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1 Referência: aula da prof. Rievani Damião Introdução A placenta tem que ser descolada apenas após a expulsão fetal. Quando isso ocorre fora do parto, a gestação evolui para abortamento ou para um quadro extremamente emergencial. • Conceito: é a separação da placenta normalmente implantada (corpo uterino), em gestação acima de 22 semanas e antes da expulsão fetal. A placenta prévia se descola da decídua e começa a sangrar, mas isso acontece porque ela está no local errado e o útero está distendendo, então ela se separa naquela distensão e sangra. Na paciente cuja placenta se encontra “normoinserida” – ou no fundo ou no corpo do útero, quando descola, além de repercussões maternas, também há repercussões fetais, incluindo anóxia aguda. Antes de 22 semanas, é abortamento, porque a gestação não tem prognóstico, depois disso, já estamos diante do descolamento prematuro da placenta. É um quadro emergencial agudo, que acontece de forma abrupta. O diagnóstico tem que ser feito e a conduta tem que ser instituída imediatamente, tanto pela repercussão fetal aguda quanto pela repercussão materna. Incidência A incidência oscila em função de inúmeras variáveis. Admite-se que a incidência varia de 0,5 a 1% Por que várias variáveis? Porque, praticamente, associamos com pacientes que tenham duas situações importantes: síndrome hipertensiva, especialmente a hipertensão crônica com pré-eclâmpsia, ou somente a pré-eclâmpsia. Na fisiopatologia, a mulher vai ter uma alteração vascular sistêmica, que se estende à placentação. Ninguém sabe se foi a placentação anormal que levou a alterações nas substâncias para dentro da corrente sanguínea materna e posterior desenvolvimento de pré- eclâmpsia, ou se fatores interferiram na placentação para acontecer essa alteração vascular a nível da placenta, levando a um vasoespasmo com trombose dos vasos placentários. Essa trombose leva à rotura das artérias, trazendo uma hemorragia na interface decídua basal e placenta, formando hematoma e sangramento ininterrupto. Por isso é variável, porque muitas vezes a paciente só tem placentação anormal, que evolui com restrição de crescimento uterino, mas não evolui com pré-eclâmpsia nem hipertensão. Contudo, durante a gestação, por conta da placenta anormal, ela pode também evoluir com descolamento prematuro. Tipos de hemorragia Esse descolamento da interface placenta e decídua, pode acontecer de forma leve e crônica, mas é raro. Ele pode se apresentar dessas formas abaixo: Quando é externa, o diagnóstico é tranquilo, porque, nesses casos, a clínica é bem exuberante – a paciente geralmente tem hipertensão, evolui com sangramento agudo e muita dor, o útero está hipertônico, contraído e endurecido. Quando o sangramento não se exterioriza, ele fica retido de forma retro placentária. Nessas situações, o diagnóstico é mais difícil, porque a paciente evolui com contrações, mas não se sabe se é trabalho de parto prematuro ou se existe descolamento sem se exteriorizar. Esses casos podem, inclusive, evoluir com coagulação intravascular disseminada (CIVD). O coágulo fica retido e os fatores de coagulação vão para a corrente sanguínea, então a paciente pode entrar em choque e CIVD. A outra forma de sangramento é quando o hematoma, às vezes, rompe a membrana amniótica alta e causa sangramento nela. Quando a bolsa é rompida, vê-se que tem sangue ou faz um sangramento que dizemos que “embebe o cório” – é subamniótico e subcorial. Só se consegue fazer esse diagnóstico de forma retrospectiva. Quando temos hemorragia e o hematoma fica retido (ele pode ou não ficar retido), esse sangue pode ser vermelho ou vermelho escuro, porque é um sangue que ficou aí coletado. 