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Vulvovaginites REFERENCIA: MEDCurso Acadêmica: Juliana Rabelo da Silva Sousa Definição: são processos inflamatórios e\ou infecciosos com aumento de polimorfonucleares, que envolvem a vulva, paredes vaginais e epitélio escamoso estratificado do colo uterino (trato genital inferior). Diferenciando da colpite: Pode envolver a vulva. Vaginose – ausência de resposta inflamatória vaginal. Vulvodínea idiopática – afecção vulvar caracterizada por aumento da sensibilidade vestibular, com prurido e queimação intensos, ocasionando dispaurenia intensa, de difícil controle. Ecossistema vaginal Consiste na inter-relação entre microflora endógena, produtos do seu metabolismo e do hospedeiro, estrogênio e PH. Esse ecossistema é constantemente desafiado por fatores endógenos e exógenos. Conteúdo vaginal fisiológico Resíduo vaginal: muco vaginal, células vaginais e cervicais esfoliadas, secreção das glândulas de Bartholin e Skene, transudato vaginal, proteínas, glicoproteínas, ácidos graxos orgânicos, carboidratos, pequena quantidade de leucócitos, e micoorganismos da flora vaginal. Características: Cor branca ou transparente, PH em torno de 3,8 – 4,2, volume variável, consistência flocular, localizado no fundo da vagina (fórnice posterior), produzido na quantidade de 1-3 g por dia. Bactérias dominantes: Lactobacillus acidophilus (Bacilos de Doderlein) responsáveis pela manutenção do PH ácido, por produzirem ácido lático. O volume varia de acordo com a fase do ciclo menstrual (período periovulatório), com ou sem o emprego de hormônios, com a gravidez, com condições orgânicas (excitação sexual) e psíquicas. Flora vaginal normal Composição e densidade populacional variam de individuo e de acordo com o ciclo. O fluido vaginal contem 105 a 107 microorganismos por ml. Além dos lactobacilos, são encontrados 5-15 tipos de bactérias. Aeróbios Gram-positivos Lactobacillus acidophilus Staphylococcus epidermidis Streptococcus Agalatiae Gram-negativos Escherichia coli Anaeróbios facultativos Gardnerella vaginalis Enterococcus Anaeróbios estritos ou obrigatórios Prevotella spp Bacteroides spp Peptostreptococcus spp Ureaplasma urealyticum Mycoplasma hominis Fungos Candida spp (gram positivo, dimorfo, saprófita do trato genital e TGI, que se multiplica por esporulação tornando-se patogênico) Mecanismo de defesa da região genital contra agentes externos Vulva Vagina Colo Tegumento Acidez 4 - 4,5 Muco endocervical Pelos abundantes Lactobacilos Ação bactericida Coaptação adequada dos pequenos lábios Integridade do assoalho pélvico Integridade anatômica Justaposição das paredes vaginais Espessura e pregueamento das paredes vaginais Alterações cíclicas A mucosa vaginal é a primeira barreira, a lâmina basal é rica em macrófagos,linfócitos, células de Langerhans (derivadas da medula, apresentadoras de antígenos a LTCD4), plasmócitos, eosinófilos e mastócitos. O muco cervical forma uma trama que impede a passagem de microorganismos para o trato genital superior, além de possuir substâncias bactericidas (lisosinas, lactoferrinas). Os lactobacilos produzem ácidos orgânicos, peróxido de hidrogênio, biossurfactantes e bacteriocinas além de competir com os patógenos e receptores e inibir seu crescimento e adesão. Em fase reprodutiva, o estrógeno promove a maturação e diferenciação do epitélio vaginal em células superficiais maduras ricas em glicogênio. Esse glicogênio é metabolizado em ácido lático. O PH acido e peróxido de hidrogênio produzido pelos lactobacilos conferem a proteção natural da vagina, inibindo o crescimento de outros microorganismos. Há também a participação de LTCD4, LTCD8 e imunoglobulinas IGA, IGM e IGG. Meninas pré-púberes e mulheres pós-menopausa com