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TEOLOGIA SITEMÁTICA I Antropologia Teológica, Soteriologia e Hamartiologia Por: Alexandre Almeida 1 TEOLOGIA SITEMÁTICA I Antropologia Teológica, Soteriologia e Hamartiologia Por: Alexandre Almeida 1. ANTROPOLOGIA TEOLÓGICA A Antropologia Teológica ocupa-se unicamente com o que a Bíblia diz a respeito do homem e da relação em que ele está e deve estar com Deus (BERKHOF, 2001, P. 167). A Antropologia Bíblica confina-se à Palavra de Deus e a corroboração que a experiência humana pode dar do testemunho que confirma a verdade revelada (CHAFER, 2003 p. 535). 1.1. Antropologia A palavra antropologia tem origem em dois termos gregos e significa “estudo do homem”. A teologia é o estudo acerca de Deus de acordo com uma perspectiva bíblica. Então a antropologia teológica nada mais é do que a doutrina bíblica do homem. No contexto da teologia cristã, a antropologia teológica ou antropologia cristã difere da antropologia social e biológica, embora considere questões sociológicas e biológicas quanto a natureza social e biológica do ser humano, assim, a antropologia teológica é o estudo do humano ("antropologia") em sua relação a Deus (“perspectiva teológica”). -A antropologia geral é a área da ciência que se dedica ao estudo aprofundado sobre o ser humano, é é o estudo cientifico que tem o homem como objeto de análise valendo-se de todas as ciências que tratam de sua origem, natureza e potencialidades – isso inclui a constituição e história da humanidade, a estrutura e características fisiológicas e psíquicas do homem, e seu desenvolvimento etnológico, cultural, linguístico e religioso. - A antropologia teológica(cristã), por sua vez, volta-se à articulação entre a existência humana e as escrituras sagradas, refletindo sobre a vida individual e coletiva, também sobre a realidade prática da existência, vida e finitude do homem, ela se preocupa exclusivamente acerca do que a Bíblia revela acerca do homem. Como bem define o teólogo sistemático Louis Berkhof, a antropologia teológica ocupa-se unicamente do que a Bíblia diz a respeito do homem e da relação em que ele está e deve estar com o Deus Criador. 1.2. Antropologia Geral Implicações Biológicas TEOLOGIA SITEMÁTICA I Antropologia Teológica, Soteriologia e Hamartiologia Por: Alexandre Almeida 2 A Antropologia Biológica (ou Física) ajuda a compreender o processo biológico, pois em geral, o ser humano antes de tudo é como uma “espécie do reino animal” (LABURTHE; WARNIER, 2003, P. 45) que foi passando da sua condição de: antropoide (animais mais semelhantes ao ser humano - 10 a 12 milhões de anos atrás), para a condição hominídea (pertenciam ao gênero Australopithecus - a partir de 9 milhões de anos atrás). Sendo assim, em tese, o homem teria evoluído biologicamente (MENDES, 1997; POUGH, 2006), como também culturalmente, e o brasileiro, naturalmente, passou também por esse processo de formação e transformação, ou seja, assumiu características físicas especificas que lhes foram atribuídas em consequência da miscigenação (SUPERINTERESSANTE, 31 de ago de 2005. Disponível em: <https://super.abril.com.br/cultura/a-cara-do-brasileiro/> Acesso em: 14 set 2021). A miscigenação(inter-racial) do brasileiro é algo incontestável conforme as tantas variações genéticas comumente encontradas por meio de análise do DNA.(RODRIGUES, Lucas de Oliveira. "Raça e etnia"; Brasil Escola. Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/raca-etnia.htm>. Acesso em: 25 de setembro de 2021). Implicações Culturais A Antropologia Cultural, entende por evolução cultural, que o ser humano foi “capaz de produzir e acumular experiências e principalmente de transmiti-las socialmente”(MARCONI; PRESOTTO, 2014 P. 77). De alguma maneira o homem chegou às Américas e ao se estabelecer evoluiu adquirindo novos hábitos. Essa evolução pode talvez ser explicada pela hipótese das circunstâncias adversas da geografia local, o então, denominado “determinismo geográfico” proposto por Friedrich Ratzel . O por quê da desigualdade entre europeus e brasileiros, mesmo tendo sido o Brasil colonizado pelos