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AOL 1 CPCP . INTRODUÇÃO À TEORIA GERAL DO PROCESSO

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TEORIA GERAL DO PROCESSO
INTRODUÇÃO À TEORIA GERAL DO PROCESSO
Ana Piantino
Olá!
Você está na unidade Introdução à Teoria Geral do Processo. Conheça aqui, primeiramente, a relação entre sociedade e tutela jurídica, bem como a relação entre sociedade, Direito e resolução de conflito de interesses. Aprenda conceitos-chave, como processo, Direito processual, texto jurídico, norma jurídica, normal material, norma processual e Direito material. Aprenda, ainda, sobre a eficácia da norma processual no tempo e no espaço.
Por fim, estude a interpretação da norma processual, bem como suas fontes.
Bons estudos! 
1 Sociedade e tutela jurídica
A tutela jurídica é uma das manifestações do Estado Democrático de Direito na sociedade. O órgão jurisdicional ostenta a função pública de assegurar o império da lei e a paz social. Nesse sentido, analisa-se aqui a relação entre sociedade e Direito, destacando-se o papel da jurisdição e também dos equivalentes jurisdicionais, tais como a autotutela e autocomposição. Ainda, neste tópico, estuda-se o chamado modelo multiportas, que se manifesta através de métodos alternativos de resolução de conflitos, como a mediação, a conciliação e a arbitragem. 
1.1 Sociedade e Direito: conflito de interesses
1.2 
O Estado de Direito adotou inicialmente o princípio da legalidade com o intuito de elevar a lei a um ato supremo, afastando-se traços absolutistas dos antigos regimes. Tem-se o berço da concepção de que é papel do Direito tutelar direitos subjetivos, acrescentando-se a concepção de que a certeza do Direito é uma forma de garantir o desenvolvimento da sociedade (MARINONE E COL., 2017). A tutela jurídica cuida da afirmação do ordenamento jurídico, ao mesmo tempo em que protégé particulares. Nesse sentido, aponta Fredie Didier Junior (DIDIER, 2015, p. 162):
A tutela dos direitos dá-se ou pelo seu reconhecimento judicial (tutela de conhecimento), ou pela sua efetivação (tutela executiva) ou pela sua proteção (tutela de segurança, cautelar ou inibitória). A tutela jurisdicional dos direitos ainda pode ocorrer pela integração da vontade para obtenção de
Certos efeitos jurídicos, como ocorre na jurisdição voluntária […].
Segundo Humberto Theodoro Junior (2015), o Estado Democrático de Direito tem como meta a efetividade da tutela jurisdicional, prestada pelo Poder Judiciário. Muito além de reforçar a autoridade jurídica, deve sempre resguardar a constitucionalização da tutela jurídica. Sob a esfera da Constituição da República, o dever de tutela do Estado é permeado, por exemplo, pela garantia do acesso à Justiça, conforme apreende-se da redação do artigo 5º, inciso XXXV do texto constitucional: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito” (BRASIL, 1988).
Observa-se que, ao longo da história, fixou-se como papel do Estado o poder-dever de solucionar conflitos de interesses. Para alguns autores, está é a principal finalidade do Direito, especificamente do processo. Trata-se de uma noção de papel do Direito como controlador de impulsos humanos, visando proteger a estrutura social, regendo-se por interesses legítimos (GONÇALVES, 2016).
Em suma, evidencia-se a existência de uma ligação necessária entre as concepções de Estado De Direito Democrático, ordem jurídico-constitucional e Direito processual. O Direito atua como regular social, impondo a ordem jurídica para resguardar direitos subjetivos e dirimindo conflitos.
1.3 Heterocomposição, autotutela e autocomposição
1.4 
A tutela de direitos pode se dar de forma jurisdicional ou não-jurisdicional. A tutela de direitos jurisdicional é a
Chamada heterocomposição, enquanto a autotutela e autocomposição se inserem na concepção não-
Jurisdicional, conhecidas como “equivalentes jurisdicionais” (DIDIER, 2015).
