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1 MARC 4 – Heloísa Paraíso 7ºP TRANSTORNOS DISSOCIATIVOS/CONVERSÃO O Transtorno Dissociativo, também conhecido como distúrbio de conversão, é um transtorno mental no qual a pessoa sofre de um desequilíbrio psicológico, havendo alterações na consciência, memória, identidade, emoção, percepção do ambiente, controle dos movimentos e comportamento. Assim, a pessoa com este transtorno pode vivenciar diferentes tipos de sinais e sintomas de origem psicológica, que surgem de forma isolada ou em conjunto, sem que haja qualquer doença física que justifique o caso. Os diferentes tipos de transtornos dissociativos tendem a desaparecer após algumas semanas ou meses, em particular quando sua ocorrência se associou a um acontecimento traumático. A evolução pode igualmente se fazer para transtornos mais crônicos, em particular paralisias e anestesias, quando a ocorrência do transtorno está ligada a problemas ou dificuldades interpessoais insolúveis. Os principais são: AMNÉSIA DISSOCIATIVA A principal característica dessa amnésia é uma incapacidade de lembrar de informações pessoais importantes, normalmente de natureza traumática ou estressante, que é extensa demais para ser explicada por esquecimento habitual. Etiologia Pode seguir-se a acidentes catastróficos, como guerra, acidentes aéreos Fatos vivenciais traumáticos ou moralmente muito condenáveis, como assaltos, estupros e traição de um ente querido e de confiança. Diagnóstico Para que se possa dar o seu diagnóstico, deve ocorrer na ausência de outro transtorno cerebral concomitante, como traumatismos cranianos e estados pós-convulsivos. Características clínicas Apresentação clássica: Costuma ser encontrado naqueles que sofreram trauma agudo extremo. No entanto, também é comum se desenvolver no contexto de estresse emocional ou conflito intrapsíquico profundo. Os pacientes podem apresentar sintomas somatoformes ou de conversão intercorrentes, alterações de consciência, depersonalização, desrealização, estados de transe, regressão espontânea de idade e até amnésia dissociativa anterógrada contínua. 2 MARC 4 – Heloísa Paraíso 7ºP Apresentação não clássica. Esses indivíduos frequentemente procuram tratamento para diversos sintomas, tais como depressão ou mudanças de humor, abuso de substâncias, perturbação do sono, sintomas somatoformes, ansiedade e pânico, impulsos e atos suicidas e automutilatórios, estouros violentos, problemas de alimentação e problemas interpessoais. O comportamento automutilatório e violento nesses pacientes também pode vir acompanhado de amnésia. A amnésia também pode ocorrer para flashbacks ou episódios de reexperiência comportamental relacionados a trauma. Curso e prognóstico Costuma se resolver de maneira espontânea quando a pessoa é afastada com segurança das circunstâncias traumáticas. No outro extremo, alguns pacientes desenvolvem formas crônicas de amnésia localizada generalizada, contínua ou grave, sendo profundamente deficientes e exigindo altos níveis de apoio social, tais como monitoramento em uma casa de repouso ou cuidado familiar intenso. Os médicos devem tentar lhes restaurar as memórias perdidas à consciência assim que possível; do contrário, a memória reprimida pode formar um núcleo na mente inconsciente, levando a episódios amnésicos futuros. Tratamento Terapia cognitiva: Identificar as distorções cognitivas específicas que se baseiam no trauma pode proporcionar uma entrada na memória autobiográfica para a qual o paciente sofre a amnésia. Conforme ele se torna apto a corrigir distorções cognitivas, particularmente sobre o significado de traumas anteriores, memórias mais detalhadas dos eventos traumáticos podem surgir. Hipnose: as intervenções hipnóticas podem ser usadas para conter, modular e titular a intensidade dos sintomas; facilitar a lembrança controlada de memórias dissociadas; proporcionar apoio e fortalecer o ego do paciente; e, por fim, promover o trabalho e a integração do material dissociado. Terapias somáticas: Não há farmacoterapia conhecida para amnésia dissociativa além das entrevistas facilitadas por