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Prof. Me Quím. e Eng. Maurício Schmitt mauricio.schmitt@ulbra.br 2.processos da indústria petroquímica de 1ª geração; produtos petroquímicos básicos; COMPETÊNCIAS Aprender: - a identificar os principais químicos e processos voltados a indústria petroquímica; - ser capaz de formular e conceber soluções de engenharia, bem como assimilar os principais equipamentos e acessórios que compõem um processo físico e químico, bem como entendimento do fluxo de processo, as principais operações, controles e serviços necessários a uma petroquímica de 1° geração; - sobre os principais players da cadeia petroquímica no Brasil. INTRODUÇÃO A petroquímica desenvolve materiais básicos que devem sofrer outras conversões químicas para se transformarem em fertilizantes, como a amônia; ou em plásticos, cujas variedades e quantidades crescem de ano para ano; ou em borracha, todas as suas variedades; em fibras, especiais náilon, poliésteres e acrílicas; e, com importância crescente, em tintas (SHREVE, 1997). O primeiro produto petroquímico, fora o negro de fumo utilizado com carga em pneumáticos, foi o álcool isopropílico, produzido pela Standard Oil (hoje ExxonMobil) em 1920 (SHREVE, 1997). De lá para cá, nesses 100 anos, este setor muito se desenvolveu. O presente tema, que iremos desenvolver nesse capítulo, será a indústria petroquímica de 1° geração, ou seja, a primeira rota de alguns insumos oriundos do refino do petróleo e gás. 2.1. PETROQUÍMICA NO BRASIL O setor petroquímico brasileiro encontra-se distribuído basicamente em três polos: Mauá, em São Paulo; Camaçari, na Bahia; e Triunfo, no Rio Prof. Me Quím. e Eng. Maurício Schmitt mauricio.schmitt@ulbra.br Grande do Sul. Os três polos utilizam nafta petroquímica, parte produzida pela Petrobras (cerca de 70%) e parte importada diretamente pelas próprias centrais (cerca de 30%). A partir do segundo semestre de 2005, começaram as operações da Rio Polímeros S.A., o mais novo empreendimento petroquímico centrado apenas na produção de eteno e polietilenos, no Rio de Janeiro, diferenciando-se dos demais por utilizar como matéria-prima o etano e o propano contidos do gás natural extraído pela Petrobras da Bacia de Campos (BNDES, 2005). Na figura 1 uma visão geral da indústria petroquímica. Figura 1 - Esquema simplificado da cadeia produtiva petroquímica, adaptado ABIQUIM (BNDES, 2005). Nos três polos petroquímicos brasileiros são empregados cerca de 2 milhões de pessoas, gerando 10% do PIB Industrial, é a 8° maior indústria química do mundo, o 3° maior setor industrial do mundo e gera um faturamento líquido de US$ 75 bilhões (SINPROQUIM, 2018). Prof. Me Quím. e Eng. Maurício Schmitt mauricio.schmitt@ulbra.br Na figura 2 uma apresentação da longa cadeia da atividade que advém do petróleo e passa pela petroquímica, abastecendo inúmeras empresas, segmentos e gerando milhões de empregos. Figura 2 – segmentos que advém do petróleo e passam pela petroquímica, adaptados ABIQUIM (SINPROQUIM, 2018) 2.2. INSUMOS DE 1° GERAÇÃO Como apresentado no tema 1, os derivados do petróleo serão inúmeros, onde alguns estarão prontos para o consumo e outros necessitando de processamento. Desses produtos da indústria do petróleo, as refinarias, ou as companhias de gás natural, produzem as matérias primas básicas como o GLP, gás natural, gás dos processos de craqueamento, os destilados líquidos (C4 a C9), os destilados de processos de craqueamento especiais e as frações cíclicas aromáticas. Estas misturas são usualmente separadas nos seus constituintes nas refinarias de petróleo e convertidas quimicamente nos percursores reativos, antes de serem sujeitas às conversões químicas necessárias para a fabricação dos diversos petroquímicos usados ativamente por milhares de indústrias, nas quantidades necessárias. Para obtenção de MTBE (MetilTércioButilÉter), utilizado como aditivo para substituir o álcool e o poluente tetraetila de chumbo na gasolina, Prof. Me Quím. e Eng. Maurício Schmitt mauricio.schmitt@ulbra.br será necessário o recebimento de metanol para o preparo deste precursor petroquímico. Em agosto de 2016, a última fabricante de metanol brasileira suspendeu sua produção em razão da queda de preços dessa commodity no mercado internacional e do alto custo do gás natural (que representa mais de 80% do custo de produção do composto). O boom do shale gas (gás de xisto) na América do Norte tornou a produção de metanol nessa região altamente competitiva, gradativamente inviabilizando a produção no Brasil. O resultado é que todo o metanol usado no país – algo perto de 1 milhão de toneladas por ano – é atualmente importado. Curiosidade, desse total, cerca de 500 milhões são aplicados na produção de biodiesel (TNPETROLEO, 2020). 