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1 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................... 3 2 ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO ........................................................ 4 3 ANTROPOLOGIA NA CONDIÇÃO HUMANA ..................................... 6 4 GLOBALIZAÇÃO ANTROPOLOGIA ................................................... 8 4.1 Antropólogos Contemporâneos ................................................... 10 4.2 História ........................................................................................ 13 5 CULTURA E ANTROPOLOGIA ......................................................... 14 6 RELIGIÃO .......................................................................................... 17 6.1 Os Estágios da Fé ....................................................................... 19 6.2 A Fé Antropológica ...................................................................... 25 7 CONCEITO DA ANTROPOLOGIA .................................................... 27 7.1 Cultura e Antropologia................................................................. 30 8 AS CULTURAS QUE FORMAM O POVO BRASILEIRO .................. 31 8.1 Fundamentos De Antropologia Religiosa .................................... 33 8.2 Relações Étnico-raciais História e Cultura Afro-brasileira ........... 36 9 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ....................................................... 41 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO A Antropologia da Religião envolve o estudo das instituições religiosas em relação a outras instituições sociais, e da comparação de crenças e práticas religiosas em diferentes culturas. Fonte:ava.ufba.br No século XIX, a Antropologia era dominada por um interesse na evolução cultural; a maioria dos antropólogos assumiu uma distinção simples entre religião considerada "primitiva" e "moderna" e tentou fornecer relatos de como a primeira evoluiu para a segunda. No século XX, a maioria dos antropólogos rejeitou essa abordagem. Hoje, a Antropologia da Religião reflete a influência ou o envolvimento de teóricos como Karl Marx, Sigmund Freud, Émile Durkheim, Max Weber, Marcel Mauss, Victor Turner, Clifford Geertz e Talal Asad, dentre outros. Almeida (2009), trabalhando com dados sobre a cidade de São Paulo, chega a padrões de distribuição espacial distintos quando se comparam os templos de diversas denominações evangélicas em bairros periféricos. Pode-se dizer que na permanente oscilação do pêndulo Iluminismo- Romantismo, no que diz respeito a essa questão, a antropologia tendeu a filiar-se 5 ao pólo romântico dos grandes debates ocidentais, especializando-se numa espécie de contradiscurso em nome dos “seus” nativos e “suas” culturas, o que no Brasil encontrou plena justificativa na defesa das populações indígenas. Desse ponto de vista, as discussões sobre globalização seriam basicamente percebidas como não acrescentando nada de particularmente dramático às polêmicas anteriores. A retórica antropológica dominante procuraria manter-se imune a mais esse desafio, relegado para o plano da empiria. Nos Estados Unidos, um dos vários debates que preocupam a comunidade de estudiosos da religião nas últimas décadas tem a ver com o tipo de empreendimento analítico que objetivam, De um lado, estariam aqueles que consideram a religião uma realidade sui generis; assim como, em uma leitura durkheimiana, a sociedade só pode se explicar por ela mesma, posição análoga seria sustentada em relação ao domínio da religião. (McCUTCHEON, 1997). Ter um olhar antropológico para as relações humanas, dentre elas a religião, é mergulhar nestas relações como elas se dão nas suas diferenças culturais, históricas, econômicas, políticas e psicológicas. Para que isto seja possível é preciso um esvaziamento dos valores pré- concebidos pelo pesquisador, valores construídos na sua própria formação cultural; neste sentido o saber antropológico, antes de ser um conjunto de conceitos (axiomas) que baliza a intervenção do pesquisador, deve ser entendido como um exercício de buscar uma compreensão do novo. O perigo deste processo é a perda da identidade do próprio antropólogo, ou seja, o pesquisador perder-se no referencial do outro pesquisado. Para que isto não ocorra o antropólogo precisa se agarrar em seus valores éticos, provocando, assim, uma situação conflitante para ele mesmo a princípio, que seria: como se entregar a uma realidade diversa da sua, sem ameaçar seus valores pessoais. Este conflito, no entanto, não é ameaçador ou destrutivo para o antropólogo; é sim o que lhe permite desenvolver seu processo de reflexão, como um desafio paradigmático imposto pela própria ciência que ele escolheu. Não há dúvida de que há muito de defensivo nessa postura, o que é compreensível. Compreensível, sobretudo, dadas as dificuldades aparentes em encontrar uma linguagem (e uma política) compatível com a tradição da disciplina 6 no tratamento da questão, quiçá dado o ethos romântico acima referido e o receio de ver uma identidade ser ultrapassada, já que esta se apoiaria numa prática (a etnográfica) por suposto situada em pólo distinto de qualquer globalização. Na América Latina, o conceito de secularização foi assumido para conduzir discussões de outra natureza, que têm a ver com a sua qualificação tomando em consideração a persistente presença das religiões ou com uma avaliação sobre os papéis e os efeitos que essa presença religiosa desempenha. É o caso do conceito de secularização, que alhures tomou o significado de retraimento da religião, seja para transformá-la em assunto da esfera privada, seja mesmo para anunciar o seu desaparecimento. (DE LA TORRE, 2013) 3 ANTROPOLOGIA NA CONDIÇÃO HUMANA É preciso, no entanto, tomar cuidado com uma armadilha proveniente deste olhar: a desagregação da essência da condição humana; quando entendemos que a legitimidade da diferença é fator fundante do Ser, acabamos por criar a possibilidade de uma definição constituinte para o mesmo que inviabiliza pensá-lo em sua condição universal, ou melhor, em sua condição ontológica. A ciência antropológica, principalmente a escola inglesa (antropologia social) diz que o caminho é a observação das manifestações sociais em si mesmas, entendendo que toda representação, no universo simbólico em que esta é concebida, deve ser entendida como verdadeira, ou seja, como um conjunto de significação que implica numa realidade vivida por aquele grupo. Não há dúvida, também, de que aqui estaríamos muito próximos de uma ilusão típica dos antropólogos contraposta às ilusões de outras disciplinas das chamadas ciências sociais, que costumam ir em direção contrária,cativas das ideologias da modernidade. Mas, ao mesmo tempo, essa postura pode ser instrumentalizada, seja no sentido de servir de alerta contra as versões mais simplificadoras, unidimensionais e reducionistas presentes na literatura sobre globalização, seja contra seus usos políticos e ideológicos. 