fármacos. Diversos agentes foram usados para esse propósito, incluindo amobarbital sódico, tiopental, benzodiazepínicos orais e anfetaminas. Psicoterapia em grupo: Durante as sessões em grupo, os pacientes podem recuperar memórias para as quais têm amnésia. Intervenções de apoio pelos membros do grupo ou pelo terapeuta (ou por ambos) podem facilitar a integração e o domínio do material dissociado. FUGA DISSOCIATIVA A fuga dissociativa é descrita como uma viagem súbita e repentina para longe de casa ou do seu lugar de vivência costumeiro, com incapacidade de lembrar de parte ou de todo o passado. Isso vem acompanhado de confusão sobre a própria personalidade ou até da apropriação de uma nova identidade. O episódio não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância ou de uma condição médica geral. Os sintomas devem causar sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes do funcionamento. 3 MARC 4 – Heloísa Paraíso 7ºP Etiologia Circunstâncias traumáticas (i.e., estupro, combate, abuso sexual infantil recorrente, deslocamentos sociais massivos, desastres naturais), que levam a um estado de consciência alterado dominado por um desejo de fuga são as causas subjacentes da maioria dos episódios de fuga. Diagnóstico e características clínicas Capaz de durar de minutos a meses. Alguns pacientes relatam múltiplas fugas. Na maioria dos casos em que isso foi descrito, um transtorno dissociativo mais crônico, como um transtorno dissociativo de identidade, não foi excluído. Em alguns casos extremos de TEPT, os pesadelos podem acabar com uma fuga real, em que o paciente corre para outra parte da casa ou foge para fora. Curso e prognóstico A maior parte dos indivíduos parece se recuperar, apesar de amnésia dissociativa refratária poder persistir em casos raros. Alguns estudos descreveram fugas recorrentes na maioria dos indivíduos que apresentam um episódio de fuga dissociativa. Não há dados sistemáticos modernos que tentem diferenciar essa fuga do transtorno dissociativo de identidade com fugas recorrentes. Tratamento A fuga dissociativa costuma ser tratada com uma psicoterapia eclética, orientada psicodinamicamente, que se concentra em ajudar o paciente a recuperar a memória da identidade e da experiência recente. Hipnoterapia e entrevistas facilitadas por fármacos. Preparo dos médicos em casos de ideias suicidas ou autodestrutivas. A hospitalização psiquiátrica pode ser indicada se o paciente for ambulatorial. TRANSTORNO DISSOCIATIVO DE IDENTIDADE O transtorno dissociativo de identidade, anteriormente chamado de transtorno de múltiplas personalidades, tem sido o transtorno dissociativo mais pesquisado de todos. Ele se caracteriza pela presença de duas ou mais identidades distintas ou estados de personalidade. As identidades ou os estados de personalidade, às vezes chamados de alters, autoestados, alter identidade ou partes, entre outros termos, diferem uns dos outros na forma como cada um se apresenta com um padrão próprio de percepção, relacionamento e pensamento sobre o ambiente e o eu; em suma, sua própria personalidade. Trata-se da psicopatologia dissociativa paradigmática, já que os sintomas de todos os outros transtornos dissociativos são em geral encontrados em pacientes com transtorno dissociativo de identidade: amnésia, fuga, despersonalização, desrealização e sintomas semelhantes. Etiologia O transtorno dissociativo de identidade é fortemente ligado a experiências graves de trauma infantil, via de regra maus-tratos. Abuso físico e sexual são relatados com maior frequência como fontesde trauma infantil. Diagnóstico e características clínicas Característica principal: presença de dois ou mais estados distintos de personalidade. No entanto, há muitos outros sinais e sintomas que definem o transtorno, e, em razão da grande diversidade, isso torna o diagnóstico difícil. 