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EntreAspas - Obras Literárias_VOLUME1

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Caro aluno 
Ao elaborar o seu material inovador, completo e moderno, o Hexag considerou como principal diferencial sua exclusiva metodologia em pe-
ríodo integral, com aulas e Estudo Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado. O material didático é composto por 6 cadernos 
de aula e 107 livros, totalizando uma coleção com 113 exemplares. O conteúdo dos livros é organizado por aulas temáticas. Cada assunto 
contém uma rica teoria que contempla, de forma objetiva e transversal, as reais necessidades dos alunos, dispensando qualquer tipo de 
material alternativo complementar. Para melhorar a aprendizagem, as aulas possuem seções específicas com determinadas finalidades. A 
seguir, apresentamos cada seção:
No decorrer das teorias apresentadas, oferecemos uma cuidadosa 
seleção de conteúdos multimídia para complementar o repertório 
do aluno, apresentada em boxes para facilitar a compreensão, com 
indicação de vídeos, sites, filmes, músicas, livros, etc. Tudo isso é en-
contrado em subcategorias que facilitam o aprofundamento nos 
temas estudados – há obras de arte, poemas, imagens, artigos e até 
sugestões de aplicativos que facilitam os estudos, com conteúdos 
essenciais para ampliar as habilidades de análise e reflexão crítica, 
em uma seleção realizada com finos critérios para apurar ainda mais 
o conhecimento do nosso aluno.
multimídia
Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu 
distanciamento da realidade cotidiana, o que dificulta a compreensão 
de determinados conceitos e impede o aprofundamento nos temas 
para além da superficial memorização de fórmulas ou regras. Para 
evitar bloqueios na aprendizagem dos conteúdos, foi desenvolvida 
a seção “Vivenciando“. Como o próprio nome já aponta, há uma 
preocupação em levar aos nossos alunos a clareza das relações entre 
aquilo que eles aprendem e aquilo com que eles têm contato em 
seu dia a dia.
vivenciando
Sabendo que o Enem tem o objetivo de avaliar o desempenho ao 
fim da escolaridade básica, organizamos essa seção para que o 
aluno conheça as diversas habilidades e competências abordadas 
na prova. Os livros da “Coleção Vestibulares de Medicina” contêm, 
a cada aula, algumas dessas habilidades. No compilado “Áreas de 
Conhecimento do Enem” há modelos de exercícios que não são 
apenas resolvidos, mas também analisados de maneira expositiva 
e descritos passo a passo à luz das habilidades estudadas no dia. 
Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para ajudá-lo a 
apurar as questões na prática, a identificá-las na prova e a resolvê-
-las com tranquilidade.
áreas de conhecimento do Enem
Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Por isso, cria-
mos para os nossos alunos o máximo de recursos para orientá-los 
em suas trajetórias. Um deles é o ”Diagrama de Ideias”, para aque-
les que aprendem visualmente os conteúdos e processos por meio 
de esquemas cognitivos, mapas mentais e fluxogramas.
Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo 
da aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta aos 
principais conteúdos ensinados no dia, o que facilita a organiza-
ção dos estudos e até a resolução dos exercícios.
diagrama de ideias
Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é ela-
borada, a cada aula e sempre que possível, uma seção que trata 
de interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares atuais não 
exigem mais dos candidatos apenas o puro conhecimento dos 
conteúdos de cada área, de cada disciplina.
Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abrangem 
conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão, como Bio-
logia e Química, História e Geografia, Biologia e Matemática, entre 
outras. Nesse espaço, o aluno inicia o contato com essa realidade 
por meio de explicações que relacionam a aula do dia com aulas 
de outras disciplinas e conteúdos de outros livros, sempre utilizan-
do temas da atualidade. Assim, o aluno consegue entender que 
cada disciplina não existe de forma isolada, mas faz parte de uma 
grande engrenagem no mundo em que ele vive.
conexão entre disciplinas
Herlan Fellini
De forma simples, resumida e dinâmica, essa seção foi desenvol-
vida para sinalizar os assuntos mais abordados no Enem e nos 
principais vestibulares voltados para o curso de Medicina em todo 
o território nacional.
incidência do tema nas principais provas
Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos de cada coleção 
tem como principal objetivo apoiar o aluno na resolução das ques-
tões propostas. Os textos dos livros são de fácil compreensão, com-
pletos e organizados. Além disso, contam com imagens ilustrativas 
que complementam as explicações dadas em sala de aula. Qua-
dros, mapas e organogramas, em cores nítidas, também são usados 
e compõem um conjunto abrangente de informações para o aluno 
que vai se dedicar à rotina intensa de estudos.
teoria
Essa seção foi desenvolvida com foco nas disciplinas que fazem 
parte das Ciências da Natureza e da Matemática. Nos compilados, 
deparamos-nos com modelos de exercícios resolvidos e comenta-
dos, fazendo com que aquilo que pareça abstrato e de difícil com-
preensão torne-se mais acessível e de bom entendimento aos olhos 
do aluno. Por meio dessas resoluções, é possível rever, a qualquer 
momento, as explicações dadas em sala de aula.
aplicação do conteúdo
2
© Hexag Sistema de Ensino, 2018
Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2020
Todos os direitos reservados.
Autor
Lucas Limberti
Diretor-geral
Herlan Fellini
Diretor editorial
Pedro Tadeu Vader Batista 
Coordenador-geral
Raphael de Souza Motta
Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica 
Hexag Sistema de Ensino
Editoração eletrônica
Arthur Tahan Miguel Torres
Matheus Franco da Silveira
Raphael de Souza Motta
Raphael Campos Silva
Projeto gráfico e capa
Raphael Campos Silva
Imagens
Freepik (https://www.freepik.com)
Shutterstock (https://www.shutterstock.com)
ISBN: 978-65-88825-11-2
Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusivo 
o ensino. Caso exista algum texto a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à dis-
posição para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos 
direitos sobre as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições.
O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para fins didáticos, não repre-
sentando qualquer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora.
2020
Todos os direitos reservados para Hexag Sistema de Ensino.
Rua Luís Góis, 853 – Mirandópolis – São Paulo – SP
CEP: 04043-300
Telefone: (11) 3259-5005
www.hexag.com.br
contato@hexag.com.br
3
SUMÁRIO
ENTRE ASPAS
ANÁLISE DE OBRAS LITERÁRIAS
Obra 1: Poemas escolhidos – Gregório de Matos Guerra 4
Obra 2: A relíquia – Eça de Queirós 13
Obra 3: Quincas Borba – Machado de Assis 19
Obra 4: Angústia – Graciliano Ramos 28
Obra 5: Claro enigma – Carlos Drummond de Andrade 38
Obra 6: Romanceiro da Inconfidência – Cecília Meireles 51
4
 Poemas escolhidos
GreGório de matos Guerra
OBRA 
1
1. GreGório de Matos 
Guerra, o priMeiro poeta
Assim, foi retirado de suas funções e, devido a suas opiniões 
polêmicas e a seus poemas irreverentes, foi denunciado ao 
Tribunal da Inquisição em Lisboa. 
Gregório passou a exercer a função de advogado e se ca-
sou com a viúva Maria dos Povos. Nesse período, levando 
uma vida boêmia, escreveu muitas sátiras e poemas eróti-
cos repletos de provocações e ironia. Algumas autoridades 
não suportavam a língua venenosa do poeta, e ele acabou 
sendo deportado para Angola. No país africano, Gregório 
ajudou a conter uma revolta militar local e, em retribuição 
aos serviços prestados, obteve autorização para voltar ao 
Brasil. Proibido de retornar a Salvador, instalou-se em Reci-
fe, onde morreuem 1695.
O poeta viveu durante o ciclo da cana-de-açúcar no Nordes-
te brasileiro. Filho de um português que se tornou senhor de 
engenho, Gregório fez parte da elite que ele mesmo negou 
ao se indignar com as injustiças da sociedade patriarcal. 
Gregório nada publicou em vida, e seus poemas foram trans-
mitidos oralmente. Até o século XVIII, os registros escritos de 
sua obra foram realizados por copistas, que reuniam os tex-
tos em códices. Um desses códices trazia na capa o brasão 
da coroa portuguesa abaixo da frase: "Ineditas poezias do 
douto Gregorio de Mattos Guerra".
Gregório de Matos nasceu em Salvador, então capital do 
Brasil, em 1636. É considerado o primeiro poeta do Brasil e o 
maior poeta barroco da literatura brasileira. 
Ainda criança, estudou com os Jesuítas na Bahia e, em 1650, 
aos 14 anos, foi para Portugal, onde se formou em Direito 
pela Universidade de Coimbra em 1661. Começou a escre-
ver os seus primeiros poemas satíricos. Depois de formado, 
foi nomeado juiz de Alcácer do Sal, na região do Alentejo. 
Em 1678, ficou viúvo e recorreu ao arcebispo da Bahia pe-
dindo para voltar ao Brasil. Em Portugal, a acidez de seus 
versos já incomodava autoridades e pessoas importantes. 
Em 1682, Gregório voltou para sua terra natal, Salvador, 
e foi nomeado Desembargador da Relação Eclesiástica e 
Tesoureiro-Mor da Sé baiana. O arcebispo dom Gaspar 
Barata tornou-o vigário-geral da Bahia. A intenção era 
tentar melhorar a imagem do poeta, uma vez que seus 
versos satíricos, que incomodavam muita gente, inclusive 
o governador baiano Antônio de Souza Menezes, o Braço 
de Prata, justificavam a alcunha pela qual ele se tornaria 
conhecido: Boca do Inferno. 
O poeta não obedecia a todas as ordens da instituição reli-
giosa e se negava a usar o vestuário exigido por seu cargo. 
5
Os copistas não seguiam critérios científicos para a re-
alização do trabalho, e, por isso, há controvérsias sobre 
a autoria de alguns dos poemas atribuídos a Gregório 
de Matos. Além disso, os poemas podem apresentar pe-
quenas variações de vocabulário ou de sintaxe, depen-
dendo da edição consultada.
Foi somente em meados do século XIX que seus poemas 
foram reunidos em livro pelo historiador Francisco Adolfo 
de Varnhagen. Apesar dessas dificuldades históricas, a obra 
de Gregório de Matos vem sendo reconhecida como pio-
neira e iniciadora de uma tradição entre nós, capaz de su-
perar os limites do próprio Barroco. É possível dizer que, em 
pleno século XVII, o poeta chegou a ser um dos precursores 
da poesia moderna brasileira do século XX.
 § 1672 – foi nomeado procurador da Bahia;
 § 1674 – deixou o cargo de procurador;
 § 1678 – ficou viúvo;
 § 1682/1683 – volta ao Brasil;
 § 1691 – casou-se pela segunda vez, com Maria dos Povos;
 § 1694 – foi degredado para Angola;
 § 1695 – Morreu em Pernambuco, depois de ser proi-
bido de voltar a Salvador.
