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ANÁLISES CLÍNICAS DAS DISLIPIDEMIAS (METABOLISMO DO COLESTEROL TOTAL E FRAÇÕES, PERFIL LIPÍDICO (LIPOPROTEÍNAS ENVOLVIDAS), ATEROGENICIDADE)

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ANÁLISES CLÍNICAS DAS DISLIPIDEMIAS (METABOLISMO DO COLESTEROL 
TOTAL E FRAÇÕES, PERFIL LIPÍDICO (LIPOPROTEÍNAS ENVOLVIDAS), 
ATEROGENICIDADE) 
 
APOLIPOPROTEÍNAS 
 
As apolipoproteínas são anfipáticas, suas 
regiões hidrofóbicas interagem com os 
lipídeos na partícula lipoproteica, enquanto 
suas regiões hidrofílicas possibilitam a 
interação com o meio ambiente aquoso. 
Elas tem três funções: fornecem o elemento 
estrutural às partículas lipoproteicas, agem 
como ligantes para receptores específicos e 
também como ativadoras ou elas são 
inibidoras de enzimas específicas que estão 
envolvidas no metabolismo lipoproteico. 
Com base em sua mobilidade eletroforética, 
HDL e LDL foram originalmente chamadas de 
α- e β- lipoproteínas. A nomenclatura de suas 
apolipoproteínas correspondentes se originou 
desta, sendo a apo A a apolipoproteína 
derivada da HDL (α-lipoproteina) e a apo B, a 
apolipoproteína derivada do LDL(β-
lipoproteína). 
A Apo A-I é a principal proteína de HDL. Apo 
B-100 é a principal proteína de LDL e Lp(a); e 
apo B-48, que é produzida a partir do RNA 
mensageiro (RNAm) da apo B-100 por um 
processo de edição de RNA, é encontrada 
em quilomícrons. 
Tanto a apo B-100 quanto a apo B-48 são 
encontradas em uma molécula por partícula, 
estão firmemente ligadas e não fazem trocas 
entre partículas, como outras 
apolipoproteínas fazem. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APOLIPOPROTEÍNA A 
APOLIPOPROTEÍNA A-I 
A apolipoproteína A-I (apo A-I) é a principal 
proteína da HDL (constituindo 70 a 80% desta 
proteína). É primariamente sintetizada no fígado 
e intestino delgado. Por conta do seu papel 
estrutural na HDL, ela também ativa a lecitina-
colesterol aciltransferase (LCAT). O transporte 
reverso do colesterol depende da habilidade da 
apo A-I em promover o efluxo celular de 
colesterol, em se ligar aos lipídeos, ativar a 
lecitina-colesterol aciltransferase (LCAT) e, na 
HDL madura, interagir com proteínas 
transferidoras de lipídeos e receptores 
específicos 
-O gene para a apo A-I (APOAI) é parte de um 
cluster de genes do braço longo do cromossomo 
11 que inclui APOC3, APOA4 e APOA5- 
Estudos epidemiológicos têm demonstrado que 
as concentrações plasmáticas de apo A-I, como 
aquelas de colesterol HDL (HDL-C), são 
inversamente relacionadas com o risco 
cardiovascular. 
APOLIPOPROTEÍNA A-II 
A apolipoproteína A-II (apo A-II) (peso molecular 
17 kDa, como um homodímero) também é 
sintetizada no fígado e, em menores proporções, 
no intestino delgado. Corresponde a 20% da 
lipoproteína HDL. Algumas HDL contêm apo A-I e 
apo A-II, enquanto algumas HDL contêm apenas 
apo A-I. Uma pequena quantidade de apo A-II 
plasmática é associada aos quilomícrons e ao 
VLDL. A apo A-II regula a atividade da 
lipoproteína lipase (LPL) e é um cofator para a 
lecitina-colesterol aciltransferase (LCAT) e para a 
proteína transferidora de ésteres de colesterol 
(CETP). Ela provavelmente desenvolve papel no 
remodelamento da HDL, possivelmente por um 
efeito na reatividade da HDL nas proteínas 
transferidoras de lipídeos, enzimas e receptores, 
incluindo o receptor scavenger B1 
Semelhante à apo A-I, ela aparenta ser 
inversamente relacionada com o risco de doença 
coronária. 
 
APOLIPOPROTEÍNA A-IV (4) 
A Apolipoproteína A-IV (peso molecular 44 
kDa) é sintetizada apenas no intestino delgado. 
É sugerido que ela desempenhe papel no 
transporte intestinal de lipídeos, aumentando o 
tempo de permanência das partículas de 
quilomícrons nascentes, possibilitando grande 
expansão de seus núcleos e, 
consequentemente, sua capacidade de 
transportar triglicerídeos. A maior parte da apo 
A-IV plasmática está em sua forma livre. Uma 
pequena quantidade está associada à HDL e 
aos quilomícrons. 
In vitro, apo A-IV ativa a lecitina-colesterol 
aciltransferase (LCAT), mas não é tão 
efetivamente como a apo A-I. Ela também pode 
ser necessária para a ativação máxima da 
lipoproteína lipase (LPL) pela apo C-II. 
Superexpressão do gene APOA4 em 
camundongos resultou em aumento das 
concentrações plasmáticas dos colesteróis total 
e HDL, bem como de triglicerídeos; apesar 
disso, ela protege contra aterosclerose induzida 
pela dieta. 
Em humanos, a deficiência de apo A-IV tem 
sido reportada em pacientes com deficiência de 
apo A-I e apo C-III, o que pode ser responsável 
pela má absorção vista nos indivíduos afetados 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APOLIPOPROTEÍNA A-V 
O gene APOA5 é expresso no fígado e a 
apolipoproteína A-V, em contraste com outras 
lipoproteínas, está presente em concentrações 
muito baixas no plasma (aproximadamente 5 
nmol/L). É primariamente encontrada na HDL. 
Apo A-V afeta os triglicerídeos plasmáticos 
através de efeito na lipólise das lipoproteínas 
ricas em lipídeo, possivelmente por se ligar a 
lipoproteína, proteoglicanos endoteliais e 
lipoproteína lipase (LPL), estabilizando assim a 
maquinaria lipolítica. 
Variantes genéticas têm sido identificadas em 
humanos, tanto em associação às altas quanto 
às baixas concentrações plasmáticas de 
triglicerídeos. A deficiência leva à atividade 
reduzida da lipoproteína lipase (LPL) e à 
dislipidemia do tipo V. 
Mesmo que as concentrações plasmáticas de 
apo A-V mostrem pequena correlação com a 
concentração de triglicerídeos plasmáticos ou 
com a prevalência de doença cardiovascular, 
estudos genéticos têm demonstrado que 
polimorfismos no gene APOA5 são fortemente 
determinantes para ambas as condições. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APOLIPOPROTEÍNA B 
 
Esta lipoproteína existe sob duas formas: 
apolipoproteína B-100 (apo B-100), sintetizada 
no fígado, que é a proteína estrutural da HDL, 
IDL e LDL; e apo B-48, sintetizada no intestino 
e incorporada aos quilomícrons. Ambas as 
moléculas apo B permanecem com a partícula 
da lipoproteína em que elas são secretadas 
durante toda a vida útil da partícula, 
diferentemente das outras apolipoproteínas, 
que prontamente se transformam em diferentes 
classes de lipoproteínas. O aumento das 
concentrações plasmáticas das lipoproteínas 
que contêm apo B confere maior risco de 
desenvolvimento de ateroma. 
Ambas as formas de apo B são codificadas 
pelo gene APOB; uma alteração pós-
transcricional do RNAm leva à produção 
intestinal de apo B-48. 
APOLIPOPROTEÍNA B-100 
A apolipoproteína B-100 (peso molecular 500 
kDa) é necessária para a montagem e 
secreção da VLDL. Ela contém muitas áreas 
hidrofóbicas que funcionam como domínios 
que se ligam fortemente aos lipídeos. Ela 
também tem muitos domínios que podem 
funcionar como sítios de ligação para 
moléculas semelhantes à heparina e formam 
a base para algumas interações de superfície 
celular das lipoproteínas que contêm a apo B. 
Além disso, a apo B-100 tem um domínio de 
ligação para o receptor de LDL (aminoácidos 
3.100-3.400), que possibilita a captação 
específica da LDL pelo seu receptor. 
 
 
 
 
 
 
APOLIPOPROTEÍNA B-48 
A apoliproteína B-48 é formada por 48% da 
porção aminoterminal da apo B-100 (peso 
molecular 240 kDa). Esta apolipoproteína é 
produzida a partir do gene APOB no intestino 
devido a um processo de edição do RNA 
mensageiro (RNAm). 
O complexo enzimático 1 de edição do RNA 
mensageiro (RNAm) do APOB, a citidina 
deaminase, se liga e interage com a 
molécula de citosina na base 6666 do RNAm 
para formar uma uracila. O complexo 
enzimático de edição é encontrado apenas 
nas células epiteliais intestinais. 
Sua ação resulta na conversão do trio de 
bases CAA da glutamina 2.153 em um códon 
de parada, o UAA. Assim, a síntese proteica 
é precocemente encerrada no aminoácido 
2.152 e, como resultado, a apo B-48 não 
contém o domínio de ligação para o receptor 
de LDLque está presente na apo B-100. 
APOLIPOPROTEÍNA C 
 
Há três apolipoproteínas C são sintetizadasprincipalmente no fígado. No plasma, elas se 
transferem entre lipoproteínas ricas em 
triglicerídeos (quilomícrons, VLDLe suas 
remanescentes) e HDL. 
APOLIPOPROTEÍNA C-I 
A apoliproteína C-I (peso molecular 7 kDa) 
forma o menor componente da VLDL, IDL e 
HDL; ela age como ativadora da lecitina-
colesterol aciltransferase (LCAT). 
APOLIPOPROTEÍNA C-II 
A apolipoproteína C-II (peso molecular 9 kDa) é 
um componente do quilomícron e da VLDL, que 
age como uma ativadora da lipoproteína lipase 
(LPL). Apo C-II é também encontrada em IDLe 
HDL. 
 