7 fonte:antropologicas-epidemicas.com.br O que não significa apenas uma sistematização intelectual da experiência humana, mas uma significação que atravessa outras dimensões do Ser, como o afetivo, o cultural e o espiritual. O interessante é percebermos que a importância da busca desta significação é a construção de um sentido para a existência do homem. Este sentido, do ponto de vista antropológico, está atravessado pela cultura, ou seja, só se pode encontrar um caminho de orientação para o nosso desejo, quando referidos pela cultura. O sincretismo afro-católico mimetizado em patrimônio da cultura local de Salvador e Recôncavo Baiano é o material e ambiente para alguns trabalhos, como o de Lígia Évora, sobre a importância do acarajé na sociabilidade soteropolitana, cuja venda iniciou-se ainda no século XIX, com as baianas comercializando o quitute pronto, sem local fixo, pelas ruas da cidade. Transformado, desde 2005, em patrimônio cultural imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) (BITAR, 2011). A antropologia se encontra em posição particularmente vulnerável e reveladora diante das crises contemporâneas (como a descolonização, por exemplo), os seus dramas disciplinares podem ser eles próprias fontes privilegiadas para se compreender a globalização, tal como se tentará mostrar adiante por intermédio de um debate recente. 8 A hipótese da qual se pretende partir aqui é a de que haveria um parentesco de fundo que as polêmicas simultaneamente ocultam e reforçam entre o conservadorismo antropológico e parte considerável da literatura sobre globalização. E esse acordo poderia ser resumido dizendo-se que em geral o que se disputa é simplesmente a definição do que é determinante se o local, o global ou alguma combinação dos dois, sem que se discutam os próprios termos da questão e a natureza imaginária dessas objetificações; ou seja, sem assumir que estamos diante de realidades inseparáveis da própria ação humana. 4 GLOBALIZAÇÃO ANTROPOLOGIA Uma sugestão inicial, sem que outras possibilidades fossem excluídas, poderia ser pensar a questão da globalização em termos de perspectiva. Para os que, em geral, se dedicam à questão, isso levaria a pôr um grão de sal na ênfase exclusiva nas periodizações e descontinuidades, que fazem ignorar em larga medida a problemática antiga das interdependências, bem como o caráter histórico dessa problemática, sujeita, aí sim, a descontinuidades, ciclos e retomadas óbvias que desmentem qualquer sentido evolutivo. Isso permitiria relativizar as descontinuidades sem ter de cair no pólo oposto, substantivista, da polêmica e sem ter de negar as novidades que se impõem. Ou seja, poder-se-ia pensar a “globalização” (ou as interdependências), no limite, em qualquer situação; ou, alternativamente, poder-se-ia colocar a questão entre parênteses. O “novo” de hoje só o seria na medida em que se considere que recaptura de modo fértil o passado; mas, ao fazê-lo, paradoxalmente o efeito será relativizar- se enquanto “novo”. Do lado dos antropólogos, isso significaria obrigar a uma leitura mais detida da sua tradição, na medida em que se teria de enfrentar não apenas os desafios de um novo objeto, mas a desnaturalização (ou desconstrução, se se preferir) de uma série de hábitos profissionais, com repercussão na avaliação da própria história da disciplina, sobretudo na de algumas tendências hoje dominantes que, vencedoras de antigos embates, ocultam outras possibilidades. 9 Fonte:blog.mundomaior.com.br Curiosamente, até diria que em certa medida esse descongelamento tem se dado. Mas não em nome da globalização. Afora o fato de vir a confirmar que os antropólogos preferem fazer prosa sem declará-lo (o que é diferente de não sabê- lo), isso faz supor que uma análise do que vem ocorrendo poderia sugerir aos pensadores da globalização num esforço reflexivo um modo de enquadrar o seu próprio discurso nos desenvolvimentos intelectuais contemporâneos, escapando dos riscos de uma pretensão totalitária e de uma espécie de fim da história 10 intelectual, em que “globalização” (tal como, em outros contextos, “cultura”) parece invariavelmente servir como última palavra. Lea Perez (2012) vem chamando a atenção para alguns problemas decorrentes dessas abordagens que acabam estimulando uma certa “frouxidão” conceitual da festa. Como alternativa, a autora propõe um deslocamento dessa perspectiva. Mesmo porque, dado exatamente o estilo dos antropólogos, essas alterações ocorridas na disciplina podem ser vistas como reações (e sintomas) mais ou menos imediatos a alterações nos seus próprios objetos. Ou pondo de forma mais dialogicamente “correta” e que desconstruiria a tradicional categoria de “informante” podem ser vistas como alterações nas interlocuções constitutivas do seu trabalho, que em função de sua recorrência e abrangência empíricas são suscetíveis, por sua vez, de serem remetidas para o âmbito do “global”. Para utilizar um exemplo que será privilegiado no presente texto, seria o caso, em matéria de alteração da experiência, quando os antropólogos vêem nas mais diferentes regiões do mundo os “seus” nativos going pentecostal, alterando ou substituindo usos que lhes pareciam (aos antropólogos) essenciais. 4.1 Antropólogos Contemporâneos Concluiu que a adoração poderia ser uma construção ex post, baseada na projeção da adoração de Cook pelos próprios europeus. Apresentou, ainda, uma visão alternativa do comportamento nativo, segundo ele, objeto — em nome justamente da “cultura” — de uma fixação infantilizadora a que não seriam imunes os antropólogos. Em 1992, o antropólogo Gananath Obeyesekere, da Universidade de Princeton e natural do Sri Lanka, publicou um livro em que polemizava com Sahlins e questionava a suposta adoração de Cook pelos “nativos”. Na verdade, para Obeyesekere o comportamento nativo no episódio poderia ser perfeitamente entendido em termos pragmáticos e políticos, os europeus (e o próprio Cook) não se dando conta do quanto eles próprios eram regidos por “mitos” 11 (no caso, o da adoração do homem branco pelos nativos) — a noção de mito, aliás, sendo, ironicamente, de origem europeia. Em 1995, Sahlins reagiu. Descontada a virulência da linguagem, a reação se deu em nome do desmonte do que seria uma pretensão (também) de uma posição ideológica que se autoproclama “politicamente correta” e de uma desconsideração das especificidades culturais em nome de universais do comportamento (Sahlins 1995). A religião só pode ser percebida enquanto conceito quando mediada pelos discursos racionais; mas, em contrapartida, ter uma construção teórica sobre a religião não garante uma experiência religiosa a estes pensadores. Experienciar o transcendente, viver o sagrado, não é algo possível a partir da razão; para tanto é preciso se permitir à irracionalidade do puro afeto, do puro desejo na concepção freudiana, ou para nos atermos a um conceito antropológico, do “tremendum” apontado por Otto, que parte de uma metodologia fenomenológica, que compreende o fenômeno religioso como irredutível a qualquer categoria epistemológica, neste caso, não podendo ser visto apenas como manifestação social ou psicológica (OBEYESEKERE, 1992). Isto não significa dizer que o pensar sobre a religião é uma atitude vazia; há uma finalidade clara neste exercício racional de atender a uma necessidade do próprio Ser Humano de desvelar o mistério da existência em que o mesmo se insere. As escolas antropológicas (evolucionista,estruturalista, funcionalista, social) devem ser vistas como contribuição a este estudo sistemático, mas não devemos abraçar nenhuma delas como dogma para a interpretação da realidade. Nenhum saber humano absorve toda a complexidade da experiência existencial, mas todas contribuem com um ponto de vista que desvela alguns dos mistérios desta existência. 