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MÓDULO TEMÁTICO SAÚDE DA MULHER LPI 2021.2 Prof.ª Msc. Camila Amato Montalbano Prof.ª Dr.ª Eunice Estella Cury Jardim Microbiota vaginal Ecossistema vaginal é mutável temporalmente ao longo da vida da mulher As espécies que o coabitam parecem depender dos níveis hormonais circulantes 2 RECÉM-NASCIDA ♀ Sob efeito dos estrogênios maternos, o ecossistema vaginal é constituído essencialmente por Lactobacillus (produção de ácido acético e ácido lactico) pH vaginal ácido: 5 a 5,7 atingindo 4,8 no quarto dia Leucorréia fisiológica neonatal: secreção mucoide branca com pouco ou nenhum leucócito, produto da descamação de células superficiais e muco cervical 3 RECÉM-NASCIDA Secreção desaparece entre 10 e 30 dias, devido ao desaparecimento do efeito hormonal, com aumento gradual do pH vaginal, que torna-se alcalino, estabilizando em 2 a 6 semanas Os Lactobacillus são substituídos por uma microbiota extremamente diversa, que perdura até à puberdade Primeiro mês de vida e infância: pH aumenta para 6,5-7,5 (neutro a alcalino), e constitui um ambiente ideal para infecções 4 MICROBIOTA VAGINAL- FASES DE VIDA Menarca: há produção de estrogênios, e novamente os Lactobacillus tornam-se os microrganismos dominantes. Gravidez: elevados níveis de estriol e estradiol em circulação, sendo este um período de relativa estabilidade microbiana, com predomínio de Lactobacillus; Puerpério: associado a maior diversidade microbiana, a medida que os níveis hormonais diminuem de forma abrupta. 5 MICROBIOTA VAGINAL- FASES DE VIDA Após a menopausa: a microbiota contém características muito semelhantes aos da infância adquirindo novamente um pH quase neutro, cerca de 6,5 a 7. Multiplicidade bacteriana, e colonização vaginal por parte de microrganismos oriundos da microbiota intestinal 6 Menopausa: pH neutro S. epidemidis; Streptococcus; Enterococcus; enterobactérias Outros: Gardnerella, Mycoplasma, Ureaplasma, Mobiluncus, Candida sp, Recém-nascida até 6 semanas: pH ácido Outros; S. epidemidis; Streptococcus; Enterococcus; enterobactérias Pré púbere: pH neutro Staphylococcus epidemidis; Streptococcus; Enterococcus; enterobactérias Puberdade e mulheres em idade fértil: pH ácido Predomínio de lactobacilos Ainda: S. epidemidis; Streptococcus; Enterococcus; enterobactérias Outros: Gardnerella, Mycoplasma, ureaplasma Predomínio de lactobacilos Outros: Gardnerella, Mycoplasma, Ureaplasma Muco cervical Produzido localmente pelas células glandulares do canal endocervical (contituido por polímeros, glicideos e glicoproteínas poliméricas) Trama de filamentos que dificultam a migração de microrganismos, através do colo uterino para as vias genitais mais altas (assépticas) Presença de substâncias antimicrobianas bactericidas e viricidas (mucinas, lactoferrinas, lisozima e defensinas). 8 Estudo do fluxo vaginal 9 Anamnese Exame físico Medida do pH Teste das aminas (Whiff test-teste das aminas ou do “cheiro” – em uma lâmina ou chumaço de gaze, acrescentar uma gota de KOH 10% sobre o conteúdo vaginal coletado, sendo positivo se apresentar cheiro de peixe podre) Bacterioscopia a fresco (microscópio) Bacterisocopia corada pelo Gram (microscópio) Culturas específicas (quando não se apresentam positivas as bacterioscopias) MUCO CERVICAL Eliminação de restos celulares e microrganismos Período ovulatório: mais frouxo: ascenção dos espermatozóides 10 pH Vaginal Modificações do epitélio vaginal durante as diferentes fases de vida da mulher Alterações favorecem proliferação de microrganismos oportunistas e patógenos. 