 
APOLIPOPROTEÍNA C-III 
A apolipoproteina C-III (peso molecular 9 kDa) 
é sintetizada primeiramente no fígado e, em 
menor quantidade, no intestino. Ela forma o 
principal componente estrutural da VLDL, mas 
também está presente nos quilomícrons e HDL. 
Ela age como um inibidor da lipoproteína lipase 
(LPL), e recentemente foi mostrado que 
funciona como promotora da montagem e da 
secreção hepática de VLDL. Apo C-III também 
inibe a captação hepática dos quilomícrons, 
das partículas remanescentes da VLDL, 
possivelmente por impedir a interação do apo E 
com essas partículas no receptor hepático. 
Elevadas concentrações plasmáticas de apo C-
III são associadas a elevadas concentrações 
plasmáticas de triglicerídeos. 
Mutações nulas têm sido relatadas como 
associadas às baixas concentrações 
plasmáticas de triglicerídeos e LDLe elevadas 
concentrações de HDL. Mas, o gene APOC3 é 
muito próximo do gene APOA1, e ambos estão 
alterados em algumas formas de deficiência da 
apo A1, o que causa reduzidas concentrações 
plasmáticas de HDLe triglicerídeos 
APOLIPOPROTEÍNA D 
 
A apolipoproteína D (peso molecular 33 kDa) 
é uma glicoproteína associada a uma 
lipoproteína, que forma o componente 
secundário da HDL, VLDL, IDL e LDL. Ela 
transporta pequenos ligantes hidrofóbicos, 
incluindo esteróis e colesterol. Apo D é 
associada à atividade aumentada da 
lipoproteína lipase e mutações sem sentido 
causam elevação nos triglicerídeos. As 
concentrações de apo D no hipocampo e no 
fluido cerebroespinhal (CSF) dos pacientes 
com doença de Alzheimer estão elevadas. 
 
 
 
APOLIPOPROTEÍNA E 
 
A apoliporoteína E é uma glicoproteína 
constituída por 299 aminoácidos (peso 
molecular 34 kDa), sintetizada pelo fígado e 
encontrada em todas as classes de 
lipoproteínas, com exceção da LDL. É 
envolvida no controle dos quilomícrons e na 
remoção das VLDL remanescentes da 
circulação. Também apresenta propriedades 
antioxidante e controla o efluxo de colesterol 
das células com a apo A-I. 
E é uma proteína polimórfica: três isoformas 
comuns podem ocorrer, podendo ser 
separadas por focalização isoelétrica, e são 
denominadas apo E2, apo E3 e apo E4. 
A Apo E2 difere da apo E3 por apenas um 
aminoácido: a cisteína é substituída por 
arginina no resíduo 158. 
Apo E4 também difere da apo E3 por apenas 
um único aminoácido: a arginina é substituída 
por cisteína no resíduo 112. 
O fenótipo apo E3/E3 é o mais comum, 
compreendendo 50 a 70% da população, 
enquanto o fenótipo apo E2/E2 é o menos 
comum, ocorrendo em aproximadamente 1% 
da população. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A isoforma apo E3 é associada ao 
metabolismo normal de quilomícrons e VLDL. 
A isoforma E2 não funciona como um ligante 
efetivo para a captação mediada por 
receptores das partículas remanescentes, e 
menos de 2% da apo E3 normal se liga ao 
receptor de LDL. Como resultado, as 
lipoproteínas remanescentes tendem a se 
acumular no plasma de indivíduos 
homozigotos para apo E2/E2. 
A isoforma E4 está mais a elevadas 
concentrações de colesterol LDL do que a 
E3. Os homozigotos para apo E4 também 
apresentam aumento do risco para a doença 
de Alzheimer. 
A síntese de apo E aumenta para auxiliar no 
reparo celular em resposta a lesão ou 
estresse celular. Apo E4 é mais suscetível à 
clivagem proteolítica do que as E2 ou E3. 
Isso resulta no acúmulo de fragmentos 
celulares que causam alterações no 
citoesqueleto e na formação de emaranhados 
neurofibrilares. 
APOLIPOPROTEÍNA M 
A apolipoproteína M (peso molecular 26 kDa) 
cumpre o critério de ser uma apolipoproteína 
e não é observada em sua forma livre no 
plasma, mas sim associada à HDL. 
Semelhante à apo D, é um membro da 
família das proteínas lipocalinas, que contém 
um domínio de ligação para pequenos 
ligantes lipofílicos, e pode, então, 
desempenhar papel no transporte de 
pequenas moléculas lipídicas. 
Mesmo que a apo M seja encontrada 
associada a apenas 5% das partículas de 
HDL, potencializando os efeitos antioxidantes 
da HDL, sua concentração se correlaciona 
positivamente com a concentração de 
colesterol, sugerindo que ela possa 
desempenhar algum papel no metabolismo 
do colesterol. 
 
APOLIPOPROTEÍNA(A) 
 
Esta apolipoproteína (apo(a)) é uma grande 
proteína glicada de tamanho variado (peso 
molecular 200 a 800 kDa). Ela contém 
múltiplas torções em sua cadeia 
polipeptídica, denominadas kringles. Apo(a) é 
um homológo do plasminogênio; ela contém 
uma única cópia do plasminogênio kringle 5, 
múltiplas cópias do plasminogênio kringle 4 e 
um domínio de protease inativo. Kringle 4 
apresenta grande variação no número de 
repetições na molécula apo(a). 
Em uma subpopulação de partículas LDL, a 
apo(a) forma pontes dissulfeto com a apo B-
100 para formar uma classe distinta de 
lipoproteínas denominadas lipoproteína(a) 
(Lp[a]). 
Sua função não é conhecida. Ela tem forte 
homologia com o plasminogênio e pode 
interferir na fibrinólise. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CLASSIFICAÇÃO DAS DISFUNÇÕES 
LIPOPROTEICAS 
 
Fredrickson originalmente sugeriu dividir as 
hiperlipidemias em cinco tipos (I-V) com base 
nas classes de lipoproteínas que contêm a 
apo B que se mostravam aumentadas na 
eletroforese em papel de uma amostra em 
jejum. Isso foi depois modificado pela 
Organização Mundial de Saúde, que 
introduziu a subdivisão do tipo II em dois 
subtipos (tipos IIa e IIb) 
A classificação de Friederickson é limitada 
por ser apenas uma descrição do fenótipo da 
lipoproteína manifestada em um indivíduo e 
apenas cobrir elevações anormais de 
lipoproteínas que contêm a apo B. Ela não 
diferencia as causas primárias das 
secundárias de qualquer fenótipo particular e 
não inclui as deficiências de lipoproteínas que 
contêm a apo B ou disfunções do 
metabolismo de HDL. Então, ficou claro que o 
fenótipo do tipo I podia ser causado por 
qualquer uma das três anormalidades 
herdadas, todas elas que resultam em 
deficiência funcional da lipoproteína lipase. O 
tipo III é causado por um defeito hereditário 
na apo E, causando redução na ligação ao 
receptor de LRP (apo E) no fígado. Os outros 
tipos, (IIa, IIb, IV e V) podem, cada um, ser 
consequência de um ou mais defeitos 
herdados, como também podem refletir 
causas secundárias. 
 
 
 
 
 
 
 
Assim, classificar um indivíduo em uma 
dessas classes de Friedrickson não fornece 
indicação da base genética da disfunção 
lipoproteica manifestada, seu mecanismo, a 
necessidade de investigação familiar ou do 
manejo necessário. É atualmente 
reconhecido que até mesmo os fenótipos dos 
tipos I e III podem ter várias outras causas 
genéticas, tanto em virtude da disfunção de 
um único gene quanto do efeito cumulativo 
de múltiplas variantes genéticas juntamente 
com influências ambientais secundárias. Por 
todas essas razões, essa classificação tem 
sido substituída por uma classificação clínica 
e genética, que relaciona o mecanismo 
molecular subjacente ao fenótipo clínico. 
Os lipídeos podem se depositar em certos 
sítios extravasculares na presença de 
hiperlipidemia significativa. Em certas 
situações, o sítio e a forma desta deposição 
lipídica podem ser característicosde uma 
anormalidade lipídica subjacente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DISLIPOPROTEINEMIAS PRIMÁRIAS 
 
Uma dislipoproteinemia primária é uma 
disfunção herdada do metabolismo das 
lipoproteínas que pode se manifestar como 
hiperlipidemia, hipolipidemia ou 
normolipidemia associada a lipoproteínas de 
composição anormal ou à distribuição 
anormal de classes de lipoproteínas normais. 
HIPOBETALIPOPROTEINEMIA 
 
