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SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................... 3 2. Pênfigo foliáceo .......................................................... 4 3. Pênfigo vulgar ...........................................................10 4. Penfigoide bolhoso..................................................14 5. Dermatite herpetiforme .........................................18 Referências bibliográficas .........................................23 3DOENÇAS BOLHOSAS 1. INTRODUÇÃO As doenças bolhosas são aquelas ca- racterizadas pela presença de bolhas ou vesículas na pele. Estas podem apresentar diferentes características de acordo com a região da pele em que foram formadas. Revisemos a histologia do maior ór- gão do corpo humano: a pele é com- posta por epiderme, derme e hipo- derme. A epiderme constitui-se de quatro camadas (figura 1): córnea, granulosa, espinhosa e camada basal (ou germinativa). Camada córnea Camada granulosa Camada espinhosa Camada basal Derme Epiderme Figura 1. Histologia na epiderme e da derme. Fonte: Anatpat, UNICAMP. As células que formam 80 % da epi- derme são os queratinócitos. Estes têm origem na camada basal e ascen- dem gradativamente para as cama- das superiores à medida que amadu- recem. A camada espinhosa tem este nome porque é possível visualizar entre os queratinócitos alguns “es- pinhos”, que são, nada mais que, os desmossomos, proteínas transmem- brana responsáveis por manter a os queratinócitos juntos e bem aderidos. SAIBA MAIS! As conexões desmossômicas são rompidas e reformuladas conforme os queratinócitos mi- gram da camada basal em direção à superfície da pele. A desmogleína é uma molécula de adesão que contribui para a força desta ponte desmossômica intercelular. Existem três isoti- pos de desmogleína, 1, 2 e 3. A desmogleína 2 é expressa em todos os tecidos que possuem desmossomos, enquanto as desmogleínas 1 e 3 são restritas a epitélios espinocelulares es- tratificados, como a epiderme. 4DOENÇAS BOLHOSAS Seguindo a mesma analogia, na ca- mada granulosa visualiza-se grânulos de queratina no interior dos querati- nócitos. Já na camada córnea, estes grânulos são secretados, assim como os núcleos dos queratinócitos. Des- sa forma, a camada mais superficial é formada por queratinócitos anucle- ados, circundados por queratina, que confere impermeabilidade à pele. A derme, por sua vez, é formada por tecido conjuntivo e tem sua junção com a epiderme marcada pela mem- brana basal com filamentos que são responsáveis por manter os dois teci- dos aderidos. Como será visto a seguir, as quatro doenças bolhosas aqui abordadas são doenças autoimunes, em que o organismo produz anticorpos contra a própria pele. A depender da região acometida pelos anticorpos são for- madas bolhas de diferentes alturas: • Se acomete a epiderme, as bo- lhas são intraepidérmicas, como é o caso dos pênfigos vulgar e foliáceo; • Se os anticorpos atuam na junção dermo-epidérmica, as bolhas são subepidérmicas, como no pen- figoide bolhoso e na dermatite herpetiforme. 2. PÊNFIGO FOLIÁCEO Epidemiologia O pênfigo foliáceo é menos comum que o pênfigo vulgar no mundo. Ex- cetua-se a isso o Brasil, em que o pênfigo foliáceo possui uma forma endêmica conhecida como fogo sel- vagem, predominando sobre os es- tados de Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e São Paulo, mas tendo focos também em Tocantins, Paraná e Mato Grosso do Sul. Há prevalência maior de pênfigo fo- liáceo entre moradores ou trabalha- dores de zona rural, que comumente é uma área endêmica. Acomete prin- cipalmente crianças e adultos jovens, mas não há predomínio de sexo