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SINTESE - A PROPRIEDADE COMO RELACAO JURIDICA COMPLEXA - LOUREIRO

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A PROPRIEDADE COMO RELAÇÃO JURÍDICA COMPLEXA
Francisco Eduardo Loureiro
Sumário
1.	Capítulo 1.	1
Fundamento da propriedade.	1
2.	Capítulo 2.	3
Noção Histórica da Propriedade.	3
3.	Capítulo 3.	7
Conceito de propriedade.	7
4.	Capítulo 4.	9
Propriedade ou propriedades.	9
5.	Capítulo 5.	11
Objeto da propriedade.	11
6.	Sínteses dos capítulos 6, 7 e 8	12
7.	Capítulo 6.	13
Conceito e características da propriedade.	13
8.	Capítulo 7.	14
Propriedade e autonomia privada.	14
9.	Capítulo 8.	16
A propriedade no Direito Constitucional.	16
10.	Capítulo 9.	19
Da função social da propriedade.	19
11.	Capítulo 10.	32
A propriedade no Código Civil.	32
Capítulo 1. 
Fundamento da propriedade.
	Conclusão do autor:
“Embora grasse profunda divergência quanto à justificação da propriedade, tem ela como fundamento o direito à liberdade, entendido no sentido de livre e sobretudo justo acesso à utilização dos bens, mecanismo capaz de prover o desenvolvimento máximo da pessoa e de sua dignidade.”
Especula-se sobre o surgimento da propriedade.
Para alguns, a propriedade no princípio foi fato que nasceu com a espontaneidade de todas as manifestações fáticas e, em momento posterior, recebeu normatização, em atenção às necessidades de coexistência e harmonia.
A ideia de propriedade privada, na Grécia e em Roma, era estritamente ligada à religião, à adoração do deus-lar, integrando a esfera mais íntima da família. Fixada a família do solo, ali se instalava o lar e seus respectivos deuses, conferindo um caráter sagrado à propriedade. Somente os familiares podiam assistir aos cultos de seus próprios deuses, o que originou a necessidade de criação de limites, mediante muros, fossos e cercas entre as casas.
Corrente contrária entende que a propriedade não se iniciou com a família, mas sim da comunidade de clã, e passou desta para a comunidade de aldeia, evoluiu para a propriedade familiar e, finalmente, para a individual.
Para outros, nitidamente positivistas, a propriedade é produto da cultura humana e tem por fundamento a lei.
Os economistas entendem que a propriedade seria nada mais que a transformação da matéria bruta pelo trabalho do homem. Só o trabalho cria e legitima a propriedade.
A propriedade perde o caráter divino do direito antigo no século XVIII, que inspirou o constitucionalismo liberal. Transformou-se em garantia fundamental do cidadão contra o Estado. A Bill of Rights (1776) e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) elevam a propriedade, juntamente com a liberdade e a segurança, como direitos naturais, inerentes e imprescritíveis da pessoa humana. Essa doutrina, encampada pela Igreja Católica, confere a condição de direito natural à propriedade.
A propriedade, sob a ótica econômica, é uma resposta à escassez. Quando os recursos são escassos, nascem os conflitos e a necessidade de apropriação individual para garantia de subsistência própria e para evitar o aniquilamento dos recursos.
Para os materialistas, a desigualdade de riquezas, oriunda da divisão social do trabalho e do surgimento da moeda, proporcionou a concentração da propriedade do solo nas mãos de uma minoria, que passou a exercer controle cada vez maior sobre os meios de produção. A nova sociedade decorrente dessas relações econômicas dividiu-se em homens livres e escravos, em exploradores ricos e explorados pobres.
A tendência predominante, no entanto, é no sentido de constituir a propriedade expressão e garantia da individualidade humana. É condição de existência e liberdade de todo homem que, sem ela, não poderia obter desenvolvimento intelectual e moral. Dizendo de outro modo, a propriedade tem como fundamento o direito à liberdade, entendido como livre e justo acesso à utilização dos bens, mecanismo capaz de prover o desenvolvimento máximo da pessoa e sua dignidade.
Capítulo 2.
Noção Histórica da Propriedade.
	Conclusão do autor: 
“Além do ortodoxo estudo cronológico da história da propriedade, cabe um corte dos seus modelos econômicos, que convivem simultaneamente em um mesmo período de tempo. Conveniente, assim, estudar os traços essenciais dos modelos de propriedade comunitária, dividida, individualista e coletivista. No atual momento, em que se consagra a fragmentação da ideia de conceito monolítico de propriedade, torna-se especialmente útil conhecer os diversos modelos e a sua incidência às novas situações jurídicas.” 
(O autor inicia pelo estudo cronológico da propriedade).
Na Grécia Antiga, vigorava a chamada propriedade familiar, consoante a prática da divisão e atribuição de terras entre os clãs, limitando-se a propriedade individual aos bens móveis. Somente com o aparecimento da economia monetária é que se expande a propriedade plena individual.
No direito romano antigo, não havia a expressão proprietas, que surgiu somente na fase romano-bizantina. Na fase antiga, utilizava-se unicamente domínio. Não se diferenciava o direito da coisa sobre a qual ele recai, de modo que se admitia tão-somente o domínio sobre coisas materiais. 
Distinguia o direito romano a posse do domínio. Enquanto a posse era um poder de fato, o domínio constituía um poder de direito, ligado ao proprietário.
No curso da história romana, é possível notar quatro modalidades ou situações de propriedade: a quiritária, a pretoriana/bonitária, a provincial e a peregrina.
A quiritária era de ordem estritamente nacional, exercitada sobre solos romanos ou itálicos por proprietários romanos. Adquiria-se pela mancipatio (imóveis) e traditio (móveis) e gozava de proteção pela rei vindicatio.
A propriedade pretoriana ou bonitária desenvolveu-se pela jurisprudência do pretor, protegendo os adquirentes de uma coisa, contra quem não a tinha transferido por ato formal. Nasceu da necessidade de se proteger o adquirente de uma situação iníqua.
A propriedade provincial dizia respeito aos imóveis situados nas províncias – pertencentes ao povo romano – sobre os quais apenas se deferia a posse aos particulares mediante o pagamento de certa quantia. Tal posse, porém, era transmissível aos herdeiros, alienável e gozava de proteção de ação real.
A propriedade peregrina nasceu da necessidade de se garantir aos peregrinos situação de fato que lhes garantisse proteção do Estado contra terceiros para defesa de seus bens.
No período pós-clássico houve a unificação das modalidades proprietárias, em razão da extensão da cidadania romana a quase todos os habitantes do Império Romano, da cobrança generalizada de impostos dos imóveis até então isentos e do desaparecimento das formas solenes de aquisição da propriedade quiritária.
Criou-se o mito de que a propriedade em Roma era absoluta, no sentido de ilimitada.
As invasões bárbaras provocaram profundas modificações no sistema proprietário romano. Os povos germânicos não tinham um conceito de propriedade exclusiva similar ao romano e a concebiam como uma relação de gozo com a coisa – algo semelhante a um usufruto. Viável, para eles, o fracionamento da propriedade em tantas relações de gozo possíveis sobre uma coisa. Essa nova noção de múltiplos domínios foi aceita e aplicada pelos juristas do renovado direito romano, sob os conceitos de domínio útil e domínio direto.
A queda do Império Romano e ausência de uma autoridade central com poder efetivo causou a confusão da soberania com a propriedade. O proprietário de terras assumiu poderes políticos sobre os camponeses que lá trabalhavam, impondo-lhes uma série de restrições à liberdade pessoal.
O advento da Idade Moderna, com o incremento do comércio e, sobretudo, com o nascimento dos bancos, dos grandes impérios financeiros e da grande produção manufatureira – também a criação das primeiras sociedades por ações – levou à tendência ideológica e jurídica de justificar e facilitar ao máximo a plena expansão da propriedade privada. O jusnaturalismo foi a corrente que melhor se amoldou a tais propósitos, exaltando a propriedade como um direito fundamental, junto com a vida e a liberdade.
(O autor passa a tratar das categorias funcionais e econômicas da propriedade).
Além de examinara noção histórica da propriedade pelo critério cronológico, mais atraente se faz o estudo pelas categorias econômicas e funcionais da propriedade.
Pode-se fazer uma classificação da propriedade em quatro categorias ou tipos de formas:
- propriedade comunitária, na qual seu uso é feito por uma comunidade, um clã ou família;
- propriedade dividida, na qual diversos direitos reais são atribuídos a terceiros não-proprietários;
- propriedade individualista, com vários matizes, desde a absoluta, passando pela adotada pelo Código Civil francês de 1804, até a atual, na qual prepondera a função social e;
- propriedade coletivista, que pertence a uma grande coletividade, geralmente o Estado.
Ao contrário do que possa parecer, os quatro tipos não sucederam uns aos outros no tempo, mas conviveram e convivem simultaneamente, muitas vezes em um mesmo sistema jurídico.
2.1) A propriedade comunitária:
A maioria dos povos arcaicos conhecia a propriedade individual mobiliária, enquanto a imobiliária era de apropriação comunitária. A terra pertencia ao clã e, num segundo momento, à família.
