Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Louyse Morais – Medicina – 108 Tratamento sistêmico e radioterápico do câncer de mama Fatores prognósticos e preditivos: prognóstico significa sobrevida em cinco anos e preditivo está relacionado às drogas que serão empregadas no tratamento. • Estadio: TNM • Receptor hormonal (positivo ou negativo): abrange, por exemplo, os tumores triplo negativos. Estes últimos se referem a tumores com receptor negativo de estrógeno e progesterona, bem como não há superexpressão de HER2. Nesses casos, a doença é mais agressiva e com disseminação metastática precoce linfonodal ipsilateral, assim como para vísceras. • Idade (menos ou mais de 35 anos): mulheres com menos de 35 anos apresentam tumores mais agressivos e, normalmente, triplo negativos. • Status da atividade hormonal (pré ou pós- menopausa): quanto mais jovem, mais agressivo, quanto mais idosa, menos agressivo. As idosas, geralmente, apresentam receptores hormonais positivos, sendo candidatas à hormonioterapia. • Perfil de expressão gênica do genoma somático (microarray): análise de genes tumorais, que quantifica a expressão de determinados genes, os quais conferem maior agressividade à doença. Abaixo, painel que mostra o microarray, onde verde = baixo nível de expressão; preto = nem alto nem baixo; vermelho = alto nível de expressão. Quanto mais vermelho, maior a expressão de genes que conferem maior agressividade. A curva lateral é a curva de sobrevida. As bandas brancas, ao lado, significam não metástase, enquanto as pretas significam metástase. Desses genes, quando eles se exprimem fortemente, aumenta consideravelmente a possibilidade de metástase, assim como a redução da sobrevida. Tratamento radioterápico • Radioterapia no tratamento conservador da mama (exclusivo ou após quadrantectomia): usa- se em tumores muito volumosos, em que a cirurgia não pode determinar um bom controle da doença locorregional ou após quadranctectomia. • Radioterapia na parede torácica (após mastectomia): terapia adjuvante; doença que dissemina para linfonodos, doença primária com 5 cm ou mais, margem cirúrgica pequena etc. Portanto, usa quando há chance de recidiva locorregional. • Radioterapia no câncer da mama avançado A radioterapia é muito similar, em termos de terapêutica locorregional, à cirurgia. O efeito terapêutico se dá pela aplicação direta dos feixes de radiação no local alvo. Volume alvo Deve-se incluir a mama, tendo ou não submetido a paciente à cirurgia, ou a parede torácica (após mastectomia total). Faz para diminuir possibilidade de recidiva. Pode fazer nas cadeias linfonodais da mamária interna, quando há risco de metástase. Por fim, pode fazer também na fossa supraclavicular e na axila. Objetivos: melhorar o controle local, aumentar a sobrevida, provável exceção nas mulheres com mais de 70 anos, T1 (tumor com até 2 cm de diâmetro) e RH+. Radioterapia adjuvante conformal (3D) A foto acima é de uma paciente jovem submetida a uma mastectomia total, em que se removeu mama esquerda, junto com pequeno e grande peitoral. Além disso, ela também fez dissecção linfonodal axilar. As linhas azuis em sua pele se referem aos campos de irradiação – parede torácica anterior e lateral, cadeia mamária interna, fossa supra e infraclavicular e axila. Muito provavelmente, essa paciente possui doença locorregional avançada, e foi 2 Louyse Morais – Medicina – 108 submetida à mastectomia total com dissecção linfonodal axilar ipsilateral. A imagem ao lado dela mostra as curvas de isodose – o software calcula a dose de irradiação que cada uma das partes vai receber. As linhas tracejadas em vermelho mostram o local onde a dose maior de irradiação vai incidir – parede torácica. As linhas vermelhas que tangenciam o coração servem para protegê-lo, assim como o tracejado verde claro. Essa tecnologia reduz consideravelmente a agressão da radiação ao coração da paciente, o qual é praticamente poupado. Antigamente, era comum as pacientes apresentarem miocardiopatia dilatada descompensada, anos após terem sido submetidas à radioterapia, algo que não ocorre mais hoje em dia. Além disso, também é incomum, atualmente, a apresentação de pneumonite actínica, pois o ápice do pulmão também é polpado. Além do benefício adjuvante, a radioterapia também pode ser usada na doença metastática, sobretudo na metástase cerebral e óssea, até de melhor qualidade do que a terapia sistêmica, como a quimioterapia. Na metástase óssea, o seu benefício maior será na redução da dor – ação antálgica. Tratamento sistêmico • Neoadjuvância (antes da cirurgia, em doença locorregionalmente avançada para reduzir o tamanho do tumor e encaminhar para cirurgia), adjuvância (após cirurgia parcial ou total) e paliativa (entra imunoterapia e bioterapia também). • Quimioterapia, hormonioterapia, imunoterapia, bioterapia. Não existe imunoterapia ou bioterapia na condição de neoadjuvância ou adjuvância, apenas em doença disseminada metastática, como recurso paliativo. Tratamento quimioterápico neoadjuvante • Resposta clínica completa: 43% • Resposta patológica completa: 26%. Busca-se bastante, pois existe uma relação entre ela e a sobrevida. Os estudos iniciais demonstram que quando a resposta patológica completa é atingida, aumenta-se muito mais a sobrevida. Tratamento quimioterápico e imunoterápico neoadjuvante • Resposta clínica completa: 55% • Resposta patológica completa: 73% (quimioterapia + transtuzumab + pertuzumab nos tumores HER-2 +) As