hipoestrogenismo apresentam PH em torno de 5-7. Na gravidez os altos níveis de estrogênio placentário propiciam o aumento de lactobacilos e resíduo vaginal. Diversos fatores podem romper os mecanismos de proteção. Ressalta-se que modificações da flora após coito anal e sexo oral são provisórias e reversíveis, mas o uso de antibióticos, imunossupressores e períodos de hospitalização prolongada selecionam bactérias mais virulentas e resistentes da flora. Vulvovaginites e vaginose Conteúdo vaginal aumentado Prurido Irritação Associados a dor, ardência e desconforto. Mucorréia: secreção vaginal fisiológica aumentada – o exame especular estabelece seu diagnostico, mostrando ausência de inflamação, mucosa de coloração rosa-pálido e presença de muco claro e límpido. Basta esclarecer a pct que é normal. Avaliação diagnóstica Determinação do PH vaginal Fitas medidoras retirando amostra do terço médio para distal da parede lateral, com cuidado p não contaminar com o muco cervical. Microscopia direta Coloca conteúdo vaginal em uma lâmina e adiciona-se uma gota de solução salina Teste das Aminas (Whiff test) Conteudo vaginal + hidróxido de potássio a 10%, é + quando há odor de pescado Abordagem sindrômica Abordagem etiológica Vulvovaginites infecciosas Vaginose bacteriana Candidiase vulvovaginal Tricomoniase Vaginite descamativa Vulvovaginites não infecciosas Vaginose citolitica Vaginite atrópica Vulvovaginites inespecíficas Outras causas Traumas Lubrificantes Absorventes Hiper ou hipoestrogenismo imunodepressão Vaginose Bacteriana - VB Definição: conjunto de sinais e sintomas resultantes de um desequilíbrio da flora, que culmina com a diminuição de lactobacilos e crescente aumento polimicrobiano de bactérias anaeróbias estritas e de anaeróbias facultativas cujo fator desencadeante é desconhecido. Ocorre liberação de citocinas, prostaglandinas e enzimas líticas por esses patógenos. Há também pequena quantidade de leucócitos que evidencia a resposta inflamatória discreta. Obs: A Gardnerella vaginalis predomina Fatores predisponentes Não brancas Gravidez prévia Múltiplos e novos parceiros DIU Duchas vaginais Tabagismo Não utilização de códon Obs: Não é DST. Quadro clínico Odor de pescado que se agrava durante a menstruação e coito (PH se torna mais alcalino, vacilitando a volatização das aminas – cadaverina, putrecina e trimetilamina), corrimento fluido, homogêneo, branco acinzentado ou amarelado, em pequena quantidade, não aderente podendo formar microbolhas. Obs: Dispaurenia, irritação vulvar e disúria é exceção. A parede vaginal é de aparência normal e não eritematosa. Diagnóstico: 3-4 critérios de Amsel 1. Corrimento branco-acizentado homogênio, fino 2. PH maior que 4,5 3. Teste das Aminas positivos 4. Visualizalçao de Clue Cells na microscopia Tratamento: Todas as mulheres sintomáticas, inclusive gestantes. Além de gestantes assintomáticas de alto risco. 1. Metronidazol 400-500mg VO de 12\12h por 7 dias 2. Metronidazol 2g VO dose única 3. Metronidazol gel 0,75%, um aplicador cheio 5g, via vaginal por 5 dias 4. Clindamicina 300mg , VO, 12\12h por 7 dias 5. Creme de Clindamicina, 2%, um aplicador cheio 5g, à noite por 7 dias Tratamento dos parceiros – não influencia na recorrência Acompanhamento – desnecessário Abordagem da VB e HIV – mesmo tratamento, porém parece ser mais resistente. Gestante sintomática 1. Metronidazol 500mg VO de 12\12h por 7 dias 2. Metronidazol 250mg VO de 8\8h por 7 dias 3. Clindamicina 300mg , VO, 12\12h por 7 dias Complicações na gravidez Abortamento Parto prematuro Rotura prematura de membranas ovulares Carioamnionite Infecção placentária Infecção pós-cesariana Colonização no RN Candidí ase vulvovaginal Definição: infecção por fungo Candida, gram-positivo, dimorfo, saprófita