A propriedade comunitária apresenta múltiplas variações de acordo com o tempo e o espaço, mas ostenta uma plataforma comum, qual seja, a de constituir a garantia de sobrevivência para os membros de uma comunidade plurifamiliar, com função nitidamente alimentar. O ius disponendi mostra-se diluído em detrimento do direito de gozo, sempre condicionado o bem-estar da comunidade. A apropriação recai sobre o produto gerado pelo bem, e não sobre o próprio bem.
Esse sistema, sobretudo agrário, sobreviveu na cultura do Ocidente durante a Idade Média.
Pode-se dizer que novas modalidades de propriedade comunitária ainda sobrevivem no sistema capitalista. Tomem-se como exemplos os sistemas cooperativos e os da coesão de pessoas na formação de fundos de investimento.
2.2) A propriedade dividida:
A chamada propriedade dividida prevaleceu na Idade Média, da época feudal até o fim do antigo regime.
Ao fim do Império Romano, observa-se o declínio da importância da propriedade plena (alodial) e da ascensão das chamadas tenências, ou seja, a utilização e o gozo, mais ou menos amplo e por um período prolongado, com características de direito real, sobre uma terra de terceiro. Dentre as tenências, destacam-se o feudo e o censo.
Houve o seguido desmembramento da propriedade, à medida que se admitiu a cessão parcial dos feudos e censos a terceiros. As sucessivas subcessões de direitos terminaram por permitir que um grande número de pessoas, com direitos reciprocamente limitados, utilizassem a mesma parcela de terra. A tentativa de disciplina essa desordenada divisão da propriedade nos moldes romanos levou à criação da doutrina do chamado domínio dividido: o proprietário permanecia com o domínio direto ou eminente, enquanto o tenente tinha o domínio útil.
2.3) A propriedade individual:
A Revolução Francesa decretou a extinção do feudalismo, abolindo do solo todos os encargos e ônus então existentes. Foram suprimidas as dezenas de tenências, feudos, servidões e banalidades que oneravam a propriedade.
Os princípios do numerus clausus e da tipicidade dos direitos reais nasceram, assim, em oposição à desordenada criação, no que toca a quantidade e qualidade, de direitos reais existentes no antigo regime. O prestígio da propriedade individual e sua inserção numa sociedade mercantilista não se coadunavam com o fracionamento excessivo.
O artigo 544 do Código Civil francês, seguido, com algumas variações, pelas demais legislações do século XIX, dá o paradigma do conceito de liberdade individual, pela ótica do liberalismo: “o direito de gozar e dispor das coisas da forma mais absoluta, desde que delas não se faça um uso proibido pelas leis ou pelos regulamentos.”
De igual modo, a Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1789 considera a propriedade como um direito natural, inviolável e sagrado. É um direito absoluto, exclusivo, que assegura ao proprietário dispor livremente de seus bens.
A partir do século XIX, a propriedade individual passou a sofrer notável alteração, em duplo sentido: de um lado, houve expansão do instituto, que passou a abranger bens incorpóreos, formando uma propriedade industrial, artística, literária e científica; de outro, houve mutação no conteúdo, evoluindo do absolutismo individual à noção de função social.
2.4) A sociedade coletivista:
Nos regimes socialistas, prevalece o sistema de propriedades coletivas, embora persistam de modo tênue os demais sistemas, como, por exemplo, o individual e o comunitário.
O regime de propriedade é colocado em primeiro plano no sistema soviético, até porque a doutrina marxista considera que o direito é condicionado pelas estruturas econômicas da sociedade. Daí decorrem importantes consequências. Integram o direito de propriedade não só as regras de apropriação e transferência dos bens, mas sobretudo as operações de gestão e exploração, que para nós são típicas do direito obrigacional.
A Constituição Soviética de 1936 reconheceu quatro tipos de propriedade na URSS, dois socialistas e dois pessoais: a) como propriedades socialistas, a do Estado e a das cooperativas kholkozianas; b.) como pessoais: a familiar e a individual.
Não resta dúvidas que os tipos mais relevantes de sociedade, em tal sistema, são os de propriedade estatal (socialista). A propriedade do Estado abrange toda a terra, edifícios públicos, empresas públicas, meios de transporte, empresas agrícolas organizadas e massa das habitações.
Diversos bens podem ser de propriedade de empresa estatal, provenientes de suas economias, mas o importante não é saber quem é o proprietário, mas, antes de tudo, quem os explora e como. A questão fundamental desloca-se da titularidade da propriedade para sua gestão. Interessa saber como os bens são utilizados, de acordo com as planificações econômicas da nação.
A propriedade kholkoziana é um tipo de propriedade cooperativa, na forma de grandes empresas agrícolas organizadas pelo Estado, na qual se atribuiu ao kholkozes um usufruto perpétuo de terras aráveis, bem como edifícios, máquinas, pertences de exploração e produção.
A propriedade individual foi rebatizada para pessoal, com o propósito de marcar a utilização unicamente para satisfação de necessidades de seu titular, vedado o gozo com os propósitos de obtenção de renda e especulação. É limitada aos bens de consumo, como objetos de uso e comodidades pessoais, os da economia doméstica e economia proveniente do trabalho, em sentido oposto aos bens de produção.
A propriedade rural, individual ou familiar, ficou restrita aos bens de consumo ou, no máximo, pequenas porções de terra e poucos animais.
Capítulo 3.
Conceito de propriedade.
A propriedade é um instituto complexo, não pode ter uma noção abstrata pura aplicável incondicionalmente, há noções diversas de propriedades adequadas a cada estatuto proprietário. 
É um instituto de estrutura dinâmica que se articula de acordo com as estruturas sociais históricas e culturais. Assim, apesar de não ser possível ter um conceito único genérico e abstrato, é preciso obter um mínimo de abstração, de um conceito geral mas que tenha esse contato com realidade. As vezes o termo propriedade usa em um conceito amplo como um ideal político e social de patrimônio e outras vezes mais restrito como um direito específico de direito patrimonial.
	Conceito tradicional de propriedade relaciona-se ao direito subjetivo fixados nos códigos privados, enquanto o contemporâneo, embora ainda sem consenso, veem propriedade como um STATUS, uma relação jurídica complexa carregada de direitos e deveres constitucionalizados e fundados na função social.
3.1. Conceito tradicional de propriedade:
CC 16 não fala da estrutura ou natureza do conceito, nem conceitua, mas traz as prerrogativas do proprietário (usar, gozar, dispor, reaver) – mesmos termos do antigo 1228 CC/2002. Dá destaque as prerrogativas.
	O conhecimento do conteúdo é importante para definir um direito, mas o direito aí não se esgota, pois se definisse a propriedadede forma analítica estabelece uma teoria geral que poderia não ser exata, pois podem haver novas situações jurídicas que teriam conteúdos idênticos mas estruturalmente diferente, o que poderia levar o interprete a definir como propriedade. 
No conceito tradicional é PURO DIREITO SUBJETIVO, PODER QUE ORDENAMENTO CONFERE DE AGIR E EXIGIR DE OUTREM DADO COMPORTAMENTO, reflete posição jurídica de vantagem. -> Loureiro fala sempre na liberdade individual, com inspirações do liberalismo, mas o artigo foi com base no CC/16, e hoje tem parágrafo no art. 1228 que estipula observações a serem cumpridas compatíveis com o Estado social.
	Maioria dos autores dá definição analítica da propriedade com destaques aos elementos positivos, como usar, dispor, gozar e reinvindicar, ligadas à perspectiva individual, traço comum de a propriedade ser um interesse juridicamente protegido do titular, conferindo gama de poderes e correlatos a deveres a serem prestados ou observados por terceiros não proprietários. NÃO TEM DEVERES DO PROPRIETÁRIO EM RELAÇÃO A TERCEIROS, MAS LIMITES IMPOSTOS PELA LEI, EXTERNO E ESTRANHO AO DIREITO DE PROPRIEDADE.
	Cuidado, norma não deve ser interpretada em si mesma, mas deve analisar todo o ordenamento, sob pena de voltar ao culto à lei, limitando-se a vontade do legislador. Ao se ater ao conceito analítico dos elementos enunciativos da lei, ignora-se o efeito transcendente da lei, pois regula situações que sequer são pensadas a época. Deve prestigiar interpretação sistemática do código com leis especiais, CF e princípios. 
	Assim, possível dar nova amplitude sem se esquecer dos conceitos do código, as modificações das situações de fato ou concepções culturais e morais conduzem, mesmo sem lei posterior uma releitura da legislação e harmonizar à constituição. 
3.2. Conceito contemporâneo de propriedade:
É UMA RELAÇÃO JURÍDICA COMPLEXA, que reúne não só feixe de poderes (usar, gozar, dispor e reinvidicar), MAS TAMBÉM DEVERES, ONUS E OBRIGAÇÕES EM RELAÇÃO A TERCEIROS PROPRIETÁRIOS E NÃO PROPRIETÁRIOS, ao lado dos tradicionais poderes há valores emergentes de um sistema social, subordinando à função social.
	Conceito de relação jurídica: vínculo que o direito estabelece entre pessoas ou grupos atribuindo poderes e deveres a respeito de bens ou interesses jurídicos. 
	Ainda, é uma relação jurídica patrimonial (dirigida a interesses econômicos), absoluta (contrapõe a um dever geral de abstenção) e complexa (há pluralidade de direitos e deveres, não é um único direito correspondente a um único dever como em uma relação simples).
	Contêm inúmeros direitos subjetivos frente a terceiros não proprietários, o que a doutrina tradicional denomina de limites, ônus e obrigações. 
