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SISTEMA DE ENSINO DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Dos Crimes contra o Patrimônio – Parte I Livro Eletrônico 2 de 99www.grancursosonline.com.br Dos Crimes contra o Patrimônio – Parte I DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro Sumário Dos Crimes contra o Patrimônio – Parte I ................................................................................. 4 1. Atualização Legislativa – 2020/2021 ..................................................................................... 4 1.1. Lei n. 14.155/21 ........................................................................................................................... 4 1.2. Pacote Anticrime ...................................................................................................................... 6 2. Legislação Comentada ............................................................................................................. 11 2.1. Furto ........................................................................................................................................... 11 2.2. Furto de Coisa Comum ...........................................................................................................15 2.3. Roubo ........................................................................................................................................16 2.4. Extorsão ...................................................................................................................................21 2.5. Extorsão mediante Sequestro ............................................................................................ 22 2.6. Extorsão Indireta ...................................................................................................................24 2.7. Usurpação ................................................................................................................................24 2.8. Supressão ou Alteração de Marca de Animal .................................................................. 25 2.9. Dano ......................................................................................................................................... 25 2.10. Introdução ou Abandono de Animais em Propriedade Alheia .................................... 27 2.11. Dano em Coisa de Valor Artístico, Arqueológico ou Histórico .................................... 27 2.12. Alteração de Local Especialmente Protegido ................................................................ 27 3. Sinopse ........................................................................................................................................28 3.1. Furto (CP, Art. 155) ..................................................................................................................28 3.2. Furto de Coisa Comum (CP, Art. 156) ..................................................................................40 3.3. Roubo (CP, Art. 157) ................................................................................................................42 3.4. Extorsão (CP, Art 158) ........................................................................................................... 50 3.5. Extorsão mediante Sequestro (CP, Art. 159) .................................................................... 53 3.6. Extorsão Indireta (CP, Art. 160) ........................................................................................... 56 3.7. Usurpação (CP, Arts. 161 e 162) ............................................................................................ 58 3.8. Supressão ou Alteração de Marca em Animais (CP, Art. 162) ......................................60 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 3 de 99www.grancursosonline.com.br Dos Crimes contra o Patrimônio – Parte I DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro 3.9. Dano (CP, Art. 163) ..................................................................................................................61 3.10. Introdução ou Abandono de Animais em Propriedade Alheia (CP, Art. 164) ............64 4. Súmulas e Informativos .......................................................................................................... 66 4.1. Súmulas .................................................................................................................................... 66 4.2. Informativos ........................................................................................................................... 70 Exercícios ........................................................................................................................................ 76 Gabarito ...........................................................................................................................................98 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 4 de 99www.grancursosonline.com.br Dos Crimes contra o Patrimônio – Parte I DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO – PARTE I 1. AtuAlizAção legislAtivA – 2020/2021 1.1. lei n. 14.155/21 Furto COMO ERA COMO FICOU Sem correspondente. Furto Art. 155, § 4º-B A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se o furto mediante fraude é cometido por meio de dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou não à rede de computadores, com ou sem a violação de mecanismo de segurança ou a utilização de programa malicioso, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo. § 4º-C A pena prevista no § 4º-B deste artigo, considerada a relevância do resultado gravoso: I – aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do território nacional; II – aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é praticado contra idoso ou vulnerável. Nova Qualificadora O § 4º-B descreve nova qualificadora do crime de furto. A pena é de reclusão, de quatro a oito anos, e multa, se o furto mediante fraude é cometido por meio de dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou não à rede de computadores, com ou sem a violação de mecanismo de segurança ou a utilização de programa malicioso, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo. Destarte, a partir de agora, não pode mais ser aplicada a qualificadora do § 4º, II, para a hipótese descrita no § 4º-B, sob pena de incorrer em bis in idem. Por se tratar de novatio legis in pejus, a nova qualificadora não retroage a furtos eletrônicos a contas bancárias ocorridos antes da data de vigência da Lei n. 14.155/21. Causas de Aumento de Pena O § 4º-C traz duas causas de aumento aplicáveis exclusivamente à qualificadora do § 4º-B. Em relação ao inciso I, importante ressaltar a competência da Justiça Federal para processo e julgamento do delito, quando verificada a transnacionalidade da conduta. Quanto ao inciso II, três observações: (a) o criminoso deve conhecer a condição de idoso ou vulnerável da vítima; (b) quando reconhecida, impede a incidência da agravante do artigo 61, II, “h”, do CP; (c) o quan- tum máximo de aumento é superior ao do inciso I. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br5 de 99www.grancursosonline.com.br Dos Crimes contra o Patrimônio – Parte I DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro Estelionato COMO ERA COMO FICOU Estelionato Art. 171. Estelionato contra idoso § 4º Aplica-se a pena em dobro se o crime for cometido contra idoso. Estelionato Art. 171. Fraude eletrônica § 2º-A A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se a fraude é cometida com a utilização de informações fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido a erro por meio de redes sociais, contatos telefônicos ou envio de correio eletrônico fraudulento, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo. § 2º-B A pena prevista no § 2º-A deste artigo, considerada a relevância do resultado gravoso, aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do território nacional. Estelionato contra idoso ou vulnerável § 4º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é cometido contra idoso ou vulnerável, considerada a relevância do resultado gravoso. Fraude Eletrônica O § 2º-A adiciona nova qualificadora ao crime de estelionato, com pena de reclusão, de quatro a oito anos, e multa, se a fraude é cometida com a utilização de informações forneci- das pela vítima ou por terceiro induzido a erro por meio de redes sociais, contatos telefônicos ou envio de correio eletrônico fraudulento, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo. Apesar da aparente semelhança com a forma qualificada do furto (CP, art. 155, § 4º-B), não há como confundi-las: no furto eletrônico mediante fraude, o indivíduo emprega artifício fraudu- lento para subtrair a coisa (ex.: software malicioso para invadir conta bancária). No estelionato, o agente não toma a coisa por conta própria, mas faz com que a vítima, em situação de erro, a entregue (ex.: a vítima preenche falso formulário enviado por e-mail). Causa de Aumento de Pena O § 2º-B trata de causa de aumento de pena aplicada exclusivamente à qualificadora do § 2º-A. A pena é aumentada, de um terço a dois terços, se o crime for praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do território nacional. Estelionato contra Idoso ou Vulnerável Na anterior redação, a pena do estelionato era aplicada em dobro se o crime fosse come- tido contra idoso. Pela nova redação, o aumento passa a ser de um terço ao dobro – portanto, O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 6 de 99www.grancursosonline.com.br Dos Crimes contra o Patrimônio – Parte I DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro novatio legis in mellius. Além disso, a majorante passa a ser aplicável também quando a vítima for vulnerável. O quantum de aumento a ser aplicado tem de ser proporcional à relevância do resultado gravoso provocado. 