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1 SIMONE MICOS DOS SANTOS PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO 1ª Edição 2018 Curitiba-PR Editora São Braz 2 FICHA TÉCNICA Direção Geral Silvio Nobuyuki Akiyoshi Diretor Comercial Vagner Cauneto Coordenação do Curso Leandra Felicia Martins Coordenação de Educação a Distância Wanderlane Gurgel do Amaral Projeto Instrucional Materson Christofer Martins Wanderlane Gurgel do Amaral Diagramação Lucas Conceição Gomes Catalogação na fonte da Biblioteca da Faculdade 3 Palavra da professora-autora Olá querido, querida estudante! Quero lhe dar boas-vindas à disciplina Dificuldades de Aprendizagem Esta matéria visa proporcionar um conhecimento sobre os principais conceitos da Psicologia e sua correlação com a Educação. Mas, lembre-se, é muito importante que você leia atentamente este livro, assista às videoaula e faça as atividades propostas, pois, estas são as ferramentas pedagógicas que lhe darão suporte para a aquisição dos conhecimentos propostos para esta disciplina. Espero que possamos fazer um bom trabalho juntos e desejo-lhe bons estudos! Professora Simone Micos dos Santos. 4 Aula 1 – Elaboração do conhecimento em psicologia 5 Olá, seja bem-vindo, seja bem-vinda à primeira aula de “Psicologia da Educação”. Nesta aula abordaremos os fundamentos da construção do conhecimento em Psicologia e alguns de seus mais importantes autores. Figura 1.1: Alegoria da caverna Fonte: © Freepik Para que possamos refletir, o convido a iniciar seus estudos com a leitura de um pequeno trecho da Alegoria da Caverna do filósofo grego Platão (c. 428– 348 a.C.): “Prisioneiros acorrentados no interior de uma caverna conseguem olhar somente uma parede iluminada por uma fogueira, em que ficam visíveis as sombras projetadas do mundo fora da caverna. Essas sombras são tudo o que os prisioneiros enxergaram a vida inteira. Imagine que um destes prisioneiros sai das amarras que o prendem e é obrigado a sair do interior da caverna. Ele veria que as sombras eram na verdade seres reais, corpóreos. Perceberia que passou a vida inteira julgando sombras e ilusões, desconhecendo a verdade e que se voltasse e contasse a seus companheiros sobre o que vira, seria julgado como louco, irracional [...]”. 6 Que nesta aula e, em nossa prática, possamos enxergar para além do que nossos olhos podem ver. 1.1 Epistemologia da Psicologia A epistemologia é uma das principais áreas da filosofia e tem como objetivo estudar a origem, o método e a validade do conhecimento científico. Platão exerceu grande influência no pensamento científico ao opor crenças e opiniões ao conhecimento, ou seja, para que um conhecimento seja considerado válido é preciso que haja um objeto de estudo definido e este passe por análises e validações. A psicologia foi proposta como ciência por Wilhelm Wundt e William James. Segundo José Antônio Damásio Abib (2009) a Epistemologia da Psicologia é pluralizada, pois além de contar hoje com inúmeras vertentes teóricas, já no momento de sua proposição enquanto ciência, Wundt e James apresentavam concepções diferentes de ciência psicológica. Wundt e James concordaram com uma coisa: que a psicologia deveria ser afastada de temas metafísicos. Mas, para Wundt ela é empírica, ou seja, é focada na causalidade psíquica, analisa a experiência a partir da própria experiência. Já para James, a psicologia é natural e estuda fatos mentais, descrevendo-os e examinando-os em relação com o ambiente físico e as atividades cerebrais e corporais que deles decorrem. Além de Wundt e James, alguns importantes autores publicaram e realizaram estudos que favoreceram a criação da Psicologia. Alguns dos mais importantes, são: René Descartes publica As paixões da alma, afirmando que corpo e alma são entidades distintas (1649). O filósofo e psicólogo alemão Johann Friedrich Herbart escreve o Compêndio de Psicologia, e relata que a mente dinâmica possui um consciente e um inconsciente (1816). José Custódio de Faria, nascido em Goa, também conhecido como o Abade Faria, investiga a hipnose no livro Da causa do sonho lúcido (1813). 7 O filósofo e teólogo dinamarquês Kierkegaard publica o livro O desespero humano e marca o início do existencialismo (1849). O médico e antropólogo francês Pierre Paul Broca descobre que os hemisfério esquerdo e direito do cérebro desempenham funções distintas (1861). O antropólogo, meteorologista, matemático e estatístico inglês Francis Galton sugere em seu livro O gênio hereditário que a criação é mais importante do que a natureza (1869). O médico, anatomista, psiquiatra e neuropatologista polonês Carl Wernicke demonstra evidências de que danos em áreas específicas do cérebro causam a perda de habilidades especificas (1874). O médico e cientista francês Jean-Martin Charcot, que mais tarde influenciará os estudos de Sigmund Freud, produz suas Lições sobre as doenças do sistema nervoso (1877). O médico e filósofo Wilhelm Wundt abre o primeiro laboratório de psicologia experimental na Alemanha (1879). O psiquiatra alemão Emil Kraepelin, ao publicar o Compêndio de Psiquiatria (1883), classificou duas formas de psicose: a maníaco-depressiva e a demência precoce. O alemão Hermann Ebbinghaus descreveu os primeiros testes de inteligência no livro Memória (1885). O psicólogo estadunidense G. Stanley Hall, publica a primeira edição do American Journal of Psychology (1887). O psicólogo, psiquiatra e neurologista francês Pierre Janet sugere teoria de que a histeria envolve dissociação e divisão de personalidade em 1889. Médico estadunidense, foi um dos fundadores da psicologia moderna, William James, um dos pais da psicologia, publica Os princípios da psicologia em 1890. O pedagogo e psicólogo francês Alfred Binet abre um laboratório de psicodiagnóstico em 1895. Desde então, a psicologia cresceu e se desenvolveu por meio de diferentes abordagens e formas de pensar no ser humano. Em alguns momentos https://pt.wikipedia.org/wiki/Psicose_man%C3%ADaco-depressiva https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Dem%C3%AAncia_precoce&action=edit&redlink=1 https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Dem%C3%AAncia_precoce&action=edit&redlink=1 8 estas abordagens mostram-se conflitantes entre si. Estudaremos alguns dos importantes autores da psicologia, focando naqueles que apresentaram também grande contribuição para a educação. 1.2 Grandes autores da Psicologia da Educação Como pensar na psicologia da educação sem trazer as contribuições dos grandes autores sobre o assunto? O que Skinner, Freud e Piaget têm a dizer sobre o tema? É importante lembrar que cada autor pensa sua teoria de um modo particular e que elas podem ser conflitantes entre si, o que não quer dizer que uma esteja errada e outra certa, mas que existem diversas formas de pensar uma mesma coisa. Com qual teoria será que você se identifica mais? Figura 1.2: Atendimento Psicológico Fonte: © Freepik 1.2.1 A psicologia da educação por Freud É importante frisar de que o próprio Sigmund Freud (1856–1939) nunca publicou nada relacionado claramente à aprendizagem, pois suas preocupações se voltavam para o contexto clínico. Mas obviamente, muitos de seus 9 ensinamentos se tornaram extremamente úteis para a aplicação prática da educação, como em tantos outros campos. Saiba mais Sigmund Freud, médico neurologista, nasceu em Freiberg in Mähren, cidade que hoje pertence à República Tcheca. Começou os estudos utilizando a hipnose no tratamento de pessoas com histeria, para acessar seus conteúdos mentais. Ao perceber a melhora depacientes do médico francês Charcot, elaborou a hipótese de que a causa da histeria era psicológica e não orgânica. A partir de então elaborou o conceito de inconsciente. Criou ainda um novo método: a psicanálise, a cura pela fala, utilizando a interpretação de sonhos e a livre associação para acessar ao inconsciente. Anna Freud, sua filha, procurou mostrar aos educadores a forma como Freud pensava o desenvolvimento da criança e investigou o surgimento das preocupações que a criança possui e sua curiosidade. Para Sigmund Freud, o momento de maior determinação na vida do indivíduo é o momento da descoberta da diferença sexual anatômica entre os sexos, que causará diversos efeitos em meninas e meninos – tema amplo e denso, que não é nosso objetivo principal nesta aula. Mas o que é importante frisar é que ao descobrir a diferença sexual, as crianças ficam marcadas por esta e é a partir disto que se marca a falta, um dos temas centrais na teoria freudiana. Para a psicanálise é a falta (a descoberta da diferença sexual anatômica) que irá mover o sujeito e, fazê-lo ir atrás de seu desejo. Sem falta não haveria desejo. Mas a falta é também a grande causadora da angústia, que pode se tornar insuportável ao sujeito e é por isso que, tanto as crianças quanto os adultos irão fazer a sublimação. Glossário A sublimação como mecanismo de defesa é a transformação de impulsos indesejados em algo menos prejudicial, por exemplo, desenhar ou escrever pode ser uma forma de sublimar instintos reprimidos. Ao descobrir a diferença sexual anatômica, as crianças passarão a investigar questões da sexualidade infantil a fim de mascarar a angústia advinda das descobertas e da falta. Em outro tempo, esta investigação é reprimida da consciência e a criança passa a exercer certa curiosidade para outros campos, sublimando sua angústia para uma pulsão de saber, pois para Freud o saber e https://pt.wikipedia.org/wiki/Psican%C3%A1lise https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Interpreta%C3%A7%C3%A3o_dos_Sonhos