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P1 Estudos Étnico-Raciais


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Aryadne Mayo de Carvalho
RA: 11201810560
1) Sob o contexto da América Latina, é possível observar períodos compostos por diferentes tipos de estruturação de hierarquias raciais, além de variações dessas mesmas hierarquias ao se analisar diferentes regiões. No caso do Brasil, nos primórdios das relações raciais que aqui se estabeleceram, havia uma forte expressividade da colonialidade de poder, fundamentada nas dinâmicas do sistema escravista, de maneira que os grupos europeus exerciam uma dominação racial sobre os indígenas nativos das terras brasileiras e, posteriormente, negros advindos do tráfico negreiro, estabelecendo um regime de trabalho forçado. Ainda nesse contexto, a identidade da nação brasileira e também latino-americana durante esse período comtemplava a ideia de uma nação composta majoritariamente de brancos e brancos latino-americanos, não valorizando as experiências negras e indígenas que permeavam a nação. No período pós-abolição, no Brasil, criou-se uma visão de modernidade e evolução das nações associada aos brancos e à cultura europeia, tornando muito presente e intensa a política de imigração de europeus para as terras latino-americanas, buscando promover o embranquecimento da população, além de promover uma imigração de mão de obra que tinha como principal objetivo diminuir o poder de barganha dos trabalhadores brasileiros, majoritariamente negros e mestiços. Sob essa perspectiva de modernidade dependente dos brancos, os negros e indígenas, na época identificados como os povos bárbaros, surgiam como uma espécie de obstáculo para os avanços da nação e do seu povo, sendo este um dos primeiros indícios de um processo de contradição do conceito de identidade nacional.
O processo de industrialização brasileira, principalmente na cidade de São Paulo, foi marcado por políticas e práticas discriminatórias e racistas, que se tornou ainda mais intensa com a chegada dos trabalhadores europeus que, mesmo não usufruindo das melhores condições de trabalho, ainda possuíam mais privilégios do que os negros e mestiços, criando uma hierarquia racial. Com o avanço da industrialização das principais cidades brasileiras, negros e mestiços foram cada vez mais afastados dos centros das cidades, sendo marginalizados e estruturando as periferias, onde ainda se mantinham as origens culturais e sociais dos povos negros e mestiços mas que não eram valorizadas quando se tratava de uma cultura nacional. Por volta de 1920, a proposta de identidade nacional do Brasil estava embasada na teoria do encontro das três raças, onde tal teoria surgia como uma ideia de democracia racial brasileira, reforçando uma visão do caráter fraterno das relações raciais no Brasil, uma vez que narrava o processo de formação de uma população mestiça e o aperfeiçoamento do povo brasileiro por meio da liderança dos brancos. Tal utopia também estava fundamentada no ativismo negro da época, que assumia uma expectativa de democracia racial consolidada em um futuro não muito distante. Entretanto, essa narrativa nada mais era do que uma nova hierarquia racial repleta de ações discriminatórias veladas pelo discurso da democracia entre as raças. 
Já entre as décadas de 1930 e 1940, havia um “Pacto Nacional-Desenvolvimentista”, que consistia na integração doa negros à nação brasileira, por meio da regulamentação do mercado de trabalho e de seguridade social urbana, além de promover uma integração de maneira simbólica, através de um discurso de cultura nacional mestiça. Com essa integração, a cultura negra passa a ser inserida no conceito de cultura nacional, onde notamos uma valorização das escolas de samba, de maneira a torna-las um meio difusor da cultura brasileira e focando no teor turístico que envolvia esse cenário. Outro ponto cultural marcante durante esse período é a valorização da seleção brasileira de futebol, que representava para o mundo, de maneira positiva, o fruto da mestiçagem no Brasil.
Sendo assim, a principal característica que formaliza essa contradição entre a hierarquia racial e a identidade nacional é a ausência de uma severa segregação racial nos territórios da América Latina, ao contrário do que se vivenciou nos EUA. Dessa forma, a sensação de uma relação hierárquica entre as raças mais branda, favorecia a noção de singularidade da população, de maneira que essa utopia de singularidade se fortaleceu com o mandato presidencial de Nilo Peçanha, trazendo a representação de um avanço na democracia racial ao apresentar um presidente negro, símbolo de poder, para comandar o Brasil, representando uma minimização da influência da raça nas relações sociais e de poder. A realidade por traz dessa valorização da mestiçagem e da cultura negra no Brasil se revela como uma maquiagem produzida pela elite branca para impedir o questionamento do racismo e das desigualdades raciais existentes no país, logo, não houve um projeto de integração e valorização de negros e mestiços no país com a intenção de tornar a nação singular e igualitária, ao contrário, o que ocorreu foram tentativas de silenciar a voz dos que eram considerados inferiores e desmobilizar movimentos ativistas negros no país.