1.2. PAcote Anticrime 1.2.1. Alterações no código Penal Roubo Emprego de arma branca: com o surgimento das armas de fogo, as antigas armas passaram a ser conhecidas como armas brancas, em referência à lâmina de facas, pu- nhais, adagas etc. No entanto, o conceito não está limitado a instrumentos metálicos ou a armas propriamente ditas (ex.: espada), devendo ser considerado arma branca qualquer artefato capaz de causar dano à integridade física. Até o mês de abril de 2018, o emprego de arma branca fazia com que a pena do roubo fosse aumentada, de um terço até metade. Contudo, a Lei n. 13.654 extirpou o inciso I, do § 2º, do artigo 157, dando fim à causa de aumento de pena. É inegável, se comparado com a conduta daquele que emprega ameaça sem qualquer instru- mento lesivo, além das próprias mãos, o roubo praticado com arma branca oferece maior risco à vítima. Ademais, seja qual for sua natureza, a arma reduz a possibilidade de defesa. Portanto, nada mais justo do que o aumento da pena. Para sanar o equívoco, a Lei n. 13.964/19 reincluiu a arma branca ao rol de hipóteses que tornam o roubo circunstanciado, no § 2º do artigo 157 do CP. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 7 de 99www.grancursosonline.com.br Dos Crimes contra o Patrimônio – Parte I DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro Lei Penal no Tempo Embora tenha sido a correção de um equívoco, o inciso VII deve ser tratado como qualquer novatio legis in pejus. Portanto, não pode retroagir para alcançar fatos ocorridos antes de 23 de janeiro de 2020, data em que o Pacote Anticrime passou a viger. Por outro lado, por ter ex- tinguido a majorante do emprego de arma, a Lei n. 13.654/2018 retroagiu para alcançar roubos anteriores a 24 de abril de 2018. RETROATIVIDADE DA Lei n. 13.654/2018 E INCIDÊNCIA DO PACOTE ANTICRIME O que a lei fez Revogou o inciso I, § 2º, do artigo 157 do CP, que fazia com que fosse aumentada a pena do roubo, de um terço até metade, se houvesse emprego de arma. Vigência A Lei n. 13.654/2018 entrou em vigor no dia 24 de abril de 2018. Retroatividade Em relação ao emprego de arma branca, por se tratar de lei mais benéfica, houve a retroatividade da Lei n. 13.654/2018 a roubos ocorridos antes de 24 de abril de 2018. Exemplo: em julho de 2016, João praticou um roubo com emprego de arma branca. Em outubro, foi condenado pela prática do roubo circunstanciado (CP, art. 157, § 2º, I). Em fevereiro de 2017, após julgamento de recurso, houve o trânsito em julgado. A Lei n. 13.654/2018 o alcançou? Sim, por ser mais benéfica, deve retroagir, pouco importando o trânsito em julgado da sentença condenatória. Ultratividade No dia 23 de janeiro de 2020, entrou em vigor o Pacote Anticrime (Lei n. 13.964/19), que reincluiu a causa de aumento de pena – agora, no inciso VII. Como se trata de novatio legis in pejus, não pode, naturalmente, retroagir, devendo incidir apenas a condutas praticadas a partir da data de vigência. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 8 de 99www.grancursosonline.com.br Dos Crimes contra o Patrimônio – Parte I DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro RETROATIVIDADE DA Lei n. 13.654/2018 E INCIDÊNCIA DO PACOTE ANTICRIME Conclusão - Roubo com emprego de arma branca praticado antes de 24 de abril de 2018: o roubo deixou de ser circunstanciado para ser simples. A Lei n. 13.654/2018 retroagiu. Esses casos não são influenciados pela Lei n. 13.964/18, o Pacote Anticrime, que reincluiu a majorante ao § 2º. - Roubo com emprego de arma branca praticado entre 24 de abril de 2018 e 22 de janeiro de 2020: deve ser aplicada a Lei n. 13.654/2018, que tornou simples o roubo. Por ser lei mais grave, o Pacote Anticrime não pode retroagir. Logo, a Lei n. 13.654/2018 permanece aplicável para esses casos, mesmo após a vigência do Pacote (ultratividade). Isso porque se trata de lei mais benéfica (novatio legis in mellius). - Roubo com emprego de arma branca praticado a partir de 23 de janeiro de 2020: deve ser aplicado o Pacote Anticrime, com a nova majorante (art. 157, § 2º, VII), afinal, é a lei vigente desde então. Arma de fogo de uso restrito ou proibido: até a entrada em vigor da Lei n. 13.654/2018, o emprego de arma (branca ou de fogo) era objeto do inciso I, § 2º, do artigo 157 do CP, como forma majorada do delito – a pena era aumentada de um terço até metade. A partir da mencio- nada lei, o tema passoua ser tratado no § 2º-A, I, com aumento de dois terços, sem distinção entre arma de fogo de uso permitido, restrito ou proibido. No entanto, por não existir flexibili- dade na fração de aumento, o dispositivo trata de forma igual situações de gravidade diversa – se fosse falado em até dois terços, talvez não fosse necessária a modificação produzida pelo Pacote Anticrime. Para solucionar essa desproporção, a Lei n. 13.964/19 adicionou o § 2º-B ao artigo 157, fazendo com que seja aplicada em dobro a pena do roubo quando houver emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido. Apesar da distinção entre as penas, importante destacar que o roubo com emprego de arma de fogo é sempre hediondo, ainda que se trate de arma de uso permitido (Lei n. 8.072/90, art. 1º, II, “b”). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 9 de 99www.grancursosonline.com.br Dos Crimes contra o Patrimônio – Parte I DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro Emprego de Arma, Antes e Depois Estelionato Uma das mudanças de maior impacto ocorreu no estelionato, que passou a ser crime de ação penal pública condicionada a representação. Embora o projeto de lei não tenha justifi- cado, não é difícil entender o porquê da alteração. Primeiro, temos de pensar que, em alguns casos, há torpeza bilateral no contexto do estelionato. Ou seja, a vítima também age de má-fé. Naturalmente, isso pode fazer com que a vítima se sinta constrangida com o ocorrido, a ponto de preferir a impunidade do criminoso. Ademais, com o advento da internet, tentativas de estelionato se tornaram tão comuns quanto receber spam. Nos últimos doze meses, quantas vezes você recebeu um SMS supos- tamente enviado por seu banco? Dessas, quantas vezes registrou ocorrência policial? Nos últimos anos, devo ter ganhado umas dez vezes no Caminhão do Faustão. Nunca registrei ocorrência. O § 5º do artigo 171 traz algumas exceções, em que o estelionato se manteve crime de ação penal pública incondicionada quando a vítima for: (a) a Administração Pública, direta ou indireta; (b) criança ou adolescente; (c) pessoa com deficiência mental; ou (d) maior de setenta anos de idade ou incapaz. Não há incompatibilidade com o artigo 182 do Código Penal, que prevê situações em que a ação penal deverá ser pública condicionada. A Lei n. 13.964/19 não trata da retroatividade do § 5º do artigo 171 do CP. A solução coube ao STJ, que assim tem decidido: O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 10 de 99www.grancursosonline.com.br Dos Crimes contra o Patrimônio – Parte I DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro JURISPRUDÊNCIA Além do silêncio do legislador sobre a aplicação do novo entendimento aos processos em curso, tem-se que seus efeitos não podem atingir o ato jurídico perfeito e acabado (oferecimento da denúncia), de modo que a retroatividade da representação no crime de estelionato deve se restringir à fase policial, não alcançando o processo. (AgRg na PET no AREsp 1.649.986/SP) 1.2.2. Alterações na Lei dos Crimes Hediondos CRIMES HEDIONDOS CONTRA O PATRIMÔNIO 1. Roubo: (a) circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima; (b) circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (uso permitido, restrito ou proibido); (c) qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou gravíssima; (d) qualificado pela morte (latrocínio). 