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NUTRIÇÃO, SUPLEMENTAÇÃO E FITOTERAPIA ESPORTIVA: CIÊNCIA E PRÁTICA Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Donatto, Felipe Fedrizzi Nutrição, suplementação e fitoterapia esportiva : ciência e prática / Felipe Fedrizzi Donatto. -- São Paulo : All Print Editora, 2018. Bibliografia. ISBN 978-85-411-1433-2 1. Aptidão física - Aspectos nutricionais 2. Atletas - Nutrição 3. Fitoterapia 4. Hábitos alimentares 5. Suplementos dietéticos I. Título. 18-14739 CDD-613.2024796 Índices para catálogo sistemático: 1. Nutrição esportiva 613.2024796 Maria Paula C. Riyuzo - Bibliotecária - CRB-8/7639 NUTRIÇÃO, SUPLEMENTAÇÃO E FITOTERAPIA ESPORTIVA: CIÊNCIA E PRÁTICA PhD. FeliPe FeDrizzi Donatto NUTRIÇÃO, SUPLEMENTAÇÃO E FITOTERAPIA ESPORTIVA: CIÊNCIA E PRÁTICA Copyright © 2018 by Felipe Fedrizzi Donatto O conteúdo desta obra é de responsabilidade do autor, proprietário do Direito Autoral. Proibida a venda e reprodução parcial ou total sem autorização. Projeto gráfico, editoração e impressão: www.allprinteditora.com.br info@allprinteditora.com.br (11) 2478-3413 Foto da frente Chaoss/Shutterstock.com Foto do verso Lebedev Roman Olegovich/Shutterstock.com Foto Felipe Donatto Johnny Duarte Arte final de capa Victor Gaite 5 agraDecimentos e DeDicatória Primeiramente, gostaria de agradecer a Deus e aos meus pais, Luiz e Estela, por terem me possibilitado o dom da vida. Obrigado a Fabiane e Marcela pela irmandade ao longo da vida. Agradeço também a todos os meus senseis do judô, que contribuíram enormemente não só para a minha formação como atleta, mas, sobretudo, como ser humano. Sem o aprendizado que obtive com esses mestres eu não teria todas as bases ne- cessárias para construir o que construí até agora na minha vida. Um agradecimento especial a todos os meus amigos da época do mestrado em Educação Física, os atualmente PhD Jonato Prestes, Chris- tiano Bertoldo, Denis Foschini e Gerson Leite, que lutaram junto comigo na difícil fase da vida acadêmica. Agradecimento à equipe BFeventos, em especial ao Brunno Falcão, por sempre ter acreditado no meu potencial e por contribuir constante- mente para a melhora da qualidade do ensino da nutrição no Brasil. Agradecimento especial ao Dr. Euclésio, Filipe Bragança e Carlos To- maiolo, por acreditarem em minha capacidade técnico-científica para agregar conhecimento no mercado da nutrição e suplementação esportiva brasileira. Um muito obrigado a Adriana Almeida e Karlos Brasilia, pela edição do texto e assessoria técnica, pois nessa vida, quem tem amigos, tem tudo. Por fim, dedico este livro à minha amada esposa Drucilla, por todo amor e dedicação ao longo destes 11 anos juntos, e ao meu filho Kalel, meu tesouro, pois sem a base e apoio da minha família este livro não teria sido escrito. sumário Introdução à consulta nutricional ...................................................................9 Comportamento alimentar x controle do sistema nervoso central ......... 12 Avaliação bioquímica nutricional .................................................................. 16 O perfil genético e a interação com a dieta ................................................. 25 Avaliação antropométrica .............................................................................. 35 Bioenergética do exercício e cálculo do gasto calórico ............................. 41 Cálculo das necessidades nutricionais .......................................................... 46 Carboidratos na dieta: perda de peso x hipertrofia x performance ......... 50 Necessidade proteica conforme a individualidade do atleta ..................... 56 Lipídios: bioquímica, classificação e fontes dietéticas ............................... 63 Vitaminas, minerais e nutracêuticos ............................................................. 70 Imunonutrição: alimentando o sistema imunológico ............................... 74 Dieta cetogênica .............................................................................................. 79 Jejum intermitente ........................................................................................... 83 Dietas restritas em carboidratos (low carb) ................................................. 89 Dieta do mediterrâneo ................................................................................... 91 Dieta flexível .................................................................................................... 93 Prescrição da dieta pelo biótipo corporal: ectomorfo, endomorfo, mesomorfo ....................................................................................................... 96 Organização nutricional para os treinos ...................................................... 99 Estratégias nutricionais para o aumento de massa muscular .................. 101 Posicionamento do ISSN sobre dietas e composição corporal ............. 105 Classificação dos suplementos alimentares (ISSN) .................................. 107 Suplementos nutricionais no mercado brasileiro ..................................... 116 Fitoterapia no esporte .................................................................................. 120 Referências bibliográficas ............................................................................. 127 9 introDução à consulta nutricional Em treze anos atuando como nutricionista, meus primeiros conta- tos com atletas e pessoas fisicamente ativas foram no estágio de nutrição na Secretaria de Esportes de Piracicaba – SP, quando eu era atleta bolsista e lutava judô em campeonatos, jogos regionais e abertos representando a minha cidade natal. Nessa época aprendi a importância da contagem dos nutrientes e do uso da balança para ajustar corretamente a quantidade dos alimentos previamente calculados, pois em lutas existe o enquadramento em categorias de peso e na época eu poderia pesar no máximo 81kg. Entre 3 e 4 semanas antes dos campeonatos eu calculava uma dieta hipocalórica para perder em torno de 3-4kg até o dia da pesagem. Esse conhecimento de causa ajuda muito no dia a dia do consultó- rio, pois contribui para a percepção de como direcionar o tratamento nu- tricional para pessoas que possuem diferentes objetivos. Assim, uma dica que deixo para estudantes e profissionais da saúde é tentar fazer a própria dieta e se autoconhecer em relação aos efeitos agudos e crônicos da dieta e da mudança do hábito de vida. A consulta nutricional pode ser resumida em uma entrevista na qual o nutricionista tem o objetivo de obter o maior número de informações relacionadas ao estado nutricional do paciente, como por exemplo: hábitos alimentares, histórico familiar de doenças, exames bioquímicos, avaliação antropométrica e frequência e intensidade da prática de exercícios físicos. Dessa forma, entendemos o estilo de vida do paciente e sua ligação com os aspectos relacionados à alimentação. Com o tempo, o nutricionista que trabalha no consultório consegue distinguir as pessoas fisicamente ati- vas, que já possuem hábitos nutricionais mais coerentes, das que não têm o hábito de se exercitar e se alimentam de forma desregrada. No consultório, costumamos nos deparar com uma série de situa- ções, como por exemplo, pessoas que realizam quase todas as suas refei- ções fora de casa ou que não tem o hábito de tomar um café da manhã adequado, pois sempre acorda “atrasada” ou não “sente fome”. Temos ainda as que não costumam comer nada no intervalo da manhã e, quando comem, a escolha é sempre por lanches que não têm nenhum valor nutri- cional. No almoço, vemos pouco interesse por saladas e legumes, sendo 10 que a maioria tem grande preferência pela ingestão de carboidratos refina- dos e frituras, que costumam estar acompanhados de sobremesa e pouca proteína. No fim da tarde, com a queda da glicemia pela ausência de uma refeição após o almoço, ocorre que essas pessoas sentem a necessidadede comer qualquer doce que veem pela frente, porém, como esse tipo de ali- mento geralmente não possui efeito de saciedade e acaba que no período noturno elas consomem a maior parte das calorias do dia, saciando a fome com fast foods ou comidas gordurosas dos mais diversos tipos. Como esse ciclo alimentar diário vai se repetindo, a pessoa começa a acumular gordura corporal, o que explica a clássica frase: “Mas eu não como muito durante o dia. Não sei porque engordo!”. E quando chega o fim de semana, as coisas pioram ainda mais com relação aos horários das refeições, à quantidade de “comfort foods” (mistura de açúcar e gorduras em geral) consumida, à quantidade de álcool ingerida – que pode, sozinha, alcançar a necessidade calórica total do dia. Esses hábitos costumam ser mantidos por muito tempo e são difíceis de mudar, já que se estruturam em fortes relações afetivas e sociais. Matematicamente falando, a perda de peso fica impossível de acontecer pois o balanço médio calórico da semana acaba sendo positivo, piorando ainda mais com o baixo nível de atividade física – quando realizado. O ganho de peso com esse tipo de hábito pode ser entre 5kg-10kg ao ano. Balanço calórico semanal 11 O propósito da consulta nutricional é justamente o de promover a mudança da bioquímica e da composição corporal da pessoa, independen- temente do objetivo, se estético ou saúde. Como nosso corpo não sabe diferenciar a segunda-feira do domingo, o sucesso da dieta acaba depen- dendo de apenas um componente: aderência à novos hábitos alimentares e hábitos de vida mais saudáveis, como deixar de fumar, controlar o con- sumo de álcool e se exercitar regularmente. Quando se trata de atletas de elite, amadores ou de pessoas fisi- camente ativas, o conhecimento de toda a preparação física é extrema- mente importante para se estimar o gasto calórico total, bem como o acompanhamento bioquímico constante ao longo de todo o período de treinamento do atleta. Dessa forma, é possível controlar do ponto de vista nutricional o fornecimento necessário de nutrientes para o exercício físico, bem como para a recuperação do organismo. Normalmente, esses indiví- duos são mais disciplinados pois sabem que a dieta faz total diferença no desempenho atlético. Minha definição de dieta: organização nutricional qualitativa e quantita- tiva diária envolvendo horários das refeições, peso em gramas dos ali- mentos prescritos, suplementos fitoterápicos e dietéticos voltados para a individualidade genética, bioquímica e antropométrica do indivíduo. O nutricionista possui ferramentas matemáticas, bioquímicas, genéticas e antropométricas para realizar a prescrição da dieta independente de qual seja o objetivo do paciente. 