12 Fonte:brasilescola.uol.com.br Agora, este lugar, ou esta visão mítica não é ou não deve ser hegemônica, não pode resumir toda a percepção humana. É preciso que ele esteja sempre respaldado por um olhar mais sistemático para que não nos percamos nesta realidade natural, ou seja, uma dialética entre a consciência mítica e a consciência racional é necessária para que a existência do Ser Humano seja garantida em toda sua plenitude. Acabamos geralmente tendo que lidar com as dimensões antropológicas do Ser falamos aqui da antropologia filosófica entendendo que manifestações destas dimensões não são fenômenos que se contrapõe numa anulação, mas se completam na instauração do real. Outro fenômeno de investigação quando lançamos um olhar antropológico para o estudo da religião seria o rito. Assim como o mito, o rito, pelo menos num primeiro olhar, não deve ser visto apenas como uma manifestação religiosa, no que diz respeito à religião instituicionalmente falando, pois ele (o rito) tem um sentido de organizador do espaço social. Então, afinal, o que vem a ser a festa em sua relação com a religião? Ou, melhor, o que a festa pode fazer pela religião? Se festa é criação e não apenas expressão de outras realidades, festa também pode ser um jeito de se fazer religião, cultura e, ainda, patrimônio (Perez, 2012). 13 Os ritos, nesta ótica, têm o valor de construir relações necessárias para a ordem social, estabelecendo critérios como a reciprocidade e a obrigação para com o outro, o que os torna definidores de valores morais, inclusive. Repetindo um parâmetro já citado, é imprescindível observar os ritos dentro de seu contexto socio-cultural, pois esta significação simbólica só pode ser compreendida dentro desta condição específica. 4.2 História Historicamente, é importante ressaltar a visão de Durkheim que coloca o rito numa condição estritamente social religiosa, isto é, no que diz respeito a relação com o sagrado. Van Guenet já aponta para uma função social, para o rito que extrapola a questão religiosa com a ideia dos ritos de passagem. Mesmo ligando o rito à visão mágicoreligiosa o matiz mais relevante de sua abordagem está na condição de deslocamento do familiar para o estranho que não deve ser restrito à ideia de profano e sagrado. Vítor Turner traz para esta reflexão os conceitos de comunitas e estrutura social como dois pólos antagônicos que se completam na constituição da sociedade. Nesta lógica o rito é o lugar de emergência do que o autor define por comunitas, ou seja, o espaço onde os desejos coletivos afloram. A dialética entre comunitas e a estrutura social é fundamental para o equilíbrio social. Quando há uma supervalorização da estrutura se incorre no perigo de uma ruptura pelo conflito entre o dominado e o dominante, ao contrário, se a comunitas prevalece o caminho será o caos (TAVARES; BASSI, 2012). Entende-se, então, que o rito não deve ser visto como um instante desligado do cotidiano social, mas se manifesta como a própria dinâmica da sociedade, ou seja, a partir do princípio dialético que lhe é própria. Entende-se, então, que o rito não deve ser visto como um instante desligado do cotidiano social, mas se manifesta como a própria dinâmica da sociedade, ou seja, a partir do princípio dialético que lhe é própria. 14 Do ponto de vista de uma teoria do corpo, não é interessante compreendê- lo enquanto locus de capacidades inatas: como caracterizar o corpo como entidade já pronta para experienciar o mundo quando seria melhor reconhecer que ele não tem fronteiras pré-definidas, mas transformadas por habilidades que o sensibilizam de formas variadas? (TAVARES; BASSI, 2012) Mito, rito e magia são na verdade três referências que utilizamos para freqüentar um universo altamente complexo: o religioso. Espaço de ligação entre dois mundos que compõe a existência humana e que ganham várias definições nas diversas concepções teóricas e culturais que este mesmo Ser produz em sua história. Fonte:cultura.culturamix.com Longe de desvendar os mistérios que perpassam está existência humana, mas procuramos, com esta busca incansável, ficar mais próximos de uma verdade que está para além de nossa compreensão total. 5 CULTURA E ANTROPOLOGIA Utilizar as referências pós-coloniais, ficando numa espécie de meio caminho entre elas e o mais antigo terceiro-mundismo, o qual, traduzido no interior da antropologia, redunda em certo arcaísmo, como no caso do apelo ao universalismo. 15 Na verdade, isso não significa dizer que não haja comunicação entre a antropologia e as correntes menos disciplinares de pensamento, seja sub- repticiamente, seja através de mediadores (não necessariamente reconhecidos como tais) respeitados. Os antropólogos têm se revelado mestres na arte de fazer prosa sem declará- lo, com isso avançando seletiva e camufladamente, sem “dar o braço a torcer”, buscando não abalar os alicerces da disciplina. E uma das razões é que está sendo discutida justamente a noção de cultura, tão associada à identidade disciplinar: por um lado, sendo revista; por outro, sendo objeto de múltiplas apropriações que provocam sensação de perda de monopólio (até no mercado de trabalho), expressando-se tal sensação na forma de uma demanda por ordem. Sobretudo porque não se trata tanto de que antes houvesse de fato um monopólio, e sim que agora a antropologia está sendo expressamente citada, por vezes criticamente, o que dificulta a postura de indiferença. Há, de fato, desafios sérios no ar. E o primeiro deles talvez redunde do próprio sucesso de uma sensibilidade com a qual a antropologia se identificava e que hoje se generalizou. Generalizou-se, por exemplo, na preocupação com a diferença e contra as ambições excessivas da teoria. As contribuições de Latour (2006) podem oferecer um deslocamento interessante, problematizando questões da abordagem fenomenológica em que se assentam tais perspectivas. Em linhas gerais, o autor evidencia sua desconfiança na exclusividade dos processos de significação elaborados somente nas relações face (LATOUR, 2004). Como se a antropologia tivesse sido uma “vanguarda” que aos poucos foi alcançada e, assim, de certo modo, dissolvida enquanto tal. Indicativa é não só a “virada cultural” dos anos 80, mas também a disseminação do interesse pela etnografia. 16 Fonte: trabajosuniversitariosumss.blogs Para pensar as diferenças internas às sociedades, aos grupos, aos indivíduos para muito além do que poderiam imaginar os clássicos da antropologia e quase que desconstruindo por exacerbação a própria noção de cultura. A antropologia foi como que alcançada. O saber antropológico tornou-se em amplos círculos uma espécie de lugar-comum, o que em certos casos é mesmo mais um exemplo da quebra pós-moderna da distinção entre alta e baixa cultura. Por outro lado, a antropologia vai sendo contestada de um modo diferente do praticado pelo bom e velho etnocentrismo que ela se acostumara a ter como adversário; a ponto de por vezes ela mesma, ironicamente, ser acusada de etnocentrismo e de representante de um olhar externo (LATOUR, 2004). Não deixa de ser interessante verificar sua relação objetiva com a globalização, que levaria a uma tendência a uma espécie de “relativismo generalizado” (ao lado, evidentemente, das reações fundamentalistas), ao 17 reconhecimento vivido e necessário das diferenças, à experiência da natureza artificial e construída das culturas etc. Ao mesmotempo, e analogamente, assim como os antropólogos perdem certos monopólios, certos atributos da sociedade ocidental que ajudaram a construir são também contestados enquanto qualificação de exclusividade: individualismo, reflexividade etc. Contestados, inclusive, como capacidade supostamente única de produzir uma antropologia. E isso leva à questão da contestação da própria antropologia, que em certos círculos foi transformada de vanguarda em cúmplice de uma ideologia dominante e etnocêntrica. 