2. Extorsão mediante sequestro, simples ou qualificada. 3. Extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima (sequestro- relâmpago). 4. Furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. Roubo Antes do Pacote Anticrime, apenas o latrocínio era tido por crime hediondo, consumado ou tentado. Agora, além do roubo qualificado pela morte (art. 157, § 3º, II), o roubo é hediondo quando: (a) circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art. 157, § 2º, inciso V); (b) circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º-A, inciso I) ou pelo emprego de arma de fogo de uso proibido ou restrito (art. 157, § 2º-B); (c) qualificado pelo resultado lesão corporal grave (art. 157, § 3º, I). Em razão da extensão do assunto, a abordagem minuciosa é feita em tópico próprio, quando estudado o roubo. Extorsão A extorsão qualificada pelo resultado lesão corporal grave ou morte é um dos crimes mais graves do Código Penal, com pena máxima de trinta anos (CP, art. 158, § 2º). Em razão disso, o delito esteve no rol dos crimes hediondos desde a entrada em vigor da Lei n. 8.072, em 1990. Em 2009, a Lei n. 11.923 adicionou nova qualificadora ao artigo 158, ainda mais grave do que O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 11 de 99www.grancursosonline.com.br Dos Crimes contra o Patrimônio – Parte I DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro a do § 2º: a extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima (sequestro-relâmpago), com pena de vinte e quatro a trinta anos em caso de morte da vítima (art. 158, § 3º). No entan- to, em aparente equívoco, o legislador se esqueceu de adicioná-la ao rol dos crimes hediondos. Para corrigi-lo, o Pacote Anticrime adicionou o § 3º ao rol do artigo 1º da Lei n. 8.072/90, tor- nando a conduta hedionda, mas cometeu um erro imperdoável: retirou o § 2º. Portanto, atual- mente, a extorsão qualificada pelo resultado lesão corporal grave ou morte não é mais crime hediondo (§ 2º), salvo se houver restrição de liberdade da vítima (§ 3º). 2. legislAção comentAdA 2.1. Furto Furto Art. 155. Subtrair1, para si ou para outrem2, coisa alheia móvel3-4: Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa.5 § 1º A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.6 § 2º Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.7-8 § 3º Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.9 Furto qualificado10 § 4º A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido: I – com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;11 II – com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;12 III – com emprego de chave falsa;13 IV – mediante concurso de duas ou mais pessoas.14 § 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum.15 § 4º-B A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se o furto mediante fraude é come- tido por meio de dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou não à rede de computadores, com ou sem a violação de mecanismo de segurança ou a utilização de programa malicioso, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo.16 § 4º-C A pena prevista no § 4º-B deste artigo, considerada a relevância do resultado gravoso:17 I – aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do território nacional;18 II – aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é praticado contra idoso ou vulnerável.19 § 5º. A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venhaa ser transportado para outro Estado ou para o exterior.20 § 6º. A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração for de semovente domesticá- vel de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da subtração.21 § 7º. A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego.22 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 12 de 99www.grancursosonline.com.br Dos Crimes contra o Patrimônio – Parte I DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro 1. Em questões de concursos públicos, ao tratar dos crimes contra o patrimônio, é impres- cindível a observância do verbo utilizado no enunciado. No furto, o artigo 155 do CP fala em subtrair, tomar algo de alguém. Difere, por exemplo, da apropriação indébita (CP, art. 168), em que o sujeito ativo se apropria, se apossa de algo que já está em seu poder. 2. O furto pode ser praticado em benefício de terceiro. 3. A coisa deve ser alheia, não pertencente ao sujeito ativo, afinal, não há como furtar o próprio patrimônio, exceto no furto de coisa comum (CP, art. 156). A necessidade de que a coisa seja alheia desperta alguns questionamentos que podem cair em prova, conforme es- quema a seguir. COISA ALHEIA Elemento normativo do tipo, demanda juízo de valor pelo magistrado ao decidir em um caso concreto. A princípio, é alheio aquilo que não pertence ao sujeito ativo ou ao terceiro beneficiado, quando praticado o furto para outrem. Erro de tipo essencial (CP, art. 20, caput): se, por erro, o sujeito desconhece que a coisa é alheia, imaginando-a própria, deverá ser reconhecido o erro sobre elemento do tipo ou o erro de tipo essencial. Ex.: na esteira de bagagens do aeroporto, o sujeito subtrai mala de outra pessoa por imaginar ser a sua. Para o furto, é irrelevante saber se o erro é inevitável, afinal, não se pune a modalidade culposa do delito. Coisa de uso comum: não é possível furtar aquilo a todos pertencente, como o ar ou água do oceano. A depender do contexto fático, pode ficar caracterizado o crime do artigo 161, § 1º, I, do CP. Res nullius: as coisas que nunca tiveram dono não podem ser furtadas, afinal, não há um patrimônio a ser tutelado. Ex.: peixes de um rio. Res derelicta: a coisa abandonada não tem como ser furtada. Ex.: algo deixado em uma lixeira. Res desperdicta: a coisa perdida não pode ser furtada, mas pode ser objeto do crime de apropriação de coisa achada, do artigo 169, parágrafo único, II, do CP. 4. Além de alheia, a coisa deve ser móvel. O conceito é o natural, ou seja, é móvel o que pode ser transportado de um local para outro. É irrelevante a ficção jurídica trazida no artigo 81, II, do Código Civil. Art. 81. Não perdem o caráter de imóveis: I – as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro local; II – os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se reempregarem. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 13 de 99www.grancursosonline.com.br Dos Crimes contra o Patrimônio – Parte I DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro 5. Crime de médio potencial ofensivo, é possível a suspensão condicional do processo (Lei n. 9.099/95, art. 89). 6. A pena do furto é aumentada de um terço quando o crime é praticado durante repouso noturno. A lei não define o que é noite ou dia, tampouco o horário destinado ao repouso. Em verdade, não há conceito único, aplicável a todas as localidades. O momento de repouso no- turno não é o mesmo em São Paulo, maior cidade do país, e Serra da Saudade (MG), a menor, com pouco mais de setecentos habitantes. Portanto, cabe ao magistrado, ao avaliar o caso concreto, decidir por ter ou não ocorrido o delito em repouso noturno. 7. O § 2º descreve o denominado furto privilegiado. Se o criminoso for primário, e sendo a res furtiva de pequeno valor, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminui- -la de um a dois terços ou aplicar somente a pena de multa. Tenha cuidado, pois o dispositivo fala em pequeno valor. Se o valor for ínfimo, poderá ser reconhecido o princípio da insignificân- cia, hipótese de atipicidade material. 8. Questionamento frequente em prova, é possível, sim, a incidência da causa de dimi- nuição (furto privilegiado) em conjunto com qualificadoras – o denominado furto híbrido ou furto privilegiado-qualificado –, desde que estas sejam de ordem objetiva. É o teor da Súmula 511 do STJ. 9. Em razão da expressa previsão legal, não há dúvida de que a energia elétrica pode ser objeto material do crime, bem como qualquer outra que tenha valor econômico. 10. Todos os parágrafos a partir do § 4º tratam de circunstâncias qualificadoras do furto. § 4º § 4º-A § 5º § 6º § 7º 2-8 anos 4-10 anos 3-8 anos 2-5 anos 4-10 anos 11. O furto é qualificado quando ocorre a destruição ou rompimento de obstáculo que in- viabiliza a subtração da coisa (ex.: cadeado). Se houver emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum, deverá ser reconhecida a qualificadora do § 4º-A. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 14 de 99www.grancursosonline.com.br Dos Crimes contra o Patrimônio – Parte I DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro 12. Qualificam o furto o abuso de confiança e o emprego de fraude, escalada ou destreza. ABUSO DE CONFIANÇA FRAUDE ESCALADA DESTREZA Consiste em traição. O criminoso tira proveito da confiança depositada pela vítima para a prática do furto. É o exemplo do famulato, furto praticado pelo empregado doméstico contra o empregador. A fraude é o emprego de artifício que diminua a vigilância sobre a coisa a ser furtada. Ex.: enquanto um dos criminosos distrai a vítima, o outro pratica a subtração. Embora o verbo escalar seja utilizado em referência a subir, a qualificadora deve ser aplicada quando o acesso se der por via diversa da normal, ordinária. Ex.: por túnel. A destreza é a habilidade especial, física ou manual. É o exemplo do ladrão que consegue subtrair algo no bolso da vítima, sem que ela perceba a ação. Por ser circunstância de natureza pessoal, subjetiva, a qualificadora não se comunica se houver concurso de pessoas. Não confunda com o estelionato, em que a vítima é enganada para entregar a coisa ao criminoso. No furto, o agente a subtrai (toma para si), mas o faz diminuindo a vigilância sobre a coisa mediante emprego de artifício ou ardil. A realização de exame pericial não é condição imprescindível para o reconhecimento da qualificadora. A qualificadora é aplicável apenas quando a vítima traz a res furtiva junto ao corpo. 13. A chave falsa pode ser qualquer instrumento que substitua a chave verdadeira, pouco importando seu formato (ex.: chave mixa). A cópia não autorizada da chave original também é considerada chave falsa. 14. O furto é qualificado quando praticado em concurso de duas ou mais pessoas. 15. Desde a entrada em vigor do Pacote Anticrime, a qualificadora do § 4º-A passou a ser considerada crime hediondo. A qualificadora foi adicionadaao Código Penal em 2018 (Lei n. 13.654), logo após um furto de grande repercussão, quando criminosos explodiram o cofre de uma empresa de segurança privada. A pena do furto é de reclusão, de quatro a dez anos, e mul- ta, caso haja o emprego de explosivo ou artefato análogo que cause perigo comum. Portanto, qualifica o delito qualquer instrumento que gere uma explosão, a súbita expansão de volume de gases a altas temperaturas em consequência de combinação química. Tanto uma granada quanto um botijão de gás caseiro podem qualificar o crime. 16. Qualificadora adicionada pela Lei n. 14.155/21. Antes desse novo dispositivo, a con- duta era punida na forma do artigo 155, § 4º, II, do CP (mediante fraude). Exemplo da conduta O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 15 de 99www.grancursosonline.com.br Dos Crimes contra o Patrimônio – Parte I DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro prevista no § 4º-B: o sujeito que, enquanto invade um computador, aproveita o acesso e subtrai dinheiro da conta bancária da vítima, por meio de internet banking. 17. Por serem as frações variáveis – de um terço a dois terços, no inciso I, e de um terço até o dobro, no inciso II –, o legislador estabeleceu que o aumento deve levar em consideração a relevância do resultado gravoso da conduta. 18. A conduta é punida com maior rigor em razão da dificuldade em identificar o criminoso e reparar o dano causado. 19. A pena da qualificadora do § 4º-B é aumentada se o crime for praticado contra idoso (sessenta anos ou mais) ou vulnerável, conceito que pode ser extraído do artigo 217-A, caput e § 1º, do CP. 20. É qualificado o furto quando a res furtiva for veículo automotor que venha a ser trans- portado para outro Estado, diverso daquele onde ocorreu a subtração, ou exterior. O conceito de veículo automotor pode ser extraído do Código de Trânsito Brasileiro (Lei n. 9.503/97). A qualificadora deve ser aplicada apenas quando houver o efetivo transporte do veículo para outro Estado ou para o exterior. 21. É qualificado o furto de semovente domesticável de produção (ex.: gado) – o deno- minado abigeato. A qualificadora é aplicável ainda que o animal seja abatido ou dividido em partes no local da subtração. 22. No § 4º-A, o furto é qualificado pelo emprego de explosivo ou artefato análogo que cause perigo comum. No § 7º, punido com a mesma pena – reclusão, de quatro a dez anos, e multa –, o agente subtrai substâncias explosivas ou seus acessórios, conduta que pode ser praticada como ato preparatório da qualificadora do § 4º-A. 2.2. Furto de coisA comum Furto de coisa comum1 Art. 156. Subtrair2 o condômino, coerdeiro ou sócio3-4, para si ou para outrem, a quem legitima- mente a detém, a coisa comum: Pena – detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.5 § 1º Somente se procede mediante representação.6 § 2º Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a que tem direito o agente.7 1. No furto (CP, art. 155), o sujeito subtrai coisa alheia, pertencente a outrem. No artigo 156, a coisa também é alheia, mas parcialmente, pois parte dela é de propriedade de quem a subtrai. Ex.: o coerdeiro subtrai algo em prejuízo dos demais. 2. O verbo nuclear é subtrair, tomar para si, o mesmo do furto e do roubo. Portanto, não pratica o delito aquele que, tendo legitimamente a coisa sob seu poder, se recusa a restitui-la. 3. A relação entre sujeito ativo e sujeito passivo deve decorrer de condomínio, herança ou sociedade. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 16 de 99www.grancursosonline.com.br Dos Crimes contra o Patrimônio – Parte I DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro CONDÔMINO COERDEIRO SÓCIO É aquele que divide propriedade com duas ou mais pessoas. Os coerdeiros são aqueles que dividem, entre si, herança, aquisição de propriedade por meio de sucessão. A sociedade é a relação contratual de duas ou mais pessoas que se obrigam em busca de um objetivo comum. 4. Embora seja crime próprio, é possível o concurso de pessoas entre o condômino, o coerdei- ro ou sócio e alguém estranho à relação. A fundamentação está no artigo 30, parte final, do CP. 5. Crime de menor potencial ofensivo, que deve ser processado e julgado em Juizado Es- pecial Criminal. É compatível com a composição civil dos danos, a transação penal e a suspen- são condicional do processo (Lei n. 9.099/95, arts. 61, 74, 76 e 89). 6. É crime de ação penal pública condicionada à representação. 7. O § 2º trata de excludente especial da ilicitude, aplicável quando a coisa comum subtraí- da for fungível e seu valor não exceder o valor correspondente à quota a que o agente tem direi- to. Exemplo: um dos coerdeiros subtrai, de dinheiro a ser partilhado com os demais, a quantia de dois mil reais. No entanto, o valor corresponde a dez por cento do que lhe é de direito – ou seja, sua quota corresponde a vinte mil reais. 2.3. roubo CAPÍTULO II DO ROUBO E DA EXTORSÃO1 Roubo Art. 157. Subtrair2 coisa móvel alheia3, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa4, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência5: Pena – reclusão, de quatro a dez anos, e multa. § 1º Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.6 § 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade:7 I – (revogado); II – se há o concurso de duas ou mais pessoas;8 III – se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.9 IV – se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior;10 V – se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade;11 VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego;12 VII – se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca.13 § 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):14 I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo; O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 17 de 99www.grancursosonline.com.br Dos Crimes contra o Patrimônio – Parte I DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum.15 § 2º-B Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo.16 § 3º. Se da violência resulta: I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e multa; 17 II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa.18-19 1. No roubo, o sujeito ativo subtrai, toma para si, a coisa alheia móvel, da mesma forma como ocorre no furto (CP, art. 155), mas mediante violência, grave ameaça ou pelo emprego de qualquer meio que impossibilite a defesa. O criminoso não precisa da vítima. Por outro lado, na extorsão, para obter êxito na prática delituosa, ele precisa que a vítimafaça, tolere que se faça ou deixe de fazer alguma coisa. ROUBO EXTORSÃO Mediante grave ameaça, a vítima é obrigada a entregar sua carteira ao criminoso. Mediante grave ameaça, o agente exige que a vítima efetue saque de dinheiro em conta bancária. Distinção: no exemplo do roubo, se a vítima se recusar a entregar a carteira, o criminoso poderá tomá-la. Por outro lado, no saque bancário, se a vítima se recusar, a qualquer custo, a se submeter à exigência, o criminoso nada poderá fazer, afinal, não há como extrair a informação à força. 