europeus tem como um dos fundamentos a colonização portuguesa no Brasil, que economicamente foi de cultura rural que se prolongou por muito tempo, diferente do que acontecia na Europa, que avançava para o mercantilismo. Enquanto no Brasil escravos trabalhavam e senhores mandavam, na Europa, a classe burguesa se destacava propondo mudança através das revoluções (AVELINO, 1990). Implicações Geográficas O determinismo geográfico(ou ambiental) proposto por Friedrich Ratzel, defende que a geografia da região, como condições climáticas, determina os padrões da cultura humana e seu desenvolvimento social. (REVISTA ESPAÇO E GEOGRAFIA. Portal Periódicos CAPES, c2021. Disponível em: <http:// www. lsie.unb.br/ espaco egeografia/index.php/espacoegeografia/article/view/781>. Acesso em: 09 de set de 2020). Esse ponto de vista dos fatores climáticos, por exemplo, foram usados por Platão e Aristóteles para explicar porque os gregos eram mais desenvolvidos do que outras sociedades em climas muito mais quentes ou muito mais frios. Além disso, Aristóteles criou seu sistema de classificação climática para explicar porque as pessoas TEOLOGIA SITEMÁTICA I Antropologia Teológica, Soteriologia e Hamartiologia Por: Alexandre Almeida 3 estavam limitadas ao assentamento em certas áreas do globo (GOSSETT, 1997, p. 3-16; LIVINGSTONE, 2011, p. 370). . Em tese, os brancos(europeus) que colonizaram as Américas, em geral, tendem a serem mais prósperos por conta de um viés genético que foi circunstancialmente adaptado por uma determinada circunstância regional. Naturalmente e geneticamente o organismo de um branco tende a influenciar mais para o foco ao trabalho e ao estudo do que o organismo do africano, isso por causa do fator geográfico dos hemisférios norte de clima frio/temperado(AYOADE, 1991), onde a civilização precisava focar mais no trabalho e no aprendizado para sobreviver, do que no hemisfério sul de clima quente/tropical(AYOADE, 1991), onde a civilização não precisava trabalhar muito para sobreviver, nem se preocupar com o aprendizado excessivo, pois tudo era produzido sem muito esforço por conta das condições geológicas e climáticas que são mais favoráveis no hemisfério sul (PENA, Rodolfo F. Alves. "Friedrich Ratzel"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/friedrich-ratzel.htm. Acesso em 13 de setembro de 2021). Este referido argumento, em tese, responde a pergunta: Por que o brasileiro de colonização cultural europeia, não seguiu a cultura do europeu que é a do bom senso, do trabalho em primeiro lugar, da formação e de práticas menos corruptas? A cultura relaxada, acomodada do brasileiro deve-se em hipótese ao determinismo geográfico e às condições climáticas na sua origem, isso explica em tese a indolência indígena, a inferioridade do brasileiro afrodescendente resultante da miscigenação, ou seja, o brasileiro de hoje, por essas razões, em hipótese, teria se originado dessas circunstâncias e assumido assim naturalmente características culturais e habituais de trabalhar menos por não ser tão necessário em relação às civilizações do hemisfério norte, onde tinham que trabalhar demasiadamente pra sobreviver a temperaturas climáticas desfavoráveis (RATZEL, 1983); (ARCASSA, Wesley de Souza, UNESP – Campus de Ourinhos, S.I. Disponível em: <http://www2.fct.unesp.br/semanas/geografia/2011/2011- ensino%20e%20epistemolgia/ wesley %20e%20Paulo.pdf>. Acesso em: 10 de set de 2021). Implicações Religiosas A Antropologia bíblica(Teológica) difere-se da Antropologia científica em método de abordagem e propósito para explicar as implicações teológicas, filosóficas da religião e culturais quanto aos valores morais e éticos, pois a cultura brasileira,bem como de todo o mundo ocidental, foram moldadas pelo cristianismo(KENNEDY; NEWCOMBE, 2003). 