espécie 
de prolongamento de uma conversa: ou é um recado disfarçado, alguma coisa 
que a gente gostaria de dizer, mas prefere não dizer diretamente. Também 
acontece que, ao escrever, a gente está pensando, por exemplo, naquela 
mulher – que, por sinal, pode muito bem acontecer que não leia a crônica. 
Ou, pior ainda, que a leia, e não goste, ache cacete e nada mais. Nesses casos, 
pode suceder que outra mulher se comova com aquilo que não comoveu a 
destinatária; e uma terceira ache que estamos lhe mandando uma velada 
mensagem. A própria pessoa que escreve nem sempre identifica 
perfeitamente a mulher que o está inspirando; há uma parte de inconsciente 
na escrita, e não foram os surrealistas que inventaram isso. (BELTRÃO, 
1980, p. 71) 
Ainda que muitas vezes, a crônica seja perenizada com a divulgação em obra de 
antologias ou compilações, apresenta a sinal da fugacidade ou efemeridade, razão pela 
qual é em princípio ligada em jornais cotidianos. O que faz Coutinho garantir que: 
Tão característica é a intimidade do gênero com seu veiculo natural que 
muitos críticos se recusam a ver na crônica, a despeito da voga de que 
desfruta, algo durável e permanente, considerando-a uma arte menor. Para 
Tristão de Athayde “uma crônica num livro é como um passarinho afogado”. 
De qualquer modo, aceite-se ou não a permanência da crônica, é certo que ela 
somente será considerada gênero literário quando apresentar qualidade 
literária, libertando-se de sua condição circunstancial pelo estilo e pela 
individualidade do autor. (COUTINHO,1986, p. 123) 
19 
 
Outra característica do conceito de crônica defendido desta vez por José 
Marques de Melo (1985, p.111) refere-se ao juízo do que se seja crônica na 
contemporaneidade para o Jornalismo vernáculo e, em mesmo momento, para o 
internacional. 
Conforme Melo, mesmo atualmente no jornalismo mundial o vocábulo está 
associado à imagem de relato cronológico ao que no Brasil, desigualmente, a crônica 
tem um significado aberto e inconfundível, ou seja, para os brasileiros ela aparece como 
um texto curto, relacionado ao contemporâneo e exposto em jornal ou revista. Para o 
autor exclusivamente no Brasil a crônica tem “a feição de relato poético do real, situado 
na fronteira entre a informação de atualidade e a narração literária”. 
 
2.2 A crônica e suas classificações 
 
Ao analisarmos a diversidade de conceitos quanto ao fato de não encontrarmos 
consenso entre autores sobre o que é crônica, mas um pouco sobre suas particularidades, 
e talvez pelo processo evolutivo ao qual o termo passou através da história, haja então 
dificuldade maior em atribuir-lhe uma classificação definida. 
Por tal, no desenvolvimento deste subtópico levar-se-á em consideração as 
quatro tentativas de colocá-la separada por categorias respectivamente defendidas por 
Luiz Beltrão, que usa critério jornalístico, Afrânio Coutinho toma como base a tipologia 
literária, Massaud Moisés que procura uma correspondência com os gêneros literários e 
Antonio Candido que guia-se pela estrutura da narrativa. 
 Nenhuma delas, porém, será descartada, mas analisada de acordo com a 
perspectiva autoral de cada uma das classificações, sobretudo com relação aos aspectos 
específicos que fundamentem o objeto de estudo deste trabalho. 
2.2.1 Luiz Beltrão 
Luiz Beltrão foi precursor da pesquisa científica sobre os fenômenos 
comunicacionais nas universidades brasileiras, e também fundador do Instituto de 
Ciências da Informação - ICINFORM, primeiro centro acadêmico nacional de estudos 
20 
 
midiáticos, e de Comunicações & Problemas, primeira revista de ciências da 
comunicação na Universidade Católica de Pernambuco, 1963. 
Luis Beltrão (1980, p. 66-67) caracterizou a crônica como “a forma de expressão 
do jornalista/escritor para transmitir ao leitor seu juízo sobre fatos, idéias e estados 
psicológicos pessoais e coletivos. É menos ambiciosa que o artigo e menos rígida,pois 
na exposição e interpretação do tema abordado não se eleva a generalizações teóricas”. 
Conforme o autor, esta forma de texto permanece inteiramente ligado à 
contemporaneidade e desta maneira também todos os gêneros jornalísticos, tendo 
passado por algumas mudanças ao longo de sua história. Para melhor compreende-la, 
ele sugere a separação em dois amplos grupos. Um fazendo referência ao caráter do 
assunto abordado e subdivide-se em geral, local e especializada. 
O segundo referente, ao tratamento atribuído ao tema e possui como subdivisões 
as classes: a Analítica, nesta os fatos são expostos e apresentados de maneira breve e 
objetiva, e, é lógica. A Sentimental, onde o autor apela à sensibilidade do leitor; os fatos 
comovem e influenciam a sensibilidade, já que, ao contrário da analítica, apela ao 
coração e não à inteligência. Utiliza-se de linguagem alegre, com mais qualitativos e 
gerúndios, tem ritmo ágil e discurso muitas vezes poético. 
 E a Satírico-humorística que critica, ironiza, ridiculariza fatos ou pessoas com a 
finalidade de advertir ou entreter o leitor; possui aspecto caricatural, sua abordagem é 
superficial e sua linguagem é repleta de nuances. 
2.2.2 Afrânio Coutinho 
Afrânio Coutinho, estudioso da Literatura no terceiro volume de sua Antalogia 
sobre a Literatura Brasileira, (1983, p. 306) assinala as dificuldades em conceituar a 
crônica, pelo fato de possuir uma natureza ambígua, já que vive presa ao dilema da 
transcendência e do circunstante, que muitas vezes a conduz ao conto, ao ensaio ou ao 
poema em prosa. 
E por sua vez, propõe cinco divisões: a narrativa, a metafísica, a poema-em-
prosa, a comentário e a crônica-informação. E reconhece que a classificação não implica 
21 
 