4 MARC 4 – Heloísa Paraíso 7ºP Exame do estado mental: Um exame do estado mental cuidadoso e detalhado é essencial para realizar o diagnóstico. É fácil confundir pacientes que apresentam esse transtorno com pessoas sofrendo de esquizofrenia, transtorno da personalidade borderline ou simplesmente simulando. Memória e sintomas de amnésia: Como parte do exame do estado mental geral, os médicos devem rotineiramente perguntar sobre experiências de perda do tempo, períodos de apagão e grandes falhas de continuidade na memória de informações pessoais. Pacientes com transtorno dissociativo costumam relatar falhas significativas na memória autobiográfica, especialmente para eventos da infância. Essas falhas costumam ser bem demarcadas e não se enquadram no declínio normal na memória autobiográfica para idades mais jovens. Alterações dissociativas na identidade: Alterações dissociativas clínicas na identidade podem começar a se manifestar por estranhas referências a si mesmo em primeira pessoa do plural ou terceira pessoa. Além disso, os pacientes podem se referir a si mesmos usando seu primeiro nome ou fazendo autorreferências despersonalizadas, tais como “o corpo”, ao se descreverem e falarem de outros. Eles frequentemente descrevem um profundo senso de divisão interna concretizada ou de conflitos internos personalizados entre partes de si. Em algumas instâncias, essas partes podem ter nomes próprios ou podem ser designadas por seu efeito ou sua função predominante, por exemplo, “o furioso” ou “a esposa”. Os pacientes podem mudar de repente a forma como se referem aos outros, por exemplo, “o filho” em vez de “meu filho”. Outros sintomas associados: A maioria dos pacientes com transtorno dissociativo de identidade se enquadra nos critérios diagnósticos para um transtorno do humor, em geral um dos transtornos do espectro depressivo. Alterações rápidas e frequentes de humor são comuns, mas elas costumam ser causadas por fenômenos dissociativos de estresse pós-traumático, e não por um verdadeiro transtorno cíclico do humor. Pode haver sobreposição considerável entre sintomas de ansiedade do TEPT, sono perturbado e sintomas de transtorno do humor e disforia. Traços de personalidade obsessivo-compulsivos são comuns no transtorno dissociativo de identidade, e sintomas do transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) intercorrentes são frequentemente encontrados. Os sintomas do TOC costumam ter uma qualidade pós-traumática: verificar várias vezes para se certificar de que ninguém possa entrar na casa ou no quarto, lavar-se compulsivamente para aliviar a sensação de sujeira devido a abuso e contar ou cantar mentalmente repetidas vezes para se distrair da ansiedade de sofrer abuso, por exemplo. 5 MARC 4 – Heloísa Paraíso 7ºP Curso e prognóstico Acredita-se que alguns indivíduos nessa situação continuem a se envolver em relacionamentos abusivos ou subculturas violentas, ou ambos, que possam resultar no trauma de seus filhos, com o potencial de transmissão adicional do transtorno à família. Muitos autores acreditam que uma porcentagem dos pacientes não tratado ou não diagnosticado morra por suicídio ou como resultado de seus comportamentos de alto risco. O prognóstico é pior em pacientes com: transtornos mentais orgânicos comórbidos transtornos psicóticos (transtorno não dissociativo de identidade, pseudopsicose) doenças clínicas graves abuso refratário de substâncias e transtornos alimentares personalidade antissocial, atividade criminosa atual abuso contínuo e vitimização atual, com a recusa de deixar relacionamentos abusivos traumas adultos repetidos com episódios recentes de transtorno de estresse agudo Tratamento Psicoterapia: incluem psicoterapia psicanalítica, terapia cognitiva, terapia comportamental, hipnoterapia e uma familiaridade com psicoterapia e com o manejo psicofarmacológico do paciente traumatizado. Terapia cognitiva: Muitas distorções cognitivas associadas com transtornos dissociativos de identidade respondem lentamente a técnicas de terapia cognitiva, e intervenções bem-sucedidas podem levar a disforia adicional. Hipnose: As intervenções hipnoterapêuticas frequentemente podem aliviar impulsos autodestrutivos ou reduzir sintomas, tais como flashbacks, alucinações dissociativas e experiências de influência passiva. Ensinar auto- hipnose ao paciente pode ajudar com crises fora das sessões. A hipnose