Assista aí
Enriqueça 	seu 	conhecimento! 	Clique 	aqui: 	https://www.youtube.com/watch?v=UwL5Pf5-
puA&feature=emb_title
Técnica de solução de conflitos em que “[…] um terceiro substitui a vontade das
Heterocomposição partes e determina a solução do problema apresentado” (DIDIER, 2015, p. 154).
Técnica de solução de conflitos em que o interesse de um dos sujeitos será imposto
Autotutela ao outro. Aqui, diz-se que o próprio “juiz da causa” é uma das partes (DIDIER, 2015). 
Nesse sentido, na heterocomposição tem-se a chamada substitutividade, onde um terceiro imparcial, revestido no papel do Estado, substitui as atividades dos sujeitos envolvidos em um conflito, buscando dirimi-lo. Ressaltase que a heterocomposição é fundada na soberania estatal e encontra sua legitimidade atrelada à Constituição, pois os direitos fundamentais, materiais e processuais devem ser sempre resguardados no exercício da jurisdição (MARINONI E COL., 2017).
Passando para análise dos equivalentes jurisdicionais, a autotutela é, em regra, vedada pelo ordenamento jurídico, salvo previsões expressas em Lei. Como exemplo de uma das poucas hipóteses em que o ordenamento autoriza o uso de autotutela, cita-se o caso em que, visando a manutenção de seu direito de posse, o possuidor pode utilizar-se de sua própria força para defende-la, desde que o faça de maneira imediata e proporcional. Tal previsão está expressa no artigo 1.210, parágrafo primeiro, do Código Civil. Por sua vez, a autocomposição soluciona conflitos através do sacrifício total ou parcial de interesses de uma parte, em prol do interesse alheio. Trata-se de um mecanismo alternativo de resolução, que afasta a noção de que apenas a jurisdição estatal é capaz de resolver conflitos. A autocomposição possui dois tipos:
Transação
É quando os interessados fazem concessões mútuas.
Submissão
É quando o interesse de uma das partes prepondera sob o do outro, de forma voluntária.
Ambas podem ocorrer com a presença de um terceiro (conciliador ou mediador), ou de forma autônoma. Aqui, ressalta-se que o atual Código de Processo Civil valoriza e estimula a autocomposição como técnica, regulando expressamente a mediação e conciliação, previstas nos artigos 165 a 175 do referido diploma, além das previsões dos artigos 334 e 695, por exemplo (DIDIER, 2015). 
1.3 Modelo multiportas: mediação, conciliação e arbitragem
Visando assegurar um modelo multiportas de resolução de conflitos, o Código de Processo Civil, que entrou em vigência em 2016, disciplinou meios alternativos de resolução de conflitos, incentivando-os (art. 3º, §3º, CPC). Destacam-se aqui a mediação, conciliação e arbitragem. Mister apontar que a mediação e conciliação são espécies de autocomposição, que por sua vez é um equivalente jurisdicional, Já a arbitragem, segundo Fredie Didier (2015), se difere por não ser uma forma não-jurisdicional de resolução de conflito, mas sim uma técnica jurisdicional que se utiliza de autoridade não-estatal.
Primeiramente, analisam-se a mediação e a conciliação, conjuntamente. Ambas são “[…] formas de solução de conflito pelas quais um terceiro intervém em um processo negocial, com a função de auxiliar as partes a chegar à autocomposição” (DIDIER, 2015, p. 275). As diferenças entre estas duas técnicas de autocomposição são sutis. Conforme depreende-se da redação do artigo 165, §§2º e 3º do Código de Processo Civil, a conciliação é preferencialmente indicada para os casos em que não há vínculo anterior entre as partes, enquanto a mediação é indicada para casos em que há este vínculo. Então, por exemplo, a conciliação é mais indicada para resolver um conflito decorrente de acidente de trânsito, enquanto a mediação é mais indicada para temáticas de direito de família (GONÇALVES, 2016).
Aqui, imprescindível destacar a pontuação realizada por Fredie Didier (2015) de que a autocomposição, seja esta a mediação ou a conciliação, são importantes por permitirem às partes protagonizarem a elaboração da norma jurídica, pois esta não ocorre apenas na esfera legislativa, como também na resolução de conflitos, onde a norma se transforma conforme caso concreto.
