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COLESTEROL O colesterol está presente nos tecidos e no plasma na forma de colesterol livre ou em combinação com um ácido graxo de cadeia longa, na forma de éster de colesteril, sua forma de armazenamento. No plasma, ambas as formas são transportadas em lipoproteínas. O colesterol é um lipídeo anfipático e, desse modo, um componente estrutural essencial das membranas, onde é importante na manutenção da permeabilidade e da fluidez apropriadas, e também da camada externa das lipoproteínas plasmáticas. É sintetizado em muitos tecidos a partir de acetil-CoA e constitui o precursor de todos os outros esteroides no organismo, incluindo os corticosteroides, os hormônios sexuais, os ácidos biliares e a vitamina D. Como produto típico do metabolismo animal, o colesterol é encontrado nos alimentos de origem animal, como a gema do ovo, a carne, o fígado e o cérebro. A lipoproteína de baixa densidade (LDL) do plasma é o veículo que fornece o colesterol e o éster de colesteril em muitos tecidos. O colesterol livre é removido dos tecidos pela lipoproteína de alta densidade (HDL) plasmática e transportado até o fígado, onde é eliminado do organismo em sua forma inalterada ou após conversão em ácidos biliares por um processo conhecido como transporte reverso do colesterol. O colesterol é um importante constituinte dos cálculos biliares. Mas o seu principal papel em processos patológicos consiste em atuar como fator na gênese da aterosclerose de artérias vitais, causando doença vascular cerebral, coronariana e periférica O COLESTEROL É BIOSSINTETIZADO A PARTIR DE ACETIL-COA Pouco mais da metade do colesterol do organismo se origina por síntese (cerca de 700 mg/dia), é o restante provém da dieta normal. Nos seres humanos, o fígado e o intestino são responsáveis, cada um, por cerca de 10% da síntese total. Praticamente todos os tecidos que contêm células nucleadas são capazes de efetuar a síntese de colesterol, que ocorre no retículo endoplasmático e nos compartimentos citosólicos. A ACETIL-COA CONSTITUI A FONTE DE TODOS OS ÁTOMOS DE CARBONO DO COLESTEROL O colesterol é um composto de 27 carbonos, consistindo em quatro anéis e uma cadeia lateral. Ele é sintetizado a partir de acetil-CoA por uma longa via que pode ser dividida em cinco etapas: (1) síntese do mevalonato a partir da acetil- CoA (2) formação de unidades isoprenoides a partir do mevalonato com a perda de CO2 (3) condensação de seis unidades isoprenoides para formar o esqualeno (4) ciclização do esqualeno, dando origem ao esteroide parental, o lanosterol; (5) formação do colesterol a partir do lanosterol Etapa 1 – Biossíntese do mevalonato: o HMG-CoA (3-hidroxi-3-metilglutaril-CoA) é formado pelas reações utilizadas na mitocôndria para sintetizar os corpos cetônicos. Mas, como a síntese do colesterol é extramitocondrial, as duas vias são distintas. Inicialmente, corre condensação de duas moléculas de acetil-CoA para formar acetoacetil-CoA, em uma reação catalisada pela tiolase citosólica. O acetoacetil-CoA condensa-se com outra molécula de acetil-CoA em outra reação catalisada pela HMG- -CoA- sintase, com formação de HMG-CoA, que é reduzida a mevalonato pelo NADPH, em uma reação catalisada pela HMG-CoA-redutase. Esta última etapa é a principal etapa reguladora na via de síntese do colesterol e o local de ação da classe mais efetiva de fármacos redutores do colesterol, as estatinas, que são inibidores da HMG-CoA-redutase Etapa 2 – Formação das unidades isoprenoides: o mevalonato é fosforilado sequencialmente por três cinases utilizando o ATP e, após descarboxilação, ocorre a formação da unidade isoprenoide ativa, o isopentenil-difosfato Etapa 3 – Formação do esqualeno a partir de seis unidades isoprenoides: o isopentenil- difosfato é isomerizado por um deslocamento da dupla ligação para formar dimetilalil-difosfato e, em seguida, condensado com outra molécula de isopentenil-difosfato, com formação do intermediário de 10 carbonos, o geranil-difosfato. Uma condensação adicional com isopentenil-difosfato forma o farnesil- difosfato. Duas moléculas de farnesil-difosfato condensam-se na extremidade difosfato, formando