12 comPortamento alimentar x controle Do sistema nervoso central Quando comparamos nossos hábitos alimentares atuais com o de nossos ancestrais, notamos claramente uma grande diferença no tocante à variedade de alimentos ofertados e quantidade disponível. E o fato de não precisarmos mais de caçar, plantar e colher os alimentos que ingerimos con- tribuiu para que nosso gasto calórico corporal passasse a ser menor. E para ajudar a agravar ainda mais essa situação, nos tornamos sedentários, já que os adventos da tecnologia acabaram contribuindo para nossa dependência de “agentes” facilitadores do dia a dia como os meios de transportes, esca- das rolantes, controles remotos e tantas outras comodidades disponíveis ao nosso redor, a menos de um passo. Além desse fator comportamental, tivemos uma mudança nos tipos de alimentos consumidos ao longo dos anos, principalmente depois da segun- da guerra mundial, quando a indústria alimentícia cresceu exponencialmente oferecendo opções de alimentos práticos e de fácil preparação, porém, feitos com ingredientes que nossos ancestrais não encontravam na natureza como estabilizantes, edulcorantes, moduladores de pH e outras químicas, além de farinhas refinadas, gorduras trans e açúcar branco. Entre os alimentos que entram na lista dos “práticos” estão as carnes processadas, os enlatados, os embutidos e o famigerado macarrão instantâneo. Outro advento que contribuiu para a mudança comportamental alimen- tar foi o conceito de fast food. A rede mais conhecida, McDonalds, foi criada na década de 50 por imãos que vendiam cachorro-quente na Califórnia, e o mo- delo de negócio desenvolvido por eles foi tão exitoso que as franquias, após terem se consolidado nos EUA, foram propagadas ao redor do mundo. Seus sanduíches são exemplos de alimentos processados com misturas de carne e gorduras na forma de hambúrguer, queijos ricos em gordura saturada, além do acompanhamento de refrigerantes, porções de frituras e sorvetes. Existem até vídeos na internet demonstrando que seus lanches não apodrecem mesmo depois de terem sido feitos há meses! Se nem fungos e bactérias aceitam esse “alimento”, porque eu vou? Quais são os efeitos em nosso sistema nervoso central se ingerirmos esses tipos de alimentos de forma crônica? Existe uma 13 ligação com o vício em comida? Por que essas empresas direcionam suas cam- panhas de marketing para crianças e adolescentes? Essas questões são levantadas para tentar explicar o crescimento mundial, da obesidade. De uma forma geral, as pessoas obesas lidam com um fator em comum: comem de forma exagerada e sem controle, além de usarem o alimento como ferramenta para diminuir a ansiedade. Os gatilhos para esses ataques costumam ser diversos e podem estar relacionados a uma perda na família, uma briga com o cônjugue, uma decepção no trabalho e, até mesmo por puro entretenimento. Em nosso hipotálamo temos grupos de neurônios com diferentes funções, entre eles, os que estimulam nossa fome e os que despertam nossa saciedade. Por conta disso, um desbalanço em um desses grupos pode de- sencadear um descontrole geral das funções vitais de uma pessoa, levando-a à obesidade (SPIEGEL ET AL., 2005). Esses neurônios, por sua vez, possuem receptores para alguns peptí- deos, como a leptina (que é produzida pelo tecido adiposo e tem função de reduzir o consumo de alimentos) e a grelina (peptídeo do trato gastrointesti- nal que ativa os centros de fome). Já se sabe que as pessoas obesas secretam grandes quantidades de leptina, proporcional à quantidade de tecido adipo- so que possuem, contudo, essa informação excessiva através da leptina faz com que não se tenha a sensação de saciedade nos neurônios específicos pelo mecanismo hormonal de feedback negativo. Ação leptina e grelina nos neurônios hipotalâmicos 14 Atualmente, pesquisas científicas têm demonstrado que alguns tipos de alimentos possuem a capacidade de modular nossos neurotransmissores e, dessa forma, podem criar uma relação dopamina/vício pelo sistema de re- compensa hipotalâmico (VOLKOW, 2005; VOLKOW, 2012). Assim, alimen- tos feitos com carboidratos refinados, gorduras trans e saturadas fazem com que a secreção de dopamina aumente para estimular a sensação de prazer. Já o hábito contínuo de consumir esse tipo de alimento faz com que a pessoa fique dependente de tal mistura, criando pontes neurais comportamentais de vício. Mas não só isso, como nesse processo também ocorre a apotose (morte celular) dos neurônios que controlam a saciedade, isso faz com que a pessoa não tenha mais controle sobre a alimentação no longo prazo. Um dos manejos nutricionais conhecidos para evitar a constante se- creção de grelina (sinalizadora de fome) ao longo do dia é a mistura de determinados tipos de alimentos com o fim de promover o esvaziamento gastrointestinal de forma mais lenta, estimulando assim o Glucagon Like Peptideo-1 (GLP-1), responsável por sinalizar a saciedade para o sistema nervoso central. Esse efeito é alcançado quando existe a mistura de pro- teínas, gorduras e vegetais nas refeições, o que faz com que a digestão seja mais demorada, estimulando assim o GLP-1 e diminuindo a grelina (FOS- TER ET AL., 2008). Metabolismo do álcool no organismo 15Com relação ao consumo de álcool, temos um outro ponto a ser analisado no tocante ao hábito dos pacientes. Bioquimicamente, o álco- ol possui 7kcal vazias por grama, não sendo classificado como nutriente posto que precisa ser oxidado no fígado em outros metabólitos (sobras das reações bioquímicas), que participam da nova produção de lipídios hepáticos (Lipogenese denovo) e atrapalham o metabolismo muscular, tal como demonstra a figura do metabolismo do álcool. Esse processo de inibição de lipólise do tecido adiposo e redução da oxidação de gordura nos músculos faz com que fique mais fácil estocar gordura no corpo do que usa-lá como fonte energética, seja em repouso ou durante o exercício. Além disso, existe o aumento do catabolismo (quebra) e redução do anabolismo (construção) dos músculos, dificultando mais ainda o aumento da massa muscular (MAHMOUD et al., 2005). Essas informações ajudam o nutricionista a compreender que existem pessoas nessa situação e que o trabalho para mudar esse tipo de comportamento é longo e árduo. A atuação do próprio paciente, se cons- cientizando de que precisa mudar certos hábitos alimentares se quiser ter saúde e qualidade de vida, é a base do tratamento. 16 avaliação bioquímica nutricional Atualmente, o trabalho nutricional é acompanhado de ferramentas importantes para qualquer tipo de paciente. A análise bioquímica, por exem- plo, pode ajudar na detecção de intercorrências nutricionais, indicar o com- prometimento de órgãos importantes, excesso de nutrientes ou fármacos, bem como acompanhar a adaptação do indivíduo durante o treinamento. Em relação à função celular, podem ocorrer alterações por hipoxia, produtos químicos e drogas, agentes físicos, agentes microbiológicos, meca- nismos imunológicos, defeitos genéticos, desequilíbrio nutricional e envelhe- cimento. Em especial, o desequilíbrio nutricional pode ocorrer pela deficiência proteico-calórica, hipovitaminoses, radicais livres e excessos nutricionais. Ainda, existem dúvidas por partes dos nutricionistas se nossa ca- tegoria tem permissão para a solicitação de exames laboratoriais, mas se procurarmos no Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) encontramos a seguinte lei: Lei nº 8.234, 17 setembro de 1991 Art. 4º Atribuem-se, também, aos nutricionistas as seguintes atividades, desde que relacionadas com alimentação e nutrição humanas: I - elaboração de informes técnico-científicos; II - gerenciamento de projetos de desenvolvimento de produtos alimentícios; III - assistência e treinamento especializado em alimentação e nutrição; IV - controle de qualidade de gêneros e produtos alimentícios; V - atuação em marketing na área de alimentação e nutrição; VI - estudos e trabalhos experimentais em alimentação e nutrição; VII - prescrição de suplementos nutricionais, necessários à complementação da dieta; VIII - SOLICITAÇÃO DE EXAMES LABORATORIAIS NECESSÁRIOS AO ACOMPANHAMENTO DIETOTERÁPICO; Dessa forma, sempre que possível, pode e deve solicitar exames bio- químicos para monitorar seu paciente (NELZIR ET AL., 2012; BENOIST ET AL., 2015; BASTOW, 1986). A seguir, modelo de guia e tabelas de referências que podem contribuir para o trabalho do profissional da saúde. 