	Para entender a propriedade contemporânea há necessidade de superar a imposição clássica e constatar que o interesse do proprietário não é objeto central da tutela, mas apenas um interesse protegido, num quadro complexo de outros interesses que o ordenamento reconhece e tutela.
	Pode afirmar existência de relação jurídica com sujeitos indeterminados em um dos pólos (os não proprietários) enquanto a doutrina tradicional apenas admite a indeterminação de sujeitos para situação jurídica e não relação. Mas a determinação do sujeito e sua capacidade somente ganham relevo em caso de eventual exercício mas não como pressuposto da existência. Assim nova feição da propriedade, não mais é relação de subordinação de terceiros, mas de situações jurídicas subjetivas do proprietário e de outras situações jurídicas que entrem em conflito. 
	Essa ligação à sujeitos indeterminados é transitória, na medida que será exercida contra quem tiver contato. 
	Tendência interessante, mas passível de críticas é propriedade como STATUS e pode ser equivocadamente interpretada como situação jurídica absoluta representativa da posição da pessoa na sociedade, o que pressupõe uma situação subjetiva. Mas aceita-se usar o termo como status civitatis, numa acepção ampla de que é uma situação subjetiva complexa de poderes e deveres.
	A transição para conceito tradicional da propriedade ao contemporâneo foi gradual, inicialmente incluindo no conceito os limites e obrigações impostos, afastando da noção simples de direito subjetivo, bem como a inserção de novos elementos como a relação jurídica, pertinência, vedação pelo direito público e a concorrência com outros direitos. Incorporando deveres do proprietário em relação a terceiros. 
	OBS. Antes do CC a própria CF já incorporava a função social – Loureiro fala que enquadrar propriedade como relação jurídica supera a dicotomia de direito subjetivo e função social que operava entre o CC/16 e CF/88. 
	Propriedade constitucional é via de mão dupla de direitos e deveres. De um lado direito fundamental relacionado a liberdade e por outro condicionado a interesses da comunidade. ASSIM, descumprimento dos deveres impõe ressarcimento dos danos e a extinção ou restrição do próprio direito de propriedade. 
-AINDA EM MANUAIS DE DIREITO CIVIL são usados o conceito de propriedade como poder ou direito subjetivo (doutrina tradicional) como no livro do Tartuce. Orlando Gomes, Cristiano Chaves Nelson Rosenvald falam da propriedade como um direito complexo que possibilita um feixe de atributos. E ainda, entendem que a função social é elemento constitutivo da nova concepção de propriedade e não apenas obrigação ou condição como estrutura externa, soma-se aos quatro atributos da propriedade (GRUD), sendo esses elementos estáticos, enquanto a funcionalidade é elemento dinâmico que assume papel de controle dos demais. 
Capítulo 4.
Propriedade ou propriedades.
Em um primeiro momento a noção unitária de propriedade ganhou força com código de Napoleão, concentrando os poderes da propriedade em um único titular, unicidade de conteúdo e também das fontes normativas, tendo conseqüência o fortalecimento do direito subjetivo da propriedade. Já no século XX ocorreu um desfazimento gradual do sistema único de propriedade, devido a dinâmica das relações sociais e a evolução da nova ordem econômica. 
	Controvérsia se seria possível denominar ainda propriedade unitária ou propriedades. Uns entendem que essa diversidade de categorias detentoras de disciplinas e limitações distintas é decorrência da propriedade, da sua elasticidade, o que possibilita o incremento ou diminuição dos atributos, outros entendem uma identidade da propriedade, pois há feição comum a todo e qualquer instituto. 
	A visão de que a propriedade é única liga-se ao conteúdo da propriedade, reflexo da liberdade e autonomia. A indivisibilidade decorre o não fracionamento da propriedade, haveria apenas limites pela constituição consubstanciando novo direito real sobre a coisa a favor de terceiro. E propriedade seria sempre o mesmo direito, independe da origem e objeto, não possibilitando o isolamento dos atributos. COMPLEXIDADE E DIVERSIDADE CONDUZEM À CRISE DA NOÇÃO UNITÁRIA.
No perfil subjetivo da propriedade diferenciam-se em relação à exclusividade, no aspecto qualitativo de ser público ou privado em que no primeiro o uso é público e no outro há poder de impedir o uso por outrem. E pelo viés objetivo a propriedade pode se distinguir substancialmente na prerrogativa do domínio, enquanto a figura do proprietário formal é destituída desse poder imediato.
Ademais, há novas classificações de bens, como os bens de produção, que para sua caracterização não importa sua natureza, mas a destinação. É decorrente da transformação do direito de propriedade que importava um poder sobre coisas, mas agora é um poder econômico sobre o mercado. É espécie de propriedade que tem caráter dinâmico, visto que estão no mercado para circulação e dotada de peculiaridades próprias. Nítida influência do direito obrigacional.
OS VÁRIOS REGIMES DE PROPRIEDADE COMPORTAM DISTINÇÕES QUALITATIVAS (distinção, por exemplo, do bem de consumo e de produção) E QUANTITATIVAS (distinção entre grandes e pequenos, algumas situações dignas de privilégios).
Os direitos de gozar e dispor já não são suficientes para dar homogeneidadeao instituto, o que não se pode esquecer que existem vedações em dispor, bem como limitações ao gozo como área ambiental, e nem por isso há questionamento sobre ser ou não proprietário. 
Atualmente destacam-se as diferenças das categorias proprietárias e não as semelhanças. Para Orlando Gomes ou a propriedade tem novas dimensões ou existem novas situações jurídicas que não podem estar no conceito. Mesmo poder de reinvidicar não serve de traço homogêneo, pois há relações obrigacionais dotadas dessa prerrogativa.
	A PROPRIEDADE COMO INSTITUTO É RESULTANTE DE UM COMPLEXO DE NORMAS JURIDICAS, as diversas categorias existentes de propriedade são regidas por normas próprias, HOJE NÃO HÁ UM, MAS VÁRIOS INSTITUTOS DE PROPRIEDADE.
Pode falar em apenas um conteúdo essencial ou mínimo como a aptidão natural ou histórica do bem ser objeto de desfrute econômico. Dissolveu o conceito unitário de propriedade eliminando a noção abstrata. 
Capítulo 5.
Objeto da propriedade.
	DIVISÃO CLÁSSICA DOS DIREITOS PATRIMONIAIS – PESSOAL/CRÉDITO ou REAL. Pelo aspecto externo no direito real é a observância pela comunidade, enquanto o pessoal tem por objeto a conduta positiva ou negativa de pessoa determinada que se obrigou. No aspecto interno (conteúdo econômico), no direito pessoal o objeto é a prestação, enquanto no real passa a ser a coisa que o titular obtém sem intermediação.
	Antes o ponto central do capitalismo era a própria propriedade, hoje, com o progresso da produção que levou à multiplicação das relações, houve a desmaterialização a riqueza, não é mais a coisa em si, mas sim o contrato o criador da riqueza.
	Assim, modo tradicional de diferenciar os direitos patrimoniais tem sido questionado, as principais características do direito real podem ser encontradas em direitos pessoais e vice e versa. 
	Hoje não há mais na propriedade a pertinência única entre coisa e pessoa, podendo ser encarada como uma relação jurídica entre o sujeito ativo e o coletivo, ou em face de pessoas especificas como no caso do usufrutuário. 
A visão da relatividade do contrato é confrontada com a função social que conduz dever de terceiros respeitar as situações jurídicas, bem como da relação pactuada respeitar e não prejudicar terceiros, eficácia reflexa às relações externas. 
	Desenvolvimento da atividade econômica e racionalização dos meios de produção mudaram perfil funcional da propriedade, dando ênfase a gestão da propriedade, em que acionista conserva direito, mas administradores detém controle. Ou ainda no caso de pulverização da propriedade para captação de recursos em que cria uma massa anônima de acionistas que são proprietários das frações, deixando de ter a posse dos bens que integram o ativo, passando a deliberar indiretamente em assembléia, auferindo créditos na participação.
	As novas figuras proprietárias cada vez mais relevantes economicamente mesclam o conceito de propriedade e direito obrigacional. 
	Distintos objetos da propriedade do direito comum e propriedade constitucional, enquanto o CC/16 limita a coisas corpóreas, embora possa estender privilegiando a idéia de exercício ou titularidade, a CF art. 5 e 170 não se limita a matérias tangíveis, sendo bens corpóreos ou não. 
	Para Edmundo Gatti é diferente bens e coisas, bem é gênero, sendo objeto suscetível de valor, abrange imateriais e coisas materiais. Enquanto coisa é espécie, são objetos materiais suscetíveis de valor. 
	A CF adota objeto de propriedade de forma ampla, coisas corpóreas ou ainda fatos e prestações que tem valor apreciável. Não deixa de lado novas categorias de bens. 
Sínteses dos capítulos 6, 7 e 8
Legenda – Em verde as teses, em amarelo o complemento.
Introdução e metodologia – Abaixo as conclusões retiradas diretamente da obra do autor. Tais pontos da conclusão são os pontos abordados nos capítulos 6, 7 e 8 da obra de forma pormenorizada. Portanto, sugerimos a leitura inicial desses pontos para que já seja possível a leitura do resumo tendo ciência e conhecimento das ideias do autor.
