Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 MARC 3 – Heloísa Paraíso 7ºP Edema / Síndrome Nefrítica e Nefrótica MECANISMOS DE FORMAÇÃO DE EDEMAS INTRODUÇÃO Edema é definido como acúmulo de líquido no espaço intersticial. Pode ser localizado ou generalizado. Edema localizado: é restrito a um território vascular (decorrente da obstrução do fluxo venoso e linfático) Edema generalizado: ocorre quando o fluido deixa o espaço vascular, o que ocorre em todos os leitos vasculares devido a uma causa sistêmica. Para que ocorra edema, é necessária uma alteração no equilíbrio das forças que regulam as trocas líquidas, permitindo o acúmulo de líquidos no espaço intersticial. Quatro fatores isolados ou em conjunto podem ser responsáveis pela formação do edema: Diminuição da pressão de enchimento arterial; Alterações da força de Starling; Alterações das relações de volume/capacitância; Alterações na avidez renal primária por sódio. EQUILÍBRIO DE STARLING O movimento de fluido em nível capilar entre os espaços intravasculares e intersticial é determinado pelo balanço das forças de Starling entre os dois compartimentos. O fluxo dos fluidos, no nível capilar, depende da permeabilidade da parede capilar, definida pela constante Kf, e pela diferença entre as variações da pressão hidrostática (Pc) e da pressão oncótica (c) ao longo do leito capilar. Em condições fisiológicas, espera-se que a pressão hidrostática, na extremidade arteriolar do leito capilar, seja maior que a pressão oncótica do plasma. Esse gradiente de pressão faz com que haja fluxo de fluido do compartimento intravascular para o interstício. Ao longo do capilar, a pressão hidrostática se reduz de forma significativa. Em adição, a saída do fluido intravascular faz com que a concentração de proteínas intracapilares se eleve, o que acarretará um discreto aumento da pressão oncótica. Assim, somados esses fatores, ocorrerá inversão do gradiente de pressão na extremidade venosa da rede capilar, ou seja, a pressão oncótica tornar-se maior que a pressão hidrostática. O eventual excesso de líquido no espaço intersticial será drenado através dos vasos linfáticos. Perturbações nas variáveis que regem o equilíbrio de Starling poderão ocasionar edema. Caso ocorram em um território capilar restrito, haverá formação de edema localizado. Os grandes edemas envolvem, geralmente, alterações sistêmicas mais complexas, sendo ocasionados, na maioria das vezes, por perturbações nos mecanismos de controle do volume extracelular. Nesse caso, haverá aumento do volume extracelular e do peso corpóreo. O aparecimento de edema é consequência de alterações na homeostase do sódio e da água. CAUSAS DE EDEMA Ficam caracterizados os edemas como: cardíaco, renal, cirrótico ou nutricional - grupados nesses nomes, porque, além das características patofisiológicas próprias de cada grupo, apresentam também etiologia específica, daí a denominação. 2 MARC 3 – Heloísa Paraíso 7ºP Vias relacionadas com a retenção de sódio para o controle do volume arterial efetivo ASPECTOS SEMIOTÉCNICOS História clínica e um exame físico Aferição sequencial do peso corporal → Edemas generalizados são acompanhados do aumento do peso e esse é um importante parâmetro para avaliação da eficácia terapêutica. Cerca de 4 a 5% de aumento do peso corpóreo para que o edema seja clinicamente detectável Sinal do cacifo ou de Godet → comprimindo-se a região pré-tibial com o polegar por cerca de 10 seg e observando-se se há formação de depressão. SÍNDROMES DOS GRANDES EDEMAS Edema Renal Edema Nefrítico Nas síndromes nefríticas agudas, das glomerulonefrites agudas, por exemplo, que se manifestam com edema, hematúria, hipertensão - sem proteinúria importante (acima de 3,5 g/dia) - a causa fundamental do edema é a redução da taxa de filtração glomerular (TFG). Essa queda da filtração pode ser discreta em alguns pacientes (com creatinina sérica normal), mas pode ser mais grave em outros, sendo que alguns ficam até anúricos (necessitando