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RESUMO TRATADO DE FISIOLOGIA: GUYTON Força da contração A força da contração cardíaca depende muito da concentração de íons cálcio nos líquidos extracelulares – o coração colocado em solução livre de cálcio rapidamente para de bater. Isso porque as aberturas dos túbulos T passam diretamente através da membrana da célula miocárdica para o espaço extracelular, ao redor das células, permitindo que esse mesmo líquido extracelular, presente no interstício miocárdico, circule pelos próprios túbulos T. Consequentemente, a quantidade de íons cálcio, no sistema de túbulos T (isto é, a disponibilidade de íons cálcio para ocasionar a contração cardíaca), depende, em grande parte, da concentração de íons cálcio no líquido extracelular. O ciclo cardíaco A ritmicidade necessária do coração só é possível porque o tecido cardíaco é excitável e as fibras musculares são contráteis – existe capacidade de condução elétrica, capacidade excitatória e capacidade contrátil. O conjunto dos eventos cardíacos, que ocorre entre o início de um batimento e o início do próximo, é denominado ciclo cardíaco. Cada ciclo é iniciado pela geração espontânea de potencial de ação no nó sinusal. Esse nó está situado na parede lateral superior do átrio direito, próximo da abertura da veia cava superior, e o potencial de ação se difunde desse ponto rapidamente por ambos os átrios e, depois, por meio do feixe A-V para os ventrículos. Em virtude dessa disposição especial do sistema de condução, há retardo de mais de 0,1 segundo na passagem do impulso cardíaco dos átrios para os ventrículos. Esse retardo permite que os átrios se contraiam antes dos ventrículos, bombeando, assim, sangue para o interior dos ventrículos antes do começo da forte contração ventricular. O ciclo cardíaco consiste no período de relaxamento, chamado diástole, durante o qual o coração se enche de sangue, seguido pelo período de contração, chamado sístole. A duração total do ciclo cardíaco, incluindo a sístole e a diástole, é a recíproca da frequência cardíaca. Por exemplo, se a frequência cardíaca é de 72 batimentos/min, a duração do ciclo cardíaco é de 1/72 batimentos/min. A frequência cardíaca se dá aproximadamente de 60 a 100 bpm – normocardia. Abaixo de 60 bpm bradicardia e acima de 100 bpm taquicardia. 1. Diástole ventricular + sístole atrial Durante a diástole ventricular, a câmara ventricular está sofrendo dilatação. Antes das valvas se abrirem, o músculo cardíaco está ampliando seu diâmetro. Há, então, aumento do volume dentro das câmaras ventriculares e redução da pressão no interior dos ventrículos em um sistema fechado (valvas fechadas). Quando o ventrículo está relaxando, com todas as valvas fechadas, é chamado de fase de relaxamento isovolumétrico. Está havendo dilatação, mas não há mudança da quantidade de volume dentro do ventrículo. A pressão reduzida tende a trazer as valvas atrioventriculares no sentido da sua abertura – no sentido do ventrículo – por uma pressão aspirativa. As valvas semilunares, diferentemente das atrioventriculares, não sofrem abertura no sentido do ventrículo, mas, sim, no sentido da aorta (aórtica) e do tronco pulmonar (pulmonar). A pressão aspirativa na região ventricular puxa as valvas atrioventriculares no sentido da abertura e as semilunares no sentido do fechamento. O sangue da região atrial passa para a região ventricular por diferença de pressão – fase de enchimento rápido ventricular; 80% do sangue que vai passar para dentro do ventrículo – primeiro terço da diástole. Sangue que se choca com as paredes ventriculares e com remanescente de sangue do ventrículo gera uma sonoridade – a terceira bulha cardíaca. A pressão dentro do ventrículo vai aumentando e dificultando a entrada de mais sangue por diferença de pressão. É nesse momento que os átrios sofrem contração – sístole atrial – e as paredes atriais comprimem o sangue atrial, deslocando os 20% que não entraram na fase de enchimento rápido – último terço da diástole. A pressão se eleva na câmara ventricular, de forma que o sangue impulsiona de forma passiva os folhetos das valvas atrioventriculares no sentido do seu fechamento – quantidade de volume máxima dentro do ventrículo – cerca de 120mL de sangue – volume diastólico final. 