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Patologias da Vulva e Vagina Introdução Vulva e vagina são áreas expostas a uma variedade de lesões infecciosas, como as vulvovaginites e úlceras genitais venéreas. Entretanto, o diagnóstico diferencial das lesões desses órgãos passa por outras condições benignas e malignas, que devem ser adequadamente investigadas para que se permita um diagnóstico precoce e maior sobrevida das pacientes com tais patologias. Patologias Benignas da Vulva A vulva corresponde ao clitóris, hímen, grandes e pequenos lábios, além do meato uretral, óstio vaginal externo e glândulas vestibulares menores e maiores (de Bartholin). A propedêutica envolve anamnese completa e exame com inspeção local e palpação da região, para identificar tumorações e adenomegalias. O diagnóstico diferencial é feito conforme o tipo de lesão elementar. Lesões Maculares São caracterizadas por lesões não elevadas da vulva que alteram a pigmentação e podem alterar a textura vulvar. Líquen plano: doença inflamatória crônica e idiopática que cursa com prurido vulvar e queimação, podendo ser assintomática. São máculas brancas que envolvem o vestíbulo da vagina, tornando-o com mucosa mais sensível. Tratamento é sintomático com o emprego de anti-histamínicos e pomada de pasta d’água com mentol. Líquen escleroso: trata-se de uma doença autoimune que gera prurido intenso, podendo cursar com mancha hipocrômica, brilhante e que pode cursar com involução dos pequenos lábios e clitóris. Seu diagnóstico é histopatológico e deve ser feito precocemente de modo a evitar a involução do vestíbulo. É tratada com corticóide tópico, progesterona a 2,5% e cremes de testosterona para evitar a regressão das estruturas vestibulares. Melanose: é um achado comum em mulheres de meia-idade, correspondendo a lesões planas com bordas irregulares, hipercrômicas, com 1 a 4 mm. Se dúvida, realizar biópsia para excluir nevos ou melanoma. Vitiligo: deficiência da pigmentação por ausência ou diminuição do número de melanócitos, sendo que em geral se manifesta em outros sítios corporais. Lesões Papulares Pápulas são elevações sólidas, sendo que na vulva, as principais afecções que cursam com pápulas são o molusco contagioso e a doença de fox-fordyce. Molusco contagioso: condição frequente na infância, sendo causado por um poxvírus, que é considerado uma infecção de transmissão sexual. Em geral, é autolimitado mas pode ter sintomas mais exuberantes em pacientes com HIV, podendo ser lesões pruriginosas que predispõe a infecções secundárias. São tratadas com curetagem seguida de aplicação de tintura de iodo e hemostasia. Doença de Fox-Fordyce: condição que ocorre com pápulas eruptivas perifoliculares, sendo comum no menacme e se manifestando com prurido e aumento da sudorese, piorando à noite. A condição também acomete outras glândulas sudoríparas como das axilas e aréola. Placas Lesões planas e elevadas que são formadas por pápulas coalescentes, ocorrendo nos eczemas, psoríase e líquen simples crônico e vulvovaginite recorrente por cândida. Dermatite de contato: as dermatites de contato são o principal tipo de eczema, podendo ser irritativas (contato com agente citotóxico) ou alérgicas (produção de uma hipersensibilidade tipo IV), sendo classificadas em aguda, subaguda e crônica. O tratamento envolve remover o contato com o agente lesivo para que se possa preservar a integridade da mucosa vulvar. Gabriel Torres→ Uncisal→ Med52→ Patologias da Vulva e Vagina Líquen simples crônico: trata-se de uma importante causa de prurido vulvar crônico, que é caracterizada por liquenificação secundária a prurido crônico, gerando espessamento das estruturas vulvares. Não está relacionado ao câncer de vulva e seu tratamento se dá com corticoesteróides de alta potência. Psoríase: condição que afeta até 5% das mulheres com sintomas vulvares persistentes, sendo uma doença inflamatória, caracterizada por placas vermelhas, bem-delimitadas, simétricas e com escama cinza. Possui períodos de melhora e exacerbação, sendo utilizado corticosteróides como a betametasona tópica. Úlceras Não-Infecciosas As úlceras não-infecciosas são mais comuns que as venéreas e em geral se iniciam nos adolescentes e mulheres jovens, sendo essencial investigação de vários órgãos e sistemas para chegar à conclusão diagnóstica. A principal representante é a doença de Behçet, mas outras condições multissistêmicas como doença de Crohn podem gerar lesões vulvares. Doença de Behçet: doença multissistêmica idiopática que se caracteriza por úlceras recorrentes das mucosas oral, genital e ocular. Seu manejo é sintomático por meio da administração de corticoesteróides. Doença de Crohn: trata-se de uma doença autoimune que pode envolver o trato gastrointestinal, a vulva e o períneo de adultos e crianças, podendo gerar outras condições como fístulas no trato genital. Pústulas e Abscessos Consistem de lesões de conteúdo líquido purulento que são secundárias a infecções principalmente bacterianas. Abscesso de Bartholin: corresponde a uma condição inflamatória crônica que gera massas confluentes que ulceram a epiderme, com cavidades drenantes e cicatriz extensa, podendo exigir excisão cirúrgica. Hidradenite: consiste na inflamação crônica supurativa das glândulas sudoríparas apócrinas. Podem ocorrer por obstrução mecânica dos ductos, diabetes mellitus, uso de desodorantes íntimos e depilação extensiva. Trata-se com anti-sépticos e evitando os fatores desencadeantes. Tumorações Benignas São condições de aumento do tamanho da vulva que não possuem a característica maligna, mas que merecem atenção como um diagnóstico diferencial. Cistos glandulares: os de Bartholin em geral são causados por infecções, sendo o tratamento drenagem ambulatorial em associação a antibioticoterapia. Outros cistos são semelhantes aos das glândulas de Bartholin, mas acometem as glândulas de Skene ou outras glândulas vestibulares, que são de menor tamanho. Tumores de glândulas sudoríparas: incluem o hidradenoma papilífero, o siringoma (pruriginoso). O hidradenoma tende a ser único, enquanto o siringoma pode ser único ou múltiplo. Tumores escamosos: incluem o pólipo fibroepitelial (mais frequente em diabéticas e obesas), ceratose seborréica e cisto epidérmico. Tumores mesenquimais: incluem os angioqueratomas, os hemangiomas, linfangiomas (menos frequentes), lipomas (ressecar cirurgicamente e distinguir dos lipossarcomas, que são malignos). Outros casos menos comuns são os neurofibromas e os Schwannomas. Tumores cicatriciais: são quelóides, que são alterações na regulação dos mecanismos de reparo, gerando cicatrizes que expandem para fora da borda lesional. Pseudotumores: incluem o granuloma piogênico e as hérnias inguinais, que podem simular lesões vulvares. Gabriel Torres→ Uncisal→ Med52→ Patologias da Vulva e Vagina Câncer da Vulva Neoplasias intraepiteliais vulvares são lesões com uma epidemiologia crescente entre as mulheres jovens e que podem evoluir com o câncer de vulva. Entender o câncer de vulva e suas lesões precursoras é essencial para identificá-lo precocemente e propiciar tratamento. Neoplasias Intraepiteliais Vulvares As NIVs ou VINs são condições precursoras do câncer de vulva, e é importante entender suas classificações para saber a chance de progressão para o câncer vulvar. HSIL: trata-se da lesão de alto grau relacionada ao HPV, que consiste na neoplasia mais frequente, relacionada ao HPV, permanecendo por longos anos nas mulheres, mas com baixas taxas de progressão para o carcinoma vulvar. Fatores de risco incluem promiscuidade e tabagismo. NIV: a VIN não se relaciona ao HPV, afeta mulheres em faixa etária mais elevada, sendo associada a dermatoses como líquen escleroso. Tem alto potencial de progressão para o carcinoma invasor e podem ser tratadas com imiquimode ou ressecada. Câncer de Vulva É a 4° neoplasia genital feminina mais comum e é mais frequentemente sintomática com queixa de prurido vulvar crônico, em geral em grandes lábios. Diagnóstico: os carcinomas podem ser escamosos (mais de 80%), de Paget, não-escamosos e melanomas.Quando se identifica uma lesão suspeita e se associa o sintoma do prurido, em especial na paciente mais velha, deve-se investigar para confirmação histopatológica. Estadiamento: considera-se I lesão restrito à vulva e períneo, II se maior que II cm com invasão maior que 1 mm; III se envolve uretra, vagina ou ânus e metastiza para linfonodos inguinais e IV se invade estes órgãos ou outros linfonodos. O tratamento é cirúrgico e tende a ser o mais conservador possível, desde que diagnosticado precocemente (evitando danos psicossexuais). Câncer da Vagina O câncer primário da vagina, assim como o de tuba uterina, costuma ser raro e corresponder a 1-2% dos cânceres ginecológicos. Identificam-se como fatores de risco a infecção pelo HPV, imunossupressão, irradiação prévia e exposição ao dietilestilbestrol na vida fetal. Lesões Precursoras De forma semelhante às Neoplasias Intraepiteliais Cervicais, há as NIVAs ou Neoplasias Intravaginais, que são divididas em baixo grau (NIVA 1) ou alto grau (NIVAs 2 e 3), sendo que nos casos de NIVA 3 não tratada, 20% pode evoluir com carcinoma invasivo em 3 anos. Pode haver como sinais a sinusorragia e corrimento vaginal sanguinolento, devendo-se prestar atenção em especial a pacientes imunossuprimidas (realizar a virada do espéculo para avaliar a vagina). Câncer de Vagina Essa neoplasia é a 5° em frequência entre as neoplasias genitais, estando relacionada principalmente a queixas de sinusorragia e corrimento sanguinolento, que não são tão específicos. Caso não se realize a viragem do espéculo, dificilmente o examinador poderá notar as lesões suspeitas, não realizando biópsia dessas. Diagnóstico: a confirmação é histológica por meio de biópsia da lesão, que é denunciada como uma área schiller-positiva. Caso o examinador realize coleta da citologia tríplice, as alterações são apena sugestivas e por isso, a confirmação histopatológica deve ser feita. O tipo mais comum é o carcinoma escamocelular (90%). Estadiamento: são classificadas em I (limitado a parede vaginal), II (não envolve a parede pélvica), III (atinge a parede pélvica) e IV (ultrapassa a pelve verdadeira). O tratamento quase sempre envolve a radioterapia, sendo que se pode associar o tratamento cirúrgico. Gabriel Torres→ Uncisal→ Med52→ Patologias da Vulva e Vagina
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