diálise). O edema é tão mais grave quanto maior for a redução da TFG, pois, como consequência desta, ocorrerá uma diminuição muito acentuada da carga filtrada de sódio (solutos) que será ainda mais reduzida após a maior reabsorção tubular desse íon. Assim, a pequena oferta distal de sódio permitirá a reabsorção quase total do Na+ tubular no nefro distal. Cai a excreção renal de sódio e acontece, desse modo, retenção de Na+ (e água, de equilíbrio osmótica). Essencialmente, é um rim com capacidade muito 3 MARC 3 – Heloísa Paraíso 7ºP pequena de excreção de Na+. Se fizermos restrição dietética de NaCl (rigorosa), pode não se formar edema - pois equilibraria a ingestão com a baixa excreção, sem retenção. Mas se o consumo de sódio for liberal, ocorrerá retenção de Na+ e expansão do volume do extracelular (VEC). Nessas condições, haverá edema e hipertensão arterial. Nos casos de insuficiência renal aguda (necrose tubular aguda) pode haver ou não a formação de edema. Essa doença cursa com destruição das células tubulares e pode evoluir desde oligoanúria até poliúria. Assim, a presença de edema dependerá da associação entre a redução da TFG, a redução na carga excretada de sódio e o aporte de sódio na dieta. Cabe lembrar que a presença de IRA é comum em pacientes críticos, sujeitos a grande aporte de líquidos por infusão parenteral, ricos em sódio, fator que pode levar a expansão do volume extracelular, aumento da pressão hidrostática capilar e edema. Edema Nefrótico Sempre que uma doença renal tiver a presença de lesões específicas da membrana basal glomerular e/ou dos pedicelos das células epiteliais glomerulares, haverá um aumento da permeabilidade glomerular às macromoléculas. Nessas condições, as proteínas plasmáticas são filtradas em grandes quantidades e a perda urinária (proteinúria) ultrapassa 3,5 g/24 h. Clinicamente, manifesta-se por urina espumosa (proteinúria) e edemas. Esse é um quadro que pode estar presente nas manifestações de várias doenças, portanto é chamado de Síndrome Nefrótica. O edema reflete a redução na pressão oncótica do plasma, o que irá acarretar uma menor reabsorção do fluido intersticial, na extremidade venosa do leito capilar. A hipoproteinemia, resultante da perda urinária de proteínas, é agravada pelo catabolismo aumentado da albumina, que acontece na síndrome nefrótica. A redução da pressão oncótica do plasma, resultante da hipoproteinemia, por si só, leva ao aparecimento de edema. Além disso, pode provocar contração do volume intravascular, que pode acarretar redução do débito cardíaco (redução da pré-carga) e consequente redução da perfusão renal. Esta, por sua vez, leva à ativação do SRAA, reduzindo a excreção renal de sódio. A queda da pressão arterial ou do volume plasmático pode, ainda, estimular a liberação de hormônio antidiurético, que irá provocar retenção de água e hiponatremia. Nessas condições, haverá maior reabsorção de Na+ e de água pelos túbulos renais. Quando houver maior atividade antidiurética, poderá ocorrer retenção de água (livre de solutos), que promoverá diluição do extracelular, causando hiponatremia. Esse fluido retido representa um efeito diluidor das proteínas plasmáticas, agravando a redução da pressão oncótica do plasma e reciclando o estímulo à formação de edema. Clinicamente, o edema renal caracteriza-se pela localização facial, particularmente com a presença de edema palpebral - é um edema matinal, que tende a dissipar-se com o correr do dia - além do inchaço de membros inferiores, que (ao contrário) se exacerba com o passar das horas, constituindo um edema vespertino. Pacientes nefróticos com albumina plasmática muito baixa podem apresentar edema generalizado, intenso e extenso (anasarca), inclusive com derrames cavitários (serosites:ascite, derrames pleural e/ ou pericárdico). 