1.3. A Constituição do homem A) Cientificamente e Teologicamente TEOLOGIA SITEMÁTICA I Antropologia Teológica, Soteriologia e Hamartiologia Por: Alexandre Almeida 4 -Antropogênese (origem do homem) -Biogênese (a vida é necessária para geração de vida) -Abiogênese (a vida oriunda da matéria inanimada) -Micro e macro evolução (evolução de micro organismo e macro evolução dos hominídeos) -Evolucionismo teísta (Deus e´o agente do processo evolutivo) B) Biblicamente Corpo, alma e espírito (Genesis 1.27-2.7) -Dicotomia Corpo + Alma/Espírito -Tricotomia Corpo + Alma + Espírito 2. SOTERIOLOGIA A salvação do pecador perdido está fundamentada no grandioso amor que Deus tem pelas suas criaturas morais. Esse amor, que é um dos atributos morais da Deidade, é o amor sacrificial, desinteressado, não circunstancial. É o amor eterno que Deus nos tem em Cristo Jesus. “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” Jo 3.16. (Veja ainda Rm 5.8; Gl2.20; 2 Ts 2.16; 1 Jo 4.8-10,16,19; Ap 1.5). A salvação foi realizada por nosso Senhor Jesus Cristo, Filho Eterno de Deus, que veio a este mundo em carne e ofereceu a sua preciosa vida em sacrifício na cruz do Calvário, para salvar da perdição eterna que pesava sobre o homem por causa de seus pecados. Para autenticar o ato Redentor feito pela Sua morte, Jesus ressuscitou dentre os mortos pelo poder de Deus. “O qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação” Rm 4.25. (Veja ainda Jo 3.16; 1 Tm 1.15; 2.5; Hb 5.9; 7.25; 1 Co 15.3,4; Ef 1.5-7; Cl 1.13,14; At 4.12). Sendo assim, vamos estudar a soteriologia a partir dos tópicos a seguir. 2.1. Conceito Soteriologia é uma palavra que advém da junção de duas palavras gregas, “soteria” ou σωτήριος *Soterios+ = “salvação” e “logos” = “estudo”. Em teologia é a doutrina da salvação em todos os seus aspectos. 2.2.Subdivisões TEOLOGIA SITEMÁTICA I Antropologia Teológica, Soteriologia e Hamartiologia Por: Alexandre Almeida 5 Há subdivisões dentro da soteriologia que abordam a salvação em seus diferentes aspectos, tais como: -é o plano eterno e obra remidora de Deus; -a expiação no sangue de Cristo; -a operação da graça divina; -o estado do homem em relação ao pecado; -a obra do Espírito Santo; -e o destino final do homem. 2.3. Os pontos mais importantes sobre a soteriologia bíblica. São muitas as teorias soteriológicas, sendo assim, estudaremos as mais relevantes: 2.3.1. Sinergismo e Monergismo Dentro da soteriologia bíblica também é discutida a forma com que o homem interagem no processo de salvação. Neste ponto surge duas ideias básicas: Sinergismo e Monergismo. No sinergismo a salvação é definida como um resultado da vontade de Deus em cooperação (sinergia) com a escolha humana. No Monergismo, a salvação é uma obra absolutamente de Deus, sem influência alguma do homem. A partir disso, se discute o tão famoso debate entre livre-arbítrio e predestinação que abordaremos mais a frente. 2.3.2. Algumas linhas A questão do Sinergismo e Monergismo deu origem a um grande debate se estende dentro da Igreja ao longo dos séculos. Esse debate resultou em algumas linhas teológicas muito conhecidas e aplicadas nas igrejas. - Arminianismo: o maior expoente deste sistema foi o teólogo holandês Jacob Armínio (1560-1609). Este sistema tenta explicar uma ideia de livre-arbítrio humano em relação à soberania de Deus. O Arminianismo deposita mais ênfase na responsabilidade humana que, em certo momento, acaba se sobressaindo em relação à soberania de Deus, pelo menos no que diz respeito à salvação. Os pontos principais do Arminianismo moderno são: Depravação Parcial (o homem mesmo corrompido pelo pecado é capaz de escolher se aproximar de Deus); Eleição Condicional (Deus elegeu os salvos com base em sua presciência sabendo quem iria crer n’Ele); Expiação Ilimitada (Jesus morreu por todos, incluindo os que não serão salvos); Graça Resistível TEOLOGIA SITEMÁTICA I Antropologia Teológica, Soteriologia e Hamartiologia Por: Alexandre Almeida 6 (o homem pode resistir à salvação); Queda da Graça ou Salvação Condicional (o homem pode perder a salvação, sendo necessário então mantê-la). Vale lembrar que o Arminianismo clássico rejeita a Depravação Parcial e tem uma visão mais parecida com o Calvinismo em relação à Depravação Total. Muitos arminianos, principalmente os clássicos, também rejeitam a ideia da Queda da Graça. -Calvinismo: tem João Calvino (1509-1564) como maior expoente, embora antes dele muitos líderes da Igreja já