Que descreve a situação quando o colesterol 
plasmático total, as concentrações de 
colesterol LDL ou apo B são menores que 5° 
centil. Isso pode ser secundário a uma 
disfunção subjacente (p. ex., má absorção de 
gorduras) ou consequência de um defeito 
herdado no metabolismo de lipoproteínas 
(hipobetalipoproteinemia primária). 
Ela engloba três disfunções: 
abetalipoproteinemia, doença de retenção de 
quilomícrons e hipobetalipoproteinemia 
familiar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABETALIPOPROTEINEMIA 
Trata-se de uma condição autossômica 
recessiva bastante rara (primeiramente 
descrita em 1950 por Bassen e Kornzweig) 
Em geral, está presente na infância com 
deficiência de crescimento e diarreia crônica 
devido à má absorção de gorduras. Outros 
achados incluem a acantocitose (causada 
pela composição lipídica anormal na 
membrana do eritrócito) e a retinite 
pigmentosa atípica (como resultado de 
deficiência de vitamina A). As manifestações 
tardias incluem cegueira noturna e 
incapacidade neurológica, particularmente 
ataxia, causada pelas deficiências das 
vitaminas A e E, respectivamente. O primeiro 
objetivo do tratamento nesses indivíduos é 
garantir que a ingestão de vitaminas 
lipossolúveis seja suficiente, o que pode 
exigir administração parenteral. 
Existe uma ausência plasmática completa de 
todas as lipoproteínas que contêm a apo B e 
também da apo B circulante, enquanto as 
concentrações de HDL e apo A-I 
correspondem a 50% do normal. A 
concentração plasmática de colesterol é 
baixa (em geral, 0,5 a 1,5 milimol por litro) e a 
concentração plasmática de triglicerídeos é 
muito baixa (maior que 0,2 milimol por litro). 
Ao microscópio, gotículas lipídicas podem ser 
vistas em acúmulos intracelulares nos 
hepatócitos e enterócitos, sugerindo um 
defeito na montagem de lipoproteínas que 
contêm a apo B. A causa é atualmente 
reconhecida como mutações com perda de 
função no gene MTP. Na presença de MTP 
defeituosa, as lipoproteínas que contêm a 
apo B não são formadas. A má absorção de 
gorduras e de vitaminas lipossolúveis é 
resultado da falha na formação de 
quilomícrons. 
 
 
DOENÇA DE RETENÇÃO DE 
QUILOMÍCRONS 
A herança da doença de retenção de 
quilomícrons é provavelmente autossômica 
recessiva. Ela é caracterizada pela ausência 
de apo B-48 no plasma e pela perda da 
resposta lipêmica pós-prandial. Os indivíduos 
afetados também apresentam baixas 
concentrações de LDL, HDL e vitaminas 
lipossolúveis e suas LDL são ricas em 
triglicerídeos. Eles apresentam má absorção 
e esteatorreia e, sem suplementação de 
vitaminas lipossolúveis, desenvolvem 
disfunção neurológica. 
Os enterócitos de indivíduos afetados contêm 
gotículas de gordura e a apo B-48 é 
observada nos enterócitos por imunoquímica. 
A doença de retenção de quilomícrons é 
causada por mutações no gene SARA2. O 
produto proteico deste gene é o sar1b, que 
está envolvido no transporte de quilomícrons 
através da via secretória do enterócito 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
HIPOBETALIPOPROTEINEMIA 
FAMILIAR 
A hipobetalipoproteinemia familiar (FHBL) é 
uma disfunção autossômica codominante que 
resulta de mutações no gene APOB que gera 
códons de parada prematuros e consequente 
truncação da apo B. Essas formas truncadas 
têm capacidade reduzida de se ligar aos 
lipídeos, o que resulta na secreção de 
partículas de lipoproteínas pequenas, densas e 
relativamente pobre em lipídeos. 
As partículas de lipoproteínas que contêm 
grandes formas truncadas (apo B-89 e apo B-
75) caem na fração VLDL quando secretadas, 
enquanto aquelas que contêm as menores 
formas (apo B-29) caem na fração HDL. 
Há um limiar no tamanho da apo B sob o qual 
está não forma uma lipoproteína; este limiar 
está entre a apo B-28 e a apo B-29. As 
mutações que produzem formas truncadas de 
apo B maiores que a apo B-48 são associadas 
à produção de quilomícrons normais. Formas 
de apolipoproteína B menores que a B-67 são 
incorporadas na VLDL na forma normal, mas 
não são capazes de interagir com os 
receptores de LDL. 
Indivíduos heterozigotos para a 
hipobetalipoproteinemia familiar (FHBL) 
associados às formas truncadas de apo Bs são 
muitas vezes assintomáticos, mas uma 
pequena proporção apresenta fezes 
amolecidas. Espera-se que a concentração 
plasmática de colesterol LDL nos heterozigotos 
esteja em torno de 50% dos membros de 
famílias que não são afetados, mas 
concentrações em cerca de um terço do normal 
são observadas na realidade, possivelmente 
devido à reduzida secreção hepática ou ao 
aumento da regulação dos receptores de LDL 
que resultam no aumento da depuração. 
Alta incidência de doença do fígado gorduroso 
não alcoólica é reportada nos heterozigotos 
para a hipobetalipoproteinemia familiar (FHBL). 
A homozigose para a hipobetalipoproteinemia 
familiar (FHBL) se assemelha clinicamente à 
abetalipoproteinemia. 
HIPERLIPIDEMIA FAMILIAR 
COMBINADA 
 
Esta condição é a disfunção lipídica mais 
comum em indivíduos que apresentam 
doença cardíaca isquêmica. É herdada como 
um traço autossômico dominante, mas 
geralmente não se manifesta até a idade 
adulta. 
Os achados típicos são concentração 
plasmática elevada de apo B-100 e aumento 
das concentrações plasmáticas de LDL 
(colesterol total alto), VLDL (triglicerídeos 
alto) ou ambas. Diferentes indivíduos em 
parentesco podem apresentar qualquer um 
desses fenótipos e, em um único indivíduo, o 
padrão fenotípico pode se alterar ao longo do 
tempo. 
A concentração plasmática de colesterol HDL 
costuma ser baixa; isso provavelmente é 
resultado do aumento da transferência de 
ésteres de colesterol da HDL para as 
lipoproteínas ricas em triglicerídeos. 
As partículas de LDL elas tendem a ser 
menores e mais densas que o usual; assim 
indivíduos com hiperlipidemia familiar 
combinada (HFC) apresentam um “perfil 
lipídico aterogênico”, compreendendo 
elevadas concentrações plasmáticas de 
triglicerídeos e reduzidas concentrações de 
colesterol HDL, além de partículas LDL 
pequenas e densas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
A superprodução de apo B-100 ocorre na 
hiperlipidemia familiar combinada (HFC), 
tanto que indivíduos afetados apresentam 
elevadas concentrações plasmáticas de apo 
B mesmo quando suas concentrações 
lipídicas estão normais. 
O desenvolvimento da hiperlipidemia 
depende do aumento da disponibilidade de 
triglicerídeos hepáticos; isso explica a 
observação de que indivíduos afetados são 
frequentemente obesos e podem apresentar 
outros sinais de síndrome metabólica. 
O fenótipo expresso é reflexo da eficiência 
pela qual a VLDL é processada nos 
indivíduos afetados. Assim, indivíduos com 
um gene com a lipoproteína lipase (LPL) 
anormal (pais de crianças com deficiência de 
LPL) podem aparentar ter hiperlipidemia 
familiar combinada (HFC) em razão da 
resultante depuração diminuída de VLDL. 
Estudos genéticos têm sugerido uma ligação 
entre a hiperlipidemia familiar combinada 
(HFC) e o gene do fator de transcrição 
upstream 1 (USF1). Tal fator de transcrição é 
responsável pelo aumento na regulação da 
transcrição de uma variedade de genes 
envolvidos no metabolismo da glicose e dos 
lipídeos, incluindo aqueles que codificam a 
apo A-V.HIPERTRIGLICERIDEMIA FAMILIAR 
 
Algumas famílias apresentam herança 
Mendeliana de hipertrigliceridemia. Em muitos 
casos, isso reflete em aumento da VLDL, que 
eleva moderadamente a concentração de 
triglicerídeos (4 a 10 milimol por litro). Em 
alguns casos, existe uma hiperlipidemia mais 
severa (maior que 10 milimol por litro) e 
quilomicronemia de jejum. 
A hipertrigliceridemia severa é tipicamente 
autossômica recessiva e, em adição aos 
defeitos na lipoproteína lipase (LPL) e na apo 
C-II (que são amplamente reconhecidos como 
causas da hiperlipidemia do tipo I [síndrome de 
quilomicronemia]) 
A síndrome de quilomicronemia, causada por 
mutações com perda de função autossômica 
recessiva em genes isolados, costuma se 
manifestar na infância, enquanto outras causas 
de hipertrigliceridemia familiar raramente se 
manifestam antes da idade adulta. 
Os fatores ambientais que interagem com 
essas variantes genéticas para produzir 
hipertrigliceridemia de jejum de moderada a 
severa são os mesmos daqueles que causam a 
hiperlipidemia secundária; como, diabetes, 
resistência à insulina ou consumo excessivo de 
álcool. 
Na hipertrigliceridemia familiar, as partículas de 
VLDL são maiores que o normal, além de 
relativamente deficientes em apo B, o que 
sugere que um fator importante seja a 
superprodução de triglicerídeos pelo fígado. 
É atualmente reconhecido que mutações com 
perda de função nos genes APOA5, LMF1 e 
GPIHBP1 podem produzir fenótipo similar, 
geralmente herdados de maneira autossômica 
recessiva. Em contraste, o efeito cumulativo de 
múltiplos polimorfismos nos genes lipoproteína 
lipase (LPL), APOA5, GCKR e APOB interage 
com fatores ambientais para produzir 
hipertrigliceridemia mais moderada e uma 
variedade de fenótipos de lipoproteínas. Estes 
incluem IIb, IV, V e, algumas vezes, o tipo III. 
A última causa o fenótipo I de Friedrickson, 
enquanto a hipertrigliceridemia menos severa 
geralmente causa os padrões dos tipos IIb, IV 
ou V. 
Em pacientes com concentrações plasmáticas 
de triglicerídeos maior que 10 milimol por litro 
no jejum, existe um risco de pancreatite aguda 
e a redução deste é a prioridade do tratamento, 
antes de acessar o risco cardiovascular 
residual. Fibratos ou ácidos graxos ómega-3, 
em combinação com dieta de baixa gordura e 
prevenção do consumo excessivo de álcool, 
costumam ser efetivos. Troca de plasma e 
infusão intravenosa de insulina (para aumentar 
a atividade da lipoproteína lipase) devem ser 
usados em casos severos, mesmo que seja 
limitada a evidência da efetividade para seu 
uso a longo prazo. 
SÍNDROME QUILOMICRONEMIA 
A síndrome quilomicronemia se manifesta 
como um xantoma erosivo, lipemia na retina, 
hepatoesplenomegalia e ataques recorrentes 
de dor abdominal que podem ser sintomas de 
pancreatite aguda. As concentrações de 
triglicerídeos plasmáticos estão marcadamente 
aumentadas (maior que 10 milimol por litro), as 
concentrações de colesterol HDL estão muito 
baixas e os quilomícrons estão presentes em 
jejum. 
Três causas hereditárias desta condição têm 
sido descritas: deficiência de lipoproteína 
lipase, deficiência de apo C-II e inibidor da 
lipoproteína lipase familiar. Causas 
secundárias, incluindo o consumo excessivo de 
álcool e diabetes tipo 1 recém-diagnosticado, 
podem produzir um fenótipo muito similar nos 
indivíduos geneticamente predispostos. 
 
