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TEMAS 1 A 5 - FUND. E TÉCNICAS DE REPRODUÇÃO HUMANA

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Prévia do material em texto

Estrutura laboratorial 
e o biomédico na 
reprodução 
assistida
Prof. Caio Luis Vieira Werneck
Descrição
Laboratório de reprodução assistida: estrutura, legislação, mercado de
trabalho, habilitação e atribuição do biomédico.
Propósito
A compreensão do funcionamento de uma profissão com interação
multidisciplinar e a visão do propósito e das possibilidades na
reprodução assistida são importantes para estimular o lado crítico,
interativo e empático do aluno, potencializando o profissional.
Objetivos
Módulo 1
A clínica e a legislação em reprodução
humana assistida
Descrever a estrutura, a legislação e o mercado de trabalho em
reprodução assistida.
Módulo 2
O papel do biomédico na embriologia e na
reprodução assistida
Descrever a atuação do biomédico na reprodução assistida.
Você já teve a oportunidade de entrar em um laboratório de
reprodução assistida? Tem ideia de sua estrutura, áreas
necessárias, equipamentos utilizados ou profissionais envolvidos
na mágica de gerar uma vida fora do corpo humano? Sabe o que
deve e o que não deve ser praticado na área?
Muito além da tecnologia, da organização, dos protocolos e da
metodologia, a reprodução assistida é uma área em que o cuidado,
o carinho e o acolhimento ao casal são de suma importância.
Trabalhar com reprodução é intervir no momento mais íntimo de
um casal. Ninguém geraria seus filhos em um laboratório por
opção. Nossos pacientes só existem por uma necessidade da
saúde básica, portanto sempre será dever do profissional
biomédico atender com ética e respeito. Mas, acima disso, a
humanização faz toda a diferença. Empatia pelo casal, pelos
embriões e pelas células trabalhadas é essencial.
A partir de agora, vamos conhecer um pouco mais sobre a estrutura
laboratorial, as legislações e o importante papel do biomédico na
reprodução assistida. Vamos juntos?
Orientação sobre unidade de medida
Em nosso material, unidades de medida e números são escritos
juntos (ex.: 25km) por questões de tecnologia e didáticas. No
entanto, o Inmetro estabelece que deve existir um espaço entre o
número e a unidade (ex.: 25 km). Logo, os relatórios técnicos e
Introdução
1 - A clínica e a legislação em reprodução humana assistida
Ao �nal deste módulo, você será capaz de descrever a estrutura, a legislação e o mercado de
trabalho em reprodução assistida.
Estrutura de uma clínica de
reprodução assistida
Em uma clínica de reprodução assistida, temos um objetivo em comum
com o paciente: o projeto de uma família. Ao se trabalhar o conceito de
projeto de uma família, é automático embutir nos profissionais,
pacientes e estudantes que uma clínica não se preza a apenas “fazer
bebês”. Talvez, como objetivo final, sim, sempre teremos a concepção
de uma nova vida saudável, porém, dentro do conceito mais amplo do
planejamento familiar, os tratamentos de reprodução assistida (TRA)
desempenham função muito importante na preservação da fertilidade e
do potencial reprodutivo do indivíduo ou do casal.
demais materiais escritos por você devem seguir o padrão
internacional de separação dos números e das unidades.
Para tal objetivo ser cumprido com êxito, uma clínica possui uma equipe
multidisciplinar composta por: equipe de higiene, recepção,
administração, financeiro, marketing, psicologia, enfermagem,
farmacêuticos, médicos e embriologistas. A perfeita sincronia entre os
diversos setores que a compõem é indispensável para que o trabalho
possa fluir de forma eficiente.
Além de recepção, consultórios, leitos de recuperação, salas
administrativas, estoque, antecâmaras, lavatórios cirúrgicos e outras
estruturas de suporte, uma clínica necessita de um centro cirúrgico, de
uma criogenia e de um laboratório de fertilização in vitro. Tudo seguindo
as normativas da RDC nº 23, de 27 de maio de 2011.
Vamos agora conhecer pelo que cada um desses locais é responsável:
Centro cirúrgico
Para realizar a coleta dos óvulos, é necessário um centro cirúrgico. Ela é
feita por meio de uma microcirurgia, por via vaginal, na qual uma agulha
transfixa a parede da vagina até que atinja os ovários. É um
procedimento de ultrassom guiado em que é possível visualizarmos os
folículos ovarianos previamente estimulados e aspirar seu conteúdo,
provavelmente, com a captura de um óvulo por folículo. Apesar de
simples, é um procedimento que demanda sedação da paciente e
recuperação em leito aos cuidados de equipe de enfermagem.
O centro cirúrgico é necessariamente dotado de mesa cirúrgica
ginecológica, foco, carrinho de parada e materiais cirúrgicos em geral.
Como outros procedimentos podem acontecer no mesmo centro
cirúrgico, ele pode ser mais bem equipado com, por exemplo,
microscópio cirúrgico, muito utilizado para biópsia testicular masculina.
Lembrando que procedimentos cirúrgicos só podem ser realizados por
médicos especialistas.
Criogenia
A sala de criogenia é uma estrutura à parte do laboratório. Tanques de
nitrogênio não podem ser armazenados dentro do laboratório de
fertilização in vitro.
A criogenia necessita ser dotada de exaustão, próxima ao piso, uma vez
que o nitrogênio gasoso é mais denso que o ar ambiente.
Tanques de nitrogênio para criopreservação.
Quando falamos em criogenia e no contato do profissional da área com
o gás nitrogênio, é importante respondermos a uma pergunta:
O nitrogênio é um gás tóxico?
O nitrogênio não é um gás tóxico, estando presente em
aproximadamente 78% do ar que respiramos diariamente, porém o risco
de quebra de um tanque e de perda de grandes volumes de nitrogênio
líquido para o ambiente é potencialmente fatal. Isso ocorre pois, à
temperatura ambiente, o nitrogênio líquido se vaporiza para o estado
gasoso.
Qualquer elemento químico em estado gasoso ocupa um volume muito
superior ao ocupado em estado líquido. Com esse aumento de volume
— e de pressão, consequentemente —, boa parte do oxigênio do
ambiente pode ser expulsa. O profissional que estiver nessa sala pode
sofrer hipóxia, pela falta de oxigênio, mas nunca sofrerá intoxicação
pelo nitrogênio.
À temperatura ambiente, o nitrogênio líquido passa para o estado gasoso. Note na imagem a
“nuvem” branca.
Laboratório de fertilização in vitro
Esse é o local onde o profissional biomédico exerce a maior parte da
sua função. O laboratório é uma sala limpa, e isso indica que diversas
estruturas são necessárias, como barreiras de ar (air lock), sistema de
ventilação e exaustão próprio com séries de filtros (mantas biológicas,
filtros de poeira fina, filtros de carvão ativado e filtros absolutos),
paredes com revestimento epóxi e cantos arredondados e pisos sem
frestas.
Em relação aos equipamentos, os utilizados para a parte da andrologia
são: cabine de segurança biológica, centrífuga e microscópio óptico.
Esses são os básicos, mas equipamentos como incubadora, banho seco
e banho-maria podem ser utilizados, a depender da rotina laboratorial.
Os equipamentos mais utilizados para a parte da embriologia são:
cabine de fluxo laminar com aquecimento, estereoscópio (lupa),
microscópio invertido com micromanipulador acoplado e incubadora.
Esses são os básicos, mas equipamentos, como laser, incubadora
vertical e aquecedor de tubo podem ser utilizados, a depender da rotina
laboratorial.
Microscópio invertido com micromanipulador acoplado.
Saiba mais
Nas clínicas de reprodução assistida, temos ainda uma sala destinada
ao estoque de materiais e uma sala de acondicionamento, segregação e
descarte de materiais, chamada de expurgo.
Estrutura de uma clínica de
fertilização in vitro na prática
Neste vídeo, conheça os diferentes espaços da clínica de fertilização in
vitro, as atividades desenvolvidas em cada um, os padrões de segurança
necessários e as atribuições do biomédico naquele espaço.
Qualidade ambiental
Segundo a RDC vigente para laboratórios de reprodução assistida (RDC
nº 23, de 27 de maio de 2011), a qualidade ambiental deve ser
controlada pelo menos duas vezes ao ano. Esse controle consiste em
análises microbiológicaspara fungos e bactérias das áreas limpas,
análise da contagem de partículas presentes no ar ambiente do
laboratório, dos fluxos laminares e das cabines de segurança biológica,
limpeza dos ductos do ar-condicionado, medida do número de trocas do

volume do ar ambiental por hora e a vazão da exaustão do ar da
criogenia. A assepsia do laboratório é de suma importância para evitar
que microrganismos cresçam no meio de cultivo e inviabilizem o cultivo
embrionário.
Todas essas análises precisam ser documentadas em relatórios que
devem ser impressos e armazenados por período mínimo de um ano e
atualizados a cada seis meses para a inspeção anual da Anvisa
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária), sob pena de infração,
penalidade e, em casos mais graves, fechamento da clínica.
Importante sempre lembrar que, para alcançar a qualidade ambiental
máxima, diversas medidas e posturas podem ser adotadas, como: não
utilizar perfumes ou produtos que exalem cheiro quando se está no
laboratório; escovar corretamente as mãos antes de entrar no
laboratório; utilizar corretamente equipamentos de proteção individual
(EPIs), como máscara, touca, jaleco, luvas e propés em tempo integral e,
principalmente, durante o manuseio de amostras; e não aglomerar
dentro do laboratório (visitas não são bem-vindas).
A utilização de EPIs é essencial para a rotina do laboratório de reprodução assistida.
Saiba mais
Perfumes são produtos que liberam os compostos orgânicos voláteis
que são conhecidos por serem prejudiciais ao desenvolvimento
embrionário. Os filtros de ar dos laboratórios são equipados com
camadas de carvão ativado justamente para evitar a presença desses
compostos no ar laboratorial.