ou grupo étnico. Ademais, em cerca de 12% dos casos, observa-se frequên- cia familiar, sugerindo algum envolvi- mento genético na gênese da doença. Fisiopatologia Acredita-se que os pênfigos ocorram em indivíduos geneticamente pre- dispostos e que foram expostos a al- gum antígeno que possua mimetismo molecular com as suas moléculas de desmogleína. Entre os fatores ambientais aponta- dos como possíveis desencadeado- res da resposta autoimune causado- ra do pênfigo foliáceo se encontram: exposição a mercúrio ou a poeiras minerais, uso de drogas contendo 5DOENÇAS BOLHOSAS o radical sulfidrila (como peni- cilamina e captopril) e picada do mosquito Simulium nigrimanum, popularmente conhecido como bor- rachudo e que habita nas regiões supracitadas. Uma reação exacerbada do organis- mo a esses fatores ambientais leva à produção de auto-anticorpos contra a desmogleína 1, uma proteína que compõe os desmossomos e, assim, auxilia a junção entre os queratinóci- tos, por meio de pontes. Anatomopatológico Com a destruição dos desmossomos, as pontes são rompidas, gerando a acantólise, ou seja, os queratinócitos se desconectam (figura 2), o que cul- mina na bolha. Como a desmogleína 1 se concentra na camada granulosa, a bolha se origina nessa região e, por isso é uma bolha superficial. Figura 2. Anatomopatológico compatível com o pênfigo foliáceo: desconexão dos queratinócitos da camada granulo- sa. Fonte: Anatpat, UNICAMP. Apresentação clínica Por serem tão superficiais, as bolhas do pênfigo foliáceo se rompem facil- mente, levando a erosões e a cros- tas, que acometem principalmente as áreas seborreicas (face, couro cabelu- do, dorso e região esternal). Geralmente, as lesões se iniciam na região cefálica e progridem em sen- tido craniocaudal, causando dor em queimação quando expostas ao calor ou ao sol. Se deve a isso o fato de ser conhecida como “fogo selvagem”. As lesões do pênfigo foliáceo pou- pam as mucosas, de forma que as 6DOENÇAS BOLHOSAS manifestações clínicas sejam apenas cutâneas, podendo se apresentar de duas formas: • Forma eritrodérmica ◊ Forma em que a pele fica com aspecto eritematoso e desca- mativo (figura 3) e toda a su- perfície corpórea é afetada. • Forma frustra ◊ Forma em que as lesões, erite- matosas e crostosas, acome- tem apenas áreas fotoexpos- tas (figura 4), podendo simular o rash malar do Lúpus Erite- matoso Sistêmico. Figura 3. Lesões eritematosas e descamativas da forma eritrodérmica do pênfigo foliáceo. Fonte: Habif, TP., 2012. Figura 4. Lesão crostosa e eritematosa em região fotoexposta, típica da forma frustra do pênfigo foliáceo. Fonte: Habif, TP., 2012. 7DOENÇAS BOLHOSAS Semiologicamente, as lesões do pên- figo foliáceo, quando em atividade, costumam apresentar sinais bem característicos: • Nikolsky – Sinal constatado quan- do, ao se tracionar a pele aparen- temente sã ao redor da bolha, a mesma também se descola, de- monstrando que também está acometida. • Asboe-Hansen – Sinal em que, ao se aplicar pressão sobre a bolha observa-se a progressão da mes- ma, demonstrando que a pele ao redor também está acometida. Diagnóstico O diagnóstico é feito por meio das características clínicas supracitadas associadas ao citológico de Tzanck e à biopsia, em que a pele da bolha é direcionada à histopatologia e pele ao redor à imunofluorescência direta. No citológico de Tzanck (figura 5), por meio do esfregaço da lesão apli- cado à lâmina, é possível constatar a acantólise. No histopatológico com microscopia de luz, verifica-se a des- conexão dos queratinócitos a nível da camada granulosa ou subcórnea, como já demonstrado na figura 2. Já na imunofluorescência, observa-se o brilho em