Finalmente, analisa-se a arbitragem, expressamente autorizada pelo Código de Processo Civil em seu artigo 3º, parágrafoprimeiro, e regulamentada pela Lei nº 9.307/1996 (Lei da Arbitragem). Segundo Marcus Vinícius Gonçalves (GONÇALVES, 2016, p. 1283), a arbitragem é “[…] o acordo de vontades entre pessoas maiores e capazes que, preferindo não se submeter à decisão judicial, confiam a árbitros a solução de litígios, desde que relativos a direitos patrimoniais disponíveis”. Possui como vantagem a potencialidade de melhor tratar conflitos que requerem um maior grau de conhecimento técnico específico sobre dado conteúdo. Em outras palavras, a arbitragem – que se dá através da chamada convenção de arbitragem – é um método de resolução de conflitos que se utiliza de uma autoridade não-estatal para presidir o conflito, o árbitro. Quanto ao conceito de arbitragem supra transcrito, observa-se que este carrega os requisitos do artigo 1º da Lei de Arbitragem, qual sejam, o fato de que as partes devem ser capazes e só podem versar sobre direitos patrimoniais disponíveis. Qualquer temática que extrapole esses limites não mais poderá ser objeto de arbitragem, conforme artigo 25 da mesma lei.
Quantos aos efeitos da arbitragem, ressalta-se a redação do artigo 31 da Lei nº 9.307/1996: “A sentença arbitral produz, entre as partes e seus sucessores, os mesmos efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória, constitui título executivo” (Brasil, 1996).
Fique de olho
 	A constitucionalidade da arbitragem no ordenamento pátrio já foi enfrentada pelo Supremo Tribunal Federal, que a considerou constitucional em um recurso em processo de homologação de Sentença Estrangeira (SE 5206). Assim o é, segundo o entendimento da Corte, pois o uso de arbitragem é restrito, feito por pessoas capazes e de forma alguma obsta o direito à ação. Destaca-se, ainda, que o uso de arbitragem não é exclusividade da esfera cível, também sendo utilizada na esfera trabalhista, conforme artigo 144, §§1º e 2º da Constituição da República. (DIDIER, 2015).
 
2 Introdução ao Direito Processual Civil
3 
O Direito Processual Civil é um ramo da Ciência Jurídica que regula o exercício da jurisdição civil. Possui natureza de Direito Público, pois ainda que trate de conflito de interesses privados, regula na verdade o exercício da jurisdição, que é uma função do Estado. Nesse sentido, o processo é regido por interesses públicos da ordem jurídica (JÚNIOR, 2015). Nessa perspectiva, é necessário compreender o conceito de processo e Direito Processual, Ainda, estuda-se a relação da Constituição com o processo, as fases metodológicas da ciência do processo e a relação entre Direito Material e Direito Processual. 
2.1 Conceito de processo e de Direito Processual
Segundo Fredie Didier (2015), o processo pode ser compreendido simultaneamente como método de criação de normas jurídicas, ato jurídico complexo e relação jurídica. Como método de criação de normas jurídicas, o processo tem poder normativo na esfera jurisdicional. Quanto à esfera do ato jurídico complexo, entende-se o processo como uma sucessão de atos que se relacionam entre si, que possuem como objeto único a prestação jurisdicional. Já o processo como relação jurídica, entende-se o processo como um conjunto de relações que se estabelecem entre os sujeitos processualmente envolvidos (juiz, autor, réu, Ministério Público, advogados, etc.). Segundo Didier (DIDIER , 2015, p. 32):
[…] pode-se afirmar que essas relações jurídicas formam uma única relação jurídica, que também se chamaria processo. Essa relação jurídica é composta por um conjunto de situações jurídicas (direitos, deveres, competências, capacidades, ônus etc.) de que são titulares todos os sujeitos do
Processo. É por isso que se costuma afirmar que o processo é uma relação jurídica complexa.