Ética na reprodução humana
assistida
A ética na reprodução humana assistida é um tema que deve ser
sempre debatido e conversado. Diversas possibilidades surgem ao
longo de um tratamento e, atualmente, poucas regulamentações
existem. Sendo assim, a moral e a ética do profissional ainda são
decisivas na hora de seguir com um trabalho pautado em boas práticas
médicas.
O processo de reprodução assistida é pautado pela confiança entre profissional e paciente
baseada em comportamento ético.
A seguir, levantamos alguns pontos éticos com os quais sempre nos
deparamos ao longo da jornada de embriologistas, mas é importante
ressaltar que não há defesa ou acusação aqui. Apenas trataremos do
cenário ético atual da reprodução assistida no Brasil.
Idade para tratamento
Atualmente, mulheres de até 50 anos podem utilizar as técnicas de
reprodução assistida sem nenhum entrave ético. Acima dos 50 anos,
é possível que mulheres utilizem as técnicas de reprodução assistida,
porém só com o aval do Conselho Regional de Medicina, que
certamente solicitará algumas avaliações psicológicas para essa
paciente. Por outro lado, homens de qualquer idade podem se
submeter aos tratamentos de reprodução assistida,
independentemente da sua idade.
Seleção de sexo do embrião
Sempre foi proibida a escolha de sexo do embrião no Brasil. Essa
seleção somente é possível quando há doenças hereditárias
relacionadas ao sexo, como a hemofilia, o daltonismo ou a distrofia
muscular.
Casais sorodiscordantes
É possível, atualmente, com as ferramentas que os tratamentos de
reprodução assistida proporcionam, fazer com que um casal soro
discordante tenha uma gestação sem risco de transmissão da doença
para o outro parceiro.
Casais homoafetivos
A reprodução assistida permite que casais homoafetivos tenham a
possibilidade de constituir famílias com o material genético de pelo
menos um dos dois pais. O que permite essa possibilidade é o fato de
que, atualmente, uma criança pode ser registrada com dois pais ou
duas mães, desde que comprovado junto ao cartório que o bebê é
fruto de um tratamento de reprodução assistida, com o laudo e a
declaração que a clínica fornece.
Reprodução post mortem
Um tema muito delicado e, ainda, sem jurisprudência definida. Fato é
que, se o material biológico do ente falecido foi congelado em vida e
todos os consentimentos expressos de sua parte estavam assinados,
a vontade explicitada em vida vai prevalecer. Se o ente falecido optou
pelo descarte da amostra em caso de morte, ela será descartada. Se
o ente falecido optou por deixar sob a responsabilidade de alguém,
esse alguém pode dar o destino que bem entender à amostra, seja
utilizá-la, seja descartá-la.
Doação de gametas e embriões
A doação, no Brasil, é permitida, desde que de forma anônima e sem
compensação financeira. Para a doação de gametas femininos, é
necessário apenas que a mulher tenha mais de 18 anos e menos de
35 anos. Para a doação de gametas masculinos, basta que o homem
tenha mais de 18 anos e qualidade seminal normal. Exames para o
rastreio de ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) e o exame de
cariótipo são obrigatórios. Ao casal ou paciente receptor — de
embriões ou gametas — são reportadas as características fenotípicas
do doador ou doadores, bem como o tipo sanguíneo e a idade.
Redução embrionária
Prática ilegal no Brasil. Em alguns países, objetivando a maior chance
de gestação durante a transferência embrionária, são transferidos
diversos embriões. Após o resultado da gestação, em um momento
em que a visualização do saco gestacional e o batimento cardíaco
fetal (BCF) estão em evidência, é permitida a retirada de alguns dos
embriões implantados para que o restante da gestação ocorra com
somente um ou dois embriões.
Útero de substituição
É permitido, desde que algum parentesco de primeiro ou segundo
grau seja comprovado. Na falta de parentesco de sangue, a legislação
permite, após parecer psicológico, que o parentesco afetivo seja
utilizado (relação de amizade, carinho e afeto). É proibido qualquer
tipo de compensação financeira pelo procedimento.
Pesquisa com embriões humanos
Para realizar pesquisas com embriões humanos, o pesquisador deve
sempre submeter seu trabalho ao CONEP (Comitê Nacional de Ética
em Pesquisa).
Embriões excedentes
Até maio de 2021, não havia regulamentação que limitasse o número
de embriões produzidos por meio das técnicas de reprodução
assistida. Tudo era permitido. Porém, a resolução do CFM nº 2.294, de
27 de maio de 2021, trouxe luz à essa questão: o número total de
embriões gerados em laboratório não pode ser maior que 8 (oito).
Caso sejam coletados mais de oito óvulos, o casal progenitor pode
decidir pelo congelamento ou descarte dos óvulos excedentes.
Descarte de embriões
Até maio de 2021, embriões criopreservados por período superior a
três anos podiam ser descartados se assim o casal progenitor
desejasse. Porém, após a resolução do CFM nº 2.294, de 27 de maio
de 2021, o descarte só pode ser efetuado, independentemente do
prazo, mediante autorização judicial.
Mercado de trabalho na área de
reprodução assistida
Atualmente, o Brasil é o país que mais realiza a fertilização in vitro,
inseminação artificial e transferência embrionária na América Latina.
Durante 25 anos, o Brasil foi responsável pelo nascimento de 83 mil
bebês provenientes dos tratamentos de reprodução assistida (SBRP,
2019).
Além disso, a busca pelas técnicas de reprodução assistida aumentou
em 18% nos últimos anos, principalmente entre as mulheres após 35
anos, fato relacionado com o destaque da mulher na sociedade e a
entrada delas no mercado de trabalho, adiando o sonho de engravidar. A
busca de maturidade, de estabilidade financeira, a escolha do parceiro
certo, entre outros motivos que levam as mulheres a terem cada vez
mais uma gravidez tardia podem vir acompanhados de uma baixa
reserva ovariana e da qualidade dos óvulos, aumentando a procura
pelos tratamentos de reprodução assistida (FERTILITY, 2019).
O crescente mercado abre portas para profissionais altamente
qualificados, especializados e atualizados. É importante relatar que as
técnicas de reprodução assistida são de alto custo, por conta de sua
tecnologia, sendo necessária uma mão deobra qualificada para oferecer
serviços de qualidade.
Como mencionado, a equipe em um laboratório de reprodução assistida
é multidisciplinar e, nos bastidores, destacam-se os profissionais que
trabalham nos laboratórios com manipulação dos gametas, embriões e
congelamento, pois eles apresentam importantes atribuições para o
sucesso do tratamento. Por exemplo, a manipulação errada de um
gameta ou a seleção de espermatozoides viáveis podem levar a
insucesso no tratamento.
Dentro desse contexto, destaca-se o profissional biomédico, que pela
formação profissional pode atuar e se especializar nessa área.
Mas como é o mercado de trabalho para os graduandos e graduados em
Biomedicina?
Os alunos que querem trabalhar na reprodução assistida
frequentemente recebem a informação de que “o mercado de trabalho
da reprodução assistida é muito fechado”.
Mas o que isso significa?
Resposta
A realidade é que há poucas vagas no mercado de reprodução assistida.
Podemos citar, por exemplo, que em todo o estado do Rio de Janeiro
existem apenas sete grandes clínicas de reprodução assistida. Esses
laboratórios possuem, em média, cinco embriologistas em atuação. Isso
dá uma média de 35 embriologistas em atividade em todo o estado.
Ao ver esses dados, você deve estar pensando que isso é muito pouco,
e é verdade. Mas isso não significa que não há vagas. A rotatividade
existe: pessoas se mudam, clínicas crescem e precisam de mais
embriologistas, enfim, o mercado não fica parado! Vagas surgem e bons
profissionais, com o perfil procurado, nunca ficam sem emprego. A
persistência é importante para abrir portas, mas é bom ter em mente o
real motivo pelo qual se deseja trabalhar na área. É importante entender
o que a profissão significa e, se isso tocar seu íntimo, dedique-se e siga
em busca da carreira.
Lembre-se, principalmente, de que a reprodução humana necessita de
pessoas humanas e empáticas. Lidar com o momento mais íntimo de
um casal não é fácil, pois todos gostariam que a reprodução ocorresse
de forma natural; e, no caso de um insucesso no tratamento, é exigido
do profissional um apelo emocional e empático muito grande.
Trabalhamos com as sementes da vida, carregamos os sonhos dos
casais em nossas mãos!
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo
que você acabou de estudar.
MÓDULO 1

Vem que eu te explico!
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
“Qualidade, qualidade, qualidade… nunca essa palavra foi tão
disseminada. Aliás, nos últimos tempos, tem havido uma reorganização
dos conceitos de qualidade porque na verdade a qualidade sempre foi
procurada pelos consumidores, exigida pelas autoridades e desejada
pelos produtores. No início da construção do que entendemos como
civilização, a qualidade estava presente na ausência de arestas das
rodas de charretes e nos procedimentos corretos de estocagem de
vinhos em barris de carvalho. O que ocorreu foi que, com a criação da
ISO em 1947 e com a modernização da indústria associada à
globalização, deu-se uma importância à qualidade de produtos e
serviços, que antes existia de forma desorganizada e regional.” (Texto
extraído de Procedimento Operacional Padrão, por Renato Lima Duarte)
O que precisa ser mensurado em um laboratório de reprodução
assistida para que a qualidade ambiental seja garantida?
A Concentração dos níveis de gás carbônico ambiental.
B Análises químicas para metais pesados.
C
Concentração dos níveis de nitrogênio presente no ar
das cabines de segurança biológica.
D Análises microbiológicas para fungos e bactérias.
E
Concentração de radioisótopos presentes no meio de
cultivo.
Parabéns! A alternativa D está correta.
As análises microbiológicas para fungos e bactérias nos informam que o trabalho tem sido feito da maneira
correta, sem contaminações. A assepsia do laboratório é de suma importância para evitar que microrganismos
cresçam no meio de cultivo e inviabilizem o cultivo embrionário.