4 MARC 3 – Heloísa Paraíso 7ºP Edema Cardíaco Fundamentalmente, o que leva à formação desse edema é a queda do débito cardíaco, em consequência da falência do miocárdio. Como resultado, eleva-se a pressão venosa sistêmica ao mesmo tempo em que se reduz o volume arterial efetivo de sangue (VAES). O volume de sangue, que banha os átrios cardíacos, o ventrículo esquerdo (VE), o arco aórtico, o seio carotídeo e a arteríola aferente renal, é crítico para o controle da volemia, pois esses são segmentos providos de receptores de volume e pressorreceptores que acusam um maior ou menor enchimento do lado arterial da circulação. Desse modo, fala-se em repleção vascular, overfilling, ou depleção vascular arterial, underfilling. Assim, neste texto, quando se fala em redução do volume arterial efetivo de sangue (VAES), entende-se um enchimento deficiente do leito vascular arterial; expansão do VAES corresponderá a um enchimento supérfluo do leito cardiovascular arterial. A Figura 8 mostra que a queda do débito cardíaco (DC) na insuficiência cardíaca congestiva (ICC) acarreta uma elevação da pressão venosa sistêmica e distúrbio do equilíbrio das forças de Starling nos capilares periféricos. Prevalecendo a pressão hidráulica intravascular na extremidade venosa do capilar, fica dificultado o retorno do líquido intersticial para o capilar, e água acumula-se no interstício. Essa redistribuição do fluido extracelular concorre para a formação de edemas. A figura mostra, ainda, que outra consequência da queda no DC é a diminuição do VAES, ou seja, ocorrerá um enchimento deficiente do leito vascular arterial, com sensibilização de volumerreceptores e/ou pressorreceptores. A Figura 2 mostra a importante participação do sistema renina-angiotensina- aldosterona, levando à retenção renal de sódio. Além disso, a retenção de água, desacompanhada de soluto (água-livre) - por ação do HAD - pode levar à diluição do sódio plasmático (hiponatremia). Clinicamente, é um edema gravitário por excelência, por causa da pressão venosa elevada nas extremidades e, portanto, acentua-se com a ortostase, no correr do dia (edema vespertino). Em um paciente com edema generalizado, o diagnóstico de insuficiência cardíaca é realizado na presença de história de dispnéia progressiva, que se inicia aos grandes esforços e culmina com ortopnéia; a presença de episódios de dispnéia paroxística noturna; as queixas de nictúria, hemoptise, tosse ou cianose; os antecedentes pessoais de doenças cardíacas (Chagas, doença isquêmica do miocárdio, miocardiopatias, hipertensão arterial e febre reumática entre muitas outras) e aos achados do exame físico (taquicardia com ritmo de galope, 3° bulha, desvio do ictus cordis, estase jugular, estertores pulmonares crepitantes, derrame pleural e hepatomegalia). 5 MARC 3 – Heloísa Paraíso 7ºP Edema Cirrótico O processo cirrótico - resposta hepática a vários tipos de agressão que leva à fibrose e regeneração nodular do fígado - afeta a função hepática em consequência do que descrevemos a seguir: a) Alterações do funcionamento dos hepatócitos por causa das lesões celulares (necrose, proliferação), comprometendo, assim, a síntese de albumina. A hipoalbuminemia reduz a pressão oncótica do plasma e concorre para a formação do edema. b) Destruição da arquitetura lobular, canalicular e vascular, levando a distorções estruturais, que dificultam o livre fluxo de sangue e linfa nos sinusoides hepáticos - resultado disto é o aumento da pressão no território venoso (portal) e linfático (intra-hepático), que se conhece por hipertensão portal. Essa dificuldade de trânsito venoso através do fígado faz com que o sangue busque vias alternativas de tráfego, forçando o aparecimento de circulação colateral venosa, que promoverá um aumento da capacitância (venosa) esplênicnica, acarretando “aprisionamento” de sangue no território mesentérico. Esse sangue, sequestrado no leito venoso “ampliado”, irá prejudicar o enchimento vascular arterial underfilling, causando redução do volume efetivo de sangue com todas as consequências mostradas na Figura 2. c) Formação de shunts arteriovenosos. A insuficiência hepática é acompanhada de um tônus