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Ética e Responsabilidade Social

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ÉTICA E 
RESPONSABILIDADE 
SOCIAL
Autoria: Giovani Mendonça Lunardi
Indaial - 2021
UNIASSELVI-PÓS
1ª Edição
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Hermínio Kloch
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: 
Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Jóice Gadotti Consatti
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Marcelo Bucci
Revisão de Conteúdo: Bárbara Pricila Franz
Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais
Diagramação e Capa: 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Copyright © UNIASSELVI 2021
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
L961e
 Lunardi, Giovani Mendonça
 Ética e responsabilidade social. / Giovani Mendonça Lunardi. – 
Indaial: UNIASSELVI, 2021.
 130 p.; il.
 ISBN 978-65-5646-162-5
 ISBN Digital 978-65-5646-159-5
1. Responsabilidade social. – Brasil. II. Centro Universitário 
Leonardo da Vinci.
CDD 620
Sumário
APRESENTAÇÃO ............................................................................5
CAPÍTULO 1
FUNDAMENTOS DA ÉTICA ............................................................. 7
CAPÍTULO 2
PROBLEMAS DE ÉTICA ................................................................ 45
CAPÍTULO 3
ÉTICA, CIDADANIA E SEGURANÇA PÚBLICA ............................ 85
APRESENTAÇÃO
Caro acadêmico, bem-vindo à disciplina de Ética e Responsabilidade Social. 
Nesta disciplina, estudaremos juntos os fundamentos, as teorias e as aplicações 
práticas relacionados à Ética e à Responsabilidade Social no âmbito da gestão 
das organizações e instituições públicas e sociais. 
No Capítulo 1, mais especificamente, começaremos nossos estudos 
apresentando uma reflexão teórica sobre a Ética. Inicialmente, conceituaremos 
o que é Ética e faremos rapidamente uma abordagem histórica. Em seguida, 
estudaremos as principais teorias éticas, fazendo também uma avaliação 
comparativa. Por fim, veremos algumas aplicações práticas das teorias éticas. 
Em seguida, no Capítulo 2, compreenderemos os principais problemas éticos 
presentes na sociedade atual e investigaremos a relação entre Ética, Estado 
e Sociedade. Estudaremos, também, princípios éticos e problemas sociais e 
analisaremos os desafios éticos contemporâneos.
 
No Capítulo 3, estudaremos a relação entre Ética, Cidadania e Segurança 
Pública e analisaremos o desenvolvimento dos mecanismos e processos que 
estimulam a prática da Responsabilidade Social dentro das instituições. Ao 
mesmo tempo, pesquisaremos os impactos da ética dentro das organizações e 
verificaremos os princípios éticos que orientam o controle social nas comissões 
de ética pública.
 
Esperamos que com este conteúdo você consiga perceber a importância da 
Ética e da Responsabilidade Social para a nossa sociedade. 
Bons estudos!
CAPÍTULO 1
FUNDAMENTOS DA ÉTICA
A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 Compreender os principais conceitos de ética e moral.
 Investigar os fundamentos da ética relacionados à economia e à sociedade.
 Estudar teorias éticas que disciplinam os códigos normativos atuais.
 Analisar aplicações da ética aos temas econômicos e sociais. 
 Identifi car os principais conceitos e fundamentos da ética.
 Relacionar as principais teorias éticas com as transformações ocorridas na 
economia e na sociedade atual.
 Perceber a importância da aplicação da ética nas principais questões 
econômicas e sociais.
8
 ÉTiCA E RESPoNSABiLiDADE SoCiAL
9
FUNDAMENTOS DA ÉTICA Capítulo 1 
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Neste Capítulo 1, compreenderemos os principais fundamentos da ética, suas 
teorias mais importantes e aplicações práticas relacionados a nossa vida diária e 
social. As considerações éticas e morais, em nossa sociedade, são importantes 
e, consequentemente, também o seu estudo, porque expressam e determinam 
padrões compartilhados de comportamento. Elas fi xam nossas obrigações frente 
aos outros e dão sentido às expectativas sobre o que os outros devem fazer por 
nós. As considerações éticas geram sentimento de culpa, orgulho, vergonha, 
gratidão e delimitam os âmbitos da solidariedade, da indiferença e da reação 
intolerante. Elas entram na concepção que temos de nós mesmos (CHAUÍ, 2005). 
Afi nal, o que é ética? O que é moral? 
2 CONCEITO DE ÉTICA E MORAL 
A busca por princípios e regras universais para orientar a conduta humana 
em sociedade é algo que atormenta as civilizações há séculos. Para entender 
a razão, precisamos olhar através de toda a história da humanidade – desde 
o surgimento das leis nas sociedades nos últimos 10 mil anos – e analisar as 
maneiras pelas quais a ética pode moldar nosso futuro distante, ou seja, ao 
longo de sua história, o ser humano tem buscado muitas respostas sobre como 
agir de forma adequada (MATTAR, 2010). Como saber qual é a ação certa ou 
errada? Quais são as normas e regras sociais que devemos seguir na vida em 
comunidade? Estas e outras questões dizem respeito à própria condição humana 
de existência individual e social. 
2.1 A LEI DE TALIÃO E A REGRA DE 
OURO 
Desde os primeiros registros de escritos humanos, encontramos citações 
ao que são reconhecidamente valores e princípios éticos. Costuma-se atribuir 
aos babilônios antigos as primeiras formulações e codifi cações de normas 
sociais no celebrado Código de Hamurabi, uma compilação de 282 leis da 
antiga Babilônia (atual Iraque), composta por volta de 1772 a.C. Hamurabi é o 
sexto rei da Babilônia, responsável por decretar o código conhecido com seu 
nome, que sobreviveu até os dias de hoje em cópias parcialmente preservadas, 
sendo uma na forma de uma grande estela (monólito), além de vários tabletes 
menores de barro (SANTIAGO, c2021). 
10
 ÉTiCA E RESPoNSABiLiDADE SoCiAL
FIGURA 1 – ESTELA CONTENDO AS INSCRIÇÕES DO CÓDIGO DE HAMURABI
FONTE: <https://www.infoescola.com/historia/codigo-
de-hamurabi/>. Acesso em: 15 jan. 2021.
O Código de Hamurabi é visto como a mais fi el origem do Direito. É a 
legislação mais antiga de que se tem conhecimento, e o seu trecho mais conhecido 
é a chamada lei de talião, lei (ou pena) que é o ponto principal e fundamental 
para o Código de Hamurabi. O termo vem do latim talionis, que signifi ca ‘como 
tal’, ‘idêntico’. A pena que se baseia na justa reciprocidade do crime e da pena, 
frequentemente simbolizada pela expressão ‘olho por olho, dente por dente’ 
(SANTIAGO, c2021).
KERSTEN, V. M. O Código de Hamurabi através de uma 
visão humanitária. 2007. Disponível em: http://www.ambito-juridico.
com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4113. Acesso 
em: 20 mar. 2021.
Código de Hamurabi, disponível em: http://www.dhnet.org.br/
direitos/anthist/hamurabi.htm.
Assim, várias culturas, religiões e civilizações antigas atestam a importância 
de sedimentar, normatizar e codifi car as práticas de coexistência social de 
forma a garantir a vida, as posses e as relações entre membros de uma 
comunidade, tribo, clã ou cidade. A própria Torá, a lei judaica antiga (também 
denominada ‘Pentateuco’ em alusão aos cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis, 
Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio, chamados pelos cristãos de Antigo 
11
FUNDAMENTOS DA ÉTICA Capítulo 1 
Testamento), também contribuiu de maneira decisiva para a sedimentação de tais 
direitos em nossos processos civilizatórios (PAIM, 2003).
FIGURA 2 – A TORÁ É O LIVRO SAGRADO DO JUDAÍSMO
FONTE: <https://cutt.ly/cvUFbXR>. Acesso em: 15 jan. 2021.
O termo Torá, em hebraico, signifi ca ‘ensinar’ ou ‘indicar o caminho’. Nesse 
sentido mais amplo, todos os ensinamentos judaicos – incluindo a Bíbliahebraica, 
o Talmude e as tradições orais – podem ser considerados parte da Torá. A Torá 
começa com a história da criação do mundo. Em seguida, explica e interpreta 
as leis de Deus, incluindo os Dez Mandamentos. Os judeus acreditam que Deus 
entregou as leis contidas nos cinco livros ao profeta Moisés, no Monte Sinai. 
Particularmente, nos Dez Mandamentos (as Leis de Moisés), encontramos um 
embasamento normativo para a vida comunitária de um povo (PAIM, 2003).
Assista ao fi lme Os Dez Mandamentos.
FIGURA 3 – CAPA DO FILME OS DEZ MANDAMENTOS
FONTE: <https://cutt.ly/pvUGT7Y>. Acesso em: 15 jan. 2021.
12
 ÉTiCA E RESPoNSABiLiDADE SoCiAL
Desta forma, encontramos a chamada ‘regra de ouro’ no judaísmo e no 
cristianismo em suas versões negativa (‘não devemos fazer a outrem aquilo que 
não queremos que nos façam’) e positiva (‘fazei aos outros o que quereis que 
vos façam’), o princípio de universalização do judaísmo e do cristianismo (PAIM, 
2003).
Essa ‘regra de ouro’, também conhecida como princípio da reciprocidade, 
está presente em preceitos de outras civilizações antigas, como:
“Evite fazer o que você pode culpar os outros por fazer” – Tales 
de Mileto (Grécia Antiga).
“O que for odioso para ti, não faça a teu próximo: esta é toda a 
Torá; o resto é mero comentário” – Talmude Babilônico.
“Se o Dharma todo pode ser traduzido em poucas palavras, 
então seria: aquilo que é desfavorável para nós, não faça com 
os outros” – Padma Purana (Budismo).
“Zi Gong perguntou: ‘Existe alguma palavra que possa guiar 
uma pessoa ao longo da vida?’ O mestre respondeu: ‘Que 
tal reciprocidade: nunca imponha aos outros o que você não 
escolheria para si mesmo?” – (os Anacletos) (BEARD, 2021).
O fato de tantos movimentos distintos mostrarem um grande apreço por esse 
princípio refl ete não só sua simplicidade, mas também sua veracidade e valor. 
Diz claramente algo importante sobre como devemos viver, mas, infelizmente, há 
muita coisa que a regra de ouro não diz – e é extremamente difícil de ser aplicada 
objetivamente, uma vez que defi ne como devemos tratar as pessoas com relação 
aos nossos próprios sentimentos sobre como devemos ser tratados, ou seja, 
caso sejamos sadomasoquistas (a dor como prazer), poderíamos considerar que 
aplicar a dor em pessoas seria benéfi co para todos. Como a regra de ouro é 
insufi ciente como critério ético, surgirão outras teorias, que estudaremos a seguir 
(PAIM, 2003).
 