1.2. O “Boca do Inferno”
O apelido atribuído a Gregório de Matos pode ser com-
preendido como de duplo sentido: se de sua boca saíam 
imoralidades e indecências, também saíam acusações dos 
pecados da humanidade. Gregório foi irreverente como 
poeta ao ridicularizar os valores arcaicos, a hipocrisia so-
cial e a falsa moral da sociedade de seu tempo, e também 
como pessoa, devido ao seu comportamento, considerado 
por vezes indecoroso. 
Como poeta satírico, criticou todas as classes sociais, da 
elite ao povo, denunciando as contradições da sociedade 
de seu tempo. Foi na sátira, por exemplo, que ele encontrou 
a ferramenta para ridicularizar os políticos corruptos que go-
vernavam a Bahia. Observe, no trecho abaixo, como ele critica 
a falta de princípios dos políticos de sua cidade.
[...]
na política de estado
nunca houve princípios certos,
[...]
Eia! Estamos na Bahia,
onde agrada a adulação,
onde a verdade é baldão,
e a virtude hipocrisia:
sigamos esta harmonia
de tão fátua consonância,
e inda que seja ignorância
seguir erros conhecidos,
sejam-me a mim permitidos,
se em ser besta está a ganância.
[...]
MATOS, GreGóriO de. in: WiSniK, JOSé MiGuel [Sel. e OrG.]. POeMAS 
eScOlhidOS. SãO PAulO: cOMPAnhiA dAS leTrAS, 2010, P. 70-71.
Apesar de ser quase sempre associado à sátira, Gre-
gório de Matos foi um grande poeta lírico – lirismo re-
ligioso ou amoroso –, pois criou um estilo próprio de 
reflexão sobre a condição humana, com matizes locais, 
ao mesmo tempo imitando e quebrando os modelos do 
Barroco europeu. Do ponto de vista formal, sua poesia 
apresenta recursos de linguagem muito utilizados na 
poesia barroca, como o paradoxo, a antítese, a hipérbo-
le etc., como veremos adiante.
1.1. Linha do tempo
 § 1636 – em 20 de dezembro nasceu em Salvador, Bahia, 
Gregório de Matos Guerra;
 § 1650 – aos 14 anos, viajou para Portugal;
 § 1652 – matriculou-se, por incentivo de seu pai, na 
Universidade de Coimbra;
 § 1661 – formou-se na universidade e se casou com 
dona Michaela de Andrade;
 § 1662 – concluiu o bacharelado, em Coimbra;
 § 1663 – foi nomeado juiz de fora, em Alcácer do Sal, 
no Alentejo;
6
1.3. O Barroco chega ao Brasil A tentativa de aproximar opostos faz a literatura barroca ser, 
ao mesmo tempo, mística e sensual, religiosa e profana, 
espiritual e carnal. Há nas manifestações barrocas um 
dualismo que evidencia um conflito entre o homem e o 
mundo. Para traduzir esse conflito, são utilizados certos 
recursos de linguagem, como antíteses, metáforas, hi-
perbatos e hipérboles. 
1.3.3. Rebuscamento formal e atenção aos 
detalhes
Linguagem
Em sua poesia, Gregório de Matos busca legitimar a cultu-
ra brasileira por meio de um processo criativo que agluti-
na ao código da língua portuguesa vocábulos indígenas e 
africanos, além de palavras de baixo calão e léxico oriundo 
do erotismo.
Outras características técnicas do ponto de vista da lin-
guagem podem ser elencadas a fim de facilitar a compre-
ensão da maneira com que o poeta lida com o manejo da 
palavra. Veja:
 § Paradoxo: aspecto da linguagem que apresenta 
oposição de ideias em um único pensamento, o que 
leva a um absurdo ou contrassenso. 
Ardor em firme coração nascido;
pranto por belos olhos derramado;
incêndio em mares de água disfarçado;
rio de neve em fogo convertido.
 § Antítese: jogo de palavras opostas, como "noite" e 
"dia"; reflete o dualismo presente no Barroco.
"Nasce o sol e não dura mais que um dia.
Depois da luz se segue a noite escura"
 § Metáfora: figura de linguagem que apresenta uma 
relação implícita de semelhança. 
“Se és fogo, como passas brandamente?
Se és neve, como queimas com porfia?“
 § Hipérbato: inversão da ordem dos termos da oração.
“Em tristres sombras morre a formosura [...]"
 § Hipérbole: figura de linguagem que apresenta um 
exagero com finalidade expressiva; exprime a des-
medida e a grandiosidade da arte barroca.
“É a vaidade, Fábio, nesta vida,
Rosa, que da manhã lisonjeada,
Púrpuras mil, com ambição dourada,
Airosa rompe, arrasta presumida.”
 § Prosopopeia ou personificação: atribuição de carac-
terísticas, ações ou sentimentos humanos a objetos 
eSculTurA de AleiJAdinhO (AnTOniO FrAnciScO 
liSbOA, 1738-1814), OurO PreTO/MG.
1.3.1. O princípio
Em 1601, o poeta português Bento Teixeira publicou no 
Brasil o poema épico Prosopopeia, inaugurando o Bar-
roco em terras brasileiras. O poema, com estrofes em oi-
tava rima e versos decassílabos, seguia o modelo de Os 
Lusíadas, de Camões. No entanto, trata-se de uma obra 
encomiástica, ou seja, foi escrita em louvação ao dona-
tário da capitania de Pernambuco, Jorge de Albuquerque 
Coelho. O Barroco estendeu-se por todo o século XVII e 
entrou pelo século XVIII. No período colonial, não havia 
um público leitor significativo no Brasil, e, entre os anos 
de 1720 e 1750, a poesia barroca ganhou sobrevida com 
a fundação das academias literárias. Contudo, a funda-
ção da academia Arcádia Ultramarina, em 1768, marca a 
decadência do Barroco e a ascensão do Arcadismo.
1.3.2. Conflitos e contrastes
No Barroco, são evidenciadas as forças contraditórias que 
constituem o homem.O conflito constante entre opostos 
faz do Barroco uma escola literária fundamentada no de-
sequilíbrio e no exagero.
7
inanimados ou seres irracionais. Observe um trecho 
escrito pelo padre Antonio Vieira:
“No diamante agradou-me o forte, no cedro 
o incorruptível, na águia o sublime, no Leão o 
generoso, no Sol o excesso de Luz.”
Além da linguagem rebuscada e do vasto uso de figuras 
de linguagem, é possível identificar na poesia barroca de 
Gregório de Matos o conceito do soneto fusionista, sobre-
tudo por conta da relação entre forma e conteúdo, em que 
ideias contraditórias se fundem no desenvolvimento do 
poema. Assim, os 14 versos do soneto se estruturam em:
 § Tese: apresentação de um determinado tema.
 § Antítese: apresentação de uma progressão semântica 
contraditória em relação ao proposto na tese.
 § Síntese: conclusão que representa uma fusão entre os 
aspectos contrários anteriormente apresentados.
Cultismo e conceptismo
A arte barroca, de um modo geral, valoriza o cuidado com 
os detalhes. Nas artes plásticas, por exemplo, as obras se 
caracterizam pelo excesso de ornamentação. Na literatura, 
por sua vez, proliferam os jogos de palavras, o uso de figu-
ras de linguagem e as sutilezas de raciocínio.
Nesse sentido, dois estilos convivem no Barroco literário: o 
cultismo e o conceptismo. 
O estilo cultista ou cultismo, inspirado no poeta espanhol 
Luis de Gongora (1561-1627), é caracterizado pela lingua-
gem rebuscada, culta, extravagante, que supervaloriza os 
jogos de palavras e o uso de metáforas, hipérbatos e hi-
pérboles. O poema a seguir, de Gregório de Matos, é um 
exemplo do emprego do estilo cultista:
O todo sem a parte não é todo,
A parte sem o todo não é parte,
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga, que é parte, sendo todo.
Em todo Sacramento esta Deus todo,
E todo assiste inteiro em qualquer parte,
E feito em partes todo em toda a parte,
Em qualquer parte sempre fica o todo.
O braço de Jesus não seja parte,
Pois que feito Jesus em parte todo,
Assiste cada parte em sua parte.
Não se sabendo parte deste todo, 
Um braço, que lhe acharam, sendo parte,
Nos disse as partes todas deste todo.
O estilo conceptista ou conceptismo, mais utilizado na prosa, 
valoriza o raciocínio lógico e a agudeza de pensamento. A 
ideia é exposta por meio de conceitos, analogias, histórias 
paralelas que facilitam o entendimento. 
2. poeMas escolhidos
O livro é uma coletânea de poemas selecionados pelo pro-
fessor José Miguel Wisnik nos anos 1970. Recentemente, 
ganhou uma nova edição revisada pelo próprio organiza-
dor. A obra apresenta poemas de Gregório de Matos nas 
diversas modalidades que o poeta cultivou. 
A organização dos poemas no livro ajuda a compreender a 
lógica produtiva de Gregório de Matos:
 § poesia de circunstância
– Satírica
– Encomiástica
 § poesia amorosa
– Lírica
– Erótico-irônica
 § poesia religiosa
2.1. Poesia de circunstância
Criticar o sistema e as autoridades de sua época transformou 
Gregório de Matos em um "poeta maldito". A perspicácia 
com que provocava políticos e ridicularizava poderosos e 
seus bajuladores contribuiu para o “abrasileiramento” do 
Barroco importado da Europa.
O crítico social mordaz, que aponta a sociedade de compe-
tição, em que vence quem for mais esperto e/ou desonesto, 
apresenta-se no soneto abaixo.
Contemplando nas Coisas do mundo desde o seu retiro, lhe atira 
Com seu ápage, Como quem a nado esCapou da tormenta.
Neste mundo é mais rico o que mais rapa:
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa
Com sua língua, ao nobre o vil decepa:
O velhaco maior sempre tem capa.
WiSniK, J. M. (OrG.). GreGóriO de MATOS. 
POeMAS eScOlhidOS de GreGóriO de 
MATOS. SãO PAulO: culTrix, 1976.
8
Mostra o patife da nobreza o mapa:
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa:
Quem menos falar pode, mais increpa:
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.
A flor baixa se inculca por tulipa:
Bengala hoje na mão, ontem garlopa:
Mais isento se mostra o que mais chupa.
Para a tropa do trapo vazo a tripa, 
E mais não digo, porque a musa topa
Em apa, epa, ipa, opa, upa.
