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1 2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................. 3 1 A FAMÍLIA E AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS ....................................... 4 1.1 Família e sociedade ............................................................................. 6 1.2 Sistema e subsistemas familiares ........................................................ 8 2 O DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO DA CRIANÇA NO CONTEXTO DA FAMÍLIA. ............................................................................................................. 12 3 A FAMÍLIA E AS ORIGENS DO SINTOMA .............................................. 14 4 O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO NO SISTEMA FAMILIAR ............... 17 5 ADOLESCÊNCIA E FAMÍLIA .................................................................... 20 6 DESENVOLVIMENTO INFANTIL E O DIVÓRCIO ................................... 25 7 PARENTALIDADE X CONJUGALIDADE: OS DESAFIOS DE COMPARTILHAR A CONVIVÊNCIA COM OS FILHOS APÓS O DIVÓRCIO .......... 27 7.1 Do casal conjugal ao casal parental ................................................... 28 7.2 A dissolução do casal conjugal: como permanecer um casal parental? 29 7.3 A importância familiar para a reestruturação da criança após a separação 31 8 ESTRATÉGIAS DE ATENDIMENTO FAMILIAR ...................................... 34 8.1 Entrevista Circular .............................................................................. 35 8.2 Entrevista Familiar .............................................................................. 35 8.3 Avaliação da Rede de Apoio .............................................................. 38 9 TERAPIA FAMILIAR E DE CASAL ........................................................... 39 9.1 Indicações da Terapia Familiar .......................................................... 41 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 42 3 INTRODUÇÃO Prezado aluno, O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 1 A FAMÍLIA E AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS Fonte: pleno.news A constituição familiar surgiu como uma das primeiras constituições sociais existentes. Ela pode ser compreendida como as relações estabelecidas entre seus membros, as mudanças ocorridas ao longo do tempo, e também as interações que ocorrem entre o seu dinamismo interno e a realidade exterior que a envolve. Portanto, as formas de representações sociais são elaboradas pelos membros sobre tal realidade, instaladas em cada classe social, que nelas constituem a perspectiva central desta tarefa. (ARAUJO, 2003) É importante lembrar que a homogeneidade ao longo das gerações, é limitada. Podemos dizer que em relação as sociedades, cada uma delas estabelecem maneiras diferentes de pensar e de estruturar suas representações, impedindo desta forma a universalização das mesmas, o que levaria à perda do social. A representação coletiva se transforma em representação social, cada uma com diferentes formas de emergir de acordo com seu grupo social. Além disso, a troca de sentimentos e ideias entre os indivíduos enfatiza que os dados pessoais podem se tornar sociais e vice-versa. A representação social se trata de uma questão que não cede muito espaço em dar uma ênfase para defini-la. Portanto, não era uma centralidade dos teóricos, justificando que isto poderia reduzir o alcance da compreensão sobre a representação social. 5 Todavia, segundo Moscovici, citado por Sá, temos a seguinte conceituação: proposições e explicações, originado na vida cotidiana no curso de comunicações interpessoais. Elas são o equivalente, em nossa sociedade, dos mitos e sistemas de crenças das sociedades tradicionais; podem também ser vistas como a versão contemporânea do senso MOSCOVICI, 1996, apud, SÁ, 2003) Através dessa conceituação, Araújo nos mostra a representação social em três particularidades: atitude, informação e imagem. Entende-se que a atitude, trata-se de uma conduta dada como resposta organizada frente a uma situação objetiva da sociedade, caracterizando assim, o contexto regulador presente na representação social. Deste modo, quando falamos em representação social ela é instalada como objeto social que se apresenta mais bem focalizado para o indivíduo. (ARAUJO, 2003) O entendimento dessas informações refere-se ao conjunto dos conhecimentos que um grupo possui a respeito do objeto da representação social. A apresentação da imagem proporciona o conteúdo concreto e limitado sobre aspectos do objeto social da representação. Os elementos supracitados se apresentam de forma distinta, conforme o contexto social e cultural de cada grupo. Desta forma, compreende-se o motivo de que a representação social sobre