6 RELIGIÃO Ao tratar de possíveis equidades ou iniquidades na interface entre religião e saúde, considerou-se que, para além dos importantes enfoques já desenvolvidos nos estudos desse campo temático, é necessário abordar a questão também do ponto de vista da “justiça cognitiva” . Fonte:brainly.com.br 18 Boaventura de Sousa Santos (2007, p. 89), visa à expansão do “caráter testemunhal dos conhecimentos de modo a abarcar igualmente as relações entre o conhecimento científico e o não-científico, ampliando assim o alcance da intersubjetividade como interconhecimento e vice-versa”. O modo como a religião, enquanto universo de produção de saberes e práticas em saúde viáveis e credíveis para certos sujeitos (dentro do que eles avaliam como sendo suas eficácias e limites específicos), participa ou pode participar da construção in situ do horizonte normativo e epistemológico dos cuidados e das ações em saúde. A preocupação com a interferência da religião se dá na preservação de fronteiras institucionalmente demarcadas, como as que reservam unicamente ao profissional a prerrogativa de definir o ponto a partir do qual se pode subtrair o outro de sua decisão sobre a própria vida e saúde, as diferenças religiosas devem ser respeitadas. O egocentrismo cognitivo faz a criança pensar que suas experiências e percepções representam a única perspectiva disponível. Por isso não conseguem coordenar e comparar duas perspectivas diferentes a respeito do mesmo objeto. Na perspectiva do desenvolvimento cognitivo, o pensamento da criança é fluido e mágico. Falta-lhe a lógica indutiva e dedutiva; possui uma característica episódica na qual as associações seguem-se umas às outras de acordo com processos imaginativos, ainda não constrangidos por operações lógicas estáveis (FOWLER, 1992, p. 109). Se pensarmos, que não se trata mais de entidades ou de capacidades inatas, para se perseguir as transformações mediadas pelas religiões em práticas de cuidado, também teremos que rever a centralidade de conceitos como “experiência” e “itinerários”. Muito utilizados em abordagens compreensivas, esses conceitos nos enviam a subjetividades, negociações, imprevisibilidades, enfim, a sujeitos. As contribuições podem oferecer um deslocamento interessante, problematizando questões da abordagem fenomenológica em que se assentam tais perspectivas. Em linhas gerais, o autor evidencia sua desconfiança na exclusividade dos processos de significação elaborados somente nas relações face a face, apontando que a exclusividade heurística dessas abordagens não reconhece que 19 as fontes da incerteza encontram-se distribuídas por uma extensão muito mais ampla. Assim, a potencialidade do conceito de experiência pode ser justamente sua armadilha, ao remeter para os limites do sujeito a investigação dos mediadores que se distribuem pelo social. A fé nos ajuda a formar um “espaço de vida” confiável, um ambiente último. Em um nível mais profundo, a fé nos sustenta quando nosso espaço de vida é ferido e entra em colapso, quando a realidade sentida de nosso ambiente último prova ser menos que última (FOWLER, 1992, p. 9). A vivacidade e o crescimento contínuo na fé requerem autoexame e disposição para o encontro com as perspectivas de fé de outras pessoas. Qualquer pessoa pode ser iluminada no esforço de se relacionar com o sagrado pela integridade que encontra nas atitudes de fé de outras pessoas, quer sejam religiosas, quer não. A maneira pela qual essas capacidades são ativadas e crescem dependem grandemente de como somos recebidos no mundo e do tipo de ambiente no qual crescemos. É o que mostram os Estágios da Fé. 6.1 Os Estágios da Fé Para Fowler (1992, p. 243), há uma sequência de desenvolvimento de epistemologias da fé, correlacionada ao desenvolvimento físico, psicossocial e cognitivo na infância e na vida adulta. As descrições estruturais dessa epistemologia conduziram a sete aspectos geradores dos estágios da fé. São eles: a) Lactância e Fé indiferenciada: A peregrinação na fé, segundo Fowler (1992, p. 105), começa quando bebês. A mãe ou a pessoa que cuida do bebê, abençoando-o com o dom de seus olhos e sua face, ajuda na formação da confiança, confirma que as primeiras pré-imagens de Deus se originam nesse face a face. 20 As pré-imagens de Deus se compõem das primeiras experiências de mutualidade, nas quais se formam a consciência rudimentar das pessoas como seres separados e dependentes de outros, imensamente poderosos, que estavam presentes na primeira tomada de consciência e que “conheciam”, com olhares e sorrisos confirmadores, nosso primeiro autoconhecimento. Fonte:netmundi.org São pré-imagens porque, em grande parte, formam-se antes da linguagem, antes dos conceitos e numa época que coincide com o surgimento da consciência. Fowler (1992, p. 106) explica que, nesse estágio, no primeiro ano de vida da criança, as sementes de confiança, coragem, esperança e amor fundem-se de uma forma indiferenciada com ameaças de abandono sentidas pelo bebê, inconsistências e privações no ambiente da criança. Embora seja realmente um pré-estágio e, em grande parte, inacessível à pesquisa empírica de Fowler, a qualidade de mutualidade e a força da confiança, autonomia, esperança e coragem (ou seus opostos) desenvolvidas nessa fase, estão subjacentes a (ou ameaçam solapar) tudo o que virá mais tarde no desenvolvimento da fé. b) Estágio 1: Fé intuitivo-projetiva A fé intuitivo-projetiva do estágio 1 é a fase fantasiosa e imitativa na qual a criança pode ser influenciada de modo poderoso e permanente por exemplos, 21 temperamentos, ações e estórias da fé visível dos adultos com as quais ela mantém relacionamentos primários. O estágio caracterizase por uma relativa fluidez dos padrões de pensamento. A criança defronta-se continuamente com novidades para as quais não se formaram ainda operações estáveis de conhecimento. Os processos imaginativos subjacentes à fantasia não são restringidos nem inibidos pelo pensamento lógico. Em conjunção com formas de conhecimento dominadas pela percepção, a imaginação, neste estágio, é fértil produtora de imagens e sentimentos duradouros (positivos e negativos) que terão de ser classificados e ordenados pelo pensamento e valoração posteriores, mais estáveis e autorreflexivos. Este é o estágio da primeira “autoconsciência”. A criança “autoconsciente” é egocêntrica no que tange às perspectivas dos outros. Aqui encontramos a primeira consciência da morte e do sexo e dos fortes tabus com os quais as culturas e famílias isolam essas poderosas áreas da vida. O dom ou a força emergente desse estágio é o nascimento da imaginação, a capacidade de unificar e captar o mundo da experiência em poderosas imagens e conforme ele é apresentado em estórias que registram as compreensões e sentimentos intuitivos da criança no tocante às condições últimas da existência. Os perigos desse estágio surgem da possível “possessão” da imaginação da criança por imagens irrestritas de terror e destrutividade, ou da exploração, consciente ou não, de sua imaginação, ao se reforçarem tabus e expectativas morais ou doutrinárias (FOWLER, 1992). O principal fator que precipita a transição para o próximo estágio é o surgimento do pensamento operacional concreto. c) Estágio 2: Fé mítico-literalTem pensamento indutivo e dedutivo, é empirista e distingue o real do faz de conta. No lugar do egocentrismo aparece a capacidade de coordenar a própria perspectiva com a de outros e a experiência de um mundo mais previsível e padronizado. 