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HIPOSPADIA HIPOSPADIA É a segunda malformação genital mais comum, resultante da não fusão ventral do tubérculo genital do pênis do feto. Consequentemente, ocorre desenvolvimento incompleto de porção distal da uretra, do corpo esponjoso, do prepúcio e, nos defeitos graves, até do corpo cavernoso e do escroto, resultando em vários defeitos genitais, tais como: ▪ Posicionamento mais proximal do meato uretral, na porção anterior do corpo do pênis. ▪ Glande aberta, bífida. ▪ Uretra distal aberta, como uma placa. ▪ Não fechamento do corpo esponjoso em sua porção distal, que fica bífido e hipoplásico. ▪ Não fechamento ventral do prepúcio, que fica aberto como um capuz. ▪ Déficit de pele na porção ventral do pênis. ▪ Encurvamento ventral do pênis. ▪ Alterações no escroto. ▪ Pode haver rotação lateral do pênis. Sua etiofisopatogenia estaria relacionada à alteração do metabolismo dos andrógenos do feto, que poderia ser secundário a fatores genéticos e ambientais, como exposição da mãe a disruptores endócrinos e uso de estrógenos pela mãe, durante a gravidez. Também ocorre com maior frequência em prematuros e em fetos com mães com insuficiência placentária. Existem ainda associações com hérnia inguinal, criptorquia, desordens do desenvolvimento sexual (DDS) e outras uropatias. DIAGNOSTICO ▪ Casos graves: pode suspeitar no pré-natal através da USG obstétrica ▪ RN: exame físico através da avaliação da genitália o Identificação da posição anômala do meato uretral, deve-se verificar a presença dos testículos, o tamanho do pênis, a presença e o grau de encurvamento peniano e a morfologia do escroto. Quanto mais proximal a posição do meato uretral, mais acentuado é o encurvamento peniano, pior a qualidade da placa uretral e do corpo esponjoso CLASSIFICAÇÃO A mais utilizada é a que se considera a posição do meato uretral: ▪ Glandar (na glande) ▪ Peniana distal ▪ Peniana média ▪ Peniana proximal ▪ Escrotal ▪ Perineal HIPOSPADIA Outra forma de classificar é de forma proximal ou distal, levando em consideração o grau de encurvamento peniano e à presença ou não de placa uretral rudimentar (avaliando a necessidade de substituir a uretra). ▪ Proximal – Quando o encurvamento peniano é acentuado (mais de 50º), e todos os casos em que o meato estiver em posição peniana proximal, escrotal ou perineal. ▪ Distal - meato em posição peniana distal e com encurvamento peniano ventral leve (30º a 40º) Exemplo: meato em posição peniana distal, porém associado a encurvamento peniano acentuado, com mais de 50º - caso proximal APRESENTAÇÃO ESPECIAL Um tipo menos comum de apresentação é a hipospádia peniana distal, porém com prepúcio normal (fechado) e sem encurvamento peniano. Nessa situação, o diagnóstico costuma ser mais tardio, feito apenas após a liberação das aderências balanoprepuciais, haja vista que a criança não costuma apresentar alteração do jato urinário. Outro tipo de hipospadia é a forma frustra: encurvamento peniano, alteração do prepúcio ou do esponjoso, isoladas ou associadas, porém com meato uretral em posição tópica na glande Outro tipo de hipospádia a considerar seriam os casos reoperados várias vezes, em que há muita fibrose cicatricial (seta) na região anterior do pênis, e ausência de prepúcio dorsal → hipospadia cripple DIAGNOSTICO DIFERENCIAL Os principais diagnósticos diferenciais são com os diversos tipos de distúrbios da diferenciação sexual (DDS). Deve-se aventar a possibilidade de DDS quando: ▪ Em um caso de hipospádia, mesmo que distal, em que não se palpa uma ou as duas gônadas. ▪ Nos casos de hipospádia escrotal ou perineal, mesmo com as gônadas palpáveis. ▪ Casos com falus pequeno, associado ou não a anomalias escrotais, e independentemente da presença das gônadas TRATAMENTO É sempre feito de forma cirúrgica → Os únicos casos em que o tratamento cirúrgico não seria requisitado são nas hipospadias glandulares, sem encurvamento peniano e com jato urinário adequado, a não ser que o paciente queira fazer por motivos estéticos. A idade da correção é motivo de controvérsia. A maioria dos autores recomenda a intervenção entre os 6-12 meses de vida. Caso haja necessidade de reintervenção, deve ser feita após 6 meses. → Há recomendação de que não se realize qualquer tipo de intervenção