2. O roubo tem por verbo nuclear subtrair, o mesmo do furto, quando o criminoso toma para si a coisa móvel alheia. 3. O objeto material do roubo é a coisa móvel alheia. Para não ser repetitivo, leia o que foi falado a respeito do assunto nos comentários ao furto. 4. Ponto de distinção em relação ao furto, o roubo deve ser praticado mediante violência, grave ameaça ou qualquer meio que reduza à impossibilidade de resistência. VIOLÊNCIA GRAVE AMEAÇA IMPOSSIBILIDADE DE RESISTÊNCIA É a violência física (vis corporalis), o emprego de força física contra a vítima, que pode se dar por vias de fato ou por lesão corporal. É a violência moral (vis compulsiva), a promessa de mal grave caso a vítima resista ao roubo. É a denominada violência imprópria, quando a vítima, por qualquer meio, não pode resistir à conduta do criminoso. 5. É preciso ter cuidado ao interpretar o dispositivo. O emprego da palavra reduzido pode fazer com que se conclua que a vítima teve sua capacidade de resistência diminuída. No entanto, O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 18 de 99www.grancursosonline.com.br Dos Crimes contra o Patrimônio – Parte I DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro a redução fala em reduzir à impossibilidade de resistência, ou seja, limitá-la à falta de possibi- lidade de resistir. 6. O § 1º trata do denominado roubo impróprio, hipótese em que o agente pretendia, inicial- mente, praticar um furto (CP, art. 155), mas, logo depois de subtraída a coisa, teve de empregar violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a de- tenção da coisa para si ou para terceiro. Tenha cuidado para não o confundir com a violência imprópria, mencionada no estudo do caput do artigo 157. ROUBO PRÓPRIO ROUBO IMPRÓPRIO VIOLÊNCIA PRÓPRIA VIOLÊNCIA IMPRÓPRIA É o roubo do caput do artigo 157 do CP, quando o agente pratica a subtração mediante emprego de violência, grave ameaça ou de qualquer meio que reduza à impossibilidade de defesa da vítima. É o roubo do artigo 157, § 1º, do CP. Em resumo, o criminoso pretendia praticar um furto. No entanto, logo depois de subtraída a coisa, se viu a obrigado a empregar violência ou grave ameaça. É o emprego de força física contra o corpo da vítima (ex.: soco). Consiste no emprego de meio que faça com que a vítima não possa se defender (ex.: dopá-la). 7. O § 2º não traz qualificadoras, mas causas de aumento de pena (roubo circunstanciado). As qualificadoras do roubo são apenas aquelas do § 3º. 8. A pena do roubo é aumentada, de um terço até metade, se houver concurso entre dois ou mais agentes. A majorante é aplicada ainda que o comparsa seja inimputável em razão da menoridade, sem prejuízo do disposto no artigo 244-B do ECA. Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infração penal ou induzindo-o a praticá-la: Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. 9. É aumentada a pena do roubo se a vítima estiver em serviço de transporte de valores, desde que o agente conheça tal circunstância. Não precisa ser, necessariamente, transporte de dinheiro. Pode ser qualquer bem de cunho econômico (ex.: cosméticos). 10. É aumentada a pena se o roubo consistir em subtração de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. Sobre o tema, leia o que foi comentado a respeito do § 5º do artigo 155 do CP. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 19 de 99www.grancursosonline.com.br Dos Crimes contra o Patrimônio – Parte I DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro 11. Crime hediondo, a prática consiste em restringir a liberdade da vítima no contexto da prática do crime de roubo. Exemplo: o criminoso mantém a vítima presa no banheiro de imóvel enquanto subtrai as pertenças. A restrição deve ser por tempo juridicamente relevante, afinal, seja qual for o modo de execução do roubo, a vítima sempre terá sua liberdade limitada, ainda que por curto período. 12. É aumentada a pena do roubo quando a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou empre- go. Sobre o tema, leia os comentários feitos quando do estudo do artigo 155, § 7º, do CP. 13. O Pacote Anticrime reincluiu ao rol de causas de aumento de pena a majorante do emprego de arma branca. O tema foi tratado com maior aprofundamento no primeiro tópico deste material. 14. O § 3º traz causas de aumento de pena, e não qualificadoras do crime de roubo. A fração de aumento é fixa, de dois terços, se na violência ou ameaça for empregada arma de fogo de uso permitido, hipótese em que o crime é considerado hediondo, ou quando há des- truição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato análo- go que cause perigo comum, redação idêntica à do § 4º-A do artigo 155, forma qualificada do crime de furto. 15. Embora a majorante tenha a mesma redação da forma qualificada do furto, do artigo 155, § 4º-A, o legislador não incluiu o artigo 157, § 2º-A, II, ao rol dos crimes hediondos. FURTO QUALIFICADO ROUBO CIRCUNSTANCIADO Art. 155, § 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. Art. 157, § 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. A pena máxima é de dez anos. A pena máxima excede dezesseis anos (dez anos acrescidos de dois terços). É crime hediondo. Não é crime hediondo. 16. Por razão de proporcionalidade, o Pacote Anticrime adicionou nova causa de aumento de pena ao crime de roubo, no artigo 157, § 2º-B, quando a pena será aplicada em dobro se a violência ou grave ameaça for exercida com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proi- bido. De qualquer forma, seja qual for a arma de fogo empregada, o crime será hediondo (Lei n. 8.072/90, art. 1º, II, “b). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 20 de 99www.grancursosonline.com.br Dos Crimes contra o Patrimônio – Parte I DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro ROUBO CIRCUNSTANCIADO PELO EMPREGO DE ARMA DE FOGO Arma de fogo de uso permitido Arma de fogo de uso restrito ou proibido Artigo 157, § 2º-A, I, do CP. Artigo 157, § 2º-B, do CP. Aumento de dois terços da pena. Pena – aplicada em dobro. Crime hediondo. Crime hediondo. 17. O roubo é qualificado quando, em razão da violência empregada, e não da grave ame- aça, a vítima sofre lesão corporalde natureza grave ou gravíssima (CP, art. 129, § 1º ou § 2º). Se produzida apenas lesão corporal leve, o roubo a absorve (princípio da consunção). A lesão corporal que qualifica o delito pode decorrer de dolo ou culpa. Portanto, é errado dizer que se trata, necessariamente, de crime preterdoloso, quando o resultado agravador decorre apenas de culpa. Ademais, vale ressaltar que, desde a entrada em vigor do Pacote Anticrime, passou a ser crime hediondo. 18. O dispositivo trata do latrocínio, terminologia não adotada no Código Penal, mas am- plamente utilizada em referência à forma qualificada do roubo. O crime é sempre hediondo, consumado ou tentado. 19. A qualificadora é aplicável quando a morte decorrer de violência. Caso resulte de gra- ve ameaça (ex.: a vítima infarta e morre), a qualificadora não será reconhecida. A morte pode ser produzida por dolo ou culpa. Logo, não se trata, necessariamente, de crime preterdoloso. Como é possível que o latrocínio resulte de dolo, admite-se a tentativa – basta que a vítima sobreviva. Nesse sentido, veja a Súmula 610 do STF. LATROCÍNIO Súmula 610-STF: Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente a subtração de bens da vítima. Para a consumação do latrocínio, deve ser considerada a morte, se ocorreu ou não, pouco importando a efetiva subtração da coisa móvel alheia. Hipóteses: (1) O criminoso tem êxito tanto na subtração quanto na morte (lembre-se, estamos falando de dolo em ambos os resultados). O latrocínio é consumado. (2) Embora a subtração tenha sido frustrada, a morte foi alcançada. O latrocínio é consumado. (3) A subtração e a morte são frustradas. O latrocínio é tentado. (4) A subtração se consuma, mas a vítima sobrevive. Mais uma vez, latrocínio tentado. