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Júlia Figueirêdo – DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS ACHADOS SEMIOLÓGICOS MAIS COMUNS EM PNEUMOLOGIA: SIBILOS E RONCOS: O exame físico do sistema respiratório tem como principal ponto a ausculta torácica, que avalia a passagem de ar pelos brônquios, cujo achado “normal” é o murmúrio vesicular. Esse tipo de som ainda pode ser dividido em bronquial, vesicular e broncovesicular, de acordo com a região das vias aéreas analisada. Os ruídos adventícios, por sua vez, representam quaisquer anormalidades causadas por mudanças no fluxo de ar, seja pelo acúmulo de secreções ou por obstruções nos brônquios. De modo geral, é possível classificar essas alterações como descontínuas e contínuas, a saber: Ruídos descontínuos: apresentam curta duração (< 20ms), denominados amplamente como estertores: o Estertores grossos (bolhosos): parecem com o “borbulhamento” de um líquido soprado com canudo, sendo resultado da presença de secreção acumulada nas vias aéreas; São mais comuns na expiração, mas podem persistir por todo o ciclo respiratório, alterando-se com a tosse. Características dos estertores grossos Presentes em: edema agudo de pulmão, bronquite crônica e bronquiectasia. o Estertores finos (crepitantes): são alterações da inspiração, refletindo a passagem de ar após a reabertura abrupta de vias colapsadas. Assemelham-se ao som de um velcro sendo aberto. Esses ruídos não regridem com a tosse, a contrário do som anterior. Principais identificadores dos estertores finos Presentes em: fibrose intersticial, pneumonia (difuso) e edema pulmonar (mais intenso nas bases). Ruídos descontínuos: os sibilos são ruídos musicais, mais longos (> 250 ms) e difusos pelo tórax, presentes em quadros de constrição brônquica, como a asma, estenose de traqueia e a DPOC. Normalmente aparecem na fase expiratória, mas condições mais graves (broncoespasmo) podem ampliar sua presença para a inspiração. Aspectos de destaque na identificação de sibilos Os sibilos podem ser melhor auscultados com o diafragma do estetoscópio, que tende a atenuar menos os sons de alta frequência Júlia Figueirêdo – DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS o Roncos: apresentam tonalidade mais grave, e são encontrados em obstruções temporárias de vias aéreas menores, regredindo com a tosse; o Estridor: são sibilos decorrentes de obstruções altas, cujo som inspiratório é audível mesmo sem o estetoscópio. A presença desse ruído sugere gravidade potencial, associada a obstruções por corpos estranhos ou neoplasias. Principais ruídos adventícios na ausculta pulmonar Ainda sobre os sibilos, sabe-se que o principal mecanismo fisiopatológico associado a esses ruídos é a oscilação entre constrição brônquica leve e intensa, implicando em mudanças na pressão e velocidade do fluxo de ar. As anormalidades que levam a essa condição podem ser extratorácicas (ex.: anafilaxia) ou intratorácicas, sendo essas últimas de vias aéreas inferiores (broncoconstricção) ou centrais (ex.: compressão mediastinal). Impacto da constrição de vias aéreas sobre a capacidade de passagem do ar, causando sibilos (figura d) TOSSE: A tosse é um sintoma bastante comum, presente em doenças pulmonares e extrapulmonares, bastante efetivo na proteção das vias aéreas contra a presença de agentes irritantes. Esse é um achado que implica em impacto negativo à qualidade de vida e ao convívio social do paciente. De modo a melhor avaliar esse achado, é possível classificar a tosse quanto a dois critérios principais: Tempo: o Tosse aguda: persiste por até 3 semanas, tendo como possíveis causas infecções virais/bacterianas, pneumonia, embolia pulmonar e ICC; o Tosse subaguda: dura entre três e oito semanas; o Tosse crônica: se estende por mais de oito semanas, geralmente decorrente de tuberculose, gotejamento pós-nasal, DRGE, asma e uso de IECAs. Os principais benefícios causados pela tosse são a eliminação de secreções e a proteção contra a aspiração de corpos estranhos Júlia Figueirêdo – DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS Quadros crônicos de tosse podem ser decorrentes da ativação constante de fibras amielinizadas, capazes de produzir peptídios inflamatórios agressivos aos brônquios. Principais etiologias associadas à cronologia da tosse Eliminação de secreções: o Tosse seca: ocorre na ausência de escarro, comum em pacientes em uso de IECAs; o Tosse produtiva: presente em quadros como pneumonia e bronquite crônica, é marcada por expectoração de muco. O reflexo da tosse se inicia com a irritação de receptores presentes ao longo do percurso entre a laringe e a parte inicial das pequenas vias aéreas, reativos a estímulos químicos (fibras C, amielinizadas) e mecânicos (mecanorreceptores