Compreende-se, também, o processo como instrumento da jurisdição, pois não é um fim em si mesmo, mas sim um meio para se alcançar a prestação jurisdicional. Esta noção de instrumentalidade se associa com a ideia de que o processo deve respeitar a forma da lei processual, resguardando concepções técnicas, éticas, políticas e sociais para resolver conflitos (GONÇALVES, 2016).
De acordo com Humberto Theodoro Júnior (2015), o Direito Processual é uno, só existindo uma função
Jurisdicional, independentemente do ramo do Direito Material envolvido (civil, trabalhista, penal etc.). Contudo, por motivos funcionais, divide-se o Direito Processual em esferas delimitadas, como processo civil, processo penal e trabalhista. Assim, ganham individualidade “[…] conforme a natureza das regras aplicáveis à solução dos conflitos” (JÚNIOR, 2015, p. 52), não sendo possível confundir o Direito Processual com o Direito Material que se relaciona com este. Tendo em vista que o Direito Processual não se confunde com o Direito Material, observa-se que o Direito Processual Civil, foco do objeto de estudo desta disciplina, não trata apenas de Direito Civil, mas também de Direito Público não penal, atuando de forma residual em relação às demais esferas processuais. Nesse sentido, Theodoro Júnior destaca (JÚNIOR, 2015, p. 52):
Funciona o direito processual civil, então, como principal instrumento do Estado para o exercício do Poder Jurisdicional. Nele se encontram as normas e princípios básicos que subsidiam os diversos ramos do direito processual, como um todo, e sua aplicação faz-se, por exclusão, a todo e qualquer conflito não abrangido pelos demais processos, que podem ser considerados especiais, enquanto o
Civil seria o geral.
Por fim, ainda tratando da conceituação de Direito Processual – especificamente do Direito Processual Civil – destaca-se a conceituação trazida por Marcus Vinícius Gonçalves (2016), que define este ramo do Direito como um conjunto de princípios e regras de jurisdição civil aplicáveis em casos de conflitos de interesses levados ao Estado-juiz. 
2.2 Fases metodológicas da ciência do processo
A ciência do processo pode ser dividida em quatro fases:
 
Figura 1 – Fases da ciência do processo Fonte: Elaborado pelo autor, baseado em DIDIER, 2015.
#PraCegoVer: Na imagem, temos a representação gráfica das quatro fases do processo. A primeira é o
Sincretismo processual (ou praxismo); a segunda é o processualismo cirntífico (ou fase autonomista); o terceiro é o instrumentalismo e, por fim, a quarta fase é o neoprocessualismo (ou formalismo valorativo).
Primeira fase
Chamada de sincretismo processual, tinha-se a ideia de que o processo como ciência, não possui autonomia, sendo estudado dentro do âmbito do Direito Material. Aqui, o processo era visto com uma mera manifestação do
Direito Material que, diante de uma agressão, reagia, sem possui regramento próprio.
Segunda fase
Passando para a fase do processualismo científico, o processo ganha autonomia científica, não só não fazendo parte do Direito Material, como também não sendo um instrumento deste (DIDIER, 2015).
Terceira fase
Na terceira fase, o instrumentalismo, mantém-se a autonomia científica do processo, mas volta-se a ideia de que este é instrumento do Direito Material, reaproximando as duas ciências, mas respeitando a autonomia de ambas.
Quarta fase
Por fim, chega-se a fase atual da ciência do processo, o neoprocessualismo. Aqui, tem-se o processo como ciência autônoma, instrumento da jurisdição, com o acréscimo da concepção de jurisdição constitucionalizada. Mais do que instrumento do Direito Material, o processo é instrumento imprescindível para a efetivação dos direitos e garantias constitucionais. É a Constituição que validará, ordenará e disciplinará as normas processuais (DIDIER, 2015).
Humberto Theodoro Júnior (2015) destaca que esta fase atual da ciência do processo traz fortemente a ideia de democratização do processo, buscando-se uma maior participação das partes no processo judicial também uma maior participação dos cidadãos no Estado Democrático como um todo. Busca-se o chamado regime cooperativo entre cidadão e Estado.  
2.3 Constituição e processo: o artigo 1º do Código de Processo Civil
O artigo 1º do Código de Processo Civil preceitua: “O processocivil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código.”