padrão intercelular, eviden- ciando-se os depósitos de IgG e C3 (atuando contra as desmogleínas) em toda a epiderme (figura 6). ATENÇÃO! Através do citológico de Tzanck não é possível distinguir o pên- figo foliáceo do vulgar, já que as alte- rações observadas são as mesmas. A distinção só é feita com o exame histo- patológico com a microscopia de luz e, na maioria das vezes, com a imunoflu- orescência direta, uma vez que neles é possível observar a região da epiderme que está sendo acometida. Figura 5. Citológico de Tzanck: esfregaço corado com Hematoxilina/Shorr evidenciando células escamosas acantolíticas comnúcleo arredondado, aumentado de volume, com halo claro perinuclear (seta), compatível com pênfigo. Fonte: Brito, MMC. et al., 2009. 8DOENÇAS BOLHOSAS Figura 6. Imunofluorescência direta evidenciando depósitos intercelulares de IgG linear em toda a epiderme, sugestiva de pênfigo foliáceo. Fonte: Aoki, V. et al., 2010. SAIBA MAIS! A citologia de Tzanck tem entrado em desuso, porém tem grande importância no diagnóstico de algumas dermatoses, abrangendo desde virais, parasitárias e autoimunes até tumorais. Consiste na microscopia, com coloração histoquímica de Giemsa, do raspado da lesão. No caso do pênfigo foliáceo, visualiza-se queratinócitos soltos. Tratamento O tratamento do pênfigo foliáceo é rea- lizado com baixas doses de corticoide, sendo a Prednisona a melhor opção na dose de 1 mg/Kg/dia, via oral, até que as lesões cicatrizem e não surjam novas. Antes de iniciar o corticoide oral é fundamental que seja feita a profilaxia de estrongiloidíase com Ivermectina (200 mcg/Kg, via oral, em dose única) ou Albendazol (400 mg/dia, via oral, por 3 dias). SAIBA MAIS! Pelo fato de o Brasil ser uma área endêmica de estrongiloidíase, é necessária a sua profilaxia antes do uso de corticoide com dose equivalente a 20 mg/dia ou mais e com expectativa de uso de no mínimo 2 semanas. O ideal é que seja realizado o teste sorológico (ELISA) para Strongyloides (IgG). Se o teste for negativo não é necessário realizar a profilaxia. Entretanto, na maioria das vezes, o corticoide deve ser introduzido rapidamente e, por isso, é feita a profilaxia empírica, sem a realização de exames. Quando as lesões forem em regiões fotoexpostas ou tiverem fotossen- sibilidade, a Cloroquina poderá ser usada na dose 250 mg/dia, via oral, desde que seja solicitado previamen- te um exame oftalmológico, pelo risco de maculopatia. 9DOENÇAS BOLHOSAS PÊNFIGO FOLIÁCEO Prevalência maior entre moradores ou trabalhadores de zona rural, acometendo crianças e adultos jovens Forma endêmica no Brasil: “fogo selvagem” PÊNFIGO FOLIÁCEO Diagnóstico Fisiopatologia Epidemiologia Apresentação clínica Tratamento Clínica + Citologia de Tzanck + Histopatológico + Imunofluorescência direta Prednisona, 1 mg/Kg/dia, via oral Cloroquina, 250 mg/dia, quando lesões fotoexpostas ou fotossensíveis Ivermectina, 200 mcg/Kg em dose única Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e São Paulo, além de Tocantins, Paraná e Mato Grosso do Sul Indivíduos geneticamente suscetíveis Mimetismo molecular entre antígenos e desmogleína 1 Acantólise na camada granulosa Exposição ambiental: mercúrio, poeira de minerais, drogas com o radical sulfidrila, picada do Simulium nigrimanum Auto-anticorpos contra a desmogleína 1 Forma eritrodérmica X forma frustra Poupa mucosas Sinais de Nikolsky e de Asboe-Hansen Bolhas que se rompem facilmente, levando a erosões e a crostas, em áreas seborreicas (face, couro cabeludo, dorso e região esternal) com evolução craniocaudal 10DOENÇAS BOLHOSAS 3. PÊNFIGO VULGAR Epidemiologia O pênfigo vulgar é o pênfigo mais co- mum no mundo, correspondendo