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 21 de 99www.grancursosonline.com.br Dos Crimes contra o Patrimônio – Parte I DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro 2.4. extorsão Extorsão Art. 158. Constranger1 alguém, mediante violência ou grave ameaça2, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica3, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa: Pena – reclusão, de quatro a dez anos, e multa. § 1º Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço até metade.4 § 2º Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior.5-6 § 3º Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é neces- sária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2º e 3º, respectivamente.7-8 1. Embora tratados em um mesmo capítulo, a extorsão e o roubo não se confundem. No roubo, o criminoso subtrai, toma da vítima, coisa móvel alheia. Na extorsão, a conduta mais se assemelha ao crime de constrangimento ilegal, do artigo 146 do Código Penal. A vítima é obrigada, mediante violência ou grave ameaça, a fazer, deixar de fazer ou tolerar que seja feito alguma coisa. É delito contra o patrimônio porque o criminoso pratica a conduta com o intuito de obter, para si ou para outrem, indevida vantagem econômica. 2. Sobre a violência e a grave ameaça, leia os comentários feitos ao artigo 157 do Có- digo Penal. 3. É imprescindível que a vantagem econômica buscada pelo criminoso seja indevida. Se legítima a pretensão, pode ficar caracterizado o crime de exercício arbitrário das próprias ra- zões, do artigo 345 do CP. 4. A pena da extorsão é aumentada se praticada por duas ou mais pessoas em concurso ou se houver emprego de arma – própria ou imprópria, de fogo ou branca. 5. Se, em razão da violência empregada no contexto da extorsão, a vítima sofrer lesão cor- poral grave ou gravíssima (CP, art. 129, § 1º ou § 2º), a pena será de reclusão, de sete a dezoito anos, e multa (CP, art. 157, § 3º, I). Caso, no entanto, morra, a pena será também de reclusão, mas de vinte a trinta anos, e multa, a mesma do latrocínio (art. 157, § 3º, II). 6. O Pacote Anticrime retirou o artigo 158, § 2º, do rol dos crimes hediondos. Um dos cri- mes mais graves do Código Penal, a forma qualificada da extorsão estava no rol desde a reda- ção original da Lei n. 8.072/90. 7. O dispositivo trata do denominado sequestro-relâmpago, situação em que, no contexto da extorsão, a vítima tem sua liberdade restringida. É o que acontece quando, mediante violên- cia ou grave ameaça, o criminoso obriga a vítima a se deslocar até caixa eletrônico para que faça saque bancário. Caso a vítima sofra lesão corporal grave ou gravíssima (CP, art. 129, § 1º ou § 2º), a pena será de reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos. Se morrer, a pena será vinte e quatro a trinta anos. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 22 de 99www.grancursosonline.com.br Dos Crimes contra o Patrimônio – Parte I DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro EXTORSÃO QUALIFICADA Hipótese n. 1: em razão da violência empregada, a vítima sofre lesão corporal de natureza grave ou gravíssima. Pena – reclusão, de sete a dezoito anos, e multa. Hipótese n. 2: em razão da violência empregada, a vítima morre. Pena – reclusão, de vinte a trinta anos, e multa. Hipótese n. 3: no contexto da extorsão, a vítima tem sua liberdade restringida. Em consequência da prática delituosa, ela sofre lesão corporal de natureza grave ou gravíssima. Pena – reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos. Hipótese n. 4: no contexto da extorsão, a vítima tem sua liberdade restringida. Em consequência da prática delituosa, ela morre. Pena – reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. 8. Até a entrada em vigor do Pacote Anticrime, a qualificadora do § 3º não fazia com que a extorsão fosse considerada crime hediondo, ainda que a vítima fosse morta. A Lei n. 13.964/19 desfez o equívoco, mas criou um problema: adicionou o § 3º do rol da Lei n. 8.072/90, mas retirou o § 2º. 2.5. extorsão mediAnte sequestro Extorsão mediante sequestro1 Art. 159. Sequestrar2 pessoa com o fim de obter3, para si ou para outrem, qualquer vantagem4, como condição ou preço do resgate5: Pena – reclusão, de oito a quinze anos. § 1º Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha.6 Pena – reclusão, de doze a vinte anos. § 2º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:7 Pena – reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos. § 3º Se resulta a morte:8 Pena – reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. § 4º Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços.9 1. O crime do artigo 159 do CP foi o motivo para a edição da Lei n. 8.072/90, a Lei dos Crimes Hediondos, inicialmente denominada Lei Antissequestro. Isso ocorreu porque, nos anos oitenta, a prática do delito virou epidemia em algumas cidades brasileiras – principal- mente, no Rio de Janeiro. Desde o começo da década, havia muita pressão para que fosse endurecida a punição do delito. O ápice foi atingido em 1989, após o sequestro do empresá- rio Abílio Diniz. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgaçãoou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 23 de 99www.grancursosonline.com.br Dos Crimes contra o Patrimônio – Parte I DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro 2. No sequestro, a vítima é privada de sua liberdade. Embora o Código Penal tenha utiliza- do apenas a expressão sequestro, e não sequestro e cárcere privado, como o fez no artigo 148 do CP, não há dúvida de que a extorsão mediante sequestro também pode se dar por meio de cárcere privado. 3. A consumação independe a efetiva obtenção da vantagem buscada pelo criminoso. Cri- me formal, basta a privação da liberdade da vítima. 4. Apesar de a redação falar em qualquer vantagem, temos de considerar apenas a que tenha natureza econômica, afinal, estamos tratando de crime contra o patrimônio. 5. Na extorsão mediante sequestro, a liberdade da vítima é utilizada como moeda de troca para a obtenção de vantagem indevida pelo criminoso. CONDIÇÃO DO RESGATE PREÇO DO RESGATE É a exigência de comportamento, positivo ou negativo, apto a proporcionar obtenção de vantagem patrimonial pelo criminoso. A conduta se assemelha à extorsão (CP, art. 158), mas difere em relação à privação de liberdade de alguém, imposta como meio coercitivo para que o sujeito passivo faça ou deixe de fazer alguma coisa. Ex.: exigir a assinatura de um cheque como condição para a soltura da vítima. É o pagamento, em dinheiro ou em algo que tenha natureza patrimonial, em troca da liberdade da vítima. Ex.: o pagamento de determinada quantia em troca da libertação. 6. O § 1º descreve três formas qualificadas do crime de extorsão mediante sequestro: (a) se o sequestro perdurar por mais de vinte e quatro horas; (b) se o sequestrado for menor de dezoito ou maior de sessenta anos; (c) se o crime for cometido por bando ou quadrilha. EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO O sequestro dura mais de vinte e quatro horas: o período é contado desde o instante em que ocorre a privação de liberdade da vítima, e tem por fim o momento em que ocorre a libertação. Pouco importa o momento em que cumprida a condição ou pago o preço do resgate. O sequestrado é menor de dezoito ou maior de sessenta anos: é considerada a idade da vítima no momento em da privação da liberdade. No entanto, cuidado: a extorsão mediante sequestro é crime permanente. Portanto, se a vítima for sequestrada, por exemplo, aos cinquenta e nove anos de idade, mas solta após completar sessenta, deverá incidir a qualificadora. Crime cometido por bando ou quadrilha: após a entrada em vigor da Lei n. 12.850/13, o artigo 288 do CP a nomenclatura bando ou quadrilha foi substituída por associação criminosa. No entanto, isso não impede a incidência da qualificadora. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 24 de 99www.grancursosonline.com.br Dos Crimes contra o Patrimônio – Parte I DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro 7. Se da prática do delito decorre lesão corporal de natureza grave ou gravíssima (CP, art. 129, § 1º ou § 2º), a pena é de reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos. Para que incida a qualificadora, a lesão tem de ser suportada pela pessoa sequestrada. Ademais, a lesão pode resultar de dolo ou culpa – logo, não se trata de crime necessariamente preterdoloso. 8. Se a pessoa sequestrada for morta, por dolo ou culpa, a pena será de reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. Se o resultado agravador que qualifica o delito decorrer de caso fortuito, força maior ou culpa de terceiro, as qualificadoras não poderão ser aplicadas. 9. O § 4º traz hipótese de delação premiada, quando a pena deve ser diminuída, de um a dois terços. 2.6. extorsão indiretA Extorsão indireta1 Art. 160. Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro: 2 Pena – reclusão, de um a três anos, e multa. 1. A extorsão indireta poderia estar no artigo 158 do CP, como forma privilegiada do crime de extorsão. No entanto, o legislador preferiu criar um tipo penal específico. A pena, de um a três anos, faz com que o crime seja compatível com a suspensão condicional do processo (Lei n. 9.099/95, art. 89). 