https://pt.wikipedia.org/wiki/Livre_associa%C3%A7%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Livre_associa%C3%A7%C3%A3o 10 o dominar estariam no mesmo patamar. Desta forma, é possível encontrar uma forma de dominar a angústia: o saber! Mas atenção, este saber pode se voltar aos mais variados campos. Porque é importante saber disto? Para compreender que a criança tem em si um impulso de investigação e que a curiosidade pode se apresentar das mais variadas maneiras. É importante, portanto, que os professores estejam atentos sobre como isto se manifesta na criança, para que não a prive de sua vontade de aprender. Na psicanálise, não há um percurso pré-fixado do desenvolvimento infantil, como ocorre na teoria Piagetiana, por exemplo. Para Freud não há uma concepção de que já existe uma programação de como o desenvolvimento infantil irá suceder, muito pelo contrário, a criança é ativa no seu próprio desenvolvimento, pois é ela quem faz investigações e são estas que a ajudam em seu desenvolvimento psíquico. Portanto, existem determinantes que fazem com que a criança deseje – por si própria – aprender, mas além disso ela necessita de alguém que faço o papel de intermediário na aprendizagem, no caso, os professores. Para a psicanálise, aprender é um processo no qual um professor ocupa para o estudante uma posição que pode ou não propiciar aprendizagem. A relação de aprendizagem sempre conta com um outro, mesmo no caso dos autodidatas é criada a figura de alguém, em forma de livro ou uma figura imaginária. A aprendizagem acontece na relação ensinante–ensinado. Um professor só é capaz de transmitir conhecimento se é autorizado pelo estudante, esteja ele dizendo a verdade ou não. Quem ouve o professor precisa ter dado a este um lugar especial em sua vida. Dessa forma, o mestre ganha papel de influência em relação ao estudante. Em determinada fase do desenvolvimento, o mestre recebe um afeto que antes era dirigido aos pais, um afeto explicado pelo Complexo de Édipo. Kupfer (1998) chega a dizer que a relação professor-estudante pode ser vista como uma reedição de uma relação afetiva primitivamente ligada à figura paterna. Chamamos esta relação de “transferência” e do mesmo modo que um sujeito pode transferir a relação com o pai para a figura do psicólogo, pode fazer isto também na figura do professor, tudo isso inconscientemente. Quem tem certa experiência em salas de aula, sabe que é comum em turmas de crianças 11 pequenas que os estudantes se equivoquem e chamem a professora de mãe ou o professor de pai, a psicanálise nomeará isto de ato falho, ou seja, um ato que evidencia um desejo inconsciente. Saiba mais Para saber mais sobre Complexo de Édipo, leia o artigo Uma Breve Compreensão sobre o Complexo de Édipo, disponível em: <https://psicologado.com/abordagens/psicanalise/uma-breve-compreensao- sobre-o-complexo-de-edipo> Na transferência com o professor está implicado um desejo que possui um sentido especial, pois envolve um vínculo de poder. Este vínculo faz com que o estudante seja muito suscetível ao que o professor fala e acredita e pode tornar possível que o docente seja impulsionado a abusar deste poder para reprimir e rebaixar o estudante, infligindo a ele seus próprios valores e ideias e até mesmo destruindo o desejo do estudante e instaurando seu próprio desejo. Este tipo de pedagogo não será capaz de aceitar discussões e colocará o estudante no papel de objeto e não de sujeito da aprendizagem. Mídias integradas Assista o filme “A Onda” trata-se de um filme alemão de 2008 dirigido por Dennis Gansel. Um professor, ao dar aula sobre autocracia, decide fazer um experimento em sala de aula, criando um grupo fascista. O experimento perde totalmente o controle. O filme exemplifica de forma clara como a relação transferencial com um professor pode exercer a influência na vida dos estudantes. Para assisti-lo acesse o site: <https://www.youtube.com/watch?v=QBKEi8qamKM>. A relação professor e estudante é complicada, pois cada um tem seu próprio desejo inconsciente. O professor dá aula devido a um desejo de ensinar, mas deve abrir mão, em partes, deste desejo para que permita ao estudante ser sujeito de sua própria aprendizagem. As crianças são curiosas, mas sua curiosidade é espontânea e não sistemática, o professor deve trabalhar com essa curiosidade para formar a aprendizagem. Assim como no tratamento analítico, a educação age sem poder prever qual efeito será gerado em seus estudantes. 12 Para Kupfer (1998), o importante não são os conteúdos ensinados, pois estes são somente a ponta do iceberg. A autora ainda evoca uma questão importante, que deve ser pensada e repensada por todos os professores: Como usar o controle e ao mesmo tempo renunciar dele em sala de aula? Como manter o respeito diante dos estudantes, mas sem interferir na subjetividade deles? As respostas para estas perguntas devem advir da busca de cada professor, o caminho precisa ser trilhado por cada um, porque a resposta não está dada, a pergunta é um start para que cada um possa trilhar e seguir sobre seu próprio caminho, mas sempre respeitando seu próprio desejo e o desejo do outro. Os professores guiados pela psicanálise precisam estar cientes de que os estudantes darão mais importância para aquilo que lhes for conveniente e não o que for conveniente a ele, pois cada indivíduo conta com sua própria subjetividade. Permitir isto aos estudantes é essencial para que o sujeito se desenvolva intelectual e pessoalmente. A subjetividade de cada um processa o ensinamento e cria novos conhecimentos. Quando o professor nega o poder que lhe é dado, preserva a essência do estudante e permite a este conquistar a própria autonomia. Desde a formação do professor até a imagem que a sociedade constituiu sobre este profissional,percebemos a idealização dele como um ser humano especial, que não comete falhas e, sua imagem está vinculada a uma ação maternal e sacerdotal. Se todos somos seres faltantes, como podem os professores não o serem? A história construiu essa imagem para os professores, de forma que esses são vistos como modelo para uma humanidade tão faltante, mas o problema é que conviver com este estereótipo constitui grande carga para estes profissionais, quando se sentem envergonhados, por exemplo, ao não saberem algo. Ao negar esta falta, os professores podem acabar abusando de seu poder e reprimindo questões de seus estudantes, por medo de não darem conta do conteúdo. Neste processo, tanto o professor quanto o estudante perdem, pois, a relação de aprendizagem é bilateral, os dois podem usufruir de novos conhecimentos. 13 Para estabelecer uma relação de aprendizagem mais próxima do ideal é importante que os professores “deem conta de não dar conta”, que saiam do lugar da onipotência para o lugar de claudicante, assim tanto o professor quanto o estudante poderão constituir uma relação mais serena com a aprendizagem. É difícil também para o professor dar conta deste lugar que a sociedade lhe confere, mas, mais difícil ainda é abdicar dele, pois seria uma forma de mostrar sua falta e, como a psicanálise nos ensina, o ser humano está sempre buscando negar sua falta. Para a psicanálise, o material ensinado trabalha aquele que ensina e aquele que aprende, nenhum dos dois está isento das ebulições que aquele conteúdo poderá desenrolar em sua subjetividade. A transmissão, seja ela qual for, é sempre de um “saber que não se sabe”, não se sabe no sentido que não é dado por completo, irrefutável e imutável. Nossa relação com o conhecimento precisa estar sempre com possibilidade de mudança, reflexão e reestruturação. Dessa forma, a constituição de um saber por aquele que aprende passa por processos que aquele que ensina ignora e, a construção daquele que ensina precisa dar conta de admitir que não é possível saber a totalidade. A transmissão não é de conhecimento, mas de algo que toca o sujeito. Quando o professor se coloca em uma posição de detentor de todo o saber, acaba por transmitir um conhecimento que não possui. Para Freud, o ensino é um ato. Uma ética. 1.2.2 A psicologia da educação por Skinner 14 Figura 1.3: Burrhus Frederic Skinner (1904-1990) Fonte: Silly rabbit / Wikimedia Commons Burrhus Frederic Skinner (1904-1990), psicólogo estadunidense, foi o fundador da análise do comportamento, também conhecida como behaviorismo. Baseou seus estudos no trabalho do fisiologista russo Ivan Pavlov (1849-1936) e do psicólogo estadunidense John B. Watson (1878-1958). Para Watson, todo comportamento de interesse é aprendido e para que possamos visualizá-lo é necessário analisar seus antecedentes. O cerne da teoria behaviorista é o conceito de comportamento operante, que é caracterizado por um comportamento voluntário, do qual as consequências serão determinantes sobre a probabilidade de sua ocorrência. O processo de condicionamento operante pretende condicionar determinada resposta em um indivíduo, podendo ser a fim de aumentar sua ocorrência ou até mesmo extingui-la. Quando o desejo é aumentar a probabilidade de uma resposta apresentam-se reforços toda vez que o sujeito emite a resposta adequada. Um estímulo só é reforçador se aumentar a possibilidade de o comportamento acontecer e, será positivo quando algo é apresentado ao indivíduo, ou negativo https://commons.wikimedia.org/wiki/User:Silly_rabbit 15 quando algo é retirado. Essa diferença marca que reforçador não é sinônimo de recompensa. Um exemplo de reforçador positivo em sala de aula é quando o professor insere o uso de jogos, atividades lúdicas, ou qualquer outra técnica que favoreça a aprendizagem dos estudantes. Este reforçador aparece para que os