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Escoamento interno e perda de carga EN2130 - Hidráulica Profa. Dra. Tatiane Araujo de Jesus tatiane.jesus@ufabc.edu.br Grandes turbilhões têm pequenos turbilhões Que se alimentam de sua velocidade, E pequenos turbilhões têm turbilhões ainda menores, E assim por diante, até a viscosidade. Lewis P. Richardson Escoamento em tubulações • Condutos livres • Condutos forçados Condutos forçados (ou sob pressão) Definição: Conduto no qual o líquido escoa sob pressão maior que a atmosférica. A canalização funciona, sempre, totalmente cheia e o conduto é sempre fechado. Conduto livre P = Patm Conduto forçado P Patm Condutos forçados (ou sob pressão) Condutos forçados (ou sob pressão) Condutos forçados podem funcionar por gravidade, aproveitando a declividade do terreno, ou por recalque (bombeamento), vencendo desníveis entre o ponto de captação e o ponto de utilização. Condutos forçados (ou sob pressão) Nas condições práticas, o movimento da água em canalizações é sempre turbulento. Escoamento laminar: Re ≤ 2000 Escoamento de transição: 2000 < Re < 4000 Escoamento turbulento: Re ≥ 4000 Condutos forçados (ou sob pressão) Exemplo: A velocidade média de escoamento, em canalizações de água, geralmente varia em torno de 0,90 m/s (0,5 e 2 m/s). Seja a temperatura média da água admitida 20 C. Para essa temperatura, a viscosidade cinemática é: ν = 1.10-6 m²/s. Em uma canalização de diâmetro relativamente pequeno como, por exemplo, 50 mm, teríamos: 000.45 000001,0 05,090,0 vD Re Condutos forçados (ou sob pressão) Re = 45000: valor bem acima de 4000. Para diâmetros maiores, os valores de Re seriam bem superiores. O contrário se verifica quando se tratar de líquidos muito viscosos, como óleos pesados, etc. Condutos forçados (ou sob pressão) Para as mesmas condições de escoamento do exemplo anterior (D = 0,05 m e v = 0,9 m/s, caso o fluido fosse óleo pesado, com ν = 0,000077 m²/s, o escoamento seria laminar ou turbulento? 584 000077,0 05,09,0 Re vD Portanto, escoamento laminar, pois resulta em número de Reynolds abaixo de 2000. Perda de carga: conceito e natureza MONTANTE JUSANTE ou ΔH perda de carga Energia cinética Energia de pressão ou piezométrica Energia de posição ou potencial Perda de carga: conceito e natureza A energia dissipada não é mais recuperada como energia cinética e/ou potencial e por isso, denomina-se perda de energia ou perda de carga. Para efeito de estudo, a perda de energia, denotada por h ou hf, é classificada em: • Perdas de carga (ou energia) distribuídas: hfd ou hd; • Perdas de carga (ou energia) localizadas: hfL ou hL; • Assim, a perda de carga total (hf ou H) é dada por: H = hd + hL Classificação das perdas de carga Perdas contínuas (distribuídas): hd Perda por resistência ao longo dos condutos. Ocasionada pelo movimento da água na própria tubulação. Admite-se que essa perda seja uniforme em qualquer trecho de uma canalização. Perdas localizadas (locais, acidentais): hL Provocadas pelas peças especiais e demais singularidades de uma instalação. Importantes em canalizações curtas. Em canalizações longas, seu valor é praticamente desprezível. Perda de carga distribuídas (hd) distribuída ao longo do comprimento da canalização. Ocorre devido ao ATRITO entre as diversas camadas do escoamento e ainda ao atrito entre o fluido e as paredes do conduto (efeitos da viscosidade e da rugosidade), ou seja, pela resistência ao longo