2.2 FILOSOFIA E ÉTICA 
Posteriormente, será na Grécia e, depois, na Roma Antiga, que encontraremos 
também vários exemplos de codifi cações jurídicas em escritos literários, fi losófi cos 
e jurídicos que propiciarão o surgimento da disciplina fi losófi ca denominada de 
ética. Podemos afi rmar que Aristóteles (384-322 a.C.) foi o fundador da ética. A 
Ética Nicomaqueia, ou Ética a Nicômaco, de Aristóteles, foi o primeiro tratado de 
ética da tradição fi losófi ca ocidental, tendo sido o primeiro a utilizar o termo “ética” 
no sentido em que o empregamos até hoje de um estudo sistemático sobre os 
valores e os princípios que regem a ação humana e com base nos quais esta 
ação é avaliada com relação a seus fi ns. 
13
FUNDAMENTOS DA ÉTICA Capítulo 1 
O texto fi cou conhecido como Ética a Nicômaco por ter sido dedicado 
a Nicômaco, o fi lho de Aristóteles. Sua infl uência foi imensa, tendo marcado 
profundamente a discussão sobre ética subsequente, defi nindo as grandes 
linhas de discussão fi losófi ca nesta área (MATTAR, 2010). Na sua obra Ética a 
Nicômaco, ele procura dar uma resposta ao problema, qual seja: de que maneira 
o homem deve viver a sua vida? Os fi lósofos gregos estavam buscando uma 
forma racional de o ser humano encontrar a melhor forma de decidir moralmente. 
O pano de fundo da ética aristotélica é a investigação em torno do bem supremo
ou felicidade (Eudaimonia) do ser humano (ARISTÓTELES, 1992).
FIGURA 4 – ESCULTURA DE ARISTÓTELES
FONTE: <https://cutt.ly/1vUXY6C>. Acesso em: 15 jan. 2021.
Aristóteles inicia sua obra Ética a Nicômaco se perguntando sobre a função
do homem. Sua pergunta visa descobrir qual é a essência do homem. Essência 
é aquilo que diferencia algo do resto, e faz deste algo aquilo que ele é. Segundo 
Aristóteles (1992), aquilo que diferencia o homem de todos os animais é a sua 
razão. Logo, a função do homem será viver de acordo com a razão, pois se deixar 
de viver desta forma se assemelha a outro animal qualquer.
FIGURA 5 – ÉTICA A NICÔMACO, DE ARISTÓTELES 
FONTE: <https://cutt.ly/qvUC0tL>. Acesso em: 15 jan. 2021.
14
 ÉTiCA E RESPoNSABiLiDADE SoCiAL
O meio pelo qual sabemos que alguém é racional é o uso da linguagem. 
Logo, a racionalidade está ligada à fala. A fala só é possível quando há pelo menos 
dois homens, o que nos leva à conclusão que todos os homens, para que possam 
cumprir sua função, devem viver em sociedade. Não existe homem que possa 
viver sozinho. A solidão só é possível para os deuses, pois são autossufi cientes, e 
para as bestas, pois reduzem sua existência à busca de comida, não necessitando 
nada mais além desta satisfação. 
A linguagem, presente unicamente no homem, institui uma diferenciação 
radical se compararmos as comunidades humanas às de outros animais 
igualmente gregários. Ao contrário deles, expressamos nossos interesses, nossos 
desejos e vontades, o que nos leva a uma condição na qual o confl ito é inevitável. 
Diferentemente de uma abelha, ou de um cão, nos deparamos o tempo todo com 
questões que nos levam a questionar o que deve e o que não deve ser feito, o que 
é certo e o que é errado, o que é justo e injusto. Todas estas questões surgem 
porque estamos sempre em busca de bens para nós mesmos (ARISTÓTELES, 
1992). Qual seria o bem a que todos buscam invariavelmente? 
Segundo Aristóteles (1992), a felicidade é o Bem Supremo, em virtude do 
qual todas as outras coisas que desejamos são meros meios. No entanto, como 
defi nir a felicidade? Por tratar-se de algo que é estritamente humano, deve ser 
diferente da satisfação, que está ligada às nossas funções animais, e também 
da alegria e contentamento, pois são sentimentos efêmeros. A felicidade deve 
perdurar, ser constante, de forma que um indivíduo possa vivenciá-la de forma 
ininterrupta. O que é, então, a felicidade? É a atividade da alma conforme a 
excelência moral (ARISTÓTELES, 1992).
A pergunta que surge agora é o que é excelência moral? É o conjunto das 
virtudes. Virtudes são disposições da alma que nos levam a agir de forma justa. 
Para que possamos atingir estas virtudes é necessário que nos esforcemos rumo 
à educação de nossas paixões. A ética é compreendida por Aristóteles, e por boa 
parte de seus contemporâneos, como a educação das paixões pela razão. 
As paixões são indicadas pela natureza e se caracterizam pela desmesura 
de suas manifestações, e a depender delas estaríamos sempre em uma situação 
parecida à de um barco em águas turbulentas, ora a pender para um lado, ora 
para outro. A razão é a garantia do equilíbrio e da estabilidade de nossa alma, 
motivo pelo qual deve aplicar-se às paixões, educando-as e dando-lhes a exata 
medida. A virtude é, para Aristóteles, meio-termo entre dois extremos. Assim, a 
coragem aparece como o ponto equidistante entre a covardia e a temeridade; 
a moderação como o meio-termo entre concupiscência e insensibilidade 
(ARISTÓTELES, 1992).
15
FUNDAMENTOS DA ÉTICA Capítulo 1 
A famosa frase de Aristóteles ‘o homem é um animal social’ (Zoon Politikon), 
ajuda-nos a compreender que a vida humana é naturalmente social, política. 
Para o ser humano, viver é conviver (ARISTÓTELES, 1992). É justamente na 
convivência, na vida social e comunitária, que o ser humano se descobre e se 
realiza enquanto um ser moral e ético. É na relação com o outro que surgem os 
problemas e as indagações morais: o que devo fazer? Como agir em determinada 
situação? Como me comportar perante o outro? Diante da corrupção e das 
injustiças, o que fazer? Quala natureza dos juízos morais? Por que algo é bom ou 
mau, certo ou errado, justo ou injusto?
Para saber mais sobre a ética de Aristóteles, leia:
AMARAL, R. A. P. do; SILVA, D. A.; GOMES, L. 
I. A eudaimonia aristotélica: a felicidade como fi m ético. Revista 
Vozes dos Vales, n. 1, ano 1, p. 1-20, maio 2012.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução de L. Vallandro e G. 
Bornhein da versão inglesa de W. D. Ross. São Paulo: Abril, 1987. 
(Coleção Os Pensadores).
FERRAZ, C. A. Elementos de ética. Pelotas: NEPFil online, 2014.
HOBUSS, J. F. do N. Elementos de fi losofi a antiga: estudos sobre 
a fi losofi a prática de Aristóteles. Pelotas: NEPFIL online, 2015.
PANSARELLI, D. Para uma história da relação ética-política. Revista 
Múltiplas Leituras, v. 2, n. 2, p. 9-24, jul./dez. 2009. Disponível em: 
https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/ML/article/
view/1264. Acesso em: 12 fev. 2021.
2.3 O QUE É ÉTICA E MORAL?
 
Como vimos, nossa noção de certo e errado vem de longe e por isso pode 
ser útil distinguir entre moral e ética. A partir da Filosofi a Grega e, posteriormente, 
com a Filosofi a Romana, teremos que a palavra Ética vem do grego “ethos”, que 
quer dizer o modo de ser, o caráter. Em seguida, os romanos traduziram o “ethos” 
grego para o latim “mos” (ou no plural “mores”), que quer dizer costume, de onde 
vem a palavra Moral. Tanto “ethos” (caráter) como “mos” (costume) indicam um 
16
 ÉTiCA E RESPoNSABiLiDADE SoCiAL
tipo de comportamento propriamente humano que não é natural, o homem não 
nasce com ele como se fosse um instinto, mas o ‘adquire ou o conquista por 
hábito’. Portanto, Ética e Moral, pela própria etimologia, dizem respeito a uma 
realidade humana que é construída histórica e socialmente a partir das relações 
coletivas dos seres humanos nas sociedades onde nascem e vivem (CHAUÍ, 
2005). 
 