sujeitos se sintam cada vez mais dispostos a repetir tal comportamento. Já o reforçador negativo, envolve a retirada de algo do ambiente, como, por exemplo, uma criança não faz as atividades e passa horas jogando videogame, então a mãe o proíbe de jogar até que todos os exercícios estejam prontos e a criança passa então a realizar suas tarefas. Ocorre, muitas vezes, em sala de aula, o uso da punição. A punição acontece da seguinte forma: o professor pretende extinguir um comportamento e toda vez que o estudante emite tal comportamento ele é punido pelo professor. A punição pode ser também positiva ou negativa, quando se apresenta ou retira um estímulo, respectivamente. O próprio Skinner fazia várias ressalvas quanto ao uso da punição, principalmente em ambiente escolar, pois esta pode apresentar efeitos colaterais nocivos ao sujeito. É importante enfatizar a diferença entre o reforço negativo e punição. O reforço negativo é a retirada de uma condição negativa para reforçar um comportamento, enquanto que a punição é apresentar ou retirar um estímulo para enfraquecer um comportamento. A aprendizagem é uma mudança na possibilidade de determinada resposta, mas o que afirma a execução de um comportamento não é a execução em si. Skinner acredita que o foco não está na ação do estudante, mas nas contingências das quais o comportamento é função. A contingência de reforço possui três variáveis: 1) a ocasião em que o comportamento ocorreu; 2) o comportamento em si; 3) as consequências deste comportamento. Para Skinner, um dos grandes problemas da aprendizagem está em criar condições que sejam favoráveis para as consequências do comportamento, portanto, os professores devem arranjar contingências, fornecendo situações em que fique claro o que deve ser observado e adquirido enquanto experiência, para que assim o sujeito possa exercitar os comportamentos ensinados. 16 Para que um reforço ocorra, é importante que a consequência ocorra logo após do comportamento emitido. Portanto, o papel dos professores em sala de aula envolve a montagem de um ambiente que estimule e propicie a aprendizagem do estudante. Os professores devem se questionar sobre os reforçadores que serão utilizados e de que forma estão dispostas as contingências de reforço, tornando a estratégia de ensino mais eficaz. Após a aquisição de um comportamento, Skinner ressalta a importância de que exercícios que repitam a emissão sejam feitos, para que o estudante possa fazer a manutenção e fixação de seu próprio conhecimento. Quando se fala sobre o Behaviorismo e aprendizagem é importante também diferenciar os conceitos de modelação e modelagem. Modelação é um aprendizado que tem origem na herança cultural, por exemplo, sabemos que precisamos nos vestir para sair de casa e que não podemos colocar a mão no fogo. Ou seja, aprendizagem por modelação é aquela que atua nos níveis básicos de sobrevivência e da convivência em sociedade. Já a aprendizagem por modelagem é aquela que ocorre através de reforçamentos progressivos de uma ação, até que aquilo se torne um novo comportamento, por exemplo, o bebê percebe que a mãe espera dele algum tipo de comunicação e balbucia, a mãe se alegra com a nova conquista – o que age como reforçador – e o bebê passa então a emitir novos sons até conseguir dizer sua primeira palavra. O comportamento de incentivo da mãe agiu como reforçador e o bebê, através de tentativas sucessivas, estabeleceu um novo comportamento: a fala. Podemos pensar no mesmo em sala de aula, a própria alfabetização, por exemplo, é adquirida através do processo de modelagem. 17 1.2.3 A psicologia da educação por Piaget Figura 1.4: Jean Piaget Fonte: © Unidentified (Ensian published by University of Michigan) / Wikimedia Commons O modelo de educação segundo a teoria piagetiana baseia-se na aprendizagem ativa do estudante. Para o autor, é precisoque a criança organize suas próprias atividades, com um objetivo mais ou menos preciso (o que pode ser visto como “perda de tempo” para alguns professores). Quando o professor apresenta verdades estruturadas ao estudante para “ganhar tempo”, o estudante perde a oportunidade de realizar suas próprias tentativas e estruturar seu conhecimento. Para Piaget, o ideal seria que os professores adaptassem o material escolar em função do caminho percorrido por cada estudante, mas, para isso é necessário compreender a criança e observá-la. A tese piagetiana acredita que 18 o desenvolvimento cognitivo é marcado por etapas que caracterizam estruturas mentais diferentes. Em cada uma destas etapas, a criança compreenderá e resolverá os problemas de forma diferente e, por isso, é importante entender em que etapa está cada criança (o diagnóstico pode ser obtido por meio do uso das provas piagetianas). Cada estrutura tem seu momento próprio para aparecer. A interação adequada com o ambiente proporcionará que ela possa ser utilizada em sua plenitude. Caso determinada capacidade não seja estimulada em certo momento, acarretará a necessidade de maior esforço por parte do indivíduo posteriormente. Embora a sequência de desenvolvimento seja igual para todas as crianças, a cronologia poderá ser variada para cada um. Por exemplo, três crianças de 5 anos, podem estar em etapas de desenvolvimento diferentes. É importante que o professor avalie a melhor forma de aprendizagem para o estudante. É comum que o professor não alcance sucesso ao ensinar determinada matéria e isto pode se dar pelo fato de que, talvez, este professor esteja ensinando da maneira que lhe parece mais simples, mas como cada um possui uma maneira de aprender, talvez aquela não seja a maneira mais adequada para tal estudante, pode ser que para ele a solução seja outra. É importante perceber como está o aprendiz em seu processo de desenvolvimento e também o que é necessário fazer para que ele progrida. Para que uma criança aprenda, ela precisa compreender o conteúdo. O professor não pode se contentar com simples automatismos. Uma aprendizagem compreensiva necessita que o professor conheça o processo de pensamento do estudante e lhe ofereça questionamentos interessantes para que o estudante possa explorar a questão para além da explicação dos professores. O ensino precisa ser um facilitador do processo de desenvolvimento, não um acelerador e nem uma barreira. Adquirindo o conhecimento de cada etapa, a criança será capaz de aprendizagens mais complexas adiante, mas é preciso que o estudante tenha seu tempo respeitado. Não é suficiente conhecer a resposta do estudante, é preciso entender o caminho percorrido por ele para chegar até ela. Piaget sugere que há quatro estágios nos quais os sujeitos evoluem na aquisição de conhecimentos, de um estado de total desconhecimento até a 19 capacidade de conhecer o que ultrapassa aquilo que está a sua volta. Estão listados a seguir os estágios: 1) Estágio sensório-motor - é o estágio do nascimento até aproximadamente os dois anos de idade. Nele, o indivíduo atinge um nível de equilíbrio biológico e cognitivo que permite constituir uma estrutura linguística, propriamente conceitual. O campo da inteligência da criança se aplica a situações concretas e há o desenvolvimento da coordenação e relação entre ordem e ação, além da diferenciação entre objetos e o próprio corpo. 2) Estágio pré-operatório - acontece entre os dois até os seis/sete anos. Neste estágio, as crianças reproduzem imagens mentais e usam seu pensamento intuitivo para se expressar em uma linguagem comunicativa mais egocêntrica. O pensamento está ligado a elas mesmas. 3) Estágio operatório concreto - presente entre os seis/sete anos até os onze/doze anos. Aqui as crianças já são capazes de aceitar o ponto de vista de outras pessoas e de levar em conta mais de uma perspectiva. Representam transformações e também situações estáticas. Desenvolvem noções de agrupamento, reversibilidade e classificação. Conseguem realizar atividades mais concretas, mas que não exijam abstração. 4) Estágio das operações formais - fase presente entre os onze/doze anos até a vida adulta. É quando ocorre a transição para o modo adulto de pensar. Durante esta fase, o indivíduo se torna apto a raciocinar sobre hipóteses e ideias abstratas. A linguagem tem papel fundamental, pois serve de suporte conceitual. 20 Figura 1.6: Estágio das operações formais Fonte: © Freepik Independente do estágio em que o ser humano se encontra, a aquisição de conhecimentos ocorre na relação entre sujeito e objeto. Esta se dá por processos de assimilação, acomodação e equilibração, em um desenvolvimento mútuo e progressivo. A equilibração acontece por meio de sucessivas situações de equilíbrio – desequilíbrio – reequilíbrio que visam dominar o objeto do conhecimento. A psicologia se estabeleceu como ciência por meio dos estudos de Wundt e James. Já em seu nascimento, fica marcada por uma bifurcação de ideias, pois seus idealizadores a pensam de forma diferente. Até hoje, é possível notar uma grande pluralidade de pensamentos nesta área do conhecimento, fazendo com que haja um grande número de linhas teóricas – muitas vezes, discordantes entre si – e que enxergam o ser humano de forma particular. Seria possível explorar diversos autores da psicologia, mas optei por apresentar a visão de três importantes nomes, que traduzem em sua fala uma grande correlação com o campo da educação, para que possa ser mais proveitoso a você, estudante! Portanto, nesta aula foram citados: Freud, Skinner e Piaget e suas respectivas teorias. Atividade de Aprendizagem 1. Em sua obra “O desespero humano” Kierkegaard se opõe às ideias da época e aponta que mais importante do que buscar uma verdade única que explique o 21 universo, é buscar verdades que sirvam para cada um de nós e dessa forma, a nossa existência poderá ser construída. Por meio desta publicação, ele foi considerado como o pai do existencialismo. Mediante isso, responda, como esta obra influenciou a construção da psicologia como um saber? 