a cerca de 70% dos casos. Entretanto, ainda assim é uma doença rara com incidência mundial de 0,75 a 5 ca- sos por milhão de habitantes por ano. Acomete prioritariamente indivíduos com mais de 40 anos, mas não há distinção entre sexo e grupo étnico. Fisiopatologia A fisiopatologia do pênfigo vulgar é semelhante à do pênfigo foliáceo, po- rém, agora, além de atuarem contra a desmogleína 1, os auto-anticorpos atuam contra a desmogleína 3, que compõe os desmossomos que pre- dominam na região suprabasal, na camada espinhosa. Anatomopatológico A acantólise (separação dos querati- nócitos) é visualizada por microscopia um pouco mais abaixo do que ocorre no pênfigo foliáceo, na zona supraba- sal (figura 7). Dessa forma, enquanto a bolha do pênfigo foliáceo possui lo- calização intraepidérmica alta (na ca- mada granulosa), a bolha do pênfigo vulgar é intraepidérmica baixa (na ca- mada espinhosa). Figura 7. Anatomopatológico compatível com o pênfigo vulgar: desconexão dos queratinócitos da camada espinhosa (suprabasal). Fonte: Anatpat, UNICAMP. 11DOENÇAS BOLHOSAS Apresentação clínica As bolhas, assim como no pênfigo foliáceo, são flácidas e por isso, tam- bém se rompem facilmente. Porém, as mucosas são acometidas na maio- ria das vezes, sendo que a oral está envolvida em 90% dos casos. Este é um aspecto relevante para o diagnós- tico diferencial. Por serem mais profundas, as bo- lhas rotas se caracterizam por serem avermelhadas e brilhantes, conheci- do como aspecto de “bife sangrante” (figura 8). Já as lesões das mucosas se caracterizam por serem aftosas e muito dolorosas (figura 9), sendo que seu aparecimento pode ocorrer meses antes das lesões cutâneas. Figura 8. Lesões com aspecto avermelhado e brilhante (“bife sangrante”) características de pênfigo vulgar. Fonte: Habif, TP., 2012. Figura 9. Lesões aftosas em mucosa oral características de pênfigo vulgar. Fonte: Habif, TP., 2012. 12DOENÇAS BOLHOSAS Os sinais semiológicos de Nikolsky e de Asboe-Hansen também podem estar presentes quando o pênfigo vulgar está em atividade. Diagnóstico O diagnóstico do pênfigo vulgar é fei- to da mesma maneira que no pênfigo foliáceo: associação entre a clínica, o citológico de Tzanck e a biopsia (histo- patologia e imunofluorescência direta). No pênfigo vulgar, o citológico de Tzan- ck apresenta resultados semelhantes ao do pênfigo foliáceo. A diferença é que a acantólise, evidenciada no exame histopatológico, e o depósito intercelu- lar de IgG e C3, na imunofluorescência direta, ocorre nas camadas epidérmicas mais inferiores (suprabasal ou espinho- sa). Observe as figuras 7 e 10. Figura 10. Imunofluorescência direta evidenciando depósitos de C3 intercelulares, localizados predominante nas camadas inferiores da epiderme, indicando pênfigo vulgar. Fonte: Aoki, V. et al., 2010. ATENÇÃO! Alguns casos de pênfigo vulgar apresentam imunofluorescência direta seme- lhante à do pênfigo foliáceo, ou seja, com depósitos intercelulares de IgG e C3 em toda a epiderme. Dessa forma, nesses casos, a distinção só poderá ser feita por meio do exame histopatológico com microscopia de luz. Tratamento Para tratar o pênfigo vulgar preconi- za-se o uso de corticoides em doses maiores, como a Prednisona 2 mg/ Kg/dia, via oral, até estabilização e au- sência do surgimento de novas lesões. Quando o paciente apresenta dificul- dade de desmame do corticoide, se faz necessária a associação com al- gum imunossupressor, que pode ser: • Azatioprina: iniciar com 2 mg/Kg/ dia, via oral e progredir até 150 mg/dia, de acordo com resposta clínica. • Micofenolato de mofetila: iniciar com com 1g/dia e progredir até 2-3 g/dia, de acordo com resposta clínica. 