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1 Caro aluno Ao elaborar o seu material inovador, completo e moderno, o Hexag considerou como principal diferencial sua exclusiva metodologia em pe- ríodo integral, com aulas e Estudo Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado. O material didático é composto por 6 cadernos de aula e 107 livros, totalizando uma coleção com 113 exemplares. O conteúdo dos livros é organizado por aulas temáticas. Cada assunto contém uma rica teoria que contempla, de forma objetiva e transversal, as reais necessidades dos alunos, dispensando qualquer tipo de material alternativo complementar. Para melhorar a aprendizagem, as aulas possuem seções específicas com determinadas finalidades. A seguir, apresentamos cada seção: No decorrer das teorias apresentadas, oferecemos uma cuidadosa seleção de conteúdos multimídia para complementar o repertório do aluno, apresentada em boxes para facilitar a compreensão, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas, livros, etc. Tudo isso é en- contrado em subcategorias que facilitam o aprofundamento nos temas estudados – há obras de arte, poemas, imagens, artigos e até sugestões de aplicativos que facilitam os estudos, com conteúdos essenciais para ampliar as habilidades de análise e reflexão crítica, em uma seleção realizada com finos critérios para apurar ainda mais o conhecimento do nosso aluno. multimídia Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu distanciamento da realidade cotidiana, o que dificulta a compreensão de determinados conceitos e impede o aprofundamento nos temas para além da superficial memorização de fórmulas ou regras. Para evitar bloqueios na aprendizagem dos conteúdos, foi desenvolvida a seção “Vivenciando“. Como o próprio nome já aponta, há uma preocupação em levar aos nossos alunos a clareza das relações entre aquilo que eles aprendem e aquilo com que eles têm contato em seu dia a dia. vivenciando Sabendo que o Enem tem o objetivo de avaliar o desempenho ao fim da escolaridade básica, organizamos essa seção para que o aluno conheça as diversas habilidades e competências abordadas na prova. Os livros da “Coleção Vestibulares de Medicina” contêm, a cada aula, algumas dessas habilidades. No compilado “Áreas de Conhecimento do Enem” há modelos de exercícios que não são apenas resolvidos, mas também analisados de maneira expositiva e descritos passo a passo à luz das habilidades estudadas no dia. Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para ajudá-lo a apurar as questões na prática, a identificá-las na prova e a resolvê- -las com tranquilidade. áreas de conhecimento do Enem Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Por isso, cria- mos para os nossos alunos o máximo de recursos para orientá-los em suas trajetórias. Um deles é o ”Diagrama de Ideias”, para aque- les que aprendem visualmente os conteúdos e processos por meio de esquemas cognitivos, mapas mentais e fluxogramas. Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo da aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta aos principais conteúdos ensinados no dia, o que facilita a organiza- ção dos estudos e até a resolução dos exercícios. diagrama de ideias Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é ela- borada, a cada aula e sempre que possível, uma seção que trata de interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares atuais não exigem mais dos candidatos apenas o puro conhecimento dos conteúdos de cada área, de cada disciplina. Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abrangem conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão, como Bio- logia e Química, História e Geografia, Biologia e Matemática, entre outras. Nesse espaço, o aluno inicia o contato com essa realidade por meio de explicações que relacionam a aula do dia com aulas de outras disciplinas e conteúdos de outros livros, sempre utilizan- do temas da atualidade. Assim, o aluno consegue entender que cada disciplina não existe de forma isolada, mas faz parte de uma grande engrenagem no mundo em que ele vive. conexão entre disciplinas Herlan Fellini De forma simples, resumida e dinâmica, essa seção foi desenvol- vida para sinalizar os assuntos mais abordados no Enem e nos principais vestibulares voltados para o curso de Medicina em todo o território nacional. incidência do tema nas principais provas Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos de cada coleção tem como principal objetivo apoiar o aluno na resolução das ques- tões propostas. Os textos dos livros são de fácil compreensão, com- pletos e organizados. Além disso, contam com imagens ilustrativas que complementam as explicações dadas em sala de aula. Qua- dros, mapas e organogramas, em cores nítidas, também são usados e compõem um conjunto abrangente de informações para o aluno que vai se dedicar à rotina intensa de estudos. teoria Essa seção foi desenvolvida com foco nas disciplinas que fazem parte das Ciências da Natureza e da Matemática. Nos compilados, deparamos-nos com modelos de exercícios resolvidos e comenta- dos, fazendo com que aquilo que pareça abstrato e de difícil com- preensão torne-se mais acessível e de bom entendimento aos olhos do aluno. Por meio dessas resoluções, é possível rever, a qualquer momento, as explicações dadas em sala de aula. aplicação do conteúdo 2 © Hexag Sistema de Ensino, 2018 Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2020 Todos os direitos reservados. Autores Eduardo Antôno Dimas Tiago Rozante Diretor-geral Herlan Fellini Diretor editorial Pedro Tadeu Vader Batista Coordenador-geral Raphael de Souza Motta Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica Hexag Sistema de Ensino Editoração eletrônica Arthur Tahan Miguel Torres Matheus Franco da Silveira Raphael de Souza Motta Raphael Campos Silva Projeto gráfico e capa Raphael Campos Silva Imagens Freepik (https://www.freepik.com) Shutterstock (https://www.shutterstock.com) ISBN: 978-65-88825-09-9 Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusivo o ensino. Caso exista algum texto a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à dis- posição para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos direitos sobre as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições. O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para fins didáticos, não repre- sentando qualquer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora. 2020 Todos os direitos reservados para Hexag Sistema de Ensino. Rua Luís Góis, 853 – Mirandópolis – São Paulo – SP CEP: 04043-300 Telefone: (11) 3259-5005 www.hexag.com.br contato@hexag.com.br 3 SUMÁRIO HISTÓRIA HISTÓRIA GERAL HISTÓRIA DO BRASIL Aulas 9 e 10: Império Bizantino e civilização muçulmana 6 Aulas 11 e 12: Reino Franco e a Igreja católica 15 Aulas 13 e 14: Sistema feudal 24 Aulas 15 e 16: Baixa Idade Média 34 Aulas 9 e 10: Bandeirismo, mineração e tratados de limites 50 Aulas 11 e 12: Crise do sistema colonial, revoltas nativistas e movimentos emancipacionistas 67 Aulas 13 e 14: Períodos Pombalino e Joanino 78 Aulas 15 e 16: Processos de independência do Brasil e da América espanhola 89 4 Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades. H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura. H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas. H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura. H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades. Competência 2 – Compreender as transformaçõesdos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de poder. H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos. H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações. H8 Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social. H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial H10 Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade histórico-geográfica. Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes grupos, conflitos e movimentos sociais. H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço. H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades. H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder. H14 Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca das instituições sociais, políticas e econômicas. H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história. Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do conhecimento e na vida social. H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social. H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção. H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais. H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano. H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho. Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, fa- vorecendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade. H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social. H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas. H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades. H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades. H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social. Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e geográficos. H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem. H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos. H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos. H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas. H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas. 5 HISTÓRIA GERAL: Incidência do tema nas principais provas UFMG As temáticas elencadas são desenvolvidas por meio de asso- ciações entre os aspectos religiosos, econômicos, políticos e sociais. O candidato deve ser hábil ao interpretar o material dado na questão, além de dominar os temas estudados. No vestibular da instituição não são abordadas diretamente questões de História, mas há um grau de interdisciplinari- dade que permite o uso dos conhecimentos históricos para auxílio da resolução dos exercícios e escrita da redação. As temáticas são recorrentes e abordadas por meio da relação das realidades sociais, econô- micas e religiosas. O caráter das questões é de âmbito reflexivo, trazendo temas históricos para o debate de temas contemporâneos. As temáticas são abordadas por meio das correlações entre as realidades sociais, econômicas e religiosas. Utiliza textos introdutórios e fontes documentais para elaborar suas questões. Nesse vestibular, percebe-se uma tendência em abranger temas relacionados à História do Brasil. Mas, nos últimos anos, observa-se uma abordagem sobre as temáticas que consideram os aspectos sociais, econômicos, políticos e religiosos, assim como as suas corre- lações durante o período estudado. As temáticas do vestibular PUC de Campinas são abordadas por meio da relação entre os aspectos sociais, econômicos, políticos e religiosos. São uti- lizados textos introdutórios para elaborar questões que cobram do candidato conhecimentos detalhados sobre os conteúdos. Aborda aspectos sociais, econômicos, religiosos e culturais da Baixa Idade Média. Sendo essa uma temática recorrente nos últimos três anos. Utiliza breves textos introdutórios e imagens para elaborar suas questões. A proposta do Enem é interpretativa. Na maioria das questões, o candidato deve ler os textos propostos atentamente, pois as solu- ções quase sempre estarão contidas neles. Aborda aspectos sociais, econômicos, religiosos e culturais da Baixa Idade Média. Sendo essa uma temática recorrente, torna-se necessário atribuir correlações entre os elementos apontados acima. Utiliza inúmeras fontes para elaborar suas questões, entre as quais textos introdutórios, mapas, charges e pinturas. O vestibular não contempla com frequência as temáticas. No entanto, pelo caráter da prova, cabe ao candidato preparar-se para questões que envolvam o conhecimento das condições políticas, sociais, religiosas e econômicas dos períodos analisados. No vestibular da Universidade do Grande Rio (UNIGRANRIO) percebe-se uma tendência em abranger temas relacionados à História do Brasil, mas há um grau de interdisciplinaridade que permite o uso dos conhecimentos históri- cos para auxílio da resolução dos exercícios e escrita da redação. O vestibular da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques elabora questões de múltipla escolha direcionadas aos candidatos que pre- tendem uma vaga nos cursos de Enfermagem, Biomedicina e Medicina. Há uma tendência em abordar temas contemporâ- neos. O vestibular da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (CM MG) não contemplada diretamente temas de História, mas há um grau de interdisciplinaridade que permite que os conhecimentos históricos sejam abordados em outras disciplinas. O candidato deve realizar análises sobre diferentes processos históricos. Utiliza textos, registros documentais e imagens para elaborar suas questões. As temáticas são abordadas por meio da correlação entre as realidades sociais, econômicas e religiosas. O vestibular da UEL aborda as temáticas por meio das correlações entre os aspectos sociais, políticos, econômicos e religiosos. Utiliza textos introdutórios, charges e imagens para elaborar suas questões. Além disso, há um tema que percorre toda a prova. No último ano, por exemplo, o tema foi “museus”. 6 A morte do imperador Teodósio, em 395 d.C. determinou o fim da unidade do Império Romano que foi dividido en- tre os seus filhos em duas partes: o Império Romano do Ocidente, com a primeira capital em Milão e depois em Ravena, e o Império Romano do Oriente, com sede em Constantinopla, antiga Bizâncio, uma colônia grega que de grande desenvolvimento econômico e comercial em vir- tude de sua privilegiada e estratégica localização entre os mares Egeue Negro. Após a separação do Império Romano, os orientais conti- nuaram chamando a cidade de Bizâncio – o antigo nome grego –, dessa forma, o Império Romano do Oriente se consolidou como Império Bizantino. 1.2. Economia e sociedade A crise que abalou o Império Romano a partir do século III atin- giu o Ocidente e o Oriente. de maneiras distintas.A queda da produção agrícola, o declínio do comércio e a intensa pressão inflacionária foram características da economia proveniente da parte ocidental do império. O poder imperial, enfraquecido pela sistemática intervenção do exército, tendeu à fragmen- tação e à descentralização. Por outro lado, a região oriental, dotada de estruturas econômica, política e administrativas mais sólidas, teve mais capacidade de absorver a crise. Sua agricultura sofreu um pequeno declínio, mas a manufatura e o comércio mantiveram-se articulados. A parte oriental passou pelo processo do êxodo urbano, portanto não sofreu ruraliza- ção que marcou o Ocidente. As levas bárbaras do Oriente, es- pecialmente os hunos e eslavos, chegaram a ocupar algumas províncias do Império Bizantino, apesar disso, Constantinopla conseguiu manter sua autoridade sobre um conjunto unifica- do de territórios e povos capazes de sustentar sua riqueza. O imperialismo e sua localização privilegiada como ponto de cruzamento entre dois continentes possibilitaram à Constantino- pla usufruir das vantagens da sua posição de vital importância ImpérIo BIzantIno e cIvIlIzação muçulmana AULAS 9 e 10 CompetênCias: 1, 2, 3, 4, 5 e 6 Habilidades: 1, 4, 5, 7, 8, 9, 14, 16, 18, 22, 23, 24 e 27 1. ImpérIo BIzantIno 1.1. Origens O Império Romano no ano 395 d.C. Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique. Paris: Larousse, 1987. p. 34. Fonte: DUBY, GeorGes. AtlAs historiqUe. PAris: lAroUsse, 1987, P. 34. 7 comercial, cultural e diplomática, permitindo-lhe o controle das rotas que ligavam a Ásia à Europa assim como a passagem do mar Mediterrâneo para o mar Negro. O comércio proporcionou tanto o crescimento como o en- riquecimento de Bizâncio, que se tornou a maior metrópole do Oriente. Centro de importantes rotas comerciais, a ci- dade passou a controlar o intercâmbio de produtos entre o mar Mediterrâneo e o mar Negro, além da rota entre o mar Negro e o estreito de Bósforo. No setor agrícola, predominavam os latifúndios, raros eram os pequenos lavradores independentes, rendeiros e servos formavam o grosso da população agrícola. A Igreja con- centrava em suas mãos uma ampla porcentagem da rique- za agrária, tornando os mosteiros as entidades mais ricas no império. A sociedade era urbanizada. Constantinopla, por exem- plo, abrigava um milhão de habitantes. Banqueiros, mer- cadores, manufatureiros e grandes proprietários de terras constituíam uma elite extremamente enriquecida. Vesti- mentas de lã e seda, entrelaçadas com fios de ouro e prata, dão a medida do grau de ostentação exibido pela opulenta elite bizantina. Nas camadas intermediárias es- tavam os trabalhadores urbanos do comércio e das ma- nufaturas. No campo, predominavam os servos, proibidos de saírem das terras onde nasceram. Os escravos realiza- vam trabalhos domésticos. A sociedade bizantina preservou parte das instituições oci- dentais, como o uso eventual do latim, estruturas adminis- trativas e alguns costumes sociais. Todavia, houve ali pre- dominância de aspectos culturais gregos e orientais, como a oficialização da língua grega no século VII. 1.3. Política O Estado beneficiou-se do enriquecimento proporcionado pelo comércio, possibilitando seu fortalecimento como uma monarquia centralizada, despótica, teocrática e hereditária. O imperador tinha grandes poderes políticos, além de ser o chefe do Exército e da Igreja, com direito de intervir nos assuntos eclesiásticos (cesaropapismo). A organização estatal era burocrática, os imperadores bi- zantinos contavam com um grande número de ministros, funcionários e auxiliares. 1.4. O auge do império: Justiniano (527-565 d.C.) Império Bizantino, em 565 d.C. Fonte: <httPs://Pt.wikiPeDiA.orG/wiki/imPério_BizAntino#/meDiA/File:the_BYzAntine_stAte_UnDer_JUstiniAn_l-Pt.svG>. O principal imperador bizantino foi Justiniano (527-565). Durante seu governo, o poder imperial atingiu seu auge, sendo conferidos poderes ilimitados ao imperador, que, por sua vez, ampliou os privilégios do clero e da nobreza e am- pliou as conquistas territoriais, estendendo as fronteiras às penínsulas Itálica e Ibérica, além da conquista e dominação de territórios no norte da África. Os gastos militares forçaram a elevação dos impostos a níveis insuportáveis. A cobrança dos impostos dependia da eficiência dos funcionários, odiados pela população de Constantinopla. As pressões da arrecadação desencadear- am, em 532, um violento levante conhecido por Revolta de Nika. Os membros dos dois principais partidos políticos, o Verde e o Azul, costumavam frequentar o hipódromo da cidade. Aristocratas legitimistas, que negavam o direito de Justiniano ao trono, instigaram os partidos à rebelião fa- zendo numerosas exigências. A princípio, o imperador os atendeu. Mas, esgotados os meios pacíficos para o aten- dimento das partes, o conflito se tornou violento. Orien- tado por sua esposa Teodora e respaldado pelos exércitos comandados pelo general Belisário, Justiniano cercou o hipódromo, centro de reunião dos rebelados, massacrando 30 mil pessoas e pondo fim ao movimento contestador. No governo de