2. O criminoso, ciente da situação financeira aflitiva da vítima, dela exige ou recebe, como garantia de dívida, documento que pode dar causa a procedimento criminal contra ela ou con- tra terceiro. Ou seja, o que o sujeito ativo busca é instrumento para chantagem futura, em caso de inadimplemento da dívida. 2.7. usurPAção CAPÍTULO III DA USURPAÇÃO Alteração de limites Art. 161. Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, para apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia:1 Pena – detenção, de um a seis meses, e multa.2 § 1º Na mesma pena incorre quem: Usurpação de águas I – desvia ou represa, em proveito próprio ou de outrem, águas alheias;3 Esbulho possessório II – invade, com violência a pessoa ou grave ameaça, ou mediante concurso de mais de duas pesso- as, terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho possessório.4 § 2º Se o agente usa de violência, incorre também na pena a esta cominada.5 § 3º Se a propriedade é particular, e não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa.6 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 25 de 99www.grancursosonline.com.br Dos Crimes contra o Patrimônio – Parte I DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro 1. O crime consiste em suprimir, eliminar, ou deslocar, mudar de lugar, marco, ou qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, para apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia. O crime decorre de dolo. É atípica a modalidade culposa. 2. Crime de menor potencial ofensivo, o processo e julgamento compete ao Juizado Espe- cial Criminal (Lei n. 9.099/95, art. 61). É possível composição civil dos danos, transação penal e suspensão condicional do processo (idem, arts. 74, 76 e 89). 3. Figura equiparada à do caput, pratica o delito de usurpação de águas quem desvia (muda o curso) ou represa (impede o curso), em proveito próprio ou de outrem, águas alheias. Crime doloso, não admite a modalidade culposa. 4. Crime punido com a mesma pena da alteração de limites (caput), o sujeito ativo inva- de, adentra sem autorização, à força, com violência a pessoa ou grave ameaça, ou median- te concurso de mais de duas pessoas, terreno ou edifício alheio, com o objetivo de esbulho possessório. 5. Se houver emprego de violência, além das penas previstas para o crime de esbulho pos- sessório, o sujeito ativo também será responsabilizado, em concurso material obrigatório, pelo delito correspondente à violência praticada (lesão corporal, homicídio etc.). 6. Sendo a propriedade particular, a persecução penal se dá por ação penal privada, exceto se houver emprego de violência. 2.8. suPressão ou AlterAção de mArcA de AnimAl Supressão ou alteração de marca em animais Art. 162. Suprimir ou alterar, indevidamente, em gado ou rebanho alheio, marca ou sinal indicativo de propriedade:1 Pena – detenção, de seis meses a três anos, e multa.2 1. O crime consiste em suprimir (eliminar) ou alterar (modificar), indevidamente, marca ou sinal indicativo da propriedade em gado ou rebanho alheio. O objetivo do sujeito ativo é dificul- tar a identificação do animal, para que não sesaiba a quem ele pertence. 2. Crime de médio potencial ofensivo, pois o processo e julgamento não competem a Jui- zado Especial Criminal. Portanto, não são admitidas a composição civil dos danos e a transa- ção penal, mas nada impede a suspensão condicional do processo, compatível com a pena mínima imposta (Lei n. 9.099/95, arts. 61, 74, 76 e 89). 2.9. dAno CAPÍTULO IV DO DANO Dano Art. 163. Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:1-2-3-4 Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa.5 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 26 de 99www.grancursosonline.com.br Dos Crimes contra o Patrimônio – Parte I DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro Dano qualificado Parágrafo único. Se o crime é cometido: I – com violência à pessoa ou grave ameaça;6 II – com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave;7 III – contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviços públicos;8 IV – por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima:9 Pena – detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à violência.10 1. Pratica o crime de dano quem destrói, inutiliza ou deteriora coisa alheia, que não precisa ser, necessariamente, móvel. DESTRUIR INUTILIZAR DETERIORAR A coisa móvel ou imóvel deixa de existir. Ex.: quebrar o vidro de uma janela. Embora não seja destruída, a coisa se torna imprestável. Ex.: quebrar o motor de um automóvel. O fato de ser possível o conserto não impede a punição pelo delito. A coisa continua funcional, mas tem seu valor atingido pela conduta. Ex.: riscar a lataria de um automóvel. 2. Crime doloso, é atípica a modalidade culposa. 3. Tipo penal misto alternativo, se praticados os verbos em um mesmo contexto fático, apenas um crime será praticado (crime único). Ex.: inutiliza e, em seguida, destrói. 4. O crime te dano tem por objeto material coisa alheia. É atípica a conduta de destruir, inutilizar ou deteriorar coisa própria, salvo na hipótese do artigo 171, § 2º, V, do CP (fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro). 5. Crime de menor potencial ofensivo, de competência do Juizado Especial Criminal. É compatível com a composição civil dos danos, a transação penal e a suspensão condicional do processo (Lei n. 9.099/95, arts. 61, 74, 76 e 89). 6. O dano é qualificado quando há emprego de violência ou grave ameaça. Naturalmente, embora o dispositivo não diga, a violência a que se faz referência é a direcionada contra a pes- soa, afinal, o crime de dano consiste, em si, em violência contra coisa. Se da violência resultar lesão corporal ou homicídio, o sujeito ativo será também responsabilizado pelo crime violento, em concurso material obrigatório. 7. Qualificadora expressamente subsidiária, o dano será afastado quando ficar caracteri- zado crime mais grave. Por exemplo, um homicídio qualificado pelo emprego de explosivo (CP, art. 121, § 2º, III). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 27 de 99www.grancursosonline.com.br Dos Crimes contra o Patrimônio – Parte I DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro 8. O crime de dano é qualificado quando praticado contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia, fundação pública, empresa pública, socieda- de de economia mista ou empresa concessionária de serviços públicos. É uma das hipóteses em que o crime de dano é de ação penal pública incondicionada. 9. O motivo egoístico é mesquinho, torpe, devendo ser punido com maior rigor. Também qualifica o delito o prejuízo considerável para a vítima, algo a ser considerado pelo magistra- do ao avaliar o caso concreto. É a única hipótese em que a persecução se dá por ação pe- nal privada. 10. Por ter pena máxima superior a dois anos, o dano qualificado não é crime de menor potencial ofensivo. Portanto, não é compatível com a composição civil dos danos ou com a transação penal, mas admite a suspensão condicional do processo, pois a pena mínima não excede um ano (Lei n. 9.099/95, arts. 61, 74, 76 e 89). 2.10. introdução ou AbAndono de AnimAis em ProPriedAde AlheiA Introdução ou abandono de animais em propriedade alheia Art. 164. Introduzir ou deixar animais em propriedade alheia, sem consentimento de quem de direi- to, desde que o fato resulte prejuízo:1 Pena – detenção, de quinze dias a seis meses, ou multa.2 1. Crime de ação penal privada, a conduta consiste em introduzir (colocar no interior) ou deixar (abandonar) animais em propriedade alheia, sem consentimento de quem de direito. Crime material, a consumação ocorre com o efetivo prejuízo. 2. Crime de menor potencial ofensivo, de competência do Juizado Especial Criminal, podem ser aplicados todos os institutos despenalizadores da Lei n. 9.099/95 (arts. 61, 74, 76 e 89). 2.11. dAno em coisA de vAlor Artístico, Arqueológico ou histórico Dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou histórico1 Art. 165. Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada pela autoridade competente em virtude de valor artístico, arqueológico ou histórico: Pena – detenção, de seis meses a dois anos, e multa. 1. Crime tacitamente revogado pelo artigo 62 da Lei n. 9.605/98. 2.12. AlterAção de locAl esPeciAlmente Protegido Alteração de local especialmente protegido Art. 166. Alterar, sem licença da autoridade competente, o aspecto de local especialmente protegi- do por lei:1 Pena – detenção, de um mês a um ano, ou multa. Ação penal Art. 167. Nos casos do art. 163, do inciso IV do seu parágrafo e do art. 164, somente se procede mediante queixa.2 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 28 de 99www.grancursosonline.com.br Dos Crimes contra o Patrimônio – Parte I DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro 1. Crime tacitamente revogado pelo artigo 63 da Lei n. 9.605/98. 