2. Pierre Paul Broca e Carl Wernick fizeram importantes descobertas em relação ao cérebro humano e são apontados como importantes influenciadores da psicologia moderna. Broca descobriu que os hemisférios, esquerdo e direito possuíam funções diferentes e Wernick apontou que lesões em diferentes locais do cérebro afetariam de forma especifica o desenvolvimento do indivíduo. Como as descobertas destes cientistas afetaram e continuam afetando a psicologia e a neurociência? 22 Aula 2 – O que é psicologia? Fonte: © Freepik Link da imagem: http://br.freepik.com/fotos-gratis/modulo-homem-face-partes-psicologia- itens_668650.htm#term=psychology&page=5&position=13 23 Olá estudante! Vamos dar sequência ao estudo da Psicologia da Educação. Como já vimos na aula anterior, não é simples definir o que é psicologia e qual o seu objeto de estudo. O motivo para não termos uma única definição para a psicologia é a grande diversidade de linhas teóricas. Cada linha tem sua própria visão sobre o ser humano e o objeto de estudo da psicologia. Vamos entender melhor como isso funciona? Figura 2.1: Psicologia e educação Fonte: © Freepik https://br.freepik.com/fotos-gratis/3d-rendem-de-uma-cabeca-masculina-e-do-cerebro-com- parafusos-de-clareamento_1023261.htm#term=cerebro&page=3&position=26 24 2.1 O conceito de psicologia O conceito de psicologia pode ser definido das mais variadas formas de acordo com cada teoria, portanto, cabe a nós realizar uma aproximação do conceito, buscando encontrar o que de essencial ela apresenta e estuda. Psicologia é a uniãodas palavras gregas psyche e logia, sendo que psyche significa alma ou mente e logia pode ser entendido como estudo. Dessa forma, nossa primeira conclusão é de que a Psicologia é o estudo da mente ou o estudo da alma. O fato de que os conceitos de “mente” e “alma” são bastante abstratos, nos deixa ainda com dúvidas sobre qual o real objeto de estudo desta ciência. Mas de que outra forma poderia ser, se a psicologia trata exatamente dos conteúdos mais íntimos e profundos que existem em cada um de nós? Daquilo que tentamos, o tempo todo, não tomar consciência? Para que nossa aproximação do conceito de psicologia fique ainda mais sólida, falaremos rapidamente sobre algumas das principais linhas teóricas e autores importantes. Gostaria de pontuar, que devido ao curto tempo, essas ideias serão passadas de forma resumida e pouco aprofundada. Cabe a você estudante, aprofundar-se em alguma, caso possua interesse! Muitas das ideias que serão vistas a seguir serviram de base para atuais linhas teóricas e outras permaneceram como abordagens altamente utilizadas. Algumas das abordagens teóricas atuais mais conhecidas e utilizadas, são: Behaviorismo, Psicologia cognitivo-comportamental, Gestalt, Psicodrama, Psicanálise, Psicologia Analítica e terapias humanistas, entre outras. 25 2.2 Principais pensadores da Psicologia e seus temas de estudo 2.2.1 Ivan Pavlov (1849–1936) - condicionamento clássico O fisiologista russo Ivan Pavlov realizou experimentos com cães, quando os níveis de saliva dos mesmos eram medidos por meio de dispositivos inseridos cirurgicamente, percebeu que os cães não salivavam somente ao receber comida, mas também ao sentir seus cheiros e enxergá-las. Salivavam também com a simples chegada dos cuidadores. Sua teoria e experimentos consistem em: um estímulo incondicionado (comida exposta aos cães) pode provocar um reflexo incondicionado (salivar). Se este estímulo é seguido por um estímulo neutro (toque de um sino), desenvolve-se um reflexo condicionado, ou seja, com o tempo, bastará somente o toque do sino para que os cães começassem a salivar. Um estímulo incondicionado à um estimulo neutro provoca um estimulo condicionado. A teoria de Pavlov permitiu que Watson comprovasse a ocorrência de condicionamento clássico com humanos e mais tarde, serviu de suporte para a teoria de Skinner, já mencionado na última aula, que realizou experimentos com ratos, condicionando-os a se comportar de maneira especifica. 2.2.2 Edward Thorndike (1874–1949) - conexionismo Realizou seus estudos aproximadamente na mesma época que Pavlov e é considerado por muitos o primeiro psicólogo behaviorista (apesar de o termo não existir em sua época). Estudava os processos de inteligência e aprendizagem de animais e percebeu que quando um animal reage a um estímulo, ocorrem duas possibilidades: a) o resultado pode ser compensatório (por exemplo: conseguir escapar) e isso faz com que a resposta seja fortalecida; ou b) o resultado pode ser infrutífero (por exemplo: não consegue escapar) e isso faz com que a resposta seja enfraquecida. Ou seja, as reações 26 compensatórias serão internalizadas pelo sujeito e as reações infrutíferas serão suprimidas. Esta descoberta foi chamada por ele de lei do efeito. Sua descoberta construiu os fundamentos da teoria behaviorista e mais tarde Skinner formulou o conceito de ”condicionamento operante”, o cerne do behaviorismo. 2.2.3 Sigmund Freud (1856–1939) - Psicanálise Um dos conceitos principais desta complexa teoria é o de inconsciente. Para Freud, tudo aquilo que é demasiadamente inapropriado ou doloroso é reprimido e armazenado no inconsciente, ou seja, não é possível ser acessado pela consciência (ser relembrado pelo indivíduo), mas continua a exercer influência nos atos e até mesmo no corpo do sujeito (por exemplo: enxaquecas causadas por estresse/angústia/ansiedade). É comum ouvirmos pessoas falando “não sei porque continuo repetindo o mesmo erro” e Freud diria que isto acontece por manifestações do inconsciente e que o sujeito que faz análise (psicanálise) tem a possibilidade de se “libertar” destes sintomas. O autor divide as estruturas psíquicas em: neurótico (subdividida em neurótico obsessivo e neurótico histérico), perverso e psicótico. Neurótico é aquele que foi inserido no mundo ao passar pelo Complexo de Édipo e pela castração e tem como sintoma o recalque. Para que fique mais claro (de forma resumida): ao nascer, a criança acha que é o objeto de amor total da mãe, mas com a entrada do pai na relação (Complexo de Édipo), descobre que é faltante e “castrada”, ao perceber que a mãe tem outros objetos de amor. Fica marcada por esta castração (ou falta) e então desenvolve o sintoma do recalque, ou seja, passa a reprimir conteúdos, como o conteúdo edipiano, para seu inconsciente. Para o autor, o neurótico seria aquele “mais adequado” ao mundo, de certa forma. O perverso é aquele que passa pelo Complexo de Édipo, mas nega sua castração, ou seja, nega que não é o objeto total de amor da mãe e no caso, nega sua falta. Portanto, os perversos são conhecidos como manipuladores e não conseguem enxergar nenhum tipo de falta em si mesmos, seu sintoma é o fetiche (observação: geralmente, os serial-killers se encaixam nesta estrutura e 27 não na psicose, como alguns costumam achar). Por fim, os psicóticos são aqueles que não passaram pelo Complexo de Édipo, muito menos pela castração e desta forma, não são inseridos no mundo das palavras e tem o delírio como sintoma. Glossário Fetiche - objeto a que se atribui poder sobrenatural ou mágico e se presta culto; objeto inanimado ou parte do corpo considerada como possuidora de qualidades mágicas ou eróticas. Note, o trauma causado pela castração (trauma de ser faltante) é exatamente aquilo que nos “amarra” ao mundo, ou seja, sem este trauma o indivíduo não se constitui como sujeito de linguagem. A fim de facilitar o entendimento, tomo o seguinte verso de Carlos Drummond de Andrade (1902– 1987): Abrir box No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra. Fechar box O que Drummond nos ajuda a compreender é: será que se não houvesse uma pedra no caminho, eu saberia que estou no caminho? De alguma forma, é pela pedra que o caminho existe e se faz visto. Utilizando esta metáfora, podemos compreender que é o trauma da castração que nos permite sermos inseridos no mundo. O autor também desenvolveu conceitos, como repetição, transferência, Complexo de Édipo, entre outros, mas devido a magnitude de sua obra, o estudo de sua teoria leva anos para ser realizado, sendo considerado pelos psicanalistas como um estudo que nunca tem fim, pois há sempre algo a se aprender com a teoria de Freud. 28 2.2.4 Alfred Adler (1890–1937): Psicologia individual Para Adler, o ser humano carrega consigo um sentimento constante de inferioridade, ou seja, todas as crianças sentem-se inferiores por estarem rodeadas de pessoas mais fortes e inteligentes. Este sentimento as motiva a tentarem agir e conquistar coisas, aqui há dois caminhos possíveis: ou o indivíduo obtém sucesso e abranda os sentimentos de inferioridade, mantendo uma psique equilibrada e desenvolvendo-se com confiança, ou o sucesso não abranda os sentimentos de inferioridade, formando uma psique desiquilibrada e desenvolvendo um complexo de inferioridade. Adler chamou de “compensação” a vontade de superar seus limites e dificuldades. 