drogas da imunoterapia referida anteriormente, que não são usadas no tratamento neoadjuvante, são as que auxiliam o sistema imunológico a reconhecer as células tumorais estranhas (ANTI-PDL1, CTL4). Essa referida aqui é diferente. Com o advento das drogas anti-HER2, que no início era apenas um dado de mal prognóstico, houve uma evolução. A engenharia genética desenvolveu anticorpos anti-HER2, que fazem uma grande diferença na indução de resposta. Hoje em dia, a resposta patológica chega a 73%. Usa-se quando há superexpressão do HER-2. Quando acrescenta esses imunoterápicos, há uma resposta completa patológica importante, o que levou a um aumento considerável da sobrevida. Infelizmente, isso não ocorre em todas as situações, pois apenas 20% das pacientes se beneficiam. Tratamento sistêmico adjuvante no estádio I: T1, N0, M0 Faz-se desde meados dos anos 70. O tratamento sistêmico adjuvante, na verdade, é um tratamento da micrometástase. Até bem recentemente, não havia condições de identificar, uma vez que não existiam exames de imagem ou sorológicos para identificar. Com o advento da biópsia líquida, pode-se identificar células tumorais circulantes ou DNA tumoral circulante, mas é algo que não está plenamente autorizado para utilizar para definir se faz ou não o tratamento adjuvante. Usa-se quimioterapia ou hormonioterapia para tratar mulheres já submetidas à cirurgia que tem risco de a doença disseminar ou recidivar. Em 21% de mulheres, mesmo com estádio 1, a possibilidade de recidivar e morrer da doença é muito alta. Resultados de estudos recentes – NSABP, B-14, NATO, INT-001: aumento da sobrevida das pacientes tratadas com QT+/-HT, quando a doença dissemina e não existe mais condição de curar. No entanto, pode-se curar mulheres em que a doença está sob forma de micrometástases. Nesses casos, a metástase já existe desde o início, nem a cirurgia nem a radioterapia trata doença metastática, por mais radical que se seja. Mostrou-se que nesse determinado grupo de pacientes, mesmo com doença inicial, mediante a instituição de uma quimioterapia seguida ou não de hormonioterapia (caso receptores positivos), há um impacto muito grande em sua sobrevida. 3 Louyse Morais – Medicina – 108 O impacto, em números absolutos, é de cura em 1 a cada 100pacientes. Além disso, é possível aumentar consideravelmente o intervalo livre em doença em grande parte delas. Benefício do tratamento sistêmico adjuvante nas pacientes com estádio I • Sem tratamento sistêmico (cirurgia + radioterapia) o Probabilidade de sobrevida em 10 anos: 88,5% o Probabilidade de morrer da doença: 7,9% o Probabilidade de morrer por outras causas: 3,6% • Com tratamento sistêmico o Benefício do tratamento quimioterápico e hormonioterápico: +4,8% Benefícios do tratamento sistêmico adjuvante no estádio IIA (T0, N1, M0 / T1, N1, M0 / T2, N0, M0) • Sem tratamento sistêmico (cirurgia + radioterapia) o Probabilidade de sobrevida em 10 anos: 75,9% o Probabilidade de morrer da doença: 20,7% o Probabilidade de morrer por outras causas: 3,4% • Com tratamento sistêmico o Benefício do tratamento quimioterápico e hormonioterápico: +12,3% Benefícios do tratamento sistêmico adjuvante no estádio IIB (T2, N1, M0 / T3, N0, M0) • Sem tratamento sistêmico (cirurgia + radioterapia) o Probabilidade de sobrevida em 10 anos: 57,6% o Probabilidade de morrer da doença: 39,4% o Probabilidade de morrer por outras causas: 3,0% • Com tratamento sistêmico o Benefício do tratamento quimioterápico e hormonioterápico: +22,2% Benefícios do tratamento sistêmico adjuvante no estádio IIIA (T0-T2, N2, M0 / T3, N1-N2, M0) e IIIB (T0-T4, N3, M0 / T4, N0-N3, M0) • Sem tratamento sistêmico (cirurgia + radioterapia) o Probabilidade de sobrevida em 10 anos: 45,1% o Probabilidade de morrer da doença: 52,7% o Probabilidade de morrer por outras causas: 2,7% • Com tratamento sistêmico o Benefício do tratamento quimioterápico e hormonioterápico: +27,9% Em tumores T4, é muito difícil que haja benefício no tratamento cirúrgico e radioterápico. Tratamento sistêmico no câncer de mama recidivante / metastático (paliativo) Doença pouco agressiva: doença visceral ausente, RH positivo ou desconhecido, intervalo livre de doença > 2 anos Estratégia terapêutica • HT (tamoxifeno) ou ooforectomia nas pré- menopausadas. A ooforectomia pode ser cirúrgica, por radiação ou por castração química, através de drogas. • HT (tamoxifeno ou inibidor/inativador da aromatase) nas pós-menopausadas • Hormonioterapia + bioterapia: exemestano + everolimus; fulvestranto + palbociclib; letrozole + ribociclib. Nesse caso, como a doença é pouco agressiva, prefere-se não utilizar quimioterapia, mas sim medicamentos pouco agressivos. Tratamento quimioterápico e imunoterápico antineoplásico: faz em doença muito agressiva. • Metástase visceral presente (crise visceral): doença dissemina para fígado, por exemplo, e a paciente apresenta sinais de insuficiência hepática. • Intervalo livre de doença inferior a dois anos • Receptor hormonal negativo • HER2 positivo: transtuzumab, lapatinib, pertuzumab, adotrastuzumab-entansine etc. Os estudos recentes estão usando os níveis de expressão não só dos tumores, mas também de certas células do hospedeiro – sobretudo linfócitos peritumorais, e quantificando também o nível de expressão do PDL-1 também nessas células (não apenas nas tumorais). Isso aumenta a quantidade de pacientes que podem se beneficiar da imunoterapia. 4 Louyse Morais – Medicina – 108
Compartilhar