Atualmente, a ética passou a fazer parte do discurso da população, dos 
meios de comunicação, de profi ssionais de várias áreas, com seu signifi cado nem 
sempre utilizado de forma correta. Talvez devido ao pouco conhecimento formal 
que a maioria das pessoas tem da ética, muitas não sabem propriamente o que 
é a ética, qual a sua fi nalidade e como ela atua. Muitas vezes, a palavra ética é 
utilizada também como adjetivo, com a fi nalidade de qualifi car uma pessoa ou 
uma instituição como sendo boa, adequada ou correta. Esse uso pode ter sido 
infl uenciado pela defi nição de ética proposta por George Edward Moore (1975), 
de que ela é a investigação geral sobre aquilo que é bom. O ideal é sempre utilizá-
la na forma adverbial, ou seja, ela própria merecendo ser qualifi cada – eticamente 
adequada ou eticamente inadequada –, mas não pressupondo que a ética, no seu 
sentido substantivo, sempre se associe ao bom, ao adequado e ao correto. 
Três autores contemporâneos podem auxiliar na compreensão adequada 
dessas questões fundamentais: 
• Adolfo Sanches Vasques (2000) caracterizou a ética como sendo a busca 
de justifi cativas para verifi car a adequação ou não das ações humanas. 
• Joaquim Clotet (1986) afi rmou que a ética tem por objetivo facilitar a 
realização das pessoas, que o ser humano chegue a realizar-se a si 
mesmo como tal, isto é, como pessoa. 
• Robert Veatch (2000) dá uma boa defi nição operacional de ética ao 
propor que ela é a realização de uma refl exão disciplinada das intuições 
morais e das escolhas morais que as pessoas fazem. 
No nosso dia a dia não fazemos distinção entre ética e moral, usamos as 
duas palavras como sinônimos, mas os estudiosos da questão fazem uma 
distinção entre as duas palavras. Assim, a moral é defi nida como o conjunto de 
normas, princípios, preceitos, costumes e valores que norteiam o comportamento 
do indivíduo no seu grupo social. A moral é normativa. Enquanto a ética é um 
ramo da fi losofi a que tem por objetivo realizar uma refl exão e buscar explicar, 
compreender, justifi car e criticar a moral ou as morais de uma sociedade. Assim, 
a ética é considerada a disciplina que propõe compreender os critérios e os 
valores que orientam o julgamento da ação humana, procurando esclarecer como 
é possível apontar que determinada forma de conduta seja moralmente errada ou 
correta (MATTAR, 2010).
17
FUNDAMENTOS DA ÉTICA Capítulo 1 
Podemos afi rmar, do mesmo modo que, a moral é uma noção individual, 
em grande parte intuitiva e emocional, de como devemos tratar os outros. 
Provavelmente, existe há centenas de milhares de anos, e talvez até em outras 
espécies. A ética, por outro lado, é um conjunto de princípios formalizados 
que se propõe a representar a verdade sobre como as pessoas devem se 
comportar. Também podemos distinguir entre ética e moral desta forma:
• Moral: conjunto de normas que determina as ações humanas como 
certas ou erradas a partir de um consenso social. Assim, a moral 
constitui-se nos valores adotados por uma determinada comunidade ou 
instituição e abrange tanto princípios quanto regras, virtudes e direitos. 
• Ética: está relacionada a um estudo mais apropriado dos diferentes 
sistemas morais, podendo ser normativa, ao tentar justifi car a adoção 
de um valor em detrimento de outro, e não normativa. Neste caso, ela 
pode ser uma ética descritiva, ao investigar a conduta moral de um certo 
grupo social, e metaética, ao analisar a linguagem, os conceitos e os 
métodos do raciocínio ético (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002).
 
Portanto, constantemente no nosso cotidiano encontramos situações que 
nos colocam problemas morais. São problemas práticos e concretos da nossa 
vida em sociedade, ou seja, problemas que dizem respeito as nossas decisões, 
escolhas, ações e comportamentos – os quais exigem uma avaliação, um 
julgamento, um juízo de valor entre o que socialmente é considerado bom ou 
mau, justo ou injusto, certo ou errado, pela moral vigente. 
 
O problema é que não costumamos refl etir e buscar os ‘porquês’ de nossas 
escolhas, dos comportamentos, dos valores. Agimos por força do hábito, dos 
costumes e da tradição, tendendo a naturalizar a realidade social, política, 
econômica e cultural. Com isso, perdemos nossa capacidade crítica diante da 
realidade. Em outras palavras, não costumamos fazer ética, pois não fazemos a 
crítica, nem buscamos compreender e explicitar a nossa realidade moral.
 
Por exemplo, enquanto quase todo mundo tem um forte senso moral de que 
matar é errado e que simplesmente ‘não se pode fazer isso’, os especialistas 
em ética há muito tempo tentam entender por que matar é errado e sob que 
circunstâncias (guerra, pena de morte, eutanásia) ainda pode ser permitido.
18
 ÉTiCA E RESPoNSABiLiDADE SoCiAL
Para saber mais sobre o conceito de ética e moral, assista aos 
vídeos:
Ética do Cotidiano | Mario Sergio Cortella e Clóvis de Barros Filho, 
disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=9_YnlPXKlLU.
O que é Ética | Mário Sergio Cortella, disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=2gVCs2fIILo.
VASQUES, A. S. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000
Para saber mais sobre a Filosofi a romana e a ética na Roma Antiga, 
veja:
https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/a-passagem-helenismo-
grego-ao-helenismo-romano.htm.
Assista ao fi lme Gladiador.
Nos dias fi nais do reinado de Marcus Aurelius (Richard Harris), o 
imperador desperta a ira de seu fi lho Commodus (Joaquin Phoenix) 
ao tornar pública sua predileção em deixar o trono para Maximus 
(Russell Crowe), o comandante do exército romano. Sedento pelo 
poder, Commodus mata seu pai, assume a coroa e ordena a morte 
A Filosofi a Grega de Aristóteles e, posteriormente, a Filosofi a Romana e 
a Filosofi a Medieval, deram uma importante contribuição que resultariam no 
humanismo renascentista e na reformulação dos chamados direitos naturais, que 
são a base das discussões na ética moderna e contemporânea que estudaremos 
a seguir. A partir destes conceitos estudaremos, a seguir, as principais teorias 
éticasque se desenvolveram ao longo da história em nossa sociedade (PAIM, 
2003). 
19
FUNDAMENTOS DA ÉTICA Capítulo 1 
de Maximus, que consegue fugir antes de ser pego e passa a se 
esconder sob a identidade de um escravo e gladiador do Império 
Romano.
Para saber mais sobre a Filosofi a e a ética medieval, veja:
https://brasilescola.uol.com.br/historiag/fi losofi a-medieval.htm.
Assista ao fi lme O Nome da Rosa.
Em 1327, William de Baskerville (Sean Connery), um monge 
franciscano, e Adso von Melk (Christian Slater), um noviço, chegam 
a um remoto mosteiro no norte da Itália. William de Baskerville 
pretende participar de um conclave para decidir se a Igreja deve 
doar parte de suas riquezas, mas a atenção é desviada por vários 
assassinatos que acontecem no mosteiro. William de Baskerville 
começa a investigar o caso, que se mostra bastante intrincado, além 
dos mais, religiosos acreditam que é obra do Demônio. William de 
Baskerville não partilha desta opinião, mas antes que ele conclua as 
investigações, Bernardo Gui (F. Murray Abraham), o Grão-Inquisidor, 
chega no local e está pronto para torturar qualquer suspeito de 
heresia que tenha cometido assassinatos em nome do Diabo. Como 
não gosta de Baskerville, ele é inclinado a colocá-lo no topo da lista 
dos que são diabolicamente infl uenciados. Esta batalha, junto a 
uma guerra ideológica entre franciscanos e dominicanos, é travada 
enquanto os assassinatos são lentamente solucionados.
1 Descreva o que você entendeu sobre os conceitos de ética
e moral estudados nessa seção.
R.: _______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________
____________________________. 
20
 ÉTiCA E RESPoNSABiLiDADE SoCiAL
3 TEORIAS ÉTICAS: DEVERES E 
DIREITOS 
 
Considerando os conceitos de ética e moral estudados na seção anterior, 
podemos dividir as teorias éticas em três campos principais de estudo: metaética,
ética normativa e ética aplicada. 
 
A metaética investiga a natureza dos princípios morais, verifi cando a sua 
fundamentação, justifi cativa e signifi cados. Por sua vez, a ética normativa
pretende responder a perguntas ‘o que devemos fazer?’, ou, de forma mais 
ampla, ‘qual a melhor forma de viver bem?’. Por fi m, a ética aplicada diz respeito 
à aplicação de princípios extraídos da metaética e da ética normativa para a 
resolução de problemas éticos cotidianos, isto é, procura resolver problemas 
práticos de acordo com princípios da ética normativa.
 
Nesta seção, vamos nos ater às questões de ética normativa. De acordo com 
Simon Blackburn (2020), os seres humanos são animais éticos. Isso expressa 
o reconhecimento de que não há vida humana sem padrões normativos de 
comportamento. Nós exigimos que nossas preferências sejam efetivamente 
reconhecidas pelos outros, o que leva ao surgimento de práticas sociais e 
instituições articuladas em papéis sociais que passamos a ocupar. Nós impomos 
regras aos outros, mas também a nós mesmos. Nós temos sentimentos especiais 
profundos quando constatamos o fracasso dos outros ou o nosso próprio fracasso 
na tentativa de viver de acordo com essas regras. 
FIGURA 6 – SIMON BLACKBURN – ÉTICA: UMA BREVÍSSIMA INTRODUÇÃO
FONTE: <https://cutt.ly/0vUBrZc>. Acesso em: 11 jan. 2021.
Podemos dividir as correntes da ética normativa em duas categorias: ética 
teleológica e ética deontológica.
21
FUNDAMENTOS DA ÉTICA Capítulo 1 
3.1 ÉTICA TELEOLÓGICA
Para esta corrente, o que é correto está determinado pelo seu fi m (télos), 
ou seja, pelo que se pretende atingir. Suas subdivisões principais são: A) ética 
consequencialista, que se baseia nas consequências da ação, e B) ética das 
virtudes, que considera o caráter moral ou virtuoso do indivíduo. 
A) Para a ética consequencialista, na sua principal vertente, que é o 
Utilitarismo, devemos agir levando em consideração as consequências da 
nossa ação. A ação correta, justa, ou moralmente válida, será aquela que 
apresentar os melhores resultados para os envolvidos. Assim, segundo o 
Utilitarismo, cada indivíduo deve agir de forma a proporcionar o maior bem 
ou a maior felicidade para todos que o cercam. Os principais teóricos do 
Utilitarismo foram Jeremy Bentham (1748-1832) e J. Stuart Mill (1806-1873), 
que desenvolveram uma ética baseada no princípio da utilidade. As ações 
morais são avaliadas em função das consequências morais que originam para 
quem as pratica, mas também para quem recai os resultados. O Princípio 
da Utilidade que deve nortear a ação moral é: ‘a máxima felicidade possível 
para o maior número possível de pessoas’ (MILL, 2020). O bom é aquilo que 
for útil para o maior número de pessoas, melhorando o bem-estar de todos, e 
o mau o seu contrário. Os utilitaristas afi rmam que devemos escolher a opção 
que maximiza ‘a maior felicidade para o maior número’. Defendem igualmente 
a completa igualdade: ‘cada qual conta como um e não mais de um’ (MILL, 
2020).
FIGURA 7– LIVRO O UTILITARISMO, DE J. STUART MILL
FONTE: <https://cutt.ly/cvUBzae>. Acesso em: 15 jan. 2020.
22
 ÉTiCA E RESPoNSABiLiDADE SoCiAL
B) Na ética de virtudes, a ênfase incide sobre o caráter virtuoso ou bom dos 
seres humanos, e não primeiramente sobre os seus atos e consequências. 
O marco inicial da ética de virtudes é a doutrina moral que Aristóteles 
desenvolve na obra Ética a Nicômaco. A fi nalidade de uma vida virtuosa, 
segundo Aristóteles, é a busca do bem supremo, da felicidade, não individual, 
mas de todo ser racional. O objetivo da ética seria, então, sob esse ponto de 
vista, a criação de homens virtuosos, cujos sentimentos e inclinações fossem 
cultivados moralmente (ARISTÓTELES, 1992). 
FONTE: O autor
Problemas da Ética Teleológica
 