Trata-se da chamada “constitucionalização do direito processual”, que é um dos grandes marcos do Direito contemporâneo não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. Há uma maior valorização da incorporação das normas constitucionais às normas processuais, o que gera os chamados direitos fundamentais processuais, como o direito universal de acesso à Justiça e o direito ao devido processo legal (DIDIER, 2015).
Além disso, a constitucionalização do Direito Processual, muito além de aproximar no campo normativo as normas processuais e as normas constitucionais, traz a noção do processo como um meio de concretizar as previsões constitucionais.
Tendo em vista que todas as normas de um ordenamento jurídico são submissas à Constituição, o fenômeno da constitucionalização do Direito Processual pode, à primeira vista, parecer redundante. Contudo, Fredie Didier
Pontua (2015, p. 47):
Embora se trate de uma obviedade, é pedagógico e oportuno o alerta de que as normas de direito processual civil não podem ser compreendidas sem o confronto com o texto constitucional, sobretudo no caso brasileiro, que possui um vasto sistema de normas constitucionais processuais,
Todas orbitando em torno do princípio do devido processo legal, também de natureza constitucional.
Nesse sentido, tratar expressamente de normas constitucionais no texto da lei processual é de suma importância como mecanismo político e ético de reconhecimento da Constituição da República como o mais alto guia do ordenamento jurídico. É papel do Direito Processual Civil não apenas respeitar o diploma constitucional, como também buscar efetiva-lo.
Finalmente, destaca-se a importância dos direitos fundamentais processuais, pois estes além de garantirem proteção aos indivíduos que buscam a tutela jurisdicional para efetivar seus direitos, criam balizar para a atuação do Estado. Em outras palavras, a Constituição traz garantias aos indivíduos, ao mesmo tempo em que traça limites para a atuação dos órgãos jurisdicionais, deslindando suas competências e estrutura (JÚNIOR, 2015).
2.4 Processo e direito material: instrumentalidade do processo e relação entre direito material e processual
Segundo Marcus Vinícius Gonçalves (2016), o Direito Material é um interesse primário, pois carrega as normas que indicam os direitos de cada pessoa. Por sua vez, o Direito Processual é um interesse secundário, pois é um instrumento utilizado quando ocorre desrespeito a um direito material.
Como foi possível observar no desenvolvimento das fases metodológicas do processo, a relação entre Direito Material e Direito Processual se alterou ao longo dos anos, substancialmente. Se inicialmente o Direito Processual era visto como um apêndice do Direito Material, hoje em ambos os institutos ganham delimitações claras e autonomia científica, interligando-se por ser o Direito Processual um instrumento do Direito Material. Se no ponto de vista científico e didático é imprescindível separar o Direito Processual do Direito Material, a partir do momento em que se compreende o Direito Processual como instrumento do Direito Material, evidencia-se que a relação entre estas ciências deve ser íntima. O Direito Material é objeto do Direito Processual, devendo ser moldado conforme o primeiro, portanto. Nesse sentido, o papel fundamental do Direito Processual é concretizar o Direito Material. (DIDIER, 2015) Assim, Fredie Didier sintetiza a relação entre Direito Material e Processual (DIDIER, 2015, p. 37 e 38):
O processo é um método de exercício da jurisdição. A jurisdição caracteriza-se por tutelar situações jurídicas concretamente afirmadas em um processo. Essas situações jurídicas são situações
Substanciais (ativas e passivas, os direitos e deveres, p. ex.) e correspondem, grosso modo, ao mérito do processo. Não há processo oco: todo processo traz a afirmação de ao menos uma situação jurídica carecedora de tutela jurisdicional. Essa situação jurídica afirmada por ser chamada de direito material processualizado ou simplesmente direito material.
4 Norma processual civil
5 
Para compreender o conteúdo e aplicação da norma processual civil, é necessário pontuar conceitos fundamentais. Primeiro, distingue-se texto e norma jurídica. Depois, separa-se a norma material da norma processual, para assim compreender a aplicação da norma processual no tempo e no espaço. Por fim, analisa-se a interpretação da norma processual civil. 