família tenha assumido características diferenciadas em função do contexto sociocultural. As representações sociais conforme já mencionadas no texto, estão presentes no dinamismo das comunicações entre as pessoas, além de contribuir para a formação e orientação dos comportamentos, elas facilitam para que a geração tenha a troca social, operacionalizando a transmissão e o desenvolvimento cognitivo de valores e normas sociais. Moscovici aponta três situações sociais geradoras da representação social: dispersão da informação, focalização e pressão à inferência. (MOSCOVICI, 1996, apud, SÁ, 2003) Sobre a dispersão da informação, devemos lembrar que nem sempre os indivíduos têm o acesso a esses dados úteis para tal conhecimento em face da sua complexidade e das limitações sociais e culturais. No entanto, o grande aparecimento das distorções sobre o objeto de contestação não favorece a transmissão direta destes valores. 6 Por outro lado, na focalização, que é a segunda situação, o foco está voltado apenas para alguns aspectos do objeto, desinteressando-se pelos demais, pois o seu grupo social define tal tipo de visão. Nesta condição, o indivíduo fica vedado de ter acesso a uma visão global do objeto. Por fim, a terceira conjuntura diz sobre o fato de que o indivíduo é levado a desenvolver opiniões e comportamentos, eliminando as zonas de incertezas do saber. Desta maneia, o indivíduo tem a tendência a aderir às opiniões dominantes no grupo, visando atribuí-las uma certa validade. Quando o indivíduo está frente a um objeto, sabemos que nem sempre dispõem de informações completas, envolvendo-se com alguns aspectos mais dominantes e sendo levados a posicionar-se frente ao mesmo, na perspectiva da opinião da maioria. Quando se faz referência ao objeto família, a contingência desta representação social é bastante evidente em função dos vínculos afetivos e de interdependência que se estruturam. (ARAUJO,2003). Logo, quando se tem o conhecimento sobre os objetos, eles são na maioria das vezes, condicionados aos aspectos dominantes dentro do grupo, exigindo-se que os indivíduos se posicionem frente a esses condicionamentos.É fundamental também considerar que quando a família é vista como um objeto polimorfo, a mesma assume essas características de domínio frente aos seus membros, enquanto objeto de estudo como representação social. Portanto, a forma como essas características são impostas, faz com que a família adquira diferentes formas, de acordo com o contexto cultural e histórico. 1.1 Família e sociedade A constituição familiar social se encontra presente no mundo já há muitos anos. De acordo com Castel (1998; apud CAPUTI L; 2011), desde a Idade Média, a família demonstra a sua habilidade de organização coletiva, protegendo os membros mais necessitados da comunidade por meio de uma assistência mínima, constituindo o que dessa referência para o indivíduo seria o início do processo de desfiliação. De certa forma, as famílias se estabelecem como protagonistas fundamentais no provimento de prestabilidade dos serviços de proteção social aos indivíduos frente 7 aos riscos e vulnerabilidades em que estão expostos; tem função sexual, reprodutiva, econômica, social, cultural e educacional. Discorre de um espaço de compartimento de recursos materiais, econômicos, de afetividade, cuidados, herança e construção de valores, de cultura e de troca de saberes. É um compartimento em que se é permeado os conflitos, a socialização dos seus membros, é fonte de referências morais, de vínculos afetivos e sociais, de identidade grupal, bem como de mediação das relações dos seus membros com outras instituições sociais, com a comunidade e com o Estado. (CAPUTI, 2011). Para a psicóloga Szymanski, valores herdados, os partilhados com os pares e os novos valores, que vêm de seu contato com outras informações e com outros segmentos da (2002, p.15; apud CAPUTI L; 2011) Portanto, a família pode ser formada por um grupo de pessoas com ou sem consanguinidade que convivem ou não no mesmo teto. Podemos salientar ainda, que se caracterizam como associação de pessoas que escolhem conviver por razões afetivas e assumem um compromisso de cuidado mútuo. No âmbito da sociedade brasileira, a constituição do conceito de família, tem passado por profundas transformações, no qual podem ser vistas por exemplo nas alterações de papéis da pessoa de referência da família. As modificações ocorridas no processo de representação social, nas múltiplas menções psicológicas e sociais que aprofundam o universo familiar e determinam o desenvolvimento de crianças e jovens, acabam por desalojar as menções das figuras como pai, mãe e avós. Quais modificações são estas e a que estão atreladas? São as mudanças vinculadas à relação de família e o mundo do trabalho, cujo engrandecimento tecnológico, reorganização produtiva traz modificações nas relações sociais como um todo. A família coexistente passa a ter uma proporção pública em detrimento singular da dimensão privada. Vive as modificações advindas, tanto das transformações do mundo do trabalho, dos avanços tecnológicos, do aumento da expectativa de vida, bem como das conquistas do movimento feminista. (CAPUTI 2011). 