2. Sístole ventricular + diástole atrial Nesse momento, as valvas atrioventriculares e semilunares estão todas fechadas. Paredes ventriculares começam a se contrair. A contração do ventrículo com as válvulas fechadas é denominada fase de contração isovolumétrica. A pressão ventricular eleva – aumenta proporcionalmente na medida em que os ventrículos intensificam a contração. A elevação da pressão ventricular não permite que as valvas atrioventriculares se abram no sentido do átrio, porque a contração da parede ventricular induz ao mesmo tempo a contração dos músculos papilares, que tensionam as cordas tendíneas, as quais estão ligadas às valvas atrioventriculares – evita eversão das valvas e regurgitamento de sangue para a câmara atrial. Para que ocorra a abertura das valvas semilunares é preciso atingir um valor de pressão, que envolve: força necessária para vencer a passividade da valva + força necessária para vencer a força de resistência dos grandes vasos + força necessária para vencer a força de resistência elástica dos grandes vasos – 80mmHg para a valva aórtica e 8mmHg para a valva pulmonar. Depois que a valva se abre, os ventrículos ainda continuam sua contração, atingindo o pico pressórico – 120mmHg do lado esquerdo e 25mmHg do lado direito – a pressão arterial sistólica. A pressão arterial diastólica é a pressão necessária para vencer as forças resistivas ao trabalho ventricular na abertura da valva semilunar – pressão de enchimento sistêmica. A partir da abertura das valvas semilunares, há a ejeção do sangue pelos ventrículos. Em torno de 60% do sangue do ventrículo no final da diástole são ejetados durante a sístole; cerca de 70% dessa porção são ejetados durante o primeiro terço do período de ejeção – ejeção rápida, e os 30% restantes do esvaziamento ocorrem nos outros dois terços do período – ejeção lenta. O volume de sangue propulsionado é denominado débito sistólico/volume sistólico (stroke volume) – 70mL. Não é todo sangue que saiu do ventrículo. Volume sistólico final de 50mL. A pressão volta a ficar reduzida dentro do ventrículo e o coração entra na fase de relaxamento. O ventrículo aumenta o diâmetro e a força aspirativa puxa passivamente as valvas semilunares no sentido do seu fechamento. Inicia-se novamente a diástole ventricular. A força aspirativa ventricular traz sangue da própria aorta no sentido de retorno aos ventrículos. Sangue sugado no sentido do retorno perfunde as artérias coronárias durante a diástole ventricular. Se a perfusão coronariana acontecesse na hora da sístole, a pressão nas artérias coronárias seria muito intensa. Como ocorre na diástole, protege as coronárias no ponto de vista hemodinâmico. Os óstios nas aberturas das artérias coronárias – na hora da sístole e abertura da semilunar aórtica – permanecem obstruídos – evita direcionamento de sangue para as coronárias na hora da sístole. Circulação pulmonar envolve um sistema cardiovascular de alta complacência e baixa resistência; circulação menor que a sistêmica, por isso menor força para propulsão do sangue em direção aos pulmões. Pulmões na altura do coração. Na hora da sístole, o sangue é propulsionado para dentro da aorta, a pressão eleva e atinge o pico de 120mmHg. À medida que o sangue vai percorrendo para a região adiante dos vasos e os ventrículos entrando em relaxamento, a pressão do arco da aorta vai abaixando. Conforme a valva aórtica é puxadano sentido do fechamento e o sangue no sentido do seu retorno, o recuo elástico das paredes arteriais – da artéria aorta – gera uma nova elevação de pressão do sangue nesse local da aorta. O pico de pressão da sístole, queda de pressão da diástole, seguido de elevação breve devido ao recuo elástico da parede aórtica, gera uma incisura no gráfico de pressão. Essa incisura pode ser modificada de acordo com a resistência e a modificação das paredes do arco da artéria aorta, assim como o nível de resistência que a aorta pode impor. À medida com que esse sangue vai trafegando pelos vasos do sistema da grande circulação, cada volume de sangue passando por cada parte vai dilatando a região arterial e promovendo um pulso – o qual é palpável e podemos contar. O coração exerce um trabalho mecânico de contração que é convertido em grande energia potencial de propagação desse volume de sangue adiante. De acordo com que o coração aumenta a força de contração miocárdica, ele aumenta o volume sistólico ejetado. O tempo de sístole gira em torno de 40% de um ciclo cardíaco. Se considerarmos uma frequência de 100 bpm, o ciclo cardíaco teria um tempo aproximado de 1,6 segundos. O tempo de sístole é de aproximadamente 0,6 segundos, enquanto 1 segundo em diástole. No repouso há um grande tempo de escoamento e perfusão coronariana. Quando a frequência cardíaca aumenta, a duração de cada ciclo cardíaco diminui, incluindo as fases de contração e relaxamento. Ex.: frequência de 200 bpm, o tempo de sístole é maior, cerca de 65% do tempo – a contração dura mais e o relaxamento menos, o trabalho é modificado. Redução do tempo de perfusão coronariana – pode não dar tempo de preencher todo o sistema coronariano. Faltando sangue para enchimento coronariano, a tendência desses vasos é colabar, gerando pequenas zonas de isquemia transitórias. Fração de ejeção (70mL/120mL = aproximadamente 60%): proporção de sangue que efetivamente foi ejetada em relação à proporção de sangue que efetivamente tinha dentro