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Odontologia UFPE Estomatologia | Lesões Ulceradas e Vesículo Bolhosas da Cavidade Oral �2021.2� Lesões Ulcerativas e Vesículo Bolhosas da Mucosa Oral São as lesões mais comuns de serem observadas. São elas: ● Estomatite aftosa recidivante; ● Gengivoestomatite herpética primária; ● Herpes labial recorrente; ● Catapora; ● Herpes zoster Estomatite aftosa recidivante A estomatite aftosa recorrente é uma das doenças mais comuns da mucosa oral. Ela é uma alteração que pode ser desencadeada por uma variedade de agentes causais, cada um dos quais sendo capaz de produzir a doença em certos subgrupos de pacientes. Embora nenhum agente desencadeante seja responsável, a destruição da mucosa parece representar uma reação imunológica mediada por células T, com produção do fator de necrose tumoral alfa �TNF-alfa). Esse fator é uma importante citocina inflamatória e auxilia na sinalização do epitélio de superfície para a destruição pelas células T citotóxicas �CD8��. São fortes as evidências de destruição da mucosa oral mediada por estes linfócitos, mas as causas iniciais são evasivas e, mais provavelmente, altamente variáveis, como: ● Alergias ● Predisposição genética ● Anormalidades hematológicas ● Influências hormonais ● Fatores imunológicos ● Agentes infecciosos ● Deficiências nutricionais ● Suspensão do fumo ● Estresse (mental e físico) ● Trauma Pesquisadores teorizaram que as ulcerações aftosas se desenvolvem de uma reação imunológica a um antígeno oral. Essa reação pode surgir devido à presença de um reagente altamente antigênico, à diminuição da barreira mucosa previamente marcada pelo antígeno ou à imunodesregulação resultante de uma resposta anormal a antígenos que costumam estar presentes. Todos os fatores desencadeantes antes descritos podem ser agrupados em uma dessas três categorias. Um ou mais desses três fatores pode estar envolvido em subgrupos de pacientes. São reconhecidas três variantes clínicas da estomatite aftosa: 1. Menor; 2. Maior; 3. Herpetiforme. As ulcerações aftosas menores (aftas de Mikulicz) são as mais comuns e representam o padrão presente em mais de 80% dos indivíduos afetados. As ulcerações aftosas maiores (doença de Sutton ou periadenite mucosa necrótica recorrente �PMNR�� ocorrem em cerca de 10% dos pacientes encaminhados para tratamento. Os pacientes restantes apresentam ulcerações aftosas herpetiformes. As formas menor e maior representam, mais provavelmente, variações do mesmo processo, embora as aftas herpetiformes demonstrem um padrão único. Ulcerações aftosas menores Os pacientes com ulcerações aftosas menores são os que sofrem menos recidivas e, individualmente, as lesões exibem a duração mais curta das três variantes. As úlceras surgem quase de forma exclusiva na mucosa não queratinizada e podem ser precedidas por uma mácula eritematosa em associação com sintomas prodrômicos de queimação, prurido ou pontadas. A ulceração demonstra uma membrana fibrinopurulenta removível, branco-amarelada, que é circundada por um halo eritematoso. Odontologia UFPE Estomatologia | Lesões Ulceradas e Vesículo Bolhosas da Cavidade Oral �2021.2� Classicamente, as ulcerações medem entre 3 e 10 mm de diâmetro, apresentam uma taxa de recorrência variável e curam-se sem deixar cicatriz em sete a 14 dias. As mucosas jugal e labial são as afetadas com mais frequência, seguidas pela superfície ventral da língua, pelo fundo de vestíbulo, pelo assoalho da boca e pelo palato mole. Ulcerações aftosas maiores As ulcerações aftosas maiores mostram a maior duração por episódio. As ulcerações são mais profundas que a variante menor, medem de 1 a 3 cm de diâmetro, levam de duas a seis semanas para curar e podem causar cicatriz. O número de lesões varia de um a 10. Qualquer área de superfície oral pode ser afetada, mas a mucosa labial, o palato mole e as fauces amigdalianas são as mais comumente envolvidas. Ulcerações aftosas herpetiformes As ulcerações aftosas herpetiformes são as que apresentam um número maior de lesões e uma maior frequência de recidivas. As lesões individuais são pequenas, com uma média de 1 a 3 mm de diâmetro, com até 100 úlceras presentes em uma única recidiva. Devido ao seu pequeno tamanho e grande número, as lesões apresentam uma semelhança superficial a uma infecção primária pelo HSV, levando à confusa designação herpetiforme. As úlceras cicatrizam-se dentro de sete a 10 dias, mas as