o reconhecimento de uma separação estanque, já que os tipos se encontram 
constantemente fundidos em diversos textos. Por isso, o autor argumenta: 
Há mesmo, entre os cronistas, os ecléticos, que se deliciam a borboletear em 
torno de diversos assuntos ou temas ou motivos, não se deixando jamais 
prender a nenhum deles permanentemente. É mesmo da própria natureza da 
crônica a flexibilidade, a mobilidade, a irregularidade. 
(COUTINHO,1986, p. 133) 
A crônica narrativa, que vê como representante típico Fernando Sabino, é uma 
estória ou episódio próximo do conto. A crônica metafísica faz reflexões mais ou menos 
filosóficas ou de meditação sobre os acontecimentos ou sobre os homens. Coutinho dá 
como exemplos desse tipo de crônica Machado de Assis e Carlos Drummond de 
Andrade. 
Para crônica poema-em-prosa, que por sua vez, Coutinho menciona como 
representantes Álvaro Moreira, Manuel Bandeira, Ledo Ivo, Eneida e Rachel de 
Queiroz, é a que tem conteúdo lírico e que se dispõe a ser o “mero extravasamento da 
alma do artista ante o espetáculo da vida, das paisagens ou episódios para ele carregados 
de significado. 
Já a crônica-comentário de acontecimentos, que menciona como exemplos de 
cronistas Machado de Assis e José de Alencar, é a que acumula muita coisa diferente ou 
díspar, mantendo, consoante afirma Eugênio Gomes. Por fim, a crônica-informação, que 
se assemelha à anterior, mas é menos pessoal, é a que mais se aproxima do sentido 
etimológico, divulgando fatos e tecendo, sobre eles, ligeiros comentários. 
2.2.3 Massud Moisés 
 Massaud Moisés (1988, p. 250) procura uma correspondência com os gêneros 
literários e propõe apenas dois tipos de crônica: a crônica-poema, que acentua o aspecto 
narrativo, e a crônica-conto, que ressalta o contemplativo. Melo (2003, p. 158/159), ao 
falar sobre a proposição dos tipos de crônica por Massaud Moisés, procura explicitar os 
conceitos: 
Na crônica-poema, “os cronistas chegam a fazer versos na sua prosa emotiva ou 
a lançar mão de uma estrofe para encerrar um texto; ou então, constroem a crônica 
22 
 
totalmente em verso. Carlos Drummond de Andrade recorreu algumas vezes a esse tipo 
de expressão verbal”. 
Na crônica-conto, o acontecimento que chama a atenção do cronista é narrado 
em forma de conto. Melo afirma: “enquanto o primeiro tipo explora a temática do ‘eu’ 
(concentra-se nas emoções do cronista), o segundo tipo gira em torno do ‘não-eu’ (o 
acontecimento de que o cronista é apenas o narrador, o historiador)”. 
2.2.4 Antonio Candido 
Por último, Antonio Candido, mencionado por Melo (2003, p. 159), sugere 
quatro modalidades de crônica, a saber: crônica diálogo, onde o cronista e seu 
interlocutor trocam informações e pontos de vista; crônica narrativa, com certa estrutura 
de ficção e que se aproxima do conto; crônica exposição poética, que divaga livre sobre 
um fato ou personagem, fazendo uma série de associações e; crônica biográfica lírica, 
que narra poeticamente a vida de alguém. 
Quanto à classificação de Crônica feita por Antônio Cândido (1989), José 
Marques de Melo (1985) resume: 
Sem a pretensão de criar categorias, mas tão-somente destacar diferenças 
entre os modernos cronistas brasileiros, Antônio Cândido sugere a seguinte 
classificação: Crônica-diálogo – onde o cronista e seu interlocutor imaginário 
se revezam, intercambiando informações e pontos de vistas; exemplos: 
Gravador (Carlos Drummond de Andrade) e Conversinha mineira (Fernando 
Sabino); Crônica narrativa – tem certa estrutura de ficção, marchando rumo 
ao conto; Crônica exposição poética – divagação livre sobre um fato ou 
personagem; cadeia de associações; Crônica biografia líricanarra 
poeticamente a vida de alguém.”(MELO, 1985, p. 118) 
O cronista Luis Fernando Veríssimo, também mencionado por Melo (2003, p. 
159), oferece uma classificação baseada na qualidade textual: crônica é qualquer uma 
(qualquer crônica); croniqueta é a crônica curta; cronicão é a crônica grande, 
substanciosa, com parágrafos gordos e; grande crônica, o cronicaço, capaz de 
verdadeiramente consagrar seu autor. 
 
 
 
23 
 
3 CRÔNICA: PARA OS PERÍODICOS OU PARA A LITERATURA? 
 
 O fato de possuir esta facilidade de permanência em dois ambientes 
praticamente contrários intriga quando se discute a compreensão da crônica e excita 
tanto estudiosos quanto os próprios cronistas. Sua aparente fugacidade não se confronta 
à matéria jornalística, a divulgação em antologias ou compilações é uma amostra deste 
pressuposto, e sua união com os episódios do dia-a-dia atrapalha, para alguns, a 
categorização enquanto ficção ou arte, de um caráter universal. Híbrida é como muitos a 
designaram e o codinome de gênero menor se eterniza a partir desta superficial 
imprecisão conceitual. 
Os estudiosos da Comunicação discordam a propósito de quando surgiu o 
jornalismo. Uns crêem que sua procedência remonta à pré-história, com as primitivas 
formas de conversação humana, antes ainda do aparecimento da fala. O correto é que, 
reconhece-se que o jornalismo trouxe decisivo valor para a constituição das relações 
culturais, históricas, sociais e políticas. E que com o passar do tempo, em todo seu 
processo evolutivo ganhou, pelo final do sec. XIX mais do que objetividade e 
imparcialidade, mas poucas doses de literariedade impregnada nas colunas ou folhetins 
de autoria dos escritores e romancistas de cada época, isso principalmente em relação ao 
Brasil. 
Conforme Jorge de Sá: 
Ela decorre do fato de que a crônica surge primeiro no jornal, herdando a sua 
precariedade, esse seu lado efêmero de quem nasce no começo de uma leitura 
e morre antes que se acabe o dia, no instante em que o leitor transforma as 
páginas em papel de embrulho, ou guarda os recortes que mais lhe interessam 
num arquivo pessoal. O jornal, portanto, nasce, envelhece e morre a cada 24 
horas. (SÁ, 2005, p.10) 
Valentim Faccioli também acentua que no Brasil, nesse século, a crônica nasce 
da prática da escritura cotidiana, com o surgimento dos primeiros jornais e revistas: 
“Depois de 1860 passa a existir um número proporcionalmente grande de jornalistas e 
escritores que praticam a crônicamoderna e lhe dão dignidade de gênero literário” 
(FACCIOLI, 1982). 
24 
 