do ventrículo (volume diastólico final). As valvas cardíacas evitam o refluxo de sangue durante a sístole As valvas A-V (isto é, tricúspide e mitral) evitam o refluxo de sangue dos ventrículos para os átrios durante a sístole, e as valvas semilunares (isto é, as valvas aórtica e da artéria pulmonar) impedem o refluxo da aorta e das artérias pulmonares para os ventrículos durante a diástole. Os músculos papilares contraem-se ao mesmo tempo em que as paredes dos ventrículos, mas ao contrário do que seria esperado não ajudam as valvas a se fechar. Em vez disso, eles puxam as extremidades das valvas em direção aos ventrículos para evitar que as valvas sejam muito abauladas para trás, em direção aos átrios, durante a contração ventricular. Produção de Trabalho pelo Coração O trabalho sistólico do coração (stroke work output) é a quantidade de energia que o coração converte em trabalho a cada batimento, ao bombear o sangue para as artérias. O trabalho sistólico-minuto (minute work output) é a quantidade total de energia convertida em trabalho em 1 minuto, ou seja, o resultado do trabalho produzido multiplicado pelo número de batimentos por minuto (ou frequência cardíaca). A curva de pressão diastólica é determinada pelo enchimento do coração com volumes progressivamente crescentes de sangue, medindo- se, então, a pressão diastólica imediatamente antes do início da contração ventricular, que é a chamada pressão diastólica final do ventrículo. A curva de pressão sistólica é determinada pela medida da pressão sistólica, durante a contração ventricular, para cada volume de enchimento. Observa-se que, até que o volume do ventrículo não contraído ultrapasse o valor de 150 mL, a pressão “diastólica” não chega a aumentar muito. Desse modo, até esse volume, o sangue pode fluir facilmente do átrio para o ventrículo. Acima de 150 mL, a pressão diastólica ventricular sobe rapidamente, em parte por causa do tecido fibroso cardíaco, que não se distenderá mais, e, em parte, porque o pericárdio que envolve o coração está praticamente em seu limite de volume. Durante a contração ventricular, a pressão “sistólica” se eleva, mesmo com volumes ventriculares baixos, e atinge o máximo com volumes entre 150 e 170 mL. A partir daí, à medida que o volume aumenta ainda mais, a pressão sistólica na realidade diminui sob certas condições, como demonstrado pela porção descendente da curva, pois, com grandes volumes como esses, os filamentos de actina e miosina das fibras do músculo cardíaco ficam afastados o suficiente para que a força da contração de cada fibra seja menor que a ótima. As linhas vermelhas na Figura 9-9 formam a alça denominada diagrama volume-pressão do ciclo cardíaco para o funcionamento normal do ventrículo esquerdo. Uma versão mais detalhada da alça é mostrada na Figura 9-10. Essa alça é dividida em quatro fases: Fase I: Período de enchimento. À medida que o sangue venoso flui do átrio esquerdo para o ventrículo, o volume ventricular normalmente sobe para cerca de 120 mL, sendo esse o volume diastólico final, ou seja, um aumento de 70 mL. Portanto, essa primeira fase é representada pela linha “I” na Figura 9-9 do diagrama volume-pressão, do ponto A ao ponto B na Figura 9-10, com o aumento de volume atingindo 120 mL, e a pressão diastólica subindo para cerca de 5 a 7 mmHg. Fase II: Período de contração isovolumétrica. Durante a contração isovolumétrica, o volume do ventrículo não se altera, pois todas as válvulas estão fechadas. No entanto, a pressão no interior do ventrículo aumenta até igualar a pressão na aorta, no valor em torno de 80 mmHg, como indicado pelo ponto C (Fig. 9-10). Fase III: Período de ejeção. Durante a ejeção, a pressão sistólica aumenta ainda mais, uma vez que o ventrículo continua a se contrair. Ao mesmo tempo, o volume do ventrículo diminui, pois a valva aórtica agora já está aberta e o sangue flui do interior do ventrículo para a aorta. Fase IV: Período de relaxamento isovolumétrico. Ao final do período de ejeção (ponto D; Fig. 9-10), a válvula aórtica se fecha, e a pressão ventricular retorna ao valor da pressão diastólica. A área delimitada por esse diagrama funcional volume-pressão (área sombreada, demarcada como EW) representa a produção efetiva de trabalho externo (net external work output) do ventrículo durante o ciclo de contração. Quando o coração bombeia grandes quantidades de sangue, a área do diagrama de trabalho se alarga muito. Ou seja, ela se estende muito para a direita, pois o ventrículo se enche com mais sangue durante a diástole; e se eleva mais, pois o ventrículo se contrai com maior pressão; e normalmente se prolonga mais para a esquerda, pois o ventrículo se contrai até volume menor — especialmente se o ventrículo for estimulado à maior atividade pelo sistema nervoso simpático.
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