Os críticos da ética teleológica argumentam que nela há um relativismo 
moral, já que as decisões fi cam na dependência da análise das circunstâncias, 
ou seja, não há princípios norteadores. O princípio da utilidade (a felicidade para 
a maioria) seria insufi ciente enquanto norma de orientação. Há difi culdades em 
estabelecer, em muitos casos, quais ações seriam mais benéfi cas que outras. No 
caso, também de interesses em confl itos, que decisões deveríamos tomar? 
3.2 ÉTICA DEONTOLÓGICA
A ética deontológica (deon = dever) procura determinar o que é correto, 
não segundo uma fi nalidade a ser atingida, mas segundo as regras e as normas 
(deveres) em que se fundamenta a ação. A ética religiosa, principalmente a cristã, 
é deontológica, já que ela possui mandamentos morais que são obrigatórios, 
independentemente das consequências da ação. Além das religiosas, uma ética 
deontológica importante é a Ética Kantiana.
O fi losofo alemão I. Kant (1724-1804), partindo de uma concepção 
universalista do homem, afi rma que este só age moralmente quando, pela sua 
livre vontade, determina as suas ações com a intenção de respeitar os princípios 
que reconheceu como bons. O que o motiva, neste caso, é o puro dever de cumprir 
aquilo que racionalmente estabeleceu sem considerar as suas consequências. A 
moral assume, assim, um conteúdo puramente formal, isto é, não nos diz o que 
devemos fazer (conteúdo da ação), mas apenas o princípio (forma) que devemos 
23
FUNDAMENTOS DA ÉTICA Capítulo 1 
seguir para que a ação seja considerada boa. Esse princípio está expresso no 
imperativo categórico, que diz: age apenas seguindo as máximas que possas 
ao mesmo tempo querer como leis universais. Com isso, Kant quer garantir a 
racionalidade e a universalidade das ações morais, independente do apelo a uma 
ordem divina e das consequências das ações (KANT, 2019). 
FIGURA 8 – IMMANUEL KANT
FONTE: <https://cutt.ly/SvUNgHP>. Acesso em: 15 jan. 2021. 
Problemas da Ética DeontológicaA Ética Deontológica é acusada de ser extremamente absolutista e formal, 
ou seja, ela se ocuparia apenas do cumprimento de suas normas e deveres, 
deixando de lado as considerações substanciais dos interesses dos envolvidos 
na ação moral. Também não estabelece consideração sobre que ações seriam 
mais importantes ou prioritárias que outras para benefício dos envolvidos da ação 
moral.
3.3 A COMPARAÇÃO ENTRE A 
ÉTICA TELEOLÓGICA E A ÉTICA 
DEONTOLÓGICA
 
Max Weber (1864-1920) apresentou uma excelente comparação entre a 
Ética Teleológica e a Ética Deontológica. Afi rma Weber (1968, p.172):
[...] toda atividade orientada pela ética pode subordinar-se 
24
 ÉTiCA E RESPoNSABiLiDADE SoCiAL
a duas máximas totalmente diferentes e irredutivelmente 
opostas. Ela pode orientar-se pela ética da responsabilidade 
(teleológica) ou pela ética da convicção (deontológica). 
Isso não quer dizer que a ética da convicção seja idêntica à 
ausência de responsabilidade e a ética da responsabilidade 
à ausência de convicção. Não se trata evidentemente disso. 
Todavia, há uma oposição abissal entre a atitude de quem 
age segundo máximas da ética da convicção – em linguagem 
religiosa, diremos ‘O cristão faz seu dever e no que diz respeito 
ao resultado da ação remete-se a Deus’ – e a atitude de quem 
age segundo a ética da responsabilidade, que diz: ‘Devemos 
responder pelas consequências previsíveis de nossos atos’.
De forma simplifi cada, a máxima da Ética Deontológica (convicção) diz: 
cumpra suas obrigações ou siga as normas, deveres. É uma ética que se pauta 
por valores e normas previamente estabelecidos. De forma contrária, a Ética 
Teleológica (responsabilidade), não aplica normas previamente estipuladas. 
Ela procede pela análise das situações concretas e antecipa as repercussões que 
uma decisão pode provocar. Dentre as opções que se apresentam, aquela que 
presumivelmente traz benefícios maiores à coletividade acaba adotada, ou seja, 
ganha legitimidade a ação que produza um bem maior ou evita um mal maior. O 
contraponto entre as duas teorias fi ca claro:
A) De um lado, as ações cometidas pelos praticantes da ética da convicção 
(deontológica) decorrem imediatamente da aplicação dos valores e normas 
anteriormente eleitos.
B) De outro lado, as ações cometidas pelos praticantes da ética da 
responsabilidade (teleológica) decorrem da expectativa de alcançar fi ns 
almejados (fi nalidade) ou consequências presumidas.
QUADRO 1 – COMPARATIVO
QUADRO COMPARATIVO
Ética Teleológica (responsabilidade) Ética Deontológica (convicção)
As decisões decorrem de deliberação em 
função de uma análise das circunstâncias. 
Decisões decorrem da aplicação de uma tábua de 
valores já estabelecidos.
É uma ética dos propósitos, da razão, dos 
resultados previsíveis, das análises das 
circunstâncias. 
É uma ética dos deveres, das obrigações de 
consciência, das certezas, dos imperativos 
categóricos, das ordenações incondicionais. 
FONTE: O autor
Veremos alguns exemplos práticos da aplicação dessas duas teorias éticas:
Exemplo 1: uma mocinha de 15 anos procura o pai e pede-lhe ajuda para 
poder abortar. Exige, no entanto, que a mãe não saiba. Abalado, o pai quer saber 
25
FUNDAMENTOS DA ÉTICA Capítulo 1 
quem a engravidou. Num rasgo de maturidade, a mocinha lhe mostra que o 
menino tem 16 anos e, portanto, é tão criança quanto ela. Vamos consultar a 
mãe, sugere o pai. “Para quê”, pergunta a garota, “se já sabemos a resposta?” 
Segundo a mãe, uma católica praticante, o aborto constitui um atentado contra 
a vida e ponto fi nal. Como o pai deve agir? Ao analisar as consequências de 
uma gravidez indesejada, fruto da imaturidade de adolescentes, ele deve apoiar 
o aborto ou seguir os princípios religiosos que o proíbem? A primeira opção 
segue as orientações da ética teleológica (responsabilidade), ou seja, leva 
em consideração as consequências da ação. A segunda opção segue a ética 
deontológica (convicção), levando em consideração princípios já estabelecidos (a 
vida é sagrada).
Exemplo 2: um médico de pronto-socorro recebe para atendimento de uma 
só vez cinco pessoas gravemente feridas. Se ele atender todos de uma vez, 
poderá não dar conta de salvá-los. Ou ele pode verifi car quais os que têm mais 
chance de sobreviver e dar prioridade a estes em detrimento dos outros. O que 
fazer? Procurar salvar todos ao mesmo tempo, ou dar prioridade aos que têm 
mais chance? Seguir o princípio de salvar toda vida humana (ética deontológica) 
ou analisar racionalmente quais as melhores condições de salvação da maioria 
dos envolvidos (ética teleológica)?
 
Você pode perceber as difi culdades para a tomada de decisões nos exemplos 
anteriores. Não há uma única resposta correta. Há uma série de considerações 
que dependerá das pessoas envolvidas na ação moral. Em nosso dia a dia 
agimos segundo nossa educação familiar, religiosa e social. Não fi camos a todo 
momento calculando as consequências e resultados de nossas ações. Dessa 
forma, usamos mais a ética da convicção (deontológica). 
Nos casos mais críticos, fazemos uma análise das consequências e dos 
nossos interesses e, assim, usamos a ética da responsabilidade (teleológica). 
Concluímos que, somos usuários das duas teorias éticas. Temos normas e 
deveres dados pelos costumes, educação e tradições e, também, verifi camos 
as consequências e os interesses de nossos atos. Verifi caremos que um dos 
grandes problemas da sociedade contemporânea é a perda de valores e princípios 
norteadores em um modelo social notadamente individualista e competitivo, frente 
aos novos desafi os tecnológicos atrelados a um sistema econômico que mantém 
e aprofunda um nível de desigualdades sociais e exploração humana. São estes 
problemas que discutiremos a seguir. 
26
 ÉTiCA E RESPoNSABiLiDADE SoCiAL
Filme: A Escolha de Sofi a
FIGURA 9 – A ESCOLHA DE SOFIA
FONTE: <https://cutt.ly/tvUN1ix>. Acesso em: 15 jan. 2021.
Em 1947, Stingo (Peter MacNicol), um jovem aspirante a 
escritor vindo do Sul, vai morar no Brooklyn na casa de Yetta 
Zimmerman (Rita Karin), que alugava quartos. Lá conhece Sofi a 
Zawistowska (Meryl Streep), sua vizinha do andar de cima, que é 
polonesa e fora prisioneira em um campo de concentração, e Nathan 
Landau (Kevin Kline), seu namorado, um carismático judeu dono de 
um temperamento totalmente instável. Em pouco tempo tornam-se 
amigos, sendo que Stingo não tem a menor ideia dos segredos que 
Sofi a esconde nem da insanidade de Nathan. Meryl Streep rodou 
sua cena fi nal (a cena em que acontece a tal escolha) apenas uma 
vez. A atriz se recusou a fazer de novo, alegando que, como mãe, 
era muito doloroso e emocionalmente desgastante interpretar aquilo. 
Anos depois, Streep foi entrevistada no programa de Oprah Winfrey, 
onde a cena da escolha foi mostrada. A atriz fi cou visivelmente 
incomodada e afi rmou que nunca tinha visto a tal cena até aquele 
momento.
27
FUNDAMENTOS DA ÉTICA Capítulo 1 
1 Você estudou, nessa seção, as principais teorias normativas da 
ética com seus princípios mais importantes. Relacione as colunas 
a seguir, indicando as teorias normativas da ética com sua 
respectiva defi nição:
 (1) Ética Teleológica ( ) Na sua principal vertente, que é o Utilitarismo, devemos 
agir levando em consideração as consequências da nossa 
ação.
(2) Ética Consequencialista ( ) A ênfase incide sobre o caráter virtuoso ou bom dos 
seres humanos, e não primeiramente sobre os seus atos e 
consequências.
(3) Ética das Virtudes ( ) Este princípio diz: age apenas seguindo as máximas que 
possas ao mesmo tempo querer como leis universais.
(4) Ética Deontológica ( ) O princípio que deve nortear a ação moral é: a máxima 
felicidade possível para o maior número possível de 
pessoas.
(5) Princípio da Utilidade ( ) É uma ética dos deveres, das obrigações de 
consciência, das certezas, dos imperativos categóricos, 
das ordenações incondicionais.
(6) Imperativo Categórico( ) É uma ética dos propósitos, da razão, dos resultados 
previsíveis, das análises das circunstâncias. 
4 TEMAS DE ÉTICA APLICADA
 
