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Lições Bíblicas - 2021 - 4 Trimestre

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Lição 1
O MUNDO DO APÓSTOLO PAULO
3 de outubro de 2021
	TEXTO ÁUREO
	VERDADE PRÁTICA
	“Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome, segundo a sua soberana vontade, diante dos gentios, e dos reis, e dos filhos de Israel.” (At 9.15)
	Segundo a sua soberana vontade, Deus usa as circunstâncias para fazer uma grande obra.
	LEITURA DIÁRIA
	Segunda - Rm 1.1; 1Co 1.1; Ef 1.1: Paulo, chamado para ser apóstolo
Terça - At 26.16-18: Enviado para os gentios
Quarta - 1Co 8.5,6: Paulo, um defensor da fé
	Quinta - At 22.3: Paulo declara sua identidade judaica
Sexta - Gl 1.14: Seu zelo pela religião judaica
Sábado - At 13.1-5: O chamado de Paulo para missões
	LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
	Atos 26.1-7
	1 Depois, Agripa disse à Paulo: Permite-se-te que te defendas, Então, Paulo, estendendo a mão em sua defesa, respondeu:
2 Tenho-me por venturoso, ó rei Agripa, de que perante ti me haja, hoje, de defender de todas as coisas de que sou acusado pelos judeus,
3 mormente sabendo eu que tens conhecimento de todos os costumes e questões que há entre os judeus; pelo que te rogo que me ouças com paciência.
4 À minha vida, pois, desde a mocidade, qual haja sido, desde o princípio, em Jerusalém, entre os da minha nação, todos os judeus a sabem,
5 Sabendo de mim, desde o princípio (se o quiserem testificar), que, conforme a mais severa seita da nossa religião, vivi fariseu.
6 E agora, pela esperança da promessa que por Deus foi feita a nossos pais, estou aqui e sou julgado,
7 à qual as nossas doze tribos esperam chegar, servindo a Deus continuamente, noite e dia. Por esta esperança, ó rei Agripa, eu sou acusado pelos judeus.
	HINOS SUGERIDOS
	194, 204, 473 da Harpa Cristã
	OBJETIVO GERAL
	Saber como o mundo de hoje é uma porta aberta para o Evangelho.
	OBJETIVOS ESPECÍFICOS
	Abaixo, os objetivos específicos referem-se ao que o professor deve atingir em cada tópico. Por exemplo, o objetivo I refere-se ao tópico I com os seus respectivos sub-tópicos.
	I. Apresentar o mundo de Paulo no império romano;
II. Discorrer sobre o mundo cultural de Paulo;
III. Descrever o mundo religioso de Paulo.
	INTERAGINDO COM O PROFESSOR
	Mais um ano está chegando ao fim. Neste último trimestre, estudaremos a vide e o ministério de um grande homem usado por Deus: o apóstolo Paulo. É uma oportunidade para aprender e colocar em prática princípios eternos que nortearam a vida desse mui digno homem de Deus. Nesta primeira lição, você pode propor uma reflexão aos alunos a respeito das circunstâncias que o mundo de hoje nos oferece para pregar o Evangelho. À luz do mundo político, cultural e religioso do apóstolo dos gentios, reflita com os alunos as portas abertas para o Evangelho no mundo atual. Apresente o comentarista do trimestre, o pastor Elienai Cabral, escritor, conferencista e consultor doutrinário e teológico da CGADB/CPAD.
	COMENTÁRIO
	INTRODUÇÃO
	Iniciamos mais um trimestre de estudos da Palavra de Deus por ocasião da Escola Bíblica Dominical, o quarto e último trimestre de 2021. Trataremos da vida e do ministério de um dos maiores personagens do Novo Testamento usado por Deus: o apóstolo Paulo. É uma oportunidade especial para aprendermos e colocarmos em prática princípios eternos que nortearam a vida desse mui digno homem de Deus. Sem dúvida, Saulo de Tarso, o apóstolo Paulo, é um dos personagens bíblicos mais conhecidos por todos os cristãos; ele é considerado o maior líder do cristianismo. Nesta primeira Aula, vamos estudar sobre o “mundo do apóstolo Paulo”; trataremos, de forma bem superficial, da atuação do apóstolo Paulo nos três “mundos” de então: o romano, o grego e o judeu. Como cidadão romano, ele teve certa liberdade para peregrinar dentro do império e propagar as Boas Novas de Salvação em Cristo Jesus aos judeus e ao povo gentil (romanos e gregos). Se comunicou na língua predominante da época, o grego koinê, bem como fez uso da vasta literatura de seu tempo. À luz do mundo político, cultural e religioso vivido por esse grande apóstolo de Cristo, o que podemos aplicar na pregação do Evangelho no mundo de hoje, cujas circunstâncias são diametricamente diferentes? O assunto deste trimestre é a vida do apóstolo Paulo. Para compreendê-lo melhor, veremos como era o mundo que o apóstolo atuava. Por isso, o texto áureo desta lição apresenta como Paulo foi vocacionado para levar o nome de Jesus diante dos gentios (At 9.15). Ao longo da história do cristianismo, o apóstolo Paulo tornou-se o ápice da teologia cristã. Naturalmente, não podemos tirar o mérito dos apóstolos que estiveram com Jesus em sua vida terrestre. Entretanto, na formação do cânon do Novo Testamento, quando os Pais da Igreja, desde o primeiro século da era cristã começaram a reunir os documentos escritos que pudessem servir à história de Cristo e à sua doutrina, o cânon do Novo Testamento só veio a ser reconhecido depois da Reforma Protestante. No século IV d.C., a diversidade e a quantidade de obras escritas ultrapassavam os 27 livros considerados inspirados pelo Espírito Santo. Por alguns séculos, discutiu-se muito sobre as cartas e epístolas de Paulo, porque ele foi corajoso suficientemente para aprofundar-se especialmente na vida e ensino de Cristo, desenvolvendo uma teologia cristocêntrica inigualável. A despeito da resistência, os reformadores, depois de 1517, concentraram-se na criação das cinco solas, entre os quais a sola scripturae, para fortalecer a ideia de que o que valia era a autoridade plena das Escrituras. Na lista dos livros considerados e avaliados como inspirados pelo Espírito Santo, os reformadores reconheceram os 39 livros do cânon do Antigo Testamento; e, posteriormente, de todas as obras escritas, foram distinguidos os 27 livros que compõem o cânon do Novo Testamento. Desses 27 livros, os escritos de Paulo continham a maior parte da teologia do Novo Testamento. Ele, sem desmerecer os demais apóstolos, foi o homem que Deus escolheu dentre todos os líderes do Novo Testamento para construir a maior parte da teologia cristã. A. T. Robertson, teólogo, admirador de Paulo e de sua teologia, escreveu em seu livro Épocas na Vida de Paulo: Excetuando o próprio Jesus: Paulo permanece para sempre o principal representante de Cristo, o expoente mais hábil do cristianismo, o seu gênio mais construtivo; do lado meramente humano, o seu campeão mais destemido, o seu missionário mais ilustre e mais influente, pregador, mestre e mártir mais distinto. Ele ouviu palavras no terceiro céu, as quais não é lícito ao homem referir (2Co 12.4), mas sentia-se ainda um vaso de barro (2Co 4.7). Indiscutivelmente, Paulo foi um homem apaixonado por Jesus. Seu amor levou-o a procurar identificar-se totalmente com o Mestre. Sua identificação tinha a ver com a consciência de que ele desenvolveu em sua mente de que “padeceria” pelo nome de Jesus. Quando Ananias foi comissionado para visitar Paulo, logo depois do encontro deste com Jesus no caminho de Damasco, o Senhor disse a Ananias: “[...] vai, porque este é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis, e dos filhos de Israel. E eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo meu nome” (At 9.15,16). Paulo sabia, então, que o “sofrer pelo nome de Jesus” iria levá-lo ao gozo de receber o seu galardão depois da sua morte. Ele absorveu esse sentimento do “padecer pelo nome de Jesus” e, escrevendo aos gálatas, Paulo disse: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2.20). Ainda escreveu mais aos Gálatas em 6.17: “[...] trago no meu corpo as marcas do Senhor Jesus”. Aos Filipenses, Paulo escreveu: “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho” (Fp 1.21). Sem diminuir a importância histórica dos apóstolos que estiveram com Jesus, os quais morreram pelo Seu nome, o apóstolo Paulo, a partir do encontro dramático e maravilhoso que teve com Jesus no caminho de Damasco, ficou fascinado porEle. Essa experiência pessoal com Jesus foi uma obsessão em sua vida com o desejo de contar a sua experiência a outras pessoas. Entretanto, o contexto político e religioso da sua época não era favorável. Ele teria que desbravar, abrir fronteiras culturais e políticas e ter coragem e ousadia para levar o nome de Jesus ao mundo gentio. Não faltaram oposições e ameaças daí em diante. Paulo dá testemunho alguns anos mais tarde e fala “dos sofrimentos impingidos contra a sua vida, até dentro das igrejas que ele mesmo plantou e doutrinou, por falsos judeus cristãos que o perseguiam sem limites” (2Co 11.23-27). Fora os padecimentos provocados por seus irmãos de sangue, Paulo também sofria pelas igrejas plantadas por ele e que estavam sendo invadidas com heresias e contradições. Paulo disse dessa situação: “Além das coisas exteriores, me oprime cada dia o cuidado de todas as igrejas” (2Co 11.28). Paulo foi capaz de romper com limites geográficos, com limites culturais, envolvendo línguas diferentes, costumes e mentalidades diferentes. A sua opção radical por Jesus fazia-o vislumbrar um cristianismo que alcançasse o mundo todo. Certo escritor escreveu que “o mundo cristão não seria o mesmo sem a mensagem que o apóstolo Paulo transmitiu no contexto do Império Romano”. Este livro, em função das revistas da Escola Dominical tem um caráter temático para facilitar a pesquisa dos professores. Portanto, é impossível abordar com profundidade toda a vida do apóstolo Paulo. Sua cultura tríplice: judaica, grega e romana, além de outras abordagens históricas, filosóficas e, principalmente, teológicas podem levar-nos a estudos mais profundos sobre o grande mestre apóstolo Paulo. Atrevo-me a declarar que, indiscutivelmente, o grande construtor da teologia cristã foi o apóstolo Paulo. Todo estudante da Bíblia, cada pastor e cada professor de Escola Dominical devem obter em sua biblioteca pessoal obras relativas ao apóstolo Paulo. Que tenhamos a mesma paixão desse grande servo de Deus. Paulo, o apóstolo dos gentios, foi um personagem da história do cristianismo que mais atraiu pesquisadores, e