5 — O conceito contemporâneo de propriedade é o de relação jurídica complexa que tem por conteúdo as faculdades de uso, gozo e disposição da coisa por parte do proprietário, subordinadas à função social e com correlatos deveres, ônus e obrigações em relação a terceiros. Há centros de interesses proprietários e não-proprietários, geradores de direitos c de deveres a ambas as categorias.
6 — Houve fragmentação do conceito unitário de propriedade. O que hoje se sublinha não são as coincidências, mas sim as diferenças entre as diversas categorias proprietárias. Fala-se em propriedades e não mais em propriedade. O que existe é uma pluralidade de institutos em torno de um interesse. A autonomia privada não desapareceu e nem tende a desaparecer no direito de propriedade. Apenas os limites e restrições à autonomia e liberdade contratual, que já se encontram assimilados em nosso conhecimento, devem ser estendidos à propriedade. O direito de propriedade deve afeiçoar-se ao novo modelo, que impõe respeito e equilíbrio aos interesses não-proprietários, em busca da igualdade substancial.
10 — O eixo do sistema jurídico deslocou-se do Código Civil para a Constituição Federal. As Cartas modernas, tal como a brasileira de 1988, disciplinam matérias antes circunscritas ao direito privado, além de conter princípios que iluminam todo o ordenamento. E o que se denomina de direito civil constitucional, com profundas consequências na relação proprietária
11 — Os diversos dispositivos que disciplinam a propriedade na Constituição Federal de 1988 revelam a insistência com que o legislador constituinte tratou do tema, certamente radicado em uma longa corrente de pensamento. Numa simbiose de cartas puramente liberais e de índole social, inseriu-se a propriedade não só como uma liberdade fundamental, como também ligada ao interesse social e valores da ordem econômica.
12 — Diversas correntes procuram explicar o significado e o alcance da garantia ao direito de propriedade, explicitado na Constituirão Federal. Defendem-se posições de garantia máxima e de tutela mínima de um núcleo essencial. Como, porém, conclui Pietro Perlingicri, embora não possa a propriedade privada ser esvaziada, como se fosse um mero título de nobreza, não há um conteúdo mínimo a ser preservado, mas sim vários conteúdos mínimos, relativos a cada estatuto proprietário, a serem individualizados em cada situação concreta.
Capítulo 6.
Conceito e características da propriedade.
Conceito tradicional – É um poder geral do qual todos os demais emanam e são exteriorizações. Chega-se a dizer que não seria possível enumerar os poderes da propriedade porque não seria possível dizer o que o proprietário PODE fazer, apenas o que ele NÃO pode fazer.
· Poderes internos e econômicos – Usar (colocar a coisa a serviço do proprietário sem alteração de substância), fruir (percepção de frutos naturais ou civis), dispor (material ou juridicamente) e excluir o bem das ingerências alheias. O gozo, para parte da doutrina, compreender a utilização jurídica (gravar o bem) ou material (alterar sua destinação ou modifica-la).
O poder de usar, compreende o poder de NÃO usar ou de destruir? O entendimento moderno é no sentido de que tanto a faculdade de não usar como de destruir estão subordinadas à função social, ou seja, não podem violar a natureza ou destinação econômica do bem.
Características
· Realidade – Poder imediato sobre a coisa, sem ingerência de terceiros.
· Plenitude – Distingue dos demais direitos reais, conferindo generalidade dos poderes de uso, gozo e disposição
· Elasticidade – Restabelece automaticamente à sua plenitude quando cessam as limitações. Quando o proprietário detém todos os poderes, há a propriedade plena. Quando um dos poderes é retirado do proprietário, chama-se propriedade limitada.
· Exclusividade – Unicidade do direito e possibilidade de excluir terceiros.
· Independência – Não pressupõe nenhum outro direito sobre a coisa.
· Imprescritibilidade – Não se extingue a propriedade pelo não exercício.
· Perpetuidade– Não tem limite temporal e não se extingue pela prescrição.
NÃO se confunde o fato de os direitos reais serem numerus clausus e a tipicidade dos direitos reais
· Numerus Clausus – Apenas podem ser criados por lei e não pela autonomia da vontade. Há catálogo taxativo de direitos reais.
· Tipicidade – Refere-se ao conteúdo de cada um dos direitos. Ou seja, suas características e elementos são estabelecidos por norma de ordem pública inalterável por vontade das partes.
O autor marca que a visão tradicional despreza a funcionalidade da propriedade e que as novas técnicas dominiais nem sempre se encaixam no conteúdo tradicional de propriedade.
Capítulo 7.
Propriedade e autonomia privada.
Passagem da concepção de propriedade civilística para a constitucional – Propriedade fundada na iniciativa e autonomia da vontade (direito subjetivo) para uma situação em que o traço principal é o poder potestativo moldado conforme a lei.
Segundo o autor, a tendência moderna é no sentido de atenuar as diferenças entre direitos pessoais e reais
O autor marca distinção, originária do modelo romano, entre o título que enseja um obrigação de transferir e o modo concreto pelo qual se transfere – Há estreita correlação, nem sempre percebida pelo operador do direito, entre o negócio jurídico — com especial atenção para o contrato — e a propriedade. Muitas das faculdades inerentes à propriedade são exercitadas por intermédio de contratos. Basta pensar no direito de dispor da coisa (jus abutendi), intimamente ligado aos contratos de venda e compra e de troca. Mesmo o direito de gozar (jus utendi), mediante exploração direta da coisa, se dá, via de regra, com o concurso de terceiros, vinculados por contrato laboral.
Talvez a única hipótese de falta de conexão entre o direito de propriedade e o contrato (e a autonomia privada) está no caso de uso direto da coisa, sem mediação ou colaboração de terceiros.
O autor reforça a tese de que a aquisição de direitos reais é causal e que há uma relação entre o direito real e o pessoal – Exige título, somado à tradição, se bem móvel, ou registro, se bem imóvel. Invalidado o título, inválido será o registro e, por consequência, a aquisição da propriedade ou de outros direitos reais. Vê-se, novamente, que a validade do contrato é pressuposto da validade da propriedade, o que acentua a conexão entre os sistemas real e de crédito.
O autor ressalta que há tendencia equivocada de achar que a normatização do direito de propriedade esteve historicamente vinculada a ideias sociais e à publicização do direito privado – Curioso ressaltar, aqui, um velho hábito dos civilistas de conectar as intervenções limitativas das faculdades do proprietário, ocorridas nos últimos 100 anos, como signo de uma crescente socialização, ou publicização do direito privado. Isso nem sempre é exato. Muitas dessas limitações não têm qualquer relação com o emprego social dos bens, mas sim com a concorrência de interesses particulares opostos, levando em conta sua aptidão produtiva.
· É o caso das indústrias em contraposição às propriedades agrícolas – Basta ver os conflitos surgidos entre a propriedade agrícola estática e a propriedade industrial dinâmica. Resolveu-se a pendência a favor daquela que invertia capitais, que tinha alto potencial produtivo e como finalidade manter as condições que se consideravam indispensáveis para o desenvolvimento da atividade privada. Assim foram abertas estradas, ferrovias, portos e canais, sob o controle e em benefício da nova categoria proprietária. Importante ver que a autonomia privada, nesse primeiro momento, não foi sacrificada em prol do imediato interesse social, ou do bem-estar geral, mas sim de novos vinteresses proprietários. 
· Essa observação permanece atual – O autor cita que muitas limitações à liberdade negocial atendem interesses privados, ou critérios pautados na eficiência econômica. Basta lembrar as indenizações limitadas ou tarifadas da Lei de Imprensa, ou do Código Brasileiro do Ar, que atendem aos interesses de determinadas categorias ou grupos, permitindo-lhes o exercício de atividade de risco a interesses de terceiros, a um custo mais baixo e de antemão conhecido, no caso de eventuais incidentes [comentário – e mais atualmente as leis do setor aéreo da pandemia].
Relações entre propriedade, comércio e circulação de riquezas – O pensamento econômico clássico focalizava a importância da propriedade como incentivo ao trabalho e à poupança, tendo como objetivo o aumento e a retenção da riqueza individual. Mas o comércio e a circulação de bens tornam a sociedade ainda mais rica e produtiva, de tal modo que hoje se privilegiam as operações econômicas, em detrimento do simples acúmulo de bens individuais. EX: Cláusulas limitativas de disposição de bens — inalienabilidade -— presentes nos sistemas jurídicos liberais e cada vez mais combatidas pela doutrina, enfraquecidas pela jurisprudência e excluídas dos códigos modernos.
O autor reconhece, contudo, que muitas das limitações da autonomia são instrumentos justamente para reequilibrar relações – Segundo o autor, são instrumento de eficácia direta do conteúdo dos negócios, de acordo com critérios de razoabilidade, equidade e justo respeito do interesse das partes, especialmente as mais débeis. Busca-se reequilibrar a igualdade substancial das partes, uma vez que a liberdade da parte mais débil já havia sido subtraída anteriormente por obra da parte mais forte, especialmente nos contratos de massa e de adesão. De
De igual modo, o direito de propriedade deve afeiçoar-se ao novo modelo, que impõe respeito e equilíbrio aos interesses não-proprietários – Os limites e restrições à autonomia e liberdade contratual, que já se encontram assimilados em nosso conhecimento, devem ser estendidos à propriedade. Os tradicionais direitos de uso, gozo e disposição, entendidos tradicionalmente como absolutos, podem ser travados em favor de terceiros não-proprietários, mas com interesses dignos de tutela. Em termos diversos, as chamadas normas de intervenção — de proteção, de direção e de intervenção — têm plena aplicação à propriedade. Interessa ao direito não só a existência de proprietários, mas sim de bons proprietários, que ajam bem, socialmente. Sobre essa base criam-se novas obrigações aos proprietários — assim como aos contratantes — como, por exemplo, o dever de diligência no cumprimento da prestação devida, o de comportar-se de boa fé e a proteção de interesses de terceiros.