Questão 2
A nova resolução do CFM nº 2.294, de 27 de maio de 2021, limitou a 8
(oito) o número máximo de embriões a serem produzidos dentro de
laboratório de reprodução assistida. Nessas condições, qual alternativa
a seguir seria plausível, ética e legal, caso a paciente coletasse o total
de nove óvulos:
A
Congelamento ou descarte dos óvulos excedentes
somente com autorização judicial.
B
Descarte de todos os óvulos e nova tentativa em
próximo ciclo de indução.
C
Fertilização de todos os óvulos e descarte dos
embriões excedentes a oito formados.
D
Congelamento ou descarte dos óvulos excedentes a
critério exclusivamente do casal.
E
Fertilização de todos os óvulos e descarte dos
embriões excedentes a nove formados com
autorização judicial.
2 - O papel do biomédico na embriologia e na reprodução
assistida
Ao �nal deste módulo, você será capaz de descrever a atuação do biomédico na reprodução
assistida.
Habilitação do biomédico na
reprodução assistida
Antes de começarmos a discorrer sobre o papel do biomédico, é
importante salientar o que esse profissional precisa fazer até estar, de
fato, regulamentado para atuar na área. Para atuar em laboratórios de
reprodução humana, o biomédico necessita estar habilitado para tal,
conforme Resolução nº 78, de 29 de abril de 2002. A resolução dispõe
que o biomédico poderá atuar desde que comprovada a realização de
estágio com duração igual ou superior a 500 (quinhentas) horas em
instituições oficiais ou particulares reconhecidas pelo órgão competente
do Ministério da Educação ou em laboratórios conveniados com
Parabéns! A alternativa D está correta.
Tanto o congelamento quanto o descarte de gametas femininos não passam por critérios éticos, uma vez que
são consideradas apenas células “normais” do nosso corpo. Biologicamente, a cada ciclo menstrual um óvulo
não fertilizado naturalmente é perdido e outras dezenas sofrem atresia para o desenvolvimento do folículo
dominante.

instituições de nível superior ou em cursos de especialização ou pós-
graduação reconhecidos pelo MEC.
Mesmo com essa informação em mente, buscar a habilitação correta
pode parecer um processo um tanto confuso. Isso porque a mesma
Resolução relata mais de 30 possibilidades de habilitação para o
profissional biomédico, e algumas delas podem gerar confusões, como
reprodução humana e análises clínicas ou mesmo fisiologia, fisiologia
geral e fisiologia humana.
Não há resposta correta. Atualmente, no Brasil, existem
profissionais com todas essas habilitações trabalhando dentro
de laboratórios de reprodução assistida. Além disso, não são
apenas biomédicos que atuam dentro desses laboratórios.
Temos casos de biólogos, enfermeiros, médicos, veterinários,
farmacêuticos e biotecnólogos exercendo a reprodução
assistida. Ou seja, não há apenas uma graduação ou habilitação
correta, mas sim algumas possibilidades plausíveis.
O importante é que, uma vez habilitado, o biomédico pode atuar
dentro da reprodução assistida. O ramo profissional a ser
seguido (embriologia ou andrologia) é uma questão de
adaptação, oportunidades, afinidade pela rotina e até mesmo de
habilidade manual.
Os embriologistas precisam de habilidade manual para, por exemplo, manipular ovócitos e
espermatozoides no microscópio invertido com manipulador.
Quanto às características necessárias para ser um bom profissional, é
sempre importante ressaltar o objetivo pelo qual trabalhamos: auxiliar
casais no sonho da maternidade/paternidade. Com isso em mente,
podemos avaliar que qualquer erro dentro do laboratório pode ser fatal e
levar um filho a ser gerado com gametas trocados ou em barriga errada.
Logo, a atenção, o compromisso, a responsabilidade e o foco são
características extremamente necessárias aos biomédicos que querem
Qual dessas habilitações seria a mais correta a ser
seguida? 
seguir nessa profissão. Habilidades manuais e práticas podem ser
moldadas a partir do treino, mas foco,compromisso, atenção e
responsabilidade são inerentes a qualquer profissional.
Além disso, a atenção às aulas de embriologia, o conhecimento do
desenvolvimento embrionário, a familiarização com termos técnicos
pertencentes à área da reprodução assistida, o desenvolvimento da
língua inglesa, a busca por cursos e a presença em congressos são
ótimos meios para que as portas comecem a se abrir.
Por último, a dedicação do profissional é sempre muito bem-vista. Na
reprodução, não há dias em que não abrimos o laboratório. O cultivo
embrionário dura seis dias e, sendo assim, se tivermos um paciente na
segunda-feira, o caso desse paciente só será finalizado, dentro do
laboratório, no domingo. Logo, todo dia é dia de trabalho. Lógico que
escalas e revezamentos são montados, mas, em relação a serviços, o
biomédico tem demanda todos os dias!
Atuação do biomédico na reprodução
assistida
Atuação do biomédico no laboratório de
andrologia
É no laboratório de andrologia que se trabalha com os gametas
masculinos, os espermatozoides. Antigamente, era comum considerar o
laboratório de andrologia como o primeiro passo do biomédico na sua
carreira dentro da reprodução assistida.
Nos últimos anos, porém, essa ideia tem se modificado e a profissão de
andrologista tem se fortalecido cada vez mais não como um estágio
inicial da carreira, mas como uma ramificação possível do profissional
biomédico dentro do laboratório de reprodução assistida.
Mas, voltando para a atuação do biomédico propriamente dita, ela está
presente em diversos momentos, conforme demonstramos a seguir:
Avaliação seminal (espermograma)
A avaliação seminal é a principal ferramenta para se avaliar o fator
masculino de infertilidade.
No espermograma é realizada a aferição dos parâmetros
macroscópicos, químicos e microscópicos da amostra seminal.
Vamos agora conhecer um pouco sobre o espermograma, mas fique
tranquilo, pois em outro momento será possível entender melhor as
análises, os parâmetros e os padrões de referência, além de
compreender as indicações e os principais achados desse exame.
A seguir estão listadas algumas das análises que o biomédico pode
realizar durante o espermograma:
Tempo de liquefação
O sêmen é um líquido que, ao ser ejaculado, apresenta-se
grumoso, com diversos pontos de coagulação (essa
coagulação se dá, principalmente, pela presença das
proteínas secretadas pelas vesículas seminais —
semenogelina, fibronectina e lactoferrina). É esperado que a
liquefação desses grumos aconteça de forma espontânea.
Cor
O sêmen deve se apresentar na cor branca opalescente.
Variações da cor ou da sua opacidade podem indicar
alterações. Por exemplo, a coloração amarelada pode indicar
presença de leucócitos, evidenciando possíveis processos
i fl tó i d él l it li i d
inflamatórios ou presença de células epiteliais, acusando
processos descamativos ou obstrutivos.
Volume
O volume seminal normal é superior a 1,5mL.
pH
O valor de pH normal do sêmen é igual ou superior a 7,2.
Concentração seminal
É um dos parâmetros mais utilizados na investigação da
infertilidade masculina. A concentração normal é superior a
15 milhões de espermatozoides por mililitro ejaculado.
Motilidade
Os espermatozoides são classificados, de acordo com sua
motilidade, em:
Móveis progressivos (apresentam deslocamento
rápido e direcional).
Móveis não progressivos (não apresentam
deslocamento significativo — “movimento in situ”).
Imóveis (não possuem movimento aparente algum).
Número total de espermatozoides
É a contagem global de espermatozoides da amostra.
M f l i
Esquema ilustrando algumas alterações que o biomédico pode achar no espermograma.
Performando testes seminais
À parte da avaliação seminal com o objetivo de rastreio e diagnóstico,
alguns testes seminais podem ser realizados com o intuito de se
entender melhor a funcionalidade dos espermatozoides presentes no
ejaculado. São eles:
O processamento seminal consiste exatamente em fazer o
processo de capacitação espermática no ambiente in vitro, ou
seja, no laboratório.
Morfologia
Avalia a morfologia dos espermatozoides. Essa avaliação é
feita a partir de lâminas de esfregaço seminal com
coloração específica para espermatozoides.
Celularidade
Algumas células não pertencentes à linhagem espermática
podem estar presentes no sêmen, porém sempre em
concentração inferior a 1 milhão por mililitro.
Processamento seminal 
Sobrevivência espermática 
É um teste em que os espermatozoides são deixados, após a
capacitação, em meio de cultivo por 24 horas. O normal é que
pelo menos 58% deles permaneçam com o batimento flagelar
evidenciado após esse período.
O teste da vitalidade é realizado por meio da penetração de
corantes nos espermatozoides. A vitalidade é um teste com
aplicabilidade específica — por exemplo, quando não se vê
motilidade nenhuma na amostra avaliada para verificar a
viabilidade dos espermatozoides.
Para amostras com astenozoospermia absoluta (existem
espermatozoides, porém eles não se movem), é possível tentar
realizar a ativação da motilidade espermática com o uso da
pentoxifilina, que é um composto que age de forma excitatória,
estimulando o batimento flagelar do espermatozoide.
Astenozoospermia absoluta
Defeitos na motilidade do espermatozoide.
Trata-se de um exame à parte. Serve para definir o percentual de
espermatozoides que possuem seu material genético livre de
fragmentações para o diagnóstico da infertilidade masculina. O
normal é que a amostra apresente pelo menos 70% dos
espermatozoides com material genético livre de fragmentações.
Os espermatozoides podem ser criopreservados para seu uso
posterior. A adição de crioprotetores à amostra seminal com o
Vitalidade 
Ativação 
Fragmentação do DNA espermático 
Congelamento seminal 
intuito de preservação da fertilidade é uma técnica bem
difundida e com resultados consistentes.
Em diversos momentos e por diversos motivos, a
criopreservação seminal mostra papel fundamental: quando
realizada antes de procedimentos esterilizantes; quando
realizada antes de oncotratamentos; para pacientes que
necessitam viajar ou trabalhar no dia do tratamento; para
preservar materiais de difícil obtenção, como os das biópsias
testiculares; e pelos mais variados motivos pessoais.