do TG e TGI com virulência limitada. Se prolifera em meio ácido apesar da ação dos lactobacilos.85% Candida albicans – maior capacidade de adesão as células vaginais Fatores de risco Gravidez Contraceptivos orais em altas dosagens de estrogênio Terapia de reposição hormonal estrogênica DM descompensada DIU Tireoidopatias Obesidade Antibióticos, corticoides e imunossupressores Higiene e vestuário inadequados (diminue ventilação e aumenta umidade e calor local) Contato com substancias alérgicas e irritantes Alterações na resposta imune Aumentam a quantidade de glicogênio vaginal com consequente acidificação do meio e proliferação de levedura Quadro clínico Depende do grau de infecção e localização do tecido inflamado. Prurido vulvovaginal: principal sintoma, se agrava a noite e no calor Queimação vulvovaginal Disúria Dispaurenia Corrimento branco, grumoso, inodoro e com aspecto caseoso Hiperemia e edema vulvar Escoriações de coçadura Fissuras e maceração da vulva Vagina e colo recobertos por placas brancas aderidas a mucosa Inicio do quadro súbito, devido a reação alérgica a toxina canditina que se manifesta ou exacerba na semana antes da menstruação, quando a acidez vaginal é máxima. Melhora durante a menstruação e período pós-menstrual. Obs: O parceiro pode apresentar irritação, hiperemia do pênis ou balanopostite. Diagnóstico – Quadro clínico e exame a fresco Escolher sempre o esquema posológico mais curto, para facilitar a adesão ao tratamento. O tratamento por VO pode produzir cefaleia, náuseas, dor abdominal e elevação de transaminases hepáticas. Tratamento 1. Miconazol creme 2% - 1 aplicador 5g via vaginal por 7 noites 2. Clotrimazol creme 1% - 1 aplicador 5 g via vaginal por 6-12 noites. 3. Clotrimazol óvulos 100mg – 1 aplicador via vaginal por 7 noites 4. Tioconazol creme a 6,5% - 1 aplicador via vaginal dose única 5. Tioconazol óvulos 300mg - 1 aplicador via vaginal dose única 6. Nistatina 100.000 UI – 1 aplicador via vaginal por 14 noites 7. Fluconazol 150mg VO dose única 8. Itraconazol 200mg VO 12\12h por 1 dia 9. Cetoconazol 400mg VO por 5 dias Manejo de parceiros – Tratamento não recorrente, indicado em caso de balanopostie caracterizado por áreas eritematosas na glande associado a prurido e irritação Acompanhamento – Se houver recorrência Manejo da candidíase complicada Preferível VO: esquema 1 – 2 doses no 1º e 4º dias. Esquema 2 – 3 doses, 1º, 4º e 7º dias. Via vaginal : 7-14 dias Fluconazol (100,150 ou 200mg) – 1 dose semanal durante 6 meses. Imunocomprometidos – terapia de longa duração 7-14 dias Gravidez- So uso tópico por 7 dias Tricomoní ase Definição: Infecção por protozoário Trichomonas vaginalis, anaeróbico facultativo e flagelado. Obs: Homens normalmente são assintomatiocos, mas vetores, raramente desencadeiam uretrite não gonocócica. Fator de risco: Atividade sexual desprotegida. Quadro clínico: Corrimento abundante, amarelo ou amarelo-esverdeado, mal-cheiroso e bolhoso e PH maior que 5. Ardência, hiperemia, edema, dispaurenia, prurido vulvar, disúria, polaciúria e dor suprapúbica. Colpite focal ou difusa (colo em morango)devido dilatação capilar e hemorrgais puntiformes Diagnóstico: Anamnese, Exame físico, medida de PH, teste das aminas e microscopia. Tratamento 1. Metronidazol 2g VO dose única 2. Metronidazol 400-500mg VO de 12\12h por 7 dias 3. Secnidazol 2g VO dose única 4. Tinidazol 2 g VO dose única Obs: Via de transmissão quase unicamente sexual. Manejo dos parceiros- Abstinencia sexual durante o tratamento Tratamento de soropositivas é o mesmo Gravidez – Metronidazol 2g VO dose única Lactação – Metronidazol com suspensão de aleitamento por 12-24h e Tinidazol por 72h Complicações na gravidez – Rotura prematura de membranas ovulares, parto prematuro, baixo