13DOENÇAS BOLHOSAS PÊNFIGO VULGAR Pênfigo mais comum no mundo, correspondendo a 70% do total Doença rara: incidência mundial de 0,75 a 5 casos por milhão por ano PÊNFIGO VULGAR Diagnóstico Fisiopatologia Epidemiologia Apresentação clínica Tratamento Clínica + Citologia de Tzanck + Histopatológico + Imunofluorescência direta Prednisona, 2 mg/Kg/dia, via oral Imunossupressor (azatioprina ou micofenolato de mofetila) em caso de dificuldade de desmame Ivermectina, 200 mcg/Kg em dose única Acomete indivíduos com mais de 40 anos, sem distinção entre sexo e grupo étnico Indivíduos geneticamente suscetíveis Auto-anticorpos contra a desmogleína 1 e 3 Mimetismo molecular entre antígenos e desmogleínas 1 e 3 Acantólise na camada suprabasal (espinhosa) Acomete mucosas (90%) Lesões mucosas: aftosas e dolorosas Sinais de Nikolsky e de Asboe-Hansen Bolhas que se rompem facilmente, levando a erosões avermelhadas e brilhantes (aspecto de “bife sangrante”) 14DOENÇAS BOLHOSAS 4. PENFIGOIDE BOLHOSO Epidemiologia A doença bolhosa mais comum é o penfigoide bolhoso, mas, ainda assim é uma doença rara.Acomete quase que exclusivamente a população ido- sa, tendo maior prevalência entre os maiores de 60 anos. Apesar disso, não há preferência por sexo ou por grupo étnico. Fisiopatologia No penfigoide bolhoso, os auto-anti- corpos desenvolvidos pelo organismo atuam contra as proteínas do penfi- goide bolhoso, denominadas BP230 e BP180, presentes na membrana basal e responsáveis por manter a conexão entre a epiderme e a derme. \ SAIBA MAIS! Frequentemente levanta-se a suspeita de que os desencadeadores da resposta autoimune do penfigoide bolhoso sejam algumas drogas. Orienta-se que, neste caso, suspenda-se o uso da medicação, mesmo que não haja nenhuma comprovação científica de associação entre a droga e a doença. Anatomopatológico Com o acometimento destas prote- ínas, o que ocorre é o descolamen- to da membrana basal, sem haver acantólise, ou seja, a epiderme conti- nua íntegra (figura 11), mas a derme se separa da epiderme. Ademais, é possível visualizar eosinófilos dentro da bolha. Figura 11. Anatomopatológico compatível com o penfigoide bolhoso: descolamento entre a derme e a epiderme, com eosinófilos no interior da bolha. Fonte: Anatpat, UNICAMP. 15DOENÇAS BOLHOSAS Apresentação clínica Por serem mais profundas (subepi- dérmicas), as bolhas do penfigoide bolhoso são tensas, grandes e não se rompem tão facilmente (figura 12). Elas predominam nas áreas flexoras: antebraço, virilha, axilas e abdome in- ferior. Ademais, as mucosas também são acometidas em cerca de 30% dos casos. Figura 12. Bolhas grandes e tensas características do penfigoide bolhoso. Fonte: Habif, TP., 2012. Diagnóstico O diagnóstico é feito pela associa- ção entre as características clínicas e a biopsia (com anatomopatológico e imunofluorescência direta associa- dos). Na imunofluorescência, eviden- cia-se o depósito linear ou fibrilar, ao longo da zona de membrana basal, de C3 e de IgG (figura 13). IgA e IgM são raramente evidenciados. 16DOENÇAS BOLHOSAS Figura 13. Imunofluorescência direta evidenciando depósito de C3 linear na zona da membrana basal, compatível com penfigoide bolhoso. Fonte: Aoki, V. et al., 2010. Tratamento O penfigoide bolhoso, em geral, é tratado com corticoide sistêmico como a Prednisona (0,5 mg/Kg/dia, via oral, enquanto houverem lesões) ou corticoide tópico como o Clobe- tasol (creme ou pomada 0,05%, 2 aplicações por dia até controle do quadro). Quando os quadros são mais gra- ves, a dose de Prednisona deve ser de 1,0 mg/Kg/dia e deve ser asso- ciada a imunossupressores para o desmame do corticoide. Entre as opções estão: Dapsona (100 mg/ dia, via oral) ou Metotrexate (5 a 10 mg/semana, via oral). 