 § ápage: desaprovação, raiva
 § increpa: censura
 § carepa: caspa, sujeira
 § inculca: finge, insinuas
 § vil: reles, ordinário
 § garlopa: trabalhador braçal
 § decepa: destrói
 § “Para a tropa do trapo vazo a tripa” é uma expres-
são idiomática que se aproxima de “não quero mais dar 
importância a esse bando de miseráveis”.
No poema a seguir, o autor critica, de forma impiedosa, 
a incompetência, a promiscuidade e a desonestidade. 
torna a definir o poeta os maus modos de obrar na governança da 
bahia, prinCipalmente naquela universal fome, que padeCia a Cidade.
Epílogos
Que falta nesta cidade?..... Verdade.
Que mais por sua desonra?..... Honra.
Falta mais que se lhe ponha?..... Vergonha.
O demo a viver se exponha, 
Por mais que a fama a exalta,
Nesta cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.
[...]
E que justiça a resguarda?..... Bastarda.
É grátis distribuída?..... Vendida.
Que tem, que a todos assusta?..... Injusta.
Valha-nos Deus, o que custa 
O que El-Rei nos dá de graça,
Que anda a justa na praça
Bastarda, vendida, injusta.
[...]
O açúcar já se acabou?..... Baixou.
E o dinheiro se extinguiu?..... Subiu.
Logo já convalesceu?..... Morreu.
À Bahia aconteceu
O que a um doente acontece,
Cai na cama, o mal lhe cresce,
Baixou, subiu, morreu.
A câmara não acode?..... Não pode.
Pois não tem todo o poder?..... Não quer.
É que o governo a convence?..... Não vence.
Quem haverá que tal pense,
Que uma câmara tão nobre,
Por ver-se mísera e pobre,
Não pode, não quer, não vence.
Em ritmo de perguntas e repostas, a estrutura dos versos 
se assemelha aos modelos da tradição oral. O espaço é a 
Bahia, em que o eu poemático critica os desmandos de 
sua cidade, a degradação moral e religiosa, bem como os 
aspectos econômicos. Os oportunistas da sociedade são os 
detentores do poder, enquanto os trabalhadores honestos 
encontram-se na pobreza.
Os poemas satíricos de Gregório de Matos são marcados 
por essa divisão entre uma sociedade do homem bem-nas-
cido, dita “normal”, e outra, considerada “absurda”, que é 
composta por pessoas oportunistas, mas que estão instau-
radas no poder. 
No entanto, no caso de Gregório de Matos, a “sociedade 
absurda” é real, pois é a Bahia onde ele vive e, pela lógica 
aplicada, inverte-se o conceito apreendido.
Logo, tanto uma como outra são consideradas absurdas, 
pois o impasse está na realidade histórica; um mesmo lo-
cal, duas Bahias: uma “normal”, que é vista com ar nostál-
gico, e outra “absurda” e amaldiçoada. 
Os poemas laudatórios, ou seja, de elogio, são chama-
dos também de poemas encomiásticos. Um exemplo é o 
poema em homenagem ao desembargador Belchior da 
Cunha Brochado:
O típico jogo de palavras do Barroco é a marca predomi-
nante do poema. Em cada um dos pares de versos, há ter-
minações das palavras em comum, como: 
Douto, prudente, nobre humano, afável,
Reto, ciente, benigno e aprazível
Tal esquema justifica o uso inusitado da palavra nos espa-
ços em branco do papel. 
2.2. Poesia amorosa
A poesia lírico-amorosa de Gregório de Matos se desenvol-
ve por meio de contradições e pares de opostos, utilizando 
figuras de linguagem como a antítese, que reforça essas 
contradições. Deve-se ter em mente que essas contradições 
não se anulam, e a mensagem final que o poeta passa é a 
de que a “diferença é identidade”.
O lirismo amoroso é contraditório, fortemente marcado 
pela ambiguidade da mulher, vista a partir de uma duali-
dade entre a matéria e o espírito. No soneto dedicado a 
dona Ângela de Souza Paredes, o eu lírico está diante de 
um dilema sobre a finalidade da beleza, uma vez que ela 
leva à perdição.
9
Não vira em minha vida a formosura,
Ouvia falar dela a cada dia
E ouvida, me incitava e me movia
A querer ver tão bela arquitetura:
Ontem a vi, por minha desventura
Na cara, no bom ar, na galhardia
De uma mulher, que em Anjo se mentia
De um Sol, que se trajava em criatura:
Matem-me, disse eu vendoabrasar-me,
Se esta a coisa não é, que encarecer-me
Sabia o mundo e tanto exagerar-me:
Olhos meus, disse então por defender-me,
Se a beleza heis de ver para matar-me,
Antes olhos cegueis, do que eu perder-me
A poesia erótico-irônica também pode ser chamada de 
poesia profana, em que o poeta exalta a sensualidade dos 
amantes na Bahia, além dos escândalos sexuais envolvendo 
as personagens que existiam nos conventos de Salvador.
Necessidades forçosas da natureza humana
Descarto-me da tronga, que me chupa,
Corro por um conchego todo o mapa,
O ar da feia me arrebata a capa,
O gadanho da limpa até a garupa.
Busco uma freira, que me desentupa
A via, que o desuso às vezes tapa,
Topo-a, topando-a todo o bolo rapa,
Que as cartas lhe dão sempre com chalupa.
Que hei de fazer, se sou de boa cepa,
E na hora de ver repleta a tripa,
Darei por quem mo vase toda Europa?
Amigo, quem se alimpa da carepa,
Ou sofre uma muchacha, que o dissipa,
Ou faz da mão sua cachopa.
2.3. Poesia religiosa
No conjunto da obra de Gregório de Matos, a poesia lírica 
é idealista, às vezes emocional, às vezes conceitual, mas 
quase sempre preocupada com a busca de entender con-
tradições. No poema a seguir, o choque entre as temáticas 
controversas da “culpa" e do"perdão” ganha forma no 
soneto fusionista. O eu lírico se vale da linguagem para 
conseguir seu perdão e salvação ao enfrentar o poder divi-
no. Logo, da mesma forma como o poder divino, colocado 
aqui na figura de Jesus, precisa perdoar, o pecador precisa 
pecar para poder ser perdoado. 
O conflito de ordem espiritual é típico do período Barro-
co: de um lado, o teocentrismo (Deus é o centro do Uni-
verso) e, por outro lado, o antropocentrismo (o homem 
é o centro do universo).
Apresenta versos decassílabos (versos com dez sílabas poéti-
cas), rimas regulares, ou seja, rimas opostas ou interpoladas 
nos dois quartetos (ABBA-ABBA) e rimas mistas nos dois 
tercetos (CDE-CDE). Ressalta-se na lírica sacra o senso do 
pecado, ao lado do desejo do perdão, como se pode verificar:
A Jesus Cristo Nosso Senhor
Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Porque, quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na Sacra História:
Eu sou, senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e a não queirais, Pastor divino
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
 § despido: despeço
 § delinquido: cometido delito
 § empenhado: comprometido
A lírica filosófica de Gregório de Matos evidência um po-
eta que, tal qual os clássicos, transmite um forte senso do 
“desconcerto do mundo” e preocupa-se com a transitorie-
dade da vida, o escoamento do tempo e a fragilidade do 
ser humano, como se pode perceber no soneto que segue.
À instabilidade das coisas no mundo
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas, a alegria.
Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz falta a firmeza,
Na formosura não dê Constância,
E na alegria sinta-se a tristeza,
Começa o mundo enfim pela ignorância, 
E tem qualquer dos bens por natureza.
A firmeza somente na inconstância.
Esse soneto exemplifica, pelo tema desenvolvido, o estado 
transitório da condição humana. Ao longo do poema, re-
pete-se a utilização da antítese pela aproximação de duas 
ideias naturalmente opostas.
Na segunda estrofe, o elemento comum a todos os versos 
é o ponto de interrogação, que representa não só o ques-
tionamento do eu poético como também sua perplexidade 
diante do mistério insolúvel do Universo.
10
(Gregório de Mattos, 2002, dirigido por Ana 
Carolina) – Em pleno século XVII, surge na Bahia 
o poeta Gregório de Mattos (Waly Salomão), que, 
com sua obra e vida trágica, anuncia o perfil tenso 
e dividido do povo brasileiro. Com sua produção li-
terária, o poeta cria situações desconfortáveis aos 
poderosos da época, que passam a combatê-lo até 
transformar sua vida em um verdadeiro inferno.
FOnTe: YOuTube
multimídia: filme
Essa visão de mundo corresponde à da arte barroca, que 
vê o homem como um ser instável diante da realidade 
que lhe faz apelos opostos, ora dirigidos aos sentidos, 
ora dirigidos ao espírito.
Dois conventos, seis frades, três letrados,
Um juiz, com bigodes, sem ouvidos,
Três presos de piolhos carcomidos,
Por comer dois meirinhos esfaimados.
As damas com sapatos de 2baeta,
Palmilha de tamanca como frade,
Saia de 3chita, cinta de raqueta.
O feijão, que só faz 4ventosidade
Farinha de pipoca, pão que greta,
De Sergipe d’El-Rei esta é a cidade.
diMAS, AnTôniO. liTerATurA cOMenTAdA - GreGóriO 
de MATOS. SãO PAulO: nOvA culTurAl, 1988.
____________________________________
1mentrasto: tipo de erva
2baeta: tecido felpudo
3chita: tecido de algodão de pouco valor
4ventosidade: que provoca flatulência
Pela leitura do soneto, é correto afirmar que o Poeta: 
a) critica veladamente o governo português por ter 
escolhido essa cidade para ser a sede administrativa 
da colônia. 
b) escreve esse poema para expor as angústias vividas 
durante o período em que cumpria a primeira ordem 
de desterro. 
c) comenta a elegância e a sensualidade das damas, vis-
to que sempre apreciou as mulheres brasileiras. 
d) lamenta a inexistência de instituições religiosas, pois 
elas organizariam moralmente a cidade. 
e) descreve as condições do local, mostrando que os habi-
tantes vivem rusticamente e com poucos recursos. 
3. (UCS) as obras literárias marcam diferentes visões de mundo, 
não aPenas dos autores, mas também de éPocas históricas distin-
tas. reflita sobre isso e leia os fragmentos dos Poemas de gregó-
rio de matos e de tomás antônio gonzaga.
Arrependido estou de coração,
de coração vos busco, dai-me abraços,
abraços, que me rendem vossa luz.
Luz, que claro me mostra a salvação,
a salvação pretendo em tais abraços,
misericórdia, amor, Jesus, Jesus!
(MATOS, GreGóriO. PecAdOr cOnTriTO AOS PéS dO criSTO cruciFicAdO. 
in: TuFAnO, dOuGlAS. eSTudOS de liTerATurA brASileirA. 4 
ed. rev. e AMPl. SãO PAulO: MOdernA, 1988. P. 66.)