O interesse social, contudo, não apenas a limita a propriedade por normas restritivas, mas também o oposto, ou seja, em razão de incentivos positivos a condutas desejáveis leva ao incremento dela – É, por exemplo, o caso da doação de imóveis e a concessão de crédito barato para a instalação de indústrias em determinadas áreas merecedoras de especial atenção do Poder Público. Atual é o tema, no Brasil, da chamada guerra fiscal entre os estados federados, que nada mais é do que a intervenção estatal, mediante subvenções com dinheiro público, com o propósito de favorecer determinadas modalidades de propriedade, especialmente a industrial, em prol do desenvolvimento regional.
Capítulo 8.
A propriedade no Direito Constitucional.
O século XX assistiu, de um lado, a derrocada da utopia da completude da lei e, de outro, a crescente complexidade das relações jurídicas, das quais já não mais dava conta o Código Civil - A par disso, houve radical transformação na elaboração das Constituições que, a partir das Cartas do México, de 1917, e de Weimar, de 1919, passaram a abarcar os direitos individuais e ingressaram, de modo decidido, em matérias antes limitadas ao direito privado. Diz-se que as Constituições modernas deixaram de regular somente as garantias de liberdade dos cidadãos frente ao Estado, para também conceder direitos sociais e, sobretudo, servir de escudo contra o despotismo econômico, numa função promocional.
· O eixo do sistema jurídico é agora a Constituição – Que não só passou a tratar de temas antes circunscritos ao direito privado, como também a iluminar,com seus princípios cardeais — dignidade e solidariedade — toda a legislação infraconstitucional.
Histórico da propriedade nas constituições
· 1824 – A Constituição de 1824, em linha evidentemente liberal, dispunha, em seu artigo 179, XXII: “É garantido o direito de propriedade em toda a sua plenitude. Se o bem público legalmente verificado exigir o uso e emprego da propriedade do cidadão, será ele previamente indenizado do valor dela. A lei marcará os casos em que terá lugar esta única exceção, e dará as regras para se determinar a indenização”. Vale notar que, embora se tenha consagrado a prerrogativa de o Poder Público desapropriar bens particulares, exige-se a prévia indenização em dinheiro, ou seja, não se cogita de sanção, ou de atendimento à função social, mas de simples limitação, justificável pela necessidade.
· 1891 – em seu artigo 72, parágrafo 17, também garantia, em termos similares, o direito de propriedade, marcado pelo individualismo: "O direito de propriedade mantém-se em toda sua plenitude, salvo a desapropriação por necessidade ou utilidade pública, mediante indenização prévia”.
· 1934 – A Constituição de 1934 trouxe importante inovação, ao afirmar, ainda que de modo indireto, a função social da propriedade, O seu artigo 113, 17, dispunha: “É garantido o direito de propriedade, que não poderá ser exercido contra o interesse social ou coletivo, na forma que a lei determinar, A desapropriação por necessidade ou utilidade pública far-se-á mediante previa e justa indenização."
· 1937 – marcou um retrocesso em relação ao texto anterior. No artigo 122, n° 14, apenas assegurou o direito à propriedade e fez vaga referência que seu conteúdo e limites seriam definidos nas leis que regulassem o seu exercício. Desapareceu a menção, assim, aos interesses social e coletivo.
· 1946 – A Constituição de 1946, após a omissão da Carta de 1937, estabeleceu, de modo explícito, em seu artigo 147, que "o uso da propriedade será condicionado ao bem-estar social. A Lei poderá, com observância do disposto no artigo 146, parágrafo 16, promover a justa distribuição da propriedade, com igual oportunidade para todos”. Na lição de Celso Antônio Bandeira de Mello, o preceito supra constitui um marco jurídico, porque prevê a desapropriação por interesse social e, sobretudo, aponta um norte à legislação infraconstitucional, no sentido de assegurar a justa distribuição e igual oportunidade de acesso à propriedade.
· 1967/1969 – As Constituições de 1967 e 1969, não obstante o ambiente político em que foram geradas, consignaram, explicitamente, como finalidade da ordem social realizar o princípio da função social da propriedade (art. 160, III). A propriedade teve, mais uma vez, posição de destaque, elencada no artigo 153 como direito inviolável da pessoa humana, ao lado dos direitos à vida, à liberdade e à segurança.
· 1988 – A Constituição de 1988 novamente reafirma o direito à propriedade privada e â sua função social (art. 5°, XXII e XXIII), agora arrolados, de modo significativo, entre os direitos fundamentais. Trata a Carta Política da propriedade, especialmente tomado o termo em seu sentido amplo, não limitado aos bens materiais. Vê-se, assim, que no próprio caput do artigo 5° garante a inviolabilidade do direito à propriedade, lado a lado com outros direitos fundamentais, como à vida, à liberdade, à igualdade e à segurança. Menciona os arts. 5º, XXIV, XXV, XXVI, XXVII, XXVIII, XXIX, XXX, XXXI e outros espalhados pela CRFB. Nossa Constituição atual, numa simbiose de Cartas puramente liberais e de índole social, inseriu a propriedade não só como uma liberdade fundamental, como também ligada ao interesse social e valores da ordem econômica. Afastou-se de outros modelos, como as Constituições italiana e portuguesa, que se limitam a tratar do tema nos capítulos das relações econômicas.
O artigo 5º da Constituição, tanto no caput como em seu inciso XXII, garante o direito de propriedade, de modo expresso, mas o que se discute é o significado dessa garantia
· 1ª Posição – Pode-se entender, inicialmente, que o preceito significa a máxima tutela, contrapondo a liberdade do indivíduo à intervenção autoritária do Estado, exaltando-se o aspecto da garantia, mediante destaque de um núcleo essencial proprietário, que não pode ser comprimido e nem abolido pela legislação inferior. 
· 2ª Posição – A garantia constitucional diz respeito a um elemento essencial minimum da propriedade, que permite apenas reconhecer que se está diante de propriedade e não de instituto diverso, sem definição, contudo, do conteúdo exato dos poderes proprietários. Não se admite, portanto, a faltados elementos essenciais da propriedade, de tal modo que o instituto se desnature.
· 3ª Posição (aparentemente a posição do autor) – A garantia da propriedade privada esteja subordinada à atuação da função social, não se podendo identificar um núcleo essencial da propriedade. Em outras palavras, a Constituição Federal garante a existência da propriedade privada, mas não estabelece o conteúdo a que deve corresponder.
Tese do autor – O que se alterou foi a qualidade da relação proprietária, conectada, agora, a interesses não-proprietários – Não há mais porque falar em conteúdo mínimo, como se houvesse antinomia entre a relação de propriedade e o interesse social, mas sim em vários conteúdos mínimos, relativos a cada estatuto proprietário, a serem individualizados em cada situação concreta. Ou seja, uma nova noção de propriedade como relação jurídica complexa que deverá atender à função social.
· Estatutos proprietários – Não resta dúvida que a Constituição Federal estabeleceu vários estatutos para diversas situações proprietárias, tomando como base a situação do bem – urbano ou rural —, sua potencialidade econômica — produtivo ou improdutivo — e a própria situação subjetiva — titular brasileiro ou estrangeiro, de tal modo que nem todas elas gozam do mesmo prestígio legal.
· O autor faz dualidade da significação de a propriedade ser tratada junto com os direitos fundamentais e também junto à ordem econômica – Para o autor, a propriedade defendida no art. 5º diz respeito à propriedade que que cumpre a função de garantia de direitos fundamentais da pessoa humana, que se denomina propriedade pessoal. Já a propriedade do art. 170 da CRFB diz respeito às demais categorias proprietárias, não-essenciais ao preenchimento de necessidades que atendam direitos fundamentais.
· O fato de ser tratada não apenas no capítulo da ordem econômica, mas também junto aos direitos fundamentais afasta profundas divergências existentes em outros países, como Itália e Portugal – Nas Cartas portuguesa e italiana há profunda divergência quanto ao alcance da propriedade, em especial se está conectada somente a determinadas atividades econômicas ou, ao invés, a outros valores prestigiados pelo constituinte. Entre nós, a múltipla inserção da função social, que se espraia em variados capítulos da Carta, permite conexão muito mais ampla, ligada diretamente a valores, como a dignidade da pessoa humana, a justiça social.
· José Afonso, citado pelo autor – Como explica José Afonso da Silva, embora esteja a propriedade prevista entre os direitos individuais, ela "não mais poderá ser considerada puro direito individual, relativizandosc seu conceito e significado, porque os princípios da ordem econômica são preordenados à vista da realização de seu fim de assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social”.
· A CRFB não apenas previu a função social como a dotou de operatividade – Ou seja, definiu parâmetros e até prescrevendo sanções para os casos de sua inobservância. É o que se vê, por exemplo, nos artigos 182, 184 e 186 da Carta.
Capítulo 9.
