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Icterícia Icterícia PAPM 4 Definição: • Coloração amarelada das conjuntivas, pele e mucosas por ↑ na concentração sérica de bilirrubina; • Melhor avaliada na luz natural; luz artificial pode mascarar (pode parecer que paciente ictérico mas não está, e o contrário também se aplica) • É um sinal – geralmente não é um sintoma • É uma síndrome – tem diversas causas • Limiar plasmático para aparecimento: o ► adultos → maior 2,5 mg/dl; o ► neonatos → 8 - 9 mg/dl; • Diferencia-se de hipercarotenemia pela pigmentação das conjuntivas – a hipercarotenemia não pigmenta conjuntivas, ela pigmenta a pele Características da bilirrubina ➢ Origem : • 70%-80% → Hb liberada da destruição hemácias senescentes (mais velhas) pelo S.R.E (sistema retículo endotelial); o Hemácias tem tempo de vida em torno de 120 dias o Hemoglobina fetal tem em média 90 dias • 20 % → destruição intra-medular de células eritrocitárias não maduras (eritropoiese imperfeita); o Produção errônea das hemácias • 10% → degradação de componentes não eritrocitários (hemoproteínas) → mioglobinas, citocromo P-450, catalases; • → insolúvel em água, lipossolúvel, atravessa membranas lipoprotéicas (hematoliquórica), transportada no sangue ligada à albumina, não excretada pelos rins; o Acúmulo de bilirrubina a nível liquórico pode ser tóxico a nível cerebral o Necessita estar ligada a proteína para se locomover no plasma sanguíneo • → hidrossolúvel, transportada livremente no sangue, excretada pelos rins Metabolismo da bilirrubina • Hemoglobina tem fração heme e fração globina • Fração heme é quebrada em ferro e protoporfirina • A protoporfirina é transformada em biliverdina através da hemioxigenase • A biliverdina sofre ação da biliverdina redutase, que transforma-se na bilirrubina não conjugada • Bilirrubina não conjugada se conecta a albumina • Albumina carreia bilirrubina NC até circulação hepática, e chegando na membrana do hepatócito há reconhecimento desse complexo • Esse reconhecimento não é 100% específico, ou seja, outras moléculas podem ser reconhecidas nesses mesmos receptores • Complexo bilirrubina NC + albumina adentra no hepatócito e é quebrado – bilirrubina NC entra, e albumina fica no soro • Bilirrubina NC no citoplasma do hepatócito não tem condições de se locomover sozinha (lipossolúvel), lgoo, uma ptn chamada ligandina se conecta a ela, transportando-a até o complexo reticulo endotelial do hepatócito • No sistema reticulo endotelial do hepatócito, através de microssomas existe a conjugação da bilirrubina NC em ácido glicurônico, através da urodino-difosforo-glicuronil- transferase; e na presença de 2 moléculas de ácido glicurônico, temos a bilirrubina conjugada • A bilirrubina conjugada é excretada do hepatócito para dentro dos canalículos biliares – essa excreção depende de ATP/ consome energia • Bilirrubina conjugada é direcionada e acumulada na vesícula, onde vai estar junto ao colesterol, fosfolipídios, sais biliares – o que forma a bile • Com certos estímulos, geralmente através da alimentação, a vesícula tem o estímulo com colecistoquinina (hormônio), que estimula a contração da vesícula e liberação da bile para o intestino Metabolismo intestinal da bilirrubina • A bile na luz intestinal tem função de digestão, principalmente de alimentos ricos em gordura • A bile é hidrolisada por bactérias intestinais • Urobilina/ estercobilina – da coloração amarronzada das fezes • 20% do urobilinogenio não sofre oxidação e é reabsorvido pela circulação entero hepática – uma parte é reexcretada na forma de pile, e outra parte é eliminada pelos rins através da urina • Acolia fecal – fezes com cor de argila – bilirrubina direta não consegue chegar a luz intestinal – colestase • Acolia fecal + colúria (urina em cor de coca cola) – colestase – bile tem absorção intra hepática de certa forma e acaba sendo excretada via urinária