dos condutos. Ocasionada pelo movimento da água na própria tubulação. Admite-se que seja uniforme em qualquer trecho de uma canalização de dimensões constantes, independentemente da posição da canalização. Perda de carga contínua Numa região próxima à parede do tubo, denominada camada limite, há um elevado gradiente de velocidade, que causa um efeito significante. A conseqüência disso é o surgimento de forças cisalhantes que reduzem a capacidade de fluidez do líquido. CONSEQÜÊNCIA: O líquido ao escoar dissipa parte de sua energia, principalmente em forma de calor. Perda de carga contínua Camada limite, zona de turbulência e filme laminar Camada limite: concebida pela primeira vez por Ludwig Prandtl (1904) e notada pela primeira vez por Hele-Shaw. Importante: sempre existe uma camada laminar, cuja espessura varia conforme o número de Reynolds. Quanto maior for Re, menor a camada laminar. Perda de carga contínua Rugosidade • Não existe superfície perfeitamente lisa. • Superfície aerodinamicamente lisa: aquela cujas asperezas não se projetam além da camada laminar. Aumento da perda de carga Perda de carga contínua Rugosidade Rugosidade absoluta Equivalente (ε ou e): medida das saliências da parede do tubo. Rugosidade relativa (ε/D): divisão da rugosidade absoluta pelo diâmetro do tubo. Rugosidade absoluta Tabela: Valores da rugosidade absoluta para diferentes materiais MATERIAL ε (mm) Rugosidade Absoluta Equivalente Aço comercial novo 0,045 Aço laminado novo 0,04 a 0,10 Aço soldado novo 0,05 a 0,10 Aço soldado limpo, usado 0,15 a 0,20 Aço soldado moderadamente oxidado 0,4 Aço soldado revestido de cimento centrifugado 0,10 Aço laminado revestido de asfalto 0,05 Aço rebitado novo 1 a 3 Aço rebitado em uso 6 Aço galvanizado, com costura 0,15 a 0,20 Aço galvanizado, sem costura 0,06 a 0,15 Ferro forjado 0,05 Ferro fundido novo 0,25 a 0,50 Ferro fundido com leve oxidação 0,30 Ferro fundido velho 3 a 5 Ferro fundido centrifugado 0,05 Ferro fundido em uso com cimento centrifugado 0,10 Ferro fundido com revestimento asfáltico 0,12 a 0,20 Ferro fundido oxidado 1 a 1,5 Cimento amianto novo 0,025 Concreto centrifugado novo 0,16 Concreto armado liso, vários anos de uso 0,20 a 0,30 Concreto com acabamento normal 1 a 3 Concreto protendido Freyssinet 0,04 Cobre, latão, aço revestido de epóxi, PVC, plásticos em geral, tubos extrudados 0,0015 a 0,010 Perda de carga contínua Fórmula Universal de perda de carga ou Fórmula de Darcy-Weisbach Onde: f = fator de atrito; L = comprimento da tubulação (m); D = diâmetro interno da tubulação (m); V = velocidade média do escoamento (m/s); g = aceleração da gravidade (m/s2). g V D L fh f 2 2 Experiência de Nikuradse Em 1933, J. Nikuradse publicou os resultados de um trabalho experimental para a determinação do fator de atrito em tubulações circulares. Esses ensaios foram realizados com tubos lisos, cuja parede interna foi revestida com grãos de areia, sensivelmente esféricos e com granulometria controlada, criando assim uma rugosidade uniforme e artificial de valor “ε”. Esse trabalho permitiu o estabelecimento de leis de resistência para os regimes hidraulicamente liso e rugoso. Em 1944, Lewis Ferry Moody, estendeu o trabalho e representou relações em um gráfico, que ficou conhecido como Diagrama de Moody. Johann Nikuradse Engenheiro e pesquisador alemão (1894 – 1979) Diagrama de Moody O diagrama de Moody é a representação gráfica em escala duplamente