Da função social da propriedade.
	Síntese do capítulo:
1- A função social é elemento interno da propriedade e serve de fundamento dela. 
2- É possível que sejam impostas restrições e incentivos aos proprietários que sirvam ao interesse comum.
3- Estão subordinados à função social tanto os bens de produção quando os bens de consumo.A concepção romana de justificação da propriedade pela sua origem sucumbe diante da concepção aristotélica que a justifica por seus fins, serviços e função. 
Na democracia moderna o Estado passou a ter função promocional de garantir as bases materiais necessárias do desenvolvimento da personalidade da pessoa, dispondo diretamente das riquezas privadas, mediante mecanismos de política fiscal e monetária (Antônio Gambaro). 
O processo teve influência das ideias tomistas de “bem fecundo” e do “bem comum” (São Tomaz de Aquino), que se converteram, no direito moderno, nas noções de produtividade e de uso condicionado ao bem-estar social. 
Desde meados de 1912, Duguit defendia que todo indivíduo tem o dever, a obrigação de empregar a riqueza que possui em manter a interdependência social, afirmando que a propriedade não é o direito subjetivo do proprietário, mas é sim a função social do detentor da riqueza (embora tais reflexões se referirem aos bens de produção e não aos bens de consumo). 
Nesse contexto, importante conceituar o termo função social da propriedade: “função social” seria sinônimo de utilidade social, fim social ou interesse social. 
O fim s	ocial não deve ser analisado apenas em relação aos bens de produção que visem incrementar a produtividade e riqueza. 
O termo “social” remeterá aos interesses considerados como dignos de tutela pela Constituição Federal. Assim, o termo é flexível e se amolda a cada estatuto em conformidade com os princípios constitucionais e a concreta regulamentação dos interesses em jogo. 
Em relação à operacionalidade, existem duas correntes sobre a função social: uma que a considera como uma cláusula geral do direito privado e outra que a identifica como conceito cujo conteúdo seria atribuído pela lei. 
A primeira corrente sustenta que se mantém, propositadamente, indeterminado o conceito de função social, que deve ser valorado a cada caso concreto pelo juiz, sopesando a atividade do proprietário em relação a determinado bem jurídico, sempre com o papel de estabelecer as mais justas relações sociais. 
Por outro lado, a segunda corrente defenderia que “função social” é uma norma programática que deveria merecer, necessariamente, legislação específica para poder ser aplicada a casos concretos. Sustenta, ainda, que a amplitude da função social deveria ser interpretada restritivamente, apenas de molde a vincular o bem à sua utilização normal, sem descaracterizar a propriedade privada ou reduzi-la a concepção meramente instrumental. 
[Na tese o autor claramente mostra-se crítico à segunda corrente, apontando os argumentos a seguir expostos].
Como mencionado anteriormente, a vagueza é intencional ou programática, para perseguir certas finalidades. A imprecisão permite o amoldamento do instituto às situações novas, mantendo-o atualizado e arejado por valores contemporâneos, e permitindo, por sua vaga moldura, a incorporação de princípios, diretrizes e máximas de conduta. 
Ademais, o jurista não é completamente livre para atribuir conteúdo ao princípio e deverá sempre o aplicar conforme as demais normas do ordenamento jurídico que disciplinam as relações econômicas e sociais previstas na constituição. Em especial considerando que atualmente, no contexto jurídico presente, a função social assume significado razoavelmente preciso, ajustado às demais normas do sistema. 
Ainda, a função social se apresenta como causa de justificação das intervenções legislativas, devendo a lei ordinária se conformar à função social que vale como princípio hábil ao seu controle de constitucionalidade. 
Assim, a propriedade é um direito – ou uma situação jurídica complexa – atribuída pela ordem jurídica a um titular, que também lhe estipula determinada conduta a ser seguida, ou fixa um objetivo social que, de um ponto de vista passivo, é cometido ao proprietário, sob pena de deixar ele de ser merecedor da tutela da propriedade. 
Disso decorre que a função social da não pode ser encarada como algo exterior à propriedade, mas sim como elemento integrante de sua própria estrutura. Os limites legais são intrínsecos a propriedade. 
Ressalte-se que, aqui, a discussão sobre a natureza da função social – se interna ou externa à relação jurídica- não é neutra e produz efeitos relevantes. Para aqueles que veem a propriedade ainda como direito subjetivo e a função social como uma limitação externa, aplica-se o princípio da legalidade. As restrições e limitações devem sempre ser impostas por lei. Ao invés, para aqueles que enxergam a propriedade como relação jurídica complexa, carregada de direitos e deveres, as chamadas restrições  e especialmente a função social constituem o próprio conteúdo do instituto, podendo, pois, derivar da natureza das coisas ou de ato administrativo [evidente, até pelo título da obra que o Desembargador adota a segunda corrente – relação jurídica complexa].
A função social não pode ser confundida com simples limitação ou restrição à propriedade, porque também justifica o incremento e incentivo a diversas formas proprietárias, ou o estímulo a determinadas condutas socialmente relevantes. 
Prosseguindo, também há controvérsia sobre as categorias vinculadas à função social da propriedade. Evidentemente algumas delas são mais influenciadas pela cláusula geral, como é o caso dos bens de produção e os imóveis rurais, até por expressa previsão constitucional. 
Em relação aos bens de consumo, a questão é controversa, sendo que parte da doutrina entende que estes não estão subordinados à função social [posição NÃO adotada pelo Desembargador].  Entretanto, a melhor posição é aquela que confere função social aos bens de consumo, especialmente os essenciais ao desenvolvimento da personalidade, conceito ligado, aqui, à igualdade. Cuida-se de garantir o acesso incondicionado de todos ao mínimo dos aludidos bens indispensáveis, estabelecendo direta relação entre propriedade e personalidade, como um retorno à visão jusnaturalística de direito natural do homem [posição adotada pelo desembargador - citação praticamente literal].
[os comentários aos dispositivos legislativos abaixo analisados foram mantidos, no máximo possível, nas palavras do orientador]
9.1 – A função social da propriedade e a política urbana:
O art. 182 da Constituição Federal reza que a propriedade cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor. A determinação tem o escopo de tornar a cidade um lugar mais adequado para a convivência das pessoas. 
A Constituição prevê sanções à violação dos deveres proprietários em caráter sucessivo: parcelamento ou edificação compulsórios, imposição de imposto progressivo no tempo, desapropriação com pagamento em títulos da dívida pública, resgatáveis em 10 anos, em parcelas anuais e sucessivas, assegurados, porém, o valor real da indenização e os juros legais. 
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes
§ 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: 
I - parcelamento ou edificação compulsórios;
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais.
Em relação ao dispositivo acima, a Constituição consolida o direito de propriedade como um direito-dever de observar a adequada utilização da coisa em prol de um interesse maior da comunidade. 
A Lei 10.257/2001 tem o propósito de direcionar o uso dapropriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e bem-estar dos cidadãos e do equilíbrio ambiental. 
Segundo Ricardo Pereira Lira, houve alteração no processo urbanístico, já que as decisões passaram do particular para o Poder Público. 
Prosseguindo, as sanções previstas no art. 182, §4º, CF dependem apenas de Lei municipal, sendo que após averbação da notificação no registro imobiliário a obrigação seria propter rem, podendo ser exigida diretamente dos novos proprietários. 
Contudo, o parcelamento e a edificação precisam se amoldar ao Plano Diretor, normas urbanísticas e de zoneamento ou regulamentos municipais, de modo a preencher a finalidade de bem-estar da comunidade e justificar eventuais investimentos públicos em obras de infraestrutura. 
A Lei 10.257/2001 ainda prevê a possibilidade de aplicação de imposto progressivo se não realizado o aproveitamento do solo no prazo previsto após a notificação: 
Art. 7o Em caso de descumprimento das condições e dos prazos previstos na forma do caput do art. 5o desta Lei, ou não sendo cumpridas as etapas previstas no § 5o do art. 5o desta Lei, o Município procederá à aplicação do imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana (IPTU) progressivo no tempo, mediante a majoração da alíquota pelo prazo de cinco anos consecutivos.
O referido dispositivo não representa risco de confisco, pois tem o propósito de penalizar a quebra do dever de funcionalização da propriedade. O imposto assume natureza extrafiscal, em nítido mecanismo que visa corrigir o desvio da utilização da propriedade imóvel.
Finalmente, a desapropriação-sanção serve para o restabelecimento da legalidade urbanística, conforme José Afonso da Silva. O art. 8º da lei mencionada disciplina a sanção constitucionalmente prevista: 
Art. 8o Decorridos cinco anos de cobrança do IPTU progressivo sem que o proprietário tenha cumprido a obrigação de parcelamento, edificação ou utilização, o Município poderá proceder à desapropriação do imóvel, com pagamento em títulos da dívida pública. 
§ 1o Os títulos da dívida pública terão prévia aprovação pelo Senado Federal e serão resgatados no prazo de até dez anos, em prestações anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais de seis por cento ao ano.
§ 2o O valor real da indenização: I – refletirá o valor da base de cálculo do IPTU, descontado o montante incorporado em função de obras realizadas pelo Poder Público na área onde o mesmo se localiza após a notificação de que trata o § 2o do art. 5o desta Lei; II – não computará expectativas de ganhos, lucros cessantes e juros compensatórios.