22 Tem capacidade de narrar a própria experiência e consegue recontar histórias. Nesse estágio, a criança ainda tem a reciprocidade como princípio para construir seu ambiente último. O perigo desse estágio está em que o resultado dessa busca de reciprocidade pode resultar em um perfeccionismo controlador ou seu oposto, um humilhante senso de maldade, assumido por causa de maus-tratos ou negligência. d) Estágio 3: Fé sintético-convencional Fowler (1992, p. 146-147) reflete que nesse estágio a experiência de mundo do adolescente amplia-se além da família. Várias esferas exigem atenção: escola ou trabalho, companheiros, sociedade e mídia e, talvez, religião. A fé precisa proporcionar uma orientação coerente em meio a essa gama mais complexa e diversificada de envolvimentos. Por isso o estágio 3, tipicamente, adquire ascendência durante a adolescência, mas, para muitos adultos, torna-se um lugar permanente de equilíbrio. Ele estrutura o ambiente último em termos interpessoais. Suas imagens de valor e poder unificador derivam-se da extensão de qualidades experimentadas em relacionamentos pessoais. É um estágio agudamente sintonizado com as expectativas e julgamentos de outros significativos e ainda não possui uma percepção suficientemente segura de sua própria identidade e julgamento autônomo para construir e manter uma perspectiva independente. No estágio 3, a pessoa tem uma “ideologia”, um conjunto mais ou menos consistente de valores e crenças, mas não a objetivou para avaliação e, em certo sentido, não tem consciência de possuí-la. Diferenças de ponto de vista em relação a outras pessoas são experimentadas. A autoridade se localiza nos portadores de papéis tradicionais de autoridade (se percebidos como pessoalmente dignos) ou no consenso de um grupo pelo qual a pessoa preza. Forma-se o mito pessoal. Entretanto, as expectativas e avaliações dos outros podem ser tão coercitivamente internalizadas (e sacralizadas) que a autonomia posterior de julgamento e a ação podem ser prejudicadas. Ou, então, traições interpessoais 23 podem fazer surgir ou o desespero niilista acerca de um princípio pessoal do ser último, ou uma intimidade compensatória com Deus, não relacionada a relações mundanas. Os fatores que contribuem para o rompimento do estágio 3 e a prontidão para a transição podem incluir: graves conflitos ou contradições entre fontes de autoridades valorizadas pela pessoa; mudanças significativas, por parte de líderes oficialmente sancionados, de políticas e práticas anteriormente julgadas sagradas e inquebrantáveis; o encontro com experiências ou perspectivas que levem à reflexão crítica sobre como os valores e as crenças da pessoa se formaram e alteraram; e sobre quão “relativos” eles são em relação ao grupo ou background da pessoa. Frequentemente, a experiência de “sair de casa” precipita o tipo de avaliação do próprio eu, do background e dos valores orientadores da vida. e) Estágio 4: Fé individuativo-reflexiva Para Fowler (1992, p. 154-155), a transição do estágio 3 para o 4, na qual o adolescente ou o adulto deve começar a assumir seriamente o encargo da responsabilidade por seus próprios compromissos, estilo de vida, crenças e atitudes, é bastante crítica. Isto acontece porque a pessoa deve enfrentar certas tensões inevitáveis: individualidade versus grupo; subjetividade versus objetividade; relativo versus absoluto. Esse estágio se caracteriza por um duplo desenvolvimento: traduzir símbolos para significados conceituais. Ou seja, este é um estágio “desmitologizador”. Provavelmente dará pouca atenção aos fatores inconscientes que influenciam seus julgamentos e comportamentos. A força ascendente no estágio 4 tem a ver com a capacidade de refletir sobre a identidade e a perspectiva (ideologia). Seus perigos são: uma espécie de segundo narcisismo no qual o eu, agora claramente delimitado e reflexivo, assimila excessivamente a “realidade” e as perspectivas de outros em sua própria cosmovisão (FOWLER, 1992). Inquieta com as autoimagens e a perspectiva mantidas pelo estágio 4, a pessoa pronta para a transição se vê dando atenção ao que podem parecer vozes interiores anárquicas e perturbadoras, elementos de um passado infantil. No 24 entanto, a desilusão com os compromissos da pessoa e o reconhecimento de que a vida é mais complexa do que a lógica de distinções claras e conceitos abstratos do estágio 4 é capaz de entender, a impelem na direção de uma abordagem mais dialética e diversificada da verdade da vida. f) Estágio 5: Fé conjuntiva É tempo de retomada e reconsideração do passado da pessoa. Deve haver uma abertura às vozes do “eu mais profundo”. Incomum antes da meia-idade, o estágio 5 reconhece derrotas, realidades e comprometimentos. O seu perigo consiste na possibilidade de uma passividade ou inatividade paralisante, ocasionando complacência ou afastamento cínico, devido à sua compreensão paradoxal da verdade. Pode apreciar símbolos, mitos e rituais. Também vê claramente as divisões da família humana porque foi apreendido pela possibilidade de uma comunidade inclusiva do ser (FOWLER, 1992). g) Estágio 6: Fé universalizante As pessoas desse estágio demonstram percepção da realidade moral e religiosa Transcendente. Com sua devoção e compaixão universalizante, elas podem ofender nossas percepções provincianas de justiça. Por superarem a obsessão pela sobrevivência, segurança e relevância, elas ameaçam nossos comedidos padrões de justiça, bondade e prudência. Têm visões ampliadas de comunidade universal, iniciativa de liderança envolvendo estratégias de sofrimento não violento e respeito incondicional pelo ser. Tornam-se realizadoras do espírito de uma comunidade humana inclusiva e realizada. Segundo Fowler (1992, p. 169), elas criam zonas de libertação de grilhões sociais, políticos, econômicos e ideológicos. Os universalizantes são vistos como subversivos das estruturas, inclusive religiosas. Eles são mais honrados após a 25 morte. Têm uma graça especial que os faz parecerem mais simples que o resto de nós. Sua comunidade possui extensão universal. Para elas, a vida é amor e desapego. São pessoas preparadas para terem comunhão com quaisquer outras tradições de fé. Martin Luther King e Madre Teresa de Calcutá são exemplos de fé universalizante (FOWLER, 1992). Fonte:medium.com 6.2 A Fé Antropológica A fé é uma dimensão antropológica, inerente a todo o ser humano, seja cristão, budista, ateu marxista, ateu secularizado, etc., porque a fé é uma estrutura de valores significativos para a existência humana. Apostar nessa forma de se perseguir os processos e fluxos implicados nos agenciamentos religiosos do cuidado nos possibilita transitar por um mundo muito mais heterogêneo do que apenas os campos de possibilidades dos sujeitos em seus itinerários ou experiências. É estar atento às mediações mais “longínquas” e que costumamos classificar como “globais”, sugerindo se tratar um tipo ou espécie diferente das “locais”, com outras causas e efeitos. É também considerar que conhecimentos e “regimes de enunciação” (LATOUR, 2004b). 