recidivas tendem a ser pouco espaçadas. Apesar de a mucosa móvel não queratinizada ser afetada com mais frequência, qualquer superfície da mucosa oral pode ser acometida. Há predominância pelo sexo feminino e o seu início ocorre tipicamente na fase adulta. Diagnóstico Nenhum procedimento laboratorial fornece o diagnóstico definitivo. O diagnóstico é feito pela apresentação clínica e pela exclusão de outras doenças que produzem ulcerações que se parecem com as aftas. Tratamento A história médica do paciente deve ser revisada para que os sinais e sintomas de qualquer doença sistêmica possam ser associados às ulcerações semelhantes a aftas. A maioria dos pacientes com úlcera aftosa leve não recebe tratamento ou é submetida a inúmeras terapias com anestésicos ou produtos bioadesivos protetores comercializados sem prescrição médica, ou medicamentos tópicos periódicos que minimizam a frequência e a intensidade dos episódios das lesões. Gengivoestomatite herpética primária É o padrão mais comum de infecção primária sintomática pelo HSV e mais de 90% dos casos são resultantes da infecção pelo HSV�1. A maioria dos casos de gengivoestomatite herpética aguda ocorre entre os seis meses e cinco anos de idade, com pico de prevalência entre os dois e três anos de idade. De início, na mucosa afetada aparecem diversas vesículas puntiformes, que rapidamente se rompem e formam várias pequenas lesões, avermelhadas. Essas lesões iniciais aumentam de tamanho e Odontologia UFPE Estomatologia | Lesões Ulceradas e Vesículo Bolhosas da Cavidade Oral �2021.2� desenvolvem áreas centrais de ulceração, recobertas por uma fibrina amarela. Quando a infecção primária ocorre em adultos, alguns casos sintomáticos manifestam-se como faringotonsilites. Os sintomas iniciais correspondem à dor de garganta, febre, mal-estar e cefaléia. Pequenas e numerosas vesículas aparecem nas tonsilas e na parede posterior da faringe, as quais se rompem rapidamente, para formar várias ulcerações rasas, que frequentemente sofrem coalescência e desenvolvem um exsudato difuso, amarelo-acinzentado. Herpes labial recorrente Também causada pelo Vírus Herpes Simples I, podem ocorrer tanto no local da inoculação primária como em áreas adjacentes da superfície epitelial suprida pelo gânglio envolvido. Os sinais e sintomas prodrômicos (p.ex., dor, ardência, prurido, formigamento, calor localizado, eritema do epitélio envolvido) aparecem de 6 a 24 horas antes do desenvolvimento das lesões. Aparecem múltiplas e pequenas pápulas eritematosas, que formam grupamentos de vesículas preenchidas por líquido. As vesículas se rompem e formam crostas dentro de dois dias. A cicatrização usualmente ocorre entre sete e 10 dias. Os sintomas são mais intensos nas primeiras oito horas e a maior parte da replicação viral ativa se completa dentro de 48 horas. O rompimento mecânico de vesículas intactas e a liberação do líquido contendo vírus podem resultar na disseminação das lesões nos lábios previamente fissurados pela exposição ao sol. Tratamento O tratamento para o herpes labial consiste em Acyclovir 5% �Zovirax) via oral para pacientes imunodeprimidos. Varicela Zoster �Catapora) A varicela (catapora) representa a infecção primária causada pelo vírus da varicela-zóster �VZV ou HHV�3�. Supõe-se que o vírus se dissemine através de gotículas no ar ou pelo contato direto Odontologia UFPE Estomatologia | Lesões Ulceradas e Vesículo Bolhosas da Cavidade Oral �2021.2� com lesões ativas. Ao contrário do que ocorre na infecção primária pelo HSV, a maioria dos casos é sintomática. O período de incubação é de 10 a 21 dias, com média de 15dias. As manifestações orais e periorais são bastante comuns e podem preceder as lesões cutâneas. A borda do vermelhão dos lábios e o palato são os locais mais frequentemente envolvidos, seguidos pela mucosa jugal. Ocasionalmente aparecem lesões gengivais, que se assemelham àquelas observadas nas infecções primárias pelo HSV, mas não é difícil distinguir as duas, pois as lesões da varicela tendem a ser relativamente indolores. As lesões começam como vesículas branco-opacas de 3 a 4 mm, que se rompem e formam úlceras de 1 a 3 mm. Frequentemente, apenas uma ou duas úlceras orais são evidentes, e caracteristicamente cicatrizam dentro de 1 a 3 dias. Ao contrário, pacientes com infecções graves quase sempre possuem ulcerações orais, apresentando mais de 30 lesões que persistem por cinco a 10 dias. Após a infecção, o