O jornalista que emerge deste contexto, a partir do aparecimento da reportagem, 
sente a precisão de apurar o fruto do seu trabalho, pelo que dar início à inspiração na 
literatura para aprimorar suas narrativas sobre o verdadeiro. Aí contém o princípio do 
entrelaçamento do jornalismo com a literatura. Felipe Pena descreve que: 
Publicar narrativas literárias em jornais proporcionava um significativo 
aumento nas vendas e possibilitava uma diminuição nos preços, o que 
aumentava o numero de leitores e assim por diante. (...) para os escritores 
também era um ótimo negócio. Não só porque recebiam em dia dos novos 
patrões, mas também pela visibilidade que ganhavam a partir da divulgação 
de suas histórias e de seus nomes. (PENA, 2006, p. 29) 
Por outro lado, nesse mesmo período, muitos autores de consideração e renome 
envolvem-se com os jornais, que lhes acendem novas conveniências de ganhar dinheiro 
e popularidade, complicados de conseguir com a divulgação de livros. Eles passam a 
trabalhar na imprensa e nela procuram, até mesmo, aperfeiçoar suas técnicas literárias. 
Edvaldo Pereira Lima refere-se a essa nova realidade dos jornais: 
Na verdade, a literatura e a imprensa confundem-se até os primeiros anos do 
século XX. Muitos dos jornais abrem espaço para a arte literária, produzem 
seus folhetins, publicam suplementos literários. É como se o veículo 
jornalístico se transformasse numa indústria periodizadora da literatura da 
época. Esse aspecto divulgador, oportunidade inovadora de chegar à 
coletividade, é o fator que atrai os escritores e ao mesmo tempo inaugura o 
tradicional debate em torno do “vampirismo” que o exercício da profissão de 
jornalista exerce sobre os ficcionistas (...). (LIMA, 2009, p. 174) 
É extremamente ética a leitura de mundo proporcionada por aquele que produz 
uma crônica, na medida em que deixa presente, muitas vezes pelo próprio ambiente 
designado ao texto na diagramação do jornal, por exemplo, ao leitor de que aquele texto 
é de autoria própria, e está sujeito ao julgamento e ao juízo de valor. 
Quanto ao caráter literário Jorge de Sá comenta sobre os aspectos reflexivos que 
norteiam o lirismo que muitas vezes reflete as entrelinhas da crônica: 
Com o seu toque de lirismo reflexivo, o cronista capta esse instante 
brevíssimo que também faz parte da condição humana e lhe confere (ou lhe 
devolve) a dignidade de um núcleo estruturante de outros núcleos, 
transformando a simples situação no diálogo sobre a complexidade das 
nossas dores e alegrias. Somente nesse sentido crítico é que nos interessa o 
lado circunstancial da vida. E da literatura também. (SÁ, 2005, p. 11) 
 
25 
 
Afrânio Coutinho (2003, p. 133) alega que é mesmo da própria natureza da 
crônica a flexibilidade, a mobilidade, a irregularidade. Ressaltamos que a crônica é um 
gênero que estar “entre” entre o jornalismo e a literatura, ente o sentido original de sua 
etimologia e o próprio conto. E verdadeiramente cremos que esse gênero se aspira entre, 
contudo, sucessivamente no meio de amigos, podendo, deste modo, conservar sua 
particularidade ascendente: a naturalidade, a informalidade. 
Em seu livro intitulado Crônica, Ferreira Gullar, demonstra como os cronistas 
adicionam à prosa do dia-a-dia o sentimentalismo, o humor, o drama, os dados 
ficcionais. Evidencia que, por ser esse gênero entre, a crônica, comumente, deixa uma 
fenda, que não empobrece o artifício de cronicar, ou seja, tornando presumível o deleite 
de quem almeja andar pelo trançar narrativo e poético dessa forma de texto. E por tal 
acrescenta Gullar: 
Mas a janela está aberta e o dia balança suas folhas e suas toalhas nesta 
manhã de Ipanema. Rubem Braga meteu na crônica as flores, as borboletas e, 
mais recentemente, um pavão. Bandeira e Drummond, uma ironia fina, alegre 
e triste, enquanto Fernando Sabino a tornou veloz e estonteante, cheia de 
casos, tudo com um delicioso ar de mentira. São mestres, como outros, e os 
campeões da crase quando erram ditam lei. Quer dizer, não erram. Tudo o 
que o velho Braga escreve é crônica! Fico bobo de ver. E os outros também: 
no barbeiro, na praia, na própria Câmara Federal, descobrem assunto, coisas 
que a gente lê como se comesse. (GULLAR, 2004, p. 15) 
A Crônica é Jornalismo e Literatura. Sue caráter híbrido prevalece nesta 
concepção. É jornalística quando procura no dia-a-dia os episódios da vida real que são 
apregoados e é literária quando se consente aproveitar subsídios literários, como por 
exemplo, a criação de personagens, elocução solta e coloquial, entre outros elementos 
para construí-la. 
 
3.1 A crônica e a disposição irônica do jornalista 
 
O sarcasmo pode ser tido como um início construtivo de certa fala, ou mesmo 
um meio de distinguir o jeito e o modo de ver o mundo de um escritor. Conforme 
Bakhtin (1981), a ironia é entendida como um evento peculiar de discurso bivocal, já 
que nesse discurso o vocábulo tem duplo significado. Na realidade, a importância 
26 
 
instituída ao discurso de um outro sugere o reconhecimento da segunda situação como 
passagem para compreender o significado da ironia. 
Compete assinalar que no discurso irônico, o enunciador emprega a linguagem 
do outro, entretanto reveste-a de direção contrária à do outro. Seria uma forma de uso 
dúbio do discurso do outro. Segundo Bakhtin (1981, p. 168): 
A segunda voz, uma vez instalada no discurso do outro, entra em hostilidade 
com o seu agente primitivo e o obriga a servir a fins diametralmente opostos. 
O seu discurso se converte em palco de luta entre duas vozes. 
Podemos perceber o discurso irônico, ou seja, a integração de enunciação do 
autor anexa à unidade de enunciação do outro, conforme Castro (1997, p. 130), “como o 
resultado de uma operação dedutiva de contradição ou contrariedade em que se recupera 
o elemento pressuposto como a verdadeira expressão da significação”. 
Em alguma das crônicas analisadas, a ironia é instaurada por meio de seleção 
lexical própria de outro campo de atividades ou do conhecimento, como por exemplo 
em: 
A humanidade ficará devendo a Internet muito mais do que pensa a vã 
filosofia dos internautas de todos os tamanhos e feitos. (...) o importante é 
que, após duas gerações inarticuladas, limitadas ao “oi”, ao “legal”, ao “tô 
ai”, todos estão preocupados em dizer alguma coisa, em entender mais, em 
ser mais. (CONY, 2009, p. 139) 
Nesse trecho o autor o situação de uma frase famosa para ironizar o pensamento 
do que eles os enunciados teriam a contribuir ao concluir o pensamento com os termos 
“oi, legal e tô ai” colocados em destaque. Por se falar dos meios eletrônicos de 
comunicação em especial a internet, sobressaem-se os termos próprios da linguagem 
daqueles que normalmente fazem uso constate desta ferramenta, onde não há uma 
preocupação gramatical com a forma de comunicar-se. 
Em outras crônicas, o enunciador cria uma relação de intertextualidade, usando 
provérbios ou versos, mas empregando contradição ou contrariedade em que se 
recupera, conforme já dito anteriormente, o elemento pressuposto como a verdadeira 
expressão da significação. 
. 
27 
 
Depois ler uma crônica carregada deste traço peculiar, o leitor observa que o 
enunciador não usa apenas os recursos de oralidade para dirigir a palavra ao seu 
interlocutor; entretanto, por meio desse recurso, o autor consegue criar um texto 
bastante significativo e representativo do momento em que vivemos. O grande prestígio 
da crônica é, segundo Antonio Candido, o rompimento de elementos artificiais e da 
aproximação com o traço “mais natural do modo de ser de nosso tempo”. 
 