17DOENÇAS BOLHOSAS PENFIGOIDE BOLHOSO Doença bolhosa mais comum mas, ainda assim é uma doença rara Acomete quase que exclusivamente a população idosa PENFIGOIDE BOLHOSO Diagnóstico Fisiopatologia Epidemiologia Apresentação clínica Tratamento Clínica + Histopatológico + Imunofluorescência direta Prednisona, 0,5 mg/Kg/dia, via oral Imunossupressor (Dapsona ou Metotrexate) em caso de dificuldade de desmame Clobetasol, creme 0,05%, 2 vezes/dia Sem distinção entre sexo e grupo étnico Auto-anticorpos contra as proteínas do penfigoide bolhoso (BP 230 e BP 180), que se encontram na junção dermo-epidérmica Separação entre a derme e a epiderme, com acúmulo de eosinófilos dentro da bolha Descolamento da membrana basal Bolhas grandes e tensas que não se rompem facilmente Distribuídas em superfícies flexoras (antebraço, axila, virilha e abdome inferior) Acomete mucosas (30%) 18DOENÇAS BOLHOSAS 5. DERMATITE HERPETIFORME Epidemiologia Caracteriza-se também por ser uma doença cutânea rara. No Norte da Eu- ropa, onde sua prevalência é maior, ela foi estimada entre 1 e 40 casos por cem mil habitantes. Acomete principalmente indivíduos quadrage- nários, sendo bastante raro em crian- ças. Comumente, os indivíduos aco- metidos por dermatite herpetiforme possuem a doença celíaca subclínica associada. Fisiopatologia A dermatite herpetiforme, além da as- sociação com a intolerância ao glúten, está relacionada também a um depó- sito de IgA na parte superior da der- me. Acredita-se que os anticorpos responsáveis pela doença celíaca (anti-gliadina, anti-endomísio e an- ti-transglutaminase) atuam também contra proteínas ainda desconheci- das da junção dermo-epidérmica. Anatomopatológico No anatomopatológico, assim como no penfigoide bolhoso, há a desco- nexão entre a derme e a epiderme. Entretanto, além de eosinófilos, há neutrófilos dentro da bolha, ou seja, microabscessos na papila dérmica (figura 14). Figura 14. Anatomopatológico compatível com a dermatite herpetiforme: descolamento entre a derme e a epiderme, com neutrófilos no interior da bolha.Fonte: Anatpat, UNICAMP. 19DOENÇAS BOLHOSAS Apresentação clínica As bolhas da dermatite herpetiforme se caracterizam por serem densas e associadas a vesículas agrupadas que surgem de uma base hiperemia- da, lembrando o aspecto da infec- ção por herpes simples (figura 15). Entretanto, comumente as bolhas e vesículas são substituídas por crostas acompanhadas de escoriações (fi- gura 16), já que as lesões são extre- mamente pruriginosas. Localizam-se principalmente em superfícies exten- soras ( joelhos, cotovelos e nádegas). Figura 15. Vesículas agrupadas em base hiperemiada (lesão semelhante à provocado pelo herpes simples). Fonte: Manuais MSD. Figura 16. Lesões crostosas e com escoriações, acometendo joelhos, sugestivas de dermatite herpetiforme. Fonte: Habif, TP., 2012. 20DOENÇAS BOLHOSAS Algo curioso é que quando há le- sões de pele, as manifestações gas- trointestinais da doença celíaca são mais brandas e justamente por isso, o diagnóstico da dermatite herpetifor- me ocorre anteriormente ao da doen- ça celíaca. Diagnóstico O diagnóstico da dermatite her- petiforme é feito associando-se as manifestações clínicas à biopsia (ana- tomopatológico e imunofluorescência direta) e à dosagem dos anticorpos da doença celíaca de classe IgA (anti- -gliadina, anti-endomísio e anti-trans- glutaminase). Na imunofluorescência, evidencia-se depósitos granulosos, fibrilares ou pontilhados de IgA na junção dermo-epidérmica, mais es- pecificamente nas papilas dérmicas (figura 17). Outras imunoglobulinas e C3 podem ser