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Geovana Sanches, TXXIV DOENÇAS BOLHOSAS AUTOIMUNES BOLHA Características da bolha • Lesão maior do que 1 cm o Vesícula < 1 cm • Descrição da bolha o Conteúdo da bolha (seroso, hemático) o Flácida ou tensa o Localização Por que uma doença auto imune pode gerar uma bolha? • Reação auto imune contra a pele • Pode ser um problema em diversos níveis da camada da pele o Auto anticorpos agindo contra alguma camada da pele → bolha Apresentações As bolhas possuem diferentes apresentações nas lesões • Bolhas superficiais podem sumir muito rapidamente o Clivagem superficial → lesão erosiva ou exsudativa ESTRUTURA DA PELE • Adesão entre queratinócitos o Moléculas de adesão da família das caderinas, localizadas em duas junções intercelulares especializadas § Desmossomos § Junções intermediárias/ aderentes • Desmossomos o Cada desmossomo pode possui um autoanticorpo gerando uma doença bolhosa o Responsáveis pela adesão dos queratinócitos; se houver frouxidão, há acúmulo de fluidos gerando uma bolha DOENÇAS BOLHOSAS AUTOIMUNES • Grupo heterogêneo de desordem que afeta a pele e mucosas • Varia na apresentação clínica, histopatológica e imuno patológica o Diversos tratamentos • Frequentemente é um diagnóstico protelado o Isso pode resultar em consequências severas e até mesmo fatais Bolha Subepidérmica • Alteração na membrana basal o A membrana basal normal permite a ancoragem das células epiteliais no tecido conjuntivo, seleciona a dimensão e carga das células e também age no trânsito das moléculas o Problema na transição entre epiderme e derme e fluidos Bolha Intraepidérmica • Alteração no desmossomo (desmogleínas) Geovana Sanches, TXXIV Diagnóstico As técnicas mais importantes para a investigação de pacientes com doença imuno bolhosa são a histopatologia e a imunofluorescência direta. Técnicas de pesquisa como a microscopia imuno-bloqueamento e imunoeletrônica podem refinar o diagnóstico do paciente (usada mais para diferenciação). DOENÇAS VÉSICO BOLHOSAS INTRAEPIDÉRMICAS • Pênfigo vulgar • Pênfigo foliáceo clássico • Pênfigo foliáceo endêmico • Pênfigo vegetante • Pênfigo herpetiforme • Pênfigo por IgA • Pênfigo paraneoplásico • Pênfigo induzido por medicamentos Bolhas se formam dentro da epiderme no grupo pênfigo de doenças imuno-bolhosas. Os anticorpos nessas doenças reagem com as moléculas de adesão intercelular. Os imunoreagentes são depositados entre os queratinócitos, as pontes intercelulares desaparecem e os queratinócitos se separam uns dos outros → acantólise. Pênfigo • Derivado do grego, significa bolha • Foliáceo e vulgar o Distinguem-se pelo nível de clivagem dentro da epiderme o A formação de bolhas é mais superficial no pênfigo foliáceo e nos subtipos relacionados Pênfigo Vulgar • Afeta todas as raças e ambos os sexos • Doença de meia-idade, raramente afeta crianças • É responsável por cerca de 70% de todos os casos de pênfigo e pode ser a doença auto- imune mais comum em países orientais • Predisposição: ligada a fatores genéticos • Ocorre em pacientes com outros distúrbios caracterizados por distúrbios imunológicos • Timoma ou miastenia grave foram relatados em vários pacientes o Alguns têm todas as 3 doenças • Pênfigo tem sido relatado em pacientes com doenças linfoproliferativas, como os tumores de Castleman Aspectos clínicos • Quase todos os pacientes apresentam lesões na mucosa o 50 a 90% dos pacientes • Mais comumente os pacientes com lesões bucal ou palatina mal definida, de formato irregular, que demora para cicatrizar o Pode abrir o quadro com lesão mucosa • Superfícies mucosas que podem estar envolvidas o Conjuntiva o Vulva o Esôfago o Uretra o Colo uterino o Nasal o Faringe o Laringe • A maioria dos pacientes desenvolve lesão cutânea o O envolvimento raramente pode permanecer localizado o A doença tem predileção por § Couro cabeludo § Face § Axilas Geovana Sanches, TXXIV § Virilhas § Pontos de pressão → Bolhas • Bolhas flácidas cheias de líquido claro surgem na pele normal ou em base eritematosa • O conteúdo torna-se turvo ou os blisters se rompem, produzindo erosões dolorosas que se estendem nas bordas à medida que mais epiderme é perdida • Nesse estágio de bolha flácida, uma pressão firme e deslizante com o dedo separará a epiderme de aparência normal da derme, produzindo uma erosão o Sinal de Nikolsky → Mucosas • Bolhas flácidas, rompem e sangram facilmente - Sinal de Nikolsky • Serve para diferenciar se a bolha é flácida ou tensa • A realização de uma pressão na pele aparentemente normal, próxima à lesão, induz descolamento epidérmico (sinal de Nikolsky) que indica atividade da doença. Se sua