DEFICIÊNCIA NA LIPOPROTEÍNA 
LIPASE 
Esta é uma condição autossômica recessiva 
rara. A apresentação costuma ser na 
infância, com dor abdominal recorrente. Os 
indivíduos afetados podem apresentar 
concentrações plasmáticas de lipoproteína 
lipase (LPL) imunorreativa pós-heparina 
baixas, normais ou aumentadas, mas sua 
atividade catalítica é indetectável. 
Heterozigotos obrigatórios para a deficiência 
de lipoproteína lipase (LPL) têm demonstrado 
baixa atividade plasmática de lipoproteína 
lipase (LPL); alguns podem desenvolver 
hipertrigliceridemia severa e um pequeno 
número, pancreatite. 
Terapias de reposição gênica para as formas 
mais severas desta condição estão em 
ensaios clínicos. 
DEFICIÊNCIA DE APO C-II 
A homozigose para a deficiência de apo C-II 
tende a se apresentar mais tardiamente e ser 
um pouco mais leve que a deficiência de 
lipoproteína lipase (LPL). A apo C-II é 
detectável em cerca de 50% dos indivíduos 
com deficiência de apo C-II, mas a proteína 
produzida é incapaz de ativar a lipoproteína 
lipase (LPL). 
É possível que as concentrações de 
lipoproteínas ricas em triglicerídeos possam 
alcançar níveis nos quais a lipoproteína lipase 
(LPL) possa hidrolisá-las mesmo na ausência 
de apo C-II: isso pode responder pela 
manifestação mais leve da doença quando 
comparada com aquela vista na deficiência 
primária desta enzima. 
Parentes que são heterozigotos obrigatórios 
para o gene anormal geralmente apresentam 
concentrações normais de lipídeos e 
lipoproteínas. Isso implica que redução de até 
50% na concentração de apo C-II não 
compromete a taxa de depuração de 
quilomícrons e VLDL. 
INIBIDOR DE LIPOPROTEÍNA LIPASE 
FAMILIAR 
Famílias têm sido descritas cujos membros 
afetados tenham quilomicronemia 
aparentemente causada por um inibidor de 
lipoproteína lipase (LPL). O defeito parece ser 
herdado de maneira autossômica dominante. 
O inibidor não foi identificado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
HIPERLIPOPROTEINEMIA 
REMANESCENTE 
 
Sua principal característica é o enriquecimento 
da fração VLDL com colesterol, refletindo um 
acúmulo de partículas remanescentes, tanto 
quilomícrons remanescentes como 
lipoproteínas de densidade intermediária. 
Esses remanescentes são responsáveis pelo 
padrão eletroforético anormal. 
A hiperlipidemia remanescente é também por 
vezes referida como disbetalipoproteinemia. 
Os indivíduos com este transtorno apresentam 
hiperlipidemia mista, muitas vezes com 
equivalentes concentrações plasmáticas de 
colesterol e triglicerídeos. 
O defeito predominante encontrado na maioria 
dos indivíduos com a condição é a presença de 
apo E2, que exibe herança recessiva. 
Enquanto a homozigose para a apo E2 é 
essencial para o acúmulo de partículas 
remanescentes, esta não é suficiente para a 
manifestação da doença. Um fator genético ou 
ambiental imposto é necessário antes da 
hiperlipidemia remanescente manifestar-se, 
como a herança concomitante de outra 
hiperlipidemia primária ou, mais 
frequentemente, um fator secundário como 
obesidade, consumo excessivo de álcool, 
diabetes ou hipotireoidismo. 
A hiperlipoproteinemia remanescente 
raramente se apresenta antes da idade adulta. 
Ela está associada a xantomas característicos, 
que ocorrem nas dobras palmares e são 
praticamente patognomônicos, e xantomas 
tuberosos ou tuberoeruptivos sobre as 
superfícies extensoras dos cotovelos e joelhos. 
Há aumento do risco de aterosclerose 
prematura envolvendo o sistema vascular 
periférico, como tbm as artérias coronárias. 
 
 
Os 10% de indivíduos com hiperlipoproteinemia 
remanescente (HR) que não mostram 
homozigose para apo E2/2 têm uma variedade 
de defeitos moleculares, incluindo mutações 
pontuais que resultam em substituições de 
aminoácidos nos resíduos 142, 145 ou 146, ou 
a variante de inserção, apo E-Leiden; alguns 
carecem totalmente de apo E 
 
 
 
 
 
 
HIPERCOLESTEROLEMIA FAMILIAR 
 
Este termo abrange um grupo de doenças 
causadas devido a mutações que acarretam 
em depuração reduzida de LDL pelo receptor 
de LDL, resultando em marcada 
hipercolesterolemia e aterosclerose 
prematura. 
A hipercolesterolemia familiar “clássica” (HF) 
é decorrente de mutações no gene LDLR. 
Mutações autossômicas dominantes são 
agora reconhecidas em três genes que 
causam as condições denominadas 
coletivamente de hipercolesterolemia 
autossômica dominante (ADH), a qualinclui a 
hipercolesterolemia familiar clássica (HF). 
Outro locus do gene foi recentemente 
associado ao fenótipo clínico, mas o gene 
causal ainda não foi identificado. Uma 
condição autossômica recessiva rara também 
foi descrita com um fenótipo clínico e 
bioquímico semelhante. 
As quatro doenças claramente definidas que 
resultam em hipercolesterolemia familiar 
clássica (HF) são as seguintes: 
→ hipercolesterolemia familiar clássica (HF) 
clássica – ADH 1 
→Apolipoproteína B-100 defeituosa familiar – 
ADH 2 
→Mutação com ganho de função na PCSK9 
– ADH 3 
→Mutação com perda de função na 
LDLRAP1 – hipercolesterolemia autossômica 
recessiva. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
HIPERCOLESTEROLEMIA FAMILIAR 
CLÁSSICA (HF) 
Esta é a mais grave das hiperlipidemias no 
que diz respeito à propensão dos indivíduos 
afetados e não tratados para desenvolver 
aterosclerose. Ela se manifesta no 
heterozigoto como hipercolesterolemia 
marcada, devido à alta concentração de 
colesterol LDL e à doença cardiovascular 
prematura. 
Xantomas tendinosos nos tendões 
extensores dos dedos e nos tendões de 
Aquiles ocorrem em aproximadamente 70% 
dos heterozigotos não tratados e sua 
presença nos indivíduos afetados ou 
parentes de primeiro grau auxilia no 
diagnóstico clínico. 
Com base na frequência do estado 
heterozigoto, o homozigoto para a 
hipercolesterolemia familiar clássica (HF) 
teria incidência esperada de 1 em um milhão. 
A maior parte dos indivíduos aparentemente 
homozigotos para a hipercolesterolemia 
familiar clássica (HF) consiste, na verdade, 
em heterozigotos combinados. A 
hipercolesterolemia é muito mais grave em 
indivíduos com mutações nos dois genes; 
xantomas cutâneos ocorrem com frequência 
na infância e a doença arterial coronariana 
pode se apresentar durante a primeira 
década de vida. 
A hipercolesterolemia familiar clássica (HF) 
clássica, que corresponde em 80% a 90% 
dos doentes com hipercolesterolemia familiar, 
se deve a mutações no gene do receptor de 
LDL. Cerca de 20 mutações comuns são 
responsáveis por 50% dos casos; só que, 
mais de 1.200 mutações já foram descritas, 
incluindo uma variedade de mutações 
intrônicas patogênicas. 
 
 
In vitro, demonstrou-se que as células de 
heterozigotos para a hipercolesterolemia 
familiar clássica (HF) têm cerca de metade do 
número de receptores funcionais de LDL do 
que as células de indivíduos normais. O 
efeito dessa deficiência de receptores 
funcionais de LDL funcionais é que a 
concentração plasmática de colesterol LDL 
está aumentada em aproximadamente duas 
vezes o nível normal, devido a uma 
combinação de redução da captação de LDL 
e sua superprodução. A superprodução de 
LDL é resultado de um defeito na captação 
hepática de IDL pelo receptor de LDL; então, 
a conversão extracelular de IDL em LDL está 
aumentada. A síntese hepática de colesterol 
é também regulada positivamente por causa 
da redução da captação de colesterol 
mediada pelo LDLR. 
 