Minha bela Marília, tudo passa;
a sorte deste mundo é mal segura;
se vem depois dos males a ventura,
vem depois dos prazeres a desgraça.
Estão os mesmos deuses
sujeitos ao poder do ímpio fado:
Apolo já fugiu do céu brilhante,
já foi pastor de gado.
(GOnZAGA, TOMáS AnTóniO. lirA xiv. in: TuFAnO, 
dOuGlAS. eSTudOS de liTerATurA brASileirA. 4 ed. rev. 
e AMPl. SãO PAulO: MOdernA, 1988. P. 77.)
em relação aos Poemas, analise a veracidade (v) ou a falsidade 
(f) das ProPosições abaixo.
aplicando para aprender 
1. (uePa)
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
GreGóriO de MATOS GuerrA
assinale a alternativa que contém uma característica da comunica-
ção Poética, tíPica do estilo barroco, existente no quarteto acima. 
a) Reflexão sobre o caráter humano da divindade.
b) Associação da natureza com a permanência da re-
alidade espiritual.
c) Presença da irreverência satírica do poeta com base 
no paradoxo.
d) Utilização do pleonasmo para reforçar a superiorida-
de do cristianismo sobre o protestantismo.
e) Uso de ideias contrastantes com base no recurso 
da antítese.
2. (IFSP) leia o soneto do escritor barroco gregório de matos.
desCrição da Cidade de sergipe d’el-rei
Três dúzias de casebres remendados,
Seis becos, de 1mentrastos entupidos,
Quinze soldados, rotos e despidos,
Doze porcos na praça bem criados.
11
( ) o Poema de gregório de matos aPresenta um sujeito lírico 
torturado Pelo Peso de seus Pecados e desejoso de aProximar-se 
do divino.
( ) tomás antôniogonzaga, embora Pertença ao mesmo Período 
literário de gregório de matos, revela neste Poema um sujeito 
lírico consciente da brevidade da vida.
( ) em relação às marcas de religiosidade, a visão antagônica 
que se coloca entre os dois Poemas reflete, no barroco, a in-
fluência do cristianismo e, no arcadismo, a da mitologia grega.
assinale a alternativa que Preenche corretamente os Parênteses, 
de cima Para baixo. 
a) V – V – V 
b) V – F – F 
c) V – F – V 
d) F – F – F 
e) F – V – F 
4. (UFPR) considerando a Poesia de gregório de matos e o 
momento literário em que sua obra se insere, avalie as seguin-
tes afirmativas:
i. aPresentando a luta do homem no embate entre a carne e o 
esPírito, a terra e o céu, o Presente e a eternidade, os Poemas reli-
giosos do autor corresPondem à sensibilidade da éPoca e encontram 
Paralelo na obra de um seu contemPorâneo, Padre antônio vieira.
ii. os Poemas erótico-irônicos são um exemPlo da versatilidade 
do Poeta, mas não são rePresentativos da melhor Poesia do autor, 
Por não aPresentarem a mesma sofisticação e riqueza de recursos 
Poéticos que os Poemas líricos ou religiosos aPresentam.
iii. como bom exemPlo da Poesia barroca, a Poesia do autor incre-
menta e exagera alguns recursos Poéticos, deixando sua lingua-
gem mais rebuscada e enredada Pelo uso de figuras de linguagem 
raras e de resultados tortuosos.
iv. a Presença do elemento mulato nessa Poesia resgata Para a 
literatura uma dimensão social Problemática da sociedade baiana 
da éPoca: num País de escravos, o mestiço é um ser em conflito, 
vítima e algoz em uma sociedade violentamente desigual.
assinale a alternativa correta. 
a) Somente as afirmativas I e II são verdadeiras. 
b) Somente as afirmativas I, II e III são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas I, III e IV são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas II e IV são verdadeiras. 
e) Somente as afirmativas III e IV são verdadeiras.
leia o texto a seguir Para resPonder à questão 5. 
Senhora Dona Bahia,
nobre e opulenta cidade,
madrasta dos naturais,
e dos estrangeiros madre:
Dizei-me por vida vossa
em que fundais o ditame
de exaltar os que aqui vêm,
e abater os que aqui nascem?
Se o fazeis pelo interesse
de que os estranhos vos gabem,
isso os paisanos fariam
com conhecidas vantagens.
E suposto que os louvores
em boca própria não valem,
se tem força esta sentença,
mor força terá a verdade.
O certo é, pátria minha,
que fostes terra de alarves,
e inda os ressábios vos duram
desse tempo e dessa idade.
Haverá duzentos anos,
nem tantos podem contar-se,
que éreis uma aldeia pobre
e hoje sois rica cidade.
Então vos pisavam índios,
e vos habitavam cafres,
hoje chispais fidalguias,
arrojando personagens.
____________________________________
1Nota: entenda-se “Bahia” como cidade.
2Vocabulário: alarves – que ou quem é rústico, abrutado, grosseiro,
ignorante – que ou o que é tolo, parvo, estúpido.
ressábios – sabor; gosto que se tem depois.
cafres – indivíduo de raça negra. 
a) Existem antíteses, características de textos no pe-
ríodo barroco. 
b) Há uma personificação, pois a Bahia, ser inanima-
do, é tratada como ser vivo. 
c) A ausência de métrica aproxima o poema do Mo-
dernismo. 
d) O eu lírico usa o vocativo, transformando a Bahia 
em sua interlocutora. 
e) Há diferença de tratamento para os habitantes lo-
cais e os estrangeiros
leia o texto a seguir Para resPonder às questões 6 a 8.
1 Triste Bahia! Oh quão dessemelhante
2 Estás, e estou do nosso antigo estado!
3 Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
4 Rica te vejo eu já, tu a mi abundante.
5 A ti trocou-te a máquina mercante,
6 Que em tua larga barra tem entrado,
7 A mim foi-me trocando, e tem trocado
8 Tanto negócio, e tanto negociante.
9 Deste em dar tanto açúcar excelente
10 Pelas drogas inúteis, que abelhuda
11 Simples aceitas do sagaz Brichote.
12 Oh se quisera Deus, que de repente
13 Um dia amanheceras tão sisuda
14 Que fora de algodão o teu capote!
(MATOS, GreGóriO de. POeSiAS SeleciOnAdAS. 3. 
ed. SãO PAulO: FTd, 1998. P. 141.)
6. (UEL) no que diz resPeito à relação entre o eu lírico e a bahia, 
considere as afirmativas a seguir.
12
i. na Primeira estrofe, o eu lírico identifica-se com a bahia, Pois 
ambos sofrem a Perda de um antigo estado.
ii. na Primeira estrofe, a bahia aParece Personificada, fato con-
firmado no momento em que ela e o eu lírico se olham.
iii. na terceira estrofe, constata-se que a bahia não está isenta 
da culPa Pela Perda de seu antigo estado.
iv. na quarta estrofe, o eu lírico conclui que a lamentável situação 
da bahia está em conformidade com a vontade divina.
assinale a alternativa correta. 
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. 
b) Somente as afirmativas II e IV são corretas. 
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. 
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. 
e) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas. 
7. (UEL) a Partir da leitura do texto, considere as afirmativas 
a seguir.
i. o Poema faz Parte da Produção de gregório de matos caracteri-
zada Pelo cunho satírico, visto que ridiculariza vícios e imPerfeições 
e assume um tom de censura.
ii. as figuras do desconsolado Poeta, da triste bahia e do sagaz 
brichote são imagens Poéticas utilizadas Para exPressar a existên-
cia de um triângulo amoroso.
iii. o Poema aPresenta a degradação da bahia e do eu lírico, em 
virtude do sistema de trocas imPosto à colônia, o qual Privilegiava 
os comerciantes estrangeiros.
iv. os versos “que em tua larga barra tem entrado” e “deste em 
dar tanto açúcar excelente” conferem ao Poema um tom erótico, 
Pois, simbolicamente, sugerem a ideia de solicitação ao Prazer.
assinale a alternativa correta. 
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. 
b) Somente as afirmativas I e III são corretas. 
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. 
d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas. 
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. 
8. (UEL) sobre figuras de linguagem no Poema, considere as afir-
mativas a seguir.
i. a descrição do eu lírico e da bahia configura uma antítese 
entre o estado antigo e o atual de ambos.
ii. a antítese é verificada na oPosição entre as exPressões “máquina 
mercante” e “drogas inúteis”, embora ambas se refiram à bahia.
iii. os versos 3 e 4 são exemPlos do PaPel relevante da grada-
ção no conjunto do Poema, Pois enumeram estados de esPírito 
do eu lírico.
iv. os versos “um dia amanheceras tão sisuda/ que fora de al-
godão o teu caPote!” configuram exemPlos de Personificação e 
metáfora, resPectivamente.
assinale a alternativa correta. 
a) Somente as afirmativas I e IV são corretas. 
b) Somente as afirmativas II e III são corretas. 
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. 
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. 
e) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas. 
9. (g1 CFT-MG) o Poeta gregório de matos tornou-se imPor-
tante na rePresentação da literatura barroca brasileira Porque: 
a) enfatizou a produção poética satírica em detrimen-
to da religiosa. 
b) pautou sua vida pelo respeito às normas e costu-
mes sociais e estéticos. 
c) criticou membros do clero e do poder político e 
exaltou índios e mulatos. 
d) apropriou-se de formas e temas do barroco euro-
peu, adequando-os ao contexto local. 
10. (UEG)
Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Porque quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
ObrA POéTicA de GreGóriO de MATOS. 
riO de JAneirO: recOrd, 1990.
durante o Período colonial brasileiro, as PrinciPais manifestações 
artísticas, PoPulares ou eruditas, foram, assim como nos demais as-
Pectos da vida cotidiana, marcadas Pela influência da religiosidade. 
nesse sentido, com base na análise da Presença da religiosidade na 
obra de aleijadinho e gregório de matos, é correto afirmar: 
a) Ambas são modelos da arte barroca, uma vez que se 
inspiram mais na temática cristã do que em elementos 
oriundos da mitologia greco-romana.b) A presença da temática religiosa em ambos deve-se 
à influência protestante holandesa na região da Bahia 
e de Minas Gerais. 
c) No trecho do poema, tem-se a expressão de um pe-
cador que, embora creia em Deus, não tem certeza de 
que obterá o perdão divino. 
d) A pobreza estética da obra de Aleijadinho e Matos 
deriva da censura promovida pela Santa Inquisição às 
obras artísticas no Brasil. 
aleijadinho, Cristo do 
Carregamento da Cruz. 1998.