logarítmica do fator de atrito em função do número de Reynolds e a rugosidade relativa de uma tubulação (ε/D). DIAGRAMA DE MOODY Fator de atrito Recentemente, em 1999, Swamee apresentou uma equação geral para o cálculo do fator de atrito, válida para escoamentos laminar, turbulento liso, transição e turbulento rugoso, na forma: 125,0 16 6 9,0 8 Re 2500 Re 74,5 7,3 ln5,9 Re 64 D f sendo: • f : fator de atrito; • Re: número de Reynolds (adim.); • D: diâmetro interno da tubulação (m); • : rugosidade absoluta equivalente (m); D/e Perda de carga contínua Influênciado envelhecimento da tubulação Perda de carga contínua Influência do envelhecimento da tubulação PERDA DE CARGA (Contínua) Fórmula Empírica de Hazen-Williams Dentre as fórmulas empíricas mais utilizadas, encontra-se a de Hazen-Williams, cuja expressão é: Onde: • Q = a vazão (m3/s); • D = o diâmetro (m); • C = o coeficiente de rugosidade; • L = o comprimento da tubulação (m); Fonte: Adaptado de Azevedo Netto (1988). 87,485,1 85,1 65,10 DC Q Lh PERDA DE CARGA (Contínua) Fórmula Empírica de Hazen-Williams Material do tubo Coeficiente C Plástico : Diâmetro até 50mm Diâmetro entre 60 e 100 mm Diâmetro entre 125 e 300 mm 125 135 140 Ferro fundido (tubos novos) 130 Ferro fundido (tubos com 15 a 20 anos) 100 Manilhas de cerâmica 110 Aço galvanizado (novos) 125 Aço soldado (novos) 110 Tabela: Valores do Coeficiente de Rugosidade C para a fórmula de HAZEN-WILLIAMS Fonte: Adaptado de Azevedo Netto (1988). Fórmula de Hazen-Williams A fórmula de Hazen-Williams é recomendada, preliminarmente para: • Escoamento turbulento de transição; • Líquido: água a 20oC, pois não leva em conta o efeito viscoso; • Diâmetro: em geral maior ou igual a 4”; • Origem: experimental com tratamento estatístico dos dados; • Aplicação: redes de distribuição de água, adutoras, sistemas de recalque. Exemplo de utilização de tabela para determinação da perda de carga distribuída Tubulação de diâmetro igual a 300 mm, C = 100, transportando 60 L/s de água. Resposta: 0,41 m/100 m Páginas 181 a 203 do Manual de Hidráulica Perda de carga: roteiro para a solução de problemas Problema Tipo Dados Incógnitas 1º. Passo 2º. Passo 3º. Passo 4º. Passo 5º. Passo I L, D, Q hf, V Calcula-se 𝑉 = 𝑄 𝐴 Calcula-se 𝑅𝑒 = 𝑉 ∙ 𝐷 𝜐 Determina-se: 𝑒 𝐷 Calcula-se f por Swamee, ou, com Re e (e/D) no Diagrama de Moody Calcula-se: ℎ𝑓 = 𝑓 ∙ 𝐿 𝐷 ∙ 𝑉2 2 ∙ 𝑔 II L, D, hf V, Q Calcula-se: 𝑅𝑒 ∙ 𝑓 = 2 ∙ 𝑔 ∙ ℎ𝑓 ∙ 𝐷 3 𝐿 ∙ 𝜈2 Determina-se: 𝐷 𝑒 Com os valores de 𝑅𝑒 ∙ 𝑓 e 𝑫 𝒆 encontra-se f no Diagrama de Rouse Calcula-se: 𝑉 = ℎ𝑓 ∙ 𝐷 ∙ 2 ∙ 𝑔 𝑓 ∙ 𝐿 Calcula-se: 𝑄 = 𝑉 ∙ 𝐴 III L, hf, Q D, V Assume-se, primeiro, um valor para 𝑓:𝑓1 Com f1, calcula-se: 𝐷1 = 𝑓 ∙ 8 ∙ 𝐿 ∙ 𝑄2 ℎ𝑓 ∙ 𝜋 2 ∙ 𝑔 1 5 Calcula-se: 𝑅𝑒 = 4 ∙ 𝑄 𝜋 ∙ 𝐷1 ∙ 𝜈 Determina-se: 𝑒 𝐷 Calcula-se f por Swamee, ou, com Re e (e/D) no Diagrama e Moody, novo valor para f : f2. Repete-se as operações até que fn+1 = fn IV L, hf, V D, Q Assume-se, primeiro, um valor para 𝑓:𝑓1 Com f1, calcula-se: 𝐷1 = 𝑓 ∙ 𝐿 ∙ 𝑉2 ℎ𝑓 ∙ 2 ∙ 𝑔 Calcula-se 𝑅𝑒 = 𝑉 ∙ 𝐷𝑓 𝜐 Determina-se: 𝑒 𝐷 V L, V, Q D, hf Calcula-se 𝐴 = 𝑄 𝑉 Conhecido D, o problema recai no tipo I. *************** *************** *************** VI L, V, D hf, Q Calcula-se: 𝑄 = 𝑉 ∙ 𝐴 Conhecido Q, o problema recai no tipo I. *************** *************** *************** Quadro: Auxilia o encaminhamento dos vários tipos de problemas Perda de carga localizada locais, localizadas, acidentais ou singulares Ocorrem devido à presença