2. O dano simples (CP, art. 163, caput), o dano qualificado por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima (CP, art. 163, parágrafo único, IV) e a introdução ou abando- no de animais em propriedade alheia (CP, art. 164) são de ação penal privada. Para as demais hipóteses, a ação penal é pública incondicionada. 3. sinoPse 3.1. Furto (cP, Art. 155) 3.1.1. Conduta O furto consiste em subtrair, tomar algo de alguém – mesmo verbo nuclear do roubo (CP, art. 157). No entanto, os delitos não se confundem, pois no roubo há emprego de violência ou grave ameaça. A pena é de reclusão, de um a quatro anos, e multa, compatível com a suspen- são condicional do processo (Lei n. 9.099/95, art. 89), embora não se trate de crime de menor potencial ofensivo (Lei n. 9.099/95, art. 61). A violência que distingue o furto do roubo é aquela empregada contra a pessoa. Não deixa de ser furto se o emprego de violência for contra coisa. Caso contrário, praticaria roubo, e não furto, quem emprega explosivo em caixa-eletrônico (CP, art. 155, § 4º-A). A importância do verbo nuclear. Em provas, as bancas pedem com frequência a distinção do furto em relação a outros crimes contra o patrimônio. Para não errar, dê especial atençãoao verbo utilizado no enunciado da questão. Entenda: • No furto, no furto de coisa comum e no roubo (arts. 155, 156 e 157), o agente subtrai, toma a coisa da vítima contra a sua vontade. É o meio utilizado pelo criminoso para ob- ter a vantagem indevida; • Na apropriação indébita (art. 168), como o próprio nome transparece, o agente se apro- pria da coisa. Ou seja, ao tê-la de legitimamente em seu poder, decide dela se tornar dono (ex.: após pegar algo emprestado, decide não devolver). • No estelionato (art. 171), o agente obtém a coisa. A vítima a entrega ao criminoso por- que quer, mas há um problema: ele a induziu em erro. Portanto, embora a vítima pareça ter agido voluntariamente, o seu querer foi viciado (ex.: enviar e-mail falso, fazendo se passar por empresa de comércio online, para obter informações da vítima). 3.1.2. Bem Jurídico O artigo 155 do CP tutela o patrimônio, tanto em relação à propriedade quanto à pos- se legítima. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 29 de 99www.grancursosonline.com.br Dos Crimes contra o Patrimônio – Parte I DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro 3.1.3. Objeto Material É a coisa alheia móvel. Coisa alheia: o verbo subtrair significa tirar algo de alguém. Portanto, não posso subtrair algo que a mim pertence. Para reforçar essa conclusão, o caput do artigo 155 diz, expressa- mente, que o objeto material do crime de furto é a coisa alheia móvel, aquela pertencente a pessoa diversa de quem toma a coisa para si. Até aqui, nada além do óbvio. No entanto, há alguns pontos que me preocupam em relação ao assunto. Fique atento(a): • O artigo 156 do CP tipifica o denominado furto de coisa comum, em que a conduta é praticada por condômino, coerdeiro ou sócio em detrimento dos seus pares – os de- mais condôminos, coerdeiros ou sócios. Ou seja, no furto de coisa comum, a coisa é parcialmente alheia, o que não acontece no furto, em que a coisa é integralmente alheia; • Não há furto quando a coisa não tem dono (res nullius) ou está abandonada (res derelic- ta). Portanto, se encontro algo no lixo, posso dela em apropriar; • Em relação à coisa perdida (res desperdicta), se dela me aproprio, pratico o crime de apropriação de coisa achada, do artigo 169, II, do CP. Contudo, cuidado: coisa perdida é aquela cujo dono é desconhecido. Se observo o momento em que alguém esquece um objeto e, logo depois, o subtraio, fica caracterizado o crime de furto; • Não é possível o furto de coisas de uso comum (res communes ominium), aquelas per- tencentes a todos – a água do oceano, por exemplo. Entretanto, se destacadas do lugar de origem e exploradas por alguém, pode ficar caracterizado o delito (ex.: exploração de gás natural). A coisa de uso comum, sem dono ou abandonada não pode ser objeto material do crime de fur- to enquanto não convertida em coisa alheia. Não pratica o crime de furto quem pesca peixes do oceano, mas comete o delito quem os furta do pescador. Coisa móvel. Se, em relação ao conceito de coisa alheia, não há o que discutir, o conceito de coisa móvel não é tão simples. Veja, por exemplo, o artigo 81 do Código Civil, que estabe- lece hipóteses em que coisas são consideradas imóveis em razão de expressa previsão legal, embora possível transferi-las de um lugar para outro: Art. 81. Não perdem o caráter de imóveis: I – as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro local; II – os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se reempregarem. Para o crime de furto, pouco importa o artigo 81 do CC. Se for possível retirar de um lugar e levar para outro, a coisa pode ser furtada. Exemplo: recentemente, na China, um prédio de cinco andares, com sete mil toneladas, foi transferido de um endereço para outro. A operação durou O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 30 de 99www.grancursosonline.com.br Dos Crimes contra o Patrimônio – Parte I DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro dezoito dias. Imagine que, na noite do primeiro dia, Tício decide furtar o edifício, enquanto po- sicionado sobre os trilhos deslizantes que viabilizaram o transporte da enorme construção. Ele será responsabilizado por furto? Sim, sem dúvida, afinal, a coisa é alheia e móvel. E a energia elétrica, é possível furtá-la? Sim, afinal, o artigo 155, § 3º, do CP, norma penal explicativa, afirma que, para o reconhecimento da prática do delito, equipara-se à coisa móvel a energia elétrica. Contudo, o dispositivo também fala em qualquer outra energia, além da elétri- ca, desde que tenha valor econômico. Dentre as várias energias existentes, questão polêmica diz respeito à captação clandestina de sinal de televisão fechada (ex.: SKY). Haveria furto? A solução foi dada pelo STF: JURISPRUDÊNCIA 1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça se inclinava no sentido de que o furto de sinal de televisão por assinatura se enquadraria na figura típica do art. 155, § 3º, do Código Penal. 2. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC n.º 97.261/RS, enten- deu que o sinal de televisão não se equipararia à energia elétrica, bem assim que não haveria subtração na hipótese de captação indevida de sinal, motivo pelo qual a conduta não se amoldaria ao crime do art. 155, § 3º, do Código Penal. Asseverou também que a ausência de previsão de sanção no art. 35 da Lei n.º 8.977/1995, que definiu a captação clandestina de sinal como ilícito penal, somente poderia ser suprida por outra lei, não podendo ser utilizado o preceito secundário de outro tipo penal, sob pena de haver inde- vida analogia in malam partem. Precedente da Sexta Turma desta Corte Superior. (STJ, REsp 1.838.056/RJ) Ocorre furto de energia elétrica na hipótese do gato, quando ocorre o desvio da energia elé- trica. Exemplo: conectar um cabo diretamente à rede elétrica, sem que passe pelo medidor de consumo. Situação diversa ocorre quando o medidor (relógio) é modificado para calcular, a menor, o consumo de energia elétrica, hipótese em que o crime será o de estelionato, pois houve emprego de fraude para a obtenção da energia. Princípio da insignificância. Há algum tempo, um caso tomou as redes sociais: uma ação penal proposta em razão do furto de duas galinhas havia chegado ao STF. Todos muito revol- tados, afinal, no país em que corruptos ficam impunes, o ladrão de galinha seria julgado pela Corte Suprema. Embora compreenda o sentimento geral em relação a esse caso, é preciso ter cuidado, pois o valor econômico da coisa não é o único critério a ser observado ao se reconhe- cer o princípio da insignificância. Veja os seguintes exemplos: • João tenta, há meses, encontrar um emprego. Sem saber como pagar o aluguel do mês, furtou algumas galinhas de um grande criador de galináceos, no total de cento reais (menos de dez por cento do salário mínimo atual); O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 31 de 99www.grancursosonline.com.br Dos Crimes contra o Patrimônio – Parte I DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro • João tenta, há meses, encontrar um emprego. Sem saber como pagar o aluguel do mês, furtou algumas galinhas de Francisco, homem de poucas posses, que sustenta sua fa- mília
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