Etapas do metabolismo da bilirrubina Mecanismo fisiológico do metabolismo da bilirrubina Classificação das hiperbilirrubinemias • Podem ter causas congênitas e/ou adquiridas; • Alterações em uma ou mais fases do metabolismo da bilirrubina; • Quanto ao perfil da hiperbilirrubinemia: o Hiperbilirrubinemia predominantemente não conjugada (BI); o Hiperbilirrubinemia predominantemente conjugada (BD) Causas de hiperbilirrubinemia não conjugada 1. Produção excessiva: • Anemia hemolítica autoimune – produção de anticorpos contra hemácias • Eritropoiese imperfeita (anemia perniciosa, talassemia, deficiência de ferro e ac. Fólico) – hemácias sem conformidade adequadas (meia vida menor; destruição ainda no sistema hematopoiético) • Grandes transfusões de sangue (6-8 bolsas de sangue) – apesar do tipo sanguíneo e fator Rh serem os mesmos, as hemácias nunca são idênticas = quebra de hemácias reconhecidas como não próprias • Hematomas maciços – coleção de sangue coagulado • Infarto tecidual – mioglobina/ lise hemácias 2. Captação deficiente: • Drogas (Rifampicina) – ocupa receptores, que não conseguem ser ocupados pelo complexo bilirrubina indireta-albumina – predomínio de bilirrubina indireta no plasma • Jejum prolongado (dias) – tumores/ neoplasias/ cirurgias; lipólise – transformação de ácidos graxos, que são reconhecidos como o complexo a nível hepático, ocupando os receptores, impedindo a entrada da bilirrubina indireta • Septicemia – citotoxinas inflamatórias/ agentes bacterianos/ virais podem ser identificados como complexos, ocupando os receptores 3. Conjugação deficiente • Diminuição ou ausência de atividade UDP – GT (glicuronil transferase): o Transitória (icterícia neonatal) – fisiológica; autolimitada; benigna; entre 2º- e 4º- dia e cessa até 10º/14º dia de vida por conta de imaturidade da atividade enzima UDP-GT; hemácia fetal com meia vida menor – destruída com rapidez maior que a adulta ▪ Depois de alguns dias organismo consegue conjugar adequadamente, porém, quando paciente mantém a icterícia pode ser exposto a luz solar/ fototerapia, para converter a bilirrubina indireta em direta o Síndrome de gilbert ▪ Doença genética; na maioria das vezes não demonstra sinais/ sintomas; muitas das vezes o diagnóstico é feito através de achados laboratoriais; paciente fica com icterícia sutil quando sujeito a estresse metabólico (jejum prolongado, após atividade física extenuante, febre) ▪ Pacientes tem percentual menor de glicuronil transferase – 30% da enzima é atuante ▪ Doença benigna ▪ Índices de bilirrubina indireta não são tão altos o Síndrome crigler-najjar tipos I e II ▪ Tipo 1: indivíduo não tem glicuronil transferase ▪ Tipo 2: tem glicuronil transferase mas num percentual muito baixo ▪ Doença genética recessiva ▪ Na maioria das vezes diagnóstico se da entre 2/4 dias de vida, quando criança começa a ter hiperbilirrubinemia indireta a níveis muito altos – risco de bilirrubina atravessar barreira hematoencefálica, acometendo SNC, podendo causar kelítero (impregnação da bilirrubina indireta no SNC, sendo tóxico aos neurônios), podendo levar ao óbito/ deficiências ▪ Tratamento definitivo: transplante hepático somente; enquanto aguardam o transplante, é feita a retirada de sangue do neonato com transfusões – medida mais paliativa, pois de fato o que cura é o transplante ▪ Muitos evoluem para óbito Causas de hiperbilirrubinemia conjugada 1. Doença hepática (nível do hepatócito): • a) Disfunção hepatocelular aguda ou crônica (hepatites virais, álcool, D. Wilson (acúmulo de cobre no fígado), hepatite medicamentosa) – lesão no hepatócito, logo, não consegue excretar bilirrubina que ja foi conjugada • b) Doença hepática com componente colestático predominante (amiloidose; cirrose biliar primária (colangite biliar primária); NPT (nutrição parenteral– jejum por via entérica – aumenta aporte de triglicerídeos – sobrecarga