3.1 Texto e norma jurídica: distinções
O então ministro Eros Grau preceituou em seu voto, em sede da Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental 153, a distinção entre o mero texto normativo e a norma jurídica. Segundo entendimento do exministro, os dois termos não se confundem conceitualmente. O texto nada mais é que uma das dimensões da norma jurídica, sendo que a última compreende o texto e a realidade. O texto se transforma em norma quando é
Interpretado, até então, é obscuro. Nesse sentido, destaca (GRAU et. Al.,2016, p. 22):
Interpretar o direito é caminhar de um ponto a outro, do universal ao singular, através do particular, conferindo a carga de contingencialidade que faltava para tornar plenamente contingencial o singular. As normas resultam da interpretação e podemos dizer que elas, enquanto textos,
Enunciados, disposições, não dizem nada: elas dizem o que os intérpretes dizem que elas dizem.
Em outras palavras, o texto é o que está escrito, enquanto a norma jurídica se manifesta de maneira mais ampla, emergindo interpretativamente por quem tem competência para interpretá-la, pois resguarda conexão com a realidade, com o caso concreto. Didier (2015) aponta a existência de criação da norma jurídica do caso concreto, que é realizada por um terceiro imparcial competente, através da atividade criativa jurisdicional. O doutrinador
Resume (DIDIER, 2015, p. 157):
Os textos normativos não determinam completamente as decisões dos tribunais e somente aos
Tribunais cabe interpretar, testar e confirmar ou não a sua consistência. Os problemas jurídicos não podem ser resolvidos apenas com uma operação dedutiva (geral-particular). Há uma tarefa na produção jurídica que pertence exclusivamente aos tribunais: a eles cabe interpretar, construir e, ainda distinguir os casos, para que possam formular as suas decisões, confrontando-as com o Direito
Vigente. Exercem os tribunais papel singular e único na produção normativa.
Então, observa-se que a norma jurídica encontra outras fontes formais de emanação fruto do exercício interpretativo dos tribunais, como é o caso do uso da analogia, construções doutrinarias, jurisprudenciais, súmulas vinculantes etc. Aponta-se que esta separação conceitual entre texto e norma jurídica tem como base a superação do caráter restritivo do princípio da supremacia da lei, pois há uma valorização da crítica judicial que
Se dá através da aplicação da norma ao caso concreto. Nesse sentido, é papel dos magistrados interpretativamente transformar a norma abstrata conforme o caso concreto, tendo em vista a Constituição e efetivação dos direitos fundamentais nela contidos. Nesse sentido, inclusive, tem-se a importância do sistema de precedentes judiciais para o atual Código de Processo Civil, a exemplo dos artigos 926 a 928 (DIDIER, 2015).
Assista aí
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/73ff383c5b001f1ec8d4f8be4dd5a763 
3.2 Fontes do direito processual civil
Tendo em vista a diferença entre texto e norma jurídica, que é embasada na valorização dos mecanismos interpretativos adotados pelo ordenamento, estuda-se as fontes do Direito Processual Civil. São elas: a lei processual; a Constituição da República e tratados internacionais e a doutrina e jurisprudência (JÚNIOR, 2015). Primeiramente, tem-se a lei processual como fonte, abrangendo regras de organização, forma e dinâmica do exercício da jurisdição,além de normas e princípios gerais ou específicos de interpretação e do próprio exercício da ação.
Por Lei Processual entende-se não apenas o Código de Processo Civil, como também leis especiais, a exemplo da Lei nº 11.101/ 2005 (Lei de Falências) e a Lei nº 12.016/2009 (Lei do Mandado de Segurança). Ainda, existem as leis processuais estaduais, que cuidam da organização judiciária de cada estado-membro (JÚNIOR, 2015). Quando à Constituição e os tratos internacionais como fontes do Direito Processual, ressalta-se o fenômeno da constitucionalização do processo, que trata as normas constitucionais não apenas como sua base normativa, mas também como viés hermenêutico e objetivos a serem concretizados através do processo. Finalmente, quanto a doutrina e jurisprudência, percebe-se que estas são importante fonte de elaboração das normas
Jurídicas, conforme explicado no tópico anterior.