17 Exemplo de solicitação de exames bioquímicos Tabela de valores de referências: hemograma série vermelha Parametro analisado Homens(acima 16 anos) Mulheres (acima 16 anos) Eritrócitos (milhões/mm3) 4,30 - 5,730 3,90 - 5,00 Hemoglobina (g/dL) 13,5 - 17,5 12,0 - 15,5 Hematócrito (%) 39,0 - 50,0 35,0 - 45,0 Hemoglobina corpuscular média (pg) 26,0 - 34,0 26,0 - 34,0 VCM fL 81,0 - 95,0 82,0 - 98,0 Concentração de hemoglobina corpuscular (g/dL) 31,0 - 36,0 31,0 - 36,0 RDW (%) 11,9 - 15,5 11,9 - 15,5 Ferritina (ng/ml) 30-400 13-150 Tabela de valores de referências: hemograma série branca Parâmetro analisado Homens e Mulheres Leucócitos %/ul 100% / 3.500 - 10.500cel 45% - 73,5% / 1.600 - 7.700cel 2% - 10% / 100 - 1.000cel 0 - 4,4% / 0 - 300cel 23% - 47% / 900 - 3.900cel 0 - 1% / 0 - 300cel 150.000 - 450.000 Neutrófilos %/ul Monócitos %/ul Eosinófilos %/ul Linfócitos %/ul Basófilos %/ul Plaquetas ul 18 Tabela de valores de referências: lipidograma Parâmetro analisado Homens e Mulheres Colesterol total (mg/dL) <190 <129 <30 >40 < 150 mg/dL LDL-c (mg/dL) VLDL-c (mg/dL) HDL-c (mg/dL) Triglicérides Tabela de valores de referências: vitaminas Parâmetro analisado Homens Mulheres Vitamina B12 (pg/ml) 174 - 878 >30 até 60 360 - 1,200 3 - 17 Vitamina D ng/ml Vitamina A ug/L Ácido fólico ng/ml Tabela de valores de referências: minerais e eletrólitos Parâmetro analisado Homens Mulheres Cálcio Iônico (mcmol/L) 1,12 - 1,40 40 - 180 70 - 140 50 - 120 135 - 145 3,5 - 5,0 2,5 - 5,6 1,4 - 2,3 Ferro sérico mcg/dL Cobre μg% Zinco μg% Sódio (mmol/L) Potássio (mmol/L) Fósforo (mg/dL) Magnésio (meq/L) Tabela de valores de referências: marcadores inflamatórios e enzimáticos Parâmetro analisado Homens Mulheres Proteína C-reativa (mg/dL) < 0,5 <15Homocisteína (mcmol/L) Creatina fosfoquinase - MM-CK U/L 35 - 232 21 - 215 Tabela de valores de referências: função hepática Parâmetro analisado Homens Mulheres AST/TGO <38 U/L <32 U/L ALT/TGP <41U/L <32 U/L Fosfatase alcalina <65-300 U/L <65-300 U/L Gama GT <11-50 U/L <8-41 U/L Bilirrubinas totais 0,2-1,2mg/dL 0,2-1,2mg/dL Bilirrubina direta >0,3mg/dL >0,3mg/dL Bilirrubina indireta >0,9mg/dL >0,9mg/dL 19 Tabela de valores de referências: hormônios Parâmetro analisado Homens Mulheres Hormônio luteinizante (LH) (mUl/ml) 13 a 70 anos: 1.5 a 9.3 13 a 70 anos: 1.9 a 12.5 Hormônio folículo-estimulante (FSH) (mUI/ml) De 1,1 a 8,0 De 1,5 a 8,0 Testoterona total ng/100 ml 241 a 827 14 a 76 Globulina de ligação de hormônios sexuais (SHBG) (nmol/L) 20 a 50 anos: de 13,2 a 89,5 20 a 46 anos: de 18,2 a 135,7 Testosterona livre (pg/ml) 8,69 a 54,69 0,46 a 2,48 Cortisol (ng/ml) às 8 horas:43 a 224 às 8 horas: 43 a 224 Prolactina (ng/ml) 2.1 a 19.0 2.83 a 30.0 DHEA-S (mcg/dl) 16 a 29 anos: 280 a 640 30 a 39 anos: 120 a 520 40 a 49 anos: 95 a 530 16 a 29 anos: 65 a 380 30 a 39 anos: 45 a 270 40 a 49 anos: 32 a 240 Parâmetro analisado Homens Mulheres Estradiol (pg/ml) < = 54 10 a 183 Estrona (pg/ml) 10 a 90 37 a 138 Hormônio tireoestimulante (TSH) (mU/L) 0,4 to 4,5 0,4 to 4,5 T4 (ng/dl) 0.7-1.8 0.7-1.8 Insulina (mcU/ml) 2-25 2-25 Paratohormônio (PTH) (pg/ml) 10 a 70 10 a 70 Tabela de valores de referências: metabolismo proteico Parâmetro analisado Homens Mulheres Uréia plasmática (mg/dL) 10-50 10-50 Creatinina sanguínea (mg/dL) 0,60 a 1,10 0,60 a 1,10 Filtração Glomerular (ml/min) 80-120ml/min 60-120ml/min 20 HEMOGRAMA O sangue é composto por uma parte líquida denominada plasma, onde se encontram os elementos celulares (glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). Os glóbulos vermelhos (hemácias) têm origem na medula óssea e desempenham a função de carregar a hemoglobina. A he- moglobina representa de 90% a 95% da parte sólida das hemácias, sendo 2/3 delas compostas por água. Em atletas de endurance ou lutadores em fase de redução de peso, é importante analisar a relação do hematócrito, hemácias e hemoglobina, bem como associar os níveis de ferro sérico e ferritina. A redução desses parâme- tros é mais evidente em atletas mulheres, com possíveis sinais de amenorreia (ausência de menstruação). Já o aumento dos marcadores celulares sinaliza uma maior viscosidade do sangue, que pode ser agravado com o uso de diuréticos – prática comum por lutadores que desejam secar para a luta e de outras modalidades cujos atletas façam uso de esteroides anabolizantes para aumentar a massa muscular ou melhorar a performance atlética. LEUCOGRAMA Os leucócitos totais representam todas as células brancas circulantes (granulócitos neutrófilos, eosinófilos e basófilos, monócitos e linfócitos). A dieta pode influenciar o sistema imune, sendo que os principais com- bustíveis, glicose e aminoácidos, além de vitaminas e minerais,dependem da qualidade dos alimentos ingeridos. Uma restrição severa alimentar acar- reta em imunossupressão (queda do número e atividade celular), pois a redução da glicemia, principalmente pelo corte de carboidrato, resulta em um aumento dos níveis de cortisol (que deixa o sistema imune mais estres- sado e inflamado), além de reduzir os níveis de testosterona. Com relação às células do sistema imune, quando existe uma queda do número celular damos o nome de “leucopenia”, já ao aumento das mesmas, denominamos “leucocitose”. Essas variações podem acontecer em processos inflamatórios ou infecciosos e também pela prática do exer- cício físico, pois este tem a capacidade de modular as respostas do sistema imune, tanto para a melhora quanto para a piora da resposta imunológica, porém, isso depende da capacidade individual, do volume e da intensidade da atividade física. De uma forma geral, o exercício físico moderado bene- ficia as respostas imunológicas. 21 GLICEMIA E INSULINA BASAL Atualmente, o controle glicêmico é um dos parâmetros para se ava- liar o nível de saúde de um indivíduo, pois a manutenção glicêmica dentro dos valores de referência requer um controle da gordura corporal e me- lhora da sensibilidade à insulina em conjunto com o exercício físico. Dessa forma, associar os níveis de insulina basal pode ajudar o nutricionista a prescrever uma dieta com quantidades e tipos de carboidratos ideais para a situação. Para associar os exames bioquímicos aos hábitos alimentares, analisa-se o tipo de alimento e a maneira como ele é ingerido, por exemplo: comer 1 maçã sozinha implica em um comportamento glicêmico diferente de quando se ingere a mesma maçã em conjunto com uma fonte proteica. O controle da carga glicêmica que se dá pela mistura dos macros responde positivamente nos níveis de insulina basal e glicemia pós-prandial. Com relação aos níveis de insulina basal, esses podem demosntrar como está o funcionamento do hormônio, sendo que um nível em jejum acima de 13mcU/L pode indicar uma dificuldade em estimular a lipólise do tecido adiposo (liberação de gordura do depósito), dificultando a queima de gor- dura em repouso. Dessa forma, níveis entre 2-10 mcU/L são encontrados em pessoas eutróficas que não possuem resistência periférica à insulina. Um dos cálculos possíveis para estimar um possível problema com esse hormônio é o Índice Homeostasis Model Assessment (HOMA-IR). HOMA-IR = Glicemia de jejum x 0,05 x insulina de jejum/22,5 Os valores menores que 3,4 são considerados dentro da normalidade Ex: 99 glicemia x 0,05 x 20 insulina/22,5 = 4,4 (acima da normalidade) METABOLISMO PROTEICO A observação dos marcadores relacionados ao metabolismo protei- co pode indicar se há uma ingestão baixa ou alta de proteínas na dieta. Pelo metabolismo hepático de proteínas, temos a produção de uréia, sendo que este marcador é usado para verificar a quantidade proteina ingerida na dieta, por exemplo um homem que gosta de churrasco, e come muita pro- teína na dieta, este indicativo pode chegar a 60mg/dL. Se o nutricionista perceber que o indivíduo exagera na quantidade de proteína, pode ser uma ferramenta útil para adequar a quantidade proteica do paciente. A filtração glomerular acompanha o trabalho dos rins sendo que acima de 60ml/min 22 indica boa função renal, porém se o paciente nao tem uma hidratação cor- reta, estes parâmetros podem mudar. Sobre a creatinina, o uso de creatina como suplemento naturalmente aumenta os níveis plasmáticos, mas não é indicativo de excesso proteico, tendo mais relação com o metabolismo muscular. LIPIDOGRAMA Analisar as concentrações plasmáticas dos diferentes tipos de lipídios circulantes é imprescindível para uma prescrição dietética acertada. Devem ser relacionados os níveis de triacilglicerol, colesterol total, bem como as lipopro- teínas plasmáticas (VLDL-c, LDL-c, HDL-c). É importante o nutricionista se atentar ao equilíbrio entre as lipoproteínas, sendo que existe a possibilidade de calcular a relação entre elas e entender qual será o direcionamento da dieta a partir disso. Na literatura temos o Indice de Castelli 1, que relaciona o Co- lesterol Total e o HDL-c (CT/HDL-c) com valores abaixo de 4,5. EX1: CT = 200 / 40 HDL-c = 5 (alto) EX2: CT 200 / 50 HDL-c = 4 (normal) Por outro lado, temos o Índice de Castelli II, que relaciona o LDL-c e o HDL-c, sendo que esses valores devem ser menores que 2,9 para um equilíbrio considerado saudável. EX1: 130 LDL-c / 40 HDL-c = 3,2 (alto) EX2: 130 LDL-c / 50 HDL-c = 2,6 (baixo) O uso de lipídios essenciais consegue modular o perfil das lipopro- teínas mais saudáveis (HDL-c) sobre as mais aterogênicas (LDL-c). O uso de diferentes formas de ômegas 3, 6 e 9 auxilia na saúde arterial, muscular e hormonal das pessoas fisicamente ativas. CONTROLE DE CÁLCIO – VITAMINA D – PTH A solicitação de cálcio iônico, concentrações de vitamina D e para- tohormônio (PTH) nos exames ajuda no entendimento do consumo dos nutrientes, se eles estão de acordo com os níveis considerados saudáveis. Com tais dados, é possível avaliar os níveis de cálcio e da vitamina D 23 na perda de massa óssea (osteopenia). É comum na população brasileira baixos níveis de vit D plasmáticos, sendo que o ideal é manter acima de 30pg/ml. O aumento dos níveis de PTH, por exemplo, além de reduzir a fixação do cálcio nos ossos, também contribui para um maior depósito de gordura corporal. Com dados desse tipo em mãos, o nutricionista pode atuar de forma nutricional ou solicitar suplementação para fazer os devi- dos ajustes desses índices, quando necessário. ENZIMAS HEPÁTICAS – PCR – HOMOCISTEÍNA A maior atividade das enzimas hepáticas (AST, ALT, GGT) detecta- das no sangue pode ter correlação com um processo inflamatório agudo, sendo detectado com os aumentos da proteína C-reativa hepática (PCR) e das concentrações de homocisteína. Se o efeito for crônico e em conjunto com a resistência à insulina, dislipidemia e circunferência de risco, pode- mos