3.2 A crônica como gênero literário 
Na visão de Sá (1987, p. 10), a crônica, assim como o jornal, nasce, cresce, 
envelhece e morre em vinte e quatro horas. Essa veia jornalística imprimi-lhe 
fugacidade e um traço popular quese opõem ao caráter eterno e elitista do gênero 
literário. Talvez por essas características a crítica, em geral, a considere um gênero 
menor. 
Ainda segundo o autor, no Brasil a crônica surgiu com Pero Vaz de Caminha, na 
medida em que ele retratou ao rei de modo subjetivo como era a terra recém descoberta, 
os índios, seus costumes, naquele momento de confronto entre a cultura européia e a 
cultura primitiva, apresentando uma visão mais semelhante a de um cronista do que de 
um historiador. A partir de Caminha, o registro do elemento circunstancial passa a ser o 
princípio básico da crônica. 
No pé de página da folha de jornal, a crônica era o folhetim, conforme revela Sá 
(op.cit, p.8), ou seja, “uma seção quase que informativa”, na qual se publicavam 
“pequenos contos, pequenos artigos, ensaios breves, poemas em prosa, tudo, enfim que 
pudesse informar os leitores sobre os acontecimentos daquele dia ou daquela semana”. 
Alguns cronistas impuseram ao texto uma sintaxe nova que alterou a estrutura 
do folhetim, dando-lhe uma roupagem mais literária, na medida em que desvendava o 
real a partir de uma perspectiva subjetiva do fato com a qual o recriava. Aos poucos o 
folhetim foi encurtando e ganhando certos traços de algo que é escrito à toa, sem 
receber muita importância. Depois, recebeu um tom mais ligeiro e encurtou de tamanho, 
até chegar ao modelo de hoje. 
28 
 
Segundo Antonio Candido (1980, p. 5), não se imagina uma literatura formada 
de grandes cronistas e acrescenta: 
a crônica não é um ‘gênero maior’ (...) ‘Graças a Deus’, - seria o caso de 
dizer, porque sendo assim ela fica perto de nós. E para muitos pode servir de 
caminho não apenas para a vida, que ela serve de perto, mas para a literatura 
(...). Por meio dos assuntos, da composição aparentemente solta, do ar de 
coisa sem necessidade que costuma assumir, ela se ajusta à sensibilidade de 
todo o dia.. Principalmente porque elabora uma linguagem que fala de perto 
ao nosso modo de ser mais natural 
É esse traço de naturalidade no trabalho com a linguagem que faz da crônica nos 
dias atuais um gênero textual atrativo e interessante para o início da prática escolar, 
visto que por meio de uma linguagem simples trata dos fatos cotidianos, auxiliando no 
estabelecimento da dimensão das coisas e das pessoas, algumas vezes, com um viés 
humorístico, outras, com lirismo e singularidade. 
Graças a essa simplicidade e despretensão, a crônica consegue ser insinuante e 
reveladora. Assim, acaba como que transformando, segundo Candido, “a literatura em 
algo íntimo com relação à vida de cada um, e quando passa do jornal ao livro, nós 
verificamos meio espantados que a sua durabilidade pode ser maior do que ela própria 
pensava” (p.6). 
A crônica pode tratar de qualquer tema, aleatoriamente escolhido por seu autor, 
tal escolha pode transportá-lo da realidade vivida para a realidade enunciada. Na visão 
de Marchezan (1989, p. 94), até mesmo a falta de um assunto específico pode ser 
discursivizada., basta que o cronista assim deseje e tenha talento para fazê-lo. Embora 
aleatórios e assistemáticos, os temas são recorrentes porque repetem o cotidiano, o banal 
e, por meio dessa repetição, explicitam a própria essência estilística da crônica. 
Reflexão do cotidiano revivido estilisticamente, a crônica pode, como diz 
Martins (1984, p. 74): 
Guardar-se em livro, mesmo feita para o jornal. Apresentar-se como 
coloquial e até popular, e ser mesmo artística sem perder a naturalidade. Ser 
o oral no escrito. O diálogo no monólogo. Fazer do leitor, ator. Encerrar uma 
sábia lição, sem desviar-se do comum. Pode fazer pensar, em tom de 
brincadeira Pode valer para sempre, embora nascida do agora. Pode restar 
eterna, ainda que circunstancial. Ser brasileira, sem deixar de existir fora. 
Pode ser um texto de classe e permanecer como antologia. Pode fazer-se 
poesia e estar escrita em prosa. Avizinhar-se do conto, sem deixar de ser 
crônica. Pode até ser tema de tese, sem perder o popular. 
29 
 
Todas essas características dão à crônica o caráter diário que a coloca na 
intersecção entre o texto jornalístico e o literário, permitindo que o professor de língua 
materna possa aproveitá-la como um gênero acessível ao trabalho sobre organização e 
produção textual nas aulas de ensino médio. 
3.3 A crônica como expressão da oralidade na escrita 
A boa consideração da crônica é, conforme Antonio Candido (1992, p. 35), um 
sinal do procedimento de procura do aparecimento da oralidade na escrita, ou melhor, 
da separação de subsídios sofisticados e do ajuntamento com a descrição “mais natural 
do modo de ser de nosso tempo”. Sá assim também se refere ao tratar da forma simples 
em que a linguagem é apresentada dentro da crônica: 
O coloquialismo, portanto, deixa de ser a transcrição exata de uma frase 
ouvida na rua, para ser a elaboração de um diálogo entre o cronista e o leitor, 
a partir do qual a aparência simplória ganha sua dimensão exata. (SÁ, 1992, 
p.10) 
Inúmeras crônicas apresentam uma particularidade bastante trivial: deixam de 
ser uma explanação expositiva ou argumentativa e transformam-se em conversa que a 
primeira vista parece fiada, propondo colocar de lado a importância dos problemas. No 
entanto, penetram de maneira intensa na significação das ações e emoções humanas e 
constituem uma análise social. 
Com o intuito de explicitar os mecanismos que simulam a oralidade no texto 
escrito, busca-se por meio da crônica identificar atos de fala e sua manifestação, 
evidenciando situações mais próximas da realidade. Conforme tal pressuposto aponta 
Jorge de Sá: 
A pressa de escrever, junta-se a de viver. Os acontecimentos são 
extremamente rápidos, e o cronista precisa de um ritmo ágil para poder 
acompanhá-los. Por isso a sua sintaxe lembra alguma coisa desestruturada, 
solta, mais próxima da conversa entre dois amigos do que propriamente do 
texto escrito. Dessa forma, há uma proximidade maior entre as normas da 
língua escrita e da oralidade, sem que o narrador caia no equívoco de compor 
frases frouxas, sem a magicidade da elaboração, pois ele não perde de vista o 
fato de que o real não é meramente copiado, mas recriado. (SÁ, 2005, p.10) 
A crônica pode tratar de qualquer tema, aleatoriamente escolhido por seu autor, 
tal escolha pode transportá-lo da realidade vivida para a realidade enunciada. Na visão 
de Marchezan (1989, p. 94), até mesmo a falta de um assunto específico pode ser 
30 
 