Justiniano foi construída a Igreja de Santa Sofia, considerada a mais importante obra da arquitetura bizantina, cuja suntuosidade exprimia a força do poder do 8 Estado personificado pelo imperador. Com o objetivo de ex- pressar as tendências introspectivas e espirituais da religião cristã e o poder de Deus como iluminador das almas e dos espíritos, seus arquitetos projetaram um aspecto sóbrio na face externa e, de forma contrastante, decoraram o interi- or com mosaicos ricamente coloridos, detalhes folheados a ouro, colunas de mármore de cores variadas e pedaços de vidro colorido que refletiam os raios solares cintilando como pedras preciosas. A igreja passou a ser o palco da maioria das cerimônias de coroação dos imperadores bizantinos. A publicação do Corpus Juris Civilis ou Código de Justiniano, que serviu de referência para códigos civis de diversas nações, foi a grande realização de Justiniano no campo jurídico. O código resultou de uma compilação do Direito Romano e tinha a seguinte subdivisão: § Código – conjunto de leis romanas (síntese de quase dois mil anos de jurisprudência romana); § Digesto – comentários dos grandes juristas sobre essas leis; § Institutas – princípios fundamentais do Direito Romano (manual para uso dos estudantes); § Novelas – novas leis do período de Justiniano. vistA PArciAl Do interior DA BAsílicA De sAntA soFiA mosAico com imAGem De JUstiniAno, nA BAsílicA De são vitAl, em rAvenA BAsílicA De sAntA soFiA, em istAmBUl 1.5. A Igreja bizantina Em 380 d.C., antes mesmo da divisão do Império em Oci- dente e Oriente, o imperador Teodósio havia decretado o Edito de Tessalônica, que estabelecia a oficialização do cristianismo como religião de Estado do Império Romano. No Oriente, o cristianismo foi integrado à cultura local, in- corporando aspectos da realidade bizantina, inteiramente di- versos da realidade ocidental. Assim, o cristianismo oriental passou a ter características próprias, diferenciando-se cada vez mais do ocidental, com grande ênfase na valorização da espiritualidade. O efeito dessas diferenças foi o surgimen- to, no Oriente, das divergências doutrinárias: as heresias, o monofisismo e a iconoclastia. Os monofisistas defendiam a natureza unicamente divina de Cristo, negando sua natureza humana, enquanto os iconoclastas pregavam a destruição das imagens e a proibição do seu uso nos templos. Os cristãos orientais denominavam de ícones quaisquer im- agens tridimensionaisde Cristo ou santos incorporadas às cerimônias religiosas. Dentre os principais produtores de ícones encontravam-se os monges, que auferiam grandes lu- cros nesse ramo comercial. Isentos de tributação, proprietári- os de grandes propriedades, exercendo grande influência na sociedade, representavam uma ameaça ao poder central. A corriqueira utilização de ícones nos templos e mesmo nas casas era vista por muitos como uma prática idólatra, ou seja, de adoração de ídolos. Visando enfraquecer o poder dos monges, o imperador Leão III, em 725, proibiu o uso de imagens tridimensionais nos templos, determinando sua destruição ou iconoclas- tia. O papa manifestou-se declarando herética a proibição de imagens, aprofundando os desentendimentos com o imperador e igreja bizantinos. 1.6. O Cisma do Oriente (1054) A entrADA De mAomé ii em constAntinoPlA, De JeAn-JosePh-BenJAmin constAnt 9 O patriarca de Constantinopla era a figura eclesiástica de maior poder no Oriente. Com a conversão dos eslavos ao cristianismo e a prosperidade do império, fortalecia-se sua autoridade. Ele recusava a supremacia do papa sobre sua Igreja, considerando-se o supremo mandatário do povo cristão. Foram várias as características diferenciadoras desenvolvidas pelo patriarca no Oriente. O ritual era celebrado em grego, e não em latim. O Estado bizantino controlava a Igreja (cesa- ropapismo) e algumas crenças e costumes eram rejeitados pela Igreja oriental, como, por exemplo, a existência do pur- gatório ou a decoração dos templos com imagens tridimen- sionais de Cristo e de santos. As inúmeras divergências levaram à separação entre as igrejas orientais e ocidentais, em 1054. O chamado Cis- ma do Oriente levou à formação de duas igrejas distintas: a Igreja Católica Apostólica Romana, dirigida pelo Papa, e a Igreja Cristã Ortodoxa, liderada pelo Patriar- ca de Constantinopla. 1.7. Decadência do Império Bizantino Além do fortalecimento do poder dos grandes proprietários rurais, do enfraquecimento do poder do imperador e das disputas religiosas, contribuíram para o declínio do Império Bizantino os constantes ataques que Bizâncio passou a sofrer, especialmente das cidades italianas, a partir do sé- culo XIII, e das investidas de bárbaros e árabes. Sua posição e riqueza despertavam a cobiça de impérios que surgiram e se fortaleciam. Pouco depois da morte de Justiniano (565), os lombar- dos, povo germânico que até então havia sido mantido no solo onde hoje é a Hungria, tomaram dos bizantinos o ducado de Ravena e marcharam sobre Roma. Ainda nos séculos VII e VIII, os árabes muçulmanos tomaram do Império Bizantino as regiões do norte da África e sul da península Ibérica. Anexaram, também, o Egito, a Palestina, a Síria e a Mesopotâmia, reduzindo a civilização bizantina a um território sensivelmente menor ao período anterior a Justiniano. Depois de um longo cerco, em 1453, os turcos otomanos, comandados pelo sultão Maomé II, conquistaram a cidade de Constantinopla, ou Bizâncio, destruindo o Império Bi- zantino. Constantinopla tornou-se a capital de outro Esta- do poderoso, o Império Otomano, passando a se chamar Istambul e permanecendo, até os dias atuais, como a maior e mais importante cidade da República da Turquia. A tomada de Constantinopla marcou a transição da Idade Média para a Idade Moderna. 2. CIvIlIzação muçulmana 2.1. Arábia pré-islâmica Bagdá Pérsia Egito PENÍNSULA ARÁBICA Meca Medina Gaza Alexandria Antióquia Mar Mediterrâneo Oceâno Índico M ar Verm elho Golfo Pérsico Fustal (Cairo) Jerusalém Damasco Basra www.img.mat.br/homepage/joao_afonso/J.A/Aula18.htmlFonte: <www.imG.mAt.Br/homePAGe/JoAo_AFonso/J.A/AUlA18.html>. A Arábia é uma península árida localizada no Oriente Mé- dio. Ao sul, é banhada pelo oceano Índico, a oeste, pelo mar Vermelho e a leste, pelas águas do golfo Pérsico. Ao norte, a Arábia pré-islâmica limitava-se com a Palestina. Até o século VII, os árabes estavam divididos: de um lado, as tribos beduínas, habitando a “Arábia Desértica”, nô- mades que se dedicavam ao pastoreio e frequentavam os oásis – poços de água em meio aos desertos; de outro, os habitantes da “Arábia Feliz”, ou Hedjaz, – faixa costeira e fértil ao longo do mar Vermelho. Viviam da agricultura e do comércio. Existia ali uma localidade importante, Áden, que funcionava como entreposto de produtos orientais: espe- ciarias, sedas e joias. Os diversos povos da Arábia estavam divididos em várias tribos; portanto, não formavam um Estado com unidade política. Mas tinham elementos culturais comuns, como o idioma árabe e certas crenças religiosas. A principal cidade árabe era Meca, onde havia um san- tuário religioso, Caaba (casa de Deus), que reunia as principais divindades de toda a Arábia (mais de 300 ído- los pertencentes às tribos do deserto). Ali estava a Pedra Negra, provavelmente um pedaço de meteorito protegido por uma tenda de seda preta, na forma de um cubo, que era bastante venerada, pois se acreditava ter sido trazida do céu pelo anjo Gabriel. O santuário ajudou a transformar Meca no centro re- ligioso e comercial dos árabes, já que a cidade era o ponto de encontro de pessoas e de mercadorias de di- versas regiões. 10 Alá. Assim, os beduínos começaram a seguir Maomé, en- quanto os coraixitas o proibiram de pregar a fé em Alá e o monoteísmo na cidade de Meca. No ano de 622, Maomé teria realizado um milagre para pro- var que era profeta de Alá: “quebrou” a Lua. Provavelmente tratava-se de um eclipse e talvez Maomé tivesse informações sobre o acontecimento, porque tinha muito contato com o Oriente, onde a astronomia era altamente desenvolvida. Perseguido pelos coraixitas, que mandaram assassiná-lo, Maomé fugiu para Iatreb (Yathrib), cidade rival de Meca, onde já possuía seguidores. Esse evento ficou conhecido como Hégira, e é utilizado como marco inicial do calendário muçulmano. Em latreb, Maomé conquistou rapidamente prestígio e poder, controlando a cidade que passou a ser chamada de Medina al Nabi – a Cidade do Profeta. A jihad ocupa um lugar importante no islamismo, ela era pregada por Maomé como o “esforço” ou a “luta” que cada pessoa tem de empreender internamente na busca da fé perfeita. O Ocidente traduziu erradamente a palavra jihad como “guerra santa”, ou seja, como caminho para a conversão, estabelecendo que o paraíso seria o prêmio para aqueles que morressem em nome de Alá, enquanto os sobreviventes poderiam se deleitar das riquezas mate- riais obtidas através dos saques e pilhagens; no entanto, tal interpretação não está no Alcorão. Após a conquista de Iatreb, o alvo principal passou a ser a cidade de Meca. O crescente número de seguidores pos- sibilitou a formação de um exército numeroso, que cer- cou a cidade, preservando apenas a Caaba. Em seguida, Maomé fez um acordo com os coraixitas, estabelecendo a peregrinação a Meca como uma das obrigações da religião muçulmana. A dominação de Meca representou a implan- tação da unidade política e religiosa da região sustentada pelo islamismo. Meca transformou-se no centro religioso da crença monoteísta islâmica. Em 632, Maomé morreu, deixando difundida sua doutrina religiosa. Ao mesmo tempo, a península Arábica, que era um aglomerado de tribos e clãs dispersos, teve sua unifi- cação política realizada através da unificação religiosa. 