 
 
APOLIPOPROTEÍNA B-100 DEFEITUOSA 
FAMILIAR (FDB) 
Esta é uma disfunção autossômica 
codominante que resulta de uma anormalidade 
no domínio de ligação da apo B-100 ao LDLR. 
A apolipoproteína B-100 defeituosa familiar 
(FDB) é fenotipicamente muito semelhante à 
hipercolesterolemia familiar clássica (HF) ; 
indivíduos afetados têm elevadas 
concentrações plasmáticas de colesterol total e 
LDL, mas a hipercolesterolemia costuma ser 
menos grave e os xantomas tendinosos são 
menos comuns. 
A maioria dos casos se deve a mutações no 
códon para o aminoácido 3.500 no gene APOB, 
em que substituições de arginina por glutamina 
e arginina por triptofano foram descritas. Foi 
mostrado que a substituição de arginina por 
glutamina altera a conformação da região C 
terminal, o que resulta na ligação reduzida ao 
LDLR. Foram descritas outras mutações com 
efeitos menos severos sobre a capacidade da 
apo B de se ligar aos receptores de LDL. 
MUTAÇÕES COM GANHO DE FUNÇÃO 
NA PCSK9 
Esta variante da hipercolesterolemia familiar 
clássica (HF) foi caracterizada através do 
estudo de famílias que eram fenotipicamente 
semelhantes à hipercolesterolemia familiar 
clássica (HF) clássica e apolipoproteína B-100 
defeituosa familiar (FDB). 
Ela demonstrou ser causada por mutações de 
ganho de função no gene que codifica para 
pró-proteína convertase subtilisina/kexina tipo 9 
(PCSK9). Essas mutações aumentam a taxa 
pela qual a PCSK9 degrada os receptores de 
LDL, resultando em expressão reduzida desses 
receptores na superfície da célula. Tais 
mutações estão associadas a um fenótipo 
clínico mais grave, com indivíduos afetados 
apresentando elevadas concentrações 
plasmáticas de colesterol LDLe doença 
vascular mais agressiva que as observadas na 
hipercolesterolemia familiar clássica (HF) 
clássica. 
HIPERCOLESTEROLEMIA 
AUTOSSÔMICA RECESSIVA 
Pacientes com hipercolesterolemia 
autossômica recessiva (ARH) 
fenotipicamente se assemelham aos 
homozigotos da hipercolesterolemia familiar 
clássica (HF) clássica. 
Eles apresentam xantomas grandes 
(tendinosos, tuberosos, planares) que se 
apresentam na infância e desenvolvem 
aterosclerose prematura, particularmente das 
artérias coronárias e carótidas. Eles também 
desenvolvem estenose aórtica. As 
concentrações plasmáticas de colesterol LDL 
são geralmente mais elevadas que aquelas 
encontradas na hipercolesterolemia familiar 
clássica (HF), mas não tão elevadas como as 
observadas em indivíduos homozigotos para 
a hipercolesterolemia familiar clássica (HF). 
A hipercolesterolemia autossômica recessiva 
resulta de uma mutação no gene LDLRAP1. 
A proteína LDLRAP1 regula a endocitose 
mediada por receptores de LDL depois que a 
LDL se liga ao receptor e este processo é 
defeituoso na hipercolesterolemia 
autossômica recessiva (ARH). 
Heterozigotos obrigatórios para 
hipercolesterolemia autossômica recessiva 
(ARH) que carregam uma única mutação 
patogênica no gene LDLRAP1 apresentam 
concentrações plasmáticas normais de 
colesterol LDL. 
 
 
 
 
 
 
 
 
HIPERCOLESTEROLEMIA PATOGÊNICA 
 
A hipercolesterolemia é mais comum nas 
sociedades ocidentais do que seria esperado, 
devido à frequência das perturbações 
monogênicas individuais discutidas 
anteriormente. O restante dos indivíduos com 
hipercolesterolemia primária é, então, referido 
como portador de hipercolesterolemia 
poligênica. O termo “poligênica” é usado 
porque a base genética dos indivíduos afeta 
a extensão pela qual o metabolismo de 
lipoproteínas será influenciado por fatores 
ambientais. 
Os distúrbios monogênicos estão associados 
ao mesmo aumento do risco de aterosclerose 
em diferentes populações. Mas, a frequência 
com que a hipercolesterolemia poligênica 
ocorre em diferentes populações varia 
amplamente, assim como a incidência da 
doença da artéria coronária. As populações 
com uma elevada concentração plasmática 
média de colesterol têm alta taxa de doença 
coronariana. Acredita-se que a diferença 
entre as populações na frequência de 
hipercolesterolemia reflete um ou mais 
fatores ambientais, o mais óbvio sendo a 
dieta e, em particular, o teor de gordura 
saturada na dieta. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A frequência com que a hipercolesterolemia 
poligênica é diagnosticada em uma 
população depende do valor tomado como o 
ponto de corte superior para um colesterol 
“normal”. Caso haja utilização de 5 milimol 
por litro, cerca de 50% da maioria das 
populações adultas será classificada como 
hipercolesterolêmicas, levando em conta que 
a concentração média de colesterol na 
população é, em geral, 5,5 a 6,0 milimol por 
litro em muitos países ocidentais. Neste nível, 
o risco de doença cardiovascular já é o dobro 
do de uma população com valor médio de 
colesterol menorque 4,0 milimol por litro; por 
isso, uma definição estatística de “normal” 
com base nos valores da população é inútil. 
Laboratórios costumam se referir a metas de 
colesterol “ideais”. No Reino Unido, essas 
metas são atualmente de colesterol total 
menor que 4,0 milimol por litro e de colesterol 
LDL menor que 2,0 milimol por litro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
HIPOALFALIPOPROTEINEMIA 
 
A hipoalfalipoproteinemia consiste em 
disfunções da síntese e secreção de 
lipoproteínas que contêm apo A. Com a 
exceção da apo AI Milano, todas as outras 
causas genéticas de hipoalfalipoproteinemia 
familiar estão associadas a certo grau de 
aumento do risco cardiovascular. 
ESTRUTURA ANORMAL DA 
APOLIPOPROTEÍNA A 
A apo A-I Milano, está associada à baixa 
concentração de HDL (HDL2), mas sem 
nenhum aumento na incidência de 
aterosclerose. A apolipoproteína A-I Milano 
resulta da substituição de cisteína por 
arginina na posição 173, que tem o efeito de 
alterar a propriedade física de uma das 
regiões helicoidais anfipáticas envolvidas na 
ligação dos lipídeos e que também possibilita 
as ligações dissulfeto com outras proteínas. 
Além disso, a atividade da lecitina-colesterol 
aciltransferase (LCAT) está reduzida. 
Dímeros de apo A- II e a apo E foram 
observados. 
O rastreamento populacional da variação 
estrutural na apo A-I revelou pelo menos 11 
variantes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DEFICIÊNCIA DE APO A-I 
Pelo menos três tipos de deficiência de apo 
A-I foram descritos, todos associados à 
opacificação da córnea e doença cardíaca 
coronária prematura. Heterozigotos têm 50% 
das concentrações normais de HDL. A HDL é 
praticamente indetectável em homozigotos. 
Em um tipo existe apenas a deficiência de 
apo A-I, outro apresenta deficiência de apo 
C-III e tem baixas concentrações plasmáticas 
de triglicerídeos. 
O gene APOC3 está localizado 3’ ao gene 
APOA1, mas na orientação oposta. Esses 
dois genes são geralmente transcritos de 
forma convergente a partir de cadeias 
opostas de DNA. Em pacientes com 
deficiência combinada de apo A-I e de apo C-
III, uma inversão de 5,5 kilobyte contendo 
partes dos genes APOA1 e APOC3 foi 
identificada. Em uma terceira forma, há 
deficiência de apo A-I, apo C-II e também de 
apo-IV. Estes podem apresentar má 
absorção de gorduras devido à deficiência de 
apo A-IV. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DISFUNÇÕES DO METABOLISMO DE HDL 
 
DOENÇA DE TANGIER 
A doença de Tangier é uma condição 
autossômica recessiva rara, caracterizada por 
armazenamento de ésteres de colesterol nos 
macrófagos. 
Esta é responsável pela aparência laranja das 
amígdalas. 
A esplenomegalia também ocorre e está muitas 
vezes acompanhada por ligeira 
trombocitopenia e reticulocitose, mas 
hepatomegalia e linfadenopatia são 
características menos constantes. Opacificação 
da córnea pode ocorrer e muitos indivíduos 
afetados apresentam alguma disfunção 
neurológica. 
As concentrações plasmáticas de colesterol 
total são baixas (em geral, menor que 3 milimol 
por litro), mas, ao contrário dos estados de 
deficiência da apo B, as concentrações 
plasmáticas de triglicerídeos são normais ou 
aumentadas. Praticamente nenhum colesterol 
HDL está presente ( menor que 0,1 milimol por 
litro) e apenas partículas de pré-β1 HDL são 
detectáveis no plasma. As concentrações de 
apo A-I e apo A-II são em torno de 1 a 3% e 
5%, dos valores encontrados em indivíduos 
normais. Um aumento da pró-apo A-I pode ser 
demonstrado por focalização isoelétrica, mas o 
rápido catabolismo da pró-apo A-I resulta em 
conversão reduzida para sua forma madura e, 
consequentemente, em baixas concentrações 
plasmáticas de apo A-I. 
Mesmo que pareça que os pacientes com a 
doença de Tangier estão sob maior risco 
cardíaco, o nível de risco varia entre as famílias 
afetadas e não é tão elevado como previsto a 
partir de estudos epidemiológicos com base 
nas suas concentrações plasmáticas de 
colesterol HDL. Isso pode estar relacionado 
com baixas concentrações de colesterol LDL, 
mas trombocitopenia e relativa hiporreatividade 
das plaquetas também podem ser fatores 
importantes. 
A doença de Tangier é causada pela perda de 
função da proteína reguladora do efluxo de 
colesterol, ABCA1, resultado de mutações no 
gene ABCA1. 
Homozigotos para mutações neste gene 
apresentam maior risco de doença coronariana 
em comparação com os indivíduos não 
afetados. Os indivíduos heterozigotos têm risco 
intermediário. 
DEFICIÊNCIA FAMILIAR DE LECITINA-
COLESTEROL ACILTRANSFERASE 
A deficiência familiar da lecitina-colesterol 
aciltransferase (LCAT) é uma condição 
autossômica recessiva. O gene de lecitina-
colesterol aciltransferase (LCAT) está 
localizado no cromossomo 16: mutações neste 
gene em associação à ausência de atividade 
de lecitina-colesterol aciltransferase (LCAT) 
resultam em deficiência familiar da lecitina-
colesterol aciltransferase (LCAT). 
As características clínicas desta doença 
incluem opacidades corneanas, anemia 
hemolítica, proteinúria, elevadas concentrações 
plasmáticas de triglicerídeos e baixas 
concentrações de colesterol HDL. Apesar das 
baixas concentrações de colesterol HDL, a 
aterosclerose prematura é raramente vista. 
Portadores heterozigotos não apresentam 
características clínicas, mas têm concentrações 
de colesterol HDLde cerca de 50% do normal. 
A deficiência de lecitina-colesterol 
aciltransferase resulta na incapacidade de 
esterificação do colesterol livre no plasma e, 
então, no acúmulo de colesterol livre em todas 
as frações de lipoproteínas. Partículas de 
lipoproteínas podem também ser de tamanho 
ou formato anormais, como também em sua 
composição; assim, as partículas de HDL são 
ou em formato de disco ou de partículas 
esféricas muito pequenas, semelhantes à 
HDLrecém-secretada. A lipoproteína X é 
detectável na eletroforese. 
 