Criopreservados
Congelados a temperaturas muito baixas.
Por diversas razões, fisiológicas ou não, os espermatozoides
podem não estar presentes no ejaculado. Quando isso ocorre, é
possível buscar os espermatozoides por meio de microcirurgias
nos epidídimos ou nos testículos. A indicação do procedimento,
o local da captura e a técnica de obtenção ficam a critério do
médico urologista. Porém, quando o material entra no laboratório
para pesquisa de espermatozoides e análise, o trabalho de
encontrar raros espermatozoides no meio de todo tecido
cirúrgico é completamente do andrologista/embriologista.
Atuação do biomédico no laboratório de
embriologia
O embriologista é um profissional altamente treinado. O treinamento
completo pode durar de dois a cinco anos, em média. Técnicas mais
complexas e precisas compõem a rotina desse profissional.
Lidar com óvulos e embriões exige técnicas refinadas e atenção a todo
e qualquer momento. Conhecimentos na embriologia geral também são
de suma importância, não pela prática do dia a dia — que acaba sendo
uma rotina protocolar —, mas sim pelo fato de que, ao se entender a
fisiologia do desenvolvimento embrionário, melhores escolhas podem
Captura em material de biópsia testicular 
ser feitas, como o melhor estágio de evolução para se realizar uma
transferência, uma biópsia ou um congelamento embrionário.
Esse conhecimento e essas decisões podem elevar o grau de
individualização do desenvolvimento embrionário para cada paciente e
melhorar os resultados finais. É bom ter sempre em mente que, mesmo
que uma atitude ajude apenas um único casal de forma específica, isso
significa uma família a mais que realizou o sonho da
maternidade/paternidade.Comentário
Números e estatísticas não significam nada em reprodução humana. O
sonho de um único casal é motivo suficiente para lutarmos por um
resultado de sucesso sem medir esforços. Ajudar uma família a ser feliz
não tem preço!
Os trabalhos do laboratório de embriologia se iniciam sempre no dia
anterior. Ovócitos e embriões são os representantes mais frágeis e
delicados do laboratório.
Placas de cultivo, meios de cultivo e lavagem, enfim, tudo deve estar
sempre aquecido a 37°C e devidamente gaseificado com CO2 (dióxido
de carbono) para manutenção do pH do meio de cultivo. A regra é:
ovócitos e embriões devem estar sempre dentro das incubadoras. A
exceção é retirá-los de forma rápida e precisa para os procedimentos
estritamente necessários.
Mas quais seriam os procedimentos estritamente
necessários?
Antes de conhecê-los, é importante mencionar que aqui abordaremos de
forma rápida as atribuições do biomédico embriologista. Em outro
momento, você visitará as técnicas de maneira mais aprofundada.
Preparado? Vamos lá!
Punção folicular
Na punção, o médico irá inserir uma agulha via vaginal (e ultrassom
guiada) até atingir a parede dos ovários e penetrar em cada um dos
folículos ovarianos que foram previamente estimulados por
aproximadamente 10 dias. É um procedimento cirúrgico simples. Com
isso, é possível aspirar todo o conteúdo dos folículos e encaminhar esse
líquido folicular para o laboratório.
Ilustração do processo de punção folicular.
Ao chegar no laboratório, o líquido é disposto em placas e começa a
busca pelos óvulos — em meio a todo sangue, células e restos ovulares.
Isso exige técnica e percepção. Tudo dentro de um laboratório é
pensado para que os óvulos não sofram nessa transição do in vivo para
o in vitro. A temperatura das superfícies e do meio de cultivo, o tipo de
meio de cultivo utilizado, os gases presentes, o manuseio e a
esterilidade dos materiais, enfim, tudo objetiva a manutenção da melhor
qualidade e estabilidade ambiental possível.
Com o auxílio de um estereoscópio, os embriologistas começam a
buscar pelos óvulos. Nesse momento os óvulos estão acompanhados
de diversas células aderidas ao seu entorno — as células do cumulus
oophorus.
Com uma pipeta pasteur, cuidadosamente os separamos do líquido
folicular e os limpamos do líquido folicular residual, para depois guardá-
los em uma placa com meio de cultivo limpo, aquecido e estabilizado.
Após finalizar a coleta de todos os óvulos, eles são transferidos para a
incubadora.
Na incubadora, os controles são absolutos e instantâneos e servem para
mimetizar o ambiente in vivo, proporcionando temperatura,
osmolaridade, gases e pH adequados. É na incubadora que os óvulos e
embriões passam pelo cultivo in vitro.
Incubadora para cultivo embrionário.
Atenção!
Óvulos e embriões só saem da incubadora nos momentos necessários!
Não abrimos a incubadora só para ver como os óvulos ou embriões
estão. Tudo deve ser cronometrado e ocorrer sempre no tempo certo e
de acordo com a devida necessidade.
Denudação
Os óvulos são coletados com as células do cumulus oophorus aderidas
a eles. Para podermos trabalhar e enxergar os óvulos com clareza,
precisamos retirar essas células. A esse processo damos o nome de
denudação. Ele pode ocorrer em duas etapas: química e mecânica.
Denudação química
A etapa química é similar ao que ocorre in vivo. Na cabeça dos
espermatozoides encontramos a enzima hialuronidase. Na
denudação química, passamos os óvulos por essa mesma enzima
(porém sintética), que age retirando a maior parte das células do
cumulus oophorus. Após concluir essa etapa, as poucas células
aderidas restantes só podem ser retiradas com a denudação
mecânica.
Denudação mecânica
A etapa mecânica consiste em passar esses óvulos por um
filamento (micropipeta) extremamente fino. O calibre é de
aproximadamente 140 micrômetros (μm). E por que esse calibre?
Porque esse tamanho é bem próximo ao diâmetro dos óvulos.
Logo, os óvulos entram nesse capilar tão justos que as células ao
seu redor vão sendo retiradas de forma mecânica ao entrar em
atrito com a parede do capilar.
Micrômetros
Um micrômetro é igual a um décimo do milímetro e equivale, por
curiosidade, à espessura de um fio de cabelo.
Depois de realizadas essas duas etapas, visualizamos com toda a
clareza o óvulo. Após isso, finalmente, podemos avaliar sua maturidade.
Classi�cação ovocitária
Primeiro, devemos avaliar a morfologia ovocitária. Os óvulos são células
redondas e estão envoltos por uma fina membrana glicoproteica
chamada zona pelúcida. O espaço entre a membrana celular do óvulo e
a zona pelúcida é chamado de espaço perivitelíneo.
Os óvulos podem ser captados em três momentos distintos da sua
maturidade morfológica:
Vesícula germinativa (VG)
Denotada pela presença da vesícula germinativa (núcleo celular)
aparente. Em termos genéticos, o óvulo está na prófase I da
divisão meiótica. Para os tratamentos de reprodução assistida,

os óvulos VGs não têm aplicação. São extremamente imaturos e
não há como aproveitá-los no tratamento. Não há chance de
sucesso com eles e, por isso, são sempre descartados.
Metáfase I (MI)
Denotada pela ausência da vesícula germinativa e pela não
extrusão do corpúsculo polar. Em termos genéticos, os óvulos
estão na metáfase I da divisão meiótica. Os óvulos em MI têm
chance (reduzida) de sua fertilização ocorrer com sucesso — algo
em torno de 20% a 30%.
Metáfase II (MII)
Apresenta corpúsculo polar aparente. Em termos genéticos, o
óvulo está na metáfase II da divisão meiótica. Os óvulos em MII
são maduros e têm bom potencial de fertilizar e seguir adiante.
Eles fertilizam em taxas que variam em torno de 70% a 90%, a
depender do fator de infertilidade do casal — ou seja, o motivo de
o casal não estar conseguindo engravidar.
FIV (fertilização in vitro) convencional
Este é o método de fertilização in vitro mais próximo ao natural possível.
Nele, colocamos os espermatozoides em uma placa junto com os
óvulos e guardamos dentro da incubadora para que o encontro dos
gametas ocorra de forma espontânea.
Logo, assim como naturalmente ocorreria, os espermatozoides
necessitam nadar até os óvulos, fertilizando-os de forma natural e ativa,
porém, in vitro.
Ilustração de fertilização in vitro convencional.
ICSI (injeção intracitoplasmática de
espermatozoide)
Ilustração de fertilização com ICSI.
Este é o método de fertilização mais comentado e, no Brasil, também o
mais praticado.
À ICSI pertence a imagem clássica da reprodução assistida em que um
óvulo é segurado por uma micropipeta e um espermatozoide dentro de
uma microagulha é injetado dentro de seu ooplasma.
Veri�cação da fertilização
Ocorre quando observamos se o encontro do óvulo com o
espermatozoide (seja por FIV convencional ou por ICSI) aconteceu com
sucesso. Isso pode ser aferido com o decorrer de aproximadamente 20
horas do processo de fertilização. A ideia nesse ponto é verificar alguns
sinais que o agora chamado zigoto (nome que define embrião com
apenas uma célula) nos evidencia.
Zigoto humano com os dois pronúcleos isolados.
Os sinais mais marcantes são os chamados pronúcleos masculino e
feminino. São os primeiros núcleos visíveis que o zigoto apresenta, um
do pai e o outro da mãe.
Somado a outro sinal, a duplicação do corpúsculo polar denota que a
fertilização teve sucesso.
Cultivo celular
Depois de verificarmos a fertilização, os embriões que tiveram sucesso
começam seu desenvolvimento. Ao longo dos anos, embriologistas
estudaram a evolução adequada do embrião durante os dias iniciais que
seguem sua formação. Sabemos como o embrião deve estar em cada
um dos dias subsequentes à fertilização para podermos dizer sobre a
qualidade embrionária e as chances desse embrião de se tornar um
“bebê em casa”.
Processo de desenvolvimento embrionário nos primeiros dias.