o esqualeno. Inicialmente, o pirofosfato inorgânico é eliminado, resultando no pré-esqualeno-difosfato, que é então reduzido pelo NADPH, com eliminação de mais uma molécula de pirofosfato inorgânico Etapa 4 – Formação do lanosterol: o esqualeno pode dobrar-se em uma estrutura muito semelhante ao núcleo esteroide. Antes do fechamento do anel, o esqualeno é convertido em esqualeno-2,3-epóxido por uma oxidase de função mista presente no retículo endoplasmático, a esqualeno- epoxidase. O grupo metil em C14 é transferido para o C13 e o do C8 para o C14 à medida que ocorre a ciclização, catalisada pela oxidoesqualeno-lanosterol-ciclase. Etapa 5 – Formação do colesterol: a formação do colesterol a partir do lanosterol ocorre nas membranas do retículo endoplasmático e envolve alterações no núcleo e na cadeia lateral do esteroide. Os grupos metilas em C14 e C4 são removidos para formar 14-desmetil-lanosterol e, em seguida, zimosterol. Posteriormente, a dupla ligação em C8— C9 é transferida para C5— C6 em duas etapas, com formação do desmosterol. Por fim, a dupla ligação da cadeia lateral é reduzida, produzindo colesterol. O FARNESIL-DIFOSFATO DÁ ORIGEM AO DOLICOL E À UBIQUINONA Os poli-isoprenoides dolicol e ubiquinona são formados a partir do farnesil-difosfato pelo acréscimo adicional de até 16 (dolicol) ou 3 a 7 (ubiquinona) resíduos isopentenil- difosfato. Algumas proteínas de ligação ao GTP na membrana celular são preniladas com resíduos de farnesil ou geranilgeranil (20 carbonos). Acredita-se que a prenilação proteica facilite a ancoragem das proteínas em membranas lipídicas e também possa estar envolvida nas interações entre proteínas e no transporte de proteínas associadas à membrana. A SÍNTESE DE COLESTEROL É CONTROLADA PELA REGULAÇÃO DA HMG-COA-REDUTASE A regulação da síntese do colesterol é efetuada próximo ao início da via, na etapa da HMG-CoA-redutase. Nos animais em jejum prolongado, a síntese diminuída de colesterol é acompanhada de redução da atividade enzimática. Mas, o colesterol da dieta inibe apenas a síntese hepática. A HMG-CoA-redutase no fígado é inibida pelo mevalonato, o produto imediato da reação, e pelo colesterol, o principal produto da via. O colesterol e seus metabólitos reprimem a transcrição da HMG-CoA-redutase pela ativação de um fator de transcrição, que é a proteína de ligação ao elemento regulador de esteróis (SREBP). As proteínas de ligação ao elemento regulador de esteróis (SREBPs) constituem uma família de proteínas que regulam a transcrição de uma gama de genes envolvidos na captação e no metabolismo celular do colesterol e de outros lipídeos. A ativação da proteína de ligação ao elemento regulador de esteróis (SREBP) é inibida pela Insig (gene induzido por insulina), uma proteína que é induzida por insulina e está presente no retículo endoplasmático. A Insig também promove a degradação da HMG- CoA-redutase. Tanto a síntese de colesterol quanto a atividade da redutase exibem variação diurna. Além desses mecanismos envolvidos na regulação da taxa de síntese/degradação proteica, a atividade enzimática também é modulada mais rapidamente por modicação pós-traducional (Figura 26-4). A insulina ou o hormônio tireoideano aumentam a atividade da HMG-CoA-redutase, ao passo que o glucagonou os glicocorticoides a diminuem. A atividade enzimática é reversivelmente modicada pelos mecanismos de fosforilação- desfosforilação, e alguns podem ser dependentes de cAMP e, então, são imediatamente responsivos ao glucagon. A proteína-cinase ativada por AMP (AMPK) (antes chamada de HMG-CoA-redutase- cinase) fosforila e inativa a HMG-CoA- redutase. A AMPK é ativada por fosforilação pela AMPK-cinase (AMPKK) e por modicação alostérica pelo AMP. As tentativas de reduzir o colesterol plasmático nos seres humanos ao diminuir a quantidade de colesterol na dieta produzem resultados variáveis. Em geral, uma redução de 100 miligramas do colesterol dietético produz uma redução de aproximadamente 0,13 milimol por litro na concentração sérica. MUITOS FATORES INFLUENCIAM O EQUILÍBRIO DO COLESTEROL NOS TECIDOS Nos tecidos, o equilíbrio do colesterol é regulado assim: O aumento do colesterol celular é causado