discursivizada, basta que o cronista assim deseje e tenha talento para fazê-lo. Embora 
aleatórios e assistemáticos, os temas são recorrentes porque repetem o cotidiano, o banal 
e, por meio dessa repetição, explicitam a própria essência estilística da crônica. 
Todas essas características dão à crônica o caráter diário que a coloca na 
intersecção entre o texto jornalístico e o literário, permitindo que o leitor possa 
estabelecer um diálogo já que o texto é um gênero acessível e ainda podemos observar a 
organização e produção de sentido. 
O cronista busca criar um estilo simples, divertido e breve, mas não deixa de 
discutir os problemas sociais ou as fraquezas do homem. Na verdade, pode-se aprender 
muita coisa quando se diverte e os traços constitutivos da crônica são, segundo Candido 
(1992, p.38), um meio privilegiado de apresentar ao leitor de modo persuasivo muitos 
temas que divertem, atraem, inspiram e fazem o indivíduo amadurecer a sua visão de 
mundo. 
 
3.4 A crônica e a formação do juízo público 
 Toda a literatura brasileira desde o realismo aos dias atuais tem voltado seus 
esforços na intenção de alcançar a opinião pública, expressar a visão do autor que por 
vezes é traduzida de maneira indignada, mas com o objetivo único de despertar no ser 
social ou leitor a mesma ou pelo menos parte da indignação que há em si, este 
fenômeno ocorre ate mesmo na literatura infantil onde tais autores atendo-se de 
metáforas procurampassar para crianças verdadeiras lições de vida que segundo eles 
irão ser de grande ajuda quando na condição de adultos. O papel de o grande 
informante, no entanto, é nos dias atuais dos jornais, revistas e seus colaboradores. 
É incorreto dizer que os jornais somente reforçam opiniões já existentes. Em 
alguns sentidos e em casos específicos eles exercem uma ação condutora. Segundo 
Glotz e Langenbucher (apud Marcondes Filho, p. 21), “os leitores são relativamente 
fáceis de serem influenciados, em sua formação de opinião, por ‘fatos’ aparentemente 
irrefutáveis em áreas que eles têm pouco conhecimento prévio e poucas possibilidades 
de submetê-los à prova”. Nessa perspectiva, pode-se dizer que o jornal constrói e 
31 
 
reconstrói a cada dia a formação de opinião adaptadas às suas argumentações, ainda que 
estas sejam particularizantes e representativas de uma classe ou ideologia. 
 Os jornais efetivamente colaboram com a formação da opinião pública isto 
porque colocam os fatos à disposição das pessoas, no entanto este fenômeno acontece 
de maneira direta, ou seja, a notícia é simplesmente passada para o espectador como ela 
realmente aconteceu e sem um enriquecimento de detalhes ou criticas que possam 
favorecer a partes envolvidas nos ocorridos, a crônica, porém, sobretudo à de Cony por 
ser um misto de literatura e jornalismo não esta fadada a transmitir os fatos como uma 
narrativa pobre de incrementos literário e críticos, é noticia, é literatura, e nisso consite 
sua beleza. Na opinião de Marcondes Filho, torna-se notícia aquilo que é considerado 
“anormal”: 
Mas cuja anormalidade interessa aos jornais como porta-vozes de correntes 
políticas. Uma embriaguês qualquer não é notícia; ela o será se mexer com 
personagens que desagradam essas correntes ou que representam poderes que 
o jornal pretende combater. O jornal, assim, arranja acomoda o extraordinário 
na sua argumentação diária contra setores ou grupos sociais. (p. 13) 
Na visão de Marcondes a anormalidade da noticia encanta e faz parte do 
processo de seleção do conteúdo jornalístico, sendo a crônica um gênero intermediário é 
possível dizer que esta nem pode estar completamente sujeita às exigências das típicas 
noticias de jornais e tampouco pode render-se à abertura da literatura como arte e 
possuidora da licença poética, mas visa estreitar a relação entre autor e leitor, pois na 
leitura de uma única crônica o leitor pode fascinar-se com esplendor literário, com 
deleitar-se na literatura, e mergulhar fundo no mundo das opiniões. 
Muitas crônicas apresentam uma característica bastante comum: deixam de ser 
um comentário expositivo ou argumentativo e tornam-se conversa aparentemente fiada, 
parecendo por de lado a seriedade dos problemas. Entretanto, entram de modo profundo 
no significado dos atos e sentimentos humanos e estabelecem uma crítica social, a partir 
de um diálogo com o leitor. 
No que diz respeito à crônica de Cony, sua meta é estabelecer um diálogo com o 
leitor, comentando suas idéias e reflexões sobre o cotidiano, os fatos que lhe trazem 
angústia, preocupação ou incomodo. O leitor do jornal Folha de S. Paulo já conhece sua 
editoração e, assim, sabe que na segunda página do primeiro caderno encontrará o 
editorial, artigos e a crônica de Carlos Heitor Cony. Desse modo, o leitor que se propõe 
32 
 
a ler o texto de Cony, já ativa seu conhecimento textual ao definir o texto em questão 
como pertencente ao gênero crônica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
 
4 O EXERCÍCIO ESCOLAR E A CRÔNICA 
É unânime para o docente de língua portuguesa e literatura, que incentivar o 
interesse dos alunos para a leitura não é uma tarefa fácil, tendo em vista o crescente 
apelo dos meios de comunicação, tal tarefa torna-se um desafio. Entretanto, não se trata 
de simplesmente concorrer com os meios de comunicação social, mas de empregar o 
que eles possuem de melhor para a educação. É nessa conjuntura que a crônica está 
introduzida, pois ao combinar literatura e jornal, concerne a esse meio, compete-nos 
encontrar o modo de se trabalhar o estímulo à leitura na formação da crítica social. 
Algumas das informações referentes à crônica, pressupostamente analisadas, são 
subsídios que nos levam a compreender o emprego do gênero dentro do ensino. O 
primeiro ponto a ser destacado é a disposição da crônica de aproximar-se do leitor, já 
que sai do formal e imparcial de forma a trazer ao leitor leveza e simplicidade. 
Antonio Candido elucida que a “magnitude do assunto e a pompa da linguagem 
podem atuar como disfarce da realidade e mesmo da verdade” (1993, p. 24), onde a 
decorrência é evitar uma leitura mais profunda a respeito do assunto acometido, mas a 
crônica não proporciona essa dificuldade, pois seus temas são cogitados a partir de um 
palavreado simples, que é apto para auxiliar a “estabelecer ou restabelecer a dimensão 
das coisas e das pessoas”. Desse modo, a crônica possui sua contribuição ao passo que 
leva o aluno a uma relação mais direta com a veracidade. 
É curioso como elas mantêm o ar despreocupado, de quem está falando 
coisas sem maior consequência; e, no entanto, não apenas entram fundo no 
significado dos atos e sentimentos do homem, mas podem levar longe a 
crítica social (CANDIDO, 1993, p. 26). 
O objetivo neste ponto não é menosprezar este ou aquele gênero, ou achar que os 
outros sejam impossibilitados de causar reflexão, o objetivo neste tópico é de apenas 
abrir um parênteses ao expor as vantagens da utilização da crônica em sala de aula, já 
que é por meio da educação que formamos cidadãos pensantes e atuantes dentro da 
sociedade, por tal julga-se necessário enfatizar a riquíssima contribuição deste gênero 
que é capaz de unir meios tão importantes, como o jornal e a literatura, como ferramenta 
de incentivo ao desenvolvimento do aprendizado dentro e fora da escola. 
34 
 