vascular em relaxamento devido à redução do metabolismo de várias substâncias vasodilatadoras e ao aumento da produção de óxido nítrico. Assim, com a redução da resistência vascular periférica, há redução do VAES e ativação dos mecanismos de controle de volume extracelular no sentido de retenção renal de água e sódio. Nesse sentido, são sólidas as evidências que mostram uma hiperatividade simpática e a ativação do SRAA, com consequente hiperaldosteronismo secundário, em pacientes cirróticos com ascite. A existência de hipertensão portal torna o território esplêncnico mais vulnerável na presença de hipoalbuminemia, daí a ocorrência de transudação líquida para a cavidade peritonial, formando ascite com maior exuberância nos pacientes cirróticos - que é uma das características clínicas desse tipo de edema. 6 MARC 3 – Heloísa Paraíso 7ºP SÍNDROME NEFRÍTICA INTRODUÇÃO Na pediatria síndrome nefrítica é igual a glomerulonefrite difusa aguda pós- estreptocócica (GNDA). Caracteriza-se fundamentalmente por processo inflamatório de origem imunológica que acomete todos os glomérulos de ambos os rins. FISIOPATOLOGIA Não está totalmente definida e há, na literatura, várias teorias que objetivam explicá-la. É provável a existência de um antígeno estreptocócico capaz de desencadear um processo imunológico que levaria à produção de anticorpos e, consequentemente, à formação de imunocomplexos nos glomérulos, isto é, formação de imunocomplexos in situ. As células de defesa irão causar inflamação no néfron. E essa inflamação irá causar a passagem de hemácias, causando a hematúria. Em termos fisiopatológicos, o processo inflamatório que ocorre nos capilares glomerulares determina perda da sua integridade e, consequentemente, a passagem de elementos que normalmente não são filtrados: hemácias, leucócitos e proteínas. Esse intenso processo inflamatório endocapilar glomerular reduz a luz desses capilares, causando diminuição do ritmo de filtração glomerular (RFG) pela redução do coeficiente de ultrafiltração, com consequente retenção de alguns compostos (creatinina, ureia, potássio, entre outros) que pode determinar lesão renal aguda. Esse evento agudo resulta em diminuição da oferta de água e sódio aos túbulos renais. Esses segmentos geralmente se encontram com sua função preservada e, portanto, promoverão reabsorção de água e sódio com desajuste do balanço glomerulotubular provocando oligúria, aumento do volume extracelular circulante (supressão do sistema renina-angiotensina-aldosterona), edema, hipertensão arterial e congestão circulatória. Além do aumento do volume circulante, acredita-se que, nos capilares sistêmicos, ocorram alterações das forças determinantes da lei de Starling, contribuindo para o aparecimento do edema. Na macroscopia, os rins encontram-se moderadamente aumentados de volume, e pontos hemorrágicos podem ser observados na cápsula. Na microscopia óptica, todos os glomérulos estão uniformemente envolvidos. QUADRO CLÍNICO Os sintomas clínicos clássicos: Edema Hipertensão arterial sistêmica → pode ser agravada pela ingestão de alimentos com elevado teor de sódio Hematúria → maioria dos casos macroscópica Manifestam-se 10 a 20 dias (no máximo 6 semanas) após a infecção estreptocócica de vias aéreas superiores ou de pele (impetigo). Edema de característica dura e não é gravitacional, diferentemente do edema da síndrome nefrótica que é mais mole, flácido e gravitacional. Hematúria glomerular → possui característica de dismorfismo eritrocitário(hemácia malformada) e presença de cilindros hemáticos. Na maior parte dos casos, o estado geral da criança está pouco comprometido e as queixas são vagas, como: Indisposição Inapetência cefaleia edema periorbital Muitas vezes, é evidenciado apenas por queixas indiretas, como aumento brusco de peso e/ou observação de roupas ou calçados apertados. Sintomas menos frequentes: cólicas abdominais hipertermia vômitos alimentares OBS: O pico de idade da síndrome nefrítica é 7anos (idade escolar). E é raro em crianças < 3 anos, pois elas não possuem receptores na amigdala para o estreptococos se grudar. 