pode ser útil para acessar estados de alter personalidades específicos e seus afetos e memórias. Ela também é empregada para criar estados de relaxamento mental, nos quais eventos negativos podem ser examinados sem grande ansiedade. Intervenções psicofarmacológicas: Os medicamentos antidepressivos costumam ser importantes na redução da depressão e na estabilização do humor. Diversos sintomas de TEPT, sobretudo os intrusivos e de excitabilidade aumentada, são parcialmente responsivos aos medicamentos. Os médicos relatam algum sucesso com ISRSs, antidepressivos tricíclicos e inaladores monoaminoxidase, β-bloqueadores, clonidina, anticonvulsivantes e benzodiazepínicos na redução de sintomas intrusivos, excitabilidade aumentada e ansiedade em pacientes com transtorno dissociativo de identidade. Eletroconvulsoterapia: Para alguns pacientes, a ECT ajuda a melhorar transtornos refratários do humor sem piorar problemas dissociativos de memória. Tratamentos adjuntos Terapia em grupo Terapia de família Terapias expressivas e ocupacionais Dessensibilização e reprocessamento por movimentos oculares (EMDR). 6 MARC 4 – Heloísa Paraíso 7ºP OUTRO TRANSTORNO DISSOCIATIVO ESPECIFICADO OU NÃO ESPECIFICADO TRANSTORNO DISSOCIATIVO DE TRANSE O transtorno dissociativo de transe manifesta-se por uma alteração temporária e marcante no estado de consciência ou pela perda do senso costumeiro de identidade pessoal sem ser substituído por um senso alternado de identidade. Uma variação disso, o transe de possessão, envolve alternâncias únicas ou episódicas no estado de consciência, caracterizadas pela troca da identidade costumeira da pessoa por uma nova identidade, em geral atribuída a um espírito, poder divino, divindade ou outra pessoa. Nesse estado possuído, o indivíduo exibe comportamentos estereotipados e culturalmente determinados ou sente que está sendo controlado pela entidade possuidora. Deve haver amnésia parcial ou total para o evento. LAVAGEM CEREBRAL O DSM-5 descreve esse transtorno dissociativo como uma “perturbação de identidade devido a persuasão coerciva intensa e prolongada”. A lavagem cerebral costuma ocorrer em um cenário de reforma política, como foi amplamente descrito na Revolução Cultural na China comunista, prisões de guerra, tortura de dissidentes políticos, reféns terroristas e, mais comum no Ocidente, doutrinação em cultos totalitários. Ela implica que, sob condições adequadas de estresse e coerção, os indivíduos podem passar a acatar as demandas de quem está no poder, passando, assim, por grandes alterações em sua personalidade, suas crenças e seus comportamentos. Pessoas sujeitas a tais condições podem sofrer danos consideráveis, incluindo perda da saúde e da vida, e costumam manifestar diversos sintomas pós-traumáticos e dissociativos. SÍNDROME DA MEMÓRIA RECUPERADA Sob hipnose ou durante psicoterapia, o paciente pode recuperar uma memória de uma experiência ou de um conflito doloroso (sobretudo de abuso físico ou sexual) que é etiologicamente significativa. Quandoo material reprimido volta à consciência, a pessoa pode não recordar a experiência, mas revivê-la, acompanhada pela resposta afetiva adequada (um processo chamado de ab- reação). Se o evento relembrado nunca aconteceu, mas a pessoa acredita ser verdade e reage de acordo, ele fica conhecido como síndrome da falsa memória. SÍNDROME DE GANSER A síndrome de Ganser é uma condição mal compreendida caracterizada pelo fornecimento de respostas aproximadas (paralogia) junto com um enevoamento da consciência com frequência acompanhado de alucinações e outros sintomas dissociativos, somatoformes ou de conversão. Etiologia Alguns casos relatados identificam estressores precipitantes, tais como conflitos pessoais e revezes financeiros, enquanto outros notam síndromes cerebrais orgânicas, lesões encefálicas, convulsões ou doenças psiquiátricas. Explicações psicodinâmicas são comuns na literatura mais antiga, mas etiologias orgânicas são enfatizadas em estudos de caso mais recentes. Especula-se que os insultos orgânicos possam agir como estressores agudos, precipitando a síndrome em indivíduos