2.3. Expansão islâmica REINO DOS FRANCOS ITÁLIA Politiers Roma IMPÉRIO BIZANTINO Mar Negro ARMÊNIA Mar Cáspio SÍRIA PALESTINA PÉRCIA ÍNDIA Golfo Pérsico ARÁBIA Medina Meca M ar Verm elho EGITO LÍBIATRIPOLITÂNIAMAGREB ESPANHA Mar Mediterrâneo Oceano Índico Oceano Atlântico Expansão até à morte de Maomé, 622-632 Expansão durante o Califado Rashidun, 632-661 Expansão durante o Califado Omíada, 661-750 Limite máximo de penetração árabe na França, 732 Expansão até à morte de Maomé, 622-632 Fonte: <httPs://AlmAnAqUe.ABril.com.Br/mAPAs/históriA%20GerAl>. 2.2. Origens do islamismo O responsável pela unidadepolítica e religiosa da penín- sula Arábica foi Maomé, criador e divulgador da re- ligião muçulmana. Maomé (Muhammad) nasceu em 570, na cidade de Meca. Seus pais pertenciam a um dos mais pobres clãs da tribo dos coraixitas, os haxemitas. O pai morreu cedo e o menino ficou aos cuidados do avô, que o levou para viver no meio de uma tribo no deserto. Lá, Maomé assimilou as necessi- dades materiais e espirituais da população do deserto. Re- gressou a Meca aos 15 anos de idade e logo entrou para o comércio de caravanas, orientado pelo tio Abu Taleb. As expedições com caravanas eram muito perigosas, pois po- diam ser atacadas a qualquer momento. Por isso, exigiam de seus condutores habilidade militar. Maomé destacou-se como grande caravaneiro. Aos 20 anos empregou-se como caravaneiro de Khadidja, rica viúva, pelo menos 10 anos mais velha que ele e com quem se casou. Nas suas viagens, Maomé entrou em contato com povos e religiões diferentes. Esteve várias vezes no Egito, Pales- tina, Pérsia, regiões onde fervilhava o espírito religioso. Conheceu principalmente o cristianismo e o judaísmo, sofrendo profunda influência dessas crenças religiosas. cAABA, GrAnDe mesqUistA em mecA Por volta de 610, já com quase 40 anos, Maomé teve sua primeira visão do anjo Gabriel, que lhe teria ordenado “reci- tar o nome do Senhor” e que “havia um só deus, Alá, e um só profeta, Maomé”. Transformado por essa visão, Maomé convenceu-se de que fora escolhido para servir como pro- feta. Depois de converter os parentes, Maomé começou a falar aos coraixitas. No início, todos ficaram impressionados com sua pregação. Mas depois passaram a desprezá-lo e, finalmente, a perseguir Maomé e seus seguidores. No entanto, as pregações de Maomé foram bem recebidas pelos beduínos, pois prometia-lhes o paraíso com muita água, alimentos em abundância, mulheres e a presença de 11 A partir do século VII, em virtude da religião muçulmana e da jihad, enquanto busca da difusão da fé islâmica, os árabes muçulmanos expandiram-se, dominando vasta ex- tensão territorial que se estendia da Ásia à Europa, pas- sando pelo Norte da África. Essa expansão teve origem na unidade política e religiosa implantada por Maomé, no início do século VII, quando foi criado um estado teocrático islâmico. Os fatores que explicam a expansão islâmica são: § o crescimento demográfico, graças à poligamia, e a es- cassez de terras férteis na Arábia; § a atração que os saques e pilhagens exerciam sobre os árabes; § a decadência dos Impérios Bizantino e Império Persa; § o fracionamento da Europa em Reinos Bárbaros frágeis que sucederam o Império Romano. 2.3.1. Fases da expansão A morte de Maomé deixou um grande vazio de liderança que, por um curto período, chegou a ameaçar a sobre- vivência do Islão. Para fazer frente a essa situação, os membros mais influ- entes dos conselhos municipais das cidades de Meca e Medina decidiram apontar um califa, isto é, um sucessor de Maomé, que deveria concentrar em suas mãos o poder político, militar e religioso. O primeiro califa foi Abu Bekr, sogro de Maomé, e os outros três que o sucederam foram também apontados entre seus familiares. As conquistas tiveram início com esses califas de Meca. Sucessivamente, a partir de 634, a Síria, a Palestina, a Ásia Menor, a Mesopotâmia, a Pérsia, o Egito e a Tunísia caíram sob o domínio muçulmano. Alguns anos após estas conquistas, o novo império foi aba- lado por lutas internas, e o controle do califado passou para as mãos de outra família, os Omíadas, que transferiram a capital para Damasco, na Síria. Sob a liderança dos Omíadas (660-750), os árabes retomaram o processo de expansão conquistando territórios na Ásia central (Índia), Norte da Áfri- ca e península Ibérica. Os muçulmanos só foram contidos na Europa pelos francos, liderados por Carlos Martel, da di- nastia carolíngia, em 732, na Batalha de Poitiers. O domínio árabe sobre a costa do Mediterrâneo contribuiu para a crise do comércio e a feudalização europeia. Em 750, a dinastia Omíada chegou ao fim, sendo derrota- da por uma conspiração interna que inaugurou a dinastia Abássida (750-1258). A capital passou de Damasco para Bagdá, mudança essa que provocou a primeira divisão do mundo islâmico. Abder Rhaman, pertencente à dinastia Omíada, refugiou-se na Espanha, onde fundou o Emirado de Córdova, no ano 756. Surgia, assim, o primeiro Estado independente dentro do Império Muçulmano. No Marrocos, os idríssidas tomaram o poder e separaram-se do Islã, em 788. Os fatímidas1 fizeram o mesmo no Egito, em 909. Em 1055, Togul Beg, chefe dos turcos seldjúcidas, foi coroado califa em Bagdá. Finalmente, em 1258, os mon- góis, vindos de regiões distantes da Ásia, destruíram a cidade de Bagdá. A divisão do Império Islâmico foi uma consequência de sua enorme expansão, obtida em um período muito curto de tempo. As seitas religiosas sunita e xiita contribuíram para esse fenômeno. 2.4. A religião muçulmana A doutrina islâmica, muçulmana ou maometana é mar- cada pelo sincretismo religioso. Possui elementos do cristianismo e do judaísmo, de onde provêm suas bases fundamentais. O principal fundamento da religião é o monoteísmo, a crença no Deus único Alá e em seu pro- feta Maomé. Os fundamentos da religião estão no livro sagrado – Al- corão ou Corão –, que determina a total submissão do homem à vontade de Alá (Islão) e estabelece cinco obrigações para os fiéis: § crer em Alá, único Deus, e no profeta Maomé; § ajudar os pobres e necessitados (zakat); § praticar o jejum durante o Ramadã; § realizar cinco orações por dia, com a face voltada para Meca (salat); § peregrinar a Meca no mínimo uma vez na vida – dis- pensados os pobres, doentes e viúvas. Um aspecto importante da religião islâmica são as inter- pretações e os significados que foram sendo agregados à jihad, que passou cada vez mais a ser interpretada como Guerra Santa e vinculada ao expansionismo. Foi graças à concepção do jihadismo como “esforço” de difusão da fé no islamismo que a expansão territorial foi estimulada e as conquistas de vários territórios pelos árabes muçulmanos foram consumadas. Outra característica importante do islamismo é o sec- tarismo, com a formação de seitas rivais desde a morte de Maomé, quando ocorreram sérias divergências em relação à liderança religiosa e política dos muçulmanos. As principais seitas são xiitas e sunitas. Os primeiros aceitam somente o Corão como fonte de verdade, bem 1. Fatímidas ou Fatimitas são uma das designações dadas aos xiitas ismaelitas. esse nome advém do Fato de atribuírem a sucessão legítima de maomé a ali, primo de maomé, casado com Fátima, sua Filha; portanto, genro dele também. 12 como um chefe político religioso descendente de Maomé. Os sunitas admitem, além do Alcorão, os ensinamentos contidos no Suna, livro de relatos de seguidores próxi- mos de Maomé, bem como admitem que o chefe possa ser escolhido entre os fiéis que reúnam as virtudes neces- sárias, segundo a antiga tradição beduína de escolha dos chefes tribais. Os povos que aceitavam a dominação dos muçulmanos e realizavam comércio com eles poderiam preservar suas crenças religiosas e culturais desde que pagassem impos- tos, menores, aliás, do que os cobrados por outros povos, como os persas. A mesqUitA Dos omíADAs, mesqUitA De UmAYYADoU, GrAnDe mesqUitA De DAmAsco, cAPitAl DA síriA, é consiDerADA o qUArto lUGAr mAis sAGrADo PArA os mUçUlmAnos, FAz PArte Do PAtrimônio mUnDiAl DA Unesco. 2.5. A cultura árabe Os árabes foram os responsáveis pela difusão, no Ocidente, dos conhecimentos adquiridos pelos impérios bizantino e persa, pelo grande florescimento intelectual e artístico e pelo contato com os chineses, que facilitaram a difusão cultural ensinando técnicas da utilização do papel. Na Astronomia, os muçulmanos traduziram a obra de Ptol- omeu, que passou a ser conhecida pelo nome de Almages- to. Na Matemática, desenvolveram a álgebra e a trigono- metria,além dos conhecimentos deixados pelos gregos. Propagaram o sistema numérico arábico, cuja invenção provém dos hindus. Na Química, descobriram substâncias como o álcool, o ácido sulfúrico e o salitre. Foram os pri- meiros a descrever os processos químicos de destilação, filtração e sublimação. Na Medicina, fizeram importantes descobertas, como o con- tágio proveniente da água e do solo e o diagnóstico de doenças como a varíola e o sarampo. O mais famoso médi- co muçulmano foi Avicena, cuja obra Canon foi o manual médico na Europa até o século XVII. Na Literatura, desta- cam-se os poemas épicos e de amor e contos de aventura, tais como a coletânea As mil e uma noites e Rubaiat, de Omar Khayan. Nome célebre é o de Averróis, filósofo de Córdova, que traduziu as obras de Aristóteles para a lín- gua árabe e introduziu-as no Ocidente. A arte muçulmana não tinha muita originalidade. Merece destaque, entretanto, a arquitetura de palácios e mesquitas. Graças à dominação da península Ibérica, o árabe influen- ciou a formação da língua portuguesa: armazém, sorvete, alcaçuz, azeite etc. 13 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura. ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM 1 Habilidades A produção de fontes documentais – documentos escritos, calendários, obras de arte, arquitetura, etc. – é o pa- pel de quem se debruça sobre as ciências humanas. No caso da História, as fontes documentais nos apresentam as linhas gerais da cultura de uma população, sejam elas de âmbito político, social ou econômico. A habilidade 1 requer a capacidade do estudante de interpretar essas fontes documentais sob a luz das práticas culturais de determinado povo ou grupo. Ela exige a conexão lógica e conceitual entre documentos e imagens apresentadas e os seus respectivos significados culturais. Muitas dessas questões podem apresentar caráter interdisciplinar entre História, Geografia, Sociologia e Filosofia. Modelo (EnEm) O anO muçulmanO é cOmpOstO dE 12 mEsEs, dEntrE ElEs O ramadã, mês sagradO para Os muçulmanOs quE, Em 2001, tEvE iníciO nO mês dE nOvEmbrO dO calEndáriO cristãO, cOnfOrmE a figura quE sEguE. cOnsidErandO as caractErísticas dO calEndáriO muçulmanO, é pOssívEl afirmar quE, Em 2001, O mês ramadã tEvE iníciO, para O OcidEntE, Em a) 01 de novembro. b) 08 de novembro. c) 16 de novembro. d) 20 de novembro. e) 28 de novembro. Análise expositiva - Habilidade 1: O calendário muçulmano tem seu início no primeiro dia após a lua crescente. Das datas indicadas a única que coincide com esse início é o dia 16 de Novembro. O enunciado não apresenta informações que permitam tirar alguma conclusão a respeito. Os valores fornecidos no enunciado não permitem calcular tal data. Para a resposta é necessário o conhecimento da informação sobre o primeiro dia do mês Ramadã ou então a respeito de informações que foram fornecidas por rádio, TV e jornal. Alunos ligados ao povo muçulmano levam vantagem sobre os demais. Alternativa C C 14 DIAGRAMA DE IDEIAS ORIGENS ORIGENS ALÁ POLÍTICA DECADÊNCIA SOCIEDADE RELIGIÃO PROPRIEDADE DE LATIFÚNDIO GEOGRAFIA ECONOMIA IMPÉRIO ROMANO DO ORIENTE ATAQUES • CIDADES ITALIANAS • BÁRBAROS • ÁRABES • TURCOS • TOMADA DE CONSTANTINOPLA • REINO IMPÉRIO TURCO-OTOMANO • DESTRUIÇÃO DO IMPÉRIO BIZANTINO (1453) URBANIZAÇÃO CRISTIANISMO ORIENTAL CISMA DO ORIENTE (1054) IGREJA CRISTÃ ORTODOXA BANQUEIROS, MERCADORES TRABALHADORES URBA- NOS, SERVOS E ESCRAVOS PONTO DE CRUZAMENTO E LI- GAÇÃO DA ÁSIA PARA EUROPA • AGRICULTURA • MANUFATURA • COMÉRCIO MONARQUIA CENTRALIZADA • IMPERADOR • EXÉRCITO • ESTADO • IGREJA IMPERADOR MAIS NOTÁVEL: JUSTINIANO (527 - 562) IMPÉRIO BIZANTINO CIVILIZAÇÃO MUÇULMANA JIHAD SUNITAS XIITAS FRAGMENTAÇÃO DIVIDE A RÁPIDA EXPANSÃO E SEITAS EXPANSÃO ISLÂMICA CRIAÇÃO DE ESTA- DO TEOCRÁTICO PENÍNSULA ARÁBICA MAOMÉ (570 D.C.) SINCRETISMO CRISTIANISMOMONOTEÍSMOCORÃO ISLAMISMO JUDAÍSMO 15 Reino FRanco e a igReja católicaAULAS 11 e 12 1. Reino FRanco 1.1. Povos bárbaros No século I da Era Cristã, os bárbaros ultrapassaram os limites de Roma, as primeiras invasões se deram por meio de migrações pacíficas dos povos germânicos. A partir do século IV, o conflito com o Oriente foi intensificado e teve início o período das invasões militares. A unidade política do Império Romano do Ocidente estava em ruínas, portan- to, as ocupações bárbaras colaboraram significativamente para a sua desintegração. Rômulo Augusto, o último imperador romano, foi deposto, em 476, por Odoacro, líder hérulo que decretou o fim do Império Romano do Ocidente, marco utilizado pelos histo- riadores para determinar o fim da Idade Antiga e o início da Idade Média. Invasões bárbaras no século V Gogos Ostrogodos Constantinopla MACEDÔNIA 378 451 GÁLIA Roma Cartago HISPÂNIA BRITÂNIA Vândalos Visigodos Jun tos Ang los Sax ões Fra nco s Vândalos Hun os Os tro go do s Córsega Sardenha Sicília Anglos, Saxões Francos Godos Visigodos Ostrogodos Hunos Vândalos Fonte: https://wikipedia.org/wiki/Invasões_bárbaras_da_península_IbéricaFonte: <https://wikipedia.org/wiki/invasões_ bárbaras_da_península_ibérica>. Os reinos bárbaros 28navegadores.blogspot.com.br/2013_04_01_archive.htmlFonte: <28navegadores.blogspot.com. br/2013_04_01_archive.html>. O encontro entre romanos e bárbaros reuniu característi- cas culturais de ambos os povos,e deu início à estrutura do sistema feudal. À medida que os bárbaros entravam no Império Romano do Ocidente, formavam reinos que, de maneira geral, não tinham longa duração. Por esse motivo, o conjunto de povos germânicos, constituído por saxões, visigodos, ostrogodos, alamanos, burgúndios, entre outros, não resistiram às pres- sões externas e foram dominados ou destruídos. Entretanto, os francos conseguiram organizar uma estrutura política na Gália, a centralização do poder foi fundamental para man- ter a conquista do território, atulmente, a França. A formação deste reino teve início no período da Alta Idade Média euro- peia, a expansão territorial ocorreu entre as dinastias Mero- víngia, (século V a VIII), e Carolíngia, (século VIII a X). 1.2. Dinastia Merovíngia (481-751) Originárias do vale do rio Reno, as tribos francas se estabeleceram na Gália. Ao longo dos séculos IV e V eles ocuparam o Império Romano do Ocidente. carlos Martel na batalha de poitiers. charles steubeM (1788-1856) Chefiados por Meroveu, venceram os hunos no final do sé- culo V, na Batalha dos Campos Catalúnicos. Mas a dinastia Merovíngia foi consolidada, efetivamente, por seu neto, Cló- vis, partir da unificação das tribos francas. Clovis reinou du- rante os anos de 482 a 511. Nesse período, aliou-se à Igreja Católica, oferecendo-lhe proteção militar; em troca, obteve o apoio do papado, o que contribuiu para o fortalecimento da sua autoridade real, tornando efetiva a unificação da Gália e a expansão territorial do reino. Com a morte de Clóvis, em 511, o Reino Franco foi dividido em quatro partes, entre seus CompetênCias: 1, 2, 3, 4, 5 e 6 Habilidades: 1, 4, 5, 7, 8, 9, 11, 14, 15, 16, 17, 18, 22 e 29 16 filhos, de acordo com o costume germânico de divisão do poder. Mais tarde, uma nova divisão ocorreu entre os netos de Clóvis. Nesse período, um novo sistema econômico se estru- turou – o feudalismo –, com a ruralização da econo- mia e o fortalecimento das relações pessoais entre o rei a seus vassalos. A fidelidade ao rei, suserano de um feudo, era estabelecida mediante o juramento da vassalagem,composta pelos senhores feudais e pelos cavaleiros, que assumiam o compromisso de servir ao soberano, fornecendo apoio militar e econômico. Em troca, o rei oferecia proteção, terras e outros bens, mantendo o sistema de servidão e enfraquecendo o poder dos monarcas merovíngios. O poder nobiliárquico também se baseava no contato direto dos majordomus (mordomos ou prefeitos do palácio) com os reis. Oriundos de famílias nobres,os majordomus passaram a exercer o poder no reino, a partir do comando do exército, da administração e di- visão das terras e, por fim, da coleta de impostos. Aos reis eram atribuídas funções cerimoniais. Pepino de Heristal, majordomus do Reino da Austrásia, conseguiu submeter os outros majordomus, promovendo a centralização do Reino Franco. Mas foi somente com seu sucessor, Carlos Martel, que os majordomus passaram a ser considerados reis. Carlos Martel conquistou prestígio e poder ao liderar os francos na vitória contra os muçulmanos na Batalha de Poitiers, na França, no ano de 732, contendo o avanço islâmico sobre a Europa ocidental. Ao ser considerado pela Santa Sé como o “salvador do cris- tianismo ocidental”, Carlos Martel fortaleceu sua autoridade pessoal, fato aproveitado por seu filho Pepino, o Breve, que, com o apoio do papa Zacarias, destronou o último rei merovín- gio Childerico III, no ano de 751, e proclamou-se rei dos fran- cos, iniciando a Dinastia Carolíngia, que perdurou até 987. 1.3. Dinastia Carolíngia (751-987) Pepino, o Breve, destronou o rei merovíngio, sendo reconhecido como o novo rei dos Francos e sagrado pelo papa Estevão II, em 754. O reconhecimento e a aprovação da Igreja possibilitaram a Pepino inaugurar uma nova di- nastia, conhecida como Dinastia Carolíngia ( 751 a 768). Pepino iniciou a administração de seu reinado lutando con- tra os lombardos na Itália. Os territórios conquistados, no centro da península Itálica, foram cedidos à Igreja, que pela primeira foi dona de suas terras, concedendo maior poder ao Papa e fortalecendo ainda mais a aliança entre a Igreja e o reino fanco. Os territórios da Igreja ficaram conhecidos como Patrimônio de São Pedro. 