ter a esteatose hepática não alcoólica. Isso pode ser detectado por um ultrassom abdominal solicitado por um médico. Na parte nutricional, a re- dução de peso deve ser o primeiro objetivo, em conjunto com ajustes nutri- cionais de ácido fólico, vitaminas do complexo B e cianocobalamina (B12). VITAMINAS E MINERAIS A análise desse exame vai depender de particularidades atreladas a cada paciente, por exemplo, mulheres têm a correlação mais baixa de ferro e ferritina; um atleta que come pouca proteína pode ter uma queda nos níveis de zinco; ou um indivíduo que não ingere frutas, verduras e legumes pode ter deficiência de vitamina C. Por outro lado, baixos níveis de selênio, manganês e cromo podem ser oriundos da falta de variedade alimentar. RELAÇÃO CORTISOL/TESTOSTERONA-SHBG Atualmente, a população que vive em grandes centros urbanos sofre de constante estresse diário, seja com o trânsito, a poluição, os desafios no trabalho, o pouco tempo com a família, etc. A exposição a situações desse tipo pode levar a uma secreção exacerbada de cortisol que, por sua vez, pode chegar a níveis crônicos. O aumento do cortisol pode estar relacio- nado a redução dos níveis de testosterona. A mudança começa no siste- ma nervoso central, no qual o hormônio luteinizante (LH) e o hormônio 24 folículo-estimulante (FSH) são os indutores para a produção de hormô- nios sexuais e espermatozoides. Hoje em dia não é difícil detectar a redução de testosterona plasmá- tica em pacientes jovens, que possuem gordura corporal acima da média. Além disso, níveis de prolactina, progesterona, estradiol e de globulina de ligação de hormônios esteroidais (SHGB) podem indicar menor ligação tecidual com seus efeitos no aumento da gordura corporal e na redução de massa muscular, chamado de hipogonadismo associado à obesidade. Outro fator que pode diminuir os níveis hormonais é o excesso de tecido adiposo que ajuda a converter testosterona em estrógenos, pela ação da enzima aromatase.Por outro lado, em mulheres que usam anticoncepcional, os níveis de SHBG são tão elevados que a testosterona chega a ficar indetectável nos exames, acarretando em sérias dificuldades em mudar a composição corporal e também no prejuízo da saúde sexual. CREATINA KINASE E NÍVEL DE ESFORÇO FÍSICO Um dos marcadores plasmáticos indiretos da intensidade do treino é a enzima creatina kinase, que é responsável pela tarefa de transformar a creatina em creatina fosfato (CP) às custas de uma molécula de ATP. O au- mento dessa enzima muscular (fração MM) no sangue demonstra lesão de sarcolema e extravazamento da enzima para a corrente sanguínea. Quan- do solicitar esse marcador para uma pessoa que se intitula “treinada” e encontrá-lo dentro do valor de referência, provavelmente a pessoa “acha” que treina. Indique um treinador para ajudá-la a se exercitar corretamen- te. Para atletas de alto rendimento, o aumento dietético de carboidratos ajuda a poupar a participação do metabolismo proteico contribuindo para a recuperação do glicogênio muscular que, indiretamente, auxilia na recu- peração muscular. OUTROS TIPOS DE AVALIAÇÃO O exame de urina pode ser útil na detecção de perda de nutrientes (glicosúria, proteinúria), bem como mostrar a capacidade de depuração urinária corporal. O exame de fezes pode detectar algum tipo de parasita intestinal, explicando uma infecção sem origem aparente. Fica à cargo do nutricionista solicitar ou não esses tipos de exames complementares. 25 o PerFil genético e a interação com a Dieta De forma simplificada, quando somos fecundados, temos uma “mistura” das características genéticas do nosso pai e mãe constituindo o nosso genótipo. Por sua vez, o genótipo pode ser influenciado pelas carac- terísticas do meio ambiente em que vivemos, como por exemplo: tipo de dieta seguida, poluição, medicamentos ingeridos, estilo de vida sedentário ou ativo, entre outros. A junção do genótipo com o meio ambiente acaba resultando na seguinte equação: Genótipo + Meio Ambiente = Fenótipo Com a dieta personalizada por meio da análise genética, temos o conceito de nutrigenética. Assim, quando um nutricionista tem a capa- cidade de interpretar os polimorfismos genéticos, ou seja, as variações/ mutações na sequência de bases nitrogenadas de um gene específico que formam isoformas diferentes do mesmo gene de uma pessoa, ele conse- gue prescrever nutrientes e compostos bioativos específicos com alvo na expressão dos genes alterados, podendo usar essa estratégia nutricional como forma de prevenção à doenças específicas, o que já faz parte da área de atuação da nutrigenômica. Atualmente, com o avanço da biologia molecular e o mapeamento do nosso genoma é possivel individualizar a dieta conforme as variações de genes ligados às repostas aos macronutrientes, o metabolismo de vita- minas e minerais, o comportamento e preferências alimentares, as respos- tas fisiológicas a determinados tipos de exercícios físicos e predisposição à doenças crônicas degenerativas não transmissíveis como obesidade, resis- tência à insulina, doenças cardíacas e fisiologia hormonal. 26 O Conselho Regional de Nutrição – região 3 (CRN-3), através do parecer técnico Nº 09/2015, esclarece e orienta: • Testes de Nutrigenética são preditivos e não diagnósticos, não devem substituir outros exames e avaliações necessários ao trata- mento e devem ser utilizados apenas como ferramenta adicional à prescrição nutricional; • O nutricionista deve pautar sua atuação no Código de Ética e es- tar capacitado a interpretar os testes de nutrigenética e a orientar adequadamente seus clientes; • É extremamente importante ressaltar que a interpretação equivo- cada dos testes de nutrigenética pode causar prejuízos ao cliente; • A recomendação de suplementos baseada em testes de nutrigené- tica não possuem evidências científicas suficientes até o momento, devendo o nutricionista enfatizar ao paciente a importância do consumo dos alimentos; • Os nutricionistas deverão estar capacitados/especializados para soli- citar e interpretar corretamente tais testes, bem como para aplicá-los da forma mais adequada e racional em sua rotina de atendimento. GENES RELACIONADOS AO METABOLISMO LIPÍDICO ADIPOQ Gene que controla a produção da proteína adiponectina, adipocina que participa do controle de peso e da reesterificação de gordura no tecido adiposo. Indivíduos com polimorfismo rs17300539 e com genótipo A/A e A/G são mais propensos à obesidade e diabetes. APOA2 É o gene que controla a produção da proteína apolipoproteína AII, sen- do que o polimorfismo rs5082, genótipo C/C promove maior associação com o Índice de massa corporal (IMC) e o consumo de alimentos. FTO-rs9939609 O FTO (do inglês fat mass and obesity-associated gene) é conhecido como o “gene da obesidade”. Além de possuir forte ligação no fenótipo da obesidade, também 27 está relacionado com o gene da diabetes. Com mais de 10 tipos diferentes de polimorfismos SNPs, o rs9939609 foi eleito como o representante de análise. Os indivíduos heterozigotos com genótipo A/A têm maior risco de desenvolver doenças como obesidade e diabetes. Os indivíduos com genótipo T/T já foram estudados com relação ao padrão de alimentação adotado e respondem melhor às dietas hiperglicídicas e hipolipídicas, demonstrando menor índice HOMA e menor queda na taxa metabólica em repouso na dieta hipocalórica. Por outro lado, Zhang e colaboradores (2012), observaram uma melhora da composição corporal em indivíduos com o alelo rs1558902, submetidos a dois anos de dieta hiperproteica. LIPC O gene codifica a lipase dos triglicerídeos hepáticos, que é expressa no fígado. O LIPC tem as funções de hidrolase de triglicérides e fator de ligação para a captação de lipoproteína mediada por receptor. Conside- ra-se que o indivíduo portador do SNP rs1800588 genótipo T/T pode influenciar os níveis do “bom colesterol”, as lipoproteínas de alta densi- dade (HDL-c). MMAB O gene MMAB codifica uma enzima que está envolvida na formação de um composto chamado adenosilcobalamina (AdoCbl). O AdoCbl, que é derivado da vitamina B12 (também conhecida como cobalamina), é necessário para a função normal de outra enzima conhecida como me- tilmalonil CoA mutase. Essa enzima ajuda a quebrar algumas proteínas, gorduras (lipídios) e colesterol, e está presente nas mitocôndrias, organe- las que atuam como centros produtores de energia. Os indivíduos com o SNPrs224120 podem ter dificuldade em perder peso e desenvolver deficiência da B12 quando a alimentação não supre corretamente suas necessidades. PPARG Esse gene codifica os membros da subfamília do receptor, ativado pelo proliferador de peroxissoma (PPAR) dos receptores nucleares. Os PPAR formam heterodímeros com receptores de retinoide X (RXR) e esses heterodímeros regulam a transcrição de vários genes. São conhecidos 28 três subtipos de PPAR: PPAR-alfa, PPAR-delta e PPAR-gama. A prote- ína codificada por esse gene é PPAR-gama, que atua como regulador da diferenciação de adipócitos e da b-oxidação lipídica. Adicionalmente, a PPAR-gamma tem tido implicação na patologia de numerosas doenças, incluindo obesidade, diabetes, aterosclerose e câncer. Os indivíduos por- tadores do SNP rs1801282 com genótipo G/G têm maior chance de de- senvolver uma síndrome metabólica. GENES RELACIONADOS AO COMPORTAMENTO ALIMENTAR LEPR Esse gene codifica uma família gp130 de receptores de citocinas que são conhecidos por estimularem a transcrição de genes através das proteínas citosólicas STATs. Essa proteína é um receptor de leptina (um hormônio específico dos adipócitos que regula o peso corporal) e está envolvida na regulação do metabolismo das gorduras. Alguns SNP rs2025804 desse gene têm sido associados com obesidade e disfunção pituitária. NMB Esse gene codifica neuropeptídeos, tipo bombesina, que regula negativa- mente o comportamento alimentar. Por regular a contração do músculo liso do cólon através da ligação ao seu receptorneuromedina B (NMBR), os polimorfismos desse gene rs1051168 podem estar associados com o descontrole da saciedade, o ganho de peso e a obesidade. TAS2R38-rs1726866 Esse gene codifica um receptor acoplado à proteína G de sete tipos de proteínas transmembranas que controlam a capacidade de reconhecer glucosinolatos, compostos de sabor amargo encontrados em plantas bras- sicas sp. Esses receptores têm grande ligação com os tipos de alimentos ingeridos pois podem desempenhar a detecção da composição química do conteúdo gastrointestinal, principalmente com amargura via ligação gustducina. 