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1)INTRODUÇÃO -Atuam contra fungos, que são microrganismos de vida livre que se apresentam como leveduras (células isoladas, fungos esféricos), bolores (filamentosos multicelulares) ou dimórficos (ambas as formas, dependendo da temperatura). -A bioquímica dessa classe é composta basicamente pela parede celular (alvo farmacológico 1) com proteínas, beta-glicanos e quitina; membrana celular com dupla camada fosfolipídica, ergosterol (sua síntese é o alvo 2, permite abertura de compartimentos pela desorganização da membrana) e enzima beta-glicano sintetase; e mais interiormente ocorre a síntese do DNA (alvo 3) e RNA da célula fúngica. Obs.: deve-se ressaltar o cuidado na prescrição de antifúngicos, devido seu alto grau de interações medicamentosas, principalmente por induzir ou inibir facilmente as enzimas do citocromo P450. 2)AGENTES FARMACOLÓGICOS 1. Inibidor da síntese de ácido nucleico dos fungos -Representado pela FLUCITOSINA, possui ação fungistática mediante inibição da timidilato sintase que afeta a síntese de DNA e divisão celular. As membranas dos fungos possuem permeases específicas de citosina que captam esse fármaco. Deve ser usada em combinação com anfotericina B, pois tem rápido desenvolvimento de resistência sozinha, e dessa forma aumenta a captação do fármaco pelas céls fúngicas devido a lesão da MP causada pelo outro medicamento. Possui ação na candidíase, criptococose e cromomicose, sendo padrão ouro para meningite criptocócica em adultos HIV-positivos. Além disso, observa-se excelente penetração no sistema nervoso central (SNC), nos olhos e no trato urinário. Efeitos adversos mais vistos são: leucopenia e trombocitopenia, náuseas, vômitos, diarreia e disfunção hepática. Contraindicado o uso na gravidez. 2. Inibidor da mitose do fungo -Representado pela GRISEOFULVINA, capaz de inibir a função dos microtúbulos e assim interromper o fuso mitótico, parando a divisão celular. Se acumula nas células precursoras de queratina, ligando-se à substância e proporcionando uma resistência prolongada à invasão fúngica – os cabelos ou as unhas de crescimento recente são os primeiros a ficarem livres da doença. -Uso no tratamento de infecção fúngica de pele, cabelos, unhas por Trichophyton, Microsporum e Epidermophyton. Contudo, seu uso crônico pode resultar em aumento dos níveis fecais de protoporfirina e deve ser evitado na gravidez (relatos de anormalidades fetais). -Induz enzimas hepáticas do citocromo P450, o que pode aumentar o metabolismo da varfarina e reduzir potencialmente a eficácia dos contraceptivos orais com baixo teor de estrógeno. 3. Inibidores da via de síntese do ergosterol A. Inibidores da esqualeno epoxidase -Promovem acúmulo do metabólito tóxico do esqualeno nas células fúngicas, gerando sua ação fungicida. Representantes são mais efetivos que os agentes azólicos tópicos contra dermatófitos comuns, enumerados abaixo: Alilaminas: terbinafina e naftifina; Benzilamina: butenafina. -A principal é a TERBINAFINA, disponível na forma oral e tópica para uso na tinha do pé, crural e do corpo. Sua meia-vida é de 300h por causa do seu acumulo extenso na pele, unhas e gordura. A naftifina tem amplo espectro de atividade, encontrada apenas na forma tópica creme ou gel. B. Inibidores da 14α-esterol desmetilase (Azois ou Azólicos) -Divididos em dois grupos: Imidazólicos: cetoconazol*, clotrimazol, miconazol*, butoconazol e oxiconazol; Triazólicos: itraconazol*, fluconazol*, voriconazol*, terconazol e posaconazol*. *mais prescritos -Inibem a enzima do citocromo P450 microssomal dos fungos, levando ao acúmulo de um produto tóxico que para o crescimento. -A inibição hepática das enzimas P450 varia de acordo com o agente azólico, sendo + fungistáticos contra micro-organismos sensíveis. Espectro de ação variável: Atividade clinicamente útil: Cryptococcus neoformans, H. capsulatum, P. brasiliensis, dermatófitos e a maioria das espécies de Candida; Atividade