1.3.1. O reinado de Carlos Magno e o Império Carolíngio (768-814) Pepino foi sucedido por seu filho Carlos Magno, em 768, que governou até 814, tornando-se o mais importante rei franco, concedendo seu nome à dinastia Carolíngia. Carlos Magno ampliou as fronteiras do reino franco, anexando a Itália lombarda, a Saxônia, a Frísia e a Catalunha, tornan- do-se o único rei da Europa cristã. carlos Magno A expansão foi favorecida pelo apoio da Igreja e da no- breza guerreira, que ganhava terras como prêmio por sua participação nas guerras de conquista. O reino de Carlos Magno tornou-se o maior Império Ocidental, durante o período medieval, com a conquista de antigos domínios romanos. No Natal do ano 800, Carlos Magno foi coroado pelo Papa Leão III, imperador romano do Ocidente. O cavaleiro inexistente – Italo Calvino (1959) Paródia dos romances de cavalaria entre os séculos VIII e IX, conta, a partir do olhar de uma freira, a história de Bertrandino, um cava- leiro da corte de Carlos Magno. Cercado por um exército quixotesco, ele luta pela causa da cristandade, defende avidamente sua reputa- ção e faz questão de manter a armadura sem- pre limpa. Mesmo sabendo que dentro dela não há ninguém. multimídia: livros 17 Ascensão do Império Franco Povos tributários à Carlos Magno Fronteiras do império em 814 Território franco em 481 Conquistas de Clóvis (481-511) Conquistas entre 531-614 Consquistas entre 714-768 Conquistas de Carlos Magno (768-814) Territórios dependentes Reino de Siágrio em 486 Reino Visigodo de Tolosa em 507 Croatas DanúbioLíger Sena Ródano Pó Inn Dan úbi o Garona Ebro Reno Elba Oder Vístula Abroditas Veletos Sorábios Tchecos Morávios Ávaros Croatas Sérvios Bretões Nantes Tours Poitiers Bórdeus Toulouse Barcelona Lyon Genebra Pavia Milão Veneza Ravena Spoleto Roma Salzburgo Ratisbona Estrasburgo Metz ReimsParis Córsegos NÊUSTRIA AQUITÂNIA GASCONHA MARCA ESPANHOLA SE PT IM AN IA PROVENÇA BORGONHA SUÁBIA T U R Í N G I A BAVÁRIA CARÍNTIA REINO LOMBARDO 805 796 774 502 788 788 774536 533 536Autun 532 Soisson 486 Vouillé 507 Roncesvales 778 486 507 531 759 778 812 531 810 734 FRÍSIA SAXÔNIA 777-797 Süntel 782 W es er Reno 531 Colônia Fulda Tournai Mos a Tertry Aquisgrano AUSTRÁSIA Fonte: https://wikipedia.org/wiki/FrancosFonte: <htpps://wikipedia.org/wiki/Francos>. Carlos Magno não instituiu uma capital fixa para o império, as decisões eram tomadas onde os membros da corte estives- sem o imperador. Com o intuito de estabelecer normas que promovessem a homogeneidade político-administrativa e, ao mesmo tempo, fossem cumpridas por todos os habitantes dos seus domínios, Carlos Magno emitiu uma série de decretos, que, posteriormente, foram reunidos nas leis capitulares. Em virtude da extensão de seus domínios, Carlos Magno os dividiu em áreas administrativas chamadas condados e marcas. As primeiras correspondiam aos territórios do interior sob comando de condes, cujas funções primordiais eram produtivas. Os territórios de fronteira eram chamados de marcas e ficavam a cargo dos marqueses, cuja função primordial era a defesa do império. Em ambas as áreas, os administradores eram responsáveis pela aplicação das leis capitulares e pela arrecadação de impostos. Tanto os condados como as marcas eram fiscalizados pelos missi dominici (mensageiros reais), nobres da confiança do imperador que zelavam pela aplicação das decisões emana- das do poder real, conforme estabelecidas nas leis capitulares. Divisão do Império Carolíngio pelo Tratado de Verdum (843) Hamburgo FRANÇA ORIENTAL BRITÂNIA HIBÉRNIA ESPANHA ESTADOS DA IGREJA Verdun Estrasburgo Lyon Milão Barcelona Toulouse Bordéus Paris Aix-la-Chapelle MAR DO NORTE OCEÂNO ATLÂNTICO MAR MEDITERRÂNEO Ratisbona Fulda Salzburgo Spoleto Roma Sícilia Córsega Sardenha Parte de Carlos, o Calvo Parte de Lotário Parte de Lúis, o Germânico Fonte: prof-tathy.blogspot.com.br/2009/10/os-francos.html FRANÇA OCIDENTAL Fonte: <proF-tathy.blogspot.com. br/2009/10/os-Francos.html>. O imperio de Carlos Magno também foi marcado pelo estímu- lo imperial ao desenvolvimento cultural. Ocorreu um grande incentivo à cultura e às artes, quando houve um florescimento cultural e intelectual, o Renascimento Carolíngio. Em 806, Carlos Magno fez seu testamento dividindo o império entre seus filhos, conforme o costume sucessório germânico, mas acabou sendo sucedido por seu filho mais novo, Luís I, o Piedoso, que governou de 814 a 841, mantendo o império e a estrutura político-administrativa herdados de seu pai. A decadência do Império Carolíngio teve início após a mor- te de Luís I, em 841, quando se iniciou um conflito entre seus filhos pelo trono. Lotário, Carlos e Luís travaram várias batalhas, arruinando as finanças e enfraquecendo militar- mente o império. Em 843, a disputa foi solucionada com a assinatura do Tra- tado de Verdun, que estabeleceu a divisão do império en- tre os netos de Carlos Magno: Lotário recebeu a Lotaríngia, que correspondia aos Países Baixos, Suíça e Norte da Itália; a Luis, o Germânico, coube a parte oriental do Império (Ger- mânia); e a Carlos, O Calvo, coube o território da França. O Tratado de Verdun marcou, segundo as divisões dos períodos da História, o final da Alta Idade Média. A quebra da unidade política e o enfraquecimento militar favoreceram as invasões externas – magiares, árabes e vikings –, levando o império franco ao declínio. Fonte: Youtube multimídia: vídeo O Nome da Rosa (1986) O Nome da Rosa é um filme de 1986 dirigido por Jean-Jacques Annaud, baseado no romance homônimo do crítico literário italiano Umberto Eco. O frade franciscano Guilherme de Baskerville (Sean Conery) e seu aprendiz Adson von Melk (Christian Slater) são chamados para resolver um mistério mortal em uma abadia medieval. 18 2. igReja católica medieval 2.1. O poder da Igreja A Igreja católica foi a grande catalisadora dos aconteci- mentos e da vida medieval; nesse período, sua trajetória foi marcada pelo crescimento e desenvolvimento em virtude do grande poder conquistado. No medievo,a Igreja passou a exercer papéis importantes em diversos setores da vida cotidiana, servindocomo instrumento de unidade frente às invasões germânicas e à destruição do Império Romano, também foi fundamental no processo de fragmentação político-administrativa da sociedade feudal. O crescente poder da Igreja católica na Europa ocidental durante a Idade Média pode ser explicado pelo acúmulo dos poderes espiritual e temporal.O poder espiritual cor- responde ao controle sobre a religião e o monopólio da interpretação das Escrituras Sagradas, permitindo o con- trole ideológico e a interpretação da realidade vigente. O poder temporal era exercido politicamente como resulta- do do controle da Igreja sobre um número crescente de populações que a alimentavam mediante pagamento dos dízimos, doações, além de outras ações realizadas por fiéis crentes da salvação em troca de seus recursos materiais. teMplários condenados à Fogueira pela santa inquisição A Igreja concentrava uma grande quantidade de terras em suas mãos, resultado da acumulação de um montante sig- nificativo de riquezas materiais. Detinha, também, o con- trole da vida dos homens, regulando casamentos, norma- tizando as obrigações matrimoniais; os divórcios, os casos de bigamia, adultério, incesto, entre outros; arbitrava os casos de divisão de heranças; monopolizava os registros paroquiais de batismo, casamentos, falecimentos, enfim, a vida social era normatizada e regrada pela Igreja. Sua atuação dava-se, também, mediante uma série de ações filantrópicas, como a construção e a manutenção de asilos, hospitais, orfanatos e leprosários. A Igreja era responsável pela educação, mantendo uma série de escolas nos mosteiros, conventos e, mais tarde, nas paróquias. No século XIII, começou a organizar as universidades. Com isso, o poder da Igreja sobre os fiéis era incontestável. Os pecadores deviam cumprir penitên- cias, que variavam de orações e jejuns a peregrinações e participação nas Cruzadas. A excomunhão – expulsão da comunidade cristã – era a pena mais temida. Aplicava-se o interdito – proibição de se realizarem serviços religiosos – aos domínios dos governantes que estivessem em litígio com a Igreja. Um importante instrumento de manutenção do domínio da Igreja Católica Medieval foi a criação do Tribunal da Santa Inquisição, em 1231, pelo papa Gregório IX. A principal função do Tribunal era julgar e punir as heresias – contestações aos dogmas católicos. As penas variavam de simples penitências ao confisco de bens, além da ex- comunhão, torturas e morte na fogueira. A dor e o sofrimento eram apontados como formas de aproximação com o sacrifício de Jesus, bem como o estímulo ao arrependimento e ao clamor pela misericórdia divina. É importante lembrar de que a Inquisição continuou viva na Idade Moderna como um importante instrumento de dominação política e manutenção do poder instituído. 2.2. Organização do clero A Igreja contava com uma rígida organização hierárquica. Havia o alto clero e o baixo clero; este era composto de elementos vindos das camadas mais pobres da sociedade; aquele, ligado à aristocracia, detinha os cargos de direção, dele faziam parte o Papa, os bispos, os abades etc. Clero regular da direita para a esquerda: Monge cisterciense, Franciscano, cartuxo e doMinicano Fonte: <www.resuMosetrabalhos.coM.br/o-noMe-da- rosa-uMberto-eco_12.htMl>. (adaptado). 