Mais uma disposição assinalada por Candido (1993, p. 25) é a humanização, a 
qual pode ser identificada na quebra do monumental e no coloquialismo presente nas 
crônicas. É possível observar na crônica, riscos da oralidade dentro da escrita, de modo 
que os alunos terão a possibilidade de descobrir no lugar de um rebuscamento 
exagerado, um texto com “tom de conversa entre velhos amigos”. Assim, entendemos 
que a crônica contribui não só pela aproximação entre texto e leitor, mas também para a 
construção de um trabalho com a oralidade em equilíbrio com a escrita, orientação 
explícita nos PCNLP. 
Esse pressuposto básico da educação também pode ser evidenciado nos 
Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio, e no quanto a crônica pode 
preencher os requisitos fundamentais no alcance desses objetivos, por ser um texto que 
nos possibilita uma maior correspondência com a realidade, com os fatos cotidianos: 
Com essa leitura, a formação básica a ser buscada no Ensino Médio se 
realizar-se-á mais pela constituição de competências, habilidades e 
disposições de condutas do que pela quantidade de informação. Aprender a 
aprender e a pensar, a relacionar o conhecimento com dados da experiência 
cotidiana, a dar significado ao aprendido e a captar o significado do mundo, a 
fazer a ponte entre teoria e prática, a fundamentar a crítica, a argumentar com 
base em fatos, a lidar com o sentimento que a aprendizagem desperta. 
(PCNEM, 2000, p. 74) 
Referindo-se ainda a essa aproximação entre a crônica e seus leitores, 
enfatizamos o dialogismo mencionado por Jorge de Sá (1987, p. 11) esse diálogo entre 
cronista e leitor se dá a partir de um coloquialismo, na verdade, ocorre um equilíbrio 
entre o coloquial e o literário, permitindo que o lado espontâneo e sensível da crônica se 
mantenha como “elemento provocador” de outras visões do tema tratado no texto, ou 
seja, a crônica permite a construção de diferentes sentidos na leitura dos alunos 
(ORLANDI, 2000). 
Há ainda nessa relação o que oJorge de Sá (1987, 11) chama de lirismo 
reflexivo: a crônica expõe pensamentos profundos a partir de um fato, sem abandonar o 
encanto da literatura. Também por estar próxima do cotidiano, a crônica pode ajudar até 
mesmo na construção da identidade do aluno, uma vez que conhecerá e refletirá sobre 
fatos do seu cotidiano. “Daí a importância do instante, porque é o flash do momento 
presente que nos projeta em diferentes direções, todas elas basicamente voltadas para a 
elaboração da nossa identidade.” (SÁ, 1987, p. 15). 
35 
 
Um seguinte fator e do mesmo modo já explanado: o humor. Esse recurso quase 
sempre utilizado pelos cronistas para dar ao texto mais leveza, um tom de simplicidade 
e para enfim, divertir. Conforme Candido, os professores muitas vezes procuram 
“incutir nos alunos uma ideia falsa de seriedade” (1993, p. 27), como se os temas sérios 
só devessem ser abordados de um jeito grave, como se leveza fosse algo ilusório, ou 
seja, não se leva em conta o princípio da crônica de produzir reflexão por meio de um 
“ar de bate-papo sem compromisso”. 
Compreende-se por tanto que a crônica é capaz de instruir e de, por meio do 
entretenimento, “inspirar, atrair e fazer amadurecer a visão das coisas.” O próprio 
Candido reconhece o quão significativa é a leitura de crônicas com os alunos: 
Quando vejo que os professores de agora fazem os alunos lerem cada vez 
mais as crônicas, fico pensando nas leituras de meu tempo de secundário. 
Fico comparando e vendo a importância deste agente de uma visão mais 
moderna na sua simplicidade reveladora e penetrante. (CANDIDO, 1993, p. 
25). 
O trabalho com a crônica, portanto, tanto no contexto do jornal como no do livro 
é capaz de cumprir um dos principais objetivos do ensino: produzir leitura crítica, 
madura, consciente, e numa atmosfera prazerosa, leve. 
Além das contribuições descritas, podemos apontar ainda outra que, de maneira 
geral, efetiva-se a partir desse tipo de proposta pedagógica: os gêneros textuais. 
Organizar atividades que envolvam crônicas significa inserir mais um gênero textual ao 
currículo, gênero este que se diferencia dos “gêneros maiores”, geralmente os únicos 
explorados, tal atitude cumpre, mais uma vez com a orientação dos PCNs que é 
evidenciada desde 1998: 
Um leitor competente só pode construir-se mediante uma prática constante de 
leitura de textos de fato, a partir de um trabalho que deve se organizar em 
torno da diversidade de textos que circulam socialmente. [...] Eis a primeira e 
talvez a mais importante estratégia didática para a prática de leitura: o 
trabalho com a diversidade textual. Sem ela pode-se até ensinar a ler, mas 
certamente não se formarão leitores competentes. (PCN, 1998, p. 94-95). 
Santos e Souza (2007), em seu artigo A crônica literária na sala de aula: um 
incentivo à leitura, explica que no ensino tradicional são apresentados aos alunos 
fragmentos de obras incapazes de motivá-los a refletir a respeito do que leem, são textos 
descontextualizados, que vistos apenas dentro de aspectos gramaticais, não contribuem 
36 
 
de maneira satisfatória para o desenvolvimento crítico e intelectual dos alunos. Em 
outras palavras, ressalvamos aqui o dado de que trabalhar com textos literários e, no 
caso, o gênero crônica representa um risco na medida em que pode ser reduzido a mero 
instrumento de tópicos de gramática ou sintaxe. 
Trata-se, portanto, de uma questão de ordem metodológica que não pode ser 
descartada. Reduzir literatura a ferramenta é atrelá-la única e exclusivamente a um 
didatismo eventual. A crônica é um gênero riquíssimo que trata de temáticas atuais, 
envolve personagens comuns, traz à tona o anônimo e promove, pela coloquialidade da 
linguagem e teor projetivo e atual do seu foco, a identificação quase imediata do leitor 
com o texto. 
No mais, um trabalho com a crônica pode ser um caminho para o estímulo à 
produção textual, ensinar os alunos o que é uma crônica, quais são os traços desse 
gênero textual e instigá-los à leitura do mesmo é apenas o primeiro passo para levá-los a 
escrever sobre os fatos de seu cotidiano e a refletir sobre eles. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37 
 