29 ANKK1/DRD2-rs1800497 Esse gene codifica a proteína do receptor D2 do neurotransmissor do- pamina. Esse receptor acoplado à proteína G inibe a atividade da enzima da adenilato ciclase. O receptor de dopamina cuja atividade é mediada por proteínas G tem relação direta com o prazer e o consumo alimentar. É estudado com fins de se relacionar o consumo de açúcar e o vício em alimentos. SLC2A2-rs5400 Esse gene codifica a glicoproteína de transporte de glicose tipo 2 (GLUT2) que pode ser encontrada no fígado, nas células beta dos ilhéus, no intes- tino e no epitélio renal. Devido a sua baixa afinidade pela glicose, tem sido sugerido como um sensor de glicose. As mutações nesse gene estão associadas à algumas doenças, incluindo a síndrome de Fanconi-Bickel e diabetes mellitus não insulino-dependente. GENES RELACIONADOS AO METABOLISMO DE NUTRIENTES CYP1A2-rs762551 Esse gene codifica um membro da superfamília das enzimas citocromo P450. As proteínas do citocromo P450 são monooxigenases que catali- zam muitas reações envolvidas no metabolismo de drogas e síntese de colesterol, esteroides e outros lipídios. A proteína codificada por esse gene localiza-se no retículo endoplasmático e sua expressão é induzida por al- guns hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAP), alguns dos quais são encontrados na fumaça do cigarro. No entanto, é capaz de metabolizar alguns PAHs para intermediários carcinogênicos e outros substratos xe- nobióticos como a cafeína e aflatoxina. TAS1R3-rs35744813 A proteína codificada por esse gene é um receptor acoplado à proteína G, envolvido nas respostas ao sabor. A proteína codificada pode formar um receptor heterodimérico com o TAS1R1 para provocar a resposta ao sabor umami, ou pode ligar-se à TAS1R2 para formar um receptor para a resposta ao sabor doce. 30 MCM6 O gene MCM6 fica próximo ao gene da produção de lactase LCT, sendo que a variante rs4988235 tem mostrado a função de regular os níveis da enzima que digere o açúcar do leite, a lactose. Indivíduos com o genótipo C/C em rs4988235 têm uma possibilidade maior de serem intolerantes à lactose, enquanto indivíduos com outros genótipos têm uma possibilidade menor. Essa variante parece estar associada à into- lerância à lactose em caucasianos, enquanto outras variantes podem exercer uma função importante em outras etnías, como a africana e a asiática. ALDH2-rs671 É o gene que codifica a enzima aldeído-desidrogenase 2 (ALDH2) e possui um importante papel no metabolismo do álcool em nosso organismo, pois atua como catalisador no processo de oxidação do acetaldeído (substância tóxica resultante da metabolização do etanol) para acetato, diminuindo sua concentração e efeitos tóxicos. Cerca de 40% da população do Leste Asiático apresenta um polimorfis- mo dessa enzima que acaba por gerar uma variante inativa, acarretando aos portadores do SNP da enzima um acúmulo do acetaldeído no sangue após a ingestão de álcool. Essa reação, também conhecida como “síndro- me asiática do rubor facial induzida pelo álcool”, ocorre após o consumo de uma única dose de bebida alcoólica e é responsável pela aversão ao álcool observado em alguns indivíduos portadores desse polimorfismo genótipo G/G. GENES RELACIONADOS AO METABOLISMO DE VITAMINAS E MINERAIS MTHFR-rs1801133 A proteína codificada por esse gene catalisa a conversão de 5,10-meti- lenotetrahidrofolato em 5-metiltetrahidrofolato, um cosubstrato para a remetilação de homocisteína, a metionina. A variação genética influen- cia a suscetibilidade à doença vascular oclusiva, defeitos no tubo neural, câncer do cólon e leucemia aguda. E as mutações com genótipo T/T es- tão associadas à deficiência da enzima metilenotetrahidrofolato redutase, 31 dificultando o metabolismo do ácido fólico e, consequentemente, aumen- tando a homocisteína plasmática. BCMO1-rs7501331 O gene que codifica a enzima chave responsável pela conversão de be- tacaroteno em retina é a 15,15’-monooxigenase de betacaroteno. Uma vez que foi relatado que a conversão de betacaroteno em vitamina A é altamente variável em até 45% dos indivíduos saudáveis, observa-se que os indivíduos portadores do genótipo T/T e C/T tem menor conversão de retinol. SLC23A1-rs33972313 A absorção de vitamina C em nosso organismo e sua distribuição aos órgãos requer dois transportadores dependentes de sódio, sendo que esse gene codifica um dos dois transportadores. A proteína codificada é ativa no transporte de vitamina C envolvendo superfícies epiteliais. GC-rs2282679 A proteína codificada por esse gene pertence à família da albumina. É uma proteína multifuncional encontrada no plasma, no fluído ascítico, no líqui- do cefalorraquidiano e na superfície de muitos tipos de células. Liga-se à vitamina D e aos seus metabólitos plasmáticos, transportando-os para os tecidos-alvo, sendo que o genótipo C/C é o que mais demonstra níveis plasmáticos diminuídos de vitamina D. CLOCK Esse gene codifica uma proteína que desempenha um papel central na regulação dos rítmos circadianos. A proteína codifica um fator de trans- crição da família hélice-espiral-hélice básica (bHLH) e contém uma en- zima acetiltransferase de ligação de DNA à DNA. Os polimorfismos nesse gene podem estar associados às mudanças comportamentais em determinadas populações e à obesidade e síndrome metabólica. Para resumir, quando se tem um sono de má qualidade, isso pode acarretar em uma mudança do ciclo circadiano hormonal, aumentando o risco de depósito de gordura corporal e todos os problemas associados. 32 LISTA DE GENES DE INTERESSE DO NUTRICIONISTA GIPR É o gene que codifica o receptor polipeptídico insulinotrópico dependente de glicose, sensor responsável por estimular de forma rápida a liberação de insulina na presença de glicose sanguínea. Indivíduos que possuem o alelo T (rs2287019) e submetidos a uma dieta baixa em gordura tiveram maior perda de peso e maiores diminuições na glicemia de jejum, insulina em jejum e HOMA-IR. Assim, os indivíduos portadores do alelo Trs2287019 do gene GIPR podem apresentar mais facilidade para perder de peso e melhor homeostase da glicose em comparação com aqueles que não pos- suem esse alelo, quando submetidos a uma dieta de baixo teor de gordura, rica em carboidratos e fibras. APOA5 A apolipoproteína A5 é uma proteína determinante no controle dos ní- veis de triglicerídeos plásmaticos. Em uma dieta de baixo teor de gordura (20% de lípidos do total energético), os indivíduos portadores do alelo G apresentaram maiores reduções no colesterol e LDL-colesterol do que os não-portadores. No grupo submetido a uma dieta rica em gordura (40% de gordura do total), os participantes com o alelo G apresentaram maior aumento do colesterol HDL do que os participantes sem esse alelo. Assim, a longo prazo, houve melhora nos perfis lipídicos da dieta com baixo teor de gordura nos indivíduos com o alelo APOA5 G. IRS-1 É o gene que codifica o receptor de insulina. Está localizado em vários tecidos, promovendo a ligação entre o hormônio e sua atividade intrace- lular. Entre os participantes portadores do alelo A, as taxas de reversão da síndrome metabólica foram maiores no grupo que recebeu uma dieta com alto teor de gordura do que no grupo com dieta com baixo teor de gor- dura em uma intervenção de dois anos. Entretanto, não houve diferenças nos indivíduos que não possuíam o alelo A. Nesse caso,dietas com maior teor de gordura podem ser mais eficazes na gestão do metabolismo da síndrome metabólica. 33 PPM1K Esse gene está envolvido na decodificação do complexo enzimático desi- drogenase de ácido alfaceto de cadeia ramificada (BCKD), reponsável pela catálise dos aminoácidos de cadeia ramificada. No grupo de controle com dieta hiperlipídica, os indivíduos portadores do alelo C tiveram menor per- da de peso e menor diminuição da insulina sérica e HOMA-IR, enquanto efeito oposto foi encontrado no grupo sem o alelo C. Dessa forma, o ajuste da dieta depende da presença do polimorfismo da PPMK1. CRY2 / MTNR1B Ambos os genes estão envolvidos na codificação do receptor 1b da mela- tonina e do criptocromo2, proteínas que regulam nosso ciclo circadiano e têm interferência direta no coeficiente respiratório e taxa metabólica basal. Foi observado que essas duas proteínas atúam na perda de peso e no me- tabolismo basal, sendo modificadas por alterações no tipo e quantidade de gordura na dieta. NPY É o gene que codifica a produção do neuropeptídeo Y (NPY), um potente estimulador no sistema nervoso para a ingestão de alimentos. Indivíduos com polimorfismo no alelo C (rs16147) tiveram uma redução da circun- ferência da cintura depois de seis meses de dieta controlada. Além disso, os genótipos apresentaram uma interação com a gordura da dieta provo- cando mudanças na composição corporal, sendo essa mudança estatistica- mente mais forte em indivíduos que possuíam alto consumo de gordura, quando comparado aos que consumiam menor quantidade. Depois de dois anos, a perda permaneceu estatisticamente significante para o gru- po com dieta rica em gordura, embora a interação gene-gordura dietética não foi significativa. Além disso, o genótipo rs16147 alelo T teve maior interação genótipo-gordura dietética, alteração do tecido adiposo abdo- minal total, do tecido adiposo visceral e subcutâneo, sendo que é o alelo com mudanças mais adversas na deposição de gordura abdominal em uma dieta rica em gordura. Dessa forma, os genótipos NPY rs16147 merecem intervenções dietéticas específicas com fontes lipídicas de boa qualidade para se obter uma redução de gordura corporal. 