Fique de olho
 	A incorporação da jurisprudência como fonte normativa do processo civil é uma novidade no ordenamento pátrio, representando um influxo de elementos típicos do sistema de common
Law para o Brasil. Como exemplo, cita-se o artigo 927 do Código de Processo Civil, que preconiza a observação de súmulas e decisões dos tribunais superiores. Segundo Fredie Didier (2015), este fenômeno decorre do fato do Brasil possuir tradição de adotar elementos jurídicos de diferentes modelos estrangeiros, criando um sistema pátrio único.
3.3 Norma material e norma processual
Tradicionalmente, define-se norma material como aquela que cuida da substância de um conflito, que fundamenta a eventual decisão judicial. Por sua vez, as normas processuais seriam aquelas que estabelecem critérios de proceder, regendo o caminho para a produção das decisões judiciais. Então, percebe-se que tal distinção existe no âmbito das relações jurídicas discutidas no processo (BRAGA, 2015). Todavia, aponta-se que tal distinção, na prática, não se opera de maneira nítida porque, por exemplo, é possível que uma norma processual funcione como norma material em um processo, como pode ocorrer em uma ação rescisória que tem como fundamento o impedimento de um juiz (artigo 963, II, CPC) (BRAGA, 2015). 
3.4 Eficácia da norma processual no tempo e no espaço
Primeiramente, analisa-se a eficácia da norma processual no espaço. Esta vale em todo o território nacional, conforme depreende-se da lacônica redação do artigo 16, do Código de Processo Civil: “A jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos tribunais em todo o território nacional, conforme as disposições deste Código” (BRASIL, 2015).
Trata-se da aplicação do princípio da territorialidade, que por sua vez decorre da função jurisdicional, que está intimamente ligada à soberania do Estado (Júnior, 2015). Nesse sentido é a redação do artigo 13 do CPC: “A jurisdição civil será regida pelas normas processuais brasileiras, ressalvadas as disposições específicas previstas em tratados, convenções ou acordos internacionais de que o Brasil seja parte” (BRASIL, 2015). Reforçando o princípio da territorialidade, destaca-se o artigo 13 da Lei nº4.657 (Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro): “A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar, quanto ao ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais brasileiros provas que a lei brasileira desconheça” (BRASIL, 1942). Quanto à eficácia da norma processual no espaço, observa-se que a norma processual se
Submete às regras comuns da Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro:
· Art. 1º
Deve respeitar o período de vacância de 45 dias entre sua publicação e sua entrada em vigor.
· Art. 2º
Permanece em vigência até que outra lei as modifique ou revogue.
• art. 6º
Deve respeitar direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada.
Aponta-se que, no mesmo sentido do artigo 6º do referido diploma legal, tem-se o artigo 5º, inciso XXXVI da Constituição da República. Além destas regras não exclusivas do direito processual cível, o atual Código de Processo Civil, publicado em 2015 previu, em seu artigo 14, que “A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada” (Brasil, 2015). Ainda, em seu artigo 1.046, determinou que deve ser aplicada a todos os processos pendentes ao tempo de sua entrada em vigor, o que ocorreu em 18 de março de 2016. Em suma, as normas processuais cíveis possuem efeito imediato perante os processos pendentes e não possuem efeito retroativo. Nesse sentido, sua aplicação se dá de forma distinta conforme os feitos sejam exauridos, pendentes ou futuros. Quanto aos exauridos, não se aplica o atual Código de Processo Civil. Quanto aos pendentes, aplica-se, mas respeitam-se os atos praticados na vigência no antigo diploma legal. Quanto aos feitos futuros, estes se utilizaram no diploma legal que entrou em vigor em 2016 de modo integral.
(JÚNIOR, 2015)
3.5 Interpretação da norma processual: hermenêutica
Segundo os ensinamentos de Humberto Theodoro Júnior (2015), as normas comuns de hermenêutica jurídica se aplicam também às leis processuais. Todavia, o autor aponta que aqui, deve-se destacar o artigo 8º do Código de Processo Civil – que foi embasado no artigo 6º da Lei de Introdução às Normas Brasileiras – que preceitua: “Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência” (BRASIL, 2015).