na genitália na fase genital freudiana, que vai dos 18 meses até os 4 anos de vida, isso para minimizar possíveis sequelas psicológicas. Existem mais de 300 técnicas cirúrgicas, sendo que o objetivo final da cirurgia é: reconstruir a uretra, com o meato tópico em forma de fenda, glande cônica e sem encurvamento peniano. Para isso, divide-se a correção em vários tempos operatórios: ▪ Correção do encurvamento peniano. ▪ Uretroplastia ▪ Esponjosoplastia ▪ Cobertura da sutura da uretroplastia, com retalho de tecidos adjacentes ou a distância ▪ Glanduloplastia. ▪ Prepucioplastia. ▪ Escrotoplastia. HIPOSPADIA CORREÇÃO DO ENCURVAMENTO PENIANO ▪ Casos leves (< 30º) Usualmente, apenas é necessário a liberação da pele do pênis e a secção de aderências no corpo cavernoso ▪ Encurvamentos moderados (até 30º a 50º) Dorsoplicaturas → podem ser realizadas na linha média e única ou bilateral (às 10 e às 14 horas) Linha média ▪ Acentuados (mais de 50º) Pode-se necessitar seccionar a placa uretral (serve como parede uretral dorsal e um retalho vascular onlay do tecido do prepúcio interno cria a uretra ventral), além de realizar dorsoplicatura → Entretanto, se a placa uretral for de boa qualidade e não contribuir para o encurvamento, pode-se manter a placa uretral e realizar também dorsoplicaturas no pênis. Uma alternativa à dorsoplicatura nesses casos seriam técnicas de alongamento ventral do pênis, como realizar secções ventrais transversais na fáscia de Buck, no ponto de maior encurvamento. URETROPLASTIA Hipospadia distal e mediopenianas com encurvamento leve a moderado e boa placa uretral → TIP, que consiste na incisão longitudinal na linha média da placa uretral, com sua subsequente tubularização Hipospadia peniana proximal em que não haja encurvamento peniano acentuada + placa uretral for razoável → pode-se manter estas última e realizar TIP longo Se a placa uretral for estreita, pode-se também optar por TIP longo, porém realizando enxerto de mucosa de prepúcio, na falha obtida após a incisão (conhecido como dorsal in-lay ou Snodgraft). Porém, se a placa uretral for de qualidade ruim pode-se manter a placa uretral e reconstruí-la com retalho de mucosa de prepúcio em calha, conhecido como on-lay island. Hipospádias escrotal ou perineal, usualmente associadas a encurvamento peniano grave: deve avaliar a qualidade da placa uretral. ▪ Se for razoável e não contribuir para o encurvamento peniano (o que não é comum), pode-se realizar TIP longo, usando enxerto de mucosa de prepúcio in-lay. ▪ Se a placa uretral for rudimentar e contribuir para o encurvamento peniano, deve ser seccionada ou ressecada. A técnica mais utilizada atualmente para esses casos é o tratamento por etapas (descrito por Bracka). o Em um primeiro tempo se corrige o encurvamento peniano e se implanta enxerto de mucosa de prepúcio na região ventral do pênis. o Em um segundo tempo, após seis meses, tubulariza-se esse enxerto HIPOSPADIA Hipospádia reoperadas, proximais ou distais, em que haja muitas cicatrizes e não exista mais prepúcio (hipospádia cripple): a conduta mais aceita seria também a reconstrução por etapas (como descrito por Bracka), com a opção do uso de enxerto de mucosa oral. COMPLICAÇÕES Não são poucas, inclusive tardia, por isso, o ideal é que o acompanhamento deve se estender até que se termine o desenvolvimento do pênis, próximo à idade adulta.A principal complicação é a fistula urinária, principalmente nos casos proximais. A chance da fistula se resolver espontaneamente é pequena e a maioria requer novo tratamento cirúrgico seis meses após a ultima intervenção Outra complicação é a estenose da uretroplastia que pode ser precoce ou tardia. Essa estenose pode levar a fistulas uretrais ou em divertículo da neouretra Pode ocorrer também a recidiva tardia do encurvamento peniano → secundária à displasia acentuada no corpo cavernoso, por crescimento menor e desproporcional da neouretra ou por escolha inadequada da técnica operatória da correção do encurvamento. E por último, há a infecção de ferida operatória que é uma complicação temida no pós-operatório mediato e que pode propiciar a deiscência da sutura do prepúcio, bem como da uretroplastia. Isso pode acarretar a necessidade de reoperar a criança, às vezes até de refazer parte ou toda a uretroplastia.