Nesse momento, cada laboratório escolhe em seus protocolos quais
serão os dias de verificar e avaliar os embriões. Existemlaboratórios
que avaliam os embriões todos os dias. Existem laboratórios que só
avaliam caso seja necessário realizar algum procedimento, como, por
exemplo, transferências, congelamentos, trocas de meio etc. Não há
correto e incorreto aqui.
Transferência embrionária
Independentemente do dia escolhido para a transferência embrionária, é
nessa etapa que fazemos o encontro da progenitora com o futuro bebê.
Nesse momento o embrião deixa o ambiente in vitro e retorna ao
ambiente in vivo.
Biópsia embrionária
É por meio da biópsia que temos a possibilidade de realizar o teste
genético do embrião. As possibilidades de leitura dessa técnica vão
desde doenças hereditárias que podem acometer um único gene
específico até a leitura cromossomal embrionária completa em busca
de possíveis aneuploidias.
Saiba mais
A genética está de mãos dadas com a reprodução humana. A evolução
de uma auxiliou a evolução da outra em um ciclo sinérgico muito
positivo que se estabeleceu. Mesmo realizando a biópsia, não compete
ao biomédico embriologista realizar as análises genéticas (MEDICINA
S/A, 2021). Atualmente, cerca de 50% dos tratamentos em reprodução
assistida realizam a biópsia. Esse é um mercado em expansão que
necessita de mão de obra especializada, e o biomédico pode sim atuar
nessa área.
Vitri�cação
A técnica de criopreservação consiste em preservar por meio do frio
extremo (-196 graus Celsius — temperatura do nitrogênio em seu estado
líquido) o material biológico, conservando sua viabilidade.
Congelamento ovocitário
Em 2012, a criopreservação de óvulos deixou de ser considerada uma
técnica experimental, sendo realizada por meio de vitrificação. Desde
então, vem se difundindo e sendo requisitada mais e mais. A
preservação da fertilidade feminina é um dos temas mais amplos e
atualmente discutidos no âmbito da reprodução assistida, uma vez que
o relógio biológico das mulheres é muito rígido e curto.
Saiba mais
O consenso científico é de que a idade máxima para se preservar a
fertilidade feminina com bom potencial de resultado é 35 anos (frisando
que, quanto mais jovem for a mulher, maior será a qualidade e o número
dos óvulos criopreservados).
Congelamento embrionário
São muitos os fatores que culminam no congelamento embrionário:
excesso de embriões formados, impossibilidade de se transferir a
fresco, adiamento da maternidade/paternidade e diversos e variados
motivos pessoais. O congelamento embrionário é realizado por meio da
vitrificação e é uma técnica muito bem estabelecida e com resultados
muito consolidados. É seguro que seja realizado sem prejudicar a
viabilidade do embrião.
Aquecimento
Todas as células que foram vitrificadas (sejam óvulos ou embriões)
podem ser aquecidas para retomar seu metabolismo celular e suas
funções fisiológicas. A técnica de aquecimento envolve o movimento
contrário dos crioprotetores. Se na vitrificação o movimento era de
adição de agentes crioprotetores, no aquecimento o movimento é de
retirada desses agentes.

Taxas de indicadores de performance
Como estimar as taxas de sucesso da reprodução assistida? E quais
variáveis influenciam essas taxas de sucesso? Neste vídeo, o
especialista fala sobre os indicadores de performance que servem para
demonstrar as taxas de sucesso da reprodução assistida.
Atribuições e responsabilidades do
biomédico no laboratório de
reprodução assistida
O trabalho do biomédico dentro do laboratório de reprodução assistida
(como embriologista ou andrologista) é repleto de técnicas e trabalhos
em bancada no melhor estilo “mão na massa”. Mas o outro lado dessa
rotina é igualmente importante, e é aí que surge a pergunta:
Podemos atuar somente como embriologistas ou como
andrologistas?
Resposta
A resposta é sim e não. A rigor, sim, temos essas duas vertentes de
atuação, mas há casos em que biomédicos são contratados para
trabalhar com uma demanda específica — como levantamento de
dados, pesquisa, manutenção geral do laboratório ou outras demandas
laboratoriais quaisquer.
Esse trabalho além da bancada começa no preparo do laboratório. Esse
preparo inclui entender e efetuar as devidas medições das condições
ambientais e das microcondições do cultivo, sejam elas dos gametas ou
dos embriões.
Condições mensuráveis
Algumas condições mensuráveis são importantes para a qualidade
ambiental, como a temperatura ambiente, a umidade relativa do ar, a
temperatura das superfícies e o nível dos tanques de nitrogênio líquido.
A temperatura do laboratório de embriologia deve ser controlada a fim de evitar a proliferação de
microrganismos e proteger as amostras.
A temperatura ambiente de um laboratório não deve ser inferior a 23°C e
nem superior a 30°C. Essa margem garante tanto o conforto térmico de
quem trabalha quanto o menor índice de proliferação de
microrganismos como fungos e bactérias.
A umidade relativa do ar deve permanecer entre 30% e 70%. Mantê-la
acima da margem inferior garante a umidade relativa satisfatória para o
ar que respiramos, sem afetar a saúde do profissional, assim como
mantê-la abaixo da margem superior ajuda a prevenir a proliferação de
microrganismos como fungos e bactérias.
A temperatura das superfícies (incluem-se aqui aquecedores de tubos,
banho-maria, banho seco e afins) deve ser sempre verificada e mantida
no ideal de trabalho — geralmente, 37°C. Isso é importante para
minimizar oscilações que possam interferir no cultivo embrionário
quando, por alguma necessidade, o embrião tem que sair da incubadora
para ser manipulado. Considera-se essa importância, uma vez que
variações na temperatura podem gerar oscilações na capacidade de
dissolução dos gases no meio de cultivo e, com isso, gerar oscilações
de pH que podem ser fatais aos gametas e embriões.
O nível dos tanques de nitrogênio, utilizados para armazenar todo o
material criopreservado em uma clínica, deve ser sempre checado e
mantido acima dos níveis críticos com boa margem de segurança.
Um tanque de criogenia pode comportar, em média, mais de 200
amostras. Se, por falta de verificação, um tanque perder todo o seu
nitrogênio, todos esses gametas ou embriões serão perdidos. Isso é
inconcebível dentro da reprodução assistida!
As incubadoras podem ser consideradas, sem exagero, o coração do
laboratório, por causa de sua importância. A menor variação em suas
condições pode acabar com o cultivo embrionário e levar à falha os
casos que estiverem em cultivo. Tudo dentro da incubadora é
controlado e essas condições devem ser medidas e mantidas
diariamente.
Há condições mensuráveis que influenciam diretamente o
microambiente de cultivo interno das incubadoras, como temperatura,
concentração de gases (CO2, O2 e N2), umidade (presente ou ausente) e
pH.
Concentração de gases
Os gases de cultivo são de suma importância: o CO2 mantém o
pH ideal, o O2 em baixas concentrações (próximo a 5%) evita a
oxidação dos componentes do meio de cultivo, o N2 é o gás que,
ao ser injetado no microambiente da incubadora, consegue
expulsar o O2 para manter a hipóxia do cultivo embrionário.
Umidade
Quanto à umidade, ela é um fator relativo. Existem incubadoras
que trabalham de forma seca e existem incubadoras que
trabalham de forma úmida. O importante é que a incubadora seca
não pode nunca ter água, e a incubadora úmida não pode nunca
ter seu aporte hídrico findado. Caso contrário, as condições não
se manterão dentro do ideal.
pH
Quanto ao pH, o importante é aferi-lo sempre, pelo menos, ao se
trocar o lote do meio de cultivo com o qual se trabalha. Caso o pH
não esteja dentro do ideal, do fisiológico, tanto os gametas
quanto os embriões podem sofrer perdas das capacidades
fisiológicas, com o ambiente demasiadamente acidificado ou
alcalinizado.
Condições não mensuráveis
Outras condições ditas não mensuráveis são igualmente importantes,
como a manutenção e limpeza dos equipamentos, das superfícies, do
chão e das paredes e a troca do lixo. A limpeza dos equipamentos deve
ser feitade forma programada, e existem diferentes níveis para fazê-las.
Há processos de limpeza diários, mais simples, rápidos e focados em
pontos específicos. Assim como existem processos de limpeza
semanais ou mensais que demandam dedicação temporal importante,
por se aprofundarem mais nos equipamentos ou no ambiente e, muitas
vezes, exigir o desmonte de peças ou o arraste de equipamentos.
O mesmo ocorre com a manutenção dos aparelhos, que pode seguir um
esquema muito similar, com ajustes simples que podem ser feitos de
forma diária. Porém a manutenção feita por equipe especializada com a
devida calibração de ajuste dos equipamentos (e não mais só sua
calibração) deve ser realizada, no mínimo, anualmente.
Além disso, o mesmo pode ocorrer com os resíduos sólidos em saúde.
Os resíduos produzidos por procedimentos em laboratório de
reprodução assistida se enquadram, segundo a RDC nº 222, de 28 de
março de 2018, nos grupos:
No Grupo A, estão os resíduos infectantes e subgrupo A1,
devendo todo ele ser acondicionado em saco branco leitoso com
o símbolo de risco infectante. Esse resíduo deve ser retirado
diariamente e transportado em recipiente rígido, impermeável,
resistente à punctura, ruptura e vazamento, com tampa provida
de controle de fechamento e identificado para deposição final.
Grupo A 
O acondicionamento e o descarte dos resíduos do grupo A devem ser feitos em
recipiente com o símbolo de infectante.
No grupo B, enquadram-se os resíduos químicos. As substâncias
que apresentam peculiaridade devem ser segregadas em
embalagens individuais, sinalizadas por meio de símbolo e frase
de risco associados à periculosidade do resíduo químico, e
devem ser submetidas a tratamento antes da disposição final
ambientalmente adequada.
Acondicionamento dos resíduos do grupo B.
No grupo E estão os materiais perfurocortantes, que devem ser
descartados em recipientes identificados, rígidos, providos com
tampa e resistentes à punctura, ruptura e vazamento.