hepática); anabolizantes; esteróides) o Consegue conjugar, mas não consegue excretar adequadamente, ou faz colestase por diminuição dos canalículos intra hepáticos 2. Obstrução dos ductos biliares (extra-hepático): mais comum de ser encontrado • a) Coledocolitíase – cálculos no colédoco, obstruindo saída da bile para o duodeno; síndrome colestática – acolia fecal e colúria • b) Doença dos ductos biliares (inflamatórias, neoplásicas, compressão da via biliar) – mecanismos que dificultam saída da bile o ex: neoplasia na ampola de Váter/ colédoco – aumento dentro da luz, obstruindo saída – colestase 3. Doença Genética: • SÍNDROME DE DUBIN-JOHNSON o Doença autossômica recessiva o Cursa com hiperbilirrubinemia direta por déficit de secreção da bilirrubina conjugada o Icterícia geralmente desencadeada por fator precipitante (infecção, estresse físico, bebidas alcoolícas, uso de ACO) o Doença benigna (sem dano hepático significativo) o Diferentemente de outras causa de colestase, não ocorre prurido cutâneo o Mais comum em judeus Colestase • Resultado do fluxo deficiente de bile para o duodeno Exames laboratoriais de avaliação das funções hepáticas ➢ Transaminases: • quase exclusiva do hepatócito • (MITOCÔNDRIA) - coração, músculos, rins, pâncreas, hemácias; não tão específica ➢ Fosfatase alcalina (FA) • Isoenzimas: hepática, óssea, intestinal, rins, placenta, leucócitos o Ex: criança em fase de crescimento ósseo – FA aumentada de maneira isolada • Localização: hepatócito e epitélio biliar o Patologia ductal/ fora do fígado – pode ter aumento da FA • Variações: o > 4X VN (valor de normalidade): colestases o ≤ 3 X VN: inespecíficas (hepatites, cirroses, lesões focais, obst. Parciais) ➢ Gama glutamil transferase (γ GT) • Localização: epitélio dos ductulos biliares • Variações: o Hepatopatias diversas (>colestases) o Outras: rins, pâncreas, baço, coração, pulmão, cérebro. Ausente nos ossos o Drogas indutoras: anticonvulsivante, cumarínicos (antagonistas de vitamina K; anticoagulantes) e álcool • Gama GT isoladamente aumentada, sem FA, com TGO/ TGP normais – etilista, faz uso de varfarina por ex, entre outros • Ao fazer a prova de função hepática (hepatograma completo), pede-se: TGO/ TGP, FA, gama GT, bilirrubina total e frações; mas tem que ser complementado com proteína total e frações e TAP/ NR (coagulação) • Aumento discreto de TGO/ TGP, mas significativo de FA e gama GT: provavelmente tem alteração a nível de canalículos biliares (lesão de ducto biliar) • Aumento predominante de TGO/TGP: lesão no hepatócito – citólise (maior que 6/8 vezes) • Valores de TGO/TGP acima de 10 vezes o valor de normalidade (acima de 1000) – fala muito a favor de hepatites virais Semiologia da icterícia I. Dados da anamnese • IDADE: o RN → fisiológica: atresia vias biliares, incompatibilidade Rh (mãe-feto; anticorpos contra hemácias do feto), septicemia (citotoxinas interpretadas como bilirrubina indireta-albumina nos receptores) o MENOR DE 40 ANOS → hepatites virais, cirrose, cálculos o MAIOR DE 60 ANOS → cálculos, neoplasias – potencial de risco maior para desenvolvimento de neoplasias (maior que 45 anos) ▪ Neoplasias periampulares obstruem saída da bile – cabeça de pâncreas papila de Váter o TODAS AS IDADES → medicamentosa - citólise • SEXO: o FEMININO → litíase biliar (obesas e multíparas; uso de anticoncepcional oral combinado) – pode evoluir pra coledocolitíase o MASCULINO → neoplasias, cirrose alcoólica • PROFISSÃO: o Creches, asilos, limpeza, área de saúde → hepatites virais o Refinaria de álcool, indústria quimica, tetracloreto de carbono (solventes,vernizes) → cirrose, hepatite por hidrocarboneto ▪ Metabólitos podem causar citólise/ lesão hepática • HISTÓRIA FAMILIAR: o HEPATOPATIA → doenças de Wilson (acúmulo de cobre do fígado; repercussão ocular/ neurológica também), deficiência de alfa 1 anti-tripsina, hemocromatose o ICTERÍCIAS → doenças hemolíticas, colestase o