11 Como o fluxo vaginal se modifica? Aspecto: Incolor; Odor: Inodoro; pH: 3,8 a 4,5 (idade produtiva); Bactérias: 105 a 106 /mL Variações fisiológicas: idade, fases do ciclo menstrual, gestação, vida sexual, menopausa, diabetes Variações do ecossistema: antibióticos, ou corticoides, duchas vaginais, relações sexuais frequentes, vestuário, infecções, uso de anticoncepcional hormonal; processos alérgicos. 12 13 Endometrites, salpingites Trato genital inferior: vaginites, vaginoses e cervicites 14 15 PRINCIPAIS AGENTES ETIOLÓGICOS DE INFECÇÕES DO TRATO GENITAL FEMININO Infecções que causam corrimento vaginal e cervicite As infecções do trato reprodutivo (ITR) são divididas em: Infecções endógenas (candidíase vulvovaginal e vaginose bacteriana); Infecções iatrogênicas (infecções pós-aborto, pós-parto); IST (tricomoníase, infecção por Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae). 16 17 *Infecções vaginais 18 Vaginite: resposta inflamatória com presença de polimorfonucleares, vistos à microscopia óptica. Vaginose: caracterizada pela ausência de polimorfonucleares. Correspondem a 40 -50% das infecções vaginais. * Elevam risco de aquisição IST: HIV, Chlamydia trachomatis, Neisseria gonorrhoeae e T. vaginalis Reação inflamatória-Citocinas Migração de polimorfonucleares para a mucosa vaginal, ativada por citocinas, produzidas pelas células epiteliais A inflamação ativa as células fagocitárias no local de agressão, para eliminar os microrganismos (MO) Alguns MO e o processo inflamatório acentuado pode provocar micro ulcerações, que facilitam a ascensão e infecção por outros MO. 19 1- VAGINOSE BACTERIANA 20 Ausência de lactobacilos, aumento do pH, produção de aminoácidos pela Gardnerella vaginalis. Aa: quebrados pelas bactérias anaeróbicas da vaginose bacteriana em aminas voláteis (putrescina e cadaverina), com produção de odor desagradável, particularmente após o coito e a menstruação (que alcalinizam o conteúdo vaginal), o que constitui a queixa principal da paciente. Ao exame especular: paredes vaginais em sua maioria íntegras, marrons homogêneas ao teste de Schiller, banhadas por corrimento perolado bolhoso em decorrência das aminas voláteis. 1- VAGINOSE BACTERIANA Diagnóstico clínico/laboratorial de Amsel: 21 Fluxo vaginal branco-acinzentado, aderente pH maior que 4,5 Teste das aminas (Whiff test)- positivo (odor de peixe em presença de KOH 10%) Presença de Clue cells ou "células-chave“, que são células epiteliais recobertas por bactérias aderidas à sua superfície, associada à ausência de lactobacilos 1-Diagnóstico laboratorial Vaginose Bacteriana Critérios de Nugent: Esfregaço vaginal corado por Gram, com quantificação em cruzes das bactérias e de lactobacilos Redução ou ausência dos lactobacilos Aumento de microrganismos anaeróbicos: Gardenerella vaginalis e Mobilluncus sp, Prevotella sp e Peptostreptococcus sp. 22 23 7 ou mais = vaginose bacteriana Gardnerella vaginalis: cocobacilos Gram variáveis Diagnóstico da Vaginose bacteriana por Gardnerella vaginalis 24 Normal Diagnóstico da Vaginose bacteriana Mobilluncus sp 25 Mobilluncus sp: bastonetes curvos Gram negativos 2- VAGINOSE CITOLÍTICA Critérios diagnósticos da vaginose citolítica: Presença exacerbada de Lactobacilus Fluxo vaginal branco leitoso pH 3,5 a 4,5 Células- escamosas, citólise, núcleos livres, poucos polimorfonucleares; Sintomatologia semelhante à candidíase. 