Grupo B 
Grupo E 
Caso dentro do laboratório seja feita a separação de resíduos
recicláveis (papel e plástico) — pertencentes, segundo a mesma
RDC, ao Grupo D —, não há necessidade de eles serem retirados
diariamente.
Os resíduos do grupo D, quando destinados à reciclagem, devem ter o símbolo
indicativo no seu local de acondicionamento.
Comentário
Não temos resíduos do grupo C, pois nesse tipo de laboratório não é
utilizado material radioativo.
Quais seriam as origens dos resíduos?
Os resíduos do subgrupo A1 são provenientes de restos de punções
foliculares, de amostras seminais, de meios de cultivo, enfim, de fluidos
orgânicos ou de qualquer material que entre em contato com eles e que,
por isso, acabam sendo tratados como produtos de risco infectante. Os
resíduos do grupo E são quaisquer materiais perfurocortantes utilizados
durante a rotina, como, por exemplo, agulhas. Os resíduos do grupo B
são os restos de cortantes empregados. Já os resíduos do grupo D
compreendem papel, plástico e outras texturas provenientes de
embalagens de produtos, caixas de materiais, frascos e as mais
variadas fontes.
Além desse trabalho de controle e, principalmente, da manutenção das
condições ambientais e microambientais, o trabalho do biomédico
passa por outras duas vertentes extremamente importantes: o contato
com o paciente e a elaboração e liberação de laudos.
Grupo D 
O contato com o paciente pode ocorrer em diversos momentos, a
depender da rotina de trabalho da clínica em que o biomédico se
encontra. Esse contato pode ser feito antes do início do tratamento para
esclarecer as dúvidas dos pacientes que não conseguem encontrar
informações acessíveis ao público leigo sobre o assunto; para informar
sobre a evolução laboratorial dos embriões; para informar sobre a
qualidade dos embriões a serem transferidos; para informar sobre o
resultado de um descongelamento ou de uma biópsia embrionária; ou
para qualquer outra coisa, quando a demanda existir.
Comentário
Por isso, a qualidade que um biomédico que trabalha com reprodução
humana mais deve exercitar é a empatia. A reprodução é o momento
mais íntimo de um casal, e entrar nesse meio requer muito cuidado,
muito acolhimento e muita empatia pela história de cada casal.
Já em relação à liberação de laudos, responsabilidade é a palavra de
ordem. Um laudo laboratorial, mesmo que simples, como o
espermograma, pode ter um impacto gigante na conduta que o médico
seguirá e no tratamento ao qual o casal terá que se submeter. E, ainda
falando de responsabilidade: um laudo de um tratamento ou de uma
análise genética equivocada pode influenciar a transferência ou o
descarte do embrião errado. Esse erro é inconcebível dentro da
reprodução assistida!
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo
que você acabou de estudar.
MÓDULO 2
Vem que eu te explico!

Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Qual das alternativas a seguir cita duas atividades competentes ao
profissional biomédico no exercício de sua função como andrologista ou
embriologista?
A Realização de exames de gravidez e análise seminal.
B Realização do cultivo embrionário e de hemogramas.
C Realização da curva glicêmica e de análise seminal.
D Realização de análise seminal e cultivo embrionário.
E Realização do cultivo embrionário e testes genéticos.
Parabéns! A alternativa D está correta.
A análise seminal é um papel clássico do biomédico exercendo a função de andrologista, e o cultivo
embrionário é a função clássica do biomédico exercendo a função de embriologista. Na reprodução assistida, o
biomédico não realiza exames de sangue, como curva glicêmica, hemograma e teste de gravidez, e não realiza
exames genéticos; apenas faz a coleta de material de biópsia para análise genética.
Questão 2
Diversas funções extras são atribuídas ao biomédico para que a
funcionalidade do laboratório seja garantida e para que, de forma geral,
o trabalho seja entregue com total qualidade. Qual das opções a seguir
Considerações �nais
Ao longo deste conteúdo, passamos por diversos pontos do
destaca as atividades necessárias para que essa qualidade no cultivo
embrionário seja atingida?
A
Aferição dos níveis de CO2 das incubadoras e
contagem de radioisótopos ambientais.
B
Aferição da umidade relativa do ar ambiental e
contagem de radioisótopos ambientais.
C
Verificação da temperatura das superfícies e aferição
da pressão atmosférica ambiental.
D Aferição do pH dos meios de cultivo e contagem de
radioisótopos ambientais.
E
Aferição do pH dos meios de cultivo e verificação das
temperaturas das superfícies.
Parabéns! A alternativa E está correta.
O pH e a temperatura são imprescindíveis para o cultivo embrionário. O pH ideal é próximo ao pH fisiológico do
nosso organismo (geralmente, 7.3). Já a temperatura ideal também é sempre a fisiológica, sendo 37°C a mais
próxima do ideal e estável. Níveis de umidade são essenciais para a manutenção da qualidade do ar para
trabalhar e para impedir o crescimento microbiano. A pressão atmosférica ambiental e a contagem de
radioisótopos ambientais não são condições mensuráveis em um laboratório de reprodução assistida.

funcionamento de um laboratório de reprodução assistida. Vimos sua
complexa estrutura e entendemos sua dinâmica. A conclusão final a que
chegamos é: os detalhes importam.
Talvez a característica mais importante do olhar do biomédico que atua
na área seja sempre esse foco nos detalhes. Eles importam no desfecho
de um caso (quando temos que olhar atentamente a qualidade do
cultivo embrionário, por exemplo), e esses detalhes podem ser simples
de se perceber. Uma simples avaliação de temperatura, de umidade, de
concentração de gases ou de pH pode nos mostrar algum detalhe que
está prejudicando o bom funcionamento do laboratório.
Porém, é importante não esquecer que o detalhe está presente e é
igualmente importante no fator humanoque acolhe o paciente. O
respeito ao paciente, a forma humana de tratar, o entender do porquê de
se fazer isso ou aquilo… embriologistas não são máquinas, são seres
humanos, e devem agir sempre como tal. A empatia com o paciente cria
um vínculo muito importante. Além disso, embriologistas são seres
pensantes, não apenas máquinas que pipetam e injetam, transferem e
congelam embriões.
Lembre-se sempre: o tratamento de reprodução ocorre quase que de
maneira virtual. O paciente precisa acreditar no que estamos realizando.
Por atuarmos em nível microscópico, ninguém consegue ter certeza do
nosso trabalho — exceto nós mesmos. Sendo assim, a ética está
sempre acima de tudo. Logo, o foco no detalhe do trabalho executado
garante que erros graves, como troca de amostras, nunca aconteçam.
Além disso, o laboratório é o coração de uma clínica e deve ser
respeitado como tal. A qualidade final do resultado de um tratamento
está intimamente relacionada com o bom funcionamento do laboratório.
Podcast
Antes de finalizarmos, o especialista Caio Werneck conversa com a
especialista Vanessa Amil sobre a carreira do biomédico na reprodução
assistida, falando sobre os prós, contras e desafios dos biomédicos
embriologistas.

Referências
ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. 12º Relatório do
Sistema Nacional de Produção de Embriões SisEmbrio. Consultado na
internet em: 17 nov. 2021.
CAETANO, J. P. J. et al. Medicina Reprodutiva – SBRH. São Paulo:
Segmento Farma, 2018.
DONAIDO, N. F. et al. Reprodução Assistida e Genética – SBRH. São
Paulo: Segmento Farma, 2021.
DUARTE, R. L. Procedimento Operacional Padrão: A Importância de se
Padronizar Tarefas nas BPLC. Consultado na internet em: 17 nov. 2021.
MATOS, F. Brasil lidera ranking da América Latina em reprodução
assistida, aponta levantamento. Sociedade Brasileira de Reprodução
Assistida. SBRA. 2019. Consultado na internet em: 17 nov. 2021.
MEDICINA S/A. Investimento em genética expande mercado de
reprodução assistida. Consultado na internet em: 17 nov. 2021.
MOORE, K. L.; PERSAUD, T. V. N.; TORCHIA, M. G. Embriologia Clínica.
11. ed. Guanabara Koogan. 2020.
NAZARI, S. et al. Maturation capacity, morphology and morphometric
assessment of human immature oocytes after vitrification and in-vitro
maturation. Iranian Journal of Reproductive Medicine, v. 9, n. 3, p. 209-
216, 2011.
Explore +
Para aprofundar seus conhecimentos sobre o conteúdo:
Leia o texto Lixo Laboratorial, de Caio Werneck e Maria Cecília
Cardoso, disponível no site da Sociedade Brasileira de Reprodução
Humana (SBRH), que fala mais sobre resíduos sólidos na
reprodução assistida.
Acesse o site da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana
(SBRH), na seção do Comitê de Embriologia, em que você encontra
diferentes materiais sobre a legislação e novidades em reprodução
humana assistida. Vale a pena visitar!
Acesse a Resolução do CFM nº 2.294, de 27 de maio de 2021, para
saber mais sobre as questões éticas da reprodução assistida.
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Introdução à Reprodução Humana Assistida
Profª. Ana Clara Coelho Esteves
Descrição
A história da Reprodução Humana Assistida (RHA) e as noções de
Gametogênese, anatomia e fisiologia dos sistemas reprodutores
feminino e masculino, assim como os principais conceitos e as técnicas
realizadas na Reprodução Assistida.
Propósito
Compreender o histórico da Reprodução Assistida e seus principais
conceitos, relembrando a anatomia e fisiologia dos sistemas
reprodutores feminino e masculino e os principais eventos da
reprodução humana, como base para a expansão do conhecimento no
universo da RHA.
Objetivos
Módulo 1
Histórico e técnicas de Reprodução
Assistida
Reconhecer a história e os principais conceitos de Reprodução
Assistida.
Módulo 2
A �siologia da reprodução humana
Descrever o sistema reprodutor feminino e masculino e a fisiologia da
reprodução.