2) Historicamente, os brancos, principalmente os brancos europeus, estiveram sempre em uma posição de privilégios na pirâmide social e racial. Entretanto, os asiáticos, apesar de muitas vezes estarem associados como uma raça superior aos negros, assumiam um papel inferior aos brancos nas relações sociais, tal relação entre brancos e asiáticos se mostrou desigual desde o século XIX, onde se inicia um discurso de alerta para uma possível ascensão do Japão e China contra o colonialismo europeu da época. Posteriormente o discurso do “perigo amarelo” se tornou muito presente, em especial nos EUA, pois o fluxo populacional de chineses e japoneses no território norte-americano passou a representar uma ameaça à segurança nacional. No contexto brasileiro, a presença de trabalhadores asiáticos no país se iniciou com a vinda de trabalhadores chineses para as fazendas do império, durante o século XIX, para suprir uma eventual falta de mão de obra em função da escassez do tráfico negreiro da época. Entretanto, essa experiência não deu certo e diversos trabalhadores chineses fugiram das terras agrícolas para trabalhar nos centros urbanos e, com isso, políticos da época passaram a difundir a mensagem de inferioridade dos asiáticos, mas ainda assim, havia uma visão “positiva” dos asiáticos quando se fazia uma comparação com os negros. Ainda no século XIX, notam-se as primeiras imigrações de japoneses para o Brasil em decorrência do incentivo da imigração de mão de obra asiática, mesmo com todo o preconceito e dificuldade de assimilação cultural que os asiáticos representavam para o país, além da política de emigração do Japão por conta de elevado crescimento populacional. Porém, com a chegada dos japoneses nas américas, surgiu uma preocupação com relação à segurança nacional dos países, uma vez que os imigrantes japoneses passaram a serem vistos como agentes do expansionismo japonês da época.
A presença de asiáticos no território brasileiro, e também nos EUA, causavam uma série de dificuldades por conta da dificuldade de assimilação dos asiáticos com a cultura e as dinâmicas sociais dos outros países no qual haviam imigrado, o que causava uma espécie de isolamento étnico dos asiáticos. Já com a chegada da Segunda Guerra Mundial, a preocupação dos políticos brasileiros e norte-americanos voltou-se para a intensa militarização japonesa apresentada durante a guerra, promovendo um discurso de que os japoneses eram uma população desleal e que poderia se tornar um núcleo de resistência dentro do país. Entretanto, no contexto dos EUA, o conflito com os japoneses se intensifica com a ocupação norte-americana de algumas regiões no pacífico, regiões as quais o Japão futuramente tentou ocupar. Ao mesmo tempo em que havia essa tensão com os estadunidenses, os japoneses percebem o entusiasmo dos afro-americanos com a visão anticolonialista e que se opunha à supremacia brancavigente e passam a enviar acadêmicos para estimular o debate e uma possível articulação anticolonialista nos EUA.
A imagem dos japoneses sofre uma ressignificação no período pós-2ª Guerra, pois os japoneses passam a ser associados com o conceito de resignação e esforço, em virtude da sua reconstrução após os ataques que sofreu. O estereótipo associado aos japoneses é remodelado e agora os mesmos são vistos como esforçados e símbolo de excelência na educação, de maneira a estabelecer um conceito de minoria modelo. Entretanto, essa perspectiva de uma minoria modelo não vai além de um roteiro estigmatizado, pois não se trata de uma realidade que atinge todos os asiáticos, uma vez que ignora as diferentes experiências que os grupos asiáticos vivenciam social e culturalmente, evidenciando a problemática de discriminação racial. Dessa forma, tanto os grupos sociais compostos por brancos tantos o grupo composto por asiáticos são racializados principalmente em função dos estigmas que os dividem e caracterizam. No caso nos japoneses, esse estigma os colocam em uma posição social muito associada como disciplina, rigidez e experiência com tecnologia, que são atribuições positivas que podem se assumir como uma visão negativa quando isso os impede de assumir outras funções e atribuições na sociedade, que se evidencia com a baixa representatividade de asiáticos em produções de cinema e na televisão, por exemplo. Logo, é possível identificar a racialização e até mesmo a discriminação racial que os asiáticos sofrem em comparação aos brancos, uma vez que encontram mais barreiras que o outro grupo social para ascensão social e, principalmente, profissional, na sociedade atual em função de estereótipos e do racismo que ainda existe.

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