2.2.5 Carl Jung (1875–1961) - psicologia analítica (variação da Psicanálise) Jung se interessa pelos trabalhos de Freud e os dois começam a se corresponder. Apesar da grande afinidade e concordância entre as ideias dos dois, ocorre um rompimento, por Jung não aceitar a centralidade que Freuddá para a sexualidade em sua teoria. Jung formula a teoria analítica, que lembra muito a psicanálise em alguns pontos. Para Jung, existe em nós um inconsciente coletivo, formado por arquétipos. O autor acreditava que muitos mitos e símbolos eram semelhantes nas mais variadas culturas e épocas, por serem resultantes do conhecimento e experiências que compartilhamos enquanto espécie e que esse conhecimento é preservado no inconsciente coletivo, sob formas de arquétipos. Os arquétipos agem como modelos que nos ajudam a organizar determinados padrões comportamentais e a compreender o mundo. Glossário Arquétipo - o modelo que se utiliza como exemplo para; padrão: a Madre Teresa de Caucutá é o arquétipo da bondade. 2.2.6 Fritz Perls (1893–1970) - Gestalt-terapia 29 O autor acredita que a verdade só pode ser tolerada se descoberta por conta própria, pois as pessoas acreditam que seu ponto de vista em relação ao mundo é uma verdade objetiva, mas é a nossa percepção que configura as experiências, dessa forma, é possível alterar nossa realidade interna e até mesmo externa, descartando valores que nos são atribuídos pela sociedade e pela família, para assim descobrir nossos verdadeiros valores próprios e construir nossa própria “verdade”. A Gestalt-terapia usa a experiência, percepção e responsabilidade individual para incentivar o crescimento pessoal por meio de um senso de controle interno. O sujeito precisa assumir responsabilidade por seu modo de agir e reagir. Perls disse certa vez que “quem precisa que os outros lhe deem incentivos, elogios e tapinhas nas costas, faz dos outros os seus juízes”. 2.2.7 Donald Winnicott (1896–1971): Psicanálise Influenciado pelas ideias de Freud e Melanie Klein, Winnicott publicou muitos estudos e segue como um importante autor da psicanálise. Cabe aqui frisar, que dentro da psicanalise, existem várias vertentes, pois há divergência entre alguns pontos da teoria psicanalítica entre autores como Freud, Winnicott, Lacan, Klein etc. No início de sua carreira, Winnicott trabalhou com crianças separadas de suas famílias por conta da Segunda Guerra Mundial (1939–45) e pode observar que crianças vindas de situações de negligência e abuso temem não serem amadas pela família adotiva e como defesa, reagem com ódio, evocando também o ódio nos pais. Se os pais forem capazes de reconhecer e tolerar esse sentimento, a criança adotada entende que pode ser amada e conseguirá formar laços afetivos fortes. Winnicott é realista e pragmático em sua teoria: ele se recusa a acreditar no ideal de família perfeita ou em que algumas palavras gentis sejam capazes de apagar horrores da vida de alguém. Convida a todos a encarar a verdade pura com honestidade e coragem. 2.2.8 Jacques Lacan (1901–1981) - Psicanálise 30 Talvez o mais importante nome da psicanalise após Freud, Lacan iniciou seu trabalho fazendo uma releitura do trabalho do antecessor e mais tarde, acrescentou diversos conceitos importantes. Entre suas principais colocações, disse que é pela existência do “outro” que definimos e redefinimos a nós mesmos e através do discurso deste outro é que nos inserimos na linguagem e compreendemos o mundo. Para ele o inconsciente é o discurso do “outro”. A obra de Freud estava se perdendo em interpretações equivocadas e por isso, Lacan, ao reescrevê-las faz questão de usar uma linguagem complexa baseada em mensagens indiretas, para que o leitor realmente tivesse algum trabalho para entendê-las de forma correta. 2.2.9 Erich Fromm (1900–1980) - Psicanálise humanista Erich Fromm acreditava que para o ser humano nada era mais difícil de suportar do que o sentimento de não se identificar a um grupo e que a única forma de nos integrarmos é descobrindo nossa própria individualidade. Para ele, nossas vidas estão carregadas de angústia e impotência devido a separação que sofremos da natureza e das outras pessoas. Essa angústia só poderá ser superada se aceitarmos nossa singularidade, descobrirmos nossas ideias e habilidades e enfim, desenvolvermos nossa capacidade de amar. Essa busca tornaria a dor de nossa existência suportável e daria sentido a ela. O autor identificou diversos tipos de personalidades improdutivas, que ajudam o indivíduo a se desresponsabilizar quanto aos seus atos. As mais conhecidas, são: a) a personalidade receptiva, que sempre aceita seus papéis e nunca luta por mudanças ou melhorias; b) a personalidade exploradora, é agressiva, plagiadora e coercitiva; c) a personalidade acumulativa, preocupa-se demasiadamente com acumulações e quer ter sempre mais coisas; d) a personalidade marqueteira, aquela que vende tudo, principalmente, a própria imagem. Cada um destes tipos possui lados positivos e negativos, mas existe uma quinta personalidade, a necrófila, que é totalmente negativa, pois este tipo de 31 pessoa é obcecado pelo controle e imposição de ordem. O tipo ideal de personalidade é o produtivo. 2.2.10 Carl Rogers (1902–1987) - Terapia centrada no cliente Rogers criticava outras linhas teóricas, porque as achava muito rígidas e engessadas. Para ele, a vida não se definia como um estado de ser, mas como um processo em que era preciso estar aberto a experiências, confiar em si mesmo, viver o presente, assumir responsabilidade por suas ações e tratar a si e aos outros com consideração. Somente desta forma o ser humano pode viver uma vida plena. Para o autor, as pessoas são em sua essência saudáveis e boas e o bem- estar emocional é uma progressão natural que ocorre na condição humana. É preciso que haja aceitação incondicional de si e dos outros, pois somente assim as pessoas serão capazes de se abrir para a experiência. 2.2.11 Abraham Maslow (1908–1970)- Psicologia humanista Maslow acreditava que para atingir o estado mais desenvolvido de consciência e total potencial, é preciso que o sujeito descubra seu verdadeiro propósito na vida e saia em busca dele, este estado chama-se autorrealização. Ele definiu um plano estruturando, descrevendo os passos para conseguir chegar a autorrealização. As necessidades motivadas “por deficiência” (Fisiologia, Amor e pertencimento, Segurança e Autoestima) precisam ser realizadas antes de a pessoa poder buscar satisfação intelectual, que ficam no topo da pirâmide e são motivadas por crescimento (Cognitiva, Estética, Autorrealização, Autotranscedência). A seguir, você poderá analisar a hierarquia das necessidades proposta por Maslow: 32 Figura 2.4: Hierarquia de necessidades, por Maslow Fonte: Elaborado pela autora (2018). 2.2.12 Viktor Frankl (1905–1997) - Logoterapia Mesmo uma pessoa que não tenha mais nada nesse mundo ainda pode conhecer a felicidade (Viktor Frankl). O psiquiatra Viktor Frankl foi levado para um campo de concentração em 1942 e lá escreveu o livro “Em busca de sentido”. Segundo Frankl, possuímos duas forças que nos permitem suportar situações de dor: a liberdade para agir e a capacidade de decidir. O autor Autotranscen dência - Ligar-se a algo para além de nós mesmos Autorrealização - Alcançar o seu potencial pessoal Estética - Simetria, beleza e ordem Cognitiva - Conhecer e compreender as coisas do mundo Autoestima - Reconhecimento, conquista e respeito Amor e pertencimento - aceitação, amizade e relacionamentos] Segurança - Estabilidade, saúde e abrigo Fisiologia - Comida, bebida, sono, calor 33 acredita que somos nós que determinamos como o ambiente irá agir em nossas vidas, pois até o sofrimento pode ser visto de formas diferentes, dependendo de como enxergamos a situação. Devemos encontrar um sentido para nossa vida e este sentido precisa ser descoberto por cada um de nós, pois ao darmos sentido ao sofrimento ele se torna suportável. 2.2.13 Rollo May (1909–1994) - Psicoterapia existêncial É consideradoo pai da psicologia existencial após ter lançado o livro The meaning of anxiety, em 1950. Para ele, o sofrimento é parte integrante da experiência humana e precisa ser enxergado como tal, mas ao tentarmos manter nossas vidas em equilíbrio, taxamos as situações como “boas” ou “ruins”, baseadas no conforto (ou não) que elas nos oferecem. Dessa forma, lutamos contra processos que nos trariam crescimento e desenvolvimento e que fazem parte do processo natural da vida. Sua visão é comparada com o pensamento budista, de que devemos aceitar todas as experiências, sejam elas boas ou não. O sofrimento não seria uma questão patológica, mas sim parte essencial da vida humana e importante para o desenvolvimento do indivíduo. 2.2.14 Lev Vygotsky (1896–1934) - Construtivismo social Vygotsky acreditava que nós construímos nossa identidade pela relação que estabelecemos com as outras pessoas. Para ele, o desenvolvimento se dava em três níveis: cultural, interpessoal e individual. Acreditava que as crianças absorvem sabedoria, valores e conhecimentos por meio da relação com os cuidadores e, as utilizam para viver no mundo de forma eficaz. Sua teoria influencia fortemente a aprendizagem e o ensino até hoje. 2.2.15 Erik Erikson (1902–1994) - Desenvolvimento psicossocial 34 Para o autor, existe uma estruturação básica para o andamento da vida. A personalidade se desenvolve em oito estágios predeterminados, entre o nascimento e a morte. Caso haja sucesso na transição em cada uma destas fases, o indivíduo será mentalmente saudável, mas quando há fracasso em qualquer uma destas fases ocorre um prejuízo mental, que pode aparecer como falta de confiança, culpa, entre outros sintomas. Os oito estágios descritos por Erikson, são nomeados de: 1) confiança x desconfiança; 2) autonomia x vergonha e culpa; 3) iniciativa x culpa; 4) diligência x inferioridade; 5) identidade x confusão de identidade; 6) intimidade x isolamento; 7) produtividade x estagnação; 8) integridade x desespero. Cada uma destas fase apresenta características particulares. 