5 CARLOS HEITOR CONY: VIDA E OBRA 
Filho de Ernesto Cony Filho, jornalista, e de Julieta de Moraes, Carlos Heitor 
Cony nasceu no dia 14 de março de 1926 na cidade do Rio de Janeiro, no bairro de Lins 
de Vasconcelos, zona norte da cidade. Foi o terceiro dos quatro filhos do casal: Giovane 
Alceste (falecido em 1920), José Heitor, Cony e José Carlos. 
Quatro anos depois muda-se para a cidade vizinha de Niterói - RJ, onde residiria 
por dois anos. Tido como mudo pela família, somente aos cinco anos pronuncia suas 
primeiras palavras. O fato ocorreu em virtude de um susto que levou com o barulho de 
um hidroavião que realizou um vôo rasante na praia de Icaraí, naquela cidade. Para 
evitar maiores constrangimentos ao menino, sua família decide educá-lo em casa. 
Aos dezoito anos manifesta o desejo de tornar-se padre. Seu pai o prepara para o 
exame de admissão e, após aprovado, ingressa no Seminário Arquidiocesano de São 
José, em Rio Comprido - RJ, no dia 3 de março de 1938. Livra-se definitivamente de 
seu problema da fala, em 1941, após uma operação realizada pelo médico Pedro Ernesto 
do Rego Batista, ex-prefeito do Rio de Janeiro. 
Deixa o seminário em outubro de 1945 e ingressa, no ano seguinte, na Faculdade 
Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de 
Janeiro (UFRJ), que abandona pouco depois. No ano seguinte entra para o Curso de 
Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR), na arma de Infantaria, de onde sairia dois 
anos depois. 
Em 1949 casa-se com Maria Zélia Machado Velho, mãe de suas duas filhas: 
Regina Celi (1951) e Maria Verônica (1954). Esta é a primeira das seis uniões conjugais 
de Cony. Começa a trabalhar como redator na Rádio Jornal do Brasil, em 1952. 
Influenciado por Jean Paul Sartre, filósofo e autor francês, escreve "O Ventre". 
Em 1956 concorre ao Prêmio Manuel Antônio de Almeida (Romance), promovido pela 
Prefeitura do Rio de Janeiro. Austregésilo de Athayde, Celso Kelly e Manuel Bandeira, 
que compuseram a comissão julgadora, foram unânimes em dizer que o romance era 
"muito bom", mas não poderiam premiá-lo por se tratar de uma obra forte demais para 
vencer um concurso oficial. 
38 
 
No ano seguinte, irritado com a atitude da comissão julgadora, inscreve-se 
novamente com o romance "A verdade de cada dia", escrito em apenas nove dias. Ao 
trabalho, analisado por Carlos Drummond de Andrade e Austregésilo de Athayde, é 
outorgado o Prêmio Manuel Antônio de Almeida. A Editora Civilização Brasileira, de 
propriedade de Ênio Silveira, publica "O Ventre". Firma, nessa ocasião, contrato com o 
escritor para a entrega regular de obras de ficção, procedimento que não era freqüente à 
época. 
Em 1965 escreve uma crônica atacando o Ato Institucional nº. 2. Tal fato gera 
um atrito entre a direção do jornal Correio da Manhã e a redação. Cony demite-se. É 
convidado pela TV Rio para escrever uma novela sobre a baixa classe média do Rio, ex-
capital do país. Após 37 capítulos, problemas com a censura fazem com que o escritor 
seja substituído por Oduvaldo Viana. 
 É preso, juntamente com Mário Carneiro, Glauber Rocha e Joaquim Pedro de 
Andrade, o embaixador Jaime Azevedo Rodrigues, o diretor teatral Flavio Rangel e os 
jornalistas Antônio Callado e Marcio Moreira Alves, quando participava de uma 
manifestação em frente ao Hotel Glória, no Rio de Janeiro. 
O grupo, que ficou conhecido como "Oito do Glória", foi detido pela Polícia do 
Exército, em cujo quartel ficou prisioneiro. Esta seria a primeira das seis prisões do 
escritor por motivos políticos. Mesmo assim, lança "Posto Seis", crônicas, e "Balé 
branco", romance. Participa da coletânea "Os dez mandamentos" com o conto "Amar a 
Deus sobre todas as coisas". Com certa ironiaCony escreve sobre esse período: 
(...) Para um sujeito acomodado e triste, submetido aos mil acidentes da carne 
e do espírito, a condição de réu, embora não infamante, estava absolutamente 
fora das cogitações. Mas eis: sou réu. Por obra e graça do Ministro da Guerra 
enfrentei o meritíssimo da 12ª Vara Criminal. Aturei o libelo e outras 
formalidades da dura lei. E estou preparando o insubmisso espírito e a 
complacente carne para o que der e vier. Meu crime é simples de ser exposto. 
Desde a quartelada de 1º de abril que venho cometendo esse crime, em 
condições compactas de centenas de milhares de exemplares. Meus artigos 
foram lidos nas prisões, nos navios-presídios, nos quartéis, nos lares e nas 
escolas. Profissionalmente falando, podia encerrar minha modesta e curta 
carreira de jornalista. (CONY, 2004, p. 140). 
No ano seguinte participa da coletânea "64 D.C." (o título, veladamente, dizia 
respeito a 64 Depois de Castello, primeiro militar a governar o país após a revolução de 
1964). Vai a Cuba, em 1967, onde fica por quase um ano. Participa, em Havana, como 
39 
 