cada escritor procurou desenvolver a história desse homem em vários campos do seu judaísmo e, posteriormente, do seu cristianismo. A partir dos relatos dos cristãos primitivos e, especialmente, dos discípulos de Jesus, os historiadores foram filtrando os fatos narrados acerca do ministério de Paulo. É interessante afirmar que Paulo admite nunca ter encontrado Jesus em sua vida terrestre, mas, indiscutivelmente, ninguém foi testemunha maior do que Paulo acerca do que Jesus revelou e manifestou a ele. Até o dia de hoje, Paulo consegue provocar irritação da parte dos judeus, especialmente dos seus contemporâneos, tanto judeus quanto cristãos. Mas, depois da visão do próprio Cristo “no caminho de Damasco”, Paulo tornou-se o apóstolo mais influente do mundo de então. A sua busca religiosa levou-o a confrontar todo o conhecimento que tinha do judaísmo com a doutrina de Cristo. A partir disso, temos um vislumbre do mundo gentio a que Paulo fora enviado e desafiado para representar a Cristo como um autêntico embaixador da Sua mensagem. A narrativa de Lucas em Atos 26 apresenta o modo como Saulo de Tarso foi chamado e vocacionado para levar o nome de Jesus diante dos gentios (At 9.15). No texto de Atos 11, Lucas relata nomes de cidades gentílicas como Antioquia, Chipre, Pafos, Perge, Icônio, Listra, Derbe, Corinto, Filipos, Colossos, Tessalônica, as quais foram alcançadas com a pregação de Paulo. Depois, no capítulo 15 de Atos, aparecem países e outras notáveis cidades como Atenas, Roma, e outras cidades como Samaria, Fenícia, Síria e Cilícia, por onde Paulo, Silas, Barnabé, Timóteo, Tito e outros mais anunciaram o nome de Jesus e plantaram igrejas. James Dunn, teólogo e professor emérito da universidade de Durham, escreveu que “cada geração do cristianismo necessita de uma nova abordagem do apóstolo Paulo, sua vida e suas cartas. A principal razão é simples: O apóstolo Paulo foi o pensador teológico mais criativo da primeira geração do cristianismo”. Concordo com James Dunn. Nos últimos séculos da Era Cristã, muitas abordagens da vida e missão de Paulo foram feitas, e todas, sem dúvida, contribuíram para reunir ideias e fatos da sua vida que ajudam a construção da teologia do Novo Testamento. É impossível adentrar com profundidade em tudo que diz respeito ao grande servo de Deus, Paulo, mas podemos oferecer vislumbres da sua missão recebida de Jesus. Nesta lição, estudaremos o mundo da época do apóstolo Paulo; notaremos um pouco do contexto histórico de Roma, Grécia e Israel, salientando a cidade de Tarso como sendo a terra natal do apóstolo dos gentios; pontuaremos ainda Paulo como um judeu carente da revelação divina e um religioso cego, como um pecador como os demais e, por fim, veremos Paulo como um homem carente da graça de Deus. No 4º Trimestre letivo de 2021, estudaremos, através das Lições Bíblicas da CPAD, sobre o seguinte tema: “O Apóstolo Paulo - Lições da vida e ministério do apóstolo dos gentios para a Igreja de Cristo”. O comentarista das Lições é o pastor Elienai Cabral. As lições estão distribuídas sob os seguintes assuntos: Lição 1 - O Mundo do Apóstolo Paulo; Lição 2 - Saulo de Tarso, o Perseguidor; Lição 3 - A Conversão de Saulo de Tarso; Lição 4 - Paulo, a Vocação Para Ser Apóstolo; Lição 5 - “Jesus Cristo, e Este Crucificado” - A Mensagem do Apóstolo; Lição 6 - Paulo no Poder do Espírito; Lição 7 - Paulo, o Plantador de Igrejas; Lição 8 - Paulo, o Discipulador de Vidas; Lição 9 - Paulo e Sua Dedicação aos Vocacionados; Lição 10 - Paulo e Seu Amor Pela Igreja; Lição 11 - O Zelo do Apóstolo Paulo Pela Sã Doutrina; Lição 12 - A Coragem do Apóstolo Paulo Diante da Morte; Lição 13 - A Gloriosa Esperança do Apóstolo. Estudar sobre Paulo é uma grande satisfação bem como uma grande responsabilidade, pois poderíamos deixar de enquadrá-lo no pedestal que ele merece estar ou poderíamos exagerar a ponto de obscurecer os demais personagens que fazem a história da Igreja. A história de Paulo é narrada em Atos 7.58 a 28.31 e ao longo de suas cartas no Novo Testamento. Segundo Rev. Hernandes Dias Lopes, nenhuma pessoa, exceto Jesus, deu forma à história do cristianismo como o apóstolo Paulo. Ele foi o maior bandeirante do cristianismo, seu expoente mais ilustre, seu arauto mais eloquente, seu embaixador mais ilustre. Embora tenha experimentado fome e frio, suportado cadeias e tribulações, passado os últimos dias numa masmorra e enfrentado o martírio por ordem de um imperador insano, sua vida ainda inspira milhões de pessoas em todo o mundo. Depois que teve um encontro com Jesus na estrada de Damasco, ele passou por uma transformação de vida, de caráter e de pensamento. Sua conversão extraordinária foi um divisor de águas não só em sua vida, mas também na história da humanidade. Antes dessa extraordinária experiência, foi o maior perseguidor do cristianismo; seu zelo sem entendimento o levou a perseguir implacavelmente os cristãos. Mas, depois de sua conversão, tornou-se o maior arauto da história do cristianismo. Sua vida foi vivida sempre com grande ardor e paixão; seu zelo pelo Evangelho o fez gastar-se sem reservas pelos cristãos. Mesmo antes de se tornar cristão, suas ações eram significativas. Sua perseguição frenética aos primeiros cristãos, seguida da morte de Estêvão, deu início a um processo de obediência por parte da Igreja à ordem de Cristo para pregar o Evangelho em todo o mundo. O encontro pessoal de Saulo com Jesus transformou sua vida. Após esse glorioso encontro, nunca deixou de ser intensamente dedicado, e toda a dedicação de Paulo foi direcionada à pregação do Evangelho. Certamente, ele foi o maior evangelista, o maior teólogo, o maior missionário e o maior plantador de igrejas de toda a história do cristianismo. Plantou igrejas nas províncias da Galácia, Macedônia, Acaia e Ásia Menor. Paulo pregou com zelo aos gentios e aos judeus, nas escolas, cortes, palácios, sinagogas, praças e prisão. Com a mesma motivação, pregouquando tinha fartura e também quando passava por provas e privações. Nenhum homem exerceu tanta influência sobre nossa civilização. Nenhum escritor foi tão conhecido e teve suas obras tão divulgadas e comentadas quanto o apóstolo Paulo. Embora tenha vivido sob fortes pressões internas e externas, não deixou jamais sua alma ficar amargurada a ponto de abalar a sua fé. Ele não se envergonhava do Evangelho e não se deixava abater diante das perseguições e sofrimentos. Apesar das dificuldades e sofrimentos por amor ao Evangelho, ele mantinha a firmeza de sua fé, pois tinha convicção de sua comunhão com Deus, e esperança da vida eterna com o Pai Celeste após a morte. Como todo judeu, ele recebeu uma educação familiar e também na sinagoga, estudando algumas disciplinas seculares, além do Pentateuco. Aprendeu o hebraico e certamente o aramaico. Provavelmente entre o final de sua adolescência e o início da juventude, Paulo foi de Tarso a Jerusalém para ser instruído pelo mestre fariseu mais reconhecido da época, Gamaliel (At 22.3). Gamaliel foi membro do sinédrio e um dos rabinos mais respeitados em Jerusalém. A religiosidade e o rigor ao cumprimento da lei o transformaram em perseguidor dos seguidores de Cristo, entendendo estar fazendo a vontade de Deus (1Co 15.9; Gl 1.13,14; Fp 3.6). Com todo o seu conhecimento intelectual e religioso, Paulo teve a experiência mais profunda com Deus no caminho para Damasco (At 9). Ali teve um encontro com Jesus Cristo e conheceu verdadeiramente o Deus que ele pensava conhecer. Como judeu da diáspora, também recebeu a educação helenista em uma escola grega. Tarso era uma cidade importante e tinha uma das três maiores universidades do mundo na época. Dela saíram vários filósofos da escola estoica e manteve a tradição retórica até o século II d.C. Quanto à sua formação ministerial, após sua conversão no caminho para Damasco, ele se dirigiu à Arábia (Gl 1.17). Em seguida retornou para Damasco e ficou nessa cidade por três anos (Gl 1.17,18). Depois subiu para Jerusalém e ficou ali por um período de quinze dias na companhia dos apóstolos Pedro e Tiago (Gl 1.18-20). Depois ele viajou para Síria e Cilícia (Gl 1.21) e, após esse período de preparação, foi enviado pela Igreja de Jerusalém, juntamente com Barnabé, para Antioquia. O apóstolo não era um aventureiro; ele teve um longo processo de capacitação antes de assumir maiores responsabilidades no ministério. Quando escreveu aos Gálatas, Paulo afirmou que o seu chamado, a exemplo de outros profetas do Antigo Testamento, se deu quando ele ainda estava no ventre de sua mãe. Isso não quer dizer que o apóstolo sabia desde o início que seu chamado seria com os gentios, mas que Deus, na sua presciência, já o sabia. Paulo assevera que entendeu o seu chamado quando o Deus Pai revelou a ele o seu próprio Filho, Jesus. Dessa forma, ele argumenta que não fora chamado pelos apóstolos, mas pessoalmente, pelo Jesus ressurreto, defendendo assim a legitimidade de seu apostolado. Esse relato é relevante quando se avalia a autoridade do seu apostolado e de seus escritos, inspirados pelo Espírito Santo. Ele defendia a legitimidade de seu apostolado quando era questionado pelos falsos mestres. Estes queriam denegrir sua imagem e sua mensagem. Que neste trimestre, venhamos a apreender lições maravilhosas com os feitos extraordinários deste mui digníssimo e destemido embaixador do Cristianismo, e que as lições do seu profícuo ministério, seus exemplos de fidelidade, lealdade e resiliência venham fortificar a nossa maturidade cristã e espiritual. Quem era esse homem que provocava verdadeiras revoluções por onde passava? Quais eram suas credenciais? Quem eram seus pais? Onde nasceu? Como foi educado? Que convicções religiosas nortearam-lhe os passos? Convido você a fazermos uma viagem rumo ao passado, entrando pelos corredores do tempo, a fim de descobrirmos essas respostas. Nossa fonte primária é a Sagrada Escritura. Dela, emanam as informações mais importantes sobre a vida, o ministério e a morte desse gigante do cristianismo. É tempo de começarmos essa viagem! Estamos dando início ao quarto e último trimestre letivo de 2021, quando teremos