Trata-se por uma ênfase feita pelo legislador da necessidade de se ter um Direito Processual Cível mais voltado para a concretização de resultados justos e imparciais, que efetivem os direitos sociais. O fim último do processo é, afinal, a pacificação social através do litígio justo. Assim, a interpretação ideal das normas processuais deverá ter como base os princípios informativos que estruturam o processo (JÚNIOR, 2015). Humberto Theodoro Júnior
Aponta três princípios que devem reger a hermenêutica processual (JÚNIOR, 2015, p. 98 e 99):
· A tutela jurisdicional dos direitos subjetivos é normalmente reservada aos órgãos do Estado; são, pois, excepcionais as hipóteses em que se permite a autotutela privada ou unilateral;
· O processo deve conceder à parte a mesma utilidade que esta poderia conseguir por meio da norma substancial; excepcionais são os casos em que a prestação jurisdicional não coincide com a prestação de direito material;
· O processo de cognição visa a concluir com um pronunciamento de mérito; excepcional é a hipótese de extinguir-se por inobservância formal de regras procedimentais.
Noutro giro, tratando da interpretação do Código de Processo Civil, Fredie Didier (2015) destaca a imprescindibilidade da hermenêutica voltada para a ideia de unidade do código. Ou seja, o código não pode ser interpretado isolando-se suas normas; deve-se sempre interpretá-lo como um organismo uno.
Assista aí
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É isso Aí!
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
· Analisar a relação entre sociedade e tutela jurídica;
· Compreender a relação entre sociedade, Direito e resolução de conflito de interesses;
· Entender os conceitos de processo, Direito processual, texto jurídico, norma jurídica, normal material, norma processual e Direito material;
· Aprender sobre a eficácia da norma processual no tempo e no espaço;
· Estude a interpretação da norma processual e suas fontes.
Referências
BRAGA, Paula Sarno. Norma de processo e norma de procedimento: o problema da repartição de competência legislativa no direito constitucional brasileiro. 2015. 468 f. Tese (Doutorado em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade Federal da Bahia, Salvador.
BRASIL. Decreto-Lei n. 4.657. de 4 de setembro de 1942. Institui a Lei de Introduçãoàs Normas do Direito Brasileiro. Diário Oficial da União, Brasília, 9 set. 1942. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03
/decreto-lei/Del4657compilado.htm>. Acesso em: 13. Nov. 2019.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988.
BRASIL. Lei n. 9.307 de 23 de setembro de 1996. Institui a Lei da Arbitragem. Diário Oficial da União, Brasília, 24 set. 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9307.htm
>. Acesso em: 13. Nov. 2019.
BRASIL. Lei n. 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União, Brasília, 11 jan. 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 13. Nov. 2019.
BRASIL. Lei n. 13.105 de 16 de março de 2015. Institui o Código de Processo Civil. Diário Oficial da União, 17 mar. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm Acesso em: 13. Nov. 2019.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental 153/DF. Redator para o acórdão: Ministro Eros Grau. Plenário. Revista Trimestral de Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. Brasília, v. 216, abri/jun, 2016. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/publicacaoRTJ/anexo
/216_1.pdf>. Acesso em: 13. Nov. 2019.
DIDIER, Fredie. Curso de direito processual civil. 17. Ed. Salvador: JusPODIVM, 2015. V. 1.
GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios. Direito processual civil esquematizado. 6. Ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
Disponível em versão eletrônica <URL.: ISBN 978-85-026-3829-7.
GRAU et. Al. O que é a Filosofia do Direito? São Paulo: Manole, 2013.
JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de direito processual civil. 56. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. V. 1.
Disponível em versão eletrônica <URL.: ISBN 978-85-309-6068-1.
MARINONI, ARENHART e MITIDEIRO. Curso de processo civil. 3. Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017.
Disponível em versão eletrônica <URL.: ISBN: 978-85-203-7172-5.

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