2 O sangue retido pode infiltrar para dentro do miométrio e causar apoplexia do útero, que é o útero de couvelaire – útero arroxeado, atônico, amolecido e sem contração. Nesses casos, o sangue é infiltrado entre as fibras miometriais e o órgão tem um risco elevado de sangrar no pós-parto. A paciente pode não conseguir controlar o sangramento, por conta da atonia uterina. Nessa situação, a histerectomia está indicada. Útero de Couvelaire Fluxograma Acontece um descolamento, com esse hematoma na interface da decídua e da placenta, formando coágulo retro placentário. Muitas vezes, não se consegue fazer diagnóstico clinicamente. Dessa forma, faz diagnóstico retrospectivo, a partir da presença de um coágulo retro placentário. Hoje em dia, isso é incomum, uma vez que temos ultrassom. Antigamente, ficava na dúvida entre DPP ou placenta prévia – quando via coágulo, era DPP. Hoje em dia, não espera ver coágulo, faz USG, que permite diagnóstico certo de placenta prévia. Exclui DPP quando vê placenta baixa; se ela não está baixa, mas com quadro florido de dores e hipertensão, sabe que é DPP. A lesão tecidual do coágulo retro placentário, libera tromboplastina para a corrente materna, levando a um consumo dos fatores da coagulação, o que aumenta hemorragia e evolui para CIVD, que coloca em risco a vida materna, porque é um quadro de difícil controle. Essa hemorragia pode levar a um choque, com lesão visceral, necrose renal e isquemia da hipófise, levando à síndrome de Sheehan. Hematoma retroplacentário: sinal da cratera. Classificação • Grau I: 40%. A paciente não tem sangramento importante. Só faz diagnóstico quando vê hematoma retroplacentário na placenta. • Grau II: 45%: É o caso mais frequente de encontrar e apresenta sinais clássicos da DPP. Pega o feto vivo e interrompe a gestação de imediato. • Grau III: 15% OF = óbito fetal Fisiopatologia • Alterações locais: uterina (hipertonia e apoplexia miometrial) • Alterações gerais: anemia aguda, CIVD, isquemia renal e hipofisária. • Alterações uterinas: a hipertonia agrava o DPP. Surge como mecanismo reflexo, podendo o tono alcançar valores de 40 mmHg. Há alterações circulatórias, criando acentuada hipertensão sanguínea, que facilita a rotura dos vasos, aumentando a área do DPP. A nível de útero, temos presença de hipertonia, porque o coágulo leva a uma irritação das fibras miometriais, com contrações uterinas subentrantes e aumento do tônus uterino, seguida da apoplexia miometrial, quando há extravasamento de sangue para o miométrio. 3 • Alterações da coagulação: o sistema de coagulação e o fibrinolítico se apresentam alterados. o Ocorre passagem de tromboplastina para a circulação materna. o Coagulopatia por desgaste: depleção do fibrinogênio e do fator II, V, VII e de plaquetas. o Coagulopatia adquirida: determinada pela rápida utilização intrauterina dos fatores de coagulação, hiperconsumo local. • Alterações renais: representada pela necrose tubular aguda e pela necrose cortical bilateral. • Alterações hipofisárias: de natureza necrótico- isquêmicas atribuídas ao prolongado estado de choque circulatório e ou pela coagulação intravascular. As alterações da coagulação são devido a presença de fatores fibrinolíticos no sangue. Fatores de risco • Hipertensão: é o mais importante. • RPMO (rotura prematura das membranas ovulares): quando a bolsa rompe, há esvaziamento do líquido amniótico e a placenta começa a ter um descolamento, que pode ser mais lento ou mais rápido. • Trombofilias: são quadros adquiridos ou hereditários, que consistem na capacidade de se fazer trombos. Esse potencial é refletido na placentação, quando as mulheres engravidam. A placenta vai ter alteração, com formação de microtrombos, os quais podem favorecer DPP. Causas menos comuns • Uso de cocaína • Trauma uterino • Tabagismo • DPP anterior • Multiparidade • Gestação múltipla • Descompressão uterina abrupta: casos de esvaziamento rápido de polidrâmnio, por exemplo. • Versão externa: tentativa de reposicionaro feto, a fim de deixar em apresentação cefálica. • Leiomioma • Anomalias uterinas ou placentárias • Cordão umbilical curto Diagnóstico Eminentemente clínico. Não dá nem tempo de colocar paciente para fazer exame. Dor súbita + sangramento + hipertonia uterina As mulheres apresentam uma contração importante abrupta, que geralmente é intensa e forte. Dessa forma, o útero é hipertônico, o sangramento é vivo, em considerável quantidade – pode ser vermelho ou escuro, mas geralmente é vermelho –, a hipertonia tem que vir associada, para que se faça diagnóstico típico do DPP. Outro ponto importante é que, além desse quadro clínico encontrado na mulher, o feto vai ter alteração da sua vitalidade, que pode ser moderada ou até mesmo grave. Podemos encontrar feto com bradicardia, (primeiro faz taquicardia, seguido de bradicardia, futuramente ausência e óbito fetal). Se a paciente fizer DPP durante trabalho de parto, o médico vê bradicardia, DIP II e padrão sinusoidal na