intermediária: Fusarium spp., e Aspergillus; Espécies resistentes: espécies de Zygomycetes e Candida krusei. • Cetoconazol -Foi o 1º azol introduzido na prática clínica, muito usado e disponível em formulações orais e tópicas (geralmente usadas juntas). Inibe de modo potente as enzimas P450 hepáticas e apresenta ainda uma atividade anti-inflamatória semelhante à da hidrocortisona. -Amplo espectro de ação: combate C. neoformans, espécies de Candida, H. capsulatum, e uma variedade de dermatófitos. Penetra pouco no LCR e na urina, limitando sua eficácia em infecções do SNC e do trato urinário. -Absorção gastrintestinal do cetoconazol oral depende da conversão do fármaco em sal no ambiente ácido do estômago. Cerca de 20% dos pacientes apresentam náuseas, vômitos ou anorexia e em 1 a 2%, disfunção hepática (efeitos adversos). • Miconazol (Vodol) -Inibi 14α-esterol desmetilase, afeta a síntese de ácidos graxos e inibe enzimas oxidativa e peroxidase dos fungos. Disponíveis para aplicação cutânea e vaginal, logo, são muito usados para tratamento da candidíase vulvovaginal e pé de atleta. • Itraconazol -Disponível em formulações oral e intravenosa, possui amplo espectro de ação (capaz de substituir o cetoconazol) contra aspergilose invasiva, blastomicose e histoplasmose. -É oxidado no fígado ao metabólito ativo hidroxi- itraconazol, e esse inibe a 14α-esterol desmetilase fúngica – atinge níveis elevados nas meninges. -Efeito adverso principal é a hepatoxicidade, conta com náuseas, vômitos, dor abdominal, diarreia, hipopotassemia, edema de pés e queda de cabelos. • Pasaconazol -É derivado triazólico do itraconazol com ação fungistática, é prescrito para a profilaxia e o tratamento de infecções invasivas por fungos. É ativo contra isolados resistentes a múltiplos agentes (MDR) de Candida, Aspergillus e Zygomycetes, contudo, é mais encontrado em ambiente hospitalar. -Interações medicamentosas com: cimetidina, rifabutina e fenitoína. Efeitos adversos: náuseas, vômitos, diarreia, erupção cutânea, hipopotassemia, trombocitopenia e alterações das provas de função hepática. • Fluconazol -Disponível em formulações oral (biodisponibilidade de quase 100%) e intravenosa com ação contra fungos leveduriformes, sendo um inibidor CYP3A4 e da CYP2C9 que metabolizam fármacos e, por isso, pode gerar interações farmacológicas. Sofre difusão livre no LCR, no escarro e na saliva, excretado primariamente pelos rins. É o fármaco de escolha para tratamento de candidíase sistêmica e meningite criptocócica, não sendo efetivo contra aspergilose ou outros fungos filamentosos. Além disso, é muito usado contra candidíase vaginal. -Resistência fúngica ocorre em espécies de Candida (C. glabrata) pela mutação das enzimas P450 fúngicas e hiperexpressão de proteínas transportadoras de efluxo de múltiplos fármacos. -Efeitos adversos: náuseas, vômitos, dor abdominal e diarreia; há relatos de alopecia reversível com terapia oral prolongada. • Voriconazol -Disponível em formas para uso oral e parenteral, inibe as enzimas P450 hepáticas em grau significativo, logo, é contraindicado coadministração com ritonavir, rifampicina e rifabutina. -Fármaco de escolha no tratamento da aspergilose invasiva e de outros fungos filamentosos. Formulação intravenosa tem presença do excipiente ciclodextrina que auxilia na eficácia do fármaco, mas causa toxicidade ao SNC. Podem ocorrer sintomas visuais incomuns no uso (fotofobia e luzes coloridas) com duração de 30 a 60 min. 4. Inibidores da estabilidade da membrana dos fungos -São conhecidos como polienos, agentes antifúngicos macrolídios poliênicos. -Tanto efeito terapêutico quanto sua toxicidade estão relacionados com a afinidade pelos esteróis das membranas plasmáticas, sendo que no caso da anfotericina B, a afinidade é muito maior pelo ergosterol do que por colesterol. • Anfotericina B -Caracterizada porser muito lipofílica, formando agregados que sequestram o ergosterol e causa a morte das células fúngicas. -Altamente insolúvel, apresentada