pela captação de lipoproteínas contendo colesterol pelos receptores, como o receptor de LDL ou o receptor scavenger; pela captação do colesterol livre das lipoproteínas ricas em colesterol pela membrana celular; pela síntese de colesterol; e pela hidrólise dos ésteres de colesterol pela enzima éster de colesteril-hidrolase. A redução é produzida pelo efluxo do colesterol da membrana para as HDLs por meio de ABCA1, ABCG1 ou SR-B1 (ver Figuar 25-5); por esterificação do colesterol pela ACAT (acil-CoA:colesterol- aciltransferase); e pela utilização do colesterol para a síntese de outros esteroides, como hormônios, ou de ácidos biliares no fígado. O RECEPTOR DE LDL É ALTAMENTE REGULADO Os receptores de LDL (apo B-100, E) ocorrem na superfície celular, em cavidades revestidas no lado citosólico da membrana celular por uma proteína denominada clatrina. O receptor de glicoproteína estende- se por toda a membrana, com a região de ligação a B-100 localizada na extremidade aminoterminal exposta. Após a ligação, a LDL é captada de modo inalterado por endocitose. A seguir, a apoproteína e o éster de colesteril são hidrolisados nos lisossomos, e o colesterol é transferido para dentro da célula. Os receptores são reciclados e retornam à superfície celular. Esse influxo de colesterol inibe a transcrição dos genes que codicam a HMG-CoA-sintase, a HMG-CoA-redutase e outras enzimas envolvidas na síntese do colesterol, e até mesmo o próprio receptor de LDL por meio da via da SREBP e, dessa forma, suprime de modo coordenado a síntese e a captação do colesterol. Além disso, a atividade da ACAT (acil- CoA:colesterol-aciltransferase) é estimulada, promovendo a esterificação do colesterol. Pesquisas recentes mostraram que a proteína pró-proteína-convertase- subtilisina/quexina tipo 9 (PCSK9) regula a reciclagem do receptor para a superfície celular, direcionando-o para degradação. Por esses mecanismos, a atividade do receptor de LDL na superfície da célula é regulada pela necessidade de colesterol para as membranas, para a síntese dos hormônios esteroides ou de ácido biliar, e o conteúdo de colesterol livre da célula é mantido em limites relativamente estreitos O COLESTEROL É TRANSPORTADO ENTRE OS TECIDOS EM LIPOPROTEÍNAS PLASMÁTICAS O colesterol da dieta entra em equilíbrio com o colesterol plasmático dentro de alguns dias e com o colesterol tecidual em algumas semanas. O colesterol é transportado no plasma em lipoproteínas, a maior parte na forma de éster de colesteril e, em seres humanos, a maior proporção é encontrada nas LDLs. O éster de colesteril presente na dieta é hidrolisado em colesterol, que é, então, absorvido pelo intestino, junto com o colesterol não esterificado e outros lipídeos da dieta. Do colesterol absorvido, 80 a 90% são esterificados com ácidos graxos de cadeia longa na mucosa intestinal. Com o colesterol sintetizado no intestino, ele é incorporado, a seguir, nos quilomícrons. Noventa e cinco por cento do colesterol dos quilomícrons é liberado para o fígado em quilomícrons remanescentes, e a maior parte do colesterol secretado pelo fígado nas VLDLs é retido durante a formação das lipoproteínas de densidade intermediária (IDLs) e finalmente LDL, que é captada pelo receptor de LDL no fígado e nos tecidos extra--hepáticos A LECITINA:COLESTEROL- ACILTRANSFERASE PLASMÁTICA É RESPONSÁVEL PELA FORMAÇÃO DE QUASE TODO O ÉSTER DE COLESTERIL PLASMÁTICO NOS SERES HUMANOS A atividade da lecitina:colesterol- aciltransferase (LCAT) está associada à HDL, que contém apo A-I. À medida que o colesterol da HDL se torna esterificado, ele gera um gradiente de concentração que atrai o colesterol presente nos tecidos e em outras lipoproteínas, permitindo, assim, que a HDL funcione no transporte reverso do colesterol. A PROTEÍNA DE TRANSFERÊNCIA DE ÉSTER DE COLESTERIL FACILITA A TRANSFERÊNCIA DO ÉSTER DE COLESTERIL DAS HDLS PARA OUTRAS LIPOPROTEÍNAS A proteína de transferência de éster de colesteril, que está associada à HDL, é encontrada no plasma em seres humanos e muitas outras espécies. Essa proteína facilita a transferência do éster de colesteril da HDL para a VLDL, a IDL e a LDL em troca de triacilglicerol, aliviando assim