vulneráveis. Alguns pacientes relataram histórias significativas de maus-tratos infantis e adversidade. Diagnóstico e características clínicas O sintoma de passar pela (vorbeigehen) resposta correta devido a uma resposta relacionada, mas incorreta, é a marca da síndrome de Ganser. As respostas aproximadas costumam estar erradas por pouco, mas apresentam uma relação evidente com a pergunta, indicando que ela foi compreendida. Quando perguntaram a uma mulher de 25 anos quantos anos tinha, ela respondeu: “Eu não tenho 5”. Se lhe pedissem para realizar contas simples (p. ex., 2 + 2 = 5); para fornecer informações gerais (a capital dos Estados 7 MARC 4 – Heloísa Paraíso 7ºP Unidos é Nova York); para identificar objetos simples (um lápis é uma chave); ou para nomear as cores (verde é cinza), o paciente com síndrome de Ganser daria respostas errôneas, mas compreensíveis. Um enevoamento da consciência também ocorre, normalmente manifesto por desorientação, amnésia, perda de informações pessoais e algum prejuízo da noção de realidade. Alucinações visuais e auditivas ocorrem em cerca de metade dos casos. DIFERENCIAR TRANSTORNOS SOMATOFORMES, CONVERSIVOS, FACTÍCIOS E SIMULAÇÃO TRANSTORNOS SOMATOFORMES A característica principal dos transtornos somatoformes, segundo a classificação de doenças (CID-10), é a presença de sintomas físicos, que sugerem alguma doença orgânica ou física e não são produzidos intencionalmente. Presença de sintomas físicos Ausência de alterações clinicas Ausência de alterações em exames Ocorrem associados a busca persistente de assistência médica. Apesar de os médicos nada encontrarem de anormal, as queixas persistem e, quando há alguma alteração orgânica, esta normalmente não justifica a queixa. Para que haja diagnóstico de transtorno somatoforme, deve haver, junto as queixas, algum sofrimento ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional. A diferença entre os transtornos somatoformes e as doenças psicossomáticas está no fato de estas últimas apresentarem, além da queixa, de fato, alguma alteração orgânica constatável clinicamente. Importância clínica → enorme prevalência e assiduidade com que os pacientes se utilizam do sistema de saúde Existem vários transtornos somatoformes: Transtorno de somatização ou síndrome de Brinquet Transtorno hipocondríaco Transtorno neurovegetativo somatoforme Transtorno doloroso somatoforme persistente Transtorno dismórfico corporal Transtorno somatoforme indiferenciado Porém, o principal é o transtorno de somatização, considerado sinônimo de transtorno somatoforme. TRANSTORNO DE SOMATIZAÇÃO Característica principal é a elaboração de múltiplas queixas somáticas, que são recorrentes e clinicamente significativas, resultando em algum tratamento médico. História de dor incaracterística e de difícil explicação médica que acomete, sobretudo, a cabeça, as costas, as articulações, as extremidades e o tórax, ou história de comprometimento nas funções de órgãos, como em relação as menstruações, ao intercurso sexual, a digestão ou ao funcionamento intestinal. As queixas levam a frequentes exames médicos, radiográficos, tomográficos e mesmo a cirurgias exploratórias desnecessárias. Como os portadores do transtorno de somatização são previamente histeriformes, em geral, descrevem suas queixas em termos dramáticos, eloquentes e excessivos ou, curiosamente, ao contrário, ou seja, completamente indiferentes a sugerida gravidade do problema. Longo histórico de hospitalizações e extensa trajetória médica O transtorno é mais comum entre mulheres e inicia-se na idade adulta, após os 30 anos. Dependência e abuso de sedativos e analgésicos são bastante frequentes. 