Gabarito
1. E 2. E 3. C 4. C 5. C 6. D
7. B 8. A 9. D 10. A
13
 a relíquia
eça de queirós
OBRA
2
1. eça de Queirós 
José Maria Eça de Queirós nasceu em 1845, na cidade de 
Póvoa do Varzim, em Portugal. Formou-se em Direito na 
Universidade de Coimbra, cidade em que conheceu alguns 
dos integrantes da chamada Geração de 70, que revolucio-
naria a literatura portuguesa. Depois de formado, foi viver 
em Lisboa, onde participou ativamente das Conferências 
do Casino, que buscaram modernizar a filosofia, as artes e 
a ciência em Portugal. 
Ingressou na carreira diplomática e atuou como cônsul em 
Cuba e na Inglaterra, país em que escreveu O crime do pa-
dre Amaro e O primo Basílio, dois romances fundamentais 
de sua carreira literária. As viagens diplomáticas prosse-
guiram, mas Eça de Queirós não parou de escrever para 
jornais portugueses e brasileiros.
Em 1883, foi eleito sócio-correspondente da Academia Real de 
Ciências. Foi transferido para Paris, onde conheceu o escritor 
Émile Zola, principal expoente da escola literária naturalista. 
Em 1888, depois de ter publicado A relíquia e Os Maias, Eça 
de Queirós já não era mais o combativo jovem das Conferên-
cias do Casino. Em Paris, escreveu A ilustre casa de Ramires e 
A cidade e as serras. Em 1900, visitou pela última vez sua terra 
natal e voltou para a capital francesa, cidade em que faleceu.
1.1. As três fases de Eça de Queirós
A obra de Eça de Queirós é a mais importante do Realismo 
português. Ela pode ser organizada da seguinte forma:
1.1.1. Primeira fase – Aprendizado (1865 a 
1875)
Corresponde à produção de cartas, crônicas, artigos e fo-
lhetins, reunidos mais tarde sob o título de Prosas bárbaras. 
Durante essa fase, que apresenta elementos do Romantismo, 
Eça de Queirós inspirou-se em autores como Victor Hugo e 
Michelet. Seu primeiro romance – O mistério da estrada de 
Sintra (1871) – foi escrito em parceria com Ramalho Ortigão 
e publicado em forma de cartas no jornal Diário de Notícias. O 
método epistolar da escrita despertou o interesse do público: 
os dois escritores, em uma espécie de pseudorreportagem, 
trocaram cartas contando a história de um sequestro, e os 
leitores acreditaram que se tratava de um fato verdadeiro.
1.1. 2. Segunda fase – Realismo-
Naturalismo (1875 a 1888)
Fase realista, que vai desde a publicação de O crime do 
padre Amaro até a publicação de Os Maias. Nesse período, 
o escritor desenvolveu os seus "romances de tese", criti-
cando o atraso e a hipocrisia que observava em Portugal e 
colocando o dedo na ferida da sociedade burguesa. A obra 
A relíquia, publicada em 1887, enquadra-se nessa fase.
1.1.3. Terceira fase – Nacionalismo 
nostálgico (1888 a 1900)
Fase em que o escritor se afasta dos moldes natura-
listas e aborda o tradicionalismo das origens de Por-
tugal. É o que o romance A ilustre casa de Ramires 
demonstra, ao contar como o protagonista busca re-
contar a história de seus antepassados e colocar-se à 
altura deles. A última fase compreende ainda as obras 
A correspondência de Fradique Mendes e o romance 
A cidade e as serras.
1.2. Naturalismo: 
a literatura como ciência
O Naturalismo foi uma escola artística surgida em meados 
do século XIX. Na literatura, o seu maior representante foi o 
escritor francês Émile Zola (1840-1902). De um modo geral, 
o Naturalismo radicalizou os preceitos do Realismo ao propor 
14
que os autores deveriam se basear nas ciências naturais para 
desenvolver um retrato fidedigno da realidade. Desse modo, o 
rigor da análise científica foi transposto para as narrativas de 
ficção. Em oposição ao universo idealizado do Romantismo, a 
literatura naturalista propunha provar determinadas teses so-
bre a natureza humana. As obras dessa escola caracterizam-se 
por apresentar descrições minuciosas, narradores oniscientes 
e linguagem clara e objetiva. Baseados nas teorias científicas 
em voga na época, como o determinismo, o positivismo e o 
darwinismo, os autores procuraram estudar o homem em sua 
realidade social, em sua hereditariedade e em seu momento 
histórico. Em Portugal, o Naturalismo tem início em 1875, com 
a publicação de O crime do padre Amaro, de Eça de Queirós. 
viagem à Terra Santa fosse revelado, ficaria mais difícil para 
ele conseguir o apoio das classes endinheiradas). Assim, 
Teodorico deseja explicar o verdadeiro conteúdo dos paco-
tes que trouxe do Egito e de Jerusalém. 
Além de narrar os fatos da desventurada viagem, Teodorico 
conta diversos aspectos de sua vida pregressa, como a his-
tória da morte de seus pais – que o obrigou, aos sete anos, 
a ir morar com sua tia rica. Teodorico revela que a tia lhe 
impunha uma moral muito rígida, principalmente no trato 
com as mulheres. Dessa forma, ele se tornou um indivíduo 
que, para conseguir vantagens, age de maneira hipócrita e 
cínica. Diante de sua tia, uma senhora beata e conservadora, 
Teodorico finge ser um sujeito religioso – por interesse em 
uma possível herança –, enquanto, na verdade, envolve-se 
com diversas mulheres em busca de prazeres carnais.
Em determinada passagem do romance, Teodorico resolve 
pedir à tia que lhe pague uma viagem para Paris, na França. 
Contudo, dona Patrocínio nega a viagem, pois considera 
Paris uma cidade de vícios e perdição. Com a intenção de 
impressionar a tia para herdar sua fortuna, sugere então 
que ela lhe pague uma peregrinação à Terra Santa (passan-
do por Egito e Palestina), prometendo que lhe traria uma 
recordação de sua excursão religiosa. Na verdade, durante 
sua estadia na Terra Santa, Teodorico foge de todas as obri-
gações religiosas, aproveitando para viver intensamente os 
atos mundanos que já praticava em Portugal.
Um episódio significativo ocorre durante a viagem, em Ale-
xandria, quando Teodorico se envolve sexualmente com uma 
inglesa chamada Miss Mary – uma espécie de dama de com-
panhia. No fim da intensa relação, a moça presenteia Teodo-
rico com sua camisola de rendas, na qual estava pregado um 
bilhete que fazia referência à relação que tiveram. Pouco antes 
da viagem de volta, Teodorico se lembra de que precisa provi-
denciar uma lembrança religiosa para a tia. Então resolve for-
jar uma coroa de Cristo com algumas ramagens de arbustos. 
Assim, com dois pacotes, um com a camisola de Miss Mary, e 
outro com a falsa coroa de Cristo, Teodorico retorna a Portugal.
Chegando a Lisboa, ele inventa para a tia histórias de peni-
tências e jejuns que teria realizado durante a peregrinação. 
Além disso, diz para ela que trouxe de lembrança a coroa 
de espinhos usada por Cristo. Dona Patrocínio, orgulhosa e 
entusiasmada, decide organizar um encontro em sua casa 
para que o embrulho seja aberto diante de algumas auto-
ridades religiosas da região.
A abertura da suposta relíquia é realizada num ambiente 
de grande expectativa, diante de uma imensa audiência de 
sacerdotes e beatas. O primeiro pacote a ser aberto é o de 
dona Patrocínio, e, para a surpresa de todos, em vez da relí-
quia sagrada, surge a camisola de Miss Mary com o bilhete 
revelando as relações pecaminosas que havia mantido com 
Teodorico. Confuso, ele havia se esquecido de que, duran-
2. a relíQuia
A Relíquia começa com a apresentação do narrador e pro-
tagonista da história, Teodorico Raposo, que procura expli-
car ao leitor o que o motivou a escrever suas memórias. Ele 
revela que o principal motivo é o fato de ele e seu cunhado 
– Crispim – acreditarem que aquelas memórias contêm 
“uma lição lúcida e forte” da vida, sendo dignas da imorta-
lidade que somente “a literatura propicia”. Uma partecon-
siderável da narrativa se detém na viagem que Teodorico 
faz à Terra Santa – passando por Egito e Palestina – depois 
de uma recente desilusão amorosa. Um de seus principais 
objetivos é conseguir uma recordação religiosa – a tal “re-
líquia” – para sua velha tia rica, dona Patrocínio, e, asssim, 
tornar-se digno de receber uma considerável herança.
Teodorico também revela que sua narrativa possui o pro-
pósito de realizar uma correção em um livro escrito por um 
amigo, participante da mesma viagem à Terra Santa, o qual 
mencionava que Teodorico levava os "restos de seus an-
tepassados" em dois embrulhos de papel. Essa afirmação 
o preocupava, uma vez que poderia afetar a sua imagem 
diante da burguesia local e acarretar problemas para o seu 
futuro (caso o escândalo em que Teodorico se envolvera na 
15
te a viagem de retorno a Lisboa, encontrara uma mendiga 
que pedia alguma esmola. Não tendo dinheiro, deu à pobre 
moça o que acreditava ser o embrulho com a camisola; mas, 
na verdade, havia trocado os pacotes.
Teodorico é expulso da casa da tia e perde a herança que 
ambicionava. Para sobreviver, passa a vender algumas re-
líquias que havia trazido da Terra Santa, além de outras, 
falsas, que ele mesmo fabricava em grandes quantidades 
(o que, posteriormente, acabou por arruinar o negócio). A 
partir desses episódios, Teodorico compreende que a fal-
sidade e a mentira são inúteis e resolve mudar seu com-
portamento. Casa-se com a irmã de um amigo da época 
de colégio e, graças a ele, arranja um emprego. Quando 
finalmente parece regenerado da hipocrisia que o caracte-
rizava, descobre que o padre Negrão – um dos clérigos que 
costumava frequentar a casa de sua tia – herdou toda a 
fortuna de dona Patrocínio, inclusive a Quinta onde ele pró-
prio havia nascido. Além disso, fica sabendo que o padre é 
amante de Amélia, uma mulher com quem Teodorico havia 
se relacionado no passado e por quem tinha sido traído.
Depois de tomar consciência de que perdera tudo para alguém 
do clero, Teodorico conclui que não devia ter se regenerado; 
pelo contrário, julga que devia ter agido de maneira ainda mais 
hipócrita e cínica, como o padre Negrão. O protagonista ainda 
é atormentado por outro pensamento: se, no dia da abertura 
do fatídico embrulho, tivesse tido a coragem de declarar que 
aquela camisola havia pertencido a Santa Maria Madalena, 
teria sido celebrado por todos e herdado a fortuna.