19 Com a invasão dos bárbaros, a Igreja tinha por incumbên- cia converter esse novo contingente à religião cristã. Para o ministério da conversão, eram designados elementos do clero secular (do latim saeculum, mundo), nome dado ao clero que estava em constante contato com as coisas do mundo e viviam fora dos mosteiros. Havia também ele- mentos do clero regular (do latim regula, regra), isto é, submetidos a regras, ficavam nos mosteiros sem contato com o que acontecia fora de seus muros. Esses mosteiros eram os responsáveis pela preservação da cultura, além de serem importantes centros econômicos. O clero regular era constituído por todos os clérigos consagrados da Igreja ca- tólica, que seguiam as regras de uma determinada ordem religiosa, dona de sua própria hierarquia e de títulos es- pecíficos. As principais ordens religiosas foram beneditinos, franciscanos, cartuxos, cluniacenses e dominicanos. Essas práticas provocavam incômodo nos meios eclesiásticos, principalmente, porque tiravam das mãos da Igreja um importante instrumento de bar- ganha política, ao mesmo tempo em que enfraqueci- am seu poder, uma vez que este era submetido a uma interferência externa na nomeação dos seus membros. Havia alguns membros da Igreja mais comprometidos com as práticas religiosas evangelizadoras que es- tavam insatisfeitos com essa situação. Discussões in- ternas a respeito das práticas de corrupção e comércio de cargos, a simonia, especialmente no Sacro Império Romano Germânico não faltavam. Gente que não tinha o menor compromisso com a religião ocupava importantes cargos eclesiásticos. Procurando atender aos anseios daqueles que estavam insatisfeitos com essa situação, bem como ganhar um poder capaz de determinar a nomeação interna dos seus representantes para os cargos eclesiásti- cos, o papa Nicolau II criou, em 1058, o Colégio dos Cardeais. Os clérigos foram investidos do direito de escolher seus líderes religiosos. Em 1073, Gregório VII, da abadia de Cluny, foi eleito pelos seus pares como papa. Sua primeira atitude foi reafirmar o voto de cas- tidade e determinar a total independência da Igreja em relação ao poder político secular, condenar a no- meação de bispos por reis ou imperadores, bem como destituir todos os clérigos que assumissem cargos no- meados por poderes seculares. A atitude do Papa desagradou o imperador do Sacro Império Romano Germânico, Henrique IV, que se recusou a cumprir as determinações papais e tentou destituí-lo. O Papa excomungou o imperador, dando origem à Questão ou Querela das Investiduras. Pressionado pelos nobres alemães, interessados na redução do poder do imperador, Henrique IV reviu sua estratégia e saiu em peregrinação a Canossa, na Itália, em 1077, em busca de reconciliação com Fonte: Youtube multimídia: música - Nossa Senhora - Roberto Carlos A canção de Rolando – Anônimo (séc. XI) A Canção de Rolando (em língua francesa, La chanson de Roland) é um poema épico com- posto no século XI em francês antigo, sendo a mais antiga das canções de gesta escritas em uma língua românica. multimídia: livros 2.2.1. Querela das Investiduras (1073-1122) O poder econômico, político e religioso da Igreja desper- tava não só a cobiça de setores da nobreza da sociedade sobre os seus bens como o desejo daqueles que viam na Igreja um modo de obter alguma ascensão social. Se, de um lado, estabelecia-se uma ferrenha luta política, de ou- tro, os interesses econômicos possibilitavam a corrupção. Além disso, os cargos eclesiásticos eram cobiçados por seu poder e prestígio, tornando-se alvos de intensas disputas entre clérigos, nobres e soberanos. A prática de nomeação de bispos segundo interesses políti- cos era muito comum no Sacro Império Romano Germâni- co, graças à forte submissão dos clérigos aos interesses do Estado, justamente pelo enraizamento da corrupção e dos interesses políticos e econômicos em jogo, quando da no- meação ou investidura de clérigos e bispos, por meio da simonia, que era a compra de cargos religiosos. 20 o papa Gregório VII. Essa aproximação não resultou na solução do conflito, que só veio a acontecer em 1122, com a assinatura da Concordata de Worms, já no reinado de Henrique V. Pela Concordata, a investi- dura espiritual caberia ao Papa; ao imperador, caberia a investidura temporal. No entanto, a Concordata de Worms, de fato uma solução paliativa, não foi capaz de solucionar definitivamente a questão. Os atritos acerca da nomeação de bispos no Sacro Império e em outras regiões da Europa continuaram. O recuo do imperador, no entanto, marcou o início da su- premacia papal sobre o poder temporal – supremacia que semanteve por quase dois séculos. As Cruzadas, cuja or- ganização começou nesse período, dariam à autoridade do Papa o poder temporal que a Igreja ambicionava. Fonte: Youtube multimídia: música - Oração de São Francisco - Maria Bethânia Arquitetura gótica (História da Arte e Arquitetura) A supremacia da Igreja católica era representada pelo estilo gótico na arte e na arquitetura, reflexo do pensamento francês predominante a partir do século XII, apoiava-se nos princípios de um forte simbolismo teológico, fruto da filosofia escolástica: as paredes eram a base espiritual da Igreja, os pilares representavam os santos, e os arcos indi- cavam o caminho para Deus. Além disso, os vitrais, por meio da geometria desenhada pela luminosidade e definida pelas cores, contavam as histórias e os relatos das Sagradas Escrituras. Duas características marcantes são as torres com formato agulhado em direção ao céu e a presença de uma rosácea na entrada das igrejas. Alguns historiadores afirmam que a dimensão exagerada das catedrais era intencional, pois tinha como objetivo representar a grandiosidade de Deus e da Igreja sobre os fiéis. A primeira catedral gótica foi Saint Denis, embora a mais famosa , pela importância que ganhou na literatura, seja a catedral de Notre Dame, em Paris. CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS 21 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço. ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM 11 Habilidade A habilidade 11 é muito cobrada nas provas de História do Enem, uma vez que é bastante abrangente. O vestibular recorre a textos e imagens de gêneros variados – poesias, artigos científicos, obras de arte e relatos jornalísticos – para fundamentar suas questões. O aluno deve ater-se principalmente ao enunciado, aguçando suas capacidades de leitura, observação e interpretação. Os registros de práticas sociais são fontes de estudo para os historiadores. A prova requer, portanto, mais do que a simples capacidade de decorar eventos históricos; ela exige uma interpretação cuidadosa do enunciado. Modelo (EnEm) Sou uma pobrE E vElha mulhEr, muito ignorantE, quE nEm SabE lEr. moStraram-mE na igrEja da minha tErra um paraíSo com harpaS pintado E o infErno ondE fErvEm almaS danadaS, um EnchE-mE dE júbilo, o outro mE atErra. villon, F. in: goMbrich, e. história da arte. lisboa: ltc, 1999. oS vErSoS do poEta francêS françoiS villon fazEm rEfErência àS imagEnS prESEntES noS tEmploS católicoS mEdiEvaiS. nESSE contExto, aS imagEnS Eram uSadaS com o objEtivo dE: a) refinar o gosto dos cristãos; b) incorporar ideais heréticos; c) educar os fiéis através do olhar; d) divulgar a genialidade dos artistas católicos; e) valorizar esteticamente os templos religiosos. Análise expositiva - Habilidade 11: As imagens da Igreja católica medieval serviam para ensinar os fiéis os perigos advindos da prática imperfeita da religião e os benefícios adquiridos a partir da boa prática. O trecho “Um Paraíso com harpas pintado,/ E o Inferno onde fervem almas danadas,/ Um enche-me de júbilo, o outro me aterra” é demonstrativo disso. Cabe ressaltar que apenas uma minoria da população medieval era alfabetizada, o que reforçava a necessidade do uso de imagens nas missas. Alternativa C C 22 DIAGRAMA DE IDEIAS O REINO DOS FRANCOS ADMINISTRAÇÃO DINASTIA MEROVÍNGIA (481-751) CLÓVIS (482-511) DIVISÃO DAS TERRAS ENTRE SEUS FILHOS COMITATUS (DIVISÃO DE TERRAS ENTRE OS VASSALOS) QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO DO OCIDENTE (INÍCIO DA IDADE MÉDIA) PEPINO, O BREVE DESTRONA REI MEROVÍNGIO EM ALIANÇA COM O PAPA PEPINO DE HERISTAL SUBMETE OUTROS MAJORDOMOS PEPINO DE HERISTAL SUBMETE OUTROS MAJORDOMOS ALIANÇA DO FRANCO CLÓVIS COM A IGREJA CATÓLICA POVOS BÁRBAROS LUTAM POR TERRITÓRIOS MAJORDOMUS (FUNCIONÁRIOS REAIS) • COMANDAM O EXÉRCITO • COBRAM IMPOSTOS • ADMINISTRAM TERRAS NOVAS DIVISÕES 476 A.C. DINASTIA CARO- LÍNGIA (751-987) PEPINO, O BREVE (751-768) CARLOS MAGNO (768-814) CARLOS, O CALVO LUÍS, O GERMÂNICO LOTÁRIO I LUÍS I, O PIEDOSO DOA TERRAS AO PAPA (PATRIMÔNIO DE SÃO PEDRO) “RENASCIMENTO CAROLÍNGIO” ADMINISTRAÇÃO TERRITÓRIO • CONDADO (FUNÇÃO PRODUTIVA) • MARCA (FUNÇÃO MILITAR NA FRONTEIRA) LEIS CAPITULARES TRATADO DE VERDUM (843) DIVISÃO DO TERRITÓRIO 23 IGREJA CATÓLICA MEDIEVAL GUERRA DAS INVESTIDURAS (1073-1122) PODER TEMPORAL • INFLUÊNCIA NA POLÍTICA • LEGITIMA PODER REAL • ESCOLHA DE CARGOS ECLESIÁSTICOS TENSÃO HIERARQUIA • ALTO CLERO: NOBREZA • BAIXO CLERO: CAMADAS POPULARES PODER ESPIRITUAL FUNÇÕES • MORAL CRISTÃ • CONTROLE CULTURAL • EDUCAÇÃO (CRIAÇÃO DAS UNIVERSIDADES) • TRIBUNAL DA SANTA INQUISIÇÃO • CLERO REGULAR: ORDENS RELIGIOSAS VIDA ISOLADA NOS MOSTEIROS PRESERVAÇÃO DA CULTURA • CLERO SECULAR: BATIZADO DE PAGÃOS 24 O feudalismo foi um sistema econômico, político e social que se desenvolveu na Europa durante a Idade Média. Esse sistema começou a se estruturar no final do Império Romano do Ocidente, no século V, e atingiu o seu apogeu no século X, desaparecendo quase completamente no final do século XV. 1. Origens dO feudalismO O Império Romano já demonstrava sinais de decadência e desagregação desde o final do século IV. As invasões e os seguidos ataques dos povos germânicos, a partir do século V, desorganizaram a vida do Império, acelerando a crise econômica. Costuma-se considerar o ano de 476, data em que os héru- los invadiram Roma, como o fim do Império Romano do Oci- dente e o início da chamada Idade Média. Da mesma ma- neira, o ano de 1453, quando os turcos otomanos conquistaram Constantinopla, pondo fim ao Impé- rio Bizantino, marca o término da Idade Média. Essas datas funcionam para uma periodização didática da História. Na Europa, a Idade Média caracterizou-se pelo surgimento de um sistema econômico, político e social denominado feudalismo. Esse sistema foi fruto de uma lenta integração entre algumas características de duas estruturas sociais: a romana e a germânica. Esse processo de integração, que resultou na formação do feudalismo, ocorreu no período histórico compreendido entre os séculos V e IX. Próximo ao fim do Império Romano do Ocidente, os gran- des senhores romanos começaram a abandonar as cida- des, fugindo da crise econômica e das invasões germâni- cas. Os senhores rumaram para latifúndios no campo, onde passaram a desenvolver uma economia agrária voltada para a subsistência. SiStema feudalAULAS 13 e 14 CompetênCias: 1, 2, 3, 4, 5 e 6 Habilidades: 1, 4, 5, 7, 8, 9, 11, 14, 15, 16, 17, 18, 22 e 29 A nova onda de invasões dos séculos VIII ao X Fonte: 28navegadores.blogspot.com.br/2013_04_01_achive.htmlFonte: <28navegadores.blogspot.com.br/2013_04_01_achive.html>. 