peso ao nascer, infecção puerperal. Vaginite descamativa Definição: vaginite purulenta, crônica que ocorre na ausência de processo inflamatório cervical ou do trato genital superior. Etiologia – desconhecida. Estreptococcos beta-hemolíticos ¿ Critérios diagnósticos Conteúdo vaginal purulento em grande quantidade PH alcalino Microscopia: Processo descamativo vaginal intenso, com predomínio de células profundas; flora vaginal do tipo 3 (ausência de lacrobacilos – substituição por cocos gram+); numero elevado de polimorfonucleados. Tratamento 1. Clindamicina creme 2% via vaginal por 7 dias 2. Estrogenio tópico – aplicação diária por 1-2 semanas, e dose de manutenção de 1 aplicaçao por semana Diagnósticos diferenciais Liquen plano erosivo vaginal Tricomoniase Vaginite atrófica complicada Vaginite por estreptococos do grupo A Vaginite por corpo estranho Ulceras idiopáticas em HIV+ Sindromes penfigoides Vulvovaginites inespecí ficas Definição: Inflamação, onde não se identifica um agente principal. Fatores predisponentes em pré-púberes Proximidade uretra, vagina e anus Menor coaptação dos lábios Tecido adiposo e pelos pouco desenvolvidos Epitelio vaginal delgado PH alcalino Higiene inadequada Roupas apertadas Irritantes químicos Traumatismo Corpo estranho Fatores socioeconômicos e culturais Obesidade DM IVAS Parasitoses intestinais Doenças dermatológicas Uso de antibióticos de amplo espectro Agentes etiológicos: Germes sapótrofas (E. choli, enterococos), defido a higiene perineal deficitária. Quadro clínico: Leucorréia, prurido e ardência vulvar, escoriação, hiperemia e ardência de vulva, disúria e polaciúria. Diagnóstico: exame a fresco, teste das aminas, gram, toque retal, parasitológico de fezes, EAS e urocultura. Tratamento: medidas higiênicas com agua e sabão neutro, prevenir contato com irritantes, evitar roupas sintéticas, banhos de assento com antisséptico, tratamento de infecção urinária, tratamento de parasitoses intestinais ou antibiótico terapia tópica se for identificado o agente. Vaginose citolí tica Definição: corrimento caracterizado por aumento de lactobacilos, citólise importante e escassez de leucócitos. Fisiopatologia: Relaciona-se as condições que aumentam o número de lactobacilos: fase lútea, gravidez e DM. Desencadeia citólise das células intermediária do epitélio vaginal, com liberação de substancias irritativas gerando corrimento e ardência. Quadro clínico: prurido, leucorréia, disúria e dispaurenia. Critérios diagnósticos: PH de 3,5-4,5. Microscopia: ausência de microorganismos que não pertencem a flora normal; raros leucócitos; citólise; aumento de lactobacilos. Tratamento: alcalinização com duchas vaginais com 30-60g de bicarbonato de sódio diluído em 1 litro de agua morna de 2-3 vezes por semana até remissão. Vaginite atro fica Definição: Vaginite que surge devido a deficiência de estrogênio. Fatores de risco Menopausa Radioterapia Quimioterapia Ooforectomia Pós-parto Medicações: tamoxifeno, danazol, medroxiprogesterona, leuprolide, nafarelina. Quadro clínico: prurido vulvar intenso, ardência, dispaurenia, conteúdo vaginal amarelo- esverdeado, disúria, hematúria, polaciúria, infecção e incontinência urinária. Sinais: epitélio vaginal pálido, liso e brilhante, perda da elasticidade eturgor da pele, ressecamento dos grandes e pequenos lábios, estenose do introito vaginal, eritema vulvar, petéquias no epitélio, eversão da mucosa uretral, pólipo uretral e equimoses. Diagnóstico diferencial: Candidiase; VB e tricomoníase. Critérios diagnósticos: PH maior que 5, microscopia sem parasitas com grande quantidade de polimorfonucleares e células basais e parabasais. Tratamento: Reposição estrogênica (uso tópico).
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