de peças especiais e demais singularidades de uma instalação, como conexões e peças existentes em pontos da canalização, gerando turbulência adicional e maior dissipação de energia naquele local. Exemplos de singularidades: cotovelo, curva, tê, alargamento, redução de diâmetro, registro, etc. Observações: • No caso de canalizações curtas e com muitas singularidades (instalações prediais, sistemas de bombeamento etc.) a perda de carga localizada pode ser significante. • Em canalizações longas seu valor é praticamente desprezível comparado ao da perda pela resistência ao escoamento. Perda de carga localizada locais, localizadas, acidentais ou singulares Teorema de Borda-Bélanger Borda – deduziu a expressão em 1766 Bélanger – retomou os estudos de Borda e publicou sua teoria em 1840: “Em qualquer alargamento brusco de seção, há uma perda de carga local medida pela altura cinética correspondente à perda de velocidade”. Perda de carga localizada De modo geral, as perdas localizadas, para cada acessório, podem ser expressas por uma equação do tipo: Onde: K é um coeficiente adimensional que depende das características da conexão; V é a velocidade média do escoamento (m/s); g é a aceleração da gravidade (m/s2) g V KhL 2 2 Perda de carga localizada Entrada de canalização (saída de reservatório) g V KhL 2 2 Perda de carga localizada Exemplo de determinação do coeficiente “k” em uma contração súbita v0 v2 D0= diâmetro do tubo de entrada D2= diâmetro do tubo de saída 2 0 2 215,0 D D K Perda de carga localizada ACESSÓRIO K ACESSÓRIO K Cotovelo de 90º raio curto 0,9 Válvula de gaveta aberta 0,2 Cotovelo de 90º raio longo 0,6 Válvula de ângulo aberta 5 Cotovelo de 45º 0,4 Válvula de Globo aberta 10 Curva 90º , r/D = 1 0,4 Válvula de pé com crivo 10 Curva de 45º 0,2 Válvula de retenção 3 Tê, passagem direta 0,9 Curva de retorno, a=180º 2,2 Tê, saída lateral 2,0 Válvula de bóia 6 Tabela: Valores do coeficiente K para diversos acessórios Fonte: Adaptado de Porto, R.M. Perda de carga localizada: comprimento equivalente Perda de carga localizada Uma tubulação de aço rebitado, com 0,30 m de diâmetro e 300 m de comprimento, conduz 130 L/s de água a 15,5 oC. A rugosidade do tubo é 0,003 m. A viscosidade cinemática da água a essa temperatura é 1,127.10-6 m2/s. Determinar a velocidade média e a perda de carga. EXERCÍCIO 1 Dois reservatórios estão ligados por uma canalização de ferro fundido (ε = 0,000260 m) com 0,15 m de diâmetro e 360 m de extensão. Determinar a velocidade e a vazão no momento em que a diferença de nível entre os dois reservatórios igualar-se a 9,30 m. Admitir que a temperatura da água é de 26,5 C (ν= 8,66.10-7 m2/s). EXERCÍCIO 2 Determinar o percentual que representam as perdas de carga localizadas em uma tubulação de 10 cm de diâmetro com f = 0,001 conduzindo Q = 50 L/s, que possui 2 curvas de 90° (k = 0,4) e 1 registro de gaveta aberto (k = 0,2). O comprimento total da tubulação é de 2 m. EXERCÍCIO 3 Determine a perda de carga total em uma tubulação que transporta água com velocidade igual a 2 m/s, de diâmetro igual a 100 mm e f = 0,001. O comprimento total dos tubos é de 3 m. Existem na tubulação as singularidades indicadas na Figura ao lado. EXERCÍCIO 4 raio longo tipo leve raio longo (aberta) e crivo Respostas dos exercícios 1) V = 1,83 m/s; hf = 6,66 m; 2) V = 1,82 m/s; Q = 0,032 m³/s; 3) 98 %; 4) Perda total = 0,076 m.
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