a inibição pelo produto da atividade da LCAT na HDL. Por isso, nos seres humanos, grande parte do éster de colesteril formado pela LCAT alcança o fígado por meio dos remanescentes de VLDL (IDL) ou LDL. A HDL2 enriquecida com triacilglicerol libera o seu colesterol no fígado no ciclo da HDL O COLESTEROL É EXCRETADO DO ORGANISMO NA BILE COMO COLESTEROL OU ÁCIDOS BILIARES (SAIS) O colesterol é excretado pelo organismo através da bile, na forma não esterificada ou após conversão em ácidos biliares no fígado. O coprostanol é o principal esterol encontrado nas fezes e é formado a partir do colesterol pelas bactérias presentes na parte distal do intestino. OS ÁCIDOS BILIARES SÃO FORMADOS A PARTIR DO COLESTEROL Os ácidos biliares primários são sintetizados no fígado a partir do colesterol. São eles: ácido cólico (encontrado em maior quantidade na maioria dos mamíferos) e ácido quenodesoxicólico. A 7α-hidroxilação do colesterol é a primeira e a principal etapa reguladora na biossíntese de ácidos biliares e é catalisada pelo colesterol 7α-hidroxilase (enzima microssomal do citocromo P450 designada CYP7A). Essa enzima, que é uma monoxigenase típica, requer oxigênio, NADPH e citocromo P450. As etapas subsequentes de hidroxilação também são catalisadas por monoxigenases. A via de biossíntese dos ácidos biliares é dividida inicialmente em uma via que leva à formação de colil-CoA, caracterizada por um grupo α-OH adicional na posição 12, e em outra via que leva à produção de quenodesoxicolil-CoA. Uma segunda via mitocondrial envolvendo a 27-hidroxilação do colesterol pelo citocromo P450 esterol-27- hidroxilase (CYP27A1), como primeira etapa, é responsável por uma significativa proporção dos principais ácidos biliares sintetizados. Os ácidos biliares primários entram na bile sob a forma de conjugados de glicina ou taurina. A conjugação ocorre nos peroxissomos hepáticos. Nos seres humanos, a razão entre os conjugados de glicina e taurina é normalmente de 3:1. Na bile alcalina (pH de 7,6 a 8,4), presume-se que os ácidos biliares e seus conjugados estejam na forma de sais – daí o termo “sais biliares”. Os ácidos biliares primários são ainda metabolizados no intestino pela atividade das bactérias intestinais. Então, ocorrem desconjugação e 7α-desidroxilação, produzindo os ácidos biliares secundários, o ácido desoxicólicoe o ácido litocólico. A MAIOR PARTE DOS ÁCIDOS BILIARES RETORNA AO FÍGADO PELA CIRCULAÇÃO ÊNTERO-HEPÁTICA Mesmo que os produtos da digestão das gorduras, incluindo o colesterol, sejam absorvidos nos primeiros 100 centímetros do intestino delgado, os ácidos biliares primários e secundários são absorvidos quase exclusivamente no íleo, e 98 a 99% retornam ao fígado pela circulação portal. Esse processo é conhecido como circulação êntero-hepática. Mas, por conta de sua insolubilidade, o ácido litocólico não é reabsorvido em quantidades signicativas. Apenas uma fração pequena dos sais biliares escapa da absorção e, então, é eliminada nas fezes. Mas, isso representa um importante via de eliminação do colesterol. Diariamente, a mistura de ácidos biliares (cerca de 3-5 gramas) circula 6 a 10 vezes pelo intestino, e uma quantidade de ácidos biliares equivalente àquela perdida nas fezes é sintetizada a partir do colesterol, com consequente manutenção do reservatório de ácidos biliares de tamanho constante. Esse processo é obtido por um sistema de controle por retroalimentação. A SÍNTESE DE ÁCIDOS BILIARES É REGULADA NA ETAPA DA CYP7A1 A principal etapa limitadora da taxa de biossíntese de ácidos biliares é a reação da CYP7A1 (Figura 26-7). A atividade dessa enzima é regulada por retroalimentação pelo receptor nuclear de ligação a ácidos biliares, o receptor farnesoide X (FXR). Quando o tamanho do reservatório de ácidos biliares na circulação êntero-hepática aumenta, o FXR é ativado, e a transcrição do gene da CYP7A1 é suprimida. O ácido quenodesoxicólico é particularmente importante na ativação do FXR. A atividade de CYP7A1 também é aumentada pelo colesterol da dieta e de origem endógena e regulada pelos hormônios insulina, glucagon, glicocorticoides e tireoideanos
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