34 Genes relacionados ao exercício físico e saúde articular LIPC-rs1800588 LPL-rs328 PPARD--rs20165 INSIG2- -rs7566605 PPARG- C1Ars8192678 MMP3-rs679620 FTO-rs11219 EDN1-rs5370 PPARD-rs2016520 LPL-rs328 Genes relacionados à obesidade FTO-rs9939609 MC4R-rs1778231 ADIPOQ-rs17300 LEPR- rs8179183 ADIPOQ- rs17 Genes relacionados à colesterolemia ABCG8- rs6544713 CELSR2- rs12740374 HNF1A- rs2650000 LDLR- rs6511720 NCAN- rs10401969 APOB- rs515135 HMGCR- rs3846663 INTERGENI- Crs1501908 MAFB- rs6102059 PCSK9- rs11206510 Genes relacionados à produção de HDL-c ABCA1- rs1883025 FADS1- rs174547 GALNT2- rs4846914 HNF4A- rs1800961 KCTD10- rs2338104 ANGPTL4- rs2967605 LCAT- rs2271293 LIPC- rs10468017 LIPG-rs4939883 LPL-rs12678919 CETP-rs247616 PLTP-rs7679 TTC39B-rs471364 ZNF259- rs964184 Genes relacionados à produção de triglicérides ANGPTL3- -rs10889353 APOB- -rs7557067 FADS1-rs174547 GCKR- -rs1260326 LPL-rs12678919 MLXIPL- rs714052 PLTP-rs7679 TRIB1- -rs2954029 XKR6- -rs7819412 ZNF259- rs964184 Genes relacionados ao metabolismo da glicose ADCY5- rs11708067 ADRA2A- rs10885122 CRY2- rs11605924 FADS1- rs174550 G6PC2-rs560887 GCK- rs4607517 GCKR- rs780094 GLIS3- rs7034200 MADD- rs7944584 MTNR1Brs10830963 PROX1- rs340874 SLC2A2- rs11920090 TCF7L2- rs7903146 35 avaliação antroPométrica Para um bom acompanhamento nutricional é imprescindível rea- lizar uma boa avaliação física/antropométrica pois, dessa forma, o nu- tricionista é capaz de estimar a quantidade de cada tecido corporal (ex: massa magra e massa gorda) e sua participação no peso e gasto energé- tico total do atleta. E o velho ditado vale: o que não é medido, não pode ser controlado. O primeiro passo é a escolha da metodologia de avaliação da com- posição corporal. Didaticamente, temos métodos indiretos e duplamen- te indiretos. A tabela abaixo detalha os métodos considerados “padrão ouro”. No entanto, por conta do alto custo dos aparelhos, o nutricionista pode recorrer à bioimpedância elétrica, à adipometria ou ao método de ultrassom manual para realizar a avaliação dos compartimentos corporais. Não se tem o objetivo aqui de discorrer sobre a melhor metodologia para a realização de tal análise, mas sim, de elucidar de forma simples as ferra- mentas que o nutricionista tem à disposição para efetuar uma boa análise antropométrica. Métodos avançados de avaliação antropométrica Método de avaliação Descrição Limitações Pesagem Hidrostática Pessoa sentada em uma cadeira sendo submergida completamente. A densi- dade corporal se dá pela divisão do peso antes de entrar na água e do peso perdido dentro da água. Não pode ser usada em pessoas que não conse- guem ser submergidas. As validações foram feitas apenas com caucasianos. Pletismografia Pessoa sentada dentro de uma câmara, sendo que o volume corporal é calcula- do pela subtração do volu- me de ar da câmara vazia com o da câmara com a pessoa dentro. Aparelho caro e necessi- dade de um técnico trei- nado para avaliar. Boa correlação com DEXA mas não se tem padroni- zação de indivíduos com menos de 40kg. 36 Tomografia computadorizada O raio-x oferece uma ima- gem com resolução a partir das diferentes densidades dos tecidos. Permite a se- paração de gordura, mas- sa muscular e osso para o cálculo da composição corporal. Expõe o indivíduo à radia- ção ioinizante. Não é fei- ta em crianças e grávidas. Aparelho caro e há ne- cessidade de um avaliador treinado. Ressonância magnética Radiação eletromagnética que age no núcleo da cé- lula, formando uma ima- gem. Permite a separação de gordura, massa muscu- lar e osso para o cálculo da composição corporal. Sem conhecimento sobre riscos para a saúde. Acesso ao aparelho é limitado e há necessidade de um avalia- dor treinado. Dexa Baixas doses de raio-x produzem a imagem de ossos e outros tecidos, po- dendo-se calcular a com- posição corporal. O aparelho é caro, mas pode ser usado em uma grande variedade de pes- soas, exceto grávidas. Pes- soas muito altas ou obesas não cabem no aparelho. Com o avanço da tecnologia, o uso da bioimpedância elétrica cresceu entre os profissionais de saúde que necessitam conhecer a composição corporal de seus pacientes. Tradicionalmente, em traba- lhos científicos que estudam as aplicações desse método em diferentes populações, costuma-se utilizar o modelo tetrapolar de 4 eletrodos, sendo a avaliação feita com o indivíduo deitado em uma maca. No entanto, é crescente o comércio de balanças modernas que possuem a bioimpedância acoplada, porém, a reprodutibilidade é questionável pela inconstância de resultados, que pode ser causada pelo fato de a pessoa ficar em pé e sem realizar o protocolo prévio de preparação para a realização do teste. 37 Outro complicador é a diferença entre aparelhos que fazem a avalia- ção com os eletrodos nas mãos (membros superiores) daqueles que pos- suem os eletrodos apenas nos pés (membros inferiores). Segundo Dittmar (2004), já foi demonstrado que existe diferença no resultado da avalia- ção da mesma pessoa quando feita em aparelhos com diferentes tipos de eletrodos. De forma geral, quando é realizado o protocolo prévio de avaliação de bioimpedância e o resultado da porcentagem de gordura é comparado com a metodologia de dobras cutâneas, realizada por um ava- liador experiente e usando a equação de predição adequada, temos uma boa correlação entre os métodos. Atualmente, existe também a opção de se adquirir um aparelho de ultrassom manual para se obter a porcentagem de gordura subcutânea, sendo de fácil manuseio por profissionais iniciantes, ele contribui para di- minuir a diferença nos dados, muito comum de ocorrerem nas avaliações antropométricas. Nesse caso, o ultrassom éposicionado no mesmo ponto anatômico das dobras cutâneas, porém sem “apertar” o tecido adiposo. Esquema da avaliação por ultrassom manual Adaptado (Ulbricht et al., 2012). 38 Para se obter a validação do aparelho, foram comparadas as dobras cutâneas de sessenta militares do sexo masculino utilizando-se o ultrassom manual. As dobras foram medidas em 9 pontos: tríceps, subescapular, bí- ceps, tórax, axilar média, abdominal, supra-ilíaca, coxa e panturrilha, sen- do usada a equação de Pollock (1978). Segundo os autores, houve variação mínima entre as análises, podendo-se dizer que os resultados em mm de cada ponto anatômico obtidos com o ultrassom manual podem ser usados nas equações de predição de adipometria de forma adaptada. Para a avaliação básica realizada tradicionalmente em consultórios de- ve-se possuir: balança calibrada, fita métrica enelástica e adipômetro, sendo possível aferir com esses instrumentos o peso corporal, a altura e a circun- ferência de membros e dobras cutâneas, respectivamente. O primeiro passo é escolhar qual equação de predição será usada para calcular a porcentagem de gordura. Na literatura temos uma grande variedade, mas é necessário adequar a equação às características do indivíduo. O mais indicado é padro- nizar a equação para cada paciente e usar sempre o mesmo protocolo nas avaliações futuras. Se o nutricionista tiver dúvidas sobre qual equação é a mais indicada, ele pode fazer um comparativo entre duas ou mais equações e também utilizar uma média dos resultados. Na literatura temos alguns tipos de equações melhor indicadas para pessoas fisicamente ativas e atletas. Equações de predição para adipometria Protocolo Equação Jackson & Pollock 1978 (Homens 18-29 anos) DC Homens Adultos = 1,11200000 - [0,00043499 (SD) + 0,00000055 (SD)²] - [0,0002882 (idade)] (subescapular, tricipital, abdominal, supra-ilíaca, coxa, peitoral e axiliar média) G% = [(4,95/Densidade Corporal) - 4,50] x 100 Jackson et al., 1980 (Mulheres 18-29 anos) DC Mulheres Adultas = 1,0970 - [0,00046971 (SD) + 0,00000056 (SD)²] - [0,00012828 (idade)] (tríceps + supra-ilíaca + coxa) G% = [(4,95/Densidade Corporal) - 4,50] x 100 Withers et al., 1987 (Homens 15-39 anos) DC = 1,17484 0,07229 log10 (tríceps + subesca- pular + supra-espinhal + panturrilha) G% = [(5,01)/DC) 4,57] X 100 39 Protocolo Equação Withers et al., 1987 (Mulheres 11-41 anos) DC = 1,0988 0,0004 (tríceps + subescapular + bí- ceps + supra-espinhal + abdominal + coxa medial + panturrilha) G% = [(4,95/DC) 4,50] X 100 Equações de Guedes (1985) (Estudantes universitários de 17 a 27 anos de idade) D = 1,1714 – 0,0671 Log10 (tríceps + supra-ilíaca + abdominal) G% = (498/D) – 453 Equações de Guedes (1985) (Estudantes universitárias de 17 a 29 anos de idade) D = 1,1665 – 0,0706 Log10 (coxa proximal + supra-ilíaca + subescapular) G% = (505/D) – 462 Equações de Petroski (1995) (Homens do sul do Brasil de 18 a 61 anos de idade) D = 1,10726863 – 0,00081201 (subescapular + tríceps + supra-ilíaca + panturrilha medial) + 0,00000212 (subescapular + tríceps + supra-ilíaca + panturrilha medial) 2 – 0,00041761 (idade em anos) G% = (495/D) – 450 Equações de Petroski (1995) (Mulheres do sul do Brasil de 18 a 61 anos de idade) D = 1,1954713 – 0,07513507 Log10 (axilar média + supra-ilíaca + coxa + panturrilha medial) – 0,00041072 (idade em anos) G% = (503/D) – 459 Uma dica é pegar essas equações e coloca-las em planilhas no ex- cel para facilitar o cálculo, mas aqui vou demonstrar como era feito anti- gamente. Uma das equações mais utilizadas para indivíduos fisicamente ativos é a de Jackson & Pollock (1978), sendo indicada para homens de 18 a 29 anos. Essa equação contém sete dobras cutâneas em seu cálculo: subescapular, axilar média, tríceps, coxa, supra-ilíaca, abdominal, peito- ral e, por fim, a soma de todas as dobras (SD). Para as mulheres entre 18 e 29 anos, Jackson e colaboradores (1980) consideram as dobras dos tríceps, supra-ilíaca e coxa. Com a SD é possível calcular a Densidade Corporal (DC), conforme a tabela. E, após encontrar a DC, é possível calcular a porcentagem de gordura do indivíduo pela equação de Siri: G% = [(4,95/Densidade Corporal) - 4,50] x100. 