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Avaliação Unidade II Sociologia do Trabalho e Ética 01) Ricardo Antunes nos indica que há uma nova morfologia do mundo do trabalho, que vem se constituindo desde os anos 70 do século XX. Essa nova morfologia nos apresenta um quadro aterrador, com processos acentuados de exploração e produção de mais-valia. No primeiro capítulo e no segundo capítulo de O Privilégio da Servidão ele nos apresenta de forma mais geral as características que foram sendo desenvolvidas ao longo dos anos. Compreendendo os argumentos que foram desenvolvidos em sala de aula e a partir dos capítulos. Apresente as características dessa nova morfologia do mundo do trabalho, explicando como essas características se inserem dentro desse novo processo produtivo. (6.0 pontos) “A partir de 1973 o mundo sofreu um processo de reestruturação produtiva permanente que continua até hoje e um processo de mudanças políticas e ideológicas no qual o neoliberalismo e a hegemonia financeira são traços marcantes.” (ANTUNES, 2018) Atualmente, praticamente toda a sociedade precisa do trabalho para sobreviver e dia após dia os empregos tornam-se mais precários, com menos direitos, instáveis e pior, escassos, levando muitas pessoas ao desemprego. Aqueles que conseguem se manter empregados lidam diariamente com cargas horárias excessivas e até abusivas, remuneração financeira desproporcional, constantes retiradas de direitos conquistados historicamente na base de discussões, greves, dentre outras. Criou-se nesse cenário uma imagem de que na falta de emprego tem-se sempre o empreendedorismo para recorrer, entretanto essa questão atinge diferentemente a burguesia e o proletariado. A burguesia geralmente escolhe empreender e tem recursos para isso, enquanto o proletariado é obrigado e não tem nenhum ou todos os recursos necessários. Outra face do desemprego é transferir as pessoas para subempregos, serviços temporários, “flexíveis”, informais, precarizados e etc. Em relação às formas de trabalho anteriores, o que mudou diz respeito à terceirização da produção, precarização e flexibilização e o uso de tecnologias informacionais (TICs). A terceirização da produção consiste em dezenas de empresas realizando processos diferentes a fim de alimentar ou abastecer outras empresas com todas as partes necessárias para formar os produtos finais, ou seja, as cadeias produtivas se expandiram. A precarização e flexibilização está relacionada com a intensificação da produção, que coloca os trabalhadores em condições precárias e trabalha para reduzir os direitos trabalhistas (considerados como entraves), sempre buscando que os funcionários trabalhem mais, recebam menos e possam atender as demandas das empresas a qualquer momento. Por último, as tecnologias informacionais são utilizadas para comunicação, organização, automação das produções, distribuição e reprodução do trabalho. Um aspecto comum de todo esse cenário é que da mesma forma que amplia-se a quantidade de trabalhadores ou mão-de-obra disponível no mundo, diminui-se a quantidade de postos de trabalho, muito em função das tecnologias informacionais, empurrando as pessoas para novas modalidades de trabalho. Uma dessas modalidades é a chamada zero hour contract, oriunda da Inglaterra, que consiste em não ter quantidade de horas bem definidas de trabalho e nem direitos assegurados, na qual as pessoas só recebem se tiverem demanda e quando há demanda, os trabalhadores devem estar online para atender o trabalho intermitente. Os funcionários não recebem se não entregarem o trabalho, ou seja, em casos de doenças ou outras emergências, por exemplo, eles ficam de mãos vazias. Essa espécie de prestação de serviço possibilita também que os clientes ou chefes desistam no meio do caminho e o trabalhador mesmo já tendo dedicado horas a determinada atividade acaba não recebendo nada. Em outros termos, há bastante instabilidade. Os trabalhos por aplicativos também são “a cara” dessa nova morfologia do mundo, no qual os trabalhadores precisam dedicar muitas horas de trabalho para receber compensações financeiras baixíssimas e não terem direitos trabalhistas assegurados, além de serem responsáveis pelos