A ideia da desapropriação, conforme José Afonso da Silva, é expurgar da indenização todo plus-valia e toda forma de especulação. 
Outro instituto criado pela Constituição Federal para dar efetividade à função social da propriedade urbana é o usucapião especial, previsto em seu art. 183, da Constituição Federal. Os requisitos para tal modalidade de prescrição aquisitiva denotam evidente propósito de favorecer aquele que usa a pequena propriedade (250m²) para moradia própria ou da família, por período reduzido (cinco anos). Exige-se, mais, não  seja o usucapiente proprietário de outro imóvel e nem tenha postulado anteriormente igual benefício. 
Tal instituto é disciplinado pelos artigos 9º ao 14, da Lei 10.257/2001, sendo especialmente relevante a possibilidade de reconhecimento do usucapião coletivo de áreas urbanas, ainda que com mais de 25 metros, ocupadas por mais de cinco anos por população de baixa renda, para moradia, onde não seja possível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor. 
Art. 10.  Os núcleos urbanos informais existentes sem oposição há mais de cinco anos e cuja área total dividida pelo número de possuidores seja inferior a duzentos e cinquenta metros quadrados por possuidor são suscetíveis de serem usucapidos coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural.                  (Redação dada pela lei nº 13.465, de 2017)
Assim, autorizado inclusive o usucapião de favelas, sendo possível atribuir  a cada possuidor parte ideal do todo, em condomínio indivisível. 
Prosseguindo, o direito real de superfície (artigos 21 até 24) permite desmembramento dos poderes dominiais, mediante entrega a terceiro não-proprietário do direito de utilizar o solo, subsolo e espaço aéreo do terreno, por negócio jurídico oneroso ou gratuito. 
Art. 21. O proprietário urbano poderá conceder a outrem o direito de superfície do seu terreno, por tempo determinado ou indeterminado, mediante escritura pública registrada no cartório de registro de imóveis.
§ 1o O direito de superfície abrange o direito de utilizar o solo, o subsolo ou o espaço aéreo relativo ao terreno, na forma estabelecida no contrato respectivo, atendida a legislação urbanística.
§ 2o A concessão do direito de superfície poderá ser gratuita ou onerosa.
§ 3o O superficiário responderá integralmente pelos encargos e tributos que incidirem sobre a propriedade superficiária, arcando, ainda, proporcionalmente à sua parcela de ocupação efetiva, com os encargos e tributos sobre a área objeto da concessão do direito de superfície, salvo disposição em contrário do contrato respectivo.
§ 4o O direito de superfície pode ser transferido a terceiros, obedecidos os termos do contrato respectivo.
§ 5o Por morte do superficiário, os seus direitos transmitem-se a seus herdeiros.
Ainda, criou-se o direito de preempção (artigos 25 e 27), pelo qual se confere ao Poder Público municipal, em áreas determinadas e por tempo limitado, a preferência para aquisição do imóvel urbano objeto de alienação onerosa – salvo a troca – entre particulares. 
Art. 25. O direito de preempção confere ao Poder Público municipal preferência para aquisição de imóvel urbano objeto de alienação onerosa entre particulares.
§ 1o Lei municipal, baseada no plano diretor, delimitará as áreas em que incidirá o direito de preempção e fixará prazo de vigência, não superior a cinco anos, renovável a partir de um ano após o decurso do prazo inicial de vigência.
§ 2o O direito de preempção fica assegurado durante o prazo de vigência fixado na forma do § 1o, independentemente do número de alienações referentes ao mesmo imóvel.
Contudo, compreende-se que a inobservância do preceito deveria, em técnica escorreita, gerar ineficácia e não nulidade do negócio, como previsto no art. 27, §5º, da mencionada lei: 
§ 5o A alienação processada em condições diversas da proposta apresentada é nula de pleno direito.
Caminhando, a outorga onerosa e a transferência do direito de construir (artigos 28 a 31 e 35) permitem ao Poder Público alocar e dirigir investimentos para bairros carentes da cidade. 
Art. 28. O plano diretor poderá fixar áreas nas quais o direito de construir poderá ser exercido acima do coeficiente de aproveitamento básico adotado, mediante contrapartida a ser prestada pelo beneficiário.
§ 1o Para os efeitos desta Lei, coeficiente de aproveitamento é a relação entre a área edificável e a área do terreno.
§ 2o O plano diretor poderá fixar coeficiente de aproveitamento básico único para toda a zona urbana ou diferenciado para áreas específicas dentro da zona urbana.
§ 3o O plano diretor definirá os limites máximos a serem atingidos pelos coeficientes de aproveitamento, considerando a proporcionalidade entre a infra-estrutura existente e o aumento de densidade esperado em cada área. 
Art. 29. O plano diretor poderá fixar áreas nas quais poderá ser permitida alteração de uso do solo, mediante contrapartida a ser prestada pelo beneficiário. 
Art. 30. Lei municipal específica estabelecerá as condições a serem observadas para a outorga onerosa do direito de construir e de alteração de uso, determinando: I – a fórmula de cálculo para a cobrança; II – os casos passíveis de isenção do pagamento da outorga; III – a contrapartida do beneficiário. 
Art. 31. Os recursos auferidos com a adoção da outorga onerosa do direito de construir e de alteração de uso serão aplicados com asfinalidades previstas nos incisos I a IX do art. 26 desta Lei.
Art. 35. Lei municipal, baseada no plano diretor, poderá autorizar o proprietário de imóvel urbano, privado ou público, a exercer em outro local, ou alienar, mediante escritura pública, o direito de construir previsto no plano diretor ou em legislação urbanística dele decorrente, quando o referido imóvel for considerado necessário para fins de:
I – implantação de equipamentos urbanos e comunitários;
II – preservação, quando o imóvel for considerado de interesse histórico, ambiental, paisagístico, social ou cultural;
III – servir a programas de regularização fundiária, urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda e habitação de interesse social.
§ 1o A mesma faculdade poderá ser concedida ao proprietário que doar ao Poder Público seu imóvel, ou parte dele, para os fins previstos nos incisos I a III do caput.
§ 2o A lei municipal referida no caput estabelecerá as condições relativas à aplicação da transferência do direito de construir.
O que revela o Estatuto, como foi dito, é a preocupação com a ordenação da cidade e a valorização do elemento funcional da propriedade, com destaque para a posse e as acessões, em detrimento do elemento funcional da propriedade, com destaque para a posse e as acessões, em detrimento do elemento estrutural, que tem no solo nu seu ícone maior. 
9.2. A função social da propriedade e a política agrária:
O art. 184 da Constituição Federal dispõe ser de competência da União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante justa e prévia indenização em títulos da dívida agrária. 
Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei.
O art. 186, da Constituição Federal, por seu turno, fixa desde logo, os parâmetros para se saber o que é, efetivamente, essa função: 
Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
Nota-se a presença dos valores consagrados na Constituição como a proteção ambiental, a utilização racional das reservas naturais, o cuidado com as relações de trabalho, todos integrados na noção de conteúdo funcional da propriedade.
Contudo, de modo paradoxal o art. 185, da Constituição, veda a desapropriação para fins de reforma agrária da propriedade produtiva: 
 Art. 185. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária: 
I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra;
II - a propriedade produtiva.
O paradoxo reside na impossibilidade de desapropriação para tal fim de um propriedade que, embora produtiva, não preencha os demais requisitos de funcionalização, tornando-a imune à desapropriação. 
Propõe-se a solução da aparente antinomia pela interpretação conforme os princípios informadores da Constituição. Assim, o termo produtividade, interpretado de modo sistemático, não tem significado exclusivamente econômico, mas está ligado aos princípios solidarialistas que informam o sistema. 
Assim, o artigo 9º, da Lei 8.269/93 afirma que cumprida a função social da propriedade rural quando atende, simultaneamente, aos requisitos de aproveitamento racional, adequado da utilização dos recursos naturais, respeito às relações de trabalho e favorecimento do bem-estar de proprietários e trabalhadores, sem o que é possível é a desapropriação por interesse social. 
Art. 9º A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo graus e critérios estabelecidos nesta lei, os seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
Defende-se que mesmo produtivo o imóvel pode ser desapropriado que descumpra os demais requisitos da função social, como, por exemplo, respeito ao meio ambiente, ou bem-estar dos trabalhadores. 
Em relação ao meio ambiente, deve ser compreendido que sua proteção não tem natureza de intervenção na propriedade, mas é parte integrante da sua estrutura. Assim, a proteção ao meio ambiente integra a função social e, portanto, insere-se de modo indissociável no próprio direito de propriedade. 
Logo, a obrigação de proteção ao meio ambiente não enseja direito a indenização. Esta seria apenas possível em alguns casos específicos em que há eliminação, por inteiro da possibilidade de toda e qualquer utilização da coisa.
A lei agrária brasileira (Lei 4.504/64) está afinada com os princípios da Constituição na definição do conteúdo da função da propriedade rural. Além da desapropriação para fins de reforma agrária, outro instituto que reforça a função social da propriedade é o usucapião especial da Constituição (art. 191). 
Para tal modalidade de usucapião, é necessário que a área seja produtiva pelo trabalho da pessoa ou de sua família, além de ser utilizada para moradia. Há nítida proteção ao aspecto funcional da propriedade, em detrimento de sua estrutura tradicional, inclusive no que se refere à questão promocional do direito, com propósito de beneficiar o possuidor de pequena gleba, que nela habite e cultive e não seja proprietário de outro imóvel.