7 MARC 3 – Heloísa Paraíso 7ºP COMPLICAÇÕES Congestão circulatória É a complicação mais frequente. Caracteriza-se por sinais clínicos de hipervolemia, como taquicardia, dispneia, tosse, estertores subcrepitantes em bases pulmonares e hepatomegalia. Pode ser agravada por hipertensão e levar a insuficiência cardíaca congestiva e edema agudo de pulmão. Não há evidência de dano miocárdico intrínseco. Encefalopatia hipertensiva Deve-se essencialmente à hipertensão e apresenta quadro clínico variável, podendo ocorrer cefaleia, vômitos, alterações visuais (diplopia ou amaurose transitória), irritabilidade, agitação, sonolência, crise convulsiva ou coma. Ao exame de fundo de olho, não se observam habitualmente as alterações características de hipertensão arterial, embora alguns pacientes possam apresentar vasoespasmo na retina. Insuficiência renal aguda (IRA) É a menos comum das complicações da GNDA. Estabelece-se oligoanúria intensa, retenção de escórias proteicas no plasma e distúrbios hidreletrolíticos graves, com tendência à hiperpotassemia. DIAGNÓSTICO Confirmação de infecção estreptocócica strep test (passa o cotonete na garganta e vem positivo ou negativo para estreptococos) Cultura oral ou da pele Sorologia: ASLO (antiestreptolisina O), anti-DNAse B, anti- hialuronidase Descartar outras etiologias Lupús eritematoso sistêmico → realizar a coleta do FAN Hepatites, HIV → realizar a sorologia Exames gerais Ureia, creatinina, hemograma, eletrólitos Dosagem do complemento sérico é obrigatória para o diagnóstico de GNDA Seus valores encontram-se diminuídos em 95 a 98% dos casos Normalização dos níveis: 4 a 8 semanas Marcador importante de prognóstico e diagnóstico diferencial Os níveis de ureia e creatinina podem estar elevados em grau discreto ou moderado. Se a elevação for significativa, podem traduzir doença renal prévia ou glomerulonefrite rapidamente progressiva. As alterações no sódio, potássio e bicarbonato dependem do grau de déficit da função renal. Geralmente, observa-se discreta anemia dilucional, decorrente da hipervolemia. Dentre as principais alterações urinárias, destacam-se: densidade urinária conservada, em torno de 1015 a 1020, na fase aguda da doença, pela preservação da capacidade de concentração urinária relacionada à integridade tubular; hematúria macroscópica ou microscópica acompanhando cerca de 95% dos casos; cilindros hemáticos, hialinos, granulosos e leucocitários, sendo os hemáticos sugestivos de hematúria glomerular; proteinúria, raramente em níveis nefróticos (> 50 mg/kg/ dia), e que, na fase aguda, não se correlaciona com gravidade da nefropatia. Biópsia renal Indicações de quando biopsiar um paciente com síndrome nefrítica: > 3 dias de oligoanúria > 4 semanas de azotemia, HAS, hematúria macroscópica, proteinúria nefrótica > 8 semas de queda do complemento C3 É encontrado na biópsia (anatomopatológico): GNPE = GNDA → processo inflamatório de todo o rim (difuso) e agudo (presença de neutrófilos) Principal diagnóstico diferencial: GESF (glomérulo-esclerose-segmentar- focal) → não é difuso (apenas uma parte do néfron inflamado) 8 MARC 3 – Heloísa Paraíso 7ºP TRATAMENTO Suporte/sintomáticos: Repouso Restrição hídrica: 20 mL/kg/dia ou 300 a 400 mL/m2 / dia. Quando houver regressão do edema, devem-se acrescentar as perdas do dia anterior (diurese e/ou vômitos). Restrição de sódio A restrição de potássio está indicada apenas nos casos de oligúria importante. Tratamento medicamentoso Infecção estreptocócica Penicilina V na dose de 25.000 a 50.000 UI/ kg/dia, por via oral (VO), a cada 6 horas, durante 8 a 10 dias Penicilina benzatina em dose única de 600.000 U para crianças com menos de 25 kg e 1.200.000 U para crianças com mais de 25 kg Diuréticos A furosemida, na dose de 1 a 5 mg/kg/dia, está indicada nos casos de congestão cardiocirculatória importante, oligoanúria e hipertensão