defendiam a mesma ideia em relação à salvação. O Calvinismo enfatiza a soberania de Deus em relação à responsabilidade humana, e nega a ideia de livre-arbítrio. Os pontos principais do Calvinismo são: Depravação Total (o homem é incapaz de escolher a salvação por estar morto em delitos e pecados); Eleição Incondicional (Deus elegeu soberanamente alguns para a salvação já que o homem é incapaz de qualquer resposta à Deus); Expiação Limitada (o sacrifício de Jesus é eficaz apenas para os eleitos, ou seja, Cristo morreu apenas pelos que realmente seriam salvos); Graça Irresistível (quando Deus chama o homem, este efetivamente responde de forma positiva); Perseverança dos Santos (todos aqueles que Deus escolheu irão perseverar na fé e jamais pereceram, pois a obra de Deus é completa). Dentro do Calvinismo existe também o Calvinismo de Quatro Pontos. Este último discorda da ideia de Expiação Limitada e defende uma visão semelhante ao do Arminianismo. -Pelagianismo: ensino que foi defendido por um monge chamado Pelágio do século IV. Seu ensinamento afirmava que os homens não nascem contaminados pelo pecado. Segundo ele os homens são naturalmente inocentes e aprendem a pecar no decorrer da vida. Este é o ensino mais focado na defesa do livre-arbítrio do homem. Para o Pelagianismo o homem possui uma alma livre do pecado, ou seja, ele pode ser imparcial. Esta ideia contradiz totalmente a Bíblia que afirma que todos os homens são afetados pelo Pecado Original de Adão (Romanos 5:12). Ninguém consegue escapar de nascer com inclinação ao mal (Romanos 3:10), já que somos pecadores no momento da concepção (Salmo 51:5). Como resultado disto, todos os homens morrem (Romanos 6:23). -Semipelagianismo: é uma adaptação do Pelagianismo e ensina que a humanidade é contaminada pelo pecado, mas não de tal forma que impeça o homem a se decidir por Deus. Em outras palavras, o homem supostamente seria capaz de cooperar com Deus devido aos seus esforços e escolhas. Então isto seria um tipo de “depravação parcial” e não “depravação total”. A Bíblia é clara ao afirmar que o homem é totalmente incapaz de se aproximar de Deus por escolha própria. Ele é incapaz de cooperar com Deus em relação à salvação, e possuí sua natureza completamente corrompida. 2.3.3. A Predestinação TEOLOGIA SITEMÁTICA I Antropologia Teológica, Soteriologia e Hamartiologia Por: Alexandre Almeida 7 Para a doutrina da Predestinação, a Salvação do crente não foi obra do acaso, um caso fortuito, mas é parte dum plano estabelecido por Deus antes que o mundo fosse mundo. Antes dos tempos eternos, Deus, no Seu propósito e graça, escolheu, de maneira soberana, sem depender de fé prevista ou boas ações, um grupo de pessoas, que é a Sua Igreja, para nele mostrar o beneplácito de sua Graça aos vasos de misericórdia, os quais preparou de antemão. Essa gloriosa doutrina chamada de Predestinação, refutada por alguns, mas nunca contestada eficazmente, que dá a Deus toda a glória pela redenção do homem, desde a procura de Deus pelas ovelhas perdidas, passando pela convicção de pecado, pela concessão da fé salvadora,pela chamada eficaz, pela salvação efetiva, pela perseverança do crente até o estado final de glorificação, é uma das grandes razões porque o crente jamais perderá a salvação. Vejamos alguns textos que sustentam a eleição da graça: “Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conforme a imagem de seu filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos; e aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou”. Rm 8.29,30. “Como também nos elegeu (escolheu) nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor” Ef 1.4. “E sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” Rm 8.28. “Mas nós devemos dar graças a Deus por vós, irmãos, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, mediante a santificação do Espírito e fé na verdade e para isso vos chamou pelo Evangelho, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo” 2 Ts 2.13,14. “Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação, não segundo as nossas obras, mas segundo o seu propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos” 2 Tm 1.9. (Veja ainda 1 Pe 1.2; 1 Ts 5.9; At 13.48; Jo 6.65,44,45). Ainda existem na Bíblia inúmeros outros textos que tratam do assunto da eleição do crente para a salvação, mas os citados são bastante para corroborarem a doutrina da predestinação. 