A dificuldade em se ter um filho é uma condição que afeta não só
casais que não conseguem engravidar naturalmente, mas também
pacientes que têm sua fertilidade ameaçada - quando não
destruída - por tratamentos médicos (radio e quimioterapia),
mulheres que não possuem parceiro e desejam ser mães
independentes, e casais homoafetivos.
As técnicas de Reprodução Assistida surgiram com o objetivo de
contornar o impeditivo em questão e ajudar essas pessoas, dando
a elas uma possibilidade adicional de completar ou aumentar suas
famílias.
Cada vez mais individualizados, os tratamentos de Reprodução
Assistida objetivam ampliar a gama de pacientes a serem
atendidos, com a esperança de que as tecnologias auxiliares que
surgem e se aperfeiçoam continuamente possam prover as
ferramentas necessárias para problemas ainda sem solução, mas
que em um futuro próximo poderão ser resolvidos, trazendo alegria
a um número ainda maior de pessoas.
Para entender o papel das técnicas de Reprodução Assistida, é
necessário entender também o que acontece na forma natural e
fisiológica da reprodução, para saber os problemas que podem
surgir e como contorná-los. Assim, vamos seguir a evolução dos
conhecimentos iniciando como se segue a evolução de um
embrião. Prontos? Vamos lá!
AVISO: orientações sobre unidades de medida.
Introdução
Orientações sobre unidades de medida
Em nosso material, unidades de medida e números são escritos juntos
(ex.: 25km) por questões de tecnologia e didáticas. No entanto, o
Inmetro estabelece que deve existir um espaço entre o número e a
unidade (ex.: 25 km). Logo, os relatórios técnicos e demais materiais
escritos por você devem seguir o padrão internacional de separação dos
números e das unidades.
1 - Histórico e técnicas de Reprodução Assistida
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer a história e os
principais conceitos de Reprodução Assistida.
Introdução à Reprodução
Assistida
A Reprodução Assistida consiste no conjunto de técnicas de
manipulação laboratorial de gametas em alguma fase do processo, com
o objetivo de auxiliar na gestação, quando essa não pode ser alcançada
de forma natural, ou seja, quando o casal ou paciente apresenta algum
fator de infertilidade.
Gametas
São as células germinativas femininas e masculinas - oócitos e espermatozoides, respectivamente - resultantes do processo de
divisão meiótica que, juntas, dão origem ao embrião.
Mas o que é infertilidade?
A infertilidade é a impossibilidade de alcançar uma gestação após 12
meses de relações sexuais regulares e sem uso de contraceptivo. Esse
período pode variar de acordo, principalmente, com a idade da mulher,
que é o fator mais sensível ao tempo quando falamos em Reprodução
Assistida. A infertilidade pode ser:
Primária
Quando não se alcança nenhuma gravidez
Secundária
Quando não se consegue alcançar uma gravidez após uma primeira
concepção bem-sucedida.
Concepção
Pode ser entendida como sinônimo de gravidez, ou seja, a geração de um bebê.
Desse modo, as técnicas de Reprodução Humana Assistida (RHA)
podem ajudar casais com algum fator de infertilidade, mulheres que
desejam engravidar de forma independente (sem parceiro) e casais
homoafetivos, bem como oferecem a possibilidade de preservação de
fertilidade para pacientes oncológicos, por exemplo.
Técnicas de Reprodução
Assistida
As técnicas empregadas na Reprodução Assistida podem ser de baixa
ou alta complexidade, e permitem contornar os fatores (sociais,
anatômicos, endócrinos, indicações médicas, entre outros) que, de
algum modo, interferem no sucesso da gestação – seja ela de
planejamento imediato seja apenas de um desejo futuro.
As técnicas de baixa complexidade não requerem manipulação de
oócitos e pré-embriões em um laboratório e são, em geral, mais
acessíveis, como veremos a seguir:
Calendário indicando o período fértil.
Coito programado
O crescimento dos folículos ovarianos da paciente é acompanhado
por ultrassonografia e a relação sexual é programada para o período
ovulatório.
Esquema ilustrativo de umainseminação artificial, com catéter posicionado no interior do
útero.
Inseminação intrauterina
O sêmen passa por capacitação laboratorial e a amostra resultante é
inseminada no útero da mulher.
Já as técnicas de alta complexidade requerem que os oócitos sejam
manipulados e fertilizados em laboratório, para que possa haver a
transferência de um pré-embrião de volta ao útero posteriormente. Elas
se resumem em fertilização in vitro (FIV), que pode ser convencional ou
por injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI), brevemente
descritas a seguir:
FIV convencional
Simula o que ocorreria naturalmente na trompa uterina e consiste
em colocar oócitos em uma gota de meio de cultivo com
espermatozoides, que, por sua vez, vão fecundar os oócitos sem
maiores interferências.
FIV com ICSI
É mais invasiva, uma vez que os espermatozoides são
selecionados pelo embriologista sob visualização microscópica,
para depois serem injetados nos oócitos (um espermatozoide por
oócito) por meio da utilização de microagulhas.
Atenção
A fertilização in vitro é considerada um procedimento de alta
complexidade por exigir equipamentos mais especializados, além de
manipulação dos oócitos em laboratório, para sua realização.


Inseminação intrauterina X
FIV convencional X FIV com
ICSI
Neste vídeo, a biomédica Beatriz Campos, faz uma comparação entre a
inseminação intrauterina, FIV convencional e FIV com ICSI, abordando a
indicação e as diferenças metodológicas. Ah! fique tranquilo, alguns
termos empregados no vídeo vocês irão conhecer quando começarem a
explorar mais o mundo da reprodução humana assistida!
História da Reprodução
Assistida
É verdade que, quando pensamos em Reprodução Assistida, pensamos
em fertilização in vitro, no famoso “bebê de proveta”, exatamente por
este ter sido um procedimento de maior complexidade que trilhou um
longo caminho até permitir que diversos fatores de infertilidade fossem
driblados com a geração de um bebê em laboratório. Assim, é
principalmente em torno dele que gira a nossa história, mas vamos
caminhar pelos passos dados até o sucesso da técnica ser alcançado.
Curiosidade
Os primórdios do saber científico dentro da Reprodução Assistida
registram a primeira inseminação artificial canina em 1779, feita por um
italiano, e a primeira intrauterina em humanos, no final do século XVIII,
realizada por um médico inglês.
A inseminação perdeu espaço com o advento da fertilização in vitro,
mas hoje vem conquistando novamente seu lugar no tratamento de
casais inférteis. Desde quando a pesquisa animal ainda estava ajudando
a fundamentar a prática, os oócitos e pré-embriões eram recuperados
por meio de lavagem das trompas e cavidade uterinas - procedimento
realizado em alguns animais até o dias atuais.
Esquema 3D ilustrando o procedimento de aspiração folicular.
Entretanto, cientistas começaram a perceber, entre a década de 1960 e
início da 1970, que essa técnica impedia a recuperação dos oócitos nas
pacientes com trompas uterinas danificadas ou bloqueadas, fazendo-se
necessária uma forma de acesso direto para captação dos oócitos.
Assim, a laparoscopia se mostrou eficiente e se tornou a técnica de
escolha para coleta de oócitos maduros na época. Hoje, os oócitos são
coletados por aspiração folicular com acesso transvaginal e punção
ovariana.
Laparoscopia
É uma técnica de cirurgia minimamente invasiva. Normalmente, consiste em um ou dois pequenos cortes para inserção de uma
microcâmera que permite a visualização do interior da cavidade peritoneal e, desse modo, guia os procedimentos cirúrgicos
realizados naquele local.
Como não existiam cursos de aperfeiçoamento específicos para
laboratório, as técnicas eram adquiridas por aprendizagem na prática.
Os procedimentos laboratoriais eram realizados por profissionais com
experiência em embriologia experimental e biologia veterinária. Os
laboratórios de fertilização in vitro, que hoje possuem padrões de
filtragem de ar, temperatura e umidade ideais exigidos pelos órgãos
reguladores para seu funcionamento, no início, eram frequentemente
improvisados em salas de cirurgia pré-existentes, nas quais não era
incomum se deparar com profissionais fumando e se alimentando entre
os procedimentos.
A Reprodução Assistida teve contribuição de muitas áreas de atuação.
Os equipamentos hoje utilizados nos laboratórios foram baseados e
adaptados de antecedentes que outrora desempenhavam outras
funções.
Exemplo
O primeiro microscópio invertido foi desenvolvido em 1850 e o primeiro
micromanipulador para microcirurgias em células foi inventado em
1912, ambos nos Estados Unidos da América. As primeiras incubadoras
datam do Egito Antigo, quando eram usadas para chocar ovos; no
século XIX, foram substituídas por redomas aquecidas de vidro que, na
década de 1960, foram substituídas por incubadoras de dióxido de
carbono e, nos anos 1970, por incubadoras de jaqueta aquecida.
O primeiro laboratório especialmente dedicado e elaborado para a
realização de fertilização in vitro foi construído em Cambridgeshire, no
Reino Unido, em 1980, pelos pioneiros Robert Edwards e Patrick Steptoe,
diretor científico e médico, respectivamente, e Jean Purdy, enfermeira
que frequentemente tem seu papel omitido, mas com função primordial
no trabalho junto a Edwards e Steptoe, atuando principalmente no
controle de qualidade do laboratório.
O planejamento desse local veio depois de centenas de tentativas de
fertilização que resultaram em dois nascimentos de bebês vivos. Ao
mesmo tempo, várias outras clínicas eram construídas em outros locais
do mundo, como Austrália, Estados Unidos, Índia, Áustria, França,
Holanda, Suécia e Espanha. Em 1985, esse novo campo de atuação
emergente estava sendo referido como Tecnologia da Reprodução
Assistida.
Patrick Steptoe.
O nascimento de Louise Brown foi noticiado em diversos jornais, como mostra a imagem.
Ainda em um laboratório um tanto quanto improvisado, Patrick Steptoe
e Robert Edwards conseguiram sucesso na técnica de FIV e relataram o
nascimento do primeiro “bebê de proveta”. Louise Brown nasceu
saudável, de parto cesárea, em 25 de julho de 1978 – e é por isso que
comemoramos o dia do embriologista nessa data!