Vírus Varicela Zoster fica inabilitado, podendo haver a reativação do mesmo, em caso de imunossupressão �HIV, pacientes idosos). Nesses casos, clinicamente falando, o vírus acomete o tórax de maneira unilateral e algum ramo do trigêmeo. O VZV é um vírus neurotrópico, ou seja, possui afinidade pelas células do sistema nervoso. Durante a migração por essas células, ele vai inflamando as mesmas, causando a Nevralgia pós-herpética. Por conta disso, recomenda-se o uso do aciclovir para evitar quadros de Nevralgia. Doenças auto-imunes ● Pênfigo ● Pênfigoide de membranas mucosas. Pênfigo As bolhas que caracterizam essa doença ocorrem devido a uma produção anormal, por razões desconhecidas, de autoanticorpos que são dirigidos contra glicoproteínas de superfície da célula epidérmica, a desmogleína 3 e a desmogleína 1. Essas desmogleínas são componentes dos desmossomos (estruturas de adesão entre as células epiteliais), e os autoanticorpos se aderem a esses componentes desmossomais, inibindo de modo eficaz a interação molecular que é responsável pela aderência. Como resultado desse ataque imunológico aos desmossomos, uma fenda se desenvolve dentro do epitélio, causando a formação de uma bolha intraepitelial. As manifestações iniciais do pênfigo vulgar frequentemente envolvem a mucosa bucal, e a doença costuma ocorrer em adultos. A idade média no diagnóstico é de 50 anos, embora casos raros possam ser observados na infância. A predileção por gênero não é observada, e a condição parece ser mais comum em pessoas do Mediterrâneo, sul da Ásia e/ou com descendência judaica. Os pacientes normalmente queixam-se de dor na mucosa bucal, e o exame clínico exibe erosões superficiais e irregulares e ulcerações distribuídas de forma aleatória na mucosa bucal. Odontologia UFPE Estomatologia | Lesões Ulceradas e Vesículo Bolhosas da Cavidade Oral �2021.2� Essas lesões praticamente podem afetar quase qualquer local da mucosa bucal, embora o palato, a mucosa labial, a mucosa jugal, o ventre da língua e a gengiva sejam envolvidos com maior frequência. Os pacientes dificilmente relatam a formação de vesículas ou bolhas intrabucais, e essas lesões raramente são identificadas pelo clínico durante o exame, com a probabilidade de a razão ser a ruptura precoce do teto fino e friável das bolhas. Penfigóide das membranas mucosas As evidências acumuladas sugerem que o penfigóide das membranas mucosas represente um grupo de doenças autoimunes mucocutâneas bolhosas crônicas, no qual autoanticorpos ligados aos tecidos são dirigidos contra um ou mais componentes da membrana basal. O termo “penfigóide'' é utilizado devido a sua frequente semelhança (este é o significado do sufixo -oide) clínica com o pênfigo. Contudo, o prognóstico e as características microscópicas do penfigóide são muito diferentes. O penfigóide das membranas mucosas geralmente afeta adultos, com média de 50 a 60 anos de idade, no início da manifestação da doença. As mulheres são afetadas com mais frequência do que os homens em uma razão de 2�1. As lesões bucais são observadas na maioria dos pacientes, mas outras localizações, como as mucosas conjuntival, nasal, esofágica, laríngea e a vaginal, bem como a pele, podem estar envolvidas. As lesões bucais do penfigóide se iniciam como vesículas ou bolhas que muitas vezes podem ser identificadas clinicamente. Em contraste, os pacientes com pênfigo raramente exibirão essas bolhas. A explicação mais provável para essa diferença é que as bolhas no penfigóide se formam em localização subepitelial, produzindo um teto mais espesso e resistente do que a bolha intraepitelial acantolítica do pênfigo. Eventualmente as bolhas bucais se rompem, deixando uma área extensa de ulceração superficial e áreas desnudas de mucosa. Odontologia UFPE Estomatologia | Lesões Ulceradas e Vesículo Bolhosas da Cavidade Oral �2021.2� Em geral, este processo é observado de forma difusa na boca, mas pode estar limitado a certas localizações, em especial na gengiva. O envolvimento gengival produz um padrão de reação clínica denominado gengivite descamativa. Este padrão também pode ser observado em outras condições, como o líquen plano erosivo ou, menos frequentemente, no pênfigo vulgar. Uma grande complicação que pode ocorrer em caso de penfigóide é o comprometimento ocular. Por isso, os pacientes diagnosticados devem ser encaminhados para um oftalmologista.
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