ANEMIA → doença hemolítica o DOENÇAS NEUROLÓGICAS → Doença de Wilson • CONTATOS PRÉVIOS: o Contato com a pessoa ictérica → hepatite A (oral-fecal) o Contato com ratos → leptospirose (leptospira – icterícia rubínica) o Hemotransfusões, viagens (6 meses), relações homossexuais, uso de drogas (hepatite C), tatuagens, acupuntura → hepatites virais o Álcool → cirrose alcoólica, hepatite alcoólica o Cirurgia vias biliares → cálculo residual, estenose das vias biliares o Drogas hepatotóxicas → hepatite medicamentosa ▪ Ex: paracetamol; ivermectina • DURAÇÃO E TIPO DE INÍCIO DA ICTERÍCIA: o DIAS A SEMANAS → hepatites, obstrução o MESES → cirrose, hepatite crônica, cirrose biliar primária o INÍCIO BRUSCO → hepatite viral ou medicamentosa, cálculos o INÍCIO GRADUAL → cirrose, neoplasia, colestase, hepatite crônica, cirrose biliar primária II. Sintomas associados • DOR ABDOMINAL: o Moderada sensação de distensão ou tração no epigástrico ou HD ► HEPATITES VIRAIS ▪ Hepatite A: Icterícia colestática, dor abdominal, queda do estado geral o Tipo cólica biliar (epigástrio c/ irradiação para HD e ang. inf. Escapular ipsilateral; precede a icterícia em 24 – 48 horas) ► COLEDOCOLITÍASE ▪ Dor em cólica o Intensa em epigástrio e QSD; aliviada com prece maometana ► TU. PÂNCREAS ▪ Prece maometana: Posição de alívio mais comum na pancreatite – não cursa com icterícia ▪ Posição antálgica melhora a dor pois distancia parte de inervação com o pâncreas • FEBRE o Contínua, precedendo a icterícia e desaparecendo c/ ela ► HEPATITES VIRAIS o Repentina, associada a calafrios, cólica biliar e icterícia (Tríade de Charcot) ► COLANGITE ▪ Quase patognômonica de colangite ▪ Tríade de Charcot + 2 alterações (confusão mental/ alteração do nível de consciência e hipotensão/ paciente chocado): pêntade de Reynolds – colangite supurativa – séptico – tratamento CTRE (endoscopia que vai na papila e tira cálculo) e antibioticoterapia • PRURIDO o Estímulo a receptores opioides que causam coceira o Colestase ▪ Frequente nas obstruções e neoplasias ▪ Leve e transitório nas hepatites virais • EMAGRECIMENTO: o Acentuado ► NEOPLASIAS ▪ Perda de mais de 10% do peso em 6 meses – síndrome consumptiva o Leve / moderado ► HEPATITES (anorexia) ou COLEDOCOLITÍASE ► náuseas, vômitos o ANOREXIA, ASTENIA, NÁUSEAS, VÔMITOS, ARTRALGIA, DIARRÉIA ► HEPATITE VIRAL • COLÚRIA e ACOLIA FECAL: o COLESTASE (bile não consegue chegar no intestino) III. Exame físico • CARACTERÍSTICAS DO FÍGADO: o HEPATOMEGALIA DISCRETA ► hepatopatias agudas (ex hepatite viral) o NORMAL OU HEPATOMEGALIA LEVE ASSOCIADA À COLESTASE INTENSA ► colestase intra-hepática viral ou medicamentosa o CONSISTÊNCIA FIRME; HEPATOMEGALIA OU FÍGADO PEQUENO ► cirrose o CONSISTÊNCIA PÉTREA OU PRESENÇA DE NÓDULOS ► neoplasias ▪ Carcinoma hepatocelular principalmente • PALIDEZ: o Hemólise, neoplasia. ▪ ERITEMA PALMAR; ARANHAS VASCULARES; HÁLITO HEPÁTICO; XANTELASMAS; GINECOMASTIA; BAQUETEAMENTO DIGITAL; ASCITE; CIRC. COLATERAL; HÉRNIA PARAUMBILICAL; ATROFIA TESTICULAR; RAREFAÇÃO DE PELOS PUBIANOS; EDEMA PERIFÉRICO; ASTERÍX; LEUCONÍQUIA; ATROFIA MUSCULAR; HEPATOESPLENOMEGALIA; EQUIMOSES ► INSUF. HEPÁTICA (cirrose) • VESÍCULA PALPÁVEL E INDOLOR: Obstrução maligna das vias biliares → sinal de Courvoisier-Terrier o Ex: câncer de cabeça de pâncreas/ neoplasia de papila o Tumor cresce aos poucos, com acúmulo gradativo de bilirrubina/ bile – acúmulo retrógrado aumenta a capacidade de acomodação da bile na vesícula biliar – não refere dor • SINAL DE MURPHY ► colecistite aguda o De forma geral, não cursa com icterícia, poisse trata de obstrução geralmente no infundíbulo da vesícula, e colédoco está pérvio, mas em alguns casos o cálculo é tão grande ou vesícula pesa sob colédoco, causando icterícia • SINAIS EXTRAPIRAMIDAIS, ANEL DE KAYSER- FLESCHER (anel em volta da íris do olho) ► Doença de Wilson –
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