um trimestre biográfico, pois estudaremos uma personagem das Escrituras: o apóstolo Paulo. Sem dúvida alguma, depois de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, a personagem mais sobressalente das páginas do Novo Testamento é o apóstolo Paulo, ele próprio autor de mais da metade dos livros desta parte das Escrituras Sagradas, a saber, 14 livros, se se entender ter sido ele o autor da epístola aos hebreus ou, se assim não se considerar, 13 dos 27 livros. Como se não bastasse a sua participação como autor, em o Novo Testamento tem-se que é efetivamente Paulo, o apóstolo dos gentios (Rm 11.13), quem torna o Cristianismo de uma seita judaica (At 9.2; 24.5,12; 28.22) em uma religião universal, a tal ponto que, ao longo da história, houve quem, ainda que sem qualquer razão, tenha considerado que o verdadeiro fundador do Cristianismo teria sido Paulo e não o próprio Cristo, como, por exemplo, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900). O escritor Og Mandino (1923-1996) chegou a considerar o apóstolo como o “maior vendedor do mundo”. Foi Paulo quem compreendeu o mistério da Igreja em toda a sua plenitude, como sendo um corpo formado tanto por judeus quanto por gentios e que formam um novo povo, entendimento que não adveio de sua capacidade intelectual, que era tamanha, mas de revelação divina (Ef 2.1-3.12). Assim, se coube a Moisés levar até o povo de Israel a lei, ensinando-lhe o significado do que é ser povo de Deus, propriedade peculiar de Deus dentre os povos (Jo 1.17; At 7.38; Gl 3.19), e, nesta ação, apontando para o profeta que havia de vir (At 7.37), coube a Paulo, depois que o Senhor Jesus trouxe a graça (Jo 1.17), levar até o povo de Deus, não mais Israel mas a Igreja, o significado desta graça e como devemos viver sobre a face da Terra à luz desta graça. Como Moisés, para realizar seu papel, foi preparado desde o seu nascimento para realizar esta tarefa, fazendo com que tivesse períodos distintos em sua vida de modo a que aprendesse, na primeira infância, as promessas de Deus, depois se tornasse filho da filha de Faraó para se tornar instruído em toda a ciência dos egípcios (At 7.22) e, depois, tivesse a experiência da solidão do deserto quando aprendeu a pastorear ovelhas para, então, tornar-se o libertador e líder dos filhos de Israel, Paulo também foi criado na cultura judaica pelos seus pais, obteve a formação filosófica grega na sua cidade natal, Tarso (At 22.3), depois foi levado até Jerusalém, onde, tornado fariseu (At 26.5), aprendeu aos pés do mestre Gamaliel (At 22:3), tendo se tornado grande perseguidor dos cristãos (At 8.1; 9.1; 1Tm 1.12), até ser alcançado pelo Senhor Jesus para se tornar o mais laborioso dos apóstolos (2Co 11.22-33), como também o de maior profundidade doutrinária (2Pe 3.15). Só por estes fatos, tem-se que é extremamente útil e proveitoso estudarmos a vida desta personagem bíblica, que se identificou como “imitador de Cristo” (1Co 11.1), de modo que, aprendendo como viveu e as lições de vida e de ministério que nos deixou, teremos certamente um bom referencial em nosso peregrinar neste mundo na caminhada para o céu. Após uma lição introdutória em que teremos uma visão de como era o mundo no tempo do apóstolo Paulo, teremos um primeiro bloco em que analisaremos a biografia do apóstolo, enfocando a fase de sua vida em que ainda não era um cristão, mas, sim, um terrível perseguidor da Igreja (lição 2), a sua conversão (lição 3) e a sua vocação para o apostolado (lição 4). Em seguida, faremos uma análise de aspectos do ministério do apóstolo: o poder do Espírito (lição 6), a plantação de igrejas (lição 7), o discipulado de vidas (lição 8) e a sua dedicação aos vocacionados (lição 9). Por fim, faremos uma análise do ânimo do apóstolo, de como submeteu todo o seu ser à vontade de Cristo, mostrando seu amor pela igreja (lição 10), seu zelo pela sã doutrina (lição 11), sua coragemdiante da morte (lição 12) e a sua gloriosa esperança (lição 13). A capa da revista mostra-nos uma pena, utilizada para escrever, ao lado de alguns livros, a nos lembrar que foi o apóstolo Paulo o principal instrumento usado pelo Senhor para redigir o Novo Testamento, a complementação das Escrituras, o vaso escolhido por Deus para nos mostrar o cristocentrismo do Antigo Testamento (1Co 15.3,4), explanando-o à luz da obra salvífica de Cristo. Paulo que teve a revelação de Cristo nele, após a sua conversão (Gl 1.15,16), inspirado pelo Espírito Santo, transmitiu esta revelação por meio de suas epístolas para toda a Igreja em todos os tempos e todos os lugares. O comentarista do trimestre é o pastor Elienai Cabral, que dispensa apresentações, ele que é o consultor teológico da Casa Publicadora das Assembleias de Deus. Que ao término do trimestre sejamos todos imitadores de Paulo, e, assim fazendo, estaremos todos sendo genuínos e autênticos cristãos. Vamos estudar um trimestre biográfico, pois estudaremos a vida e a obra do apóstolo Paulo. Paulo foi uma pessoa escolhida por Cristo para que o Senhor Jesus fosse perfeitamente revelado e compreendido no mundo do século I da Era Cristã. Vamos pensar maduramente a nossa fé?
	PONTO CENTRAL
	O mundo de hoje é uma porta aberta para o Evangelho.
	I. O MUNDO DE PAULO NO IMPÉRIO ROMANO
	De todos os homens ilustres de Tarso, produtos do ginásio e das famosas escolas, ninguém foi maior que Paulo. Ele galgou alturas superiores a todos os demais. Todos foram esquecidos e, apesar de tanta grandeza, deixaram apenas uma pequena marca na história. O grande apóstolo de Cristo, porém, cativou de tal forma o coração de milhões de pessoas em todas as eras, e alçou-se a tal proeminência, que a própria Tarso é lembrada, não por suas escolas e comércio, mas porque Paulo ali viveu. Grande parte da vida e da época de Paulo nos tem sido preservada no Novo Testamento, principalmente nos escritos pessoais do apóstolo. Numa narrativa envolvente, Charles Ferguson Ball apresenta, pormenorizadamente, a vida do grande apóstolo dos gentios. Onde a história se cala, o autor busca prováveis detalhes em suas pesquisas, mantendo sempre a conformidade com o registro bíblico. Paulo foi a pessoa escolhida por Cristo para que o Senhor Jesus fosse perfeitamente revelado e compreendido no mundo do século I da Era Cristã.
1. Entendendo a origem de Paulo. Há poucas informações concretas acerca da vida cronológica de Paulo, como sua data de nascimento, formação cultural e religiosa. Geograficamente, Paulo (nome romano) era natural de Tarso, capital da Cilícia, que ficava às margens do rio Cydnus, na Ásia Menor. Sobre o seu nascimento, não temos data precisa. Talvez tenha ocorrido no ano 5 a.C. Dessa forma, quando o nosso Senhor foi crucificado, Paulo poderia ter entre 30 e 35 anos de idade. A cronologia da vida de Paulo tem poucas informações concretas acerca de sua vida pessoal, envolvendo a data de seu nascimento, sua formação cultural e religiosa. Na epístola a Filemom, no versículo 9, quase 40 anos depois de sua conversão, Paulo dirige-se ao seu amigo e hospedeiro Filemom, que era, além de servo de Cristo, um próspero negociante da cidade de Colossos. Nessa carta ao seu amigo Filemom, Paulo faz um pedido em favor de Onésimo, um escravo fugitivo que havia praticado algo digno de morte, mas que, em sua fuga, encontrou Paulo e converteu-se a Cristo. Nessa epístola, Paulo solicita a Filemom que receba de volta o seu escravo no amor de Cristo. Mas o que chama a atenção é que, nessa carta, Paulo identifica-se como “o velho”, indicando que sua idade era de, aproximadamente, 55 a 60 anos de idade, talvez um pouco mais. Era a cultura que prevalecia naquela época: uma pessoa com mais de 60 anos de idade naquele tempo já era tratada como idosa. Conta-se na história dos gregos que, um legislador de Atenas (635-560 a.C.). chamado Sólon resolveu fazer o cálculo da vida de um homem por dez períodos de sete anos cada. Posteriormente, outro grego, médico, que se chamava Hipócrates, identificado como o pai da medicina, também fez um cálculo da vida de um homem medida por sete períodos de sete anos cada. Hipócrates denominou esses períodos como: lactância, infância, adolescência, juventude, virilidade, meia-idade e velhice. O período da velhice passou a ser chamado de o período da “idade madura”. Na Bíblia, a estimativa da duração de vida de uma pessoa corresponde a 70 anos e, às vezes, a duração da vida é de 80 anos, se ela for vigorosa (Sl 90.10). Em relação ao apóstolo Paulo, quando se identificou como “o velho” ao seu amigo Filemom, ele teria naquele momento entre 60 e 64 anos aproximadamente (62 d.C.). Certamente, a velhice de Paulo tinha a ver com o desgaste físico, mental e emocional que obteve depois que se tornou um apóstolo do Senhor Jesus. Mesmo estando velho como ele se via, podemos observar que os últimos 30 anos do seu ministério foram muito produtivos. Ele plantou igrejas e construiu uma cristologia, fruto de sua paixão, e desenvolveu outras doutrinas no campo da escatologia, da eclesiologia e outras ciências mais, que são aplicadas nas igrejas até hoje. Portanto, seu mundo, passados mais de 30 anos depois do Pentecostes, foi alcançado de modo espetacular. Seu mundo não foi apenas o geográfico, mas teve uma abrangência cultural enorme no qual o apóstolo foi capaz de revolucionar com a pregação e o ensino do evangelho. Como cidadão romano, ele havia adotado o nome romano “Paulo” (At 13.9), uma vez que o nome “Saulo” era um nome judaico, e era nascido em Tarso, capital da Cilícia, que ficava às margens do rio Cydnus, na Asia Menor. Neste ponto, Lucas observou que Saulo era também conhecido como Paulo. A implicação é de que ele já tinha os dois nomes, mas começou a usar o último, preferindo usar o seu nome romano para o equilíbrio da sua missão orientada pelos gentios. A partir deste ponto, Paulo é sempre chamado pelo seu nome romano no registro de Lucas. Não há data precisa do seu nascimento, a qual poderia ser no ano 5 a.C., aproximadamente. Quando Jesus morreu no calvário, Paulo poderia estar entre 30 e 35 anos de idade. Deus, em sua infinita sabedoria e presciência, escolheu a Saulo de Tarso