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Beatriz Castro e Silva de Albergaria Barreto Medicina – UNIFACS Turma XV Icterícia é a cor amarelada das conjuntivas, pele e mucosas, devido ao aumento dos níveis séricos de bilirrubina quando ultrapassa 2,5mg/dl. METABOLISMO DA BILIRRUBINA • Formação da bilirrubina • Transporte no plasma • Captação e transporte no hepatócito • Conjugação no hepatócito • Excreção CLASSIFICAÇÃO DA ICTERÍCIA • Hiper bilirrubinemia não conjugada • Hiper bilirrubinemia conjugada LOCAIS DE PRODUÇÃO – FORMAÇÃO DA BILIRRUBINA • Baço • Medula óssea • fígado A maioria dos eritrócitos normais (corresponde a cerca de 80% da produção de bilirrubina) são sequestrados da circulação após 120 dias de vida pelas células reticulares do baço, fígado e da medula óssea. Os 20% restantes da produção de bilirrubina provém da destruição prematura, na medula óssea ou no baço, de eritrócitos recém-formados e o maior componente é formado no fígado, derivado do heme não eritroide e de hemoproteínas hepáticas, como mioglobina, citocromo e catalases. TRANSPORTE E CAPTAÇÃO • Bilirrubina - albumina (plasma) • Bilirrubina - ligandina (proteína y) (fígado) • Bilirrubina - proteína z (fígado) CONJUGAÇÃO Na conjugação, a bilirrubina não conjugada (lipossolúvel) é convertida em bilirrubina conjugada (hidrossolúvel) com a adição da UDP-Glicuronil transferase. Essa enzima faz com que a bilirrubina não conjugada se ligue ao ácido glicurônico. Normal: Níveis séricos acima de 2mg/dl EXCREÇÃO A bilirrubina é convertida em urobilinogênio pela β- Glicuronidase (produzida pelas bactérias intestinais). Esse urobilinogênio pode ser absorvido na circulação entero-hepática ou eliminado pela urina. METABOLISMO Beatriz Castro e Silva de Albergaria Barreto Medicina – UNIFACS Turma XV CLASSIFICAÇÃO DAS ICTERÍCIAS Hiperbilirrubinemias não conjugadas Produção excessiva de bilirrubina • Hemólise • Alteração da eritropoese Defeito de transporte • Recém-nascidos • Medicamentos (competição) Defeito de captação • Medicamentos (competição) • Recém-nascidos Defeito de conjugação • Icterícia fisiológica do recém-nascido • Síndrome de Gilbert • Síndrome de Crigler-Najjar • Síndrome de Lucey-Driscoll • Icterícia do leite materno Hiperbilirrubinemias conjugadas ➢ Intrahepática o Hepatocelular o Defeito de excreção (síndromes de Rotor, de Dubin-Johnson) • Adquirida (hepatites, álcool, cirrose etc.) • Canalicular o Medicamentos (esteroides, clorpromazina) o Cirrose biliar primária o Atresia de vias biliares o Colangite esclerosante o Colangiocarcinoma Extrahepática ➢ Benigna (colelitíase, coledocolitíase, atresias, ligadura do colédoco) ➢ Maligna o Intrínseca (neoplasias da papila, colédoco, vesícula) o Extrínseca (neoplasias do pâncreas) CORRELAÇÕES CLÍNICAS SÍNDROME DE GILBERT A síndrome de Gilbert, também chamada de disfunção hepática constitucional, é causada por um defeito em uma gene chamado UGT1A, responsável pela produção da enzima UDP-glicuronil transferase, que é responsável pela transformação da bilirrubina indireta em direta. Nesse síndrome, ocorre uma redução na atividade dessa enzima (em até 80%), o que resulta em um acúmulo de bilirrubina indireta no sangue. SÍNDROME DE CRIEGLER-NAJJAR A síndrome de Crigler-Najjar (CNS) é outra doença genética causada por defeitos no metabolismo das bilirrubinas. Ao contrário da síndrome de Gilbert que é benigna e mais comum, a Crigler-Najjar é muito rara pode levar a complicações sérias. É caracterizada por hiperbilirrubinemia não conjugada, causada por um défice hepático da atividade da glicuronosiltransferase (GT) da bilirrubina. Na síndrome de Crigler-Najjar tipo 1, o recém-nascido já apresenta icterícia persistente logo após o nascimento, podendo desenvolver uma intoxicação cerebral pelo excesso de bilirrubinas, chamada de kernicterus, que pode levar à morte. Enquanto no Gilbert a bilirrubina