2.3. PROCESSOS DA 1° GERAÇÃO A indústria de primeira geração, também chamada de central de químicos ou craqueadores, tem como principal objetivo realizar operações de fracionamento das correntes apresentadas como insumos no item 2.2, purificação e conversões químicas. O principal insumo, a nafta ou o gás natural, são transformados em petroquímicos básicos, como olefinas (principalmente eteno, propeno e butadieno) e aromáticos (tais como benzeno, tolueno e xilenos). No Brasil, como já apresentado, existem quatro centrais petroquímicas , sendo que três deles compram a nafta e o quarto gás natural (ABDI, 2009). Neste sentido, os precursores serão convertidos quimicamente por craqueamento à vapor ou via reforma catalítica (ambas já apresentadas no tema 1 e aplicáveis na 1°geração), a partir do nafta e do gás natural, ou serão isolados via destilação fracionada, entre outras operações a seguir apresentadas. A operação vapor-líquido, destilações baseada na diferença de pressão de vapor, obtém-se o eteno a partir do etano ou a extrativa, baseada na polarizabilidade, obtendo o n-butenos de butanos com acetona aquosa. Pela operação de absorção, baseada na diferença de solubilidade, obtém-se etano do metano. Prof. Me Quím. e Eng. Maurício Schmitt mauricio.schmitt@ulbra.br A separação líquido-líquido, extração por solvente, é utilizando como força motriz a solubilidade, onde obtém-se benzeno a partir de alifáticos com glicóis polietilênicos. Via operação líquido-sólido, como a cristalização, baseada pela diferença de ponto de fusão, há produção de p-xilenos de outros xilenos e via cristalização extrativa, utilizando como força motriz a formação de clatrato (no qual moléculas de uma substância são confinadas em cavidades formadas pela molécula hospedeira, originando um agregado supramolecular), obtém-se parafinas normais a partir de outros hidrocarbonetos com ureia. Já através da operação de encapsulamento, também pela formação de clatrato, obtém-se o m-xileno. Ou em peneiras moleculares, onde ocorre a adsorção superficial ou em poros característicos do tipo de elemento de retenção utilizado na peneira, resulta na geração de parafinas normais a partir de isoparafinas. E via extração vapor-sólido, também por uma operação de adsorção, eteno é removido do etano utilizando como adsorvente o carvão ativado (de madeira), sendo este adsorvido superficialmente ou nos poros. Por fim, a 1° geração produzirá os petroquímicos básicos, necessários para o desenvolvimento de toda a cadeia apresentada nas figuras 1 e 2. Na figura 3 o fluxograma generalizado da produção de petroquímicos de 1° geração. Prof. Me Quím. e Eng. Maurício Schmitt mauricio.schmitt@ulbra.br Figura 3 – fluxograma de produção de petroquímicos de 1° geração (SHREVE, 1997). É importante ressaltar aqui, que os processos e tecnologias aplicáveis na 1°geração serãosemelhantes aos aplicáveis no refino do petróleo, porém neste segmento a matéria prima será uma mistura pré- selecionada e especificada, o que permite uma maior e melhor seletividade química. 