e chamou-o provocando uma experiência emocional assustadora. Diferentemente dos demais apóstolos, o Senhor Jesus viu em Paulo o homem que possuía as qualidades ideais de ousadia para levar o Seu nome ao mundo gentio (At 9.15). Os 12 apóstolos em Jerusalém, com poucas exceções de alguns, tiveram dificuldades para aceitar o apostolado de Paulo, porque entendiam que ele não estivera com eles nos quase quatro anos do ministério terrestre de Jesus. Os apóstolos de Jesus restringiam-se a anunciar Jesus apenas aos judeus porque entendiam que Jesus havia vindo antes para os judeus, e, por isso, deveriam levar o evangelho primeiramente aos judeus. Entretanto, Jesus via a Paulo por uma perspectiva mais abrangente, e convoca-o de forma dramática para ser “apóstolo entre os gentios” (Rm 1.1; 1Co 1.1; Ef 1.1). Paulo, nome romano de Saulo, nasceu em Tarso na Cilícia (At 16.37; 21.39; 22.25). Esta era uma cidade universitária que ficava próxima da costa nordeste do Mar Mediterrâneo. Segundo o próprio apóstolo, Tarso era uma “cidade não pouco célebre na Cilícia” (At 21.39); ao contrário, era um grande centro da cultura grega. Embora tenha nascido um cidadão romano, Paulo era um judeu da Dispersão, um israelita circuncidado da tribo de Benjamin, e membro zeloso do partido dos Fariseus (Rm 11.1; Fp 3.5; At 23.5). Desde seu nascimento até seu aparecimento em Jerusalém como perseguidor dos cristãos, conforme os relatos do livro de Atos dos Apóstolos, há pouca informação sobre a vida do apóstolo Paulo. Sobre o seu nascimento, não temos data precisa; talvez tenha ocorrido no ano 5 a.C. Dessa forma, quando o nosso Senhor foi crucificado, Paulo poderia ter entre 30 e 35 anos de idade. Paulo foi educado em Jerusalém, sob o ensino do renomado doutor da lei, Gamaliel, neto de Hillel. Paulo conhecia profundamente a cultura grega. Eletambém falava o aramaico, era herdeiro da tradição do farisaísmo, estrito observador da Lei e mais avançado no judaísmo do que seus contemporâneos (Gl 1.14; Fp 3.5,6). Considerando todos estes aspectos, pode-se afirmar que sua família desfrutava de posição proeminente na sociedade. O apóstolo Paulo possuía cidadania romana. Sobre isso, ele próprio afirmou ser cidadão romano de nascimento (At 22.28). Provavelmente essa declaração indica que sua cidadania foi herdada de seu pai. Estima-se que naquele tempo pelo menos dois terços da população do Império Romano não possuíam cidadania romana. Não se sabe ao certo como o pai do apóstolo conseguiu tal cidadania. Algumas pessoas importantes e abastadas conseguiam comprar a cidadania (At 22.28); outras, conseguiam tal cidadania ao prestar algum trabalho relevante ao governo romano. A cidadania romana concedia alguns privilégios, dentre os quais citamos: A garantia do julgamento perante César, se exigido, nos casos de acusação; Imunidade legal dos açoites antes da condenação; Não poderia ser submetido à crucificação, a pior forma de pena de morte da época. Do nascimento de Paulo até o seu aparecimento em Jerusalém, como perseguidor dos crentes, temos apenas informações muito esparsas. Sabemos que ele nasceu em Tarso, “cidade não insignificante” (ver At 21.39), descrição essa que tem sido confirmada pelas escavações arqueológicas de Sir William Ramsay. Naquele tempo Tarso (na Cilicia) foi incorporada à província da Síria. Tarso, por essa época, já tinha história antiga, e fora cidade importante por muitos séculos antes da era cristã. Tarso chegou a ser a cidade mais importante da Cilicia. Essa cidade se tornou uma região de síntese entre o Oriente e o Ocidente, entre a cultura grega, a cultura oriental e, finalmente, a cultura romana. Também se sabe que era um centro cultural, e que ali era muito forte a variedade do estoicismo romano. “Eu sou judeu, natural de Tarso, cidade não insignificante da Cilicia”, Paulo anunciou, certa vez, numa demonstração magistral de modéstia ao expor sua situação. Um estudo acurado da antiga cidade de Tarso revela que a cidade natal de Paulo não era um simples ponto no mapa, mas uma metrópole movimentada de cultura multiforme e comércio internacional. Sua localização estratégica explica a sua importância e sucesso. Para encontrar Tarso, use o mapa impresso na página 393 e localize, em primeiro lugar, a grande massa de água no centro; é o mar Mediterrâneo. A seguir, examine a divisa mais oriental do mar, seguindo para o norte pela costa e passando pela Síria. Vire levemente para o Oeste (isto é, à direita, para você que está sendo agora geograficamente desafiado!) até encontrar a Cilicia, uma província na extremidade sudeste do que era então chamado Ásia Menor. Hoje faz parte da moderna Turquia. Ali você encontra Tarso, localizada no coração da província da Cilicia - lugar de nascimento de Saulo. A cerca de 19 km das praias resplandecentes do Mediterrâneo, Tarso é rodeada pela cadeia de Montanhas Taurus - montes escarpados e altaneiros que vão do litoral até o Norte, constituindo um vasto escudo protetor ao redor da cidade. Em vista de estar próxima a um porto de mar, Tarso tornou-se uma via comercial muito usada pelas caravanas que levavam suas mercadorias do Oriente, no Leste, até Roma, no Oeste. A viagem exigia que passassem pelos Portais da Cilicia - uma impressionante sequência de passagens estreitas lavradas através das Montanhas Taurus acima de Tarso. Saulo foi nutrido com a nata de todo esse diversificado e rico caldo cultural e comercial, enquanto ele crescia na cidade fascinante em que nasceu. Embora órfão de mãe aos nove anos, como filho de um proeminente fabricante de tendas, Saulo tornou-se beneficiário de uma herança religiosa e intelectual igualmente rica.
a) O tempo do apóstolo Paulo. Neste trimestre, estaremos a estudar a vida e o ministério do apóstolo Paulo, este gigante espiritual que se constitui na principal personagem do Novo Testamento depois de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Além de ter escrito a maior parte dos livros do Novo Testamento, 13 ou 14 livros, dependendo da posição que se tenha quanto à autoria da epístola aos hebreus, é o apóstolo a figura central do período apostólico, como vemos no livro de Atos dos Apóstolos, por ter sido a peça utilizada pelo Senhor Jesus para transformar a fé cristã de uma seita judaica em uma religião universal. Como nos ensina a física, quando falamos do universo em que vivemos e de que nosso mundo faz parte, são duas as variáveis com que temos de lidar: o tempo e o espaço, que Alberto Einstein (1879-1955) entendeu ser, na verdade, uma só grandeza, o espaço-tempo. Então, para falarmos do mundo do apóstolo Paulo, teremos de verificar o tempo e o espaço. A Divina Providência já havia preparado o mundo para a chegada do Filho de Deus a este mundo. Como se demonstra pelas próprias profecias bíblicas, notadamente as revelações dada a Daniel, após o fracasso espiritual de Israel, que o levou à perda da Terra Prometida, iniciou-se o que se costuma denominar de “tempo dos gentios”, ou seja, um período em que o povo de Israel ficaria sob o domínio dos gentios, numa sequência de impérios mundiais, o que somente findará quando o próprio Cristo vier a reinar sobre o povo israelita, ocasião em que Israel se tornará a potência mundial, o que ocorrerá por ocasião do reino milenial. A perda da independência política por parte dos israelitas, entretanto, eles próprios já reduzidos em população ante o desaparecimento das dez tribos do antigo reino do norte, o que fez com que, inclusive, os israelitas passassem a ser chamados de “judeus” (2Rs 16.6; 25.5; Et 2.5), não significou, como talvez tenha até pensado o jovem Daniel quando mandado para o exílio em Babilônia, a frustração do cumprimento das promessas messiânicas. Muito pelo contrário, a partir da perda da Terra Prometida, inicia-se a sequência dos impérios mundiais, como se verifica na interpretação do sonho dado ao rei Nabucodonosor, interpretado por Daniel (Dn 2), sob o domínio dos quais ficariam os filhos de Israel até a vinda do Messias (Ne 9.36,37). A partir de então, Deus começa a preparar o mundo para a chegada do Messias, providenciando uma sequência de impérios mundiais que trouxessem uma uniformização político-econômico-social a fim de facilitar a divulgação da mensagem da salvação da humanidade na pessoa de Cristo Jesus, já que a rebeldia humana na torre de Babel havia causado a proliferação de nações e, uma natural dificuldade de disseminação de uma mensagem universal como era o Evangelho. Era este o tempo em que nasceu e viveu o apóstolo Paulo, que é, aliás, o mesmo tempo em que o próprio Jesus exerceu o Seu ministério terreno, ministério porém que ficou restrito às ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt 15.24), ovelhas estas que rejeitaram o seu Senhor (Jo 1.11), mas, que apesar de tal rejeição, foi feito Senhor e Cristo (At 2.35), devendo, por isso mesmo, ser anunciado a toda criatura (Mc 16.15), o que, entretanto, só será bem compreendido por Paulo, que foi o vaso escolhido por Deus para iniciar efetivamente esta missão (At 9.15). Este tempo era, por primeiro, caracterizado pelo domínio político de Roma. Paulo nasceu e viveu no período da chamada “pax romana”, que é o auge, o apogeu do Império Romano, o quarto império mostrado no sonho dado a Nabucodonosor e interpretado por Daniel (Dn 2.40). Os romanos governavam o mundo. Conquistaram este direito pela força dos seus exércitos. Eles possuíam o dom da colonização e do governo. Devido ao poder de suas legiões estacionadas em todas as suas colônias, eram os donos do mundo. Este período durou de 27 a.C. até 180 d.C., ou seja, um período de aproximadamente 200 anos em que Roma não encontrou qualquer ameaça ao seu poderio que se estendia por toda a Europa meridional e central, norte da África e Oriente Médio, domínio este que foi fortemente facilitado pela malha viária construída pelos romanos, que muito favoreceu as viagens e deslocamentos de pessoas por dentrodo Império. Este domínio político fez com que, também, houvesse uma intensificação das comunicações e dos transportes, com a disseminação do idioma grego, que já tinha alcançado grande divulgação