26 Essa fé antropológica tem a função de dar uma estrutura significativa à existência humana, hierarquizar os valores e até alcançar um valor absoluto sob o qual se subordinam todos os demais. Ela mostra a cada um o que deve fazer e como deve estruturar a sua vida, além de ser um princípio cognoscitivo que permite distinguir o que é importante para cada um. Os termos "confiança" e "fé", por mais próximos que se encontrem na terminologia usual, não possuemfundamentalmente o mesmo significado, porque “[...] o primeiro conota mais um tom vital do indivíduo e o segundo uma determinada relação entre pessoas” (SEGUNDO, 1985, p. 68). As tentativas de discutir a fé na dimensão antropológica são o reflexo do quanto se torna difícil conceituar o que é inato, essencial e indispensável ao ser humano, a se observar que o conceito que está sendo discutido aqui não consegue atingir uma definição tão clara quanto a expressiva necessidade da fé na vida do ser humano. Antes de uma fé religiosa, existe uma fé antropológica inerente a todo ser humano, essa fé universal dá sentido à vida das pessoas e estrutura valores significativos que orientam e dão consistência à existência humana. Tanto religiosos quanto ateus possuem fé antropológica. A diferença é que a fé religiosa é o resultado de dados transcendentes fundamentados em tradições, enquanto a fé antropológica se limita a testemunhas referenciais históricas. Assim, a fé antropológica estrutura os centros de valor e poder que sustentam a nossa vida. A fé, na sua dimensão antropológica, pode ser explicada de muitas maneiras, como tentaram alguns teólogos, filósofos, psicólogos e sociólogos. Mesmo utilizando palavras diferentes, cuidam do termo fé com a mesma prudência, percebendo o cuidado com que se deve tratar um termo que teve sua conotação, tão específica ligada à religião por tanto tempo (FOWLER, 1992). Logo, independentemente de ser religioso ou não, o ser humano está entrelaçado a questões de fé. Sempre há no ser humano uma busca para tornar a vida digna, uma preocupação que perpassa a necessidade íntima de amar, valorizar e respeitar. Isso não depende do senso religioso. 27 Fromm também discute a fé antropológica como atitude básica diante da vida, uma atitude interior, mas acrescenta que esta fé elimina as ilusões, devido à segurança que ela proporciona. Contudo, ao homem, sempre surgem incertezas, fraquezas e subjeções no decorrer da vida; então, a fé poderia ser associada a uma firmeza, conforme diz o autor, o que garantiria uma expressiva estabilidade diante das tristes influências das experiências vividas: A fé como a atitude básica de uma pessoa, o traço de caráter que impregna todas as suas experiências, que capacita o homem a enfrentar a realidade sem ilusões, e, no entanto, a viver por sua fé. É difícil pensar-se em fé sem ser primordialmente como fé em algo, e sim como uma atitude interior cujo objeto específico é de importância secundária. Pode ser útil recordar que o termo ¨fé¨ como é empregado no Antigo Testamento – ¨Emunah¨ – quer dizer ¨firmeza¨ e, portanto, significa certa qualidade da experiência humana, um traço de caráter, e não o conteúdo de uma crença em algo (FROMM, 1974, p. 171). Tillich (1970) estabelece uma relação entre fé antropológica e sentido último, quando a retrata como uma preocupação última ou fundamental. Falando de algo que ofereça sentido, uma finalidade para a vida que justifique e centralize as atitudes ou reações para alcançar este objetivo, essa preocupação última, assim como caminho ou posição básica, é o que direciona as atitudes do ser humano. 7 CONCEITO DA ANTROPOLOGIA A antropologia, como ciência da modernidade, coloca seu aparato teórico construído no passado, com possibilidade de, no presente, explicar e compreender os intensos movimentos provocados pela globalização: de um lado, os processos homogeneizantes da ordem social mundial e, de outro, contrariando tal tendência, a reivindicação das singularidades, apontando para a constituição da humanidade como una e diversa. Contudo, essa tradição é hoje alvo de controvérsias, na medida em que os fatos decorrentes da intensa transformação da realidade parecem não estar contidos em seus princípios explicativos. Nesse campo de tensão, defende-se que ora a trajetória da antropologia tem sido a de avaliar as diferenças sociais, étnicas 28 e outras com a finalidade de proporcionar alternativas de intervenção sobre a realidade social de modo a não negar as diferenças, ora não seria a tradição antropológica suficiente para dar conta do contexto político das diferenças e, como tal, estaria superada em seus propósitos. Decorrentes do questionamento que afeta as ciências humanas de modo geral ainda na segunda metade do século XX, e em particular a antropologia, emergem outras perspectivas teóricas, dentre as quais se destacam os chamados estudos culturais, cuja definição se dá no interior das correntes ditas pós-modernas. Fonte: mariadario.blog A análise das relações existentes entre antropologia, estudos culturais e educação apresenta-se como desafio teórico da modernidade e como uma necessidade diante dos princípios e das práticas presentes na articulação entre o campo científico e o processo educativo na sociedade moderna. Segundo Paula Montero (2003), uma longa história está na base de construção da antropologia como campo científico, e essa história envolve duas categorias fundamentais: a idéia de Homem e a idéia de Cultura. Para a autora, hoje 29 se faz necessário retomar tais conceitos, resgatando seus pressupostos e, a partir do diálogo com alguns autores, situar a contribuição da abordagem antropológica. O fazer antropológico, nessa medida, era o de submeter e colocar em submissão o outro e seu mundo, tendo por meta a civilização e a humanidade. A antropologia como ciência pregava, então, a preservação, a proteção, a transformação e a repressão como objeto de políticas dirigidas ao mundo do outro. Nesse sentido, a participação dos antropólogos e a ciência que praticam acontecem na elaboração e na implementação dessas políticas, o que, mais tarde, já no início do século XX, será conhecido como uma ciência da prática ou uma ciência de serviço. O campo da antropologia da educação foi bastante ativo entre os anos de 1920 e 1930 e assim persistiu durante todo o século XX, mudando sua roupagem (e muito pouco seu conteúdo) de acordo com as conjunturas sociais e políticas de cada momento. Significativa nessa antropologia foi a tentativa de “normalizar” os sistemas educativos, em busca de uma “funcionalidade” entre a escola e a sociedade, segundo um modelo “desejável” de escola. Tal perspectiva admitia, porém, a educação além da escola, pois dizia respeito à formação da personalidade e à socialização dos indivíduos, necessárias à integração e à acomodação à sociedade e a seus valores. Voltar-se para a subjetividade pode encerrar o homem no individualismo e assim reduzir o religioso à experiência subjetiva de um sagrado impessoal. Mas, àquele que escuta a mensagem religiosa, a atenção à subjetividade pode igualmente fazer descobrir que, na profundeza íntima do eu, ele se reúne ao Deus Outro que vem até ele; o Deus mais íntimo nele que sua própria intimidade e superior ao que pela razão e pela afetividade ele atinge de mais alto (Santo Agostinho, ?). As relações entre a educação e a antropologia, em particular aquela que emergiu ao final dos anos de 1980/1990, marcada pela institucionalização e pela generalização de um novo campo disciplinar: os estudos culturais. No interior desse novo campo, surgiu como fundamental o rechaçar da antropologia, vista apenas na sua dimensão clássica, sem considerar sua dinamicidade e a própria revisão de muitos limites que por mais de um século atuou de modo a modernizar seu campo 30 teórico e sua prática como ciência, ainda no interior do século XX e, portanto, da modernidade. 