2.1. Personagens de destaque
 § Teodorico Raposo: principal personagem do romance, 
é um garoto que, devido às imposições da tia, torna-se 
um rapaz inescrupuloso e ganancioso. Finge ser religioso 
para tentar herdar a fortuna da tia em testamento, mas 
não é capaz de deixar de se envolver com as mulheres 
da região. Durante sua viagem à Terra Santa, envolve-se 
com Mary e é deserdado.
 § Dona Maria do Patrocínio (Titi): tia de Teodorico, é 
possuidora de uma grande fortuna e usa esse fato para 
manipular as ações do sobrinho. Extremamente religiosa, 
financia a viagem do sobrinho para a Terra Santa, sob a 
condição de que ele lhe traga uma relíquia sagrada, fator 
que causará o conflito do romance.
 § Crispim: filho do dono da empresa Teles, Crispim & 
Cia. É nomeado ironicamente de “a firma”. Possui ca-
belos compridos e louros e manifesta, no período do 
internato, ser homossexual. Acaba tornando-se patrão 
e cunhado de Teodorico.
 § Pinheiro: padre interesseiro e frequentador assíduo dos 
jantares oferecidos por dona Patrocínio. É hipocondríaco 
e, a todo momento, examina a própria língua no espelho.
 § Casimiro: padre e procurador de dona Patrocínio. Está 
sempre presente nos jantares na casa de sua cliente.
 § Dr. Margaride: juiz aposentado, foi amigo do pai de 
Teodorico, na cidade de Viana. Aposentou-se depois de 
receber uma grande herança de seu irmão Abel. Costu-
ma contar de forma exagerada as desgraças alheias.
 § Adélia: é a amante de Teodorico em Portugal. Trata-se 
de uma jovem ambiciosa, que despreza o protagonista 
por causa de sua submissão a dona Patrocínio, que estip-
ula horários rígidos para Teodorico voltar para casa. Além 
disso, frustra-se por não enxergar oportunidades de as-
cenção financeira na relação com Teodorico. No fim da 
história, torna-se amante do padre Negrão, personagem 
que recebe boa parte da herança de dona Patrocínio.
 § Dr. Topsius: arqueólogo alemão, formado pela Universi-
dade de Bonn e sócio do Instituto Imperial de Escavações 
Históricas. Nacionalista convicto, e descrito como um tipo 
“muito magro e pernudo”. Torna-se o companheiro de 
viagens de Teodorico durante sua expedição à Terra San-
ta. Seu objetivo é visitar as regiões da Galileia e da Judeia 
a fim de coletar informações para seu livro.
 § Mary: moça inglesa com quem Teodorico se envolve 
durante a viagem à Terra Santa. É dela a camisola que 
causa o escândalo e faz Teodorico ser deserdado pela tia.
2.2. Análise
O romance europeu oitocentista é interessante para a 
compreensão da funcionalidade histórica do século XIX. 
Com o desenvolvimento da burguesia, o romance ga-
nhou espaço e se tornou o gênero perfeito para a leitura 
silenciosa e individual do universo burguês. 
Do ponto de vista estrutural, o romance A relíquia é divi-
dido em cinco grandes capítulos sem títulos. A obra é bas-
tante descritivista e fornece muitos detalhes de cenário, 
objetos e vestuário, transmitindo a sensação de realidade 
que envolve a estética realista. Com efeito, esse descriti-
vismo minucioso é uma das características marcantes do 
estilo de Eça de Queirós.
Os espaços que surgem na obra são a Lisboa de fim do século 
XIX e os cenários da viagem à Terra Santa. A narrativa segue 
uma ordem linear e cronológica que apresenta aspectos da 
vida de Teodorico Raposo que tratam de família, relações amo-
rosas, convivência com a tia beata, excursão na Terra Santa 
etc., incluindo o retorno de Teodorico e o desfecho desastroso.
A obra retrata a tentativa de um indivíduo de possuir algo 
cuja realidade não lhe é adequada. Teodorico Raposo é 
um sujeito pobre que, devido à morte dos pais, passa 
a viver com dona Patrocínio, uma tia rica e beata. A tia 
não permite qualquer tipo de depravação ao seu redor, 
ou seja, ela não aprova que Teodorico, vivendo em sua 
casa, aproxime-se de mulheres. O sobrinho, escondido da 
16
tia, envolve-se com meretrizes e goza de todos os praze-
res da carne. Ao final das tardes, sem ser visto, retorna à 
mansão onde vive para fazer as orações de acordo com 
as coordenadas rigorosas de dona Patrocínio. 
A duplicidade de Teodorico é a causa dos delitos que ele 
comete. A personalidade do sobrinho se configura em sua 
origem e em seus valores, ou seja, os dogmas impostos 
a ele por sua tia não foram suficientes para a conversão 
do garoto à religião cristã. O que motiva suas ações é o 
interesse em ascender financeiramente, e isso justifica cada 
segundo de sua devoção. 
Essa falsa castidade é o delito fundamental de Teodorico. 
Nesse sentido, A relíquia é um exemplo claro de romance 
realista do século XIX que aborda o tema da ascenção social, 
além de apresentar a construção de seu personagem intrin-
secamente ligada ao ambiente em que ele está inserido. O 
crítico literário Erich Auerbach aborda esse aspecto ao afir-
mar que, no romance realista oitocentista, a mistura de esti-
los: “[...] permitiu que personagens de qualquer classe social, 
com todos os seus entrelaçamentos vitais prático-cotidianos, 
se tornassem objetos da representação literária séria.”
É possível perceber na obra de Eça de Queirós que o es-
paço construído na narrativa influencia diretamente nas 
atitudes de Teodorico. O sobrinho desafia a própria sorte 
ao tentar se transformar no tipo que ele acredita ser consi-
derado ideal pela sociedade. 
É por causa do ambiente que o cerca que Teodorico não en-
contra alternativa, a não ser mentir. Na obra, o protagonista 
procura se adaptar às normas culturais, enquanto sufoca 
seus impulsos antissociais e, ao mesmo tempo, torna-se mais 
profundo e complexo.Com a intensificação de seus conflitos 
internos nasce a reflexão sobre seu verdadeiro “erro de con-
duta”. Na passagem do romance em que Teodorico sonha 
que a imagem de Jesus Cristo lhe aparece na Travessa da 
Palha, nota-se certa avaliação de consciência:
— O deus a que te prostravas era o dinheiro de G. Godi-
nho; e o céu para que teus braços trementes se erguiam 
– o testamento da Titi... Para lograres nele o lugar melhor, 
fingiste-te devoto, sendo incrédulo; casto, sendo devasso; 
caridoso, sendo mesquinho; e simulaste a ternura de filho, 
tendo só a rapacidade de herdeiro... Tu foste ilimitada-
mente hipócrita! [...] Mentiste sempre; e só era verdadeiro 
para o céu, verdadeiro para o mundo, quando rogavas a 
Jesus e à Virgem que rebentassem depressa a Titi. 
É possível observar como Teodorico busca subverter o am-
biente e a sociedade em que vive com o propósito de con-
cretizar o seu desejo de mudança. O personagem pretende 
reconfigurar as circunstâncias que o conceberam para viver 
num ambiente mais tranquilo e agradável ao seus anseios. 
Por isso tantos fingimentos.
Esse movimento de busca de felicidade representa a maior 
transgressão do personagem, pois foi por meio desse des-
locamento de papéis que Teodorico Raposo perdeu tudo 
aquilo que almejava. Depois de experimentar a miséria ao 
ser abandonado pela tia, conseguiu um emprego e uma fa-
mília, estacionando em uma vida pacata que – não sendo 
ruim – nunca fora seu verdadeiro objetivo. 
Essas circunstâncias revelam uma característica dos roman-
ces realistas do século XIX: a representação de um sujeito 
reflexivo que busca ser responsável pelo próprio destino. E, 
necessariamente, esse sujeito habita entre duas esferas – a 
interna e a do mundo que lhe é exterior. De acordo com o 
estudioso do século XIX, Ian Watt:
Contudo, embora o dualismo enfatize a oposição entre 
diferentes modos de encarar a realidade, não leva à com-
pleta rejeição da realidade do ego ou do mundo exterior. 
Da mesma forma, diferentes romancistas atribuíram dife-
rentes graus de importância aos objetos exteriores e inte-
riores da consciência, mas nunca rejeitaram inteiramente 
uns aos outros. (WATT, Ian. A ascensão do romance.)
É nessa dicotomia, nessa passagem do interior ao exterior – e 
vice-versa –, que se desenvolve o personagem Teodorico. O 
sujeito reflexivo arquiteta sua própria armadilha. A ambição 
de herdar a fortuna da tia o obriga a realizar diversos serviços 
religiosos, que, inclusive, levaram-no à Terra Santa. No entan-
to, foi justamente essa ambição que o atirou na miséria.
É importante ressaltar as críticas que Eça de Queirós realiza 
em A relíquia. Um exemplo é o ataque ao clero, representa-
do na figura do padre, que estabelece uma variedade de re-
lações promíscuas – seja motivado por cobiça ou por dese-
jos carnais. Além disso, o autor constrói na personagem de 
dona Patrocínio uma crítica ao conservadorismo burguês, 
que vigia o comportamento dos indivíduos na sociedade 
e causa desvios danosos, como a educação sexual que se 
transforma em aversão ao sexo. Por fim, é possível observar 
uma crítica geral que aponta para o processo de formação 
da nacionalidade portuguesa, que faz com que indivíduos 
17
pobres, como Teodorico – órfão e atirado à própria sorte –, 
fiquem à mercê de relações de favor e apadrinhamento de 
pessoas pertencentes a classes privilegiadas.
2.3. Trechos da obra
Acompanhe alguns trechos para compreender melhor a lin-
guagem utilizada no livro. Confira abaixo:
2.3.1. Capítulo I
[...] Eu nasci numa tarde de sexta-feira de Paixão; e a mamã 
morreu, ao estalarem, na manhã alegre, os foguetes da Ale-
luia. Jaz, coberta de goivos, no cemitério de Viana, numa 
rua junto ao muro, úmida da sombra dos chorões, onde ela 
gostava de ir passear nas tardes de verão, vestida de branco, 
com a sua cadelinha felpuda que se chamava Traviata. 
O comendador e D. Maria não voltaram ao Mosteiro. Eu 
cresci, tive o sarampo; o papá engordava; e o seu violão 
dormia, esquecido ao canto da sala, dentro de um saco 
de baeta verde. Num julho de grande calor, a minha cri-
ada Gervasia vestiu-me o fato pesado de veludilho preto; 
o papá pôs um fumo no chapéu de palha; era o luto do 
Comendador G. Godinho, a quem o papá muitas vezes 
chamava, por entre dentes, “malandro”.
Depois, numa noite de entrudo, o papá morreu de repente, 
com uma apoplexia, ao descer a escadaria de pedra da 
nossa casa, mascarado de urso, para ir ao baile das Sen-
horas Macedos.