Como vimos na seção anterior, a ética aplicada diz respeito à resolução de 
problemas éticos cotidianos procurando resolver problemas práticos de acordo 
com princípios da ética normativa. As conexões entre diferentes teorias da ética 
normativa com questões de ética aplicada devem ser feitas a partir da aplicação 
de uma teoria normativa sólida sob o ponto de vista metaético (conceitual).
 
Basicamente, questões de ética aplicada começaram a ser debatidas no 
âmbito da sociedade, de uma maneira geral, principalmente a partir da Segunda 
Guerra Mundial (1939-1945), com a exibição das atrocidades cometidas pelos 
nazistas no Julgamento de Nuremberg e com o bombardeio nuclear sobre 
Hiroshima e Nagasaki (1945). Juntamente com estes fatos, criou-se também 
uma conscientização sobre as questões ambientais e os impactos das novas 
tecnologias (biotecnologias, Inteligência Artifi cial, eutanásia, ética animal, 
aborto etc.) sobre o ser humano e a sociedade. Visto que não é possível fazer 
uma apresentação completa de todos os problemas de ética aplicada, nos 
concentraremos, em especial, em algumas questões. 
 
28
 ÉTiCA E RESPoNSABiLiDADE SoCiAL
Incialmente, trataremos da Bioética (Ética da Vida), começando com o seu 
próprio surgimento e desenvolvimento e suas principais questões relacionadas 
com o início da vida (fertilização in vitro, clonagem, aborto etc.), meio da vida
(transplantes, tratamento com células-tronco etc.) até o fi nal da vida (suicídio 
assistido, tipos de eutanásia etc.). Na segunda parte, trataremos de questões de 
ética ambiental, por exemplo, sobre o valor do meio ambiente, da preservação 
da biodiversidade para futuras gerações etc. Depois, discutiremos questões de 
ética animal, tais como a experimentação científi ca envolvendo animais não 
humanos, vegetarianismo etc. (DENK NETO, 2014).
4.1 BIOÉTICA 
 
A Bioética apresenta-se hoje como uma importante área a ser estudada no 
campo da Ética Aplicada. Cada vez mais os avanços da ciência, especialmente 
na área médica, têm afetado de forma intensa a vida dos seres humanos. Temas, 
como aborto, eutanásia, clonagem e a discussão sobre o direito à integridade 
do código genético, por exemplo, constituem-se no centro das discussões dessa 
parte aplicada da ética que estuda a vida, tanto na sua origem como no seu 
desenvolvimento e no seu fi m. A Bioética é uma área de estudo interdisciplinar 
que envolve a Ética e a Biologia, fundamentando os princípios éticos que regem 
a vida quando essa é colocada em risco pela medicina ou pelas ciências.
 
A palavra Bioética é uma junção dos radicais “bio”, que advém do 
grego bios e signifi ca vida no sentido animal e fi siológico do termo (ou seja, bio 
é a vida pulsante dos animais, aquela que nos mantém vivos enquanto corpos), 
e ethos, que diz respeito à conduta moral. Trata-se de um ramo de estudo 
interdisciplinar que utiliza o conceito de vida da Biologia, o Direito e os campos 
da investigação ética para problematizar questões relacionadas à conduta dos 
seres humanos em relação a outros seres humanos e a outras formas de vida 
(DENK NETO, 2014).
 
A Bioética nasce justamente para resolver uma demanda que surge pela 
desconfi ança gerada tanto pelos abusos dos médicos no contexto da Segunda 
Guerra Mundial (1939-1945) quanto na própria sociedade norte-americana na 
década de 1970, motivada por escândalos envolvendo pesquisas com seres 
humanos. Os exemplos que motivaram o desenvolvimento desse relatório 
envolviam pesquisas em seres humanos sem o seu consentimento
(BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002). Vejamos alguns exemplos:
• 1º. Em 1932, no estado americano do Alabama, 400 negros com sífi lis 
foram recrutados a participar de uma pesquisa que verifi caria a ‘história 
natural’ da doença, e assim foram deixados sem tratamento para 
29
FUNDAMENTOS DA ÉTICA Capítulo 1 
observar como a doença progredia naturalmente durante 40 anos. Esse 
episódio fi cou conhecido como ‘o caso Tuskegee’. A pesquisa somente 
foi interrompida em 1972, após denúncia do jornalista Jean Heller no 
jornal The New York Times. 
• 2º. Entre as décadas de 1950 e 1970, ou seja, por 20 anos, no Hospital 
Estadual de Willowbrook, na cidade de Nova York, inoculou-se o vírus da 
hepatite em crianças com defi ciência mental para verifi car os efeitos da 
doença.
• 3º. Por fi m, em 1963, no Hospital Israelita de Doenças Crônicas, em 
Nova York, foram injetadas células cancerosas vivas em idosos doentes. 
 
Numa reação institucional a esses escândalos causados pelos fatos 
anteriormente descritos, o Governo e o Congresso norte-americano constituíram, 
em 1974, a National Commission for the Protection of Human Subjects of 
Biomedical and Behavioral Research (Comissão Nacional para a Proteção 
de Seres Humanos de Pesquisa Biomédica e Comportamental). Neste 
projeto, foi estabelecido como um dos objetivos principais buscar identifi car os 
princípios éticos “básicos” ou “fundamentais” que deveriam conduzir e regular a 
experimentação com seres humanos. Esta comissão fi cou conhecida a partir de 
então como Belmont Report ou Relatório Belmont. 
Mais especifi camente em 12 de julho de 1974 é formada uma comissão para 
discutir, avaliar e ao fi m desenvolver um conjunto de normas que pudessem ser 
seguidas em pesquisas envolvendo seres humanos, formando, desta maneira, 
uma teoria que forneceria os Ethical Principles and Guidelines for the Protection 
of Human Subjects of Research (Princípios Éticos e Diretrizes para a Proteção 
de Sujeitos Humanos de Pesquisa). Esse evento foi organizado no estado de 
Maryland, EUA, na House Belmont, um centro de conferências do Smithsonian 
Institution at Elkridge, por isso o nome de Belmont Report.
Essa comissão eclética montada pelo Congresso Americano era composta 
por sete especialistas das mais variadas áreas, desde a medicina, fi losofi a até a 
teologia e direito. Esses especialistas procuraram encontrar um acordo mínimo 
de quais seriam esses princípios básicos e assim tentaram chegar a um acordo 
de quais deles poderiam ser elencados para compor uma lista mínima. Tais 
princípios, segundo a comissão, passariam daí em diante a regular a conduta 
das pesquisas envolvendo seres humanos (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002). 
Assim, esse comitê produziu uma lista fi nal que elencou três princípios básicos, 
que são:
I. O princípio do respeito pelas pessoas.
II. O princípio da benefi cência.
III. O princípio da justiça.
30
 ÉTiCA E RESPoNSABiLiDADE SoCiAL
Entre aqueles que são geralmente aceitos em nossa tradição cultural, que 
são particularmente relevantes para a ética na pesquisa envolvendo sujeitos 
humanos, estes três princípios básicos – o princípio do respeito pelas pessoas, 
da benefi cência e da justiça –, foram defi nidos. A aplicação desses princípios 
gerais leva a três exigências: a de consentimento informado, a avaliação de risco/
benefício e a seleção justa de sujeitos de pesquisa (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 
2002). 
 