2.4. PRODUÇÃO DO ETENO Este é o produto de maior volume produzido em uma central de insumos básicos petroquímicos. Pode ser obtido de frações que variam de etano até gasóleo pesado ou mesmo o óleo cru, pelo simples fracionamento por destilação ou obtido pelo craqueamento de frações de hidrocarbonetos mais pesados. O craqueamento do material, diluído com um gás inerte (usualmente vapor de água) em temperaturas em torno de 925°C, com tempo de residência muito curto (de 30 a 100ms), resultará em um produto misturado que deverá ser separado nos seus constituintes úteis, como o eteno. Prof. Me Quím. e Eng. Maurício Schmitt mauricio.schmitt@ulbra.br 2.5. PRODUÇÃO DE OUTROS PRODUTOS DE 1° GERAÇÃO Da mesma forma como ocorre na produção do eteno, o craqueamento severo da nafta, em curto espaço de tempo resulta em aproximadamente (SHREVE, 1997): - 1,2% de hidrogênio; - 15,2% de metano; - 1,3% de acetileno; - 31,8% de eteno; - 2,8% de etano; - 1,2% de propadieno; - 11,6% de propeno; - 0,3% de propano; - 4,7% de butadieno; - 2,2% de buteno; - e 27,7% em C5 mais líquidos. Os gases originados desta conversão química, são rapidamente arrefecidos, resfriados, desidratados e fracionados, a fim de que forneçam os componentes individuais de elevada pureza, bem como os materiais indesejáveis que devem ser reciclados (SHREVE, 1997). Via mudanças de processamento, por modificação das cargas ou condições no craqueamento, será possível o aumento do percentual de propeno e buteno. Já os precursores aromáticos, dependem diretamente das fontes de matéria prima onde ocorre o refino, petróleo ou carvão. Assim, esses precursores aromáticos das substâncias petroquímicas, além de produzidos na destilação, também poderão ser obtidos da conversão química de produtos obtidos no fracionamento. As reações típicas, por exemplo, são pela desidrogenação do cicloexano substituído e pela aromatização de metilciclopentano, onde ambas reações irão converter a cargas apropriadas de benzeno. Prof. Me Quím. e Eng. Maurício Schmitt mauricio.schmitt@ulbra.br Tolueno também é obtido pela desidrogenação da nafta, onde exemplificando, a desidrogenação de 1 mol de metilciclohexano forma 1 mol de tolueno, com conversão de 80%, e 3 mols de hidrogênio. Importante ressaltar que qualquer excesso de tolueno na petroquímica, poderá ser desmetilado a benzeno ou usado para elevar o número de octanas da gasolina (SHREVE, 1997). Os processos de 1° geração também produzem combustíveis, via conversão química e operações de separação, tais como (BRASKEM, 2020): - óleo combustível e gasóleo, utilizado no mercado de negro de fumo e queima; - Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) (gás combustível), destinado aos mercados de botijão P-13, industrial e/ou propelentes; - gasolina tipo A, vendida às distribuidoras de combustíveis, para mistura com etanol anidro e formação da gasolina tipo C, comercializada nos postos de combustíveis; - e também a produção da gasolina A Premium, de igual forma misturada nas distribuidoras com etanol anidro, formando a gasolina tipo C Premium, porém essa com maior octanagem. 2.5. CENTRAL PETROQUÍMICA Assim é chamada a indústria de 1° geração de petroquímicos, onde serão produzidos todos os insumos químicos básicos para cadeia produtiva através dos processos e operações já citadas. Outra missão dessa indústria é a produção ou recebimento via terceiros de do que chamamos de utilidades. Na estação de utilidades deve ser produzido água com diferentes qualidades para os processos, vapor, energia elétrica, gases industriais e tratamento de resíduos (líquidos e sólidos). Além da necessidade do químico e engenheiro para atendimento dos processos petroquímicos, a estação de utilidades também será uma área de atuação desses profissionais, sendo na maioria dos polos atividades desenvolvidas por empresas chamadas de terceiras. Prof. Me Quím. e Eng. Maurício Schmitt mauricio.schmitt@ulbra.br 2.5.1. EMPRESAS TERCEIRAS São empresas que realizam atividades para atender as demandas do polo petroquímico, onde no entendimento da petroquímica serão atividades que não serão de competência chave das mesmas, ou seja, todas aquelas atividades que não envolvem o processamento do insumos do petróleo e transformação em bens de consumo. Dentro destas atividades estarão transporte, segurança, alimentação, limpeza, etc. Normalmente a instalação de um grande empreendimento, como um polo petroquímico, demanda de um grande consumo de água, por isto sua aproximação de um grande fonte de água é imprescindível. Os polos brasileiros são abastecidos por empresas que captação a água superficial de rios as tratando em grandes estações de tratamento de afluentes (ETA). Esta água produzida será potável, atendendo portaria do Ministério da Saúde, específica para esta função, porém não necessariamente para os processos