7.1 Cultura e Antropologia A individualidade dupla do homem quando objeto da Antropologia, permite um estudo pautado no espaço físico e cultural do homem sem prejuízo de seus valores, tradições, costumes, crenças e hábitos que formam uma comunidade social específica. O ser humano é parte de uma diversidade cultural que abarca uma série de atos que o distingue e individualiza.Os hábitos culturais diferenciam os povos e imprimem costumes a tais civilizações costumes que não devem ser observados como diferenças de comportamento entre os homens. Fonte:stoodi.com.br Não há o que se falar em capacidade específica de cada raça, os povos não possuem habilidades e inteligência pauta em suas raízes por serem naturalizados ou nativos de um país. Hoebel e Frost (1981:77) afirmam que “para compreender a cultura humana devem-se conhecer as fases pelas quais a humanidade se transformou, do 31 antropoide dominado pelo instinto ao ser humano adaptável culturalmente. Desde o tempo das origens primitivas da cultura, todo desenvolvimento humano foi biológico e cultural. Nenhuma tentativa de estudar a humanidade pode ignorar este fato. ” É certo dizer que uma criança do sexo masculino se difere de uma criança do sexo feminino não por seus hormônios, e sim em decorrência da educação que recebe. Por tudo isso os antropólogos reconhecem que há limitação na influência geográfica sobre os fatores culturais já que a diversidade comportamental não sofre alterações de acordo com o ambiente físico. O homem se torna, então, um ser cultural, capaz de produzir, ou seja, capaz de criar e acumular experiências e principalmente de transmiti-las socialmente. 8 AS CULTURAS QUE FORMAM O POVO BRASILEIRO O processo político, as mudanças na administração estatal e as individualidades regionais, são garantias da representação cultural e da padronização da expressão cultural do Brasil. A identidade brasileira foi decorrente de um processo de construção histórica, como em diversos outros países. Apesar de ter se iniciado após a Independência, em 1822, o processo de constituição da identidade nacional ganhou um impulso maior após a década de 1930, quando Getúlio Vargas chegou ao poder. A partir disso, pôde-se perceber que a construção da identidade, para além de um processo cultural, era também um processo político (PINTO, 2014). A chamada brasilidade ou identidade brasileira tem conexão com a formação administrativa e trata também da coesão social. Tales dos Santos Pinto (2014) fala da construção desta identidade na ordem latifundiária e na representação militar. Em meio a concepção de identidade e as possibilidades de maturidade de uma nação organizada que se dá nas fronteiras da história e da construção social e cultural tem como diferenciação a língua. 32 Fonte:significados.com Esse processo de construção da identidade nacional, conta e apoia-se nas novas diretrizes e conteúdo da evolução cultural e educacional do país. O estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena estimula o crescimento da cidadania e reafirma a preservação e resgate dos trabalhos arqueológicos em busca da presença destes povos em nossa cultura. Rocha-Trindade (1995), ao olhar o mundo europeu de hoje, afirma que o multiculturalismo se expressa em pelo menos duas acepções: como fenômeno observável na maioria das sociedades, a que corresponde um evidente pluralismo cultural resultante da intensificação e da posterior radicação de correntes migratórias de diferentes origens geográficas. A multiculturalidade fato constatável da realidade social que afeta as sociedades modernas, desde sempre presente para a ciência antropológica e para seus adeptos, os antropólogos, passou a integrar um debate que se definiu a partir do chamado multiculturalismo, ou seja, de um campo que pretende explicar a diversidade social, em termos de teoria e prática. A diversidade social, objeto basilar da ciência antropológica, passou, sob a égide do multiculturalismo, a ser considerada a partir de outros parâmetros e postulou como necessária a revisão do conceito de cultura, que deve ser, agora, 33 inserido numa dimensão política que, teoricamente, foi originalmente negada pela antropologia. Vale, portanto, resgatar a citação de L’Estoile, Neiburg e Sygaud, quando dizem que desde sempre os grupos objeto do olhar do antropólogo “já se encontravam submetidos ou em submissão aos estados nacionais ou imperiais modernos” (2002, p. 9). Desvendar esse processo pode contribuir para superar os vazios que permanecem no campo dos estudos culturais e que, muitas vezes, reeditam falhas já superadas do passado da antropologia. Nesse sentido, alguns dos princípios que os estudos culturais (americanos) postulam como necessários à compreensão e à defesa de diferentes grupos portadores de especificidades, ou a suas causas, resultam num perigo interpretativo de sérias conseqüências tanto para a ciência que se produz como para as formas de intervenção que são propostas sobre a realidade. Trata-se da indefinição da noção de cultura, principalmente quando essa noção se aproxima demasiadamente da concepção de ideologia. O perigo coloca- se com mais evidência quando ocorre uma dada premência em buscar “soluções”, tomando por meta certo ativismo, quando este deveria servir de combustível da reflexão teórica e, assim, propiciar o desvendamento das grandes questões para agir de modo mais eficaz na realidade dos grupos que se quer defender. Deve-se ressalvar, porém, o valor e a importância das perguntas que os estudos culturais e os estudos pós-modernos colocam, mas sem negar à antropologia seus créditos. É preciso olhar para essa ciência e compreender, com ela e a partir dela, os erros e os acertos do passado e, assim, não reproduzir, hoje, muitas das falhas daquele momento na compreensão da diversidade social humana. 8.1 Fundamentos De Antropologia Religiosa O sagrado só pode ser captado na própria existência do homem que o define e o limita. Daí a necessidade de uma compreensão do cerne dos fatos religiosos. Para explicar não apenas o como, mas também o porquê da experiência humana 34 do divino, esse livro parte das noções mais gerais e exprime mediante exemplos precisos, a dimensão cultural do homem crente. Fonte:netmundi.org O autor faz em primeiro lugar reflexão necessária e crítica de noções fundamentais como religião, sagrado, puro e impuro, e experiência religiosa. Em seguida procura mostra os quadros culturais de uma tal experiência, estudando o significado das ações rituais, o fundamento de alguns grandes símbolos religiosos estreitamente ligados ao ser humano, e os problemas relativos à aculturação religiosa. Na última parte, precisa as relações entre o indivíduo e a divindade, analisando a dimensão psicológica, as experiências do divino: o desejo do pai e a paternidade divina, e a memória como lembrança de Deus. Todos os sistemas, seja culturais, científicos, políticos, econômicos e até artísticos, que se apresentam como portadores exclusivos da verdade e de solução única para os problemas devem ser considerados fundamentalistas. Vivemos atualmente sob o império feroz de vários fundamentalismos. 