Posteriormente, o fi lósofo Tom L. Beauchamp, que participou da equipe 
que formulou o Relatório Belmont, com o fi lósofo e teólogo James F. Childress, 
criou a teoria ética denominada de Principialismo, descrita no livro Principles 
of Biomedical Ethics. Na primeira edição da obra, em 1979, o Princípio da 
Benefi cência se desdobrou e deu origem ao Princípio da Não Malefi cência, ou 
seja, o Relatório Belmont (1978) propunha três princípios, que nesta obra se 
transformaram em quatro, descritos a seguir. A tradução portuguesa da quarta 
edição dessa obra foi lançada no Brasil em 2002. 
FIGURA 10 – PRINCÍPIOS DE ÉTICA BIOMÉDICA, DE 2002
FONTE: < https://cutt.ly/1vUMH9z>. Acesso em: 15 jan. 2021.
A concepção defendida por Beauchamp e Childress (2002) baseia-se em 
quatro princípios, Respeito à Autonomia, Beneficência, Não Malefi cência e 
Justiça, como fundamentos do agir moral na ética biomédica. Uma das principais 
características dessa concepção refere-se ao fato de que seus princípios estão 
fundamentados em teorias éticas normativas distintas, que estudamos na seção 
anterior (teleológica e deontológica). 
31
FUNDAMENTOS DA ÉTICA Capítulo 1 
Os princípios constituem-se em guias gerais de ação a fi m de resolver 
dilemas morais e permitem a formulação de regras específi cas de conduta. 
Estas são generalizações normativas com conteúdo e alcance mais restrito que 
os princípios, funcionando como normas precisas de ação que estabelecem o 
que deve ser feito em determinadas circunstâncias. O principialismo, portanto, 
procura fundamentar a bioética a partir de princípios, sendo, dessa forma, uma 
teoria pluralista ao adotar as quatro formulações. Beauchamp e Childress (2002) 
defendem a validade prima facie dos princípios. Desse modo, não há entre os 
princípios qualquer hierarquia, dado que num primeiro momento todos têm valor 
e devem ser respeitados, mas na medida em que outras razões sufi cientemente 
fortes exigem a adoção de um ou outro princípio, a “infração” pode ser justifi cada. 
O primeiro princípio a ser tratado é o Respeito à Autonomia. A sua 
fundamentação está baseada na teoria de John Stuart Mill, da qual o princípio 
empresta a noção de respeito às pessoas enquanto indivíduos que buscam a 
realização de seus objetivos, desde que estes não interfi ram na vida de outras 
pessoas, e na ideia kantiana de que se deve respeitar o ser humano como fi m 
em si mesmo. O Princípio do Respeito à Autonomia, na formulação negativa, 
exige que as ações autônomas não devam ser controladas nem limitadas. Na 
formulação positiva, exige que a autonomia das pessoas seja respeitada. 
O consentimento informado, regra fundamental nas relações entre 
pacientes e profi ssionais da saúde, é derivado do Princípio do Respeito à 
Autonomia. Para que ele seja válido, são defi nidas algumas condições que 
devem ser atendidas, como a competência da pessoa e a compreensão sobre os 
procedimentos a serem realizados (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002). 
O segundo princípio, o Princípio da Não Malefi cência, é possuidor 
de uma longa tradição na área médica, pois tem suas origens no Juramento 
Hipocrático, seguido por todos os médicos. Dessa forma, apresenta-se como um 
princípio de relevância na prática moral, já que serve como orientação efetiva aos 
profi ssionais da saúde. Esse princípio exige que não se cause dano ou mal às 
pessoas. 
‘Dano’ é entendido como dano físico, como a dor, morte ou incapacidade, 
porém, não nega a importância de outros danos possíveis, como os mentais e 
aqueles que impedem a realização dos interesses dos pacientes. Desse princípio, 
pode-se inferir regras, como ‘não matar’, ‘não causar dor’, ‘não ofender’, que, 
assim como os princípios, possuem validade prima facie. Os autores discutem, a 
partir da formulação do Princípio da Não Malefi cência, critérios para a justifi cação 
do suicídio assistido, que se forem atendidos, podem tornar essa prática 
moralmente aceita (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002). 
32
 ÉTiCA E RESPoNSABiLiDADE SoCiAL
O terceiro princípio, o Princípio da Benefi cência, é decomposto em outros 
dois: o da benefi cência, que determina ações orientadas para a promoção do bem, 
e o da utilidade, que requer um equilíbrio entre os benefícios e possíveis prejuízos 
de uma determinada ação. As regras derivadas são formuladas positivamente, 
de modo que a elas não cabem sanções quando não cumpridas. O mesmo 
não acontece com as regras de não malefi cência, que têm caráter proibitivo e 
possibilitam sanções legais (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002). 
O quarto princípio, o Princípio da Justiça, possui implicações, por exemplo, 
na distribuição de recursos da saúde e da justifi cação dessa distribuição segundo 
algumas regras. O conceito de ‘justiça’ é entendido como justiça distributiva, a 
qual se relaciona a uma distribuição igual, equitativa e apropriada na sociedade. 
O Princípio da Justiça é especifi cado em duas outras elaborações: um princípio 
formal e outro material. 
O primeiro baseia-se no princípio aristotélico de que os iguais devem ser 
tratados igualmente e os desiguais devem ser tratados desigualmente. O princípio 
da justiça material, por sua vez, justifi ca a distribuição igual entre as pessoas 
mediante a satisfação de alguns critérios. Estes, como mostram os autores, 
podem se dar sob diferentes aspectos, como a cada pessoa uma parte igual, a 
cada pessoa segundo a necessidade, segundo o mérito, segundo o esforço ou 
segundo as trocas de mercado (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002). 
É preciso lembrar que o principialismo surgiu como uma teoria da bioética 
voltada, especialmente, para a ética biomédica, mas o alcance dos princípios fez 
do principialismo uma tentativa, de certa forma, bem-sucedida. Ao estendê-la a 
outras áreas da bioética, contudo, deve-se ter atenção quanto às possibilidades 
de aplicação dos princípios, que como já foi dito, talvez necessitassem ser 
complementados. Ainda assim, parece que não há outra teoria capaz de formular 
guias de ação claros e sufi cientes para as práticas médicas e para se pensar 
dilemas morais da bioética como o é o principialismo, e esse é o maior mérito que 
deve ser reconhecido.
Para saber mais, acesse: 
Iniciação à Bioética, disponível em: https://cutt.ly/7vU1rMw.
Publicação do Conselho Federal de Medicina, disponível em: http://
www.cfm.org.br. 
Bioética – Goldim, disponível em: https://www.ufrgs.br/bioetica/.
33
FUNDAMENTOS DA ÉTICA Capítulo 1 
Sugestão de fi lme: Uma Prova de Amor.
Sara (Cameron Diaz) e Brian Fitzgerald (Jason Patric) são 
informados que Kate (Sofi a Vassilieva), sua fi lha, tem leucemia e 
possui poucos anos de vida. O médico sugere aos pais que tentem 
um procedimento médico ortodoxo, gerando um fi lho de proveta que 
seja um doador compatível com Kate. Dispostos a tudo para salvar 
a fi lha, eles aceitam a proposta. Assim nasce Anna (Abigail Breslin), 
que logo ao nascer doa sangue de seu cordão umbilical para a irmã. 
Anos depois, os médicos decidem fazer um transplante de medula de 
Anna para Kate. Ao atingir 11 anos, Anna precisa doar um rim para a 
irmã. Cansada dos procedimentos médicos aos quais é submetida, 
ela decide enfrentar os pais e lutar na justiça por emancipação 
médica, de forma a que tenha direito a decidir o que fazer com o 
seu corpo. Para defendê-la, ela contrata Campbell Alexander (Alec 
Baldwin), um advogado que cuidará de seus interesses.
FIGURA 11 – UMA PROVA DE AMOR
FONTE: <https://cutt.ly/2vU1v9R>. Acesso em: 15 jan. 2021.
34
 ÉTiCA E RESPoNSABiLiDADE SoCiAL
4.2 ÉTICA AMBIENTAL OU ECOÉTICA
A Ética Ambiental surgiu como resposta à representação da natureza 
enquanto reservatório inesgotável de recursos com um ilimitado poder 
gerador e regenerativo, perspectiva que, a partir de meados do século XX, 
foi maioritariamente identifi cada como a responsável pela crise ambiental 
contemporânea. Já as questões ecológicas se intensifi caram principalmente 
depois dos grandes desastres ecológicos, tais como a poluição de cidades e a 
contaminação por vazamentos radioativos e nucleares (CARVALHO, 2015). 
A partir destes fatos, Richard Routley certifi cava, em 1973, a abertura de 
uma nova era na ética fi losófi ca. O autor defendia que a necessidade de uma 
ética aplicada ao ambiente exigia um quadro conceptual distinto dos princípios 
fundamentais sobre os quais haviam se apoiado as éticas clássicas ocidentais, 
em que o ser humano era entendido como o objeto central com valor intrínseco – 
antropocentrismo (SCHERER, 1982). 
Tradicionalmente, o raciocínio ético aplicava-se apenas à esfera dos 
comportamentos humanos, uma vez que apenas os seres humanos se 
encontravam em condições que fazem parte da comunidade moral (pela posse 
da racionalidade), isto é, do conjunto de seres em benefício dos quaispesam 
restrições normativas na conduta dos agentes morais. Tratava-se de um modelo 
intersubjetivo do raciocínio ético que não permitia que se conferisse estatuto moral 
a seres não humanos (animais, plantas, espécies, ecossistemas). Como não 
eram entendidos enquanto fi ns em si mesmos, considerava-se que esta lacuna 
deixava qualquer organismo não humano vulnerável face ao imenso poder com 
que a ação humana se revestia. 
O artigo de Routley (1973) marcou um momento fundamental no conceito de 
antropocentrismo, que haveria de dominar até hoje, enquanto visão em que a 
natureza não humana é considerada de acordo com a satisfação das necessidades 
humanas e/ou contribui para a promoção de valores e interesses exclusivamente 
humanos. Plantas, animais, comunidades bióticas e ecossistemas teriam aí um 
valor meramente instrumental. Contrapondo-se a esta visão instrumental da 
natureza, diversos eventos mundiais vão propor uma mudança de mentalidade, 
trazendo a ideia do que começou a denominar-se de ‘desenvolvimento sustentável’ 
para a economia e a sociedade.
Na Conferência de Estocolmo, de 1972, as atenções para a proteção 
da qualidade ambiental e a responsabilidade com relação às futuras gerações 
passam a ser acompanhadas pelas demandas sociais que, em conjunto, impõem 