13) Calvinismo x Arminianismo João Calvino, um dos expoentes da reforma protestante em suas Institutas enfatizou a doutrina da predestinação, afirmando que o ser humano só pode usufruir da salvação eterna dispensada pelos méritos de Cristo se tiver sido predestinado para tal. “... e creram todos quantos haviam sido destinados para a vida eterna” At 13.48. Calvino ensinava que essa predestinação era baseada unicamente na livre graça de Deus, independente de qualquer ato ou fé previsto do pecador que viesse a torná-lo agradável a Deus. “Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade” Ef 1.11. Ensinava Calvino ainda que o pecado inabilitou completamente o homem e por isso ele é totalmente incapaz de se aproximar de Deus se o Espírito Santo o não regenerar primeiro. “E continuou: Por isso vos disse que ninguém pode vir a mim, se pelo Pai lhe não for concedido” Jo 6.65. “Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer...” Jo 6.44,45.Jacob Arminius, teólogo holandês, discordando de Calvino, ensinava que o TEOLOGIA SITEMÁTICA I Antropologia Teológica, Soteriologia e Hamartiologia Por: Alexandre Almeida 8 pecado não inabilitou o homem totalmente e sim que ele ainda conservava a faculdade de por si mesmo, independente da ação divina, de dá resposta ao evangelho de Cristo. Queria dizer Arminius que o homem colaborava com a sua salvação, pois, ele tinha o livre arbítrio de aceitar ou de rejeitar a obra redentora de Cristo. Afirmava ainda Arminius que a salvação uma vez recebida poderia ser perdida se o indivíduo não perseverasse na fé. No Sinodo de Dort, o arminianismo foi condenado como herético e os reformadores elaboraram os cinco pontos do calvinismo que tratam do assunto da salvação, conforme abaixo: a)Os Cinco Pontos do Calvinismo I-Depravação Total O pecado atingiu o homem tão profundamente que o inabilitou de qualquer capacidade de dá resposta positiva aos apelos do Evangelho; II-Eleição Incondicional Deus, na sua graça infinita, elegeu a Igreja para a salvação independente de qualquer ato previsto; III-Expiação Limitada Cristo morreu na cruz do Calvário somente pelos eleitos, ou seja, somente aqueles que são predestinados para a salvação é que serão eficazmente salvos; IV-Graça Irresistível Todos os eleitos serão, no devido tempo, atraídos pelo Espirito Santo a Cristo para alcançar a salvação. Nenhum dos escolhidos de Deus deixará de receber a salvação através de Cristo; e, V-Perseverança dos Santos Todos os eleitos perseverarão na fé até o final de sua jornada aqui neste mundo. Jamais cairão da graça de Deus que os sustenta. Em inglês, os cinco pontos são(TULIP): T- Total Depravity (Depravação Total) U- Unconditional Election (Eleição Incondicional) L- Limited Atonement (Expiação Limitada) I- Irresistible Grace (Graça Irresistível) P- Perseverance of the Saints (Perseverança dos Santos) TEOLOGIA SITEMÁTICA I Antropologia Teológica, Soteriologia e Hamartiologia Por: Alexandre Almeida 9 b) Os cinco pontos do Arminianismo I. VONTADE LIVRE O primeiro ponto do arminianismo sustenta que o homem é dotado de vontade livre. -Os reformadores reconhecem que o homem foi dotado de vontade livre, mas concordam com a tese de Lutero — defendida em sua obra “A Escravidão da Vontade” de que o homem não está livre da escravidão a Satanás. -Arminius acreditava que a queda do homem não foi total, e sustentou que, no homem, restou bem suficientemente capaz de habilitá-lo a querer aceitar Cristo como Salvador. II. ELEIÇÃO CONDICIONAL -Arminius ensinava também que a eleição estava baseada no pré-conhecimento de Deus em relação àquele que deve crer. -Em outras palavras, o ato de fé, por parte do homem, é a condição para ele ser eleito para a vida eterna, uma vez que Deus previu que ele exerceria livremente sua vontade, num ato de volição positiva para com Cristo. III. EXPIAÇÃO UNIVERSAL -Conquanto a convicção posterior de Arminius fosse a de que Deus ama a todos, de que Cristo morreu por todos e de que o Pai não quer que ninguém se perca, ele e seus seguidores sustentam que a redenção (usada casualmente como sinônimo de expiação) é geral. Em outras palavras: - A morte de Cristo oferece a Deus base para salvar a todos os homens. - Contudo, cada homem deve exercer sua livre vontade para aceitar a Cristo. IV. A GRAÇA PODE SER IMPEDIDA -O arminiano, em seguida, crê que uma vez que Deus quer que todos os homens sejam salvos, ele envia seu Santo Espírito para atrair todos os homens a Cristo. -Contudo, desde que o homem goza de vontade livre absoluta, ele pode resistir à vontade de Deus em relação a sua própria vida. (A ordem arminiana sustenta que, primeiro, o homem exerce sua própria vontade e só depois nasce de novo.) -Ainda que o arminiano creia que Deus é onipotente, insiste em que a vontade de Deus, em salvar a todos os homens, pode ser frustrada pela finita vontade do homem como indivíduo. V. O HOMEM PODE CAIR DA GRAÇA TEOLOGIA SITEMÁTICA I Antropologia Teológica, Soteriologia e Hamartiologia Por: Alexandre Almeida 10 -O quinto ponto do arminianismo é a conseqüência lógica das precedentes posições de seu sistema. - O homem não pode continuar na salvação, a menos que continue a querer ser salvo. 2.4. Processo da Salvação numa perspectiva ortodoxa A salvação é a manifestação da graça de Deus, por meio de Jesus Cristo, na vida de uma pessoa, salvando-a da perdição eterna provocada pelo pecado, quando ela, arrependida, num ato voluntário de fé aceita e crê em Jesus como seu único, suficiente e eterno Salvador, sendo assim, temos as seguintes etapas dessse processo. 1º Vem de Deus Deus em Cristo Jesus oferece gratuitamente a salvação a todos os pecadores perdidos. A salvação é um dom gratuito de Deus ao homem. “E o Espírito e a esposa dizem: Vem. E quem ouve, diga: Vem. E quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida” Ap 22.17. (Veja ainda Rm 6.23; Tt 2.11; Is 55.1-3; Jo 7.37; Mt 11.28-30; Ef 2.8). 2º Mediante o arrependimento Deus exige que o ser humano, para receber dele o perdão, arrependa-se de seus pecados, isto é, reconheça a sua condição de pecador perdido aos olhos do Todo- Poderoso e tome a firme decisãode abandonar a vida pecaminosa. “Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam; porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos” At 17.30,31 (Veja ainda Lc 15.17-20; 18.13; 24.47; Mc 1.15). 3º Mediante a fé (Crer em Jesus) O outro passo que deve ser tomada é o passo da fé. A salvação oferecida, gratuitamente, por Deus ao pecador perdido, deve ser recebida pela fé. O pecador, arrependido, deve aceitar e crer em Jesus como seu único, suficiente e eterno Salvador. “E eles disseram: Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa” At 16.31 (Veja ainda Mc 1.15; Mc 16.15,16; Ef 2.8; Rm 5.1; 10.8-11; Gl 2.16; 3.11). 4º A Posse da Salvação A salvação é gozada neste mundo a partir do momento em que a pessoa arrependida crer em Jesus como seu Salvador pessoal, e tem um prolongamento por toda a eternidade através da vida eterna dada por Deus. “Na verdade, na verdade vos digo TEOLOGIA SITEMÁTICA I Antropologia Teológica, Soteriologia e Hamartiologia Por: Alexandre Almeida 11 que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida” Jo 5.24 (Veja ainda Jo 3.16; 6.47; Lc 23.43; 1 Jo 5.11,12). 5º Perdão dos pecados No ato da conversão, todos os pecados da pessoa são perdoados pelo poder do sangue de Jesus. “E ele (Jesus) é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro.” 1 Jo 2.2. (Veja ainda Ef 4.32; Cl 2.13; 3.13; Mt 9.2; 1 Jo 2.12; Sl 32.1). 6º A Justificação No ato da conversão a pessoa é declarada justificada diante de Deus pela imputação da justiça ou méritos de Cristo. “Tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus” Rm 3.26. (Veja ainda Rm 3.24,28; 5.1,9; 8.30,33; Tt 3.7). 7º Redenção Quando da conversão a pessoa é resgatada da escravidão do pecado e do poder do Diabo e transportada, espiritualmente, para o Reino da Luz, graças ao poder redentor do sangue de Jesus derramado na cruz do Calvário. “Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo” 1 Pe 1.18,19. (Veja ainda Rm 3.24; 1 Co 1.30; Ef 1.7; Cl 1.14; Hb 9.12; 1 Co 6.20; 7.23). 