superfície for pressionada no sentido vertical, a bolha se estende lateralmente (sinal de Nikolsky II ou sinal de Asboe- Hansen) Evolução • Cura ocorre sem cicatrizes, mas alterações pigmentares podem ocorrer o Bolha superficial • A gravidade e a história natural são variáveis, mas antes do tratamento com corticoides, a maioria dos pacientes com pênfigo vulgar iam a óbito • O tratamento com esteróides sistêmicos reduziu a mortalidade para entre 5 e 15%, mas alguns desses pacientes sucumbem às complicações da terapia • Morbidade e mortalidade estão relacionadas à extensão da doença; à dose máxima de prednisolona necessária para induzir a remissão e à presença de comorbidades • A atividade da doença geralmente diminui com o tempo e a maioria das recidivas ocorre nos primeiros 2 anos após o diagnóstico Diagnóstico • Teste de Tzanck (citológico) das células acantolíticas o Não é muito usado na prática • Histopatológico o Clivagem intraepitelial supra-basal com células acantolíticas • Imunofluorescência o Sempre pedir esse exame para diferenciar pênfigos o Detecta anticorpos circulantes IgG, com padrão intercelular dirigidos contra estruturas dos desmossomos o Tendem a ser mais altos quanto maior a atividade Tratamento → Corticoides • Prednisolona 1 a 1,5 mg/kg/ dia em combinação com esteróides tópicos ou intralesionais é suficiente para controlar a doença em muitos pacientes Geovana Sanches, TXXIV o É preciso imunossuprimir o paciente • Pacientes com doença generalizada podem necessitar de imunossupressão mais agressiva para suprimir a formação de bolhas, mas a maior dificuldade no manejo desses pacientes é alcançar um equilíbrio entre os riscos associados à terapia com altas doses de corticoides e aqueles de doença mal controlada • Poupadores de corticoides o Imunossupressores de primeira escolha § Azatioprina (2 mg/kg/dia) § Micofenolato de mofetila (35 a 45 mg/ kg/ dia) § Antimaláricos (cloroquina) → Terapia tópica • Pacientes que apresentam doença oral e envolvimento cutâneo leve podem permanecer nessa fase localizada por meses • Esteróides tópicos ou intralesionais potentes podem reduzir a necessidade de esteróides orais • É importante boa higiene bucal, incluindo o tratamento de doença periodontal → Grave refratário • Pulsoterapia o Metilprednisolona: 500 a 1000 mg/ dia por 5 dias o Ciclofosfamida na dose de 2 mg/ kg/ dia o Metotrexato pode ser usado o Casos refratários a altas doses de corticoterapia são imunoglobulina endovenosa e o imunobiológico o rituximab o Outra terapia adjuvante é a plasmaférese nesses casos de pênfigo vulgar grave Pênfigo Foliáceo e Variantes • A formação de bolhas nesse grupo de doenças autoimunes é alta, seja na camada granular ou logo abaixo do estrato córneo • É menos comum • Doença endêmica o Comum nas áreas rurais da América do Sul, particularmente em alguns estados do Brasil, onde também é conhecido sobre fogo selvagem • Provavelmenteé desencadeado por fator ambiental o Simulídeos o Percevejos o Barbeiro o Lutzomyia longipalpis o Antígenos ambientais desencadeantes Etiopatogenia • Age no desmossomo o Desmogleina tipo 1 • Fatores imunológicos o Presença de auto anticorpos IgG contra componentes do desmossomo o Obs: o desmossomo é composto por 2 partes § Core: composto por desmogleínas 1, 2, 3 e 4 e por desmocolinas 1, 2 e 3 § Placa Características clínicas • Acomete crianças e adultos jovens • Pico de incidência na segunda e terceira década de vida • Os pacientes apresentam bolhas flácidas que se rompem facilmente deixando erosões superficiais • Sinal de Nikolsky positivo • Início o Cabeça e pescoço o Aparência queimada o Sensação de queimação (sobretudo em áreas fotoexpostas) • A doença espalha-se lentamente e pode generalizar-se o Mucosa oral poupada • Alguns pacientes desenvolvem bolhas disseminadas com pirexia, artralgia e mal- estar • Pode ocorrer eritrodermia Manifestações clínicas 1. Forma frustra (localizada) • Predomínio de lesão nas áreas seborreicas o Face o Couro cabeludo o Tronco superior 2. Forma invasivo-bolhosa (generalizada) • Pode já iniciar de forma generalizada ou evolui de forma localizada para o acometimento de todo o corpo em semanas ou meses Geovana Sanches, TXXIV 3. Formas eritrodérmicas • Na fase de involução há hiperpigmentação residual • Menos grave do que o pênfigo vulgar • A maioria dos casos é idiopática, mas penicilina e outras drogas contendo grupos tiol (como captopril) foram implicadas • Início insidioso com lesões escamosas e dispersas • A formação de bolhas pode não ser óbvia pois a clivagem é superficial e as pequenas bolhas flácidas se rompem facilmente • Erosões são dolorosas Diagnóstico • Histopatológico