industriais. Para abastecimento de sistemas de resfriamento, como torres, esta água poderá ser utilizada na reposição, quando há perdas, causada pela retirada do calor latente do processo. Já para o abastecimento da caldeira de alta pressão, será necessário uma unidade de desmineralização. Da mesma forma, é comum empresas terceiras assumirem o processo de desmineralização da água, onde serão utilizados normalmente sistemas de troca iônica e/ou osmose. Assim esta água desmineralizada atenderá, não só a caldeira de alta pressão, mas etapas do processo que necessitem de uma água com menor ou isenção de sólido. A caldeira de alta pressão será importante pois através desta será gerado vapor para cogeração de energia, assim havendo um suplemento energético ao processo, mas também gerando vapor de água para troca térmica e insumo para o craqueamento. O combustível utilizado para gerar calor na caldeira poderá ser óleo combustível, carvão mineral ou qualquer fonte abundante e economicamente viável. Prof. Me Quím. e Eng. Maurício Schmitt mauricio.schmitt@ulbra.br A energia elétrica faltante deverá ser enviado por redes de alta tensão específicas para suprimento das necessidade do polo petroquímico. Os gases industriais, como oxigênio, nitrogênio, argônio, hidrogênio, etc. de igual forma serão fornecidos por empresas especializadas e sendo produzidos, normalmente dentro dos limites do polo petroquímico. Os resíduos, tanto líquidos quanto sólidos, normalmente serão pré- tratados dentro dos limites da indústria de 1°geração, atendendo certos parâmetros para posterior envio à empresas especializadas, onde estas atendem parâmetros ambientais para seu descarte final. Os resíduos líquidos, chamados efluentes será segregado em duas correntes: orgânicos e inorgânicos, sendo posteriormente enviado a empresa terceira. Além disso, devem controlar seus pluviais não- contamináveis constituem-se de correntes limpas recolhido em áreas administrativas, que não tenham contato com o processo industrial. Essas correntes são encaminhadas para as Bacias de Acumulação e Segurança, onde são permanentemente monitoradas, e posteriormente enviadas ao rio. Já os resíduos sólidos devem ter priorizada sua minimização, a reutilização ou a reciclagem na gestão de seus resíduos sólidos. Os resíduos normalmente serão classificados internamente em três linhas: classes I, IIA e IIB, segundo a norma NBR 10004, que orienta seu manuseio e disposição final. Caso não seja possível o emprego das alternativas de recuperação dos resíduos, estes são enviados a empresas terceiras para tratamento e disposição final, segundo legislação vigente.REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO: SHREVE, R. Norris; JR BRINK, Joseph A. – Indústria de processos químicos – 4° edição, editora Guanabara, Rio de Janeiro, 1997; BNDES: Banco Nacional de Desenvolvimento - Indústria petroquímica brasileira: situação atual e Prof. Me Quím. e Eng. Maurício Schmitt mauricio.schmitt@ulbra.br perspectivas - Rio de Janeiro, 2005 https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/bitstream/1408/2485/1/BS%2 021%20Ind%C3%BAstria%20petroqu%C3%ADmica%20brasile ira_P.pdf - acessado 14:05 de 23/07/2020; ABIQUIM: Associação Brasileira da Indústria Química - Estrutura da indústria petroquímica brasileira – ABIQUIM Publicações, dez/2016; SINPROQUIM: Sindicato das Indústrias de Produtos Químicos para Fins Industriais e da Petroquímica no Estado de São Paulo – A indústria petroquímica no Brasil - 2018 http://www.sellcommevents.com/lubgraxmeeting2018/wp- content/uploads/sites/13/2018/08/A- Industria_Petroqui%CC%81mica_no_Brasil_Ricardo_Neves_SI NPROQUIM.pdf - acessado 14:39 de 23/07/2020; ABDI: Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial Caracterização da Cadeia Petroquímica e da Transformação de Plásticos, 2009. - http://www.simpesc.org.br/wp- content/uploads/arquivos/6ed4a37d32.pdf - acessado 15:43 de 23/07/2020; BRASKEM - https://www.braskem.com.br/demais-destaques - acessado 9:00 de 24/07/2020; TNPETROLEO - https://tnpetroleo.com.br/noticia/nova-tecnologia- pode-viabilizar-a-retomada-da-producao-de-metanol-no-brasil/ - acessado 9:47 de 24/07/2020
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