desde os tempos de Alexandre, o Grande, e que tinha sido a base da chamada “cultura helenística”, que foi uma simbiose entre a cultura oriental, forjada no Egito, Babilônia e Pérsia, com a cultura grega que teve grande influência sobre a cultura romana, já que o povo romano era bem mais modesto em termos de intelectualidade que os gregos. Esta “helenização” não poupou nem os judeus que, apesar de serem um povo diferenciado dos demais, precisamente porque era o povo formado por Deus em contraposição a todas as culturas que se forjaram a partir da rebeldia contra o Senhor na torre de Babel, tiveram nítida influência não só da cultura babilônica, que absorveram durante o cativeiro, mas também da própria cultura grega. Prova desta influência encontramos no próprio comprometimento de parcela da população, notadamente a elite, com a mentalidade grega, como, por exemplo, os poderosos Tobíadas, um clã que, durante séculos, cuidou da arrecadação de tributos para os subsequentes dominadores estrangeiros sobre os filhos de Israel e a quem, logicamente, interessava um sincretismo cultural com os gentios e que deram nascimento à própria classe dos publicanos, tão execrados entre os judeus nos dias de Jesus e de Paulo. Mas, além disso, temos a própria existência de comunidades judaicas espalhadas pelos quatro cantos da Terra, já que a maior parte do povo judeu não retornou para Canaã ao término do cativeiro da Babilônia, preferindo se manter estabelecidos nas grandes cidades então sob o domínio da Pérsia, espalhando-se, depois, para as cidades gregas e europeias, inclusive Roma. Esta realidade de diversos judeus vivendo entre os gentios vamos ter, por exemplo, no dia de Pentecostes, quando judeus de quinze nacionalidades diferentes testemunharam o derramamento do Espírito Santo sobre os discípulos, admirando que os ouvissem falar em suas próprias línguas (At 2.7-11), que eram chamados de “gregos” (Jo 12.20; At 6.1), por terem nascido e viverem fora da terra de Israel. Paulo, aliás, era um destes “judeus gregos”, porque era natural da cidade de Tarso (At 9.11; 21.39; 22.3), cidade na região então chamada de Cilícia, que hoje correspondente à província turca de Mersin, que teria sido fundada pelo rei assírio Senaqueribe, logo depois de ele ter expulsado dali os gregos, que haviam invadido o local, e que logo se tornou um importante ponto de parada para comerciantes em viagem. Apesar de sua grandeza Tarso não se destacava por sua antiguidade (…) A fama lhe sobreveio principalmente de seu entusiasmo pela cultura. Suas escolas atraíam filósofos e professores de renome internacional. A afirmação de que ofuscava qualquer cidade como central cultural era bem justificada. Com a derrocada da Assíria e, depois, de Babilônia e da Pérsia, não demorou muito para que Tarso voltasse ao controle grego e se tornasse, inclusive, um importante centro filosófico, como veremos infra. Depois se tornou um ponto estratégico para os romanos, uma espécie de centro militar para as campanhas voltadas para as conquistas orientais do Império, tendo sido, aliás, o local onde se conheceram Marco Antônio e Cleópatra, o que explica porque foi concedida a cidadania romana para todos os naturais de lá, tendo se tornado a capital da província romana da Cilícia. Marco Antônio foi um dos membros do chamado “Segundo Triunvirato”, grupo de três governantes que assumiram o poder em Roma em 43 a.C., logo após o assassinato de Júlio César e que depois lutou pelo poder contra Otávio, outro membro do grupo, que, depois de derrotar Marco Antônio, se tornaria o primeiro imperador romano, o César Augusto do texto bíblico (Lc 2.1). Cleópatra foi a última rainha do Egito, que foi conquistado por Otávio e transformado em parte do Império Romano. Enamorou-se com Marco Antônio que manteve a independência do Egito. Nascendo em Tarso, Paulo teve, de imediato, contato com este domínio romano, pôde compreender como funcionavam todas as engrenagens do poder político imperial e que não encontravam qualquer obstáculo ou ameaça e, mais do que tudo, por ter nascido em Tarso, era cidadão romano (At 22.25-29; 23.27), desfrutando de todos os privilégios deste domínio político de Roma.
b) O espaço do apóstolo Paulo. Bem compreendendo a situação política existente ao tempo do apóstolo Paulo, podemos agora fazer algumas considerações sobre o espaço em que viveu o doutor dos gentios (2Tm 1.11). Como vimos, Paulo nasceu em Tarso, cidade que ficava na Cilícia, fazendo parte da comunidade judaica, sendo da tribo de Benjamim (Fp 3.5), o que pode muito bem explicar o seu nome, pois, em hebraico, seu nome é Saul, precisamente o nome do primeiro rei de Israel, que era da tribo de Benjamim (1Sm 9.1,2). Tarso era uma cidade “grega”, que já tinha influência grega desde os dias de Senaqueribe, que a fundou. Com a derrocada do Império Persa, foi uma das primeiras cidades a sofrer o impacto da cultura grega rumo ao Oriente, sendo, pois, um dos primeiros lugares onde se desenvolveu esta simbiose que deu origem à já mencionada “cultura helenística”, não sendo, pois, por acaso, que Paulo seja natural de lá, pois, judeu como era, pôde desde o berço abeberar-se deste caldo cultural que seria o ambiente em que pregaria o Evangelho da graça de Deus (At 20.24). Tarso tanto se helenizou que se tornou, inclusive, um centro filosófico, pois ali se formou um importante núcleo do estoicismo, a escola filosófica que rivalizava em importância com os platônicos e os epicureus nos dias de Jesus e de Paulo (At 17.18). Em Tarso viveu um dos grandes mestres do estoicismo, Zenão de Tarso, que viveu por volta de 200 a.C. Certamente, Paulo foi formado nesta escola filosófica, tanto que há quem afirme que tenha trocado correspondência com Sêneca (4 a.C.- 65 d.C.), o grande filósofo estoico romano que foi contemporâneo do apóstolo, sendo inegável a influência que tem o apóstolo desta escola filosófica, quando, por exemplo, disserta a respeito da carne e do espírito em Gálatas e Efésios, por exemplo. O primeiro a mencionar a correspondência entre Sêneca e Paulo foi Jerônimo, no capítulo 12 de sua obra “Sobre os homens ilustres”, “in verbis”: “…alguém [Sêneca] que eu não poria numa lista de santos não fosse pelas Epístolas de Paulo para ele e dele de volta, que são lidas por muitos. Nelas, escritas quando ele era tutor de Nero e o mais poderoso homem de seu tempo, ele diz que ele deveria ter entre os seus compatriotas um lugar como o que Paulo tem entre os cristãos.…”. Há, porém, muitas dúvidas sobre a autenticidade dos manuscritos existentes, até porque os mais antigos são do século IV. O estoicismo era uma escola filosófica que dava muito valor à ética, ou seja, à conduta do ser humano e que entendia que se deveria extirpar e controlar as paixões humanas, buscando-se uma vida de imperturbabilidade e de resignação diante do destino, que já estaria traçado de forma inevitável pelo “Logos”, que identificavam como sendo a natureza, o movimento de todas as coisas, sendo imperioso que o homem compreenda esta ordem natural para poder se conformar a ela. Ao mesmo tempo, conforme já vimos, Tarso passou a ser uma importante cidade para Roma, de modo que foi dada a todos os moradores dela a cidadania romana, de modo que o apóstolo, que não era de uma família humilde, tudo indica, acabou por gozar também deste privilégio. Como cidadão romano, Paulo pôde conhecer quais os direitos e privilégios que tinha em todo o vasto território do Império, podendo, então, enquanto membro de uma minoria étnica (a comunidade judaica), não permitir que fosse tolhido em sua vida por preconceitos ou quaisquer outros fatores que diminuíssem a sua elevada condição diante da lei de Roma. O apóstolo era cidadão romano e, como tal, encontrava-se numa situação de proteção máxima no mundo de então, onde Roma era a senhora e dominadora plena. Esta noção de cidadaniaque possuía Paulo seria essencial no desempenho futuro de seu ministério, pois, mesmo vivendo em um mundo hostil, e o mundo sempre nos será hostil, porque está ele no maligno (1Jo 5.19), estamos nele mas não somos dele (Jo 17.11,14-16), mas, mesmo assim, faz-se mister que saibamos quais são os direitos que se nos garantem, pois, mesmo tendo o mundo ódio de nós, há momentos em que terão de fazer valer nossos direitos mesmo contra a sua vontade (At 16.36-40; 25.9-12). Assim, o apóstolo foi criado e formado nas três principais culturas da época: a cultura romana (porque nasceu numa cidade onde todos eram cidadãos romanos e, portanto, teve logo contato com a lei romana), a cultura grega (pois Tarso era um centro filosófico) e a cultura judaica, pois, sendo judeu de nascimento, era de uma família religiosa, tanto que logo o apóstolo vai se afeiçoar à seita dos fariseus e se tornar um fariseu (At 23.6; 26.5; Fp 3.5), devendo sua família, certamente, ter sido uma das “evangelizadas” pelos missionários fariseus que viviam rondando as comunidades judaicas espalhadas pelo mundo (cf. Mt 23.15), já que o apóstolo diz que era “filho de fariseu” (At 23.6). A exemplo de Moisés, pois, Paulo também foi formado em toda a ciência do mundo de então, precisamente para que, mais tarde, pudesse utilizar todo este cabedal a serviço do reino de Deus, pois, como lhe foi revelado posteriormente, havia sido escolhido desde o ventre de sua mãe pelo Senhor (Gl 1.15). Economicamente, vemos que Paulo não era de uma família humilde. Por primeiro, pelo fato de ser cidadão romano, já vemos que o apóstolo era livre, ou seja, não era escravo, de modo que, só por isso, se encontrava numa posição privilegiada numa sociedade em que praticamente 90% da população era formada de escravos. Como se isto fosse pouco, o próprio apóstolo afirma que foi estudar em Jerusalém aos pés de Gamaliel, um dos grandes mestres do judaísmo do tempo de Paulo e de Jesus. Isto revela que Paulo vinha de uma família que tinha posses suficientes para possibilitar-lhe tal atividade e, ainda por cima, ter como mestre um dos principais rabis daquela época, membro do Sinédrio (At 5.34). Alguém dirá que Paulo era pessoa humilde, porque era fazedor de tendas (At 18.3), que seria uma “profissão humilde”. Sem razão, porém, quem assim pensar, isto porque ter um ofício secular era um dever, uma obrigação de todos quantos se dedicavam ao estudo da lei. A tradição judaica “…glorificava o trabalho como o sustentáculo da vida e o preservador dos objetivos ideais da Torah. Com raras exceções, todos os Sábios Talmúdicos trabalhavam em ofícios e nenhuma profissão era considerada desprezível para eles, contanto que lhes permitisse ser socialmente úteis e honrados. ‘Adquira uma ocupação ao lado da sua dedicação a Torah’, aconselhavam eles. O Patriarca do século II, Raban Gamaliel, explicou a sabedoria desse conselho da seguinte forma: ‘O estudo da Torah é realmente uma coisa boa quando combinado com uma ocupação, porque o esforço exigido pelos dois não deixa mais tempo nem pensamentos para o pecado.’