um esforço para um projeto que mira ao futuro, assegurando a continuidade do 
35
FUNDAMENTOS DA ÉTICA Capítulo 1 
crescimento econômico, a proteção ambiental e uma melhor distribuição dos 
benefícios nos países em via de desenvolvimento. Esse projeto, que atribui 
igual importância às dimensões econômica, social e ambiental, ganha forma no 
conceito de ‘sustentabilidade’ ou de ‘desenvolvimento sustentável’ (CARVALHO, 
2015). 
Por sua vez, em 1992, na Conferência das Nações Unidas sobre Meio 
Ambiente e Desenvolvimento, procura-se garantir o direito a viver em harmonia 
com a natureza, pois os seres humanos estão no centro das preocupações com 
o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva, 
em harmonia com a natureza. Também se expressa a necessidade de garantir o 
direito a um meio ambiente preservado – para gerações presentes e futuras
–, pois o direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a permitir que 
sejam atendidas equitativamente as necessidades de desenvolvimento e de meio 
ambiente das gerações presentes e futuras (CARVALHO, 2015). 
Já na Declaração de Johannesburg, de 2002, defi ne-se que sustentável é 
o modelo de desenvolvimento que mira à eliminação da pobreza, à melhoria dos 
padrões nutricionais, da saúde e da educação, garantindo um adequado acesso 
aos serviços e aos recursos (energia, água etc.), eliminando progressivamente as 
disparidades globais e as desigualdades na distribuição de renda; assegurando 
iguais oportunidades entre os sexos e aos jovens, promovendo modelos de 
produção e de consumo que respeitem as exigências de proteção e gestão dos 
recursos naturais; que garanta a paz, a segurança, a estabilidade e o respeito dos 
direitos humanos, em todos os níveis, e promova a ajuda ao desenvolvimento, em 
quantidade e qualidade, por parte dos países mais desenvolvidos e através da 
cooperação internacional. 
Uma normatização das últimas décadas é o chamado Protocolo de Kyoto, 
ratifi cado por vários países visando principalmente a diminuição da poluição da 
atmosfera terrestre (CARVALHO, 2015).
Hoje portanto, não é mais possível pensar a sociedade e as políticas públicas 
sem levar em consideração a complexidade da temática do desenvolvimento 
sustentável nas suas multifacetadas dimensões – ecológica, econômica, social, 
cultural – e nas suas repercussões nos diversos níveis: global, nacional, regional 
e local. Posto que a semântica do “desenvolvimento” permanece ligada ao 
crescimento econômico, alguns autores e movimentos sociais preferem usar a 
terminologia ‘sustentabilidade socioambiental’ (CARVALHO, 2015). 
Aqui, apresentam-se os desafi os da sociedade contemporânea: como 
compatibilizar gerações de direitos difusos e coletivos relativos à proteção e a 
um meio ambiente saudável com a visão antropocêntrica de uma sociedade 
36
 ÉTiCA E RESPoNSABiLiDADE SoCiAL
consumista e dominada pelo poder da técnica? É o que estudaremos nos 
próximos capítulos.
CARVALHO, I. C. M. de; TRAJBER, M. G. e R. Pensar o Ambiente: 
bases fi losófi cas para a educação ambiental. Brasília: Ministério da 
Educação; Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e 
Diversidade; UNESCO, 2006. 
GONÇALVES, M. Filosofi a da Natureza. (Coleção Passo a Passo n. 
67). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
Sugestões de fi lmes e documentários sobre questões ambientais: 
Amazônia Eterna, disponível em: https://cutt.ly/evU0arU.
O documentário apresenta projetos com propostas bem-sucedidas 
no uso da fl oresta de maneira sustentável, benefi ciando diretamente 
a população local e promovendo boas parcerias econômicas.
Sabor do desperdício, disponível em: https://cutt.ly/VvU0d2y.
O intenso desperdício de alimentos no mundo é retratado no 
documentário. De acordo com o fi lme, cerca da metade de todos 
os gêneros alimentícios acabam no lixo, muitas vezes antes 
mesmo de chegar ao consumidor. Sabor do desperdício analisa as 
consequências para a alimentação da população mundial e seus 
efeitos sobre as mudanças climáticas.
Saneamento Básico, disponível em: https://cutt.ly/CvU0hVp.
O fi lme brasileiro conta a história de moradores que querem 
tratamento de esgoto na vila em que vivem e descobrem que não 
há verbas para solucionar o problema, mas existe uma maneira de 
conseguir.
37
FUNDAMENTOS DA ÉTICA Capítulo 1 
4.3 ÉTICA ANIMAL OU ZOOÉTICA
O movimento animalista é recente e foi fortemente impulsionado com a 
publicação do livro Animal Liberation (1975) do fi lósofo australiano Peter Singer. 
Desde o início do movimento de libertação dos animais na década de 1970, 
muitos pensadores questionam se criar animais para alimentação em grandes 
fazendas, em condições de opressão (trancafi ados em pequenos espaços, sem 
as condições naturais de luz solar, ar limpo etc.), é moralmente correto. 
FIGURA 12 – CAPA DO LIVRO LIBERTAÇÃO ANIMAL, DE PETER SINGER
FONTE: <https://cutt.ly/gvU0Why>. Acesso em: 15 jan. 2021.
Singer (2010) defendeu a libertação animal e a consideração de que os 
animais não humanos, especialmente os sencientes, ou seja, capazes de sentir 
dor e sofrer, não deveriam ser usados nem para experimentação científi ca e 
nem para alimentação, exceto em condições muito especiais. Ou, para ser mais 
preciso, se eles forem utilizados, então também seres humanos em igualdade de 
condições, com o mesmo nível de desenvolvimento mental (por exemplo, bebês 
ou defi cientes físicos ou psíquicos) também poderiam ser, pois a Ética é, para 
o fi lósofo australiano, universal e guia-se pelo Princípio da Igual Consideração 
de Interesses (PICI), estabelecendo que todos os seres sencientes, sejam 
humanos ou de outra espécie, são dignos de consideração moral. 
Em outros termos, Singer (2010) vale-se, como já vimos, de um referencial 
ético utilitarista, procurando maximizar o bem-estar de todos os seres sencientes 
38
 ÉTiCA E RESPoNSABiLiDADE SoCiAL
e minimizando a dor e o sofrimento. Assim, pelo critério da senciência, 
certos animais não poderiam ser consumidos como alimentos ou usados em 
experimentos científi cos; outros, todavia, os não sencientes, poderiam. Por 
outro lado, o vegetarianismo (comem vegetais) ou veganismo (não comem 
nenhum produto derivado de animais) e o abolicionismo científi co (não permitem 
experimentos científi cos usando animais) podem ser defendidos também 
mantendo que todos os animais possuem direitos, principalmente, o direito à vida, 
e assim não poderíamos usá-los para alimentação ou pesquisa (SINGER, 2010).
Aqueles que defendem que os animais podem ser usados para alimentação 
sustentam que os animais não humanos não são racionais ou não possuem 
linguagem ou não produzemciência, arte, fi losofi a etc. Por isso, eles não 
possuiriam valor intrínseco e, por conseguinte, não teríamos obrigações morais 
com relação a eles. Sustentam, também, que o sofrimento dos animais não 
possui signifi cado maior, pois eles não são pessoas ou humanos. É dito, enfi m, 
utilizando-se um referencial bíblico, que os animais não humanos foram feitos 
para o nosso uso. 
Tal posição muitas vezes é acusada de especismo e pressuporia algum 
tipo de antropocentrismo, ou seja, o preconceito de superioridade dos humanos 
sobre os outros animais, assim como o racismo é um preconceito de uma “raça” 
em relação à outra. Por isso, deveríamos abolir todas as formas de uso dos 
animais não humanos (SINGER, 2010).
FIGURA 13 – NÃO PISE NAS FORMIGAS – TEMPLO BUDISTA DE GRAMADO/RS
FONTE: O autor
Todas essas discussões sobre o direito dos animais deram origem à 
Declaração Universal dos Direitos dos Animais, de 1978, que em seus artigos 
prescreve, principalmente, que:
39
FUNDAMENTOS DA ÉTICA Capítulo 1 
1. Todos os animais são sujeitos de direitos e estes devem ser preservados.
2. O conhecimento e ações do homem devem estar a serviço dos direitos dos 
animais.
3. Os animais não podem sofrer maus-tratos.
4. Animais destinados ao convívio e serviço do homem devem receber 
tratamentos dignos.
5. Experimentações científi cas em animais devem ser coibidas e substituídas.
6. A morte de um animal sem necessidade é biocídio; de vários de uma mesma 
espécie, genocídio.
7. Animais destinados ao abate devem sê-lo sem sofrer ansiedade e nem dor 
(ONU, 1978).
Desta forma, o uso de animais em laboratórios para fi ns de pesquisa científi ca 
(que efetivamente produza conhecimento novo ou que sistematize o existente de 
maneira mais efi ciente etc.) também coloca sérias questões morais, por exemplo, 
podemos usá-los para testar novos medicamentos se eles próprios não são os 
benefi ciários? Os defensores dos direitos dos animais geralmente respondem 
de forma negativa, mas muitos progressos científi cos (por exemplo, a cura do 
diabetes) foram de fato possíveis a partir de experimentos em animais. Aqui 
também não temos consenso e talvez precisamos aprofundar a discussão sobre 
as teorias normativas e seus pressupostos metaéticos para ver mais claramente 
a questão. 
FELIPE, S. Ética e experimentação animal: fundamentos 
absolucionistas. Florianópolis: Edufsc, 2007.
VERNAL, J.; ALBUQUERQUE, L.; MEDEIROS, F. Dossiê: animais 
não humanos: um olhar contemporâneo. 2015. Disponível em: https://
periodicos.ufsc.br/index.php/interthesis/issue/view/2286. Acesso em: 
21 mar. 2021.
40
 ÉTiCA E RESPoNSABiLiDADE SoCiAL
Sugestões de fi lmes e documentários:
Earthlings (Terráqueos):
Lançado em 2005, Terráqueos – Faça a Conexão, é um documentário 
escrito, dirigido e produzido pelo ambientalista estadunidense 
Shaun Monson, que mostra até que ponto a humanidade chegou 
com relação à exploração animal. Pesado e chocante, o fi lme 
apresenta a realidade nua e crua por trás da produção de carnes, 
laticínios, roupas e calçados. Também traz informações e imagens 
impactantes sobre espécies usadas como entretenimento e cobaias 
em laboratórios farmacêuticos e da indústria da beleza.
Cowspiracy – O Segredo da Sustentabilidade:
Lançado em 2014, Cowspiracy – O Segredo da Sustentabilidade é 
um documentário de Kip Andersen e Keegan Kuhn que mostra de 
que forma a pecuária tem contribuído com o aquecimento global, 
inclusive sendo apontada como a principal responsável pela 