Eu fazia então sete anos; e lembro-me de ter visto, ao outro 
dia, no nosso pátio, uma senhora alta e gorda, com uma 
mantilha rica de renda negra, a soluçar diante das man-
chas de sangue do papá, que ninguém lavara, e já tinham 
secado nas lajes. A porta uma velha esperava, rezando, en-
colhida no seu mantéu de baetilha [...]
2.3.2. Capítulo II
[...] Rebuscando, entre os cobertores revoltos, descobrira uma 
longa camisa de rendas, com laços de seda clara. Sacudia-a; 
e espalhava-se um aroma saudoso de violeta e de amor... 
[...] A minha luveirinha ergueu-se, trêmula, descorada – e 
teve um poético rasgo de paixão. Enrolou a sua camisinha, 
atirou-me para os braços, tão ardentemente, como se entre 
as dobras viesse também o seu coração.
– Dou-ta, Teodorico! Leva-a, Teodorico! Ainda está amar-
rotada da nossa ternura!... Leva-a para dormires com ela 
a teu lado, como se fosse comigo... Espera, espera ainda, 
amor! Quero pôr-lhe uma palavra, uma dedicatória!
Correu à mesa, onde jaziam restos do papel sisudo em 
que eu escrevia à Titi a história edificativa dos meus jejuns 
em Alexandria, das noites consumidas a embeber-me do 
Evangelho... E eu, com a camisinha perfumada nos braços, 
sentindo duas bagas de pranto rolarem-me pelas barbas, 
procurava angustiosamente em redor onde guardar aquela 
preciosa relíquia de amor [...]
Eu fazia então sete anos; e lembro-me de ter visto, ao outro 
dia, no nosso pátio, uma senhora alta e gorda, com uma 
mantilha rica de renda negra, a soluçar diante das man-
chas de sangue do papá, que ninguém lavara, e já tinham 
secado nas lajes. A porta uma velha esperava, rezando, en-
colhida no seu mantéu de baetilha [...]
2.3.3. Capítulo V
[...] Era decerto em mim o deleite de rever, sob aquele céu 
de janeiro, tão azul e tão fino, a minha Lisboa, com as suas 
quietas ruas cor de caliça suja, e aqui e além as tabuinhas 
verdes descidas nas janelas, como pálpebras pesadas de 
langor e de sono. Mas era, sobretudo, a certeza da gloriosa 
mudança, que se fizera na minha fortuna doméstica e na 
minha influência social.
Até aí, que fora eu em casa da senhora Dona Patrocínio? O 
menino Teodorico que, apesar da sua carta de doutor e das 
suas barbas de Raposão, não podia mandar selar a égua 
para ir espontar o cabelo à Baixa, sem implorar licença à 
Titi... E agora? O nosso Doutor Teodorico, que ganhara, no 
contato santo com os lugares do Evangelho, uma autori-
dade quase pontifical! Que fora eu até aí, no Chiado, entre 
os meus concidadãos? O Raposito, que tinha um cavalo. E 
agora? O grande Raposo, que peregrinara poeticamente 
na Terra Santa, como Chateaubriand, e que, pelas remotas 
estalagens em que pousara, pelas roliças circassianas que 
beijocara, podia parolar com superioridade na Sociedade de 
Geografia ou em asa da Benta Bexigosa [...]
aplicando para aprender
1.(UNICAMP) em a relíquia, de eça de queirós, encontramos 
a seguinte resPosta de lino, comPrador habitual das relíquias 
de raPoso:
“Está o mercado abarrotado, já não há maneira de vender 
nem um cueirinho do Menino Jesus, uma relíquia que se 
vendia tão bem! O seu negócio com as ferraduras é perfei-
tamente indecente... Perfeitamente indecente! É o que me 
dizia noutro dia um capelão, primo meu: ‘São ferraduras 
demais para um país tão pequeno!...’ Catorze ferraduras, 
senhor! É abusar! Sabe vossa Senhoria quantos pregos, 
dos que pregaram Cristo na Cruz, Vossa Senhoria tem 
impingido, todos com documentos? Setenta e cinco, Se-
nhor!... Não lhe digo mais nada... Setenta e cinco!”a) relate o ePisódio que faz com que lino dê essa resPosta a raPoso.
b) sabendo que o autor usa da ironia Para suas críticas, dê os sen-
tidos, literal e irônico, que Pode tomar dentro da narrativa a frase: 
“são ferraduras demais Para um País tão Pequeno!“.
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2. (UNICAMP) o trecho que segue relata um diálogo entre o nar-
rador-Personagem de a relíquia e o doutor margaride, e contém 
referências básicas Para o desenvolvimento do romance:
Eu arrisquei outra palavra tímida.
— A titi, é verdade, tem-me amizade...
— A titi tem-lhe amizade – atalhou com a boca cheia 
o magistrado – e você é o seu único parente... Mas a 
questão é outra, Teodorico. É que você tem um rival.
— Rebento-o! – gritei eu, irresistivelmente, com os 
olhos em chamas, esmurrando o mármore da mesa.
O moço triste, lá ao fundo, ergueu a face de cima do 
seu capilé. E o Dr. Margaride reprovou com severidade 
a minha violência.
— Essa expressão é imprópria de um cavalheiro, e 
de um moço comedido. Em geral não se rebenta nin-
guém... E além disso o seu rival não é outro, Teodori-
co, senão Jesus Cristo! 
Nosso Senhor Jesus Cristo? E só compreendi quando 
o esclarecido jurisconsulto, já mais calmo, me revelou 
que a titi, ainda no último ano da minha formatura, 
tencionava deixar a sua fortuna, terras e prédios, a ir-
mandades da sua simpatia e a padres da sua devoção.
a) localize no trecho ao menos uma dessas referências e exPlique 
qual a sua relevância Para a trama central.
b) o trecho fala da imPortância da figura de jesus cristo Para a 
Personagem denominada “titi”. descreva essa Personagem, segundo 
o Prisma do PróPrio narrador, teodorico raPoso, e tente demons-
trar como o mesmo trata sarcasticamente o seu “rival” de herança. 
3. (UNICAMP) em a relíquia de eça de queirós, várias são as mu-
lheres com quem teodorico raPoso, o herói e narrador, se vê envol-
vido. dentre elas, Podemos citar mary, adélia, titi, jesuína, cíbele.
a) uma dessas Personagens é imPortantíssima Para a trama do ro-
mance, já que acomPanha o narrador desde a infância, e deve-se a 
ela a origem de todos os seus infortúnios Posteriores. quem é e o 
que fez ela Para que o Plano de raPoso não desse certo?
b) a qual delas raPoso se refere como “tinha trinta e dois anos 
e era zarolha”? que relações tem essa Personagem com crisPim, 
a quem o narrador denomina como “a firma”? 
Gabarito
1. a) Após ter sido expulso pela “Titi”, dona Patrocínio das 
Neves, Teodorico Raposo para sobreviver passa a vender as 
falsas relíquias sagradas a Lino. Entretanto, ele próprio de-
sacreditou as suas relíquias. Por isso, Lino responde: “Está 
o mercado abarrotado.”
b) No sentido literal significa que as “ferraduras” são de-
masiadas para um país pequeno como Portugal.
No sentido irônico essas “ferraduras” referem-se aos “bur-
ros” que fazem parte da população de Portugal. 
2. a) As expressões “titi”, “Jesus Cristo” e a intenção da tia 
deixar a sua fortuna a “irmandades da sua simpatia e a padres 
da sua devoção” constituem elementos reveladores da trama 
narrativa de “A relíquia”. Teodorico pretendia traçar uma estra-
tégia para sensibilizar a tia, de movê-la da intenção de deixar 
a fortuna à Igreja e tornar-se seu herdeiro. Para tal, conven-
ce a tia a financiar-lhe uma viagem à Terra Santa, ao que ela 
consente desde que lhe traga uma recordação. A referência a 
Jesus Cristo também é facilmente associável à coroa de espi-
nhos que Teodorico “fabrica” antes de voltar a Portugal para 
entregá-la como “valiosa relíquia” do episódio da crucificação.
b) D. Patrocínio das Neves, a “titi”, era uma mulher beata, seca 
e mal amada, para quem o sexo era sinônimo de pecado, mas 
rica. Representa a sociedade portuguesa conservadora e deca-
dente, que privilegia o mundo das aparências, pois a sua devo-
ção religiosa não a impediu de abandonar o sobrinho, doente 
e sem recursos de sobrevivência. O declínio moral revela-se 
também no narrador-personagem, Teodorico Raposo, cujo in-
teresse econômico faz com que veja em Cristo o seu grande 
rival no direito à herança que a tia tencionava deixar à Igreja. 
Cínico, hipócrita e amoral, não hesita em descrever o seu “ri-
val” de forma abjeta, como quando descreve o momento em 
que associa a figura nua de Cristo às formas sensuais de uma 
mulher ou quando afirma que lhe foi revelado através de so-
nho que a crucificação de Cristo não passara de um embuste.
3. a) Trata-se da personagem Titi, D. Maria Patrocínio Neves, 
tia de Teodorico Raposo. Seu plano consistia em seguir as 
normas religiosas, já que sua tia era uma devota fervorosa.
Quando descobre que Raposo fingia, pois preferia o peca-
do e a luxúria, Titi expulsa-o de casa pondo fim à conquista 
da herança.
b) Refere-se à irmã de Crispim, D. Jesuína. Crispim é dono 
da firma Crispim & Cia, e Raposo, casando-se com D. Jesuí-
na, resolveria seus problemas financeiros. 
19
 quincas BorBa
machado de assis
OBRA
3
1. Machado de assis A obra de Machado de Assis abrange diversos gêneros li-terários. Na poesia, inicia com o romantismo de Crisálidas 
(1864) e Falenas (1870), passando pelo Indianismo em 
Americanas (1875) e pelo Parnasianismo em Ocidentais 
(1901). Paralelamente, apareciam as coletâneas de Con-
tos fluminenses (1870) e Histórias da meia-noite (1873); 
os romances Ressurreição (1872), A mão e a luva (1874), 
Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878) são considerados como 
pertencentes ao seu período romântico.
A partir daí, Machado de Assis entrou na fase das obras-pri-
mas que o tornaram o maior escritor da literatura brasileira e 
um dos maiores autores da literatura de língua portuguesa.