 
DOENÇA DO OLHO DE PEIXE 
A doença do olho de peixe é autossômica 
recessiva, resultante de mutações no gene 
lecitina-colesterol aciltransferase (LCAT). Em 
contraste com a deficiência familiar da 
lecitina-colesterol aciltransferase (LCAT), há 
atividade de lecitina-colesterol aciltransferase 
(LCAT) detectável. A opacidade da córnea 
que dá aos olhos a aparência de olhos de 
peixes mortos foi descrita em associação a 
baixas concentrações de colesterol HDL 
(aproximadamente 10% do normal). A LDL é 
enriquecida em triglicerídeos; a concentração 
de VLDL está aumentada, mas sua 
composição é normal. 
DEFICIÊNCIA DE LIPASE DE 
TRIGLICERÍDEOS HEPÁTICA 
Vários casos familiares de deficiência HL 
foram relatados e a herança parece ser 
autossômica recessiva, com heterozigotos 
mostrando um fenótipo intermediário. Os 
homozigotos têm grave hipertrigliceridemia, 
hipercolesterolemia e aumento nas 
concentrações de IDL, produzindo um 
fenótipo similar ao de hiperlipidemia do tipo III 
ou remanescente. A deficiência de HL é 
diagnosticada pela ausência de atividade de 
HL pós-heparina. A apolipoproteína A-I e a as 
concentrações de colesterol HDL estão 
ligeiramente elevadas, com partículas de 
HDL sendo anormalmente HDL2 ricas em 
triglicerídeos. A doença vascular prematura 
tem sido relatada na deficiência de HL, 
embora o papel exato da HL no 
desenvolvimento de aterosclerose 
permaneça incerto, assim como maior 
atividade da HL (p. ex., secundária ao uso de 
esteroides anabolizantes) pode também 
resultar em aumento da doença vascular. 
 
 
 
 
DEFICIÊNCIA DA PROTEÍNA DE 
TRANSFERÊNCIA DE COLESTEROL 
ESTERIFICADO 
Várias mutações do gene proteína transferidora 
de ésteres de colesterol (CETP) que causam 
deficiência de proteína transferidora de ésteres 
de colesterol (CETP) têm sido descritas. 
Indivíduos homozigotos deficientes de proteína 
transferidora de ésteres de colesterol (CETP) 
apresentam altas concentraçõesplasmáticas de 
colesterol HDL, apo A-I, apo A-II e apo E. 
As concentrações plasmáticas de colesterol HDL 
são geralmente maior que 3 milimol por litro em 
indivíduos homozigotos que têm completa 
ausência da atividade da proteína transferidora 
de ésteres de colesterol (CETP), valores entre 2 
a 2,5 milimol por litro são geralmente vistos em 
heterozigotos. Estes sujeitos também 
apresentam redução em cerca de 40% nos níveis 
de colesterol LDL e apo B. 
A deficiência na proteína de transferência de 
colesterol esterificado é relativamente comum no 
Japão, onde é responsável por cerca de metade 
de todos os casos de hiperalfalipoproteinemia, 
mas é rara em caucasianos. 
Há evidências de que, quando associada à alta 
concentração de HDL no plasma, a deficiência de 
proteína transferidora de ésteres de colesterol 
(CETP) protege contra o desenvolvimento de 
ateroma. Com base nisso, fármacos que inibem a 
proteína transferidora de ésteres de colesterol 
(CETP) têm sido desenvolvidos: estes produzem 
aumento nas concentrações plasmáticas de 
colesterol HDL em mais de 100% e queda nas 
concentrações de colesterol LDL em cerca de 
40%. Em razão da complexa relação entre a 
atividade da proteína transferidora de ésteres de 
colesterol (CETP), concentrações de HDL e a 
aterosclerose, o efeito desses agentes sobre os 
desfechos cardiovasculares terá de ser testado 
em ensaios clínicos antes de esclarecer se a 
inibição da proteína transferidora de ésteres de 
colesterol (CETP) tem valor terapêutico. 
 
 
 
HIPERLIPIDEMIAS ADQUIRIDAS 
 
A hiperlipidemia adquirida, ou secundária, é 
causada por alterações no metabolismo das 
lipoproteínas, resultantes de outro estado de 
doença ou de terapia medicamentosa. 
O tratamento da doença subjacente ou a 
interrupção do uso da substância causadora 
pode corrigir a hiperlipidemia. Mas, em alguns 
casos, como a doença renal crônica ou diabetes, 
em que o metabolismo permanece perturbado 
apesar do tratamento, a hiperlipidemia pode 
persistir. Nessas condições, o risco vascular 
aumentado é uma função de alterações tanto 
qualitativas como quantitativas nas lipoproteínas 
plasmáticas. Em particular, há uma forma de LDL 
pequena e densa que é mais facilmente oxidada 
e, consequentemente, mais aterogênica. Então, o 
risco cardiovascular continua a ser superior ao 
predito a partir das medições isoladas de 
colesterol e de triglicerídeos. 
Xantomas podem ocorrer na hiperlipidemia 
adquirida assim como nos distúrbios lipídicos 
primárias, com o mesmo padrão de 
anormalidades lipídicas: então, xantomas 
erosivos ocorrem na síndrome de 
quilomicronemia, independentemente de qual 
seja a sua etiologia. A deposição cutânea de 
lipídeos corados pode ocorrer na presença de 
lipoproteínas anormais, como lipoproteína X na 
colestase ou onde imunoglobulinas monoclonais 
ligam-se a lipoproteínas ou aos seus receptores e 
interferem no metabolismo lipídico, assim como 
pode ocorrer na gamopatia monoclonal de 
significância indeterminada (GMSI) e no mieloma 
múltiplo. 
 
 
 
 
 
 
 
DIABETES MELITO 
 
O diabetes mal controlado dá origem à 
hipertrigliceridemia. Em ambos os tipos de 
diabetes, há deficiência de insulina, tanto em 
termos absolutos no diabetes tipo 1 quanto em 
termos relativos no diabetes tipo 2. A insulina 
ativa a lipoproteína lipase e, então, melhora a 
depuração das lipoproteínas ricas em 
triglicerídeos, mas tem o efeito oposto sobre a 
HSL do tecido adiposo. Assim, na deficiência de 
insulina, há, além de redução da depuração, 
aumento do influxo dos ácidos graxos livres para 
o fígado, conduzindo ao aumento da síntese 
hepática de triglicerídeos. 
No diabetes controlado, embora as 
concentrações plasmáticas totais de colesterol e 
triglicerídeos possam ser normais, há, muitas 
vezes, uma importante dislipidemia, chamada de 
“fenótipo aterogênico de lipoproteína”. 
A concentração plasmática de colesterol HDL 
costuma ser baixa (menor que 1,1 milimol por 
litro) e a de triglicerídeos é elevada (maior que 
1,7 milimol por litro). Este padrão é indicativo da 
presença de partículas pequenas e densas de 
LDL, que são mais suscetíveis à oxidação e mais 
aterogênicas. Foi demonstrado que as 
apolipoproteínas AI, A-II, B, CI e E tornam-se 
glicadas em pacientes com diabetes: é possível 
que a glicação afete a captação normal de 
partículas remanescentes, resultando na sua 
persistência na circulação com consequências 
aterogênicas. 
A base genética em que hiperlipidemia 
secundária é sobreposta afetará sua gravidade; 
por exemplo, pacientes diabéticos que 
manifestam quilomicronemia de jejum estão mais 
predispostos a desenvolver hipertrigliceridemia 
primária subjacente. 
 