40 Segue um exemplo: Homem fisicamente ativo, 25 anos, com 85kg, 1,75m. Somatório das dobras cutâneas = 68 DC Homens Adultos = 1,11200000 - [0,00043499 (68) + 0,00000055 (68)²] - [0,0002882 (25)] 1,11200000 - [0,02957932+0,0025432]-[0,007205] 1,11200000 - 0,03212252-0,007205 1,11200000 - 0,02491752 DC = 1,08708248 Assim: G% = [(4,95/Densidade Corporal) - 4,50] x 100 G% = [(4,95/1,08708248) - 4,50] x 100 G% = [4,55 - 4,50] x100 G% = 0,05 x 100 Porcentagem de gordura = 5% Encontrada a G% fica mais fácil de estimar a quantidade de cada tecido corporal: 85kg total x 5% de gordura= 4,25 kg de gordura subcu- tânea. Para encontrar o peso de massa muscular, ossos e vísceras: 85kg total – 4,25kg de gordura subcutânea = 80,75kg. Além de estimar a quantidade dos compartimentos corporais, o nu- tricionista deve utilizar os valores encontrados para calcular as necessida- des nutricionais do paciente e também usar os valores como referência em avaliações antropométricas futuras, comparando assim ganhos ou perdas de cada compartimento corporal, possibilitando ao cliente uma melhor visualização dos resultados alcançados com a dieta que está seguindo. 41 bioenergética Do exercício e cálculo Do gasto calórico Umas das disciplinas mais importantes para o nutricionista é a bio- química e sua associação com a bioenergética, sendo que o entendimento e domínio desse conhecimento é primordial para saber qual é a melhor estrutura dietética para cada atleta. O nutricionista deve entender de bio- energética do exercício, pois seu trabalho é pautado na prescrição dos nutrientes necessários para as vias energéticas com vistas a aumentar o rendimento esportivo de atletas de qualquer modalidade. A compreensão dos diferentes sistemas energéticos (ATP-CP, gli- cólise anaeróbia, glicogenólise e beta-oxidação) que participam do meta- bolismo aeróbio e que atuam nos mais diferentes esportes é a chave para ajustar a prescrição dietética. Um fator determinante é a composição de fibras musculares predominantes no atleta, sendo que as fibras que têm maior capacidade de metabolizar oxigênio com a mistura de glicose e áci- dos graxos são as do tipo I, ou seja, as fibras vermelhas. Elas possuem maior quantidade de mioglobina (mitocôndrias e enzimas antioxidantes), que ajuda a sustentar tempos mais prolongados do exercício físico. Exem- plos de atletas: maratonistas, ciclistas de longa distância, nadadores de tra- vessia marítima e triatletas. Por outro lado, temos as fibras musculares do tipo II, que pos- suem a característica anaeróbia, ou seja, utilizam o sistema energético ATP-CP com alta capacidade glicolítica. Essas fibras são acionadas em situações de movimentos de alta intensidade, contudo, são sustentadas por poucos segundos. As fibras glicolíticas contêm maior concentração de enzimas glicolíticas, glicogênio muscular, estoque de CP e quantida- de de carnosina (tamponante proteico). Exemplo de atletas: lutadores, bodybuilders, atletas de 100-400m rasos, nadadores especialistas em 50m livres e atletas de crossfit. 42 Tipos e características das fibras musculares Características Tipo I Tipo IIa Tipo IIx Inervação Pequena Grande Grande Frequência de ativação Baixa Alta Alta Velocidade de contração Lenta Veloz Veloz Metabolismo Oxidativo Oxid / Glic Glicolítico Mioglobina Alta Intermed. Baixa Densidade mitocondrial Alta Intermed. Baixa Atividade antioxidante Alta Intermed. Baixa Fatigabilidade Baixa Intermed. Alta Hipertrofiabilidade Baixa Intermed. Alta Para o nutricionista que não possui muitos recursos para avaliar o gas- to energético de seu paciente de forma direta, cálculos indiretos são a saída e, quando aplicados, podem estimar o gasto das atividades do indivíduo de forma prática. Existe um “Compendium de AtividadeFísica”, publicado em 2000 por Ainsworth e colaboradores no qual os autores revisaram e atu- alizaram os valores e códigos do equivalente metabólico do treino (METs). Os valores demonstrados nas tabelas do valores de METs podem ser utili- zados para calcular o gasto pelo peso e tempo da atividade em questão. Gasto Calórico = METs x Peso (kg) tempo (min) Exemplo: Homem fisicamente ativo, 25 anos, com 85kg, 1,75m. Vai ao banco a pé e leva aproximadamente 20 minutos para chegar até a agência. Contan- do a ida e a volta, são 40 minutos de caminhada. GC caminhada = 3,3* x 85 x 0,4 = 112 kcal 85kg 0,4 = 40 minutos de caminhada. *Tabela dos valores de METs Agora é necessária uma observação importante no cálculo: quando vemos na tabela o METs, ele representa o gasto calórico equivalente a 1 hora. Isso é motivo de crítica, pois ele não considera o peso, a idade, o gênero e muito menos a aptidão física do indivíduo. 43 O ideal então é calcular de forma mais detalhada. Se pensarmos em um treino de musculação, em que o indivíduo despende 1 hora na acade- mia, podemos contabilizar entre 20 e 30 minutos de exercício propriamen- te dito, já que temos que considerar as séries, o descanço entre as séries, além do tempo gasto com beber água, ir ao banheiro, conversar. Exemplo de 1 hora de exercício de força: GCcmusculação = 6,0* x 85 x 0,6 = 306 kcal 85kg 0,6 = 1h de musculação *Tabela dos valores de METs Exemplo de 20 minutos de exercício de força: GCcmusculação = 6,0* x 85 x 0,2 = 102 kcal 85kg 0,2 = 20 minutos de musculação *Tabela dos valores de METs Chamo atenção a essa questão pois isso influencia na somatória fi- nal de calorias. No cálculo “geral”, a caminhada + a musculação do ban- cário ficaria em 418 kcal. Já na adaptação do cálculo, considerando todas as variáves intrínsecas às atividades realizadas, o resultado seria 316 kcal. A diferença nos valores calóricos pode parecer pequena, mas em determina- dos pacientes essa diferença pode atrapalhar o resultado esperado. Se você considera, por exemplo, um paciente que tem o objetivo de perder peso e “adiciona” 300 kcal ao dia ao invés de restringir, no fim da semana ele consumiu 2.100 kcal a mais do que o necessário. Tabela. Valores dos METs por tipo de exercício fisico Exercício físico MET Exercício físico MET Alongamento 2 Corrida 14km/h 15 Balé 4,8 Futebol 8 Caminhada 3,3 Hidroginástica 4 Caminhada moderada (6km/h) 5 Judô 10 Ciclismo 4 Jiu-jitsu 10 Corrida trote 10 Musculação 6 Natação 7 Surfe 3 Skate 5 Pular corda 10 Tênis 7 Volei 7 Equitação 6,5 Tai chi chuan 4 (Ainsworth et al., 2000) 44 Uma coisa que aprendi na prática é assitir os treinos dos pacientes quando possível, pois isso oferece uma noção do treino realmente feito, contribuindo para que o cálculo do gasto calórico seja o mais preciso possível. Mais um exemplo para a prática clínica: no caso, um judoca que treina 2 horas por dia no tatame. Sabe-se que dentro do treino existem diferentes etapas: alongamento, aquecimento, técnicas de golpes e a luta (handori). Cada luta no judô dura 5 minutos, dessa forma, vamos estipular que em um treino de 2 horas o atleta faça 10 lutas, somando 50 minutos de judô. Gasto de um lutador de judô com 70kg Exemplo de 2 horas de treino de judô: GCjudô = 10,0* x 70 x 1,2 = 804 kcal 70kg 1,2 = 2h de treino *Tabela 1 Gasto de um lutador de judô com 70kg Exemplo de 50 minutos lutando judô: GCjudô = 10,0* x 70 x 0,5 = 350 kcal 70kg 0,5 = 50 minutos de luta *Tabela 1 No conceito do gasto calórico por minuto, Katch & McArdle (1996) propõem o cálculo (kcal/kg/min) conforme a Tabela 2, abaixo. Tabela. Valor de METs para diferentes modalidades esportivas Exercício físico kcal/kg/min Vôlei 0,05 Surfe 0,08 Natação 0,156 Judô 0,195 Corrida 0,163 Ciclismo 0,100 Tênis 0,108 45 Quando utilizamos os valores da Tabela 2: Gasto de um lutador de judô com 70kg Exemplo de 50 minutos lutando judô: GC = 0,195 x 70 x 50 = 350 kcal Concluindo, o nutricionista deve personalizar o cálculo levando em conta a individualidade de seu paciente. Foram oferecidos exemplos de cálculos usando o METs como uma ferramenta prática para estimar o gas- to calórico de uma pessoa a partir do tipo de exercício físico que ela adota. Com esses exemplos, espero ter demonstrado o uso dos METs como uma ferramenta prática para estimar o gasto energético dos pacientes, dimi- nuindo a possibilidade de erro nos cálculos. 46 cálculo Das necessiDaDes nutricionais Feita a avaliação antropométrica e bioquímica, é possível realizar o cálculo das necessidades nutricionais. Dentro dele estão contidos: o valor calórico total, bem como a participação dos macronutrientes (carboidra- tos, proteínas e lipídios) e dos micronutrientes. Para deixar o tema mais didático e de fácil entendimento, pode-se calcular primeiro a necessidade energética total do indivíduo. Para isso, a literatura especializada disponibiliza equações feitas considerando popula- ções específicas e levando em conta o fator atividade física. O Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM) em conjunto com a Associação dos Nutricionistas do EUA (ADA) publicaram em 2009 um posicionamento no qual indicam a equação do Instituto de Medicina (DRI, 2005) como a mais adequada para atletas e pessoas fisicamente ati- vas, pois foi feita pela técnica de água marcada, considerada padrão ouro. A DRI leva em consideração a idade, peso, altura e o fator atividade física (FA): Equação - Homens: NE= 662 - 9,53 (idade em anos) + FA [15,91 (peso em kg) + 539,6 (altura em metros)] Equação - Mulheres: NE= 354 - 6,91 (idade em anos) + FA [9,36 (peso em kg) + 726 (altura em metros)] FATOR ATIVIDADE FÍSICA 1,0 - 1,39 = sedentário e atividades leves diárias 1,4 - 1,59 = pouco ativo com atividades leves diárias + 30-60 minutos de exercícios físi- cos moderados 1,6 – 1,89 = ativo com atividades diárias + 60 minutos de exercícios físicos moderados 1,9 – 2,5 = muito ativo com atividades diárias + 90-120 minutos de exercícios físicos moderados Exemplo: Homem fisicamente ativo, 25 anos, com 85kg, 