35 Visando atender a comunidade e demais entidades religiosas, sobretudo proporcionando um acesso democrático da mesma; não só das religiões de matriz africana, mas à toda a comunidade de Guaíba foi solicitada e notificada a Assobecaty que procedesse na devolução da mesma [imagem de Oxum]. [...] salientamos que o Museu é local público, central, com horário flexível, de acesso democrático, funcionando inclusive nos finais de semana para visitações. Não se trata de ‘cerceamento da liberdade de culto da religião afro-brasileira’, mas sim de facilitação do acesso a imagem da Mãe Oxum e principalmente de zelo pelo patrimônio que é público, carregado também de um valor histórico-cultural (GUAÍBA, 2012a, f. 122). Assim, como podemos perceber, dentro do museu, a imagem era construída, sobretudo, como objeto representativo do “imaginário” religioso da cidade. Ao museu, nesse sentido, descrito como um “espaço público e de acesso universal”, era atribuída a capacidade de restituir, portanto, não só a condição de bem públicodo objeto, mas de fazer jus à pluralidade religiosa que a imagem congregava. O interesse pelos mitos, ritos de iniciação, pela religião e pela magia foi uma constante na antropologia francesa do século XX, e se mantém consideravelmente estável até hoje. Uma antropologia da religião, partindo de uma reflexão sobre a humanidade e sobre a cultura como realidades complexas, busca compreender como o ser humano foi e continua sendo visto, por ele próprio, através de uma das suas mais significativas manifestações, a religião. Fonte:netmundi.org 36 Não se trata de fazer uma análise de cada uma das religiões, mesmo aquelas mais conhecidas: a Antropologia da Religião desenvolve análises científicas do fenômeno religioso, enquanto experiência antropológica, essencialmente humana. Para a antropologia, a religião não é um modo arcaico do pensamento científico; é, ao contrário, um espaço distintivo da prática e da crença humana que não pode ser reduzido a nenhum outro. 8.2 Relações Étnico-raciais História e Cultura Afro-brasileira Os templos afro-religiosos constituíram-se espaços de inclusão para os grupos historicamente excluídos, de acolhimento e de aconselhamento. O estudo da religiosidade das classes populares urbanas tem apontado para o papel central dos cultos religiosos enquanto agências terapêuticas, levantando a questão de se compreender como os indivíduos se utilizam de tais serviços para lidar com a experiência da aflição (SILVA, 2007). Neste sentido, o candomblé pode ser compreendido como uma arena de cuidados, na qual crenças e práticas relacionadas ao processo saúde e doença são compartilhadas. A possibilidade de desenvolvimento sistemático de uma ação efetiva das instituições oficiais nos terreiros e com os terreiros abriu-se na primeira década do século XXI, em um processo protagonizado pelo movimento negro que possibilitou o reconhecimento destes centros de culto das religiões de matriz africana como agências de saúde. (SERRA; PECHINE, 2010). Os negros chegaram ao Brasil e com eles uma estrutura linguística e cultural que evidencia a variedade cultural deste povo. A aculturação marcou a expansão da língua geral e influenciou na troca e adoção dos padrões culturais e linguísticos entre o branco, negros e índios. Essa aproximação cultural entre os povos facilitou o contato e o entendimento entre eles. 37 As relações entre afro-brasileiro, africanos e indígenas no Brasil caracteriza- se pela linguagem difundida no momento em que o encontro desses povos mescla a língua e intensifica a riqueza de cultura existente no país. O Brasil hoje possui cerca de 170 línguas indígenas. Algumas das línguas registradas à época do descobrimento desapareceram outras se tornaram extintas e irregulares o seu uso. As áreas de efetiva colonização brasileira ainda hoje possuem o domínio da língua indígena e influenciam o cotidiano. Sabe-se que a influência cultural, no âmbito da ciência antropológica é de grande relevância e acentua o processo civilizatório. A característica primordial dos povos indígenas é a multiplicidade de povos e a diferença acentuada entre eles. A aquisição da linguagem marcou a revolução histórica da humanidade, tal fenômeno nasceu dos agrupamentos familiares que a partir dos rudimentos da fala formulou um vocabulário comum que originou em uma língua básica compreendida pelos integrantes de cada grupo familiar. Essa mistura de línguas originou um dialeto assimilado e adotado por africanos e afro-brasileiros. Quanto aos hábitos e costumes desses povos foram alterados e mesclados durante o processo evolutivo e contribuíram para conversão dos negros à religião católica a partir do sincretismo de crenças e cultos. A religião africana mesclou com elementos religiosos indígenas, católicos e espíritas. A implementação do Sistema Único de Saúde (SUS), na década de 1990 do século passado, e mais intensamente na contemporaneidade, possibilitou a necessidade de se reconhecer a coexistência de redes de cuidado à saúde que se sobrepõem, conformando redes mais amplas que a comunitária e de relações familiares, compondo redes capilarizadas de cuidado com inúmeros mediadores, que mais se aproximam da imagem deleuziana do rizoma. (BONET; TAVARES, 2007). A Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Direitos dos Povos, aprovada em 1981, trouxe uma grande novidade ao afirmar que: “A miscigenação e transculturação devem ser estudadas e vista em um único processo, sem dissociação. Os dois processos receberam e ofereceram elementos culturais e históricos que assimilaram e diluíram no entendimento religioso e linguístico”. A miscigenação foi intensa e prolongada e nas mesmas proporções, o processo de transculturação. Os portugueses trouxeram consigo sua sociedade e 38 sua civilização. Em um esforço de adaptação ecológica. A língua portuguesa aos poucos foi se impondo, mesclada de vocábulos indígenas e africanos. A religião e diferenças culturais também sofreram influências, a religião negra impregnou-se de elementos do catolicismo e, em menor proporção, a dos indígenas, num sincretismo que foi e é muito expressivo nessas duas esferas da cultura: religiosa e linguística. Assim o processo cultural no Brasil deu-se a partir da fusão dos grupos étnico-raciais. Assim o povo brasileiro é mestiço e encontra-se ainda em processo de miscigenação e aculturação. A ampliação de cobertura e de tecnologias biomédicas no SUS, apesar de avanços consideráveis, entretanto, não se traduzem efetivamente em soluções eficazes para os mais variados problemas. Assim, terapêuticas não médicas operam em interface com o sistema oficial. Neste ínterim, a religião tem sido reconhecida como domínio legítimo no que se refere à promoção da qualidade de vida, com ênfase no permeio de ideologias não médicas e revalorização de outras experiências em meio aos processos sociais. Fonte:netmundi.org Os indígenas não só emprestaram seus elementos culturais, mas também assimilaram muito através dos vários contatos. A fusão dos vários grupos heterogêneos culminou no processo aculturativo do Brasil e contribuiu para a miscigenação das raças. 39 Os grupos que integram o Brasil indígena contemporâneo são os que restaram do longo processo a que foi submetida a população ameríndia ou pré- cabraliana, a partir do Descobrimento do Brasil, no século XVI. Fonte:wallpaperaccess.com Com relação ao Brasil, as pesquisas arqueológicas e paleontológicas vêm demonstrando que as datas mais antigas da presença do homem situam-se em torno do ano 8.000 a. C., constatadas pelos testemunhos fósseis do Homem da Lagoa Santa, em Minas Gerais. 40 Para Darcy Ribeiro (1977:254): O indígena é, no Brasil de hoje, essencialmente, aquela parcela da população que apresenta problemas inadaptação à sociedade brasileira, em suas diversas variantes, motivados pela conservação de costumes, hábitos ou meras lealdades que a vinculam a uma tradição pré- colombiana. Fonte:papodehomem.com.br São inúmeras as culturas e as línguas tribais que compõem essa parcela da população brasileira, num verdadeiro mosaico de grupos indígenas diversificados e diferenciados. 41 9 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ALMEIDA, R. Pluralismo religioso e espaço metropolitano. In: ALMEIDA, R.; MAFRA, C. (Org.). Religiões e cidades: Rio de Janeiro e São Paulo. São Paulo: Terceiro Nome, 2009. p. 29-50. 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