na forma de suspensão coloidal de desoxicolato tamponada que é a única adequada para via intravenosa, no intuito de desviar da insolubilidade. -Mais de 90% do fármaco liga-se rapidamente a sítios teciduais, enquanto o restante liga-se às proteínas plasmáticas. A penetração de anfotericina B no LCR é extremamente baixa (2 a 4%), mas torna-se um co- padrão ouro na meningite pois na inflação há desorganização e aumenta os espaços na barreira hematoencefálica, facilitando a passagem do fármaco. -Toxicidade limita seu uso clínico, dividida em grupos: Reações sistêmicas imediatas: devido a liberação de TNF-α e IL-1 por céls imunes provocando febre, calafrios, tremores musculares e hipotensão. Efeitos hematológicos: anemia provavelmente secundária à produção diminuída de eritropoetina (relacionado com efeito renal). Efeitos renais: são os principais e mais graves sinais de toxicidade, pode estar relacionada com vasoconstrição de arteríolas aferentes, resultando em isquemia renal. Deve-se fazer a suspensão quando o nível sérico de creatinina for >3 mg/dℓ. -Outros efeitos adversos: acidose tubular renal, cilindrúria e hipopotassemia a ponto de exigir reposição eletrolítica. -Como tentativa de reduzir a nefrotoxicidade, foram produzidas as ¨formulações lipídicas de anfotericina B¨, que consiste em acondicionar a substância em lipossomos ou outros carreadores lipídicos com o objetivo de impedir exposição significativa do túbulo proximal a ela. São elas: Amphotec®, Abelcet®e AmBisome® – aprovadas pela FDA. -Amplo espectro de ação: Candida spp., Cryptococcus neoformans, Mucormicose (Mucurales), Aspergillus spp. e Histoplasmas capsulatum. É usada como regime de indução inicial para reduzir rapidamente a carga fúngica para, em seguida, ser substituída por um dos agentes azóis mais modernos, por causa dos seus efeitos adversos. -Essa terapia de indução é muito importante em: pacientes imunossuprimidos ou com pneumonia fúngica grave, meningite criptocócica grave ou infecções disseminadas de uma das micoses endêmicas. • Nistatina -Tóxica para administração parenteral, sendo empregada somente para fins tópicos mediante cremes, pomadas, supositórios e outras formas para aplicação na pele e nas mucosas. -Ativa contra a maior parte das espécies de Candida, bastante utilizada para supressão das infecções locais, como candidíase vaginal e infecções intertriginosas. -Não sofre absorção sistêmica. 5. Inibidores da síntese da parede celular dos fungos -Conhecidos como equinocandinas, tem função de inibir o complexo glicano-sintase, que produz os betaglicanos da parede celular. A quebra da integridade resulta em estresse osmótico, lise da célula fúngica e, por fim, morte do fungo. Logo, são lipopeptídios semissintéticos derivados de produtos naturais, apresentam atividade antifúngica in vitro e in vivo contra espécies de Candida (fungicida) e Aspergillus (fungistática). Disponíveis apenas em forma parenteral, com insuficiente biodisponibilidade para uso oral. • Caspofungina -Utilizado como terapia primária para candidíase esofágica e candidemia, terapia de recuperação para infecções causadas por Aspergillus e terapia empírica para neutropenia febril. • Micafungina -Aprovada para tratamento da candidíase esofágica, profilaxia antifúngica em receptores de transplante de células-tronco hematopoéticas e é efetiva contra candidemia e aspergilose pulmonar. *Também representado pela anidulafungina. 6. Outros antifúngicos • Ciclopirox olamina Está disponível na forma de creme a 0,77%, gel, suspensão, loção e esmalte de unha (8%) – no tratamento de onicomicose. Apresenta uma atividade de amplo espectro: Fungicida: Candida sp., Trichophyton sp., Microsporum sp. e Epidermophyton sp. Fungistático: Malassezia furfur. -MA: parece quelar cátions metálicos trivalentes e, dessa forma, inibir as enzimas dependentes de metais necessárias para a degradação de peróxidos no interior da célula fúngica.
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