2.2.16 John Bowlby (1907–1990) - Teoria do apego O amor materno na primeira infância é tão importante para a saúde mental quanto vitaminas e proteínas para a saúde física. (John Bowlby). Bowlby acredita que os recém-nascidos são programados para criar vínculo com a mãe, a fim de garantir sua própria sobrevivência. Portanto, qualquer situação que ameace esta relação, ativa atitudes instintivas de apego e sensações de insegurança e medo. Nos primeiros vinte e quatro meses da criança acontece o que o autor chamava de período crítico, se o vínculo fosse quebrado durante esse período crítico, o desenvolvimento da criança poderia sofrer danos permanentes e graves. 2.2.17 Albert Bandura (1925–) - Teoria da aprendizagem social Albert Bandura é um psicólogo social canadense. Sua teoria da aprendizagem social é baseada no fato de que todo ser humano é constituído 35 por elementos do meio social em que faz parte: sua família, sua escola e sua comunidade são grupos sociais em que o sujeito é inserido em certa fase do desenvolvimento e que contribuem para o processo de aprendizagem. Esta teoria adota a perspectiva de agência para a adaptação, mudança e autodesenvolvimento. Ser um agente significa influenciar seu próprio funcionamento e a vida a partir de um modo intencional, sendo assim, as pessoas são auto organizadas, proativas, autorreguladas e auto reflexivas. Para Bandura, o ser humano não é totalmente influenciado pelo meio, pois suas reações e estímulos são auto ativadas, portanto o ser humano não é determinado pelas ações ambientais e sim influente entre elas. Ao contrário do behaviorismo, a aprendizagem social acredita que o comportamento não precisa ser reforçado para ser aprendido, pois o ser humano adquire experiências observando as consequências dentro de seu ambiente e as vivências de outras pessoas ao seu redor. Apesar da grande quantidade de autores mencionados, ainda assim é impossível dar conta de falar sobre todos os autores importantes para a área da psicologia. Relembrando que o conteúdo passado foi apresentado de forma sucinta e pouco aprofundada, para que você possa conhecer um pouco da teoria de alguns dos principais influenciadores da psicologia. Caso se interesse por alguma das pesquisas ou estudo, convido-o a procurar mais sobre a abordagem! Nesta aula foi possível identificar a pluralidade de ideias e linhas da psicologia, como já havia sido introduzido na primeira aula. O objeto de estudo da psicologia varia em alguns casos: em alguns é chamado de mente, outros de comportamento e, chega até mesmo no inconsciente, mas o que todo o autor tem em comum é a preocupação com a adaptação e a saúde mental do indivíduo. O psicólogo é apresentado a todas estas linhas de pensamentos e teorias e tem como objetivo escolher qual se adapta melhor ao seu próprio tipo de pensamento. Entre os estudos apresentados, caracterizam-se hoje como fortes linhas teóricas: Psicanálise (podendo ser Freudiana, Freud-Lacaniana, Kleiniana, Winnicottiana etc.); Behaviorismo, Gestalt, Cognitivo-comportamental, as Psicologias existenciais, entre outros. 36 Atividades de Aprendizagem 1. Jung se interessava pela psicanálise, mas ao discordar de alguns aspectos da mesma decide formular uma teoria própria. O centro desta teoria é o inconsciente coletivo. Explique o que é o inconsciente coletivo através da teoria analítica. 2. Existem diversas linhas teóricas e variadas formas de enxergar o ser humano. De acordo com o estudo das duas primeiras aulas, o que você acha desta pluralização? Ela facilita ou dificulta a validação do conhecimento cientifico da psicologia? Justifique. 37 Aula 3 – Campos de atuação da Psicologia, sua relação com outras ciências e aspectos éticos 38 Olá estudante! É possível observar que devido ao enorme número de teorias psicológicas, a área acaba por abranger uma grande porção do espectro da vida mental do ser humano. Seu alcance cada vez maior, proporcionou uma correlação com outras disciplinas, como: a medicina, a fisiologia, a neurociência, a educação, a sociologia, a antropologia e até mesmo a política, economia e direito. Nesta aula, pensaremos em como a psicologia atua nas mais variadas áreas e campos de conhecimento. Fonte: © Freepik https://br.freepik.com/vetores-gratis/infografico-cerebro-com-temas- diferentes_1002425.htm https://br.freepik.com/vetores-gratis/infografico-cerebro-com-temas-diferentes_1002425.htm https://br.freepik.com/vetores-gratis/infografico-cerebro-com-temas-diferentes_1002425.htm 39 Essa relação ficará mais clara nos próximos parágrafos, com a descrição das áreas da psicologia, mas em resumo, a psicologia se relaciona com a medicina, fornecendo a esta estudos e técnicas de trabalho. Dentro do ambiente hospitalar, o psicólogo poderá fazer parte da equipe multidisciplinar e assim auxiliar (e ser auxiliado) por outras profissões da área da saúde (como médicos, fisioterapeutas, enfermeiros, nutricionistas etc.). Juntamente com o direito, poderá trabalhar na proteção, avaliação e diagnóstico de vítimas de delitos e também detentos. Neurociência e psicologia tem a cada dia se aproximado mais em seus caminhos. O diálogo entre as duas áreas está cada vez mais estreito, principalmente quando se fala em atrasos neurológicos e processos de reabilitação. Quanto a educação, pudemos ver desde a primeira aula, que as duas áreas do conhecimento têm muita informação para ser trocado entre si, principalmente, quando se fala nos processos de aprendizagem, na otimização de potencialidades, entre outros. 3.1 Áreas de atuação na Psicologia A psicologia é uma matéria muito abrangente e acabapor interessar a muitos, até porque quando se fala em psicologia, fala-se de cada um de nós. Ela serve de base para decisões governamentais, empresariais, publicitárias e midiáticas. Em sua história, nos ofereceu ideias que alteraram nosso estilo de pensar e viver, além de nos permitir conhecer melhor a nós mesmos, os outros e o mundo a que pertencemos. Vamos retratar na sequência os principais campos de atuação do psicólogo, de acordo com o Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP– PR). 3.1.1 Psicologia escolar/educacional O psicólogo escolar atua dentro de Instituições escolares, realizando pesquisas, diagnósticos, treinamentos, intervenções, prevenções etc. É comum 40 haver confusão entre o trabalho do psicólogo escolar com o do clínico, portanto, é importante frisar que as duas funções são diferentes, pois não é de responsabilidade do psicólogo escolar realizar atendimento clinico individualizado para estudantes específicos, ou seja, este profissional deve atender a demanda da escola de uma forma geral e se algum estudante necessitar de atendimento contínuo, deverá procurá-lo em consultórios fora do ambiente escolar. Nesta área, colaborará com o corpo docente na elaboração, implantação, avaliação e reformulações de currículo, projetos e políticas educacionais e também contribuirá na análise e intervenção de clima institucional, buscando sempre a resolução de conflitos internos e estabelecimento de um clima agradável de trabalho. Poderá atuar também em programas de orientação profissional e análise de atendimento para estudantes com necessidades educativas especiais nas escolas, realizando orientações e adaptações, quando necessário. Fará parte da equipe interdisciplinar, integrando seus conhecimentos com os demais profissionais da educação. Poderá aplicar seus conhecimentos de ensino e aprendizagem no ambiente escolar, assim como intermediar relações entre a escola e a família do estudante, também poderá utilizar testes e instrumentos psicológicos adequados para fornecer subsídios no replanejamento e reformulação dos planos educativos. 41 Figura 3.3: Atendimento escolar Fonte: © Freepik https://br.freepik.com/vetores-gratis/um-conjunto-de-ilustracoes-de-desenhos-animados-de- vetores-o-paciente-esta-falando-com-um- psicoterapeuta_1265775.htm#term=psicologia&page=1&position=6 3.1.2 Psicologia organizacional e do trabalho Assim como o psicólogo escolar, o psicólogo do trabalho atuará em treinamentos de equipes e pesquisas de clima institucional. Pode atuar em empresas dos mais variados segmentos. Outras atividades desenvolvidas nesta área são: consultoria organizacional, acompanhamento e desenvolvimento de equipes, recrutamento e seleção de funcionários (utilizando testes psicológicos e entrevistas), estudo e planejamento de condições de trabalho. Seu trabalho estará diretamente ligado com a promoção da saúde e por isto, analisará e orientará casos de saúde do trabalhador, se atendo aos níveis https://br.freepik.com/vetores-gratis/um-conjunto-de-ilustracoes-de-desenhos-animados-de-vetores-o-paciente-esta-falando-com-um-psicoterapeuta_1265775.htm#term=psicologia&page=1&position=6 https://br.freepik.com/vetores-gratis/um-conjunto-de-ilustracoes-de-desenhos-animados-de-vetores-o-paciente-esta-falando-com-um-psicoterapeuta_1265775.htm#term=psicologia&page=1&position=6 https://br.freepik.com/vetores-gratis/um-conjunto-de-ilustracoes-de-desenhos-animados-de-vetores-o-paciente-esta-falando-com-um-psicoterapeuta_1265775.htm#term=psicologia&page=1&position=6 42 de prevenção, reabilitação e promoção de saúde. É parte do seu trabalho facilitar os processos de grupo e prezar pela qualidade de vida do trabalhador. Também realiza testes de desempenho, explorando o potencial dos colaboradores; além de realizar análises de ocupações profissiográficas e se encarregar pelos processos de desligamento da empresa. 