destruição da Amazônia.
1 A ética aplicada diz respeito à resolução de problemas éticos 
cotidianos procurando resolver problemas práticos de acordo 
com os princípios da ética normativa. As conexões entre 
diferentes teorias da ética normativa com questões de ética 
aplicada devem ser feitas a partir da aplicação de uma teoria 
normativa sólida sob o ponto de vista metaético (conceitual). 
Basicamente, questões de ética aplicada começaram a ser 
debatidas no âmbito da sociedade, de uma maneira geral, 
principalmente a partir da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), 
com a exibição das atrocidades cometidas pelos nazistas no 
Julgamento de Nuremberg e com o bombardeio nuclear sobre 
Hiroshima e Nagasaki (1945). Juntamente com estes fatos, criou-
se também uma conscientização sobre as questões ambientais e 
os impactos das novas tecnologias (biotecnologias, Inteligência 
Artifi cial, eutanásia, ética animal, aborto etc.) sobre o ser humano 
e a sociedade. Sobre o que foi estudado, a seguir, assinale (F) 
para as sentenças falsas e (V) para as verdadeiras:
41
FUNDAMENTOS DA ÉTICA Capítulo 1 
( ) Pessoas que são vegetarianas consomem apenas vegetais e 
nenhum tipo de peixe, ovos ou produtos derivados de animais.
( ) Bioética (Ética da Vida) estuda as principais questões 
relacionadas com o início da vida (fertilização in vitro, clonagem, 
aborto etc.), meio da vida (transplantes, tratamento com células-
tronco etc.) até o fi nal da vida (suicídio assistido, tipos de 
eutanásia etc.). 
( ) A ética ambiental investiga o valor do meio ambiente, da 
preservação da biodiversidade para as futuras gerações etc. 
( ) A ética animal examina a experimentação científi ca envolvendo 
animais não humanos, vegetarianismo, veganismo etc.
( ) Pessoas que são veganas consomem apenas vegetais, peixes e 
ovos. 
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Nesse Capítulo 1, estudamos os conceitos de ética e moral com uma 
abordagem histórica, compreendendo os seus principais fundamentos, suas 
teorias mais importantes e aplicações práticas relacionados a nossa vida diária e 
social. 
Percebemos que as considerações éticas e morais, em nossa sociedade, 
são importantes e, consequentemente, também o seu estudo, porque expressam 
e determinam padrões compartilhados de comportamento. Elas fi xam nossas 
obrigações frente aos outros e dão sentido às expectativas sobre o que os 
outros devem fazer por nós. As considerações éticas geram sentimentos de 
culpa, orgulho, vergonha, gratidão e delimitam os âmbitos da solidariedade, da 
indiferença e da reação intolerante. Elas entram na concepção que temos de 
nós mesmos. A busca por princípios e regras universais para orientar a conduta 
humana em sociedade é algo que atormenta as civilizações há séculos. 
Estudamos, também, que as Teorias Éticas se dividem em três campos 
principais de estudo: metaética, ética normativa e ética aplicada. Por sua 
vez, as teorias de ética normativa se distinguem em Teorias Teleológicas e 
Deontológicas. 
Por fi m, estudamos que a ética aplicada diz respeito à resolução de 
problemas éticos cotidianos procurando resolver problemas práticos de acordo 
42
 ÉTiCA E RESPoNSABiLiDADE SoCiAL
com os princípios da ética normativa. As conexões entre diferentes teorias da ética 
normativa com questões de ética aplicada devem ser feitas a partir da aplicação 
de uma teoria normativa sólida sob o ponto de vista metaético (conceitual). 
Tratamos da bioética (Ética da Vida) começando com o seu próprio 
surgimento e desenvolvimento, em seguida, examinamos as questões de ética 
ambiental e o valor do meio ambiente e da preservação da biodiversidade para 
as futuras gerações. Encerramos o Capítulo 1 discutindo as questões de ética 
animal, tais como: a experimentação científi ca envolvendo animais não humanos, 
o vegetarianismo etc. 
Percebemos que, ao longo de sua história, o ser humano tem buscado 
muitas respostas sobre como agir de forma adequada. Vimos as difi culdades e 
diferentes teorias em como saber qual é a ação certa ou errada, quais são as 
normas e regras sociais que devemos seguir na vida em comunidade. Essas e 
outras questões que dizem respeito à própria condição humana de existência 
individual e social, estudaremos nos capítulos seguintes desta disciplina.
43
FUNDAMENTOS DA ÉTICA Capítulo 1 
REFERÊNCIAS
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CHAUÍ, M. Convite à Filosofi a. São Paulo: Ática, 2005.
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KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Abril, 2019.
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44
 ÉTiCA E RESPoNSABiLiDADE SoCiAL
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ROUTLEY, R. Is there a need for a new, an Environmental Ethic? Proceedings 
of the XVth World Congresso f Philosophy: 17th to 22nd september. Bulgaria: 
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WEBER, M. Ciência e política. São Paulo: Cultrix, 1968.
CAPÍTULO 2
PROBLEMAS DE ÉTICA
A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 Compreender os principais problemas éticos presentes na sociedade atual.
 Investigar a relação entre Ética, Estado e Sociedade.
 Estudar princípios éticos e problemas sociais.
 Analisar os desafi os éticos contemporâneos.
 Identifi car os principais problemas éticos atuais.
 Utilizar princípios éticos nas abordagens de questões econômicas e sociais.
 Discutir teoricamente conceitos-chave e relacionar com problemas éticos 
contemporâneos.
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 ÉTiCA E RESPoNSABiLiDADE SoCiAL
47
PROBLEMAS DE ÉTICA Capítulo 2 
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Para entender os problemas éticos presentes em nossa sociedade atual, os 
quais são o objetivo deste Capítulo 2, devemos entender e resgatar as origens das 
formas de organização política e social ao longo da história. Da mesma forma que 
a Ética, a Política é uma das áreas de estudos da Filosofi a. Atribui-se aos gregos 
a invenção da Política e da discussão de qual é a melhor forma de governo, ou 
seja, qual é a melhor maneira de organizarmos nossa vida em comunidade.
Enquanto que a Ética, como vimos no Capítulo 1, é uma refl exão sobre como 
devemos agir, por sua vez, a Política é uma refl exão fi losófi ca que nos leva a 
compreender e discutir sobre como podemos e devemos viver em sociedade. A 
palavra Política vem do grego Pólis e signifi ca “sociedade”, “cidade”, “civilização”, 
ou seja, o conceito de política está relacionado a nossa vida em comunidade e 
sociedade. Só que este conceito varia no espaço e no tempo (CHAUÍ, 2005). É o 
que estudaremos a seguir.
2 ÉTICA E SOCIEDADE
Na Idade Antiga, como estudamos no Capítulo 1, já dizia o fi lósofo grego 
Aristóteles que somos ‘animais políticos’ (Zoon Politikon) e que temos uma ‘vida 
política’ (Biós Politikós) (ARISTÓTELES, 1992). Para os gregos, a política era 
exercitada na praça pública (Ágora), na qual os cidadãos resolviam os problemas 
da cidade (pólis). 
A forma de governo inventada pelos gregos, a Democracia (Demós: governo, 
Kratós: povo), é ainda, de certa forma, guardadas as devidas peculiaridades (por 
exemplo, a democracia grega era restrita e parcial, já que estavam excluídos dos 
direitos e deveres de cidadão os escravos, os estrangeiros, as mulheres e as 
crianças. Os gregos eram democratas em praça pública, porém tiranos no lar), 
predominante na sociedade contemporânea (CHAUÍ, 2005). 
Também, para os romanos, a vida em sociedade era fundamental. A palavra 
latina “viver” signifi ca o mesmo que ‘estar entre os homens’, e a palavra “morrer” 
quer dizer ‘deixar de estar entre os homens’. Assim, para gregos e romanos, 
a vida só possui sentido enquanto participação pública e ativa, de forma ética 
(virtudes), em sociedade, ou seja, tanto para os gregos quanto para os romanos 
há uma relação direta entre a maneira em como devemos agir (Ética) e viver em 
sociedade (Política) (BORGES, 2002).
48
 ÉTiCA E RESPoNSABiLiDADE SoCiAL
2.1 A POLÍTICA EM PLATÃO E 
ARISTÓTELES
Uma das primeiras obras a tratar de Política é A República, de Platão, escrita 
em aproximadamente 430 a.C. Nesta obra, Platão apresenta o seu conceito de 
justiça, a sua ideia de Estado e a proposta de reforma educativa na relação entre 
Ética e Política.
FIGURA 1 – A REPÚBLICA, DE PLATÃO 
FONTE: <https://cutt.ly/nvU3e68>. Acesso em: 25 jan. 2021.
Platão, com seu Método Dialético (a arte do diálogo: contradições/
oposições), se opõe contra os Sofi stas, grupo de pensadores que eram vistos 
como habilidosos oradores pelas pessoas, reconhecendo-se a importância das 
palavras e do uso da lógica. Eles podem ser considerados instrutores itinerantes 
contratados para ensinar retórica para fi ns políticos. Platão busca uma nova forma 
de sociedade, já que a sociedade grega havia condenado à morte o seu mestre 
Sócrates (PLATÃO, 2000).
49
PROBLEMAS DE ÉTICA Capítulo 2 
FIGURA 2 – A MORTE DE SÓCRATES – QUADRO DE JACQUES-LOUIS DAVID (1787)
FONTE: <https://cutt.ly/9vU3k03>. Acesso em: 25 jan. 2021.
Platão está contra a Democracia da época, que possuía corrupção, número 
excessivo de leis e retórica vazia (Sofi stas). Platão propõe um Estado Ideal 
(utopia: ú + topos – lugar desconhecido). Neste Estado Ideal, em que se realiza 
plenamente a justiça, funda-se um programa de educação adequado, exigindo 
harmonia e estabilidade entre cidadãos e o governo. O governante deve ter boa 
formação ética e intelectual. Não basta ser militar, rico ou popular (PLATÃO, 
2000).
Para Platão (2000), a justiça é uma virtude (Areté). O Estado e o Homem 
devem ser justos (Ética e Política). A justiça no Estado é uma disposição 
harmoniosa e hierárquica de todas as classes e suas respectivas funções. A 
justiça no homem pressupõe a harmonia do conjunto de suas virtudes governadas 
pelo racional. A justiça não se mede apenas pela conduta, mas pela disposição 
interior da alma. Ser virtuoso signifi ca possuir uma mente racional e moralmente 
governada. Um homem justo nunca se deixa governar pelos desejos. É a razão 
que deve presidir as decisões do estado e os

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