o Biópsia da lesão, preferencialmente da bolha o Clivagem epitelial com células acantolíticas (malpighiana no pênfigo foliáceo e suprabasal no pênfigo vulgar) • Imunofluorescência o Direta: depósito de IgG e C3 ao longo de todo o epitélio (pele do próprio paciente) no pênfigo foliáceo e depósito na camada inferior do epitélio, especialmente C3 no pênfigo vulgar o Indireta: detecção de autoanticorpos IgG e C3 contra estrutura do desmossomo da pele sã, quando entra em contato com o soro do paciente em estudo Diagnóstico Diferencial • Dermatite seborreica • Impetigo • Sempre realizar imunofluorescência se suspeita de pênfigo Tratamento • Responde a doses menores de corticóide • Esteróides tópicos na doença localizada • A maioria responde a esteróides sistêmicos, mas as placas verrucosas podem ser resistentes à terapia • Agentes podem ser resistentes à terapia • Agentes imunossupressores, ouro e antimaláricos tem sido recomendados • Antes do advento dos corticosteróides 40 a 60% dos pacientes morriam • Formas superficiais o Prednisolona 20 a 40 mg/ kg/ dia • Azatioprina ou ciclofosfamida são adjuvantes eficazes para esteróides orais em casos graves • Hidroxicloroquina 200 mg duas vezes/dia também tem sido recomendada como terapia adjuvante • A imunoglobulina intravenosa tem sido relatada como eficaz em casos resistentes • Dapsona 100 a 300mg/dia pode ser eficaz como monoterapia ou administrada em combinação com esteróides orais • Imunoglobulina intravenosa de alta dose tem sido usada com sucesso em pênfigo foliáceo grave, resistente a outras terapias Geovana Sanches, TXXIV Evolução • O pênfigo foliáceo é geralmente considerado uma doença benigna que responde bem ao tratamento e pode remitir • Como no pênfigo vulgar, pode seguir curso crônico por anos e estar sujeito a repetidas recidivas • É comum que o paciente responda bem ao tratamento DOENÇAS VESÍCULO-BOLHOSAS SUBEPIDÉRMICAS • Penfigóide bolhoso • Penfigóide das membranas mucosas • Herpes gestacional • Dermatose por IgA linear • Dermatite herpetiforme • Epidermólise bolhosa adquirida • Lúpus eritematoso bolhoso • Atinge a placa hemidesmossomo e filamentos de ancoragem PENFIGÓIDE BOLHOSO • Erupção ocorre, de preferência, em pessoas idosas • Caracterizada por bolhas subepidérmicas, tensas, grandes, generalizadas, atingindo a pele e ocasionalmente a mucosa oral por mecanismo imunológico o Casos localizados (15%) • Embora relativamente raro, é a subepidérmica mais frequente, e o número de casos vem aumentando em função da maior longevidade da população • Acomete preferencialmente indivíduos após a 6ª década de vida, com pico acima dos 80 anos (idosos) • É indiferente quanto a sexo ou raça Etiologia • Desconhecida • Embora imunológica, resultante da ligação de autoanticorpos contra antígenos 1 e 2 (AP1 e AP2), componentes normais da membrana basal e da zona da membrana basal Clínica • A erupção pode iniciar-se por lesões eritematosas e/ ou urticariformes como bolhas generalizadas, tensas, grandes, às vezes hemorrágicas, em base eritematosa ou em pele normal, não agrupadas, com predileção pelas superfície de flexão • As mucosas (oral e nasal) podem ser atingidas em cerca de 30% dos casos, porém, geralmente não deixa cicatrizes • O estado geral do paciente pode estar comprometido • Alguns fármacos podem desencadear quadros clínicos e imunopatológicos idênticos (pacientes desse subgrupo tendem a ser mais jovens do que os de apresentação clássica) o D-penicilamina o Captopril o Furosemida o Espironolactona o Sulfassalazina o Penicilinas • Assim como os pênfigos, o penfigóide bolhoso pode ser desencadeado ou agravado pela radiação UV, radioterapia, PUVA, queimadura e enxertos cutâneos Geovana Sanches, TXXIV Evolução e prognóstico • Raramente leva a evolução fatal o Mesmo na era pré-corticóide • Debilitante/ alta morbidade • Geralmente gera infecções pelas lesões não tratadas o Infecção secundária • Recidivas são frequentes, mas depois de alguns episódios o processo extingue-se ao fim de poucos anos Tratamento • Prednisona o Doses dependem da gravidade do quadro o 40 a 80 mg/ dia • O esquema de retirada de corticóide não precisa ser tão lento quanto no caso do pênfigo • Cremes de corticoides ultra potentes estão indicados nas formas localizadas • Podem-se associar citotóxicos (azatioprina, ciclofosfamida) e, nesses casos a dose de prednisona pode ser menor • Micofenolato de mofetila, metotrexato e ciclosporina podem ser usados • Há casos que respondem bem à sulfapiridina e à dapsona • Imunoglobulina intravenosa e plasmaférese podem ser empregadas nos casos resistentes
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