membro do júri do concurso promovido pela Casa de las Américas. Retornando de 
Cuba, em 1968, é preso ao pisar em solo brasileiro. A convite de Adolpho Bloch, passa 
a trabalhar nas revistas do Grupo Manchete. Publica "Sobre todas as coisas", contos. Em 
1978 essa obra seria reeditada com o título "Babilônia!, Babilônia!". 
A visita do papa João Paulo II ao Brasil, em 1980, é coberta por Cony para a 
revista Manchete, trabalho que voltaria a fazer 11 anos depois. Em 1981 lança novo 
livro-reportagem: "Nos passos de João de Deus". Seu pai, Ernesto Cony, falece em 
1985. Baseada em projeto e sinopse de sua autoria e de Adolpho Bloch, estréia na TV 
Manchete, em 1989, Kananga do Japão, novela de Wilson Aguiar Filho dirigida por 
Tisuka Yamasaki. 
Em 1997 lança seu décimo segundo romance, A Casa Do Poeta Trágico, 
novamente premiado com dois Jabutis, pela Câmara Brasileira do Livro ("Melhor 
Romance" e "Livro do Ano - Ficção"). Recebe, em Paris, a comenda da Ordre dês Arts 
et des Lettres no grau de Chevalier, concedida pelo governo francês, em 1998. 
Por encomenda, em 1999, de sua editora Companhia das Letras, escreve 
"Romance sem palavras", publicado nesse mesmo ano. Apresenta-se no Instituto 
Moreira Salles, em Poços de Caldas - MG, dentro da série "O escritor por ele mesmo". 
Em março de 2000 é eleito, com 25 dos 37 votos possíveis, para a cadeira número 3 da 
Academia Brasileira de Letras. Toma posse em maio daquele ano. 
Seu décimo quarto romance, "O indigitado", é escrito em 2001 por encomenda 
da Editora Objetiva, do Rio, que com ele inauguraria a coleção Cinco dedos de prosa, 
lançado em 2002. Compilações de crônicas foram oito: Da Arte de Falar Mal (1963), O 
Ato e o Fato (1964), Posto Seis (1965), Os Anos mais Antigos do Passado (1998), O 
Harém das Bananeiras (1999), O Suor e a Lágrima (2002), O Tudo ou o Nada (2004), 
Crônicas para ler na Escola este último publicado em 2009 e objeto de estudo deste 
trabalho. 
O cronista Carlos Heitor Cony, em entrevista à revista Cult (2006, p.8) fez uma 
declaração que sintetiza o vocábulo: “A crônica é um gênero tipicamente brasileiro. Em 
outros países, ela também existe, mas não tem as nossas características”. 
 
40 
 
5.1 As crônicas de Cony e a conversação com o leitor 
Como analisado anteriormente, a crônica é um gênero que apresenta dupla 
filiação, já que o tempo e o espaço curtos permitem o tratamento literário a temas 
jornalísticos. Por essas características e, principalmente, por sua brevidade, a crônica 
torna-se um gênero peculiar para que o leitor possa, ainda que indiretamente, construir 
sua opinião a respeito dos principais temas do noticiário nacional ou internacional, na 
medida em que a continuidade de publicações das crônicas de um mesmo jornalista 
“estabelece uma corrente de simpatia, de identificação entre o leitor e o autor, 
convertendo este último numa espécie de confidente ou de cúmplice do primeiro” 
(Letria, 2000, p. 51). 
Graças a essa simplicidade e despretensão, a crônica consegue ser insinuante e 
reveladora. Assim, acaba como que transformando, segundo Candido (1993, p.6), “a 
literatura em algo íntimo com relação à vida de cada um, e quando passa do jornal ao 
livro, nós verificamos meio espantados que a sua durabilidade pode ser maior do que ela 
própria pensava” . 
O grande prestígio da crônica é, segundo Antonio Candido, um sintoma do 
processo de busca da manifestação da oralidade na escrita, ou seja, do rompimento de 
elementos artificiais e da aproximação com o traço “mais natural do modo de ser de 
nosso tempo”. 
Muitas crônicas apresentam uma característica bastante comum: deixam de ser 
um comentário expositivo ou argumentativo e tornam-se conversa aparentemente fiada, 
parecendo por de lado a seriedade dos problemas. Entretanto, entram de modo profundo 
no significado dos atos e sentimentos humanos e estabelecem uma crítica social, a partir 
de um diálogo com o leitor. 
O cronista busca criar um estilo simples, divertido e breve, mas não deixa de 
discutir os problemas políticos e sociais ou as fraquezas do homem. Na verdade, pode-
se aprender muita coisa quando se diverte e os traços constitutivos da crônica são, 
segundo Candido, um meio privilegiado de apresentar ao leitor de modo persuasivo 
muitos temas que divertem, atraem, inspiram e fazem o indivíduo amadurecer a sua 
visão de mundo. 
41 
 
Segundo Sá (1987, p.11), o cronista se investe da máscara de um narrador-
repórter com o intuito de referendar a soma de jornalismo com literatura: 
Os acontecimentos são extremamente rápidos, e o cronista precisa de um 
ritmo ágil para poder acompanhá-los. Por isso a sua sintaxe lembra alguma 
coisa desestruturada, solta (...) há uma proximidade maior entre as normas da 
língua escrita e da oralidade. 
Assim, o cronista constrói seu discurso num entrelugar, em que de um lado estão 
os fatos do cotidiano que ele quer de algum modo atingir, ou pelo menos tocar, ainda 
que levemente; de outro lado, a repercussão que esses mesmos fatos têm para a sua 
vida, quais diálogos esses fatos suscitam ao entrarem em contato com a sua experiência 
diante do mundo. Cabe ainda lembrar que, como cronista, o escritor deve limitar o seu 
discurso, pois como o seu texto visa, inicialmente, a aparecer no jornal, precisa estar 
adequado ao espaço que lhe é conferido. É também da economia que nasce a riqueza 
estrutural de uma crônica. 
O leitor de jornal é bem menos uma entidade abstrata em relação ao leitor de um 
livro, na medida em que o jornal se dirige a uma determinada classe por refletir também 
os interesses e o padrão cultural dessa classe. Desse modo, o leitor de crônicas não é um 
enigma insondável. O cronista sabe mais ou menos a quem está se dirigindo e pode 
inclusive convidar o leitor a refletirem juntos sem nenhuma cerimônia. 
O dialogismo, assim, equilibra o coloquial e o literário, permitindo que o lado 
espontâneo e sensível permaneça como elemento provocador de outras visões 
do tema (...) Com o seu toque de lirismo reflexivo, o cronista capta esse 
instante brevíssimo que também faz parte da condição humana e lhe confere 
(ou devolve) a dignidade de um núcleo estruturante de outros núcleos, 
transformando a simples situação no diálogo sobre a complexidade das 
nossas dores e alegrias (Sá, 1987, p. 11) 
Desse modo, o leitor de crônicas não é um enigma insondável. O cronista sabe 
mais ou menos a quem está se dirigindo e pode inclusive convidar o leitor a refletirem 
juntos sem nenhuma cerimônia. 
 
 
 
42 
 
6 A CONTRIBUIÇÃO DA OBRA CRÔNICAS PARA LER NA ESCOLA, DE 
CARLOS HEITOR CONY PARA O DESENVOLVIMENTO DE UMA 
CONSCIÊNCIA CRÍTICA 
Propositalmente ou não as crônicas de Carlos Heitor Cony despertam o interesse 
a reflexão. O modo como narra cada um de seus textos expressão o modo conyniano de 
ver

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