Naquela época, a possibilidade de sucesso de um tratamento de
Reprodução Assistida não passava de 5%, enquanto hoje podemos ver
taxas de implantação girando em torno de 50%. Isso certamente se deve
ao aprimoramento do ambiente em que todo o tratamento se passa.
Desde o nascimento desses primeiros bebês, equipamentos e técnicas
utilizados no laboratório de FIV sofreram drásticas evoluções. As
incubadoras, que antes eram basicamente redomas de vidro, hoje são
detalhadamente adaptadas ao cultivo embrionário, podendo inclusive
possuir câmeras em seu interior para monitorar o desenvolvimento dos
pré-embriões (incubadoras time-lapse). Os meios de cultivo passaram
de composições simples com soluções salinas e plasma sanguíneo a
complexos meios otimizados, de modo a oferecerem exatamente os
nutrientes que o pré-embrião precisa; os profissionais estão cada vez
mais especializados; as técnicas de biópsia e análise genética
embrionária são cada vez mais precisas e abrangentes, e assim por
diante.
Incubadora usada para gerar o primeiro bebê de proveta (modelo “redoma de vidro”).
No Brasil, celebramos em 07 de outubro de 1984 – apenas seis
anos após o primeiro bebê de proveta do mundo – o nascimento
de Anna Paula Caldeira, primeiro bebê brasileiro resultante de FIV
(e estima-se que tenha sido o 700º de todo o mundo), pelas
mãos do pioneiro Milton Nakamura.
Nilson Donadio, também pioneiro na área, reivindica que, meses
antes do nascimento de Anna Paula, ele próprio teria obtido o
nascimento de um bebê por meio de fertilização in vitro, mas foi
mantido em sigilo por questões éticas. Assim, a prioridade
histórica fica com Nakamura, por ter sido o responsável pela
divulgação midiática do evento.
O primeiro bebê de proveta noBrasil 
Foto de uma ICSI prestes a acontecer. A agulha maior segura o oócito e a menor injeta um único
espermatozoide em seu citoplasma.
Com o passar do tempo, foi sendo notado um obstáculo para o sucesso
da FIV convencional: o fator de infertilidade de origem masculina.
Assim, em 1992, foi desenvolvida pelo italiano Gianpiero Palermo a ICSI,
grande avanço posterior ao advento da fertilização in vitro. A técnica
consiste na injeção de um único espermatozoide no citoplasma de cada
oócito, possibilitando a paternidade biológica mesmo quando a
quantidade de espermatozoides disponíveis é pequena ou quando não
estão disponíveis no ejaculado – ou seja, nos casos em que são
recuperados cirurgicamente do testículo ou epidídimo.
A procura por tratamentos de reprodução assistida vem crescendo não
só no Brasil, mas também em todo o mundo. Na América Latina, o Brasil
lidera o ranking dos países que mais realizaram técnicas de Reprodução
Assistida, com 83 mil bebês brasileiros nascidos a partir dessas
técnicas em 25 anos. Apesar de a maioria das clínicas ser particular,
tratamentos gratuitos são oferecidos em algumas seletas instituições,
como o Hospital Pérola Byington, em São Paulo.
Saiba mais
Nesses locais onde os tratamentos são livres de custo, costumam ser
realizadas as técnicas de baixa complexidade, ou FIV com estimulação
mais branda, que resulta na formação de uma quantidade menor de
oócitos e, consequentemente, pré-embriões.
Conceitos importantes na
Reprodução Assistida
Para entrarmos no universo da Reprodução Humana Assistida mais
detalhadamente, faz-se necessário recordar alguns conceitos
relevantes.
Você certamente já ouviu falar nos tipos de divisão celular importantes
para a geração de células germinativas, formação de um novo indivíduo,
crescimento, renovação e diferenciação celular. Provavelmente também
lembra que uma dessas divisões é reducional – reduz o número de
cromossomos na célula – e a outra não. Vamos relembrar a diferença
entre elas e seus resultados?
Processo de mitose.
Mitose
É o processo de multiplicação celular em que uma célula-mãe
duplica seu conteúdo e depois divide-se, dando origem a duas
células-filhas com o mesmo conteúdo celular original. É por
meio desse processo que o zigoto se divide em duas células,
que continuam se multiplicando até formar o pré-embrião, o
embrião, o feto, o bebê e o indivíduo adulto.
O ser humano realiza mitose desde seu primeiro estágio celular
diploide até o momento de sua morte.
Processo de meiose.
Meiose
É o processo de divisão celular que resulta em células com a
metade do número de cromossomos da célula original (célula-
mãe), como é o caso da formação das células germinativas ou
gametas (oócitos e espermatozoides) dos organismos de
reprodução sexuada.
Assim, as células-mãe são diploides, enquanto as células
originadas do processo meiótico são haploides.
Vale lembrar que haploidia é a característica de células que possuem
apenas um conjunto de cromossomos, como os gametas humanos
(oócitos e espermatozoides). A designação mais comum para os
organismos haploides é “n”. A fusão de dois núcleos celulares com
conteúdo haploide (n) resulta em uma célula com núcleo diploide (2n),
ou seja, contendo dois conjuntos de cromossomos – como acontece na
união do espermatozoide (n) com o oócito (n), formando o zigoto (2n),
que dará origem ao pré-embrião, por meio da mitose.
Diploidia é a característica de células que possuem seus cromossomos
organizados em pares homólogos, chamados de cromossomos
homólogos, ou seja, são os cromossomos herdados do pai e da mãe
que compõem um mesmo par e possuem informações genéticas
correspondentes, bem como estrutura e tamanho semelhantes. Seres
humanos são organismos diploides.
Cromossomos
São estruturas compostas de cadeias de DNA (ácido desoxirribonucleico) que carregam a informação genética do indivíduo.
Podem ser somáticos (autossomos) ou sexuais.
Saiba mais
Células diploides, caso se unissem, formariam um indivíduo tetraploide
(com 4 conjuntos de cromossomos). Por essa razão, é necessária a
formação de células haploides (gametas) para a fertilização. O
resultado dessa união é o ser humano apresentando dois conjuntos de
23 cromossomos (23 pares) em suas células (exceto células
germinativas), sendo 22 pares de cromossomos somáticos (ou
autossomos) e 1 par de cromossomos sexuais.
Mas qual a diferença entre cromossomos somáticos e
cromossomos sexuais?
Chamamos de cromossomos somáticos aqueles que não são ligados
às características sexuais dos indivíduos. O ser humano possui 44 (22
pares) autossomos.
Já os cromossomos sexuais são aqueles que determinam as
características ligadas ao sexo do indivíduo. Nos seres humanos,
mulheres carregam duas cópias do cromossomo X, razão pela qual o
cariótipo feminino normal é descrito como 46,XX, significando 46
cromossomos no total, sendo os sexuais XX. Já os homens com
cariótipo normal são descritos como 46,XY, ou seja, além dos
autossomos, carregam uma cópia do cromossomo X e uma do
cromossomo Y, podendo passar qualquer uma das duas à sua prole. Por
essa razão, é dito que o homem é quem determina o sexo da criança,
uma vez que a contribuição materna só pode ser um cromossomo X.
Desse modo, se a criança herdar um cromossomo Y do pai, terá o
cariótipo masculino; se herdar o cromossomo X, esse se juntará ao
cromossomo X herdado da mãe e resultará em um cariótipo feminino.
Ilustração do cariótipo humano normal, evidenciando a diferença entre os cromossomos
sexuais.
Como nós sabemos, os gametas são as células germinativas
resultantes do processo de divisão meiótica (haploides) que, juntas, dão
origem ao pré-embrião (diploides).
Esquema ilustrativo das células germinativas e do produto de sua união, com respectivos
materiais genéticos.
E o que definimos como um embrião?
Existe uma divergência de opiniões quanto à adequabilidade do termo
“embrião”, de forma que alguns profissionais preferem utilizar o termo
“pré-embrião” para designar o produto da união dos gametas durante os
primeiros 14-16 dias de desenvolvimento, e “embrião" para o período que
se segue, até a oitava semana de gestação, quando o produto da
concepção passa, então, a ser chamado de “feto”. Sendo assim, no que
se refere à Reprodução Humana Assistida, estaríamos trabalhando com
pré-embriões em laboratório. No entanto, para fins didáticos, podem ser
encontrados ambos os termos “pré-embrião” e “embrião”. Mas daremos
aqui preferência ao termo “pré-embrião”.
Saiba mais
O período máximo de cultivo laboratorial é de 14 dias (como
estabelecido pela última Resolução nº 2.294/2021 do Conselho Federal
de Medicina), ainda que na prática terapêutica não seja visto o cultivo
posterior ao sétimo dia de desenvolvimento embrionário.
Para a formação do pré-embrião, é necessária a fecundação, que
acontece quando o espermatozoide consegue penetrar o oócito. Mas
antes de falar da fecundação propriamente dita, vamos relembrar o que
são os espermatozoides e os oócitos.
Espermatozoides
Apresenta três partes em sua estrutura: cabeça, peça
intermediária e cauda. A cabeça de um espermatozoide
morfologicamente normal apresenta aspecto oval e achatado, e
abriga o núcleo celular contendo as informações genéticas do pai
biológico (conjunto de cromossomos n); também ali está
presente uma estrutura conhecida como acrossomo, responsável
por abrigar as enzimas necessárias para que o espermatozoide
consiga fecundar o oócito. Na peça, estão localizadas as
mitocôndrias, que geram a energia necessária ao movimento dos
espermatozoides. A cauda, também chamada de flagelo, é
responsável pela movimentação espermática.
Estrutura do espermatozoide.
Oócitos
Carrega o conjunto de cromossomos (n) contendo as
características genéticas da mãe biológica. Seu citoplasma
(também chamado ooplasma) é cercado por uma camada
glicoproteica, chamada zona pelúcida, com um pequeno espaço
entre eles, chamado espaço perivitelínico, onde se

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