…” Paulo foi estudar em Jerusalém e logo se destacou como um dos principais alunos de Gamaliel, tanto que disse que estudou aos pés daquele mestre (At 22.3) e é sabido que, naquele tempo, os mestres ensinavam sentados (Mt 5.1) e os alunos ficavam em pé, mas os melhores alunos, aqueles que se destacavam e se apresentavam como futuros mestres, eram convidados a ficar aos pés do mestre, igualmente sentados, junto do mestre que, normalmente, ficava num lugar mais elevado a fim de que pudesse ser visto por todos os que o ouviam. Estudando aos pés de Gamaliel, logo o apóstolo se destacaria entre os fariseus, pois Gamaliel era fariseu (At 5.34), que é conhecido pelos judeus como “raban”, título que recebia aquele era o mestre superior do Sinédrio, o segundo homem daquele órgão, abaixo apenas do sumo sacerdote, o que explica como conseguiu a autorização do sumo sacerdote para prender todos os judeus que fossem cristãos em Damasco (At 9.1,2). A formação com Gamaliel, também, explica o zelo religioso que o apóstolo terá, porque a seita dos fariseus era a mais escrupulosa de todas, exigindo não só o cumprimento da lei mas de uma série de mandamentos outros, considerados como a “cerca da Torá” (Mt 23.3,4). Esta noção de “cerca da Torá” está no chamado “Tratados dos Pais” (Pirkei Avot) do Talmude, o segundo livro sagrado do judaísmo: “Moshê (Moisés) recebeu a Torá no Monte Sinai e a transmitiu a Yehoshua (Josué); Yehoshua (Josué) aos Anciãos; os Anciãos aos profetas; e os Profetas transmitiram-na aos Homens da Grande Assembleia. Ele [os Homens da Grande Assembleia] disseram três coisas: Sejam prudentes no julgamento; preparem muitos discípulos; e ergam uma cerca para a Torá.”. A religiosidade dos fariseus será extremamente combatida pelo Senhor Jesus, que fez o Seu mais duro discurso precisamente contra eles (Mt 23) e não se tem surpresa alguma que os fariseus tenham se colocado como vorazes inimigos dos cristãos, que eles chamavam como “a seita dos nazarenos” (At 24.5). Paulo, sendo um fariseu extremamente zeloso (At 26.5), logo irá se colocar radicalmente contra os cristãos, a ponto de liderar a primeira grande perseguição contra a Igreja. Enquanto se tinha esta religiosidade exclusivista e orgulhosa dos fariseus, também havia uma tendência de sincretismo religioso, extremamente favorecida pela cultura helenística e que tinha, também, o apoio do governo romano, que estava a incentivar e estimular esta mistura de religiões. Os romanos eram extremamente tolerantes com as religiões e os cultos dos povos dominados, evitando envolver-se nestas questões (Jo 18.31; At 18.14-16; 25.13-21), ainda mais quando estava iniciando o “culto ao imperador”, que Roma queria que fosse adotado por todos como mais um culto existente. Paulo tinha pleno conhecimento disto e, como fariseu, era contrário a tal postura, que era bem própria dos saduceus, a seita judaica rival, mas o apóstolo bem sabia disto e a compreensão deste fenômeno seria crucial no desenvolvimento de seu ministério, inclusive para a retirada deste exclusivismo farisaico que estava bem presente entre os cristãos judeus e que seria a mentalidade que se levantaria contra o apóstolo da parte dos judaizantes, em sua esmagadora maioria formada de antigos fariseus (At 15.5). Paulo tem, já na sua formação, um entrelaçamento de todas estas culturas, de todos estes pensamentos, o que lhe dá uma postura universal, uma compreensão intercultural que seria essencial para que pudesse bem compreender a essência da mensagem do evangelho da graça de Deus e, deste modo, superar as barreiras culturais para promover a evangelização que atingiu todo o Império Romano. É importante observar, desde já, que, apesar de ter uma boa posição social, uma boa formação intelectual, Paulo demonstrou ter uma grande sede de Deus, tanto que deixa Tarso e vai até Jerusalém para aprender a lei. Ele tinha em mente a necessidade que o ser humano tem de estar em comunhão com o Senhor, de poder desfrutar de um relacionamento com Ele. Este sentido de proeminência das coisas espirituais, de busca pelo divino foi fundamental para que o apóstolo pudesse ser quem foi nas mãos de Deus. Verdade é que, num primeiro momento, este seu interesse o levou para o zelo religioso que o fez cometer atrocidades contra os cristãos, como, aliás, acontece com muita gente até os dias de hoje. Entretanto, por compreender, desde cedo, a necessidade de se relacionar com Deus, Paulo já deu um grande passo para que viesse a ter um encontro com Cristo e se tornasse o grande nome da Igreja depois do próprio Senhor Jesus. Esta sede de Deus, que é ínsita a todo ser humano (Sl 42.2), quando é compreendida como prioritária e leva o homem a querer ir ao encontro do Senhor, é um elemento primordial para que se superem todos os obstáculos naturais e sobrenaturais que há para que entremos em comunhão com o Todo-Poderoso, o que somente se faz possível por intermédio de Jesus Cristo. Não é por outro motivo que Paulo se consideravaum exemplo da misericórdia divina e uma comprovação de que qualquer um pode ser salvo, se quiser, pois ele, que tanto mal fez à Igreja e, por conseguinte, ao próprio Senhor Jesus (pois não foi o próprio Jesus que disse que era o perseguido por Paulo - At 9.4?), mesmo assim pôde ser alcançado pela salvação (1Tm 1.12-16). O Senhor, que conhece os corações, vai até onde estão estes que, mesmo cegos pelo pecado, almejam ter comunhão e relacionamento com o seu Criador. Deus, que quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade (1Tm 2.4), não decepciona nem desampara aqueles que voluntariamente desejam se relacionar com Ele. Creiamos nisso! Paulo pôde, mais tarde, compreender que vivia num mundo em que uns buscavam sabedoria (1Co 1.19-22), os gregos, com toda a sua filosofia, filosofia que Paulo havia também estudado; outros, por sua vez, buscavam sinais, criam numa religiosidade, como os judeus (1Co 1.22), ao mesmo tempo em que outros, por serem cidadãos romanos, achavam estar seguros e protegidos pelo exército romano. No entanto, nem na filosofia grega, nem na religiosidade judaica, muito menos no poderio romano se encontrava o que Paulo buscava. Somente em Jesus Cristo é que ele encontraria sabedoria, justiça, santificação e redenção (1Co 1.30). Nós, também, enquanto estivermos neste mundo, que não é, em essência, diferente do que vivia Paulo (Ec 1.9), temos de ter a mesma compreensão que teve o apóstolo e, desta forma, sabendo utilizar-se de tudo quanto o Senhor nos dá da parte deste mundo, jamais nos esquecermos de que o que é importante é termos a Cristo como Aquele que nos deu o Senhor para podermos aqui peregrinar e, a exemplo do apóstolo, sermos vitoriosos em nosso “bom combate” (2Tm 4.7). Temos agido nesta direção? Pensemos nisso!
2. O mundo na época de Paulo. Segundo Charles Fergusson Ball asseverou, nos dias de Paulo, toda a vida do mundo concentrava-se no Mediterrâneo. Todas as grandes civilizações desenvolveram-se junto ao mar cujo nome aludia ao centro da terra. A palavra Mediterrâneo é formada por dois vocábulos que, juntos, significam ‘o meio da terra’. Todos os interesses da vida humana achavam-se concentrados numa estreita faixa que se estendia pela costa sul da Europa, pela costa norte da África e pelas costas ocidentais da Síria e Palestina. Além dessa fronteira, havia regiões inexploradas, onde viviam povos bárbaros, que só entrariam na corrente da civilização anos mais tarde. Três nações da época foram suficientemente grandes e fortes para deixar sua marca sobre as demais: Roma, Grécia e Israel. Notemos:
a) Roma. Os romanos governavam o mundo. Conquistaram esse direito pela força dos seus exércitos. Eles possuíam o dom da colonização e do governo. Devido ao poder de suas legiões estacionadas em todas as colônias, eram os donos do mundo. Embora poderosos, não se aproveitavam dos povos conquistados; pelo contrário, procuravam integrá-los ao seu império, dando-lhes um lugar de honra. Roma enviou grandes construtores e arquitetos, que edificaram magníficas estradas e levantaram prédios e templos por toda parte. As leis e instituições políticas romanas eram famosas por sua justiça, garantindo o direito de todos os cidadãos. Paulo apelou a esta lei, quando se tornou evidente o preconceito dos tribunais da Judéia contra si. O cenário, porém, não era inteiramente luminoso. Com o aumento do poder e da riqueza, Roma tornou-se corrupta e frívola, presa à sensualidade, ao pecado e ao luxo. Em consequência, o povo fez-se dolente e fraco. O império de que tanto se orgulhavam desmoronou-se diante dos bárbaros vindos do Norte, que o invadiram e saquearam. Mesmo nos dias de seu maior poderio, não tinham força espiritual; deleitavam-se em prazeres vulgares e brutais, como as lutas de gladiadores. Durante os feriados, os lutadores combatiam até a morte nas arenas. No reinado de Trajano, dez mil gladiadores lutaram num período de apenas seis meses. Lutavam entre si como tigres e leões, e milhares de espectadores aplaudiam-nos enquanto mutuamente se matavam. Multidões acorriam ao Coliseu de Roma para assistir à morte de cristãos devorados pelas feras. Tanto por sua grandiosidade quanto por sua fraqueza, os romanos deixaram na história a sua marca indelével. A seu favor deve ser dito que construíram o maior império que o mundo já viu.