equipamentos necessários para realizar o trabalho. Nas duas situações acima criou-se todo um discurso de liberdade, de como é melhor ter um trabalho que trabalho nenhum, de vantagens e de que o trabalhador é seu próprio chefe por parte das grandes corporações, sendo que esse modelo é mais vantajoso para elas que reduzem custos, têm menos obrigações, dentre outros. O processo de precarização das relações de trabalho é amplo, está afetando e afetará diversos setores, desde o setor financeiro a médicos, engenheiros e advogados. Outra forma de produção nesse novo mundo é a do trabalho imaterial, ou seja, expandiu-se muito os postos de trabalho que produzem itens não palpáveis, como aplicativos, sites, vídeos, entre outros, que influenciam a realidade, geram muito valor e muito lucro, o qual também está relacionado com as tecnologias de informação (TIC’s). Mais uma mudança pontuada por Antunes diz respeito à classificação da classe média. A classe média alta nesse novo contexto é aquela que possui um conjunto de valores próximos da classe proprietária, mas não possui meios para se tornar os proprietários. Enquanto a classe média baixa é aquela que está mais próxima do proletariado mas tem valores alinhados à classe dominante. Por fim, falando-se sobre o Brasil especificamente, nunca houve um estado de bem estar social na história do país. Aqui há uma constante precarização e desigualdade, tanto de gênero como de raça. 02) Infoproletariado é uma forma de descrever a “nova” classe trabalhadora, dentro daquilo que seria compreendido como Indústria 4.0, entendendo que o conceito possui uma dupla compreensão. Explique o que quer dizer o conceito de infoproletariado, quais são suas principais características e de que maneira podemos observar na realidade a atuação do infoproletariado na nossa vida cotidiana. (4.0 pontos) A indústria 4.0 tem como principal característica o uso de inovações no mercado, as chamadas tecnologias da informação e comunicação (TICs): máquinas e dispositivos inteligentes, softwares, aplicativos, dentre outras. O infoproletariado está relacionado com ela pois conceitua-se como uma categoria de trabalhadores na qual eles precisam de uma máquina digital, de um smartphone ou de alguma modalidade de trabalho digital para realizar as atividades econômicas/laborais. Geralmente são trabalhos no setor de serviços, de alta intensidade, pouca criatividade, pouca capacidade de controle e nenhuma estabilidade para o futuro. Alguns dos exemplos mais comuns desta categoria e com os quais lidamos no dia a dia são os motoristas de aplicativos, teleoperadores, técnicos da indústria de software, vendedores do comércio digital, dentre outros. Criou-se uma ideia geral que os aplicativos contribuem para a liberdade e flexibilidade da vida dos trabalhadores e os tornam empreendedores de si mesmo, porém, na realidade, as grandes empresas por trás dos aplicativos regulam consideravelmente vários aspectos: determinam quem pode trabalhar, o que deve ser feito, como as atividades devem ser executadas, os prazos, o valor (de forma unilateral), como os trabalhadores se comunicam e com quem se comunicam, pressionam a não negarem trabalho, pressionam a ficar à disposição pelo máximo de tempo possível através de incentivos, usam o bloqueio como ameaça, bloqueiam sem qualquer aviso, dentre outros. Ou seja, os trabalhos aos quais essas pessoas estão submetidas não tem estabilidade, não tem registro em carteira, possuem carga de trabalho excessiva, possuem remunerações financeiras desproporcionais à quantidade de horas trabalhadas, não oferecem direitos trabalhistas, remuneram apenas as horas trabalhadas, dentre outras. Os trabalhadores acabam se tornando reféns da tecnologia e as TICs tornam-se objeto de exploração e controle. Para opúblico em geral, as facilidades advindas das novas tecnologias, como receber uma comida na porta de casa e usufruir de diversos sites e aplicativos para os mais diversos fins devido ao trabalho dos técnicos da indústria da computação, são excepcionais e muito bem vindas. Entretanto, do lado dos trabalhadores que prestam esses serviços, as condições não são as melhores.
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