costuma ficar ao redor de 3 mg/dl, na síndrome de Crigler-Najjar tipo 1 esta pode chegar até 50 mg/dl, ultrapassando em muito o limite da toxicidade. Kernicterus é a impregnação bilirrubínica de regiões do cérebro na vigência de altas concentrações sanguíneas de bilirrubina não conjugada. A barreira hemoencefálica é normalmente impermeável à bilirrubina. SÍNDROME DE DUBIN-JOHNSON A síndrome de Dubin-Johnson também é uma doença genética é caracterizada pelo aumento das bilirrubinas e icterícia sem outras alterações nas análises do fígado. Porém, ao contrário das síndromes de Gilbert e Crigler- Najjar, a bilirrubina que se acumula é a direta (conjugada). Na síndrome de Dubin-Johnson o fígado consegue conjugar normalmente a bilirrubina indireta em direta, porém, ele é incapaz de secretá-la através da bile para ser eliminada nas fezes. CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DAS BILIRRUBINAS Bilirrubina não conjugada (BI) Bilirrubina conjugada (BD) Lipossolúvel e apolar Hidrossolúvel e polar Ligação à albumina reversível +++ Ligação à albumina reversível+ Impregna SNC- Kernicterus Não é filtrada pelos rins Filtrada pelos rins Não interfere na cor da urina Coloração da urina-colúria Beatriz Castro e Silva de Albergaria Barreto Medicina – UNIFACS Turma XV Não interfere na cor das fezes No intestino, sob ação das bactérias intestinais, produz urobilinogênio (incolor) e estercobilinogênio que dá a cor das fezes FISIOLOGIA COLESTASE Consiste na diminuição ou interrupção do fluxo biliar para o duodeno, decorrente do déficit funcional no polo biliar do hepatócito ou impedimento mecânico da drenagem biliar, intra ou extra-hepática. COLÚRIA Nas icterícias colestáticas a bilirrubina direta (BD) reflui dentro do hepatócito, cai na corrente sanguínea, é filtrada pelos rins, com consequente coloração mais escura da urina. HIPOCOLIA OU ACOLIA FECAL As fezes ficam claras quando há obstrução mecânica total ao fluxo biliar pois a bilirrubina direta não chega até o intestino. ANAMNESE • A avaliação diagnóstica deve começar pelo reconhecimento e caracterização da própria icterícia. • O paciente deve ser examinado à luz natural. • Às vezes, em obstrução de longo tempo com profunda icterícia, a pele do doente adquire um tom esverdeado (icterícia verdínica), devido à oxidação da bilirrubina e ao acúmulo de biliverdina. • Toda icterícia mostra-se nas escleróticas. • Quando apenas a pele está amarelada, poupando as escleróticas, o fenômeno é geralmente secundário à hipercarotenemia. • O reconhecimento bioquímico da icterícia é feito pela dosagem das bilirrubinas. Este exame é útil apenas para distinguir as formas não conjugadas das conjugadas. • É importante lembrar que a hiperbilirrubinemia indireta não faz diagnóstico diferencial das diversas causas da síndrome. O mesmo acontece com a hiperbilirrubinemia direta. • Um método prático, à beira do leito, de distinguir os dois tipos de hiperbilirrubinemia é o exame da espuma obtida após agitar-se a urina coletada em um frasco ou bolsa. • Somente a bilirrubina conjugada é filtrada pelos rins e aparece na urina, conferindo coloração amarelada à espuma. INVESTIGAR: • Idade (tóxicos, dist. Met. Bilir., tumores) • Sexo (colelitíase) • Profissão (garçons, agricultores, polo petroquímico) • História familiar (colelitíase, formas hemolíticas) • Contatos prévios (hepatites, contatos sexuais) • Antecedentes de cirurgia • Perda de peso AVALIAR: • Modo de início • Febre • Prurido (colestase, obstruções) • Dor abdominal (colelitíase) • Colúria • Acolia • Perda de peso Beatriz Castro e Silva de Albergaria Barreto Medicina – UNIFACS Turma XV EXAME FÍSICO • Inspeção (postura do paciente, anemia, cicatrizes) • Estado mental (hipertensãoportal, hálito) • Alterações da pele e mucosas (petéquias, equimoses, úlceras) • Abdômen (visceromegalias, circulação colateral, ascite, tumores) • Sinais periféricos de