25 Um grande contingente de romanos de menos posses pas- sou a buscar proteção e trabalho nas terras desses grandes senhores. Para utilizar as terras, eram obrigados a ceder ao proprietário parte do que produziam. Essa relação entre o senhor das terras e os que produziam ficou conhecida como colonato. O grande número de escravos da épo- ca também foi utilizado nas vilas romanas. Com o tempo, tornou-se mais rentável libertar os escravos e aproveitá-los sob regime de colonato. Dessa forma, nesses centros rurais conhecidos por vilas romanas, começavam a ser criados os feudos medievais. Com algumas alterações futuras, esse sistema de trabalho resultou nas relações servis de pro- dução, um dos traços fundamentais do feudalismo. Com a contínua ruralização do Império Romano, o poder central foi perdendo controle sobre os grandes senhores agrários.Gradativamente, as vilas romanas tornaram-se cada vez mais autônomas, à medida que o poder político descentralizava-se, permitindo ao proprietário de terras ad- ministrar de forma independente sua vila. Outra contribuição fundamental da civilização romana para a formação do feudalismo foi o cristianismo. Originário do Oriente, o cristianismo enraizou-se na cultura romana, pas- sando a ser, no século IV, a religiãooficial do império. No iní- cio da Idade Média, a religião cristã já havia triunfado sobre todas as seitas rivais na Europa. Em pouco tempo, a Igreja tornou-se a instituição mais poderosa do continente euro- peu, determinando a cultura do período medieval. O contato dos romanos com os povos de origem germâni- ca promoveu a troca de hábitos e costumes entre eles, prin- cipalmente num momento de ruralização e de organização de uma economia baseada nas atividades agropastoris. As várias tribos germânicas viviam de maneira autônoma, estabelecendo relações apenas quando se defrontavam com um inimigo comum, unindo-se, nessas ocasiões, sob o comando de um só chefe. As relações entre o suserano e o vassalo, fundamentadas na honra, lealdade e liberdade, tiveram suas origens no comitatus germânico. O comitato era um grupo forma- do pelos guerreiros e seu chefe com obrigações mútuas de serviço e lealdade. Os guerreiros juravam defender seu chefe, que se comprometia a equipá-los com cavalos e armas. Mais tarde, essas relações de honra e lealdade deram origem às relações de suserania e vassala- gem. A cerimônia na qual os vassalos juravam fidelidade ao suserano derivou da prática da homenagem típica no Império Carolíngio, que, possivelmente, teve sua origem também no comitato germânico. A formação do Direito no feudalismo também teve influên- cia germânica. Baseando-se nos costumes orais, e não nas leis escritas, o direito era considerado uma propriedade do indivíduo, um direito inerente a ele em qualquer local em que estivesse. Essa forma do Direito, produto dos costumes e da sua prática reiterada e constante e não da autoridade, sem ser resultado de um processo formal de criação das leis escritas, é denominada direito consuetudinário. Seguindo o processo de declínio do comércio, ruralização da sociedade, agrarização da economia e descentrali- zação do poder político no final do Império Romano do Ocidente, as invasões dos séculos VIII e IX aceleraram a lenta integração entre aspectos da sociedade romana e da sociedade germânica. Em 711, os muçulmanos, vindos do Norte da África, con- quistaram a península Ibérica, a Sicília, a Córsega e a Sar- denha, fechando o mar Mediterrâneo à navegação e ao comércio dos europeus. Ao norte, no século IX, os norman- dos também se lançaram à conquista da Europa. Conquis- taram a Bretanha e o noroeste da França. Penetraram no continente europeu pelos rios, saqueando suas cidades. A leste, os magiares (húngaros), cavaleiros nômades originá- rios das estepes euroasiáticas, invadiram a Europa oriental. Isolada dos outros continentes, com as vias de comuni- cação bloqueadas e cercada no seu próprio território, a Europa se fragmentou. Os constantes ataques e saques criaram uma insegurança geral. As últimas invasões ama- dureceram as condições para o pleno estabelecimento do sistema feudal. O comércio, com o desaparecimento quase total da moe- da, regrediu ao patamar da troca direta. Com a agrarização da economia, as cidades foram despovoadas, completando Amadis de Gaula – Anônimo (1508) A obra Amadis de Gaula, através de uma introdução em que se afirma que foi encontrada num baú enterrado do “manuscrito encontrado”, inicia-se com o relato dos amores furtivos entre o rei D. Perion de Gaula (Gales) e a infanta D. Elisena da Bretanha, que deram lugar a uma criança abandonada numa barca. multimídia: livros 26 o processo de ruralização da sociedade. O poder político descentralizou-se em uma multiplicidade de poderes loca- lizados e particularistas. O feudalismo se estabeleceu em sua plenitude. 2. CaraCterístiCas gerais 2.1. Sociedade feudal A sociedade feudal era estamental, ou seja, os indivídu- os nasciam num determinado estamento (grupo social) e dificilmente poderiam ascender a outro; tendiam a perma- necer sob a própria condição de nascimento, pois a mobi- lidade social vertical era quase impossível; mais fácil seria a mobilidade no interior do próprio grupo social. Segundo a divisão clássica, a sociedade medieval era formada pelos seguintes estamentos: clero, nobreza e servos. Entre- tanto, cada uma dessas categorias comportava uma série de diferenciações e gradações. De modo geral, o acesso ou não à propriedade ou posse da terra dividia a sociedade feudal em dois estamentos: os senhores e os dependentes. Os senhores feudais eram os proprietários ou os pos- suidores do feudo. Originários da nobreza e do clero, for- mavam uma aristocracia dominante. A nobreza se subdivi- dia em duques, condes, barões e marqueses. O poder dos nobres vinha do fato de serem proprietários ou posseiros da terra e da condição de terem um exérci- to. As camadas mais altas da nobreza guerreira descen- diam das antigas famílias germânicas e carolíngias. Havia uma segunda camada mais pobre da qual faziam parte os cavaleiros; com o passar do tempo, as duas camadas fundiram-se por meio de casamentos. Os nobres orgulha- vam-se da vida que levavam, dedicada às batalhas, aos torneios e às caçadas. Os senhores feudais eclesiásticos, vinculados à Igreja Romana, também pertenciam à alta hierarquia do clero. Em geral, eram bispos, arcebispos e abades. Com efeito, o clero constituía a elite intelectual da classe senhorial, responsável pela guarda da cultura romana, construtora e difusora da cultura e elaboradora de todo o arcabouço teórico que justificava a sociedade feudal e a identificava com a ordem universal, de origem divina. O estamento dos dependentes, que compreendia a maioria da população medieval, compunha-se de servos e vilões. Os servos não tinham a propriedade da terra, embora, na maioria dos casos, tivessem posse parcial dela, o que justificava o fato de estarem adstritos a ela. É importante observar que, embora fossem trabalhadores semilivres – donos de seus instrumentos de trabalhos, sementes, etc. –, apenas uma pequena parcela do que produziam era desti- nada ao próprio sustento. © W ik im ed ia C om m on s representação de um clérigo, de um cavaleiro e de um servo da idade média Os servos não podiam ser vendidos fora de suas terras, como ocorria com os escravos, mas não tinham liberdade para abandonar as terras onde nasceram, exceto com a autorização do seu senhor. Em número reduzido, havia outro tipo de trabalhador me- dieval: o vilão. Os vilões não estavam presos à terra e des- cendiam de antigos pequenos proprietários romanos. Não podendo defender suas propriedades, entregavam suas terras em troca de proteção de um grande senhor feudal. Suas formas de prestação de serviço e de pagamentos ao senhor eram muito peculiares, pois desfrutavam de privi- légios pessoais e econômicos. Recebiam tratamento mais brando que os servos e assumiam deveres bastante bem definidos com os senhores, de tal maneira que sabiam exa- tamente o que fazer ou não. Fonte: Youtube multimídia: música Cantiga de Amigo Elomar 27 2.2. Economia feudal De alguma maneira, as sociedades organizam sua produção de bens mateiras, a partir daquilo que é chamado de relações de produção. A produção da vida social, política e cultural, são de- terminadas pelo modo de produção. Assim como, independen- temente de sua localização geográfica ou do período de sua existência, toda sociedade organiza e é organizada em torno do modo de produção daquela época. Deste modo, no feuda- lismo, as relações de produção foram determinadas pela servi- dão feudal que acabara por determinar o modo de produção. As terras eram divididas em domínio senhorial, cuja pro- dução destinava-se ao senhor feudal, manso servil, cujo produto do trabalho pertencia aos servos, e terras comu- nais, isto e, pastos e florestas utilizadas tanto pelos senhores como pelos camponeses. Das terras comunais eram retiradas madeiras e frutas. Ao senhor era reservado o direito exclusivo da caça. O feudo, cujas terras eram descontínuas, consti- tuía-se como a unidade geral de produção. A terra arável era dividida em três partes: o terreno de plantio da primavera,