b) Grécia. Se os romanos foram os líderes mundiais no tocante à lei e ao governo, os gregos lideraram na cultura e no conhecimento. A arte, a ciência e a literatura desenvolveram-se mais na Grécia que em qualquer outra parte. Embora o império fosse romano, a língua grega foi reconhecida como o idioma empregado pelas pessoas cultas. Os eruditos de todas as nações orientais falavam e escreviam o grego. Essa é a razão de o Antigo Testamento ter sido traduzido para o grego muito antes do nascimento de Cristo, e das cópias mais antigas do Novo Testamento estarem em grego. Os gregos eram um povo genial. Guiados por Alexandre, o Grande, conquistaram o mundo e procuraram helenizá-lo. Desempenharam tão bem sua tarefa que, mesmo após a morte de Alexandre e a divisão de seu império, uma porção da arte e da literatura gregas permaneceu em cada nação. Os professores e filósofos gregos eram os intelectuais reconhecidos da época. Eles divulgaram, em todas as nações, a literatura, arquitetura e pensamento científico de seu país. Muitos judeus, nos dias de Paulo, liam as Sagradas Escrituras na tradução grega - a Septuaginta - pois o hebraico estava se tornando rapidamente uma língua morta. Quando o Cristianismo surgiu, toda praça de mercado tinha seu grupo de eruditos gregos que se deleitavam em discutir palavras e frases, e cujo talento degenerava em confusão. A balbúrdia era às vezes tão grande que milhares de pessoas, tanto conquistadores como conquistados, abandonavam a crença em seus deuses e sistemas filosóficos. As religiões pagas achavam-se à beira de um completo colapso, decadência e corrupção. Essa era a situação cultural do mundo, quando Jesus e Paulo nasceram.
c) Israel. A nação, porém, que mais marcou a civilização mundial foi Israel. Sua marca jamais se apagará. Embora os judeus não tivessem poderio militar, destacaram-se por sua religião. Dispersos por todas as terras, construíam sinagogas para adorar a Deus. Estrabão, um dos grandes historiadores da época de Cristo, escreveu: "É difícil encontrar um único lugar na terra que não haja admitido essa tribo de homens e sido por ela influenciado". Isso se dera devido ao fato de a Assíria, Babilônia e Roma terem invadido a Palestina, e levado daqui milhares de judeus para o cativeiro. Aonde quer que fosse, o povo escolhido levava consigo as Sagradas Escrituras e as profecias de um Messias vindouro. Eram homens orgulhosos e exclusivistas, envolvendo-se em seus mantos de justiça enquanto voltavam as costas ao grande propósito para o qual haviam sido chamados: representar a Deus entre os demais povos. Escrevendo aos Romanos, Paulo resume o lugar de Israel no mundo, e aponta suas falhas em palavras contundentes: Eis que tu que tens por sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus; e sabes a sua vontade e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído por lei; e confias que és guia dos cegos, luz dos que estão em trevas, instruidor dos néscios, mestre de crianças, que tens a forma da ciência e da verdade na lei; tu, pois, que ensinas a outro, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve furtar, furtas?... Porque, como está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vós (Rm 2.17-21,24). Embora seja penosamente óbvio o fracasso dos judeus em executar os planos divinos, eles estabeleceram sinagogas desde a longínqua Babilônia até a cidade de Roma. Na história do Pentecostes, os judeus que voltaram a Jerusalém, abrangiam conterrâneos de todas as províncias do império romano: Partos e medos, elamitas e os que habitam na Mesopotâmia, e Judéia, e Capadócia, Ponto e Ásia. E Frígia e Panfília, Egito e partes da Líbia, junto a Cirene, e forasteiros romanos, tanto judeuscomo prosélitos, cretenses e árabes (At 2.9-11). Lucas faz um resumo, dizendo que os judeus eram de "todas as nações que estão debaixo do céu" (At 2.5). Onde quer que os judeus construíssem suas sinagogas e cumprissem seus rituais, estabeleciam um centro para a adoração do Deus Único e Verdadeiro. Sua presença no Império Romano foi de grande ajuda, servindo de porta para o programa futuro da Igreja. Quando Paulo viajava para um novo local, sempre procurava a sinagoga para pregar, e isso geralmente dava início a uma nova igreja.
3. Tarso, a cidade do apóstolo Paulo. Paulo nunca escondeu a origem de sua terra natal. Tarso, onde Paulo nasceu e foi criado, era a capital e principal cidade da Cilícia, atual Turquia, na Ásia Menor. Nas próprias palavras do apóstolo Paulo, Tarso não era uma cidade qualquer: “Na verdade que sou um homem judeu, cidadão de Tarso, cidade não pouco célebre na Cilícia” (At 21.39a). A expressão não pouco célebre significa, no grego “não insignificante”. Tarso, onde Paulo nasceu e foi criado, era a capital e principal cidade da Cilícia. Era uma das maiores cidades do Império Romano. Hoje, não passa de uma insignificante cidadezinha turca. Alguns de seus largos muros de proteção ainda existem, mas em completa ruína, com flores e mato crescendo pelas frestas. Fora da atual Tarso encontra-se uma ponte sob cujos arcos o rio Cnido correra no passado. (Se essas pedras pudessem falar!) Hoje só podemos olhar as ruínas e os registros históricos da cidade que abrigou Paulo em sua juventude, e imaginar a influência que suas escolas, academias e ginásios exerceram sobre ele. Apesar de sua grandeza, Tarso não se destacava por sua antigüidade. Embora fundada antes de Atenas e Roma, se comparada a Damasco, ou a Jerusalém, não passava de uma criança. Ela experimentou suas primeiras glórias nos dias de Alexandre, o Grande, quando muitos gregos abastados construíram ali suas residências e palácios. A fama lhe proveio principalmente de seu entusiasmo pela cultura. Suas escolas atraíam filósofos e professores de renome internacional. A afirmação de que ofuscava qualquer cidade como centro cultural era bem justificada. Vejamos por que era uma cidade destacável:
a) Uma cidade famosa. Bem antes dos dias de Paulo, os filósofos e eruditos de Tarso já ensinavam retórica, matemática, ética, gramática e música. Paulo ainda não brincava nas ruas da cidade, quando grandes poetas, médicos, oradores e filósofos, treinados nas escolas de Tarso, levavam-lhe o nome para outras terras. Era tão grande a reputação da cidade que César Augusto, ele mesmo educado por Atenodoro de Tarso, escolheu Nestor, outro educador da cidade, como mestre de seu filho. Tarso possuía inúmeros prédios públicos além de palácios e casas humildes. Havia ali um enorme teatro ao ar livre, construído para acomodar milhares de pessoas, num grande espaço aberto, aos pés de uma encosta, com fileiras e fileiras de bancos de mármore dispostos num largo semicírculo. Peças gregas eram encenadas no palco central, atraindo multidões. Ali também se apresentava a música da moda e liam-se poesias. O teatro ocupava um lugar importante na vida de ricos e pobres. Marco Antônio, famoso general romano, morara em Tarso. Gostava tanto da cidade, que lhe deu autonomia; isto é, permitiu que seus cidadãos fizessem suas próprias leis sem qualquer interferência de Roma e sem lhes cobrar quaisquer impostos. O imperador Augusto, por sua vez, ficou tão impressionado com a cultura da cidade que lhe permitiu ter seus próprios tribunais e nomear seus magistrados. Tarso tornou-se um centro favorecido, despertando a inveja das cidades vizinhas. Sua fama não lhe provinha apenas da cultura. Tarso era também um centro financeiro. As rotas comerciais davam-lhe proeminência. Nos dias de Paulo, o rio Cnido era tão largo que navios de grande porte subiam por seu leito, cerca de 19 quilômetros, e descarregavam suas mercadorias nos desembarcadouros da cidade. O cais era um espetáculo pitoresco. Transitavam por aqui egípcios de rosto acobreado, e africanos negros e fortes. Navios de Creta, Chipre, Rodes e Jope carregavam em seu bojo uma estranha mistura de marinheiros alegres que exaltavam a grandeza e o cosmopolitismo de Tarso. Homens desciam o rio Cnido em balsas e barcos rústicos, transportando as mercadorias de suas fazendas e oficinas. Eram os fardos transportados para os navios e trocados por grãos, peles, lã, e barris de óleo e vinho. Os portos eram uma confusão de homens e longas fileiras de jumentos, mulas e cavalos. Quando o navio finalmente acabava de ser carregado, os gritos dos marinheiros e estivadores enchiam o ar à medida que as cordas eram desamarradas e o barco abria caminho no mar cintilante. Esse era o cotidiano no porto de Tarso.
b) Cidade cheia da cultura grega. Pouco antes da época do apóstolo Paulo, Tarso tinha atravessado um brilhante período de sua história, quando ela se tornou a Atenas do Mediterrâneo oriental, uma cidade universitária, para onde convergiam homens de erudição. Paulo, desde muito cedo, foi influenciado pela cultura grega enraizada em sua cidade. Isso depreendemos a partir de suas citações de filósofos (At 17.28; Tt 1.12), e, também do seu nome, que em hebraico é Saul, mas que por influência grega, era Saulo. Não é demais afirmar que sabia também falar o idioma grego.
c) Cidade dominada por Roma. A região de Tarso foi governada a princípio, pelos governantes selêucidas, como uma província. No entanto, quando Antíoco foi derrotado pelos romanos, a cidade de Tarso tornou-se parte de uma província romana. Na época, em que Paulo nasceu, primeiro século da era cristã, Tarso era colônia romana. Como tal, os seus habitantes desfrutavam de alguns privilégios dentre os quais a cidadania romana. A cidadania romana originalmente era restrita a nativos livres da cidade de Roma, mas, à medida que o controle romano da Itália e das terras do Mediterrâneo se ampliava, a cidadania era conferida a várias outras pessoas, de certas províncias seletas, que não eram romanos por nascimento. Por isso, quando questionado pelo tribuno: “... Dize-me, és tu romano? E ele disse: Sim. E respondeu o tribuno: Eu com grande soma de dinheiro alcancei este direito de cidadão. Paulo disse: Mas eu o sou de nascimento” (At 22.27,28). Em outra ocasião também evocou esta cidadania (At 16.35-40). Devido a influência do latim na sua vida, Saulo também era chamado Paulo (At 13.9).