1,75m. Bancário, serviço leve (computador), intelectual, atendimento ao público. Atividade física: 1 hora de musculação. Objetivo: aumento de massa magra. Necessidade Energética Diária 47 Necessidade Energética Diária NED = 662 - 9,53 (25) + 1,6 [15,91 (85) + 539,6 (1,75)] NED = 662 - 238,25 + 1,6 [1.325 + 944,3] NED = 662 - 238,25 + 1,6 [2.269,3] NED = 662 - 238,25 + 3.630 NED = 423,75 + 3.630 NED = 4053 kcal Existem novas propostas de cálculo nutricional formuladas a partir da quantidade de massa magra do indivíduo, pois essa equação leva em consideração o compartimento mais metabolicamente ativo tanto em re- pouso como durante o exercício. A equação de Cunningham (1991) pode ser utilizada para se avaliar o gasto energético de repouso e considera o peso da massa muscular como fator na equação. GER = 370 + 21,6 (MM) Exemplo: Homem fisicamente ativo, 25 anos, com 85kg, 1,75m. Massa magra: 80,75kg GER = 370 + 21,6 (80,75) GER = 370 + 1.744 GER = 2.114 Levando em consideração que a equação de Cunningham se refere à Taxa Metabólica de Repouso, e se usarmos uma adaptação do FA proposto pela DRI (2005), temos o seguinte resultado: GER = 2.114 x 1,6 GER = 3.382,4 kcal Pensando na comparação entre os dois resultados, 3.206 kcal pela DRI (2005) e 3.382,4 kcal por Cunningham (1991), são 176 kcal de dife- rença. Fica a critério do nutricionista usar uma ou outra equação. Com a quantidade calórica total em mãos, o nutricionista tem a capacidade de estipular qual vai ser a quantidade para cada macronutriente. Uma estra- tégia clássica é se basear em porcentagens: 65%-55% de carboidratos, 15%-35% de proteínas e 20-25% de lipídios. Agora, a quantidade de cada 48 macronutriente para um determinado objetivo atlético, estético ou de saú- de, fica à cargo do nutricionista. Se considerarmos uma necessidade de 3.500 kcal por dia para um indivíduo fisicamente ativo pesando 80kg, teremos 60% de carboidratos (2.100Kcal), 20% de proteínas (700 kcal) e 20% lipídios (700 kcal). Porém, se considerarmos essas porcentagens transformadas em gramas de nu- trientes, temos: 2.100 kcal/4kcal = 525g/80kg = 6,5g/cho/kg/dia. Com relação à proteína, 700kcal/4kcal = 175g/80kg = 2,18g/prot/kg/dia. Já os lipídios, 700 kcal/9 = 77,7g /80kg = 0,97g/lip/kg/dia. Notamos então que escolhendo uma porcentagem de proteína (20% - que está dentro das recomendações clássicas) para um atleta de 80kg, a quantidade total foi de 2,18g/kg/dia. Agora, vamos considerar um atleta de 70kg que possa ter a mesma necessidade calórica, os mesmos 20% de proteína transformados no cálculo g/kg resultam em 2,5g/kg/ dia. Ou seja, para ajustar melhor os cálculos, deve-se partir do princípio de que a quantidade calórica é proporcional à quantidade dos nutrientes em gramas. Dessa forma, fica possível calcular a quantidade em g/kg/dia a partir da avaliação antropométrica. Em 2016, a ADA e o ACSM publicaram o mais recente posiciona- mento sobre diretrizes da Nutrição Esportiva. Nesse artigo há uma nova proposta para calcular a necessidade calórica de atletas de elite: Necessi- dade Energética Total (NET), que é igual à somatória da taxa metabólica basal com o Efeito Térmico dos Alimentos (ETA) e o Efeito Térmico das Atividades Físicas (ETAF). NET = TMB + ETA + ETAF Sendo que o ETAF é a somatória do Gasto do Exercício Planejado (GEP), com as Atividades Físicas Espontâneas (AFE) diárias e a Atividade Termogênica Não Exercitada (ATNE). ETAF = GEP + AFE + ATNE Todo esse ajuste de cálculo serve para se obter de forma mais pre- cisa o dispêndio de energia de todas as formas, exercitadas ou não, com o fim de se chegar a um cálculo na NET o mais próximo da realidade do 49 atleta de elite. Assim, evita-se o overtraining, que, somado ao consumo caló- rico inadequado, acaba resultando em maior gasto energético, gerando um déficit calórico e desencadeando um desbalanço bioquímico, hormonal e psicológico nos atletas. Finalmente, para se saber o consumo calórico por massa magra (massa muscular, ossos e vísceras), Kcal/kg MM/dia, se calcula a Dispo- nibilidade Energética (DE) a partir da Ingestão Energética (IE) subtraída do GEP, que pode ser estimado pela metodologia dos equivalentes meta- bólicos (METS) de cada bloco de exercício. DE = EI – GEP Um exemplo para ficar didático: Indivíduo de 90kg com 10% de gordura. (81kg de massa magra e 9kg de gordura) Ingestão energética: 2.500 kcal Gasto Exercício Planejado: 500 kcal DE = 2.500 - 500 = 2.000 kcal/81kg DE = 24,7 kcal/kgMM/dia Partindo do pressuposto de que um atleta de elite não pode ter uma DE menor do que 30kcal/kgMM, o indivíduo usado como exemplo corre sérios riscos de perder desempenho físico dada a menor disponibilidade de energia observada no cálculo proposto. O aumento para 3.000 - 3.500 kcal poderia ajudar a chegar acima dos 30kcal/kgMM. 50 carboiDratos na Dieta: PerDa De Peso x hiPertroFia x PerFormance Atualmente vivemos uma “carbofobia”, ou seja, medo de comer os alimentos fontes de carboidratos. Grande parte disso tem a ver com o terrorismo nutricional promovido nas mídias sociais por pessoas sem conhecimento técnico que acabam confundindo as pessoas leigas. Esse medo é eliminado quando a pessoa passa por um profissional gabaritado que consegue calcular a quantidade justa dos nutrientes considerando a sua necessidade individual. Na prática clínica do nutricionista existe uma metodologia de cál- culo dos nutrientes, em especial para os macronutrientes, com estratégias nutricionais para a modulação da quantidade de carboidrato do indivíduo pautada em sua rotina de treinos. É claro que a necessidade de carboidrato de pessoas sedentárias é menor e nesse caso é melhor calcular as quantida- des em g/kgMM, considerando apenas a massa magra (músculos, órgãos e esqueleto) com o objetivo de manutenção de peso corporal. Exemplo de cálculo, abaixo: Mulher, 48 anos, 75kg, 1,65m e 35% de gordura. (26,2kg de gordura corporal e 48,8kg de massa magra) Considerando 48,8 x 2g de CHO = 97g totais 24,2g de carboidrato divididos em 4 refeições ao dia. Observando o cálculo, é possível entender que o consumo popula- cional de carboidratos é excessivo, principalmente por pessoas sedentárias. E para piorar, tem a questão do tipo de carboidrato que essas pessoas ingerem, sendo a maior parte composta por farinha branca, refrigerantes e doces em geral, o que explica os altos índices de obesidade. A habilidade que um determinado alimento tem de elevar os níveis de glicose sanguínea é conhecida como “índice glicêmico”. Esse índice refere-se à velocidade com que os carboidratos aparecem na corrente san- guínea, e essa velocidade varia de acordo com o tipo de carboidrato e como ele é digerido e absorvido pelo nosso organismo. 51 O índice glicêmico, proposto por Jenkins e colaboradores (1981), é um sistema numérico que serve para medir a taxa de glicemia induzida por um determinado alimento, quando relacionado à glicose. A taxa normal de glicose no sangue para indivíduos em restrição alimentar de 3 a 4 ho- ras deve ser de 90mg/dl, aproximadamente, não ultrapassando 140mg/dl. Caso haja aumento nesse valor, há a possibilidade de que o indíviduo seja portador do diabetes mellitus, já que o nível de glicemia é regulado pelos hormônios pancreáticos insulina e glucagon. Abaixo, alguns exemplos de alimentos e seus respcetivos IG. Alimentos com alto índice glicêmico Alimentos com médio indice glicêmico 52 Alimentos com baixo índice glicêmico A sacada é o nutricionista conseguir reduzir a velocidade de absor- ção da glicose para evitar uma rápida sinalização da secreção de insulina na corrente sanguínea, controlando assim o índice glicêmico da refeição. O que importa é o controle da quantidade do carboidrato a ser ingerido e a constituição nutricional do prato como um todo. Sendo assim, deve-se buscar incluir alimentos com fibras solúveis e insolúveis (folhas e vege- tais), proteínas de boa qualidade e fontes lipídicas associadas (azeite, aba- cate, castanhas, gema de ovo), se for o caso. O nutricionista esportivo consegue ajustar as quantidades pelo tipo de treino e biotipo corporal do paciente. Imagine, por exemplo, um indi- víduo que se dedica no treino de força, mas não possui regularidade de treino, tem um percentual de gordura alto e conta com tipo corporal en- domorfo. Se for calculada a mesma quantidade de CHO por dia, sem levar em consideração a porcentagem de gordura e intensidade de treino, posso acabar aumentando a porcentagem de gordura desse indivíduo. A tabela abaixo explica essa técnica da oscilação de carboidrato. Quantidade de carboidrato individualizada por dias de treino Treino de pernas/ panturrilhas Treino de Bíceps/ Tríceps Treino Ombro Treino Peito/Costas Dia sem treino/ abdominais 3g/kg/dia 2g/kg/dia 2g/kg/dia 3g/kg/dia 1g/kg/dia 53 Assim, o nutricionista deve ter sensibilidade para prescrever a quan- tidade certa para cada tipo de paciente ou atleta. Quando se trabalha com atletas de elite, que possuem um engajamento nos treinos por motivos competitivos, a quantidade de carboidrato acaba sendo proporcional à quantidade de horas de treinamento. Com relação aos atletas de endurance, que dependem dos estoques de glicogênio para a manutenção do exercício por longos períodos como é o caso do triatlon, maratona, ciclismo de longa distância, travessia aquática, etc., há a necessidade de se ingerir grande quantidade de carboidrato ao dia, o qual deve estar distribuído entre o pré-treino, durante e pós-treino. Outra questão importante é a velocidade de absorção do carboidrato que deve ser pensada para maximizar a produção de glicogênio através da gli- cogênio sintetase. As recomendações de CHO no esporte são variáveis pois são de- terminadas pela modalidade, intensidade do esforço, do volume do trei- namento e composição corporal do indivíduo. Dessa forma, o ACSM (2016) preconiza quantidades diferentes de carboidratos
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