8 MARC 4 – Heloísa Paraíso 7ºP Diagnóstico Para o diagnóstico, deve haver, pelo menos 2 anos de sintomas múltiplos, sem explicação clínica, recusa pelo paciente de que não há explicação física para os sintomas e prejuízo em seu funcionamento social e familiar. TRANSTORNO DISSOCIATIVO (CONVERSIVOS) Segundo a CID-10, os transtornos dissociativos caracterizam-se por perda parcial ou completa das funções normais de integração da memória, da consciência, da identidade e das sensações imediatas, e do controle dos movimentos corpóreos. Tendem a desaparecer após algumas semanas ou meses, em particular quando a ocorrência se associa a acometimento traumático. A evolução pode igualmente acontecer para transtornos mais crônicos, particularmente paralisias e anestesias, quando o transtorno está ligado a problemas ou dificuldades interpessoais insolúveis. Admite-se que sejam psicogênicos, uma vez que ocorrem em relação temporal estreita com eventos traumáticos, problemas insolúveis, ou relações interpessoais difíceis. O exame médico e os exames complementares não permitem colocar em evidencia um transtorno físico (em particular neurológico) conhecido. Existem vários transtornos dissociativos: Amnésia → individuo não lembra de dados biográficos e geralmente ocorre após evento traumático e melhora espontaneamente. Fuga → individuo sai da sua casa e vai para outro lugar em que fica dias. Geralmente é acompanhada de uma amnesia. Estupor → individuo não consegue se mexer e nem conversar. Convulsões → porém sem alterações neurológicas. Anestesias → individuo não sente um braço ou uma perna ou até mesmo para de enxergar ou sentir cheiro. Personalidade múltipla → existência de duas ou mais personalidades distintas e separadas em uma só pessoa. Quando o paciente manifesta determinada personalidade, há amnesia em relação a outra. A transição entre as personalidades é súbita e dramática. Despersonalização-desrealização → alteração persistente ou recorrente na percepção de si mesmo, como a experiência de sentir-se separado do próprio corpo, de agir mecanicamente ou de estar em um sonho. Sensação de irrealidade para o próprio corpo. Normalmente é acompanhada de ansiedade. Também pode estar presente um sentimento de que o mundo externo é estranho ou irreal. Pode perceber objetos maiores que o seu tamanho (macropsia) ou menores (micropsia), assim como parecer mecânicas as pessoas a sua volta. TRANSTORNO FACTÍCIO Também chamado de síndrome de Munchausen, o transtorno factício é definido pela CID-10 por presença de sintomas físicos ou psicológicos, intencionalmente produzidos ou simulados com a finalidade de assumir o papel de doente. O julgamento de que determinado sintoma é intencionalmente produzido é feito por evidências diretas e pela exclusão de outras causas. Por exemplo, um indivíduo que se apresenta com hematúria é descoberto com anticoagulantes em seu poder, nega tê-los consumido,mas os exames de sangue condizem com a ingestão de anticoagulantes. Cabe notar que presença de sintomas factícios não exclui a coexistência de sintomas somáticos ou psicológicos verdadeiros. No caso de crianças, quando a mãe intencionalmente produz algum sintoma no filho pequeno, visando mantê-lo no papel de paciente, o transtorno é chamado transtorno factício por procuração (ou Munchausen por procuração). 9 MARC 4 – Heloísa Paraíso 7ºP SIMULAÇÃO Os transtornos factícios são diferenciados de atos de simulação. Nos atos de simulação o indivíduo também produz os sintomas de modo intencional, porém com um objetivo obviamente perceptível quando as circunstâncias ambientais se tornam conhecidas. Exemplo: a produção intencional de sintomas para livrar-se de uma prova ou de uma viagem. Da mesma forma, seria um ato de simulação se um indivíduo hospitalizado para tratamento de transtorno mental simulasse piora da doença para evitar a transferência para outro hospital menos desejável. Em contrapartida, no transtorno factício, a motivação é uma necessidade psicológica de assumir o papel de enfermo, evidenciada por ausência de incentivos externos para o comportamento. A simulação pode ser considerada adaptativa sob certas circunstâncias, mas, por definição, o diagnóstico de transtorno factício sempre indica psicopatologia. CONDIÇÕES PRODUÇÃO DE SINTOMAS GANHO SECUNDÁRIO Simulação Voluntária Presente Transtorno factício Voluntária Ausente Transtorno somatoforme Involuntária Ausente Transtorno dissociativo Involuntária Ausente REFERÊNCIAS KAPLAN e SADOCK. Compêndio de Psiquiatria, 11º edição. Medcel
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