cardiotopografia. A paciente começa a sangrar no trabalho de parto e, na monitorização fetal, vê-se sinais de anóxia aguda ou de um feto obituando. A paciente vai apresentar, além dos sinais obstétricos de sangramento, hipertonia e dor, taquicardia e taquipneia. Inicialmente ela é hipertensa, mas quando começa a chocar, a pressão cai. • Dor abdominal com sensibilidade aumentada • Sangramento abundante escuro com coágulos • Ausência de BCF ou DIP II, bradicardia, padrão sinusoidal • Taquicardia, sudorese e taquipneia materna • Aumento da PA • Hemorragia oculta: a perda sanguínea fica restrita ao espaço retro placentário e não ocorre sangramento vaginal – invade o miométrio (útero de Couvelaire – útero de coloração azul violácea) o São os casos de DPP leve ou crônico, geralmente associado à restrição de crescimento ou rotura prematura de membranas. • Pode ocorrer rotura alta das membranas com a passagem do sangue para a cavidade uterina, formando o hemoâmnio - líquido amniótico vermelho acastanhado. Imagem ecográfica 4 Eventualmente, podemos ser surpreendidos com hematoma atrás da placenta. Isso, no entanto, não é um achado corriqueiro. Diagnóstico ultrassonográfico • Ultrassonografia: afastar placenta prévia, visualização do coágulo retroplacentário, visualização de elevações da placa coriônica, aumento localizado da espessura placentária (imagem mais comum encontrada, indica que houve passagem de sangue para dentro da placenta), coágulos no estômago fetal. • Espessamento placentário – imagem mais frequente. • Não se procura esses achados durante o DPP. Coagulopatia CIVD ocorre em 10 a 20% dos casos de DPP com óbito fetal, raramente observada com feto vivo. Conduta • Internação imediata: acesso venoso calibroso, hidratação, coleta de hemograma, tipagem sanguínea, sondagem vesical, encaminha para centro cirúrgico para interrupção imediata da gestação. • Controle hemodinâmico • Interrupção da gestação Reposição volêmica • Soluções cristaloides e transfusões sanguíneas • Sangue total fresco: todos os componentes sanguíneos. 1 U = 500 ml • Concentrado de hemácias: 1U = 300 ml, eleva o Hb/HT em 3% • Plasma fresco congelado: todos os fatores de coagulação, plaquetas ausentes. 1U = 300 ml • Crioprecipitado. Fibrinogênio, Fatores V, VIII, XIII, V. Willebrand. 1 bolsa = 15 ml (10 U = 70 mg/dl de fibrinogênio) • Concentrado de plaquetas. 1 U = 50 ml (6 U = 30 mil) Diagnóstico laboratorial - CIVD Fibrinogênio abaixo de 100 e dímero D elevado leva ao diagnóstico de CIVD • Tipagem sanguínea e fator Rh: se RH negativa, faz imunoglobulina. Conduta obstétrica Sempre interromper por parto cesárea. Se o feto estiver morto ou for gestação inviável, como no caso de ser muito precoce, se paciente estável (sem hemorragia, sem choque importante, sem CIVD), pode esperar o parto acontecer em até 6 horas. A partir desse tempo, já interrompe, porque há alta chance de a paciente, com o feto morto, fazer DPP. Nesse caso, o parto é cesáreo mesmo com feto morto. Por que faz conduta expectante para feto morto ou inviável? Porque cesariana foi instituída para salvar o feto e não a mãe. Dá chance para ver se nasce espontaneamente, se não nasce, preocupa-se com a mãe, em relação a ela desenvolver CIVD, por conta do feto morto. Feto morto • Avaliar condições maternas 5 o Preservadas: amniotomia imediata, sedação com meperidina, estimulação do parto com ocitocina S/N. O parto deverá ocorrer em 4 a 6 horas o Alteradas: corrigir distúrbios de volemia, anemia e hipóxia Útero de Couvelaire Não é indicação obrigatória de histerectomia, mas se a paciente for primigesta ou sem prole constituída, fica de olho se o útero vai melhorar, se vai contrair e reduzir com o tratamento, se não, indica histerectomia. Antes disso, no intraoperatório, pode fazer massagem uterina, ocitocina, metilergotamina e misoprostol. Conduta puerperal • Observação no CCO até estabilização hemodinâmica (24-48 horas) • Manter ocitocina EV em altas doses (até 40 UI) por no mínimo 24 horas, devido ao risco de atonia uterina • Reavaliar laboratorialmente em 4-6 horas para melhor interpretação dos resultados A mulher pode ter CIVD que ainda não apareceu, só vai ver isso mais tardiamente, depois de 6 a 10 horas do trabalho de parto, então tem que tomar conduta para transfundir fatores da coagulação.
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