hepatopatia crônica (cirrose hepática) ACHADOS: CLASSIFICAÇÃO ETIOLÓGICA AUMENTO DA BILIRRUBINA NÃO-CONJUGADA • Produção aumentada • Defeito na captação • Defeito na conjugação AUMENTO DA BILIRRUBINA CONJUGADA • Defeito na EXCREÇÃO AUMENTO DA NÃO CONJUGADA • Anemias hemolíticas • Síndrome de Crigler-Najjar • Síndrome de Gilbert • Icterícia do leite materno • Icterícia fisiológica do RN AUMENTO DA CONJUGADA • Síndrome de Dubin-Johnson: DEF MRP2 • Colestase intra-hepática • Colestase extra-hepática COLESTASE • Colestase intra-hepática ou hepatocelular: • Lesão do hepatócito • Colestase extra-hepática ou icterícia obstrutiva • Obstrução de vias biliares intra ou extra-hepáticas COLESTASE INTRAHEPÁTICA - CAUSAS • Hepatites virais • Hepatite alcoólica • Nash • Colangite biliar primária • Drogas e toxinas (metiltestosterona,clorpromazina, • Halotano, chás, suplementos dietéticos) • Sepse • Malignidade • Infiltração hepática (linfoma, amiloidose, sarcoidose, • Tuberculose) CAUSAS • Colestase progressiva familial (PFIC) • Colestase intra-hepática recurrente benigna (BRIC) • Colelitíase associada abaixo nível de fosfolído- npt • Colestase no pós-operatório • Pós-transplante • Colestase intra-hepática da gravidez COLESTASE EXTRA HEPÁTICA - CAUSAS • Coledocolitiase • Tumores periampulares • Colangite esclerosante primária (CEP) • Colangiopatia da aids (CMV, cryptosporidium, HIVI) • Pancreatite aguda e crônica • Estenose de vias biliares pós procedimento • Infecções parasitárias (a. Lumbricoides) Teleangiectasia Hepatoesplenomegalia Beatriz Castro e Silva de Albergaria Barreto Medicina – UNIFACS Turma XV COLESTASE - COMPARAÇÃO Intra-hepática Extra-hepática Idade < 45 anos > 45 anos Icterícia + +++ Dor + +++ Febre + ++ Colangite 0 ++ Prurido + +++ Perda de peso + ++ AVALIAÇÃO LABORATORIAL DA COLESTASE 1. LESÃO DOS HEPATÓCITOS: Haverá grande aumento das aminotransferases (AST e ALT) e pouco aumento de fosfatase alcalina e gama GT 2. OBSTRUÇÃO DE VIAS BILIARES: Pouco ou nenhum aumento de ast e alt e grande aumento de fosfatase alcalina (FA) e gama gt (GGT) 3. NOS CASOS DE COLESTASE INTRAHEPÁTICA: Ocorre predomínio de bilirrubina direta (BD), com elevação de AST e ALT e pouca elevação de FA e GGT 4. ALTERAÇÃO DE FUNÇÃO HEPÁTICA: • Tempo de protrombina e RNI: estão alterados na intra-hepática (falência hepatocelular) e na extra- hepática (deficiência de absorção de VIT K) • Albumina: está baixa por deficiência de síntese hepática (na cirrose) AVALIAÇÃO POR MÉTODOS DE IMAGEM • US • TC • RM • CPRM • CPRE • US ENDOSCÓPICA MARCADORES DIAGNOSTICOS DE COLESTASE CIRROSE: PROGNÓSTICO - CLASSIFICAÇÃO DE CHILD PUGH PARÂMETRO 1 2 3 ENCEFALOPATIA AUSENTE GRAUS I A II GRAUS III A IV ASCITE AUSENTE LEVE MOD. A GRAVE ALBUMINA >3,5 2,8-3,5 <2,8 BILIRRUBINA <2,0 2,0-3,0 >3,0 TP (RNI) < 1,7 1,8 A 2,3 > 2,3 • 5 a 6 - grau A • 7 a 9 - grau B • 10 a 15 - grau B SOBREVIDA EM 1 E 2 ANOS • Grau A - 85 a 100% • Grau B - 60 a 80% • Grau C - 35 a 45% COLESTASE INTRAHEPÁTICA NO ADULTO • Hepatites agudas virais • Hepatites tóxicas (drogas, dili) • Cirrose hepatica • Colangite esclerosante primária • Colangite biliar primária COLESTASE NA GRAVIDEZ • 2° trimestre • Etiologia heterogênea • Fatores genéticos e hormonais • Prurido generalizado (após 30 semanas) • Desaparece após o parto • Tratamento-ursodeoxicólico ALGORITMO PARA INVESTIGAÇÃO DO PACIENTE ICTÉRICO Referências: • JAMESON, J. L et al. Medicina interna de Harrison. 20. ed. Porto Alegre: AMGH, 2020 • MARTINEZ, J. Baddini, DANTAS, M, VOLTARELLI, J. C. Semiologia geral e especializada. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. • BICKLEY, L.S. BATES – Propedêutica Médica. 13ª ed. Guanabara Koogan, 2022. • PORTO, C.C. Semiologia Médica. 8ª ed. Rio de Janeiro. Guanabara, 2019 • Prurido • Icterícia • Astenia • Xantomas • Xantelasmas • Pele seca
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