sintomática. Hipotensores Devem ser utilizados somente nos casos em que a hipertensão persiste apesar do desaparecimento do edema e da oligúria, ou nos casos de hipertensão sintomática. As drogas mais utilizadas são: hidralazina: 0,2 a 0,5 mg/kg/dose, endovenosa (EV), a cada 4 ou 6 horas, ou 1 a 4 mg/kg/dia, VO, a cada 8 horas; nifedipina: 0,10 a 0,25 mg/kg/dose, a cada 3 a 4 horas, ou 1 a 3 mg/kg/dia, VO, a cada 6 ou 12 horas (por causa do risco de hipotensão, recomenda-se monitoração rigorosa de frequência cardíaca, pressão arterial e reflexo pupilar). SÍNDROME NEFRÓTICA IDIOPÁTICA INTRODUÇÃO A síndrome nefrótica (SN) caracteriza-se essencialmente pela presença de proteinúria maciça de caráter nefrótico e hipoalbuminemia (≤ 2,5 g/dL), enquanto o quadro completo inclui edema, hiperlipidemia e lipidúria. Proteinúria nefrótica: ≥ 50 mg/kg/dia ou ≥ 40 mg/ m2 /hora. Relação proteína/creatinina em amostra isolada: proteinúria nefrótica quando essa relação é > 2 em mg/mg (U P/Cr > 2). → utilizada pela dificuldade de coleta de urina na faixa pediátrica. Na infância, 80 a 90% dos casos correspondem a SN primária ou idiopática (SNI), e o restante, a causas secundárias, como associação com doenças sistêmicas, metabólicas, infecciosas, doenças autoimunes, drogas, entre outras. 9 MARC 3 – Heloísa Paraíso 7ºP OBS: Seram liberados na urina albumina, apolipoproteina B (ApoB), atitrombina III e imunoglobulinas, principalmente IgG. OBS: Mais comum em menores de 6 anos, com pico aos 3 anos. QUADRO CLÍNICO Edema → intenso, mole, frio, depressível, em geral insidioso, podendo evoluir para anasarca. Edema gravitacional: acorda de manhã com edema no rosto (periorbital) e com o passar do dia o edema vai para os MMII. Ganho de peso A criança não tratada ou que não responde bem à terapia apresenta-se adinâmica, evoluindo com ascite e hepatomegalia. Pode decorrer taquipneia pela compressão torácica. Derrame pleural Aumento de volume dos genitais, principalmente no sexo masculino. Os cabelos são escassos, finos e quebradiços por causa da desnutrição. A pele é seca e friável com tendência de formação de estrias. A pressão arterial na LHM geralmente é normal, mas, em alguns casos, ocorre hipertensão transitória. A presença de distúrbios eletrolíticos (hipocalcemia, hipopotassemia, hiponatremia, etc.) pode se manifestar por alterações clínicas como cãibras, parestesias, síndrome convulsiva, etc. Na GESF e nas outras glomerulopatias que não a LHM, manifestações clínicas, como náuseas, vômitos, cefaleia, alteração do sensório, etc., podem estar relacionadas com uremia. A dor abdominal também se manifesta nas grandes descompensações e em situações de hipovolemia ou associadas à peritonite primária ou celulites de parede abdominal, algumas vezes podendo confundir-se com apendicite aguda. Observar sinais de descalcificação óssea relacionada às alterações do metabolismo de vitamina D, cálcio e fósforo, particularmente naqueles casos de longa duração e/ou resistência à terapia imunossupressora. A atopia é frequente, com prevalência de processos alérgicos dasvias aéreas ou de pele. Proteinúria nefrótica → urina espumosa Hiperalbuminemia < 2,5 mg/dL Hiperlipidemia → como a criança perde muita ApoB, o fígado quer compensar produzindo muita proteína e ao produzir proteína acaba produzindo mais gordura. DIAGNÓSTICO Exames laboratoriais Sedimento urinário Proteinúria hematúria, geralmente microscópica cilindrúria relacionada às perdas proteicas lipidúria Proteinúria Considera-se a proteinúria nefrótica acima de 50 mg/kg/dia ou 40 mg/m²/hora. Em amostra isolada de urina, valores > 2 são compatíveis com proteinúria nefrótica. O teste com ácido sulfossalicílico a 10% é um método alternativo e útil, principalmente no acompanhamento ambulatorial. Eletroforese de proteínas plasmáticas hipoalbuminemia e aumento da fração alfa-2. A IgG, especialmente IgG-1 e IgG-2, apresenta-se muito baixa, e a IgA e a IgM, elevadas. IgE pode estar aumentada Hipergamaglobulinemia: indicativa