 
 
 
 
HIPOTIREOIDISMO 
 
Várias alterações lipídicas podem ocorrer em 
pacientes com hipotireoidismo não tratado, 
mas a mais comum é o aumento na 
concentração plasmática de colesterol LDL. 
Isso é uma consequência da redução de 
receptores de LDL, resultando em redução da 
depuração da LDL. A atividade da 
lipoproteína lipase também pode ser 
prejudicada no hipotireoidismo, o que explica 
a hipertrigliceridemia, que às vezes ocorre. 
Uma vez que tanto o hipotireoidismo 
subclínico como o evidente são relativamente 
comuns, é imperativo que todos os indivíduos 
que tenham hiperlipidemia sejam examinados 
para hipotireoidismo. Se ele apresentar 
hipotireoidismo, o tratamento com tireoxina 
deve ser instituído. Se este não tiver doença 
cardiovascular, o perfil lipídico deve ser 
novamente checado, assim que o estado 
eutiroideo for recuperado, antes que se tome 
uma decisão sobre o tratamento de redução 
de lipídeos. Se o indivíduo já apresentar 
doença cardiovascular quando o 
hipotireoidismo for diagnosticado, pode ser 
imprudente atrasar a instituição de terapias 
hipolipemiantes, mas esta deve ser instituída 
com cautela, visto que o hipotireoidismo 
aumenta o risco da ocorrência de efeitos 
adversos musculares induzidos por estatinas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÍNDROME NEFRÓTICA 
 
A síndrome nefrótica de longa evolução está 
associada à aterosclerose acelerada; assim, 
o tratamento para a redução lipídica 
geralmente será necessário. 
Há evidências de que, na síndrome nefrótica, 
a hiperlipidemia possa piorar a função renal: 
foi demonstrado in vitro que a LDL oxidada 
afeta as células mesangiais e acelera a 
glomeruloesclerose. 
A hiperlipidemia que ocorre na síndrome 
nefrótica é mais comumente a 
hipercolesterolemia, mas a hiperlipidemia 
mista também ocorre. A hipercolesterolemia é 
resultado do excesso de produção hepática 
de apo B-100 como parte do aumento da 
síntese proteica hepática que geralmente 
ocorre nessa condição. A atividade da 
hidroximetilglutaril-CoA (HMG-CoA) redutase 
também está aumentada. O aumento dos 
triglicerídeos se deve à remoção reduzida de 
quilomícrons e VLDL devido à atividade 
defeituosa da lipoproteína lipase. A HDL pode 
ser perdida na urina e, dependendo se o 
aumento de sua síntese corresponde ou não 
a sua taxa de perda, a concentração 
plasmática de colesterol HDL pode ser baixa, 
normal ou ocasionalmente alta. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DOENÇA RENAL CRÔNICA 
 
Pacientes com doença renal crônica (DRC) 
têm risco muito alto de desenvolver doença 
cardiovascular. A anormalidade lipídica mais 
comumente observada é a 
hipertrigliceridemia; o perfil de lipoproteína é 
caracterizado por alta concentração de 
lipoproteínas que contêm a apo B-48 e suas 
partículas remanescentes derivadas do 
intestino. A composição das lipoproteínas 
também está alterada. 
A concentração de apo C-III das lipoproteínas 
ricas em triglicerídeos é aumentada e, uma 
vez que a apo C-III inibe tanto a lipoproteína 
lipase como a captação hepática de 
quilomícrons e VLDL remanescentes, isso 
resulta em aumento das concentrações 
plasmáticas de triglicerídeos.Mesmo que o 
colesterol total possa estar relativamente 
“normal”, a maior parte da LDL é pequena, 
densa e, portanto, aterogênica. Embora a 
hipertrigliceridemia esteja geralmente 
presente, a maior evidência para a redução 
do risco de doença cardiovascular por 
modificação lipídica é por meio da utilização 
de inibidores da HMGCoA redutase 
(estatinas), que reduzem a LDL, mesmo que 
apresentem relativamente pouco efeito sobre 
os triglicerídeos plasmáticos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TRANSPLANTE RENAL 
 
Após o transplante, a hiperlipidemia que 
acompanha a insuficiência renal pode ser 
corrigida, mas isso nem sempre ocorre. Além 
disso, a terapia imunossupressora, incluindo 
corticosteroides, pode, por si só, causar 
hiperlipidemia. 
O grau de hipercolesterolemia é 
frequentemente maior com o uso de sirolimus 
e ciclosporina do que com tacrolimus. Assim, 
indivíduos pós-transplantados permanecem 
em alto risco de doença cardiovascular e, 
uma vez que tenham sido hiperlipidêmicos, 
antes do transplante, a terapia para redução 
lipídica se justifica. Mas, é necessário 
cuidado devido às interações bem 
documentadas entre ciclosporina e as 
estatinas ou fibratos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DOENÇAS HEPÁTICAS 
 
O fígado desempenha papel central no 
metabolismo de lipoproteínas. Além disso, a 
única forma fisiológica significativa que o 
corpo tem de excretar o colesterol ocorre por 
sua secreção na bile. 
A colestase é frequentemente acompanhada 
por hiperlipidemia mista, devido ao acúmulo 
de lipoproteínas remanescentes. A 
lipoproteína X é encontrada exclusivamente 
na colestase. Esta lipoproteína contém ácidos 
biliares, apo C, apo D, albumina e colesterol 
e, enquanto ela se insere na mesma faixa de 
densidade da LDL, ao contrário de todas as 
outras lipoproteínas, ela migra para o cátodo 
na eletroforese de lipoproteínas. O potencial 
aterogênico da lipoproteína X é indefinido; 
quando presente em quantidades maciças 
(colesterol maior que 50 milimol por litro), a 
lipoproteína X é associada à 
hiperviscosidade. Na colestase, a 
concentração plasmática de Lp(a) é baixa e a 
de colesterol HDL é alta; essas 
anormalidades podem, em parte, explicar o 
fato de a colestase geralmente não estar 
associada ao elevado risco cardiovascular. 
A doença do fígado gorduroso não alcoólica 
(NAFLD ou esteatose hepática) é uma 
manifestação de uma síndrome metabólica e, 
que está associada ao aumento do risco 
cardiovascular. A dislipidemia associada à 
esteatose hepática é a hipertrigliceridemia ou 
a hiperlipidemia mista; está frequentemente 
associada a moléculas de LDL pequenas e 
densas. Como a condição ocorre em famílias, 
é difícil de distinguir da hiperlipidemia 
combinada familiar. 
 
 
 
Indivíduos com doença do fígado gorduroso 
não alcoólica (NAFLD) podem apresentar 
atividade anormal das enzimas hepáticas 
plasmáticas (em especial, o aumento das 
transaminases) e, então, é preciso ter cautela 
ao iniciar o tratamento com agentes 
hipolipemiantes. Só que, devido ao aumento 
do risco cardiovascular, o tratamento é 
necessário. As estatinas são geralmente os 
fármacos de primeira escolha, a não ser que 
hipertrigliceridemia grave esteja presente, 
criando risco de pancreatite. Ainda que seja 
necessário monitorar as enzimas hepáticas, o 
tratamento é geralmente seguro e, em alguns 
indivíduos, a normalização do perfil lipídico 
resulta em redução da atividade das 
aminotransferases. 
ÁLCOOL 
 
O álcool causa hipertrigliceridemia em 
indivíduos suscetíveis. Isto resulta de uma 
combinação entre a maior produção e a 
remoção inadequada de VLDL. Em casos 
graves, isso pode resultar em 
quilomicronemia, que pode desencadear a 
pancreatite aguda. 
Os estudos epidemiológicos sugeriram que a 
ingestão moderada de álcool (não mais de 1 
a 2 doses por dia) está associada à 
mortalidade mais baixa do que qualquer 
ingestão mais elevada de álcool ou sua 
abstinência. Tal ingestão moderada está 
associada ao aumento dos níveis plasmáticos 
de colesterol HDL, o que pode ser 
responsável pela aparente proteção 
cardiovascular. 
 
 
 
 
 
HIPERLIPIDEMIAS RELACIONADAS 
COM MEDICAMENTOS 
 
Vários medicamentos, incluindo agentes anti-
hipertensivos (β-bloqueadores, tiazidas), 
corticosteroides, esteroides sexuais, 
imunossupressores, antipsicóticos de 
segunda geração e medicamentos 
antirretrovirais, podem afetar as 
concentrações de lipoproteínas 
O efeito de anti-hipertensivos no perfil lipídico 
demonstra que a redução eficaz da pressão 
sanguínea diminuiu a incidência de acidentes 
vasculares cerebrais, mas não a de doença 
coronária cardíaca. O efeito de βeta-
bloqueadores depende de sua seletividade: 
os não seletivos (p. ex., propranolol) e os 
βeta-bloqueadores βeta1-seletivos (p. ex., 
atenolol) elevam os triglicerídeos plasmáticos 
e diminuem a HDL; enquanto os β-
bloqueadores com atividade simpatomimética 
intrínseca (p. ex., pindolol) são neutros contra 
os lipídeos. A hiperlipidemia associada à 
terapia com diuréticos parece ser causada 
pela atividade αlfa-adrenérgica provocada por 
esses fármacos; as dosagens baixas (p. ex., 
2,5 mg de bendroflumetiazida) agora 
utilizadas para o tratamento da hipertensão 
têm um efeito negligenciável sobre o perfil 
lipídico. 
O tratamento com glicocorticoides resulta em 
aumento das concentrações plasmáticas de 
LDL, HDL e triglicerídeos. 
Os estrógenos aumentam a secreção de 
VLDL hepática e aumentam a HDL (HDL2). 
 