e) Cidade banhada pela religiosidade judaica. Por certo, havia uma sinagoga em Tarso. Paulo sendo, descendente de hebreus adquiriu uma herança nacional, cultural e religiosa. Segundo o seu próprio relato:
1) Judeu de nascimento. Ele não era um judeu prosélito; ele nasceu judeu e era um membro da raça que havia recebido o rito da circuncisão no tempo estabelecido pela lei (Gn 17.12; Lv 12.3; Fp 3.5). O grande apóstolo nasceu por volta do ano três de nossa era, no lar de um piedoso casal, no bairro judeu de Tarso. As ruas eram estreitas e as casas pobres, mas aquele dia foi de imensa felicidade para a família. Contemplaram o rosto do filho, e sentiram-se satisfeitos e orgulhosos. Embora vivessem numa cidade gentia, seus pais resolveram dedicá-lo ao serviço de Deus, e fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para educá-lo como um verdadeiro israelita. O pai pertencia à tribo de Benjamim e gabava-se disso sempre que os vizinhos mencionavam suas árvores genealógicas. Todos sabiam que Saul, o primeiro rei de Israel, era benjamita. Apesar de morar em Tarso, a família considerava as montanhas orientais da Palestina o seu verdadeiro lar como o faziam os judeus piedosos. Para eles, Jerusalém era a cidade mais bela do mundo, pois ali estava a Casa de Deus. Eles enviavam ofertas para os reparos do Templo, e a cada ano planejavam visitar a Cidade Santa por ocasião da Páscoa. Oito dias após o nascimento do menino, os pais deram-lhe um nome. A cerimônia foi seguida de uma ceia, para a qual todos os amigos e parentes foram convidados, e cada um levou o seu presente. Ele recebeu o bom nome hebreu de Saulo. Esse eraum nome mui querido de todos os descendentes de Benjamim porque assim se chamava o primeiro rei de Israel. Mas como viviam no mundo romano, usaram também a forma latina do nome - Paulo. Nos negócios, ele era Paulo, porque isso impressionava os gentios. Mas a mãe sempre o chamava de Saulo, pois esse nome agradava-lhe o coração.
2) Da linhagem de Israel. Paulo pertencia ao povo eleito, o povo do concerto, o povo exclusivamente privilegiado (Êx 19.5,6; Nm 23.9; Sl 147.19,20; Am 3.2; Rm 3.1,2; 9.4,5). Era da linhagem de Benjamim, um dos doze filhos de Jacó, a tribo de onde veio o primeiro rei de Israel, Saul. Por certo, seu nome hebreu Saulo era em homenagem a este rei. A tribo de Benjamim, não aderiu a rebelião das dez tribos, mas conservou-se com Judá sob a liderança davídica (1Rs 12.21).
3) Da seita mais rigorosa do judaísmo. Paulo era fariseu, membros da seita mais fervorosa e severa na obediência à lei de Moisés: “segundo a lei, fui fariseu” (Fp 3.5). Confira também (At 26.5). A palavra fariseu no grego “farisaios” significa: “separado”. Essa seita do judaísmo pregava a separação da vida comum e das tarefas comuns para consagrar suas vidas à observância minuciosa dos detalhes da Lei. Paulo falava a língua hebraica (At 21.40). Embora tenha nascido na cidade pagã Tarso, foi para Jerusalém e educou-se aos pés de Gamaliel (At 22.3). Era de uma pessoa como esta que Jesus necessitava, um judeu hábil no Antigo Testamento, que falava o grego e com nacionalidade romana para poder introduzir o evangelho aos povos. Segundo Champlin, “nenhum outro homem, daquela época da história, combinava essas características tão harmoniosa quanto Paulo de Tarso. Seu meio ambiente talhou-o para esse propósito”.
4. O tríplice entendimento do mundo de Paulo. Para entender o mundo do apóstolo Paulo, precisamos analisá-lo geográfica, histórica e culturalmente. Sua cultura grega, romana e judaica era vivida no contexto da vida dentro do Império Romano. O Império Romano, de fato, tinha em Roma o seu epicentro de política, de religiosidade e de cultura. Nos dias da vida de Paulo, as nações que circundavam o Mediterrâneo foram conquistadas sob o domínio do Império Romano. Era o mundo de então que abrangia a Europa, Ásia Menor, África, Turquia e a Grécia. O Império Romano, a despeito de promover sua cultura romana, era, de fato, um mundo fortemente influenciado pela cultura grega, mais conhecida como a cultura de Helena de Troia, uma cultura mais popular e menos acadêmica. Por isso, o grego que se falava na época era o grego koinê (popular). Porém, o mundo do tempo de Paulo, além de ser um mundo helenizado, era também um tanto romanizado. Visto que o domínio era político, a política do império permitia a prática das religiões autóctones já instaladas nas cidades e, especialmente, em Roma, mas as autoridades de Roma, a partir do imperador, viam com restrições as novas religiões. Por isso, o cristianismo era algo novo e assustava o império com sua doutrina. Os judeus inimigos dos cristãos começaram a injuriar e caluniar os cristãos para que o imperador restringisse e proibisse os cristãos de disseminarem a sua fé. Por outro lado, havia certo grau de liberdade para todos, e Paulo sentia-se bem à vontade para disseminar o cristianismo, até porque era um cidadão romano.
5. A geografia do mundo de Paulo (At 26.16-18). Geograficamente, o mundo gentílico estava sob o domínio do Império Romano. Naqueles dias, entre o ano 33 e 35 d.C., o imperador era Tibério. A dimensão geográfica do Império Romano permitia excelentes possibilidades de viagens missionárias. Segundo informes da história, a malha viária abrangia em torno de 300 mil km, sendo que 90 mil km apresentavam condições excelentes para viajar. As estradas do império, bem como as vias marítimas foram de grande importância para a expansão da fé cristã. Pelo Espírito Santo, o apóstolo percebeu as oportunidades incríveis para a disseminação do Evangelho no império. Ele usou todos os meios possíveis de transporte da época, inclusive navios pelas vias marítimas, nas quais sofreu naufrágios e enfermidades. Assim, a geografia do mundo paulino tem papel essencial para a plantação das primeiras igrejas. Por isso, devemos pensar nas oportunidades que Deus nos dá para a eficiência da evangelização urbana e do campo. Apesar de ter formação na infância e parte da sua adolescência em Tarso e depois em Jerusalém, mais tarde voltou a Tarso, quando já era um fariseu formado pela escola de Jerusalém. Cheio de presunção e empáfia, tomou sua bagagem mística e radical do judaísmo farisaico e resolveu voltar a Jerusalém, indo apenas à sinagoga construída na Cidade Santa para os judeus da Diáspora que viviam fora da sua terra. Já com seus 33 a 35 anos de idade e convertido a Cristo, Paulo conscientizou-se de seu apostolado e que o mesmo não seria em Jerusalém. Lá estavam Pedro, Tiago (irmão de Jesus) e João e os demais apóstolos já se haviam espalhado pelo mundo afora. O ministério apostólico de todos eles estão registrados na História da Igreja. Alguns anos à frente, Lucas narra em Atos 26, quando Paulo dá o seu testemunho pessoal perante o rei Agripa e declara que foi chamado por Deus para ser ministro de Cristo perante todos os povos. Geograficamente, naquele tempo, não muito depois do Pentecostes, o mundo gentio ainda estava sob o domínio do Império Romano, e, naqueles dias, era Tibério, o imperador, entre 33 e 35 d.C. Com um pouco de experiência no campo da evangelização, Paulo percebeu pelo Espírito que havia excelentes possibilidades de avançar nas dimensões geográficas do Império Romano. Seu mundo, então, alcançava um território geográfico enorme para facilitar sua atividade missionária. Segundo informes da história, “a malha viária” abrangia em torno de 300 mil km²; desse número, 90 mil km² eram de estradas construídas pelo império em boas condições para viajar-se. Paulo utilizou todos os meios possíveis de transporte da época, inclusive navios pelas vias marítimas, em que sofreu naufrágios e enfermidades. Como viajante itinerante, ele e seus companheiros vestiam-se com roupas típicas convencionais da época, sem luxo, sempre tendo um manto típico, como vestidos de linho rústico abaixo dos joelhos. Geralmente, não se preocupavam com os cabelos que eram compridos; usavam um alforje, (saco de couro ou de linho com abertura em cima) e não levavam muita bagagem nessas viagens. Como não tinham residência fixa, enfrentavam, às vezes, a rejeição nas cidades por onde transitavam. Paulo tecia tendas e vendia-as para ajudar em suas despesas. Ele aprendeu a fazer tendas com seu pai e, por esse modo, comprava o tecido próprio para fabricá-las. À época de Paulo o mundo estava sob o domínio do Império Romano, que se estendia do Rio Reno para o Egito, chegava à Grã-Bretanha e à Ásia Menor. Desta forma, estabelecia uma conexão com a Europa, a Ásia e África. Assim, era considerada a maior civilização da história ocidental. Durou cinco séculos - começou em 27 a.C. e terminou em 476 d.C. Até 117 d.C., ao menos 6 milhões de quilômetros quadrados estavam sob o domínio do Império Romano. Segundo os historiadores, sob o domínio deste poderoso Império, estavam 6 milhões de habitantes. Roma, nessa fase, segundo os historiadores, foi habitada por 1 milhão de habitantes. Entre os pontos fundamentais para o sucesso do império estava o exército, que era profissional e atuava como uma legião. Sob o comando de astutos generais, Roma expandiu o poderio para o Mediterrâneo. Conforme historiadores, os imperadores romanos contemporâneos de Paulo, desde seu nascimento até sua morte, foram: Tibério, Calígula, Claudio e Nero, o seu carrasco. Devido à grande extensão geográfica do Império, e a permissão para que os povos dominados praticassem a sua própria religião, e devido a chamada "pax romana", a geografia e os meios de transporte urbanos e do campo, contribuíram para a propagação do Evangelho. Segundo informes da história, a malha viária abrangia em torno de 300 mil quilômetros, sendo que 90 mil quilômetros apresentavam condições

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