9.3 A questão da propriedade que não cumpre a função social:
· Apesar de parecer lógico que a infração à clausula geral de descumprimento da função social, mediante abuso de direito ou excesso de poder não merecem tutela pela ordem jurídica, a questão apresenta complexidade, pois negar pura e simplesmente qualquer ato de defesa ao mau proprietário à agressão de terceiros significaria legitimar o reinado da força, uma vez que seria inevitável a luta por apropriação 
· A própria constituição ao disciplinar o mau uso da propriedade estipulou gradativas sanções, não cogitando, todavia, da negativa de tutela ou da retirada da legitimação do mau proprietário.
· Tanto a relação jurídica da propriedade quanto a função social recebem tutela da CF em seu artigo quanto, não havendo hierarquia ou antinomia entre as duas figuras.
· Também não há, de resto, critério abstrato e geral para definir, a priori, quando a propriedade cumprira a sua função social, devendo ser analisado o caso concreto e a concorrência entre os interesses dos proprietários e não proprietários
· Há, portanto, a necessidade de se verificar exatamente qual a tutela que se nega e qual aquela que se admite ao mau proprietário.
· Não se pode conceber que a negativa de tutela ao mau proprietário sirva de estímulo a condutas violentas de terceiros que almejam, por meio do exercício da autotutela, fazer valer seus interesses não proprietários, ainda que esses sejam legítimos.
· Não há como conferir aos particulares a prerrogativa de decidir, por critérios subjetivos e como juízes das próprias razoes qual relação proprietária não cumpre a sua função social, quem poderá tomá-la do titular, qual o destino a ser dado ao bem 
· Há uma manifesta resistência dos tribunais na admissão da autotutela das partes como modo de conformação da função social da propriedade
· O autor coloca ainda, que é possível afirmar que a pretensão do mau proprietário de retomar a coisa, após longo período de inercia de passiva percepção da posse e do esforço de terceirosem dar-lhe função social, ofende o princípio da boa-fé objetiva.
· O princípio da função social da propriedade atua no conteúdo do direito. Entre os poderes inerentes ao domínio (de usar, fruir, dispor e reivindicar), o princípio da função social introduz um outro interesse (o social) que pode não coincidir com os interesses do proprietário.
· Assim, esse princípio da função social torna o direito de propriedade, de certo modo, conflitivo, cabendo ao judiciário dar lhe a necessária eficácia nos litígios que lhe são submetidos.
· Portanto, faz-se necessário encontrar um juízo de razoabilidade entre as duas situações indesejáveis, de um lado uma posição que peca pelo estímulo à violência, e de outro, a que peca pelo estímulo ao abuso do direito de propriedade.
· Assim, o autor traz alguns critérios a serem verificados na situação concreta:
· Aplicação do princípio da adequação (os meios adotados devem ser adequados à consecução dos objetivos pretendidos), o apossamento da coisa deve objetivar fazê-la cumprir a função social.
· Aplicação do princípio da necessidade (a restrição da relação proprietária deve ser indispensável à conservação do próprio ou de outro direito fundamental, não havendo outra medida menos gravosa).
· Aplicação do princípio da proporcionalidade em sentido estrito (ponderação entre a carda de restrição em função dos resultados)
· Aplicação do princípio da concordância prática (buscar preservar ao máximo os direitos e bens constitucionalmente protegidos)
· Devem ser consideradas as peculiaridades do bem e o significado para o proprietário 
· Não se pode admitir, na visão do autor, que a posse injusta, especialmente a violenta, seja prestigiada, ainda que com o louvável fim de dar função social à propriedade.
· Somente após a purgação do vicio é que se poderá cogitar de tutela favorável ao possuidor, contra a pretensão reivindicatória do titular do domínio.
· Eventual pretensão indenizatória do proprietário em face do poder público deve levar em conta os poderes que já e encontram em mãos dos possuidores, indenizando-se apenas o resquício de propriedade.
· A justa indenização aqui não se confunde com o valor de mercado do bem, devendo ser levada em conta para a estipulação do valor da indenização o abuso do direito de propriedade, uma vez que o proprietário da coisa não deu a ela uma destinação social.
· Há quem argumente que essa concepção dependeria de emenda aos artigos 182, §4, III e 184, da CF.
· Por justa indenização entende tradicional doutrina ser aquela que recomponha o patrimônio expropriado com igual quantia que corresponda exatamente ao desfalque por ele sofrido em decorrência da expropriação.
· O autor então faz uma reflexão que algumas das soluções para o caso de descumprimento a função social poderiam ofender os valores da segurança e da certeza, que devem orientar o direito. Todavia, em que pese a importância desses valores, eles devem ser usados na busca da justiça e do bem-estar social, de modo que não podem ser tidos como valores absolutos.
· A ação civil pública é um instrumento importante para a realização da função social da propriedade, pois há uma sintonia entre os valores por ela tutelados e aqueles que compõem a função social da propriedade, expressamente previstos na CF.
· Na visão do autor, há uma possibilidade de utilização da ação civil pública para compelir o mau proprietário o poder público a cumprirem a cláusula geral da função social da propriedade, tanto por condutas omissivas, quanto por condutas comissivas.
· Destaca então que já vem sendo a ACP usada para corrigir o mau exercício do direito de propriedade em várias vertentes, atendendo a vários interesses não proprietários, como, por exemplo, saúde pública, segurança do trabalho, defesa do consumidor e do meio ambiente.
· A ACP pode ser proposta tanto em face do particular responsável direito, como contra o responsável indireto, ou contra ambos, pelas ofensas causadas aos valores tutelados pela lei.
· Assim, por exemplo, seria possível, por exemplo, uma ACP para compelir o proprietário a dar função social à propriedade, e o poder público para aplicar as sanções ao mau proprietário pelo não cumprimento da função social.
9.4 Alguns aspectos da propriedade como relação jurídica complexa na legislação inferior e nos tribunais
· O autor inicia o capítulo trazendo que a função social da propriedade manifesta-se concretamente sob os seguintes aspectos:
· Privação de determinadas faculdades;
· Complexo de condições para o exercício de faculdades atribuídas ao proprietário;
· Obrigação de exercer determinadas faculdades.
· O atual conceito de propriedade vigente em nosso ordenamento se desvincula do conceito oitocentista de direito subjetivo absoluto ou inviolável, circunstância que seria impensável há duas ou três décadas.
· A lei 8.009/90 dispõe sobre a inviolabilidade do bem de família. Inicialmente foi recebia como uma restrição ao princípio de que o patrimônio do devedor constitui a garantia de seus devedores, não merecendo, portanto, interpretação extensiva. Gradualmente esse entendimento foi sendo alterado, e hoje os tribunais passaram a ver no diploma uma das vertentes do direito fundamental à moradia. 
· Já se admitiu, inclusive, a incidência dessa lei às penhoras realizadas antes da sua vigência.
· No tocante aos bens imóveis que guarnecem a residência, excluídos os adornos suntuosos, houve também uma nítida modificação do entendimento dos tribunais, que num momento inicial limitavam a proteção apenas aos bens imprescindíveis ao funcionamento de uma casa de moradia, para, num segundo momento estendê-la a tudo que usualmente se antem em uma residência, e não apenas o indispensável para fazê-la habitável.
· Outra situação analisada é a das indenizações decorrentes das limitações ambientais
· Inicialmente os tribunais concediam indenizações por limites que consideravam externos ao domínio, posição criticada pelo autor.
· Com a evolução dos entendimentos jurisprudencial, fixou-se a inviabilidade de indenização, considerando as restrições ambientais, ainda que severas, como integrantes da estrutura da propriedade e representativas de sua função social.
· A terceira situação analisada é a que diz respeito aos embargos de terceiros opostos por compromissários compradores, com títulos não registrados, em faze de execuções movidas por credores hipotecários contra os promitentes vendedores, especialmente no caso das alienações de unidades autônomas por construtoras e incorporadoras
· Houve uma patente valorização nos tribunais da oposição do promissário comprador em oposição aos credores do promissário vendedor (ressaltando-se que num primeiro momento a posição era de dar privilégio à hipoteca, em confronto com o direito dos compradores)
· O que se nota é que se passou a encarar a propriedade, não pelo seu exclusivo critério estrutural, mas, sobretudo, pelo seu critério funcional.
Capítulo 10.
A propriedade no Código Civil.
O projeto do código civil abraçou o novo conceito de propriedade como relação jurídica complexa, carregada de direitos e deveres voltados a atender a função social.
· O autor realiza então o comparativo de algum dispositivo, mostrando que o código passou a trazer um direito de propriedade a ser exercido em consonância com diversos aspectos, como a preservação do meio ambiente, do patrimônio histórico e artístico.
· Há ainda uma análise do artigo que trouxe a desapropriação privada, colocando que o preceito traz efetividade ao princípio da função social da propriedade, conformando o direito de propriedade ao bem-estar social.
· O autor coloca que a usucapião no projeto do CC recebeu a influência da funcionalização do direito, havendo uma redução nos prazos para a aquisição do direito.
· Finalmente, os direitos de vizinhança receberam um incremento, valorizando o princípio da coexistência de direitos e o da supremacia do interesse público.
· Três grandes princípios orientam a estrutura do projeto: o princípio da socialidade (prevalência dos valores coletivos sobre os individuais),

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