encontradas nas papi- las dérmicas, mas são raras. Figura 17. Imunofluorescência direta evidenciando depósito de IgA granuloso no topo das papilas dérmicas, compatí- vel com dermatite herpetiforme. Fonte: Aoki, V. et al., 2010. Tratamento O tratamento da dermatite herpe- tiforme consiste em uma dieta li- vre de glúten e no uso de Dapsona enquanto a dieta não é totalmente isenta de glúten, sendo iniciada na dose de 50 mg/dia e podendo chegar até 200 mg/dia, para obter o controle dos sintomas. ATENÇÃO! Mesmo em pacientes que conseguem controlar a doença sem a dieta livre de glúten, recomenda-se que ela seja feita. Isso ocorre porque, entre os relatos de linfoma do intestino delgado e linfoma não intestinal em pacientes com dermatite herpetiforme e doença celíaca, observou-se que todos tiveram a dermatite herpetiforme controlada sem a instituição da dieta livre de glúten ou foram submetidos a ela há menos de 5 anos. 21DOENÇAS BOLHOSAS DERMATITE HERPETIFORME Acomete principalmente indivíduos quadragenários, sendo raro em crianças Doença rara: no Norte da Europa, prevalência entre 1 e 40 casos por cem mil habitantes DERMATITE HERPETIFORME Diagnóstico Fisiopatologia Epidemiologia Apresentação clínica Tratamento Clínica + Dosagem de anticorpos + Histopatológico + Imunofluorescência direta Dieta livre de glúten Dapsona, 50-200 mg/dia, via oral, enquanto dieta não for livre de glúten Doença comumente associada à doença celíaca e ao depósito de IgA na membrana basal Separação entre a derme e a epiderme, com acúmulo de eosinófilos e neutrófilos nas papilas dérmicas Auto-anticorposda doença celíaca (anti-gliadina, anti- endomísio e anti-transglutaminase) atuam também contra proteínas ainda desconhecidas da junção dermo-epidérmica Bolhas densas, associadas a vesículas agrupadas que surgem de uma base hiperemiada e que são substituídas por crostas acompanhadas de escoriações Extremamente pruriginosas Acomete superfícies extensoras: joelhos, cotovelos e nádegas 22DOENÇAS BOLHOSAS DOENÇAS BOLHOSAS Anti-desmogleína 1 Anti-desmogleínas 1 e 3 Anti-BP180 / 230 Anti-endomisio / transgutaminase / gliadina «Fogo selvagem» Pênfigo foliáceo Mucosas (90%) «bife sangrante» Pênfigo vulgar Eosinófilos Penfigoide bolhoso Neutrófilos / Doença celíaca Dermatite herpetiforme BOLHA FLÁCIDA (INTRAEPI- DÉRMICA) BOLHA TENSA (SUBEPI- DÉRMICA) 23DOENÇAS BOLHOSAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bolognia, MD. Dermatologia. Elsevier, 3° edição, traduzida em 2015. Walter Belda Junior, Nilton di Chiacchio, Paulo Ricardo Criado. Tratado de Dermatologia. Atheneu, 2° edição, 2014. Azulay, RD, Azulay DR. Dermatologia, Guanabara Koogan, 5° edição, atualizada e revisada em 2011. Sampaio, SAP, Rivtti, EA. Dermatologia. Artes Médicas, 3° edição. 2007. Habif, TP. Dermatologia clínica: guia colorido para diagnóstico e tratamento. Tradução da 5ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. Bezerra, OMPA. et al. Pênfigo Foliáceo Endêmico (Fogo Selvagem) e sua associação com fatores ambientais e ocupacionais em Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil. Cad. Saúde Coletiva, 25(2): 225-232. Rio de Janeiro, 2017. Aoki, V. et al. Imunofluorescência direta e indireta. Artigo de Revisão. Anais Brasileiros de Dermatologia, 85(4): 490-500. São Paulo, 2010. Brito, MMC. et al. Citologia de Tzanck: redescobrindo uma antiga ferramenta diagnóstica. Anais Brasileiros de Dermatologia, 84(4): 431-433. Ribeirão Preto, 2009. Silva, DAR.; Bernardes, AG. Pênfigo: uma cartografia sobre as articulações das políticas em saúde. Ciência & Saúde Coletiva, 23(8), 2018. 24DOENÇAS BOLHOSAS
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