8º Regeneração No ato da conversão, a pessoa inicia o processo de regeneração, de transformação em nova criatura, nascendo de novo pela instrumentalidade do Espírito Santo. “Não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador.” Tt 3.5,6. (Veja ainda Jo 3.3; 1 Pe 1.3,23; 2 Co 5.17). 9º Adoção No ato da conversão a pessoa é adotada por Deus como filho, passando a gozar, a partir daí, dos direitos e privilégios inerentes a essa nova relação estabelecida com o Pai Celestial. Isso implica também na responsabilidade que recai sobre o crente de viver conforme o Evangelho de Cristo. “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome.” Jo 1.12. (Veja ainda Rm 8.15; Gl 4.5-7; Ef 1.5; 1 Jo 3.1,2). 10º Reconciliação TEOLOGIA SITEMÁTICA I Antropologia Teológica, Soteriologia e Hamartiologia Por: Alexandre Almeida 12 No ato da salvação, a pessoa é reconciliada com Deus por intermédio de Jesus Cristo, desfazendo-se, assim, a inimizade que existia entre Deus e o homem por causa do pecado. “Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação.” 2 Co 5.18,19. (Veja ainda 1 Tm 2.5; Rm 5.10,11; Ef 2.12-19; Cl 1.20; Hb 9.15; 12.24). 11º Santificação No ato da conversão, a pessoa é purificada de seus pecados numa ação instantânea da graça de Deus. Isso é chamado de Santificação Posicional. Daí por diante o crente tem que se esforçar para manter o seu coração puro diante de Deus. Chama-se essa fase da santificação de Experimental. “Aquele que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados.” Ap 1.5. “Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santificação; que vos abstenhais da prostituição” 1 Ts 4.3. (Veja ainda 1 Jo 1.9; 1 Co 6.11; Hb 10.10,29; 1 Ts 4.7; 5.23). 12º Glorificação No programa de Deus, em relação à Igreja, há uma bênção futura para todos os crentes, que é a redenção ou glorificação do corpo. Isso quer dizer que todos os salvos, os falecidos e os que estiverem vivos, quando do arrebatamento da Igreja, terão os seus corpos glorificados, habilitando-os, assim, a viverem para sempre com o Senhor. “Pois a nossa pátria está nos Céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, o qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória, segundo a eficácia do poder que ele tem de até subordinar a si todas as coisas.” Fp 3.20,21. (Veja ainda Rm 8.17,30; Cl 3.4; 1 Pe 5.1; 1 Jo 3.2; Ef 5.27; 1 Co 15.53-57). 3. HAMARTIOLOGIA “Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso, que todos pecaram” Romanos 5:12 3.1. Conceito Hamartiologia é uma palavra que vem de dois termos gregos, “hamartia” ou “hamartano”(ἁμαρτάνω) = “errar o alvo”, “impureza”, “erro”, “desvio”, e “logos” = “palavra”, “estudo” ou “raciocínio”. Por tanto, em teologia é o estudo ou a doutrina pecado. TEOLOGIA SITEMÁTICA I Antropologia Teológica, Soteriologia e Hamartiologia Por: Alexandre Almeida 13 A hamartiologia é uma disciplina que apresenta um estudo sistemático a respeito do pecado em todos os seus aspectos conforme exposto na Bíblia Sagrada. A hamartiologia aborda a origem e o que é o pecado, as suas implicações na história da criação e assim, ajuda na compreensão da grandeza da salvação providenciada pela obra redentora de Cristo. 3.2. A origem do pecado Pecado em suma, é contrariar a vontade de Deus. Mesmo antes da desobediência(pecado) de Adão e Eva, o pecado se fez presente no mundo angélico o que resultou com a queda de Satanás e seus anjos. Mas com respeito à raça humana, o primeiro pecado foi em Adão e Eva no jardim do Éden (Gn 3.1-19). O ato de comer o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal representa o aspecto típico da origem do pecado através do homem. O pecado “original”, do qual todos os homens já nascem participando, diz respeito principalmente à condição pecaminosa de todos os seres humanos após a Queda do Homem. A Bíblia diz que quando Adão caiu em pecado contra Deus, todos os seres humanos caíram com eles, tornando-se igualmente culpados. O homem não é pecador porque peca, mas peca porque é pecador, contrariando assim o pelagianismo. Então nesse sentido alguns assuntos importantes são tratados, como: a incapacidade moral dos seres humanos e a transmissibilidade da natureza pecaminosa de Adão para sua posteridade. 