Machado publicou na Gazeta de Notícias, de 1881 a 1897, 
diversos textos, mas, principalmente, suas melhores crôni-
cas. Em 1881, saiu o livro que daria uma nova direção à 
sua carreira literária: Memórias póstumas de Brás Cubas. A 
data se tornou o marco inicial do Realismo no Brasil. A par-
tir de 1881, ao remodelar a literatura e trazer conceitos que 
negavam os princípios românticos, suas obras se tornaram 
as representantes máximas do Realismo brasileiro. Os ou-
tros romances dessa fase são: Casa Velha (1885), Quincas 
Borba (1891), Dom Casmurro (1899), Esaú e Jacó (1904) e 
Memorial de Aires (1908). 
Como contista, publicou Papéis avulsos (1882), Histórias 
sem data (1884), Várias histórias (1896), Páginas recolhi-
das (1899) e Relíquias de Casa Velha (1906) 
Em 1889, foi promovido a diretor da Diretoria do Comér-
cio no Ministério.
Para se compreender as inovações do "Bruxo do Cosme 
Velho", como Machado ficou conhecido, é preciso consi-
derar que ele começou a escrever inspirado no molde de 
José de Alencar, ou seja, publicou inicialmente romances 
românticos, como as já citadas obras Ressurreição, A mão 
e a luva, Helena e Iaiá Garcia. Entretanto, seu reconheci-
mento e consagração ocorre pelas obras realistas.
O diálogo com o leitor, a digressão, a metalinguagem e 
o mergulho na psicologia humana compõem o conjunto 
de genialidade temperada por ironia refinada, estilo que 
desnuda as aparências da sociedade burguesa com um 
cinismo elegante e que faz de Machado de Assis um dos 
maiores nomes da literatura mundial.
Joaquim Maria Machado de Assis nasceu na cidade do 
Rio de Janeiro em 21 de junho de 1839. Era mestiço, 
filho do pintor Francisco José de Assis e de Maria Leo-
poldina Machado de Assis, portuguesa dos Açores. Per-
deu a mãe muito cedo e foi criado pela madrinha no 
Morro do Livramento. Sem meios para cursos regulares, 
estudou sempre como um autodidata. Com apenas 15 
anos incompletos, publicou um soneto no Periódico dos 
Pobres, em 1854. Foi jornalista, contista, cronista, ro-
mancista, poeta e teatrólogo.
Em 1856, entrou para a Imprensa Nacional como apren-
diz de tipógrafo. Em 1858, tornou-se revisor e colabora-
dor no Correio Mercantil e, em 1860, foi para a redação 
do Diário do Rio de Janeiro. Escreveu para a revista O 
Espelho, onde estreou como crítico teatral, para a Sema-
na Ilustrada e para o Jornal das Famílias, no qual publicou 
contos.Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de 
Letras, que presidiu por mais de dez anos. Casou-se com 
Carolina Augusta Xavier de Novais, que foi sua compa-
nheira durante 35 anos.
20
1.1. Linha do tempo
 § 1839 – Nasce Joaquim Maria Machado de Assis, no 
dia 21 de junho, no Rio de Janeiro. Filho do brasi-
leiro Francisco José de Assis e da portuguesa Maria 
Leopoldina Machado de Assis, moradores do Morro 
do Livramento.
 § 1849 – Depois do falecimento de sua mãe e de sua 
única irmã, Machado é cuidado por sua madrinha
 § 1854 – Seu pai casa-se com Maria Inês da Silva, 
com quem Machado continuará vivendo depois da 
morte do pai.
 § 1855 – Publica “A palmeira”, seu primeiro trabalho, 
e “Ela”, seu primeiro poema, no periódico Marmota 
Fluminense.
 § 1856 – Entra para a Tipografia Nacional como aprendiz.
 § 1858 – Estuda francês e latim com o professor padre 
Antônio José da Silveira Sarmento. Torna-se revisor de 
provas de tipografia e da livraria do jornalista Paula 
Brito. Nesse período, conhece membros da Sociedade 
Petalógica, como Manuel Antônio de Almeida e Joa-
quim Manoel de Macedo. Escreve para os jornais O 
Paraíba e Correio Mercantil.
 § 1864 – Publica o volume de poesias Crisálidas, seu 
primeiro livro.
 § 1867 – É nomeado ajudante do diretor no Diário Oficial.
 § 1869 – Casa-se com Carolina Augusta Xavier de Novaes.
 § 1873 – É nomeado o primeiro-oficial da Secretaria 
do Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e 
Obras Públicas.
 § 1878 – Passa uma temporada em Friburgo para cui-
dar da saúde.
 § 1881 – Torna-se oficial de gabinete do ministro da 
Agricultura, Pedro Luis.
 § 1888 – Torna-se oficial da Ordem da Rosa por de-
creto do imperador.
 § 1889 – É nomeado diretor na Diretoria do Comércio.
 § 1897 – É eleito presidente da Academia Brasilei-
ra de Letras, da qual, um ano antes, havia sido um 
dos fundadores. 
 § 1904 – Torna-se membro da Academia das Ciências 
de Lisboa. Morre sua mulher, Carolina Xavier.
 § 1908 – Falece no Rio de Janeiro em 29 de setembro.
1.2. Tempo de mudanças
Na segunda metade do século XIX, Inglaterra e França 
detinham o controle administrativo, econômico e militar 
do mundo capitalista e buscavam ampliar o número de 
consumidores para seus produtos industrializados. O Brasil 
consolidava o Império apoiado no sistema escravista e com 
algum encaminhamento de modernização. 
Machado de Assis viveu momentos importantes da história 
do Brasil, como a Guerra do Paraguai, a luta abolicionista 
e a constituição da República, que repercutiram em sua 
produção literária. A segunda metade do século XIX foi, de 
fato, um período de intensas transformações na sociedade 
brasileira. O que é possível perceber no romance Quincas 
Borba, em que o Rio de Janeiro, por ser a corte, era um 
espaço onde surgiam os enganadores e suas falcatruas. 
2. Quincas borba
Na obra de Machado de Assis, o personagem Quincas Borba 
aparece pela primeira vez no livro Memórias póstumas de 
Brás Cubas. No romance de 1891, por sua vez, o título da 
obra faz referência direta ao filósofo Quincas Borba, que 
morre logo no início da história. Depois de sua morte, Pedro 
Rubião de Alvarenga, que era seu discípulo e enfermeiro par-
ticular, é beneficiado com uma grande herança.
Com o dinheiro da herança, Rubião, ex-professor primá-
rio e enfermeiro, muda-se da fazenda que vivia na cidade 
de Barbacena, em Minas Gerais, para a cidade do Rio de 
Janeiro, e passa a viver em um palacete no bairro de Bo-
tafogo. Rubião fica encarregado de cuidar do cão de seu 
amigo, que, ironicamente, chama-se Quincas Borba.
21
Na mudança de sua vida provinciana para a vida na cidade, 
Rubião conhece o casal Palha: Sofia e Cristiano.
A partir daí, ele começa a ter contato com diversas caracte-
rísticas que o levam a se tornar um “professor capitalista”.
No Rio de Janeiro, Rubião foi visto como uma pessoa que 
poderia ser facilmente enganada, dada a sua ingenuidade 
e vida simples que levava em Minas Gerais. Então, Rubião 
passa a conviver com o casal Palha, seus supostos novos 
“amigos”, e acaba se interessando pela beleza e meiguice 
de Sofia. Em certo ponto da história, Rubião resolve declarar 
seu amor, mas é rejeitado pela moça, que é fiel a seu marido. 
Sofia conta o ocorrido a Cristiano, que, mesmo sabendo dos 
intentos de Rubião, continua a relação com ele, uma vez que 
está interessado em sua fortuna. Rubião e Cristiano se tor-
nam sócios em uma importadora, Palha & Cia
Rubião, aos poucos, vai perdendo a razão devido à rejeição 
de Sofia. Ele acredita ser Napoleão III e repete aos quatro 
cantos a máxima de seu falecido amigo Quincas Borba: 
“Ao vencedor, as batatas”.
Fala de Quincas Borba:
“Não há morte. O encontro de ditas expansões, ou a ex-
pansão de duas formas, pode determinar a supressão de 
uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, 
porque a supressão de uma é a condição da sobrevivência 
da outra, e a destruição não atinge o princípio universal e 
comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. 
Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As 
batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, 
que assim adquire forças para transpor a montanha e ir 
à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, 
se as duas tribos dividirem em paz as batatas do cam-
po, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de 
inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a 
conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe 
os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, 
recompensas públicas e todos demais efeitos das ações 
bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não 
chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só 
comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e 
pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza 
uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou 
compaixão; ao vencedor, as batatas.”
No fim da história, Rubião foge para Barbacena com o cachor-
ro, onde morre. O casal Palha, por outro lado, torna-se rico.
2.1. Personagens
 § Rubião: enfermeiro, ex-professor do primário na cida-
de de Barbacena e protagonista da narrativa. De origem 
humilde, muda radicalmente de vida quando conhece o 
filósofo Quincas Borba e se torna seu herdeiro. Rubião 
demonstra descontrole em relação à fortuna, além de 
se mostrar ingênuo. Apaixona-se por Sofia, mulher de 
seu mais novo amigo, Cristiano Palha.
“Um criado trouxe o café. Rubião pegou na xícara e, en-
quanto lhe deitava açúcar, ia disfarçadamente mirando a 
bandeja, que era de prata lavrada. Prata, ouro, eram os 
metais que amava de coração; não gostava de bronze, 
mas o amigo Palha disse-lhe que era matéria de preço, 
e assim se explica este par de figuras que aqui está na 
sala, um Mefistófeles e um Fausto.”
 § Cristiano Palha: marido de Sofia e suposto amigo de 
Rubião, mas que está interessado somente em sua for-
tuna. Cristiano rompe a sociedade com Rubião, alegan-
do a necessidade de se afastar da empresa para assumir 
cargos no sistema financeiro. Na verdade, já estabelecido, 
Cristiano quer continuar a conduzir sozinho os seus negó-
cios. Sofia também se afasta de Rubião, recusando seus 
insistentes convites para passeios.
“Chegados à estação da corte, despediram-se quase fa-
miliarmente (...). No dia seguinte, estava Rubião ansioso 
por ter ao pé de si o recente amigo da estrada de ferro, 
e determinou ir a Santa Teresa, à tarde; mas foi o próprio 
Palha que o procurou logo de manhã.”
 § Sofia Palha: esposa de Cristiano, que por sua vez, 
fica interessada em Carlos Maria. Ela apoia o marido 
em suas ações.
“As senhoras casadas eram bonitas; a mesma solteira 
não devia ter sido feia, aos vinte e cinco anos; mas Sofia 
primava entre todas elas. Não seria tudo o que o nos-
so amigo sentia, mas era muito. Era daquela casta de 
mulheres que o tempo, como um escultor vagaroso, não 
acaba logo, e vai polindo ao passar dos longos dias. Es-
sas esculturas lentas são miraculosas; Sofia rastejava os 
vinte e oito anos;

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