de patologia secundária subjacente. Colesterol Colesterol total, triglicérides e lipoproteínas acham-se elevados. A hiperlipidemia é consequência do aumento da síntese hepática de colesterol, triglicérides e lipoproteínas; da redução no catabolismo das lipoproteínas decorrente do aumento da atividade das lipases lipoproteicas; da perda urinária de HDL; e da redução da atividade do receptor de LDL. 10 MARC 3 – Heloísa Paraíso 7ºP Complemento Apresenta-se normal na LHM e na GESF; a constatação de hipocomplementemia é indicação formal para biópsia renal, podendo estar presente, por exemplo, no lúpus eritematoso, na glomerulonefrite membranoproliferativa, na glomerulonefrite crescêntica e na nefrite do shunt. Ureia e creatinina Podem estar elevadas na instalação do edema ou em situações de hipovolemia. Em outras glomerulopatias (p.ex., GESF ou nefrotoxicidade), pode- se encontrar aumento persistente. Devem ser pesquisadas causas secundárias com solicitação de reações sorológicas para HIV, hepatite A, B e C, toxoplasmose, citomegalovírus, sífilis e mononucleose. Indicações de biópsia renal (BR) TRATAMENTO Tratamento inespecífico Conscientização e elucidação da natureza, da progressão e do comportamento da doença, além de dúvidas quanto à medicação. Durante as fases de edema ou quando houver hipertensão, deve ser recomendada uma dieta hipossódica ou assódica. Na ausência de hipervolemia, a ingestão hídrica é livre. O repouso não deve ser imposto e não há evidência de que traga benefícios para o paciente. Evidências de hipovolemia como taquicardia, pulsos fracos, extremidades frias, hipotensão e outros fatores adicionais, como hemoconcentração, elevação desproporcional da ureia e baixa fração de excreção de sódio (< 0,5%) → realizar infusão de solução salina 15 a 20 mL/kg por 20 a 30 minutos e repetir conforme necessário. A infusão de albumina 20% (0,5 a 1 g/kg) é útil para aqueles pacientes que não respondem à expansão inicial. Diuréticos devem ser evitados: risco de precipitação de piora da função renal Anasarca sem hipovolemia: introduzir diuréticos tiazídicos como a hidroclorotiazida (2 a 5 mg/kg/dia em 2 tomadas) Evitar a depleção de potássio: cloreto de potássio (2 a 4 mEq/kg/dia) ou espironolactona (1 a 5 mg/kg/dia). Tratamento específico Classicamente, para induzir remissão, utiliza-se prednisona diária (60 mg/m2 ou 2 mg/kg/dia; máximo de 60 mg/dia 3 vezes/dia ou dose única) durante 4 a 6 semanas. Caso tenha ocorrido remissão, introduz-se 40 mg/m2 ou 1,5 mg/kg em dias alternados em dose única pela manhã (máximo de 40 mg/dia) por 4 a 6 semanas. Esse esquema é mantido por 6 meses, com diminuição lenta e progressiva da dose, caso a remissão se mantenha. Em casos com recidivas dentro dos 6 meses iniciais, volta-se para o esquema diário, mantido até 3 dias consecutivos após a remissão e, a seguir, reintroduz-se o corticosteroide em dias alternados. Se houver resistência ao tratamento inicial, pode-se utilizar pulsoterapia adicional com metilprednisolona (MP) 30 mg/kg/dose (máximo de 1 g) em dias alternados, 3 a 6 doses. Caso ocorra remissão completa, prosseguir a corticoterapia em esquema alternado por 1 ano, diminuindo a dose progressiva e lentamente. 11 MARC 3 – Heloísa Paraíso 7ºP É importante a vigilância no controle da pressão arterial e o tratamento precoce das infecções. As infecções funcionam como gatilho para a descompensação da SN, dessa forma, durante os processos infecciosos, deve ser utilizado corticosteroide diário na mesma dose de manutenção por 5 a 7 dias para reduzir o risco de recaídas em crianças com recidivas frequentes ou corticodependentes. A terapia prolongada com corticosteroides pode ocasionar efeitos adversos significativos. O uso de outros imunossupressores, como ciclofosfamida, ciclosporina e levamizol, pode permitir a redução ou a retirada do corticosteroide. REFERÊNCIAS SBP - Tratado de Pediatria, Vol 1, 4º ed. COELHO, Eduardo Barbosa. Mecanismos de formação do edema. 2014.
Compartilhar