3.3. O pecado em relação a/ao: A) Deus Deus não pode pecar, e no entanto o plano de Deus “precisaria” ter incluído a permissão para a entrada do pecado no mundo, já que desde a eternidade incluía um Salvador. B) Satanás O pecado foi achado em satanás (Ez 28.15). Esta afirmação é o mais próximo que a Bíblia chega de uma indicação da origem do pecado. C) Anjos Alguns deles seguiram a satanás em seu pecado.D) Homem O pecado originou-se no Éden. E) Indivíduo TEOLOGIA SITEMÁTICA I Antropologia Teológica, Soteriologia e Hamartiologia Por: Alexandre Almeida 14 O pecado é pessoal, cometido por indivíduos. Podem ser pecados deliberados ou pecados por ignorância. Errar o alvo também implica atingir o alvo errado. 3.4. Pecado Imputado A) Significado: O resultado da participação de cada homem no pecado original de Adão. B) Texto-chave: Romanos 5.12 – Toda a humanidade estava em Adão, participando de seu pecado e assumindo a culpa resultante dele. C) Transmissão do pecado imputado: Transmitido diretamente de Adão a cada membro da raça. D) Penalidade: Morte física. 3.5. Consequência As consequências do pecado foram catastróficas e universal, se estenderam por toda a humanidade e toda criação, trazendo grande desiquilíbrio. A hamartiologia aponta os diferentes tipos de pecados conforme representados na Bíblia. Além do que é chamado na teologia de “pecado original”, os textos bíblicos também falam do pecado imperdoável e dos pecados factuais. Estes últimos ainda podem ser internos ou externos, por comissão ou omissão etc. 3.6. Relativização O número de pessoas que desprezam a realidade e a gravidade do pecado, ou que relativizam o pecado cresce muito nos últimos tempos, mas a Bíblia não deixa qualquer margem para esse tipo de pensamento. Quando desprezamos a realidade do pecado, também desprezamos a realidade da obra da redenção que resolve o problema do pecado. Quando ignoramos a gravidade do pecado, também ignoramos o fato de que o pecado é inaceitável diante de Deus. Por fim, quando relativizamos o pecado, também acabamos por relativizar o padrão de retidão e justiça de Deus. 3.7. Dualismo O mal existe porque existe o bem. A desobediência existe porque existe a obediência. Teologicamente e religiosamente, o dualismo é um princípio comum a diversas religiões e seitas que professa a coexistência irredutível do corpo e do espírito, do bem e do mal. Enquanto que filosoficamente, é um pensamento ou doutrina que admite, no domínio considerado, dois elementos irredutíveis e independentes (a natureza e a graça, a matéria e a energia, a alma e o corpo, o bem e o mal, etc.). Em suma, Dualismo é um conceito religioso e filosófico que admite a coexistência de dois princípios necessários, de duas posições ou de duas realidades contrárias entre si, TEOLOGIA SITEMÁTICA I Antropologia Teológica, Soteriologia e Hamartiologia Por: Alexandre Almeida 15 como o espírito e matéria, o corpo e a alma, o bem e o mal, e que estejam um e outro em eterno conflito. São por excelência doutrinas dualistas aquelas que tentam explicar metafisicamente o universo através de dois princípios irredutíveis entre si. 3.8. Paulo e o Novo Testamento (anexos) Referência Bibliográficas Dicionário Bíblico Strong Lei, Graça e Santificação – Russell Shedd O Homem: Corpo, Alma e Espírito – Severino Pedro da Silva Palestras em teologia Sistemática – Henry C. Thiessen Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal – Stanley Horton Teologia Sistemática – Lewis S. Chafer Teologia Sistemática – Louis Berkhof Teologia Sistemática – Norman Geisler Teologia Sistemática – Wayne Grudem Av1 seminário nos temas: mal, salvação e pecado Deus criou o mal? Uma vez salvo, para sempre salvo? Pecamos porque somos pecadores ou somos pecadores porque pecamos? Pecabilidade ou impecabilidade?
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