Aσ mielinizados). Componentes anatômicos do reflexo de tosse A ativação por irritante mecânicos direciona os estímulos ao centro da tosse (difuso na medula) por meio da via aferente, formada por fibras sensoriais do nervo vago situadas no epitélio ciliado respiratório e na região peridiafragmárica. A participação das fibras C, por sua vez, implica na estimulação de canais iônicos nociceptivos, como TRPV1 e TRPA1, sensíveis à bradicinina, capsaicina e a extremos de temperatura e alterações de pH. Nesse caso, o retorno eferente irá afetar a musculatura respiratória por meio do nervo frênico e de nervos motores espinhais. Há condições, como a sinusite e a DRGE, que implicam em piora da tosse com o decúbito dorsal, reduzindo a qualidade do sono do indivíduo. Os principais mecanorreceptores associados a esse processo são os receptores de adaptação rápida (RARs, principalmente intrapulmonares) e os receptores de estiramento de adaptação lenta (SARs, encontrados nas vias aéreas superiores). Júlia Figueirêdo – DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS Esquematização do mecanismo de tosse, tendo como estímulo irritante a aspiração gástrica O ato de tossir, que pode ser tanto involuntário quanto voluntário, é formado por fases, a saber: Inspiratória: dita a eficácia da tosse por meio do volume torácico atingido; Compressiva: representa o momento de aumento da pressão intratorácica, com fechamento da glote e elevação diafragmática; Expiratória: após a abertura parcial da glote, há a expulsão de ar em alta velocidade, produzindo o som da tosse; o Esse movimento é responsável pela excreção de muco. Relaxamento: período de retomada da pressão torácica basal. Consciente e desconfortável. Representação esquemática das fases da tosse Cabe ressaltar que diversos fatores podem alterar a dinâmica desse processo, como anomalias no arco da tosse, uso de sedativos, lesões aos centros neurológicos e alterações musculares no abdome ou tórax. DISPNEIA: A dispneia é um sintoma subjetivo experimentado pelo paciente, expressa como “desconforto respiratório”, descrita como uma sensação de esforço aumentado, aperto no peito ou de ineficácia inspiratória. Diversas etiologias possíveis para a dispneia, que nem sempre são patológicas Ainda é necessário, frente à queixa de dispneia, compreender algumas denominações especiais, a saber: Dispneia de esforço: se inicia (ou piora) com a prática de atividades físicas, sendo comum em pneumo e cardiopatas; Ortopneia: o desconforto é intensificado com o decúbito, podendo ser atenuado com a elevação do tórax. Afeta principalmente portadores de insuficiência cardíaca esquerda (maior esforço da musculatura); Júlia Figueirêdo – DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS Dispneia paroxística noturna: é a sensação de “falta de ar” capaz de interromper o sono do paciente. Também é presente na insuficiênciacardíaca esquerda; Platipneia: descreve o desconforto percebido com a adoção da posição ortostática, frequente em pacientes com pericardite e síndrome hepato- pulmonar; Trepopneia: é a forma de dispneia associada ao decúbito lateral, que regride ao virar-se para o lado oposto. Não é uma queixa patognomônica, presente em condições que cursam com acometimento mais intenso de um dos pulmões. Durante a investigação clínica desse sintoma, é necessário classifica-lo quanto a sua intensidade e comprometimento do bem-estar individual. A forma de avaliação mais usual é a escala do Conselho Britânico de Medicina, que estipula graus de 0 a 4 para a dispneia, definidos pelas limitações associadas ao sintoma. Parâmetros para avaliação da intensidade da dispneia de acordo Para compreender a fisiopatologia desse sintoma, salienta-se que o mecanismo motor respiratório parte do bulbo, encaminhando impulsos eferentes que ativam a musculatura torácica, aumentando seu volume e permitindo que os pulmões se inflem de ar. Os já citados quimiorreceptores, presentes nos sistemas nervoso e vascular, e mecanorreceptores, posicionados pelas vias aéreas, também auxiliam na automatização da respiração. Para os primeiros, são alterações de PO2 e PCO2 as maiores responsáveis pelo ajuste da ventilação, ao passo que os últimos são sensíveis a estímulos musculares. O desenvolvimento da dispneia é predominantemente explicado pela teoria da dissociação eferente-reaferente, na qual há um desequilíbrio entre a ação de neurônios motores respiratórios e as informações sensoriais aferentes. Nesse contexto, ocorre uma interpretação equivocada sobre a eficácia da ventilação, que se torna consciente e desconfortável, refletindo a ativação do córtex insular após elevações na PCO2. Elementos envolvidos no desenvolvimento da dispneia
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