26 27 VAGINITES Tricomoníase Vulvovaginite causada por um protozoário flagelado unicelular- Trichomonas vaginalis. Sinais e sintomas: Corrimento vaginal intenso, amarelo-esverdeado, por vezes acinzentado, bolhoso e espumoso, acompanhado de odor fétido e prurido eventual (reação alérgica). Em caso de inflamação intensa, o corrimentoaumenta e pode haver sinusiorragia (sangramento vaginal que ocorre após a atividade sexual) e dispareunia (dor genital associada à relação sexual). Também podem ocorrer edema vulvar e sintomas urinários, como disúria. Cerca de 30% dos casos são assintomáticos 28 Tricomoníase No exame especular: Microulcerações no colo uterino: aspecto de morango ou framboesa (teste de Schiller “onçoide” ou “tigroide”). Transudação inflamatória: eleva o pH para 6,7 a 7,5, favorecendo microbiota patogênica, inclusive anaeróbica Vaginose bacteriana associada, que libera as aminas com odor fétido, além de provocar bolhas no corrimento vaginal purulento). 29 30 31 Diagnóstico laboratorial de tricomoníase Exame a fresco: gota do conteúdo vaginal e soro fisiológico, com observação do parasita ao microscópio: Visualização do movimento do protozoário, que é flagelado, e um grande número de leucócitos. pH quase sempre é maior que 5,0 e na maioria dos casos, o teste das aminas é positivo. Bacterioscopia pelo método de Gram: observa-se o parasita Gram-negativo, de morfologia característica. Cultura: não é realizada rotineiramente 32 Infecções Bacterianas do Trato Genital Feminino CANDIDÍASE VULVOVAGINAL Infecção da vulva e vagina por um fungo comensal da mucosa vaginal, proliferando quando o meio torna-se favorável para o seu desenvolvimento 80 a 90% dos casos são devidos à Candida albicans 10 a 20% a outras espécies chamadas não-albicans (C. tropicalis, C. glabrata, C. krusei, C. parapsilosis). 33 CANDIDÍASE VULVOVAGINAL Sinais e Sintomas: • Prurido vulvovaginal (principal sintoma) • Ardor ou dor à micção • Corrimento branco, grumoso, inodoro e com aspecto caseoso (“leite coalhado”) • Hiperemia, edema vulvar, fissuras e maceração da mucosa 34 CANDIDÍASE VULVOVAGINAL Fatores predisponentes: • gravidez, diabetes mellitus, obesidade • uso de contraceptivos orais de altas dosagens • uso de antibióticos, corticóides ou imunossupressores • hábitos de higiene e vestuário inadequados • contato com substâncias alérgenas e/ou irritantes (ex: talco, perfume, desodorantes) • alterações na resposta imunológica (imunodeficiência), inclusive a infecção pelo HIV 35 36 Não identifica vaginites e vaginoses, apenas anormalidades na reprodução celular CANDIDÍASE VULVOVAGINAL – Diagnóstico laboratorial: • Exame direto (a fresco) do conteúdo vaginal: micélios refringentes e/ou de leveduras, pequenas formações arredondadas birrefringentes( visualização facilitada uso KOH a 10%) 37 CANDIDÍASE VULVOVAGINAL - Diagnóstico laboratorial Esfregaço corado do conteúdo vaginal: Gram, Giemsa ou Azul de Cresil ou na CO -Papanicolaou 38 CASO 1 M.A., 23 anos, recém-casada, procura seu médico para uma consulta, pois apresenta secreção vaginal esbranquiçada, abundante, grumosa e em placas, com prurido vulvovaginal intenso. Ao exame clínico apresenta hiperemia de colo e vagina, edema de pequenos lábios, presença de microfissuras em região perineal e fúrcula vaginal. Ao teste de Schiller foi observado colo epitelizado, iodo positivo. M.A lembrou-se que na semana anterior acompanhou sua irmã C.S.S., 16 anos, nuligesta, em atendimento médico, pois há 4 dias apresentava dor em baixo ventre, de intensidade leve, sem irradiação, dispareunia profunda, sem sinusorragia, corrimento amarelado sem prurido e disúria. M.A pensou, será que estou com o mesmo problema? É a mesma infecção? 39 40 Referencias: 1- Rotinas em Ginecologia- Fernando Freitas- Artmed 2- Ministério da Saúde. PCDT.Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), 2021