3.1.3 Psicologia do trânsito Trabalha com todos os aspectos psicológicos relacionados ao trânsito, como por exemplo, colaborando na elaboração e implantação de ações socioeducativas com pedestres, ciclistas, condutores infratores etc. Realiza pesquisas sobre segurança e comportamentos no trânsito. O campo mais conhecido desta área de atuação é o de avaliação psicológica de condutores para a obtenção da carteira de motorista. O psicólogo do trânsito analisa os acidentes e considera os diferentes fatores envolvidos em sua causa para encontrar formas de evitar ou atenuar sua incidência. Possui forte diálogo com profissionais da área médica e a da educação (como instrutores e professores), além de desenvolver estudos sobre o comportamento individual e coletivo em diversas situações no trânsito e, prestar consultoria para órgãos públicos e privados em questões de trânsito e transporte. 3.1.4 Psicologia jurídica O psicólogo jurídico colabora no planejamento e execução de políticas relacionadas a cidadania, prevenção da violência e direitos humanos. Atua avaliando as condições intelectuais e emocionais de crianças, adolescentes e adultos que possuam algum tipo de conexão com processos jurídicos (como contestação de testamentos, aceitação em lares adotivos, guarda de crianças etc.). Atua também como perito criminal nas varas cíveis, criminais, da justiça do trabalho, da família, da criança e do adolescente, elaborando pareceres, laudos e perícias para serem anexados aos processos. Realizam atendimentos e orientações, repassam ao colegiado e administração o ponto de vista 43 psicológico sobre alguma questão e participa de audiências, fornecendo informações esclarecendo aspectos psicológicos técnicos em relação aos processos judiciais. O psicólogo jurídico também realiza avaliações das características de personalidade através de triagens, avaliações e testes psicológicos no sistema penitenciário. Presta assessoria na formulação de políticas penais e no treinamento de equipe para aplicá-las. Suas pesquisas são voltadas para a ampliação do conhecimento psicológico no direito e oferece serviços em conciliações, orientação de detentos e suas famílias. 3.1.5 Psicologia do Esporte O psicólogo do esporte trabalha com atletas de alto rendimento, ajudando- os para que sua saúde mental seja preservada e seus rendimentos e performance sejam otimizados. Também atua identificando princípios e padrões de comportamento de crianças e adultos participantes de esportes. Realiza estudos e os aplica, em nível individual e grupal. Faz diagnósticos e intervém na transformação de padrões de comportamento que interferem na prática física regular ou competitiva. Realiza atendimentos individuais e grupais, empregando técnicas adequadas a situação, promovendo sempre o bem-estar e qualidade de vida dos indivíduos envolvidos. 44 Figura 3.4: Psicologia esportiva Fonte: © Freepik 3.1.6 Psicologia Clínica O trabalho do psicólogo clínico acontece principalmente no consultório e visa reduzir o sofrimento das pessoas. Cada psicólogo clínico escolhe sua abordagem teórica (algumas foram trabalhadas na última aula) e escuta seu paciente de acordo com a esta metodologia. Pode ser realizado individualmente ou grupalmente, em níveis diagnósticos, preventivos e “curativos”. Sua atuação busca promover mudanças e transformações na vida de sujeitos, grupos e organizações. Entre os principais instrumentos utilizados nesta área, destacam-se: entrevistas, testes psicológicos formais e informais, técnicas de avaliação etc. Cabe frisar que algumas abordagens fazem uso somente do discurso, não utilizando outras técnicas, como testes. Podem orientar, contribuir para a reflexão em situações delicadas e desenvolver atendimentos terapêuticos, em modalidades, como: psicoterapia 45 individual, de casal, familiar, psicoterapia lúdica, terapia psicomotora,arte terapia, orientação de pais etc. 3.1.7 Psicologia Hospitalar O psicólogo hospitalar atua em hospitais no atendimento de pacientes internados, familiares e equipe profissional. Opera em equipes multiprofissionais, identificando e atuando sobre fatores emocionais relacionados à saúde geral do sujeito. Prepara os pacientes para a entrada, permanência e saída do hospital. Auxilia inclusive pacientes terminais e familiares no processo de aceitação do luto e morte, participando nas decisões relativas a conduta a ser adotada pela equipe. Utiliza-se da psicoterapia breve e pode atender gestantes, no processo de gravidez, parto e puerpério, auxiliando nas possíveis dificuldades que esta fase pode proporcionar. Acompanha programas de pesquisa, treinamento e desenvolvimento em saúde mental, para garantir qualidade na oferta de saúde mental. Promove intervenções nas relações médico-paciente, paciente-família, paciente-paciente, paciente-processo de adoecer. É importante estar atento às repercussões emocionais que o internamento pode gerar, por isso, o psicólogo hospitalar desenvolverá diferentes modalidades de intervenção para que atinja seu objetivo. Glossário Puerpério - período que decorre desde o parto até que os órgãos genitais e o estado geral da mulher voltem às condições anteriores à gestação. 3.1.8 Psicopedagogia O psicólogo que atua na psicopedagogia investiga e intervém nos processos de aprendizagem. Este profissional precisa estudar e compreender a cognição, emoção e motivação do ser humano. Ao receber um paciente, faz um diagnóstico diferencial, utilizando-se de recursos como testes, jogos e desenhos, para assim criar uma estratégia de trabalho que permita a exploração de todas as potencialidades do sujeito. 46 Seu objetivo é que o estudante se torne agente ativo no processo de conhecimento, cada vez mais autônomos e independentes. Dentro da escola, trabalhará contribuindo para uma visão mais complexa da aprendizagem, facilitando a integração de todos os estudantes. Sua atuação, quando bem conduzida, diminui os números de fracasso escolar. 3.1.9 Neuropsicologia O psicólogo especialista em neuropsicologia trabalha com o diagnóstico, acompanhamento, tratamento e pesquisa sobre a cognição, personalidade e comportamento, considerando o funcionamento cerebral. Utiliza instrumentos de avaliação das funções neuropsicológicas envolvendo principalmente habilidades de atenção, percepção, linguagem, raciocínio, abstração, memória, aprendizagem, processamento da informação, afeto, funções motoras e executivas. Trabalha juntamente com o psicólogo escolar, para emitir laudos referentes a aprendizagem. Atua, principalmente, com sujeitos portadores de transtornos mentais e sequelas cerebrais. Realiza seus estudos em interação com outras áreas, como a neurociência e a medicina. 47 Figura 3.5: Neurociência Fonte: © Freepik Além do diagnóstico, a Neuropsicologia visa realizar as intervenções junto ao paciente, para que este possa melhorar, compensar e adaptar-se às suas dificuldades, também trabalha junto aos familiares, para que participem do processo reabilitativo. Além disso, desenvolve materiais e instrumentos (testes, jogos, livros e programas de computador) que auxiliem na avaliação e reabilitação dos pacientes. 3.1.10 Psicologia Social 48 O psicólogo social busca compreender a subjetividade presente nos fenômenos sociais e coletivo, sob diferentes enfoques teóricos e metodológicos, para assim, propor ações no âmbito social. Desenvolve atividades focadas na saúde, educação, trabalho, lazer, meio ambiente, comunicação social, assistência social e justiça, para comunidades e grupos étnico-raciais, religiosos, com diferentes orientações sexuais e segmentos socioculturais. 3.2 A ética na psicologia Para Marilena Chauí (1995) ética pode ser compreendido como filosofia moral, isto é, ética é uma reflexão que discute, problematiza e interpreta o significado dos valores morais, enquanto que moral consiste em valores concernente ao bem e mal, permitido e proibido. Moral refere-se às normas e regras societárias e tem por interesse regular a vida dos sujeitos. Podemos dizer que ter ética é possuir uma visão crítica da moral, ou seja, repensar seus atos e costumes e assumir posição ativa, pois sua ação não está pautada na vontade do outro ou daquilo que a sociedade considera moralmente certo ou errado. O sujeito ético avalia, problematiza e debate sobre suas ações. Como a ética pode ser então vista a partir do ponto de vista da psicologia? Tomando emprestado o conceito de ética da psicanálise – que é diferente da filosofia e psicologia –, podemos dizer que ética é seguir o desejo, ou seja, sou ético comigo mesmo quando compreendo o meu desejo e o persigo e sou ética no trabalho com outra pessoa quando o permito seguir o próprio desejo, independentemente deste desejo ser parecido com o meu ou não. Nesse sentido, ser ético é permitir que o outro seja exatamente o que almeja ser, mesmo que isso vá contra minhas crenças e posicionamentos pessoais. Se cada um experienciou sua vida de maneira singular, é natural que não haja homogeneização do pensamento e desejo. Muitas vezes, nos vemos compelidos a impor nosso ponto de vista, por este nos parecer tão adequado. Dessa forma, é possível dizer que, dentro da Psicologia, ser ético é olhar e, principalmente, escutar quem quer que seja, sem julgamentos. Para além disso, é também transmitir para o paciente a confiança de que aquilo que é tratado entre duas pessoas, permanece nesta relação, salvo em 49 casos em que haja risco de vida. Perceba que ética transcende a moral, pois vai além do que é socialmente aceito. Este aspecto ético precisa também ser pensado no ramo da psicologia da educação, por psicólogos e educadores. É preciso enxergar nossos estudantes como sujeitos afetados