 
 
 
 
Em mulheres na pós-menopausa, eles 
também reduzem o LDL. Progestágenos, por 
outro lado, causam a diminuição da HDL (em 
especial, HDL2) e o aumento da LDL.Tanto 
com os contraceptivos orais como com a 
terapia de reposição hormonal, a magnitude 
das mudanças nos valores de lipoproteínas 
depende da dose, da via de administração, 
do tipo de estrogênio ou progestágeno 
envolvido, além do fato de ser ou não um 
indivíduo com hiperlipoproteinemia 
subjacente. O uso de estrogênio por via oral 
resulta na exposição do fígado a doses 
suprafisiológicas de estrogênio, com 
estimulação da síntese hepática de 
lipoproteínas. A hipertrigliceridemia grave 
pode ser precipitada pelo uso de estrógeno 
por via oral em indivíduos suscetíveis, que 
podem apresentar concentração plasmática 
normal de triglicerídeos ou apenas 
hipertrigliceridemia leve quando não estão 
usando estrogênio por via oral ou fazendo 
terapia de reposição hormonal tópica (patch). 
Dos progestágenos, os derivados da 19-
nortestosterona (p. ex., noretisterona ou 
levonorgestrel) são consideravelmente mais 
androgênicos que os progestágenos C21 (p. 
ex., acetato de medroxiprogesterona, 
didrogesterona) e resultam em maiores 
reduções nas concentrações plasmáticas de 
HDL. 
O tamoxifeno, um modulador seletivo do 
receptor de estrógeno, que apresenta efeitos 
agonistas e antagonistas ao estrógeno, tem 
efeito predominantemente agonista no fígado 
e, então, pode causar hipertrigliceridemia 
severa. 
Dentre os fármacos imunossupressores, 
tanto os inibidores da calcineurina 
(ciclosporina, tacrolimus) como os inibidores 
que não inibem a calcineurina (sirolimus) 
podem causar hiperlipidemia, que, na maioria 
dos indivíduos, consiste em um aumento 
isolado das concentrações plasmáticas de 
LDL. 
A hipertrigliceridemia é um efeito colateral 
comum da segunda geração de substâncias 
antipsicóticas, incluindo clozapina, olanzapina 
e quetiapina. Esta pode ser grave e casos de 
pancreatite, que podem ser resultantes da 
hipertrigliceridemia, têm sido relatados. 
O tratamento com medicamentos 
antirretrovirais é frequentemente associado à 
dislipidemia. A combinação de ‐ redistribuição 
de gordura, resistência à insulina e 
dislipidemia observada em indivíduos sob 
tratamento antirretroviral é referida como 
“síndrome de lipodistrofia”.A redistribuição de 
gordura é caracterizada pela perda de 
gordura subcutânea e seu consequente 
acúmulo intra-abdominal. Isso está associado 
a regimes contendo inibidores da protease e 
inibidores da transcriptase reversa de 
nucleosídeos, enquanto a resistência à 
insulina e a dislipidemia são particularmente 
associadas ao uso dos inibidores da 
protease. É necessário cuidado no 
tratamento de dislipidemia nesses indivíduos, 
já que uma variedade de terapias 
antirretrovirais interage com tratamentos para 
redução de lipídeos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INVESTIGAÇÃO DAS DISFUNÇÕES 
LIPÍDICAS 
 
A simples aparência de uma amostra de soro 
ou plasma pode indicar um distúrbio lipídico. 
Quilomícrons e VLDL são grandes o 
suficiente para dispersar a luz. Quilomícrons 
são menos densos que o plasma e vão 
formar uma camada sobre a superfície de 
uma amostra deixada em repouso a 4°C 
durante a noite. Se estiver presente em 
grandes quantidades, a VLDL fará a amostra 
parecer opalescente 
COLESTEROL TOTAL 
 
É a medida de estado lipídico mais utilizada. 
Tem sido usada extensivamente em estudos 
epidemiológicos e pode ter alguma utilidade 
no acompanhamento do tratamento. Mas ela, 
é insuficiente no diagnóstico de distúrbios 
lipídicos ou como a única medida antes do 
início do tratamento. Um perfil completo de 
lipídeos em jejum, incluindo triglicerídeos e 
colesterol HDL, deve ser medido pelo menos 
uma vez para evitar a falha no diagnóstico de 
dislipidemias significativas associadas ao 
colesterol total normal. Colesterol LDL, 
colesterol não HDL e medições da apo B 
podem apresentar benefícios na avaliação do 
risco cardiovascular e na adequação do 
tratamento. 
O colesterol é geralmente mensurado por 
métodos enzimáticos usando a colesterol 
oxidase. Embora a CV analítica seja baixa 
(em geral, < 3%), a variação biológica 
intraindividual é de cerca de 5% e, por isso, é 
importante observar que a diferença crítica 
entre medições consecutivas na terapia de 
monitoramento pode ser de 
aproximadamente 0,8 milimol por litro. A 
realização ou não de jejum faz pouca 
diferença (± 3%) nas mensurações. 
TRIGLICERÍDEOS 
 
Os triglicerídeos aumentam até 2 a 3 vezes 
após uma refeição e, assim, as amostras 
devem ser coletadas após uma noite de jejum 
(> 12 h), a fim de se evitarem dificuldades de 
interpretação resultantes da presença de 
quilomícrons ou quilomícrons remanescentes. 
A maior parte dos métodos envolve a 
hidrólise de triglicerídeos e a mensuração do 
glicerol livre liberado. A eliminação do glicerol 
não é realizada rotineiramente. Em certas 
circunstâncias, como nos pacientes com 
diabetes melito não controlado, em 
hemodiálise ou nas raras deficiências 
recessivas de glicerol quinase ligadas ao X, o 
conteúdo de glicerol da amostra pode estar 
significativamente aumentado. Nessas 
situações, concentrações elevadas de glicerol 
no plasma vão produzir resultados 
falsamente elevados de triglicerídeos e a 
anulação do glicerol é essencial para a 
obtenção de um resultado válido. 
A concentração de triglicerídeos no plasma 
tem uma variação biológica muito maior que 
a de colesterol, em aproximadamente 20% 
das amostras, mesmo em jejum. 
COLESTEROL DE LIPOPROTEÍNA DE 
ALTA DENSIDADE 
 
A concentração plasmática de HDL é 
geralmente medida por métodos diretos 
(homogêneos), que dependem da formação 
do complexo antígeno/anticorpo, das enzimas 
de polietilenoglicol (PEG) modificadas que 
reagem seletivamente com o colesterol na 
HDL. Esses ensaios podem fornecer 
resultados confiáveis na presença de 
concentrações de triglicerídeos acima de 10 
milimol por litro. 
 
 
COLESTEROL DE LIPOPROTEÍNA DE 
BAIXA DENSIDADE 
 
Colesterol LDL (LDL-C) pode ser calculado 
por substituição dos resultados da análise do 
colesterol total (CT), colesterol HDL(HDL-C) e 
triglicerídeos (TG) (jejum) na fórmula de 
Friedewald: (todas as medidas em milimol por 
litro). 
 
A fórmula de Friedewald assume que a maior 
parte dos triglicerídeos plasmáticos está na 
forma de VLDL e que existe relação molar de 
5:1 de triglicerídeos para colesterol na fração 
da VLDL. Por essa razão, a fórmula de 
Friedewald não é aplicável em indivíduos 
com hiperlipidemia remanescente, nos quais 
a fração remanescente é de lipoproteína 
enriquecida em colesterol. Além disso, ela 
não é aplicável a indivíduos com 
concentrações plasmáticas maior que 4,5 
milimol por litro, uma vez que, para esses 
níveis, a VLDL contém maior proporção de 
triglicerídeos e, assim, a fórmula superestima 
o colesterol VLDL e subestima o colesterol 
LDL. 
Mesmo que a maioria dos laboratórios relate 
concentrações plasmáticas de colesterol 
derivado da LDL em amostras com 
triglicerídeos de até 4,5 milimol por litro, essa 
tendência da VLDL em conter uma proporção 
maior de triglicerídeos às vezes ocorre em 
concentrações mais baixas de triglicerídeos, 
a um grau que pode ser clinicamente 
significativo. O erro calculado no colesterol 
LDL é superior a 10% em mais de 30% dos 
indivíduos com concentração de proteína 
plasmática de 2,3 a 3,4 milimol por litro e 
superior a 40% em indivíduos com 
triglicerídeos de 3,4 a 4,5 milimol por litro. 
 
 
Ensaios diretos de colesterol LDL estão 
sendo cada vez mais utilizados. Em geral, 
eles se comparam aos de colesterol LDL tal 
como a mensuração por ultracentrifugação. 
Eles têm a vantagem de serem capazes de 
medir o colesterol LDL em amostras de 
pacientes que não estavam em jejum; mas, 
por serem métodos de imunosseparação, têm 
a desvantagem de apresentar custo mais 
elevado em comparação com a simples 
medição enzimática de colesterol total e 
HDLe triglicerídeos. A concentração 
plasmática de colesterol LDL é cada vez mais 
utilizada em estudos epidemiológicos e 
terapêuticos e metas de tratamento com base 
nos níveis de colesterol LDLforam 
incorporadas para a maioria das diretrizes 
nacionais. 
COLESTEROL NÃO HDL 
 
O colesterol não HDL é obtido simplesmente 
usando a fórmula (colesterol total – colesterol 
HDL). A principal diferença do colesterol LDL 
é que este inclui o colesterol da VLDL. Em 
alguns estudos epidemiológicos, foi utilizado 
para prever o risco vascular quase tão bem 
quanto a mensuração da apo B e melhor que 
o colesterol LDL. Isso pode ser simples 
porque a VLDLé aterogênica por si própria, 
mas também porque o colesterol não HDL 
pode refletir o número de partículas LDL 
melhor que a mensuração isolada da 
concentração de colesterol LDL. 
Outras vantagens do colesterol não HDL são 
que ele pode ser medido em amostras sem 
jejum e que a sua mensuração tem melhor 
precisão e exatidão que a do colesterol LDL 
obtido pela fórmula de Friedewald. É também 
mais barata que a mensuração da apo B. Ele 
foi adotado em um número de diretrizes 
atuais ao lado do colesterol LDL.

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