pelo meio e que, muitas vezes, precisam de um ambiente seguro e livre de julgamentos para poder se desenvolver. Nesta aula, foi possível conhecer algumas das principais áreas de atuação da psicologia e como estas áreas se correlacionam com outros campos de conhecimento. Também foi demarcada a diferença entre ética a moral, apontando para a importância da ética no trabalho do professor e do psicólogo em relação ao estudante e ao processo de aprendizagem. Atividades de Aprendizagem 1. O psicólogo organizacional deverá sempre prezar pela saúde do trabalhador e realizar ações neste sentido. Com relação à psicologia organizacional, responda: que tipo de atividade o psicólogo poderá desenvolver nesta área? 2. O psicólogo do esporte poderá trabalhar com atletas de alto rendimento ou outros indivíduos que possuam relação com o esporte. Desenvolverá também pesquisa de padrões de comportamento de crianças, jovens e adultos no esporte. Em que sentido um atleta de alto rendimento poderá se beneficiar do trabalho deste profissional? Aula 4 – Processos básicos do comportamento 50 Olá estudante! Nesta aula, você compreenderá os mecanismos que estimulam o comportamento e como podem provocar reações boas ou ruins nos seres humanos. Vamos lá?! 51 Figura 4.1: Reações Fonte: © Freepik https://br.freepik.com/fotos-gratis/mulher-3d-com-dor-na- cabeca_1270692.htm#term=cerebro&page=11&position=38 Quando um indivíduo adoece, adoece em totalidade, ou seja, se adoeço fisicamente isto impactará de alguma forma minha saúde mental, por exemplo. Portanto, é preciso pensar nos processos básicos do comportamento e em como estes processos poderão afetar a aprendizagem e a vida do sujeito. Assim, como o corpo pode afetar a mente, a dificuldade em um processo mental pode induzir a outra dificuldade, como por exemplo: se tenho dificuldades de atenção, isto poderá afetar omecanismo da memória e assim por diante. Você conhecerá agora alguns destes processos e suas alterações. 4.1 Sensopercepção Sensação é o fenômeno gerado por estímulos físicos, químicos e biológicos variados, produzindo alterações nos órgãos receptores, estimulando- 52 os. O ambiente oferece informações sensoriais o tempo todo, fazendo com que o organismo as capte e se autorregule, organizando ações voltadas a sobrevivência ao meio e interação social. Percepção entende-se pela tomada de consciência do estímulo sensorial, portanto, diz respeito à dimensão psicológica do processo, pois se trata da transformação de estímulos sensoriais em fenômenos perceptivos conscientes. Portanto, a sensação é considerada um fenômeno passivo, já a percepção é ativo. Vale apontar, que a percepção é grandemente influenciada pelo ambiente. Utilizando o exemplo de Dalgalarrondo (2008) é possível dizer que existe a percepção de uma mesa, a partir da sensação visual de quatro troncos e uma madeira por cima, só é possível para aqueles sujeitos inseridos em uma cultura em que se fabricam mesas e lhe dão tal significado. Fora deste contexto, este objeto não tem caráter perceptual de mesa. Gostaria de ressaltar que esta diferença vale tanto para conceitos materiais como abstratos. Lacan, dentro do contexto psicanalítico, utilizou-se do estudo da linguística para tratar de significantes e significados. O significado tem caráter geral, enquanto que o significante é altamente mutável. Ou seja, a palavra “algodão-doce” pode ser compreendida como um doce feito exclusivamente de açúcar, este é seu significado. Mas, “algodão-doce” pode ser um significante que me remeta uma situação desagradável para uma pessoa como, por exemplo, o dia em que uma pessoa comeu algodão doce e passou mal, no entanto, para outra, pode remeter a uma situação agradável, como por exemplo, algum momento feliz de sua infância em que comia algodão-doce. Desta forma, apesar de apresentar um significado comum, “algodão-doce” apresenta um diferente significante para cada pessoa, dependendo de sua experiência. Piaget também fez uso do conceito de significante em sua teoria. Para complementar, imaginação é a atividade psíquica, geralmente voluntária, que evoca imagens percebidas no passado (mnêmicas) ou cria novas imagens. As alterações da sensopercepção podem ser quantitativas ou qualitativas. 4.1.1 Alterações quantitativas: percepções e sensações 53 As imagens perceptivas têm intensidade anormal: a) Hiperestesia: percepções com intensidade aumentada (comum no uso de substâncias tóxicas). b) Hiperpatia: sensação desagradável produzida após leve estímulo da pele. c) Hipoestesia: cores parecem mais pálidas, alimentos sem sabor, odores perdem intensidade (comum em casos depressivos). d) Anestesias táteis: perda de sensação tátil em determinada área da pele. e) Analgesias: perda de sensações dolorosas em determinadas áreas da pele ou partes do corpo. f) Parestesias: sensações táteis desagradáveis subjetivas, como adormecimentos, picadas, agulhadas etc. Ao contrário das distesias, as parestesias são espontâneas, ou seja, não são desencadeadas a partir de estímulos externos. g) Distesias: sensações desagradáveis anômalas desencadeadas por estímulos externos (assemelha-se a hiperpatia). 4.1.2 Alterações qualitativas: ilusão, alucinação e alucinose a) Ilusão: percepção deformada de um objeto real e presente. Podem ser visuais e auditivas. b) Alucinação: percepção de um objeto, sem que ele esteja presente. Pode ser auditiva, visual, tátil ou olfativa. c) Alucinose: quando o indivíduo percebe a alucinação como estranha a sua pessoa. Ele não crê em sua alucinação. 4.2 Atenção Atenção pode ser definida como a direção da consciência. É o estado de concentração da atividade mental em determinado objeto. A atenção se refere ao conjunto de processos psicológicos que torna o ser humano capaz de selecionar, filtrar e organizar certas informações. As alterações que podem ser observadas, são: Aprosexia: Abolição da capacidade de atenção. 54 Hipoprosexia: Diminuição global da atenção, acompanhada de diminuição na concentração, compreensão e percepção e aumento na fadiga. Hiperprosexia: Atenção exacerbada, em que o indivíduo se detém em alguns objetos. Distração: É um sinal e não um déficit. Superconcentração em algo e inibição de todo o resto. Distraibilidade: O contrário da distração, é um estado patológico em que há dificuldade para deter-se em qualquer coisa que envolva esforço produtivo. Os transtornos que mais provocam alterações de consciência são: Transtornos de humor (depressão, bipolaridade): Quando em mania, há aumento da atenção espontânea e diminuição da atenção voluntária. Quando em depressão há a diminuição geral da atenção. Esquizofrenia: Caracterizada pela dificuldade de atenção constante, além da dificuldade em anular os estímulos visuais e auditivos externos. Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH): Dificuldade em filtrar estímulos irrelevantes (distraibilidade) Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC): Atenção aumentada e excesso de vigilância. 4.3 Memória Memória é a capacidade de registrar, manter e evocar fatos e experiências já ocorridos. Segundo Ivan Izquerdo: somos aquilo que recordamos ou que, de um modo ou outro, resolvemos esquecer. A memória relaciona-se intimamente com a consciência, atenção e interesse afetivo. As alterações de memória podem ser quantitativas ou qualitativas. 4.3.1 Alterações quantitativas: hipermnésias e amnésia a) Hipermnésias: as representações afluem rapidamente, mas perdem a precisão. 55 b) Amnésia: perda de memória, seja da capacidade de fixar ou da capacidade de manter e evocar conteúdos. Pode ser psicogênica (perda de elementos focais com valor psicológico especifico) ou orgânica (não é seletiva). c) Amnésia anterógrada: o sujeito não consegue mais fixar elementos mnêmicos a partir do evento que lhe causou dano cerebral. d) Amnésia retrógrada: o indivíduo não consegue lembrar fatos ocorridos antes do trauma. 4.3.2 Alterações qualitativas: lembrança deformada a) Ilusões mnêmicas: acréscimo de elementos falsos a um núcleo verdadeiro de memória. b) Alucinações mnêmicas: criações imaginativas que se apresentam como lembranças. c) Fabulações: invenções que preenchem vazios na memória. O indivíduo não é capaz de perceber que são falsas memórias. 4.4 Pensamento É a percepção que fornece substrato para o processo de pensar, por meio das imagens perceptivas e representações, mas, primeiramente, é importante diferenciar os elementos constitutivos do pensamento (conceito, juízo, raciocínio) dos processos de pensar (curso, forma e conteúdo). Eu sou, eu existo; isso é certo; mas por quanto tempo? A saber, por todo o tempo em que eu penso; pois poderia ocorrer que, se eu deixasse de pensar, eu deixaria ao mesmo tempo de ser e de existir. Agora eu nada admito que não seja necessariamente verdadeiro: portanto, eu não sou, precisamente falando, senão uma coisa que pensa. René Descartes (1596–1650) Os conceitos são formados a partir de representações, mas não contem resquícios da sensorialidade, ou seja, não é possível contemplar ou imaginar um conceito, pois estes são somente intelectivos e cognitivos, já que são formados 56 por caracteres gerais dos objetos e fenômenos. Por sua vez, juízo seria o processo de relação entre dois os mais conceitos. Figura 4.2: Pensamento Fonte: © Freepik Dalgalorrondo (2008) exemplifica: ao pegar os dois conceitos “cadeira” e “utilidade”, posso afirmar o juízo “a cadeira é útil”. Geralmente, os conceitos se expressam por uma palavra e os juízos por frases ou proposições. O terceiro elemento constitutivo do pensamento, o raciocínio,
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