8 1.2 Sistema e subsistemas familiares A instituição familiar pode ser entendida como um grupo de pessoas interagindo a partir da junção de relações afetivas, consanguíneas, políticas, entre outras. Dessa forma, esses vínculos são uma rede infinita de comunicação e influência mútua. (Wagner, 2011) A família pode ser considerada como um conjunto de elementos dinâmico, submetido a um desenvolvimento das introduções regras, e marcada pela busca de um acordo entre seus membros. Assim, pode-se pensar que a dinâmica do sistema familiar se caracteriza pela maneira como a família se movimenta frente às diferentes situações as quais se colocam ou são colocadas. Existe uma estrutura interna inerente ao sistema, que permite aos seus membros que se comuniquem de acordo com as regras estabelecidas de maneira implícita ou explícita. A instituição familiar é marcada pelos acordos que permeiam a convivência em diferentes níveis. Esta organização se estrutura a partir dos subsistemas, os quais configuram a forma como os membros de uma família se organizam, considerando o tipo de relação e vinculação estabelecida entre eles. (RÍOS-GONZÁLEZ, 2009) Um subsistema familiar pode ser entendido como um grupo de membros de um sistema comum no qual é estabelecida uma comunicação diferente da utilizada no sistema principal. (Ríos-Gonzáles, 2003; Nichols & Schawartz, 2007; apud PRÁ D; 2013). Todo subsistema familiar possui atribuições de suas funções e necessidades específicas. Sendo assim, os sistemas e subsistemas familiares devem ser suficientemente estáveis para manter a continuidade e flexíveis o bastante para acomodarem-se às mudanças contextuais e evolutivas que acompanham a família ao longo da vida (Nichols & Schawartz, 2007 apud PRÁ D; 2013). 9 Fonte:psicologiasdobrasil.com A qualidade em que se encontra a família está pertinente com o processo saúde/doença. Uma família que funciona de forma adequada ou inadequadamente pode contribuir para o crescimento de problemas em relação à saúde ou resistir ao seu efeito. Quando a família desenvolve uma enfermidade ou problema de saúde, afeta diretamente seu funcionamento. A família é o primeiro espaço vital e arcabouço das produções humanas. (BALTAZAR & BALTHAZAR 2006). O desenvolvimento de uma família pode ser observado pelos sucessivos atos que sucedem através das gerações e suas repercussões no ciclo vital. Por meio da reprodução as famílias seguem aumentando e mantendo a origem de seus ancestrais. A família é uma constituição que se pode designar como organismo vivo que opera através de padrões transacionais (que passam de geração a geração), os quais, ao se repetirem, estabelecem como, quando e com quem entrar em relação. Todo conjunto do sistema familiar possui preceitos e regras que o determinam, definindo o que dela faz parte ou não, bem como definindo subsistemas tais como: subsistema conjugal, parental, fraterno ou dos irmãos, dos avós, tios e assim por diante. Esses limites ou fronteiras devem ser perceptíveis, para que cada membro da constituição familiar saiba qual o seu papel ou função dentro da família, não interferindo indevidamente no papel do outro e tendo flexibilidade, para permitir o contato entre os membros do subsistema e os demais. (BALTAZAR & BALTHAZAR 2006). 10 A transparência dos limites ou fronteiras no fundamento de uma família é um fator importante para o seu bom funcionamento. Nas famílias desligadas, os limites são muito rígidos, tornando a comunicação entre seus membros difícil. É como se predominasse um excesso de individualismo, sob o qual o comportamento dos membros não afetasse o comportamento dos demais. Em decorrência do mau funcionamento da família, é evidente um resultado frequente sobre os filhos que são adolescentes e carentes de cuidados, que começam a apresentar problemas em casa, na escola, uso abusivo de álcool e drogas. Nesses casos, a omissão da família não ajuda, e as consequências acabam por aumentar. Como exemplo temos outra situação que é de funcionamento problemático, devido a lacuna que deixam pela à falta de clareza nas fronteiras familiares, acontece nas chamadas famílias aglutinadas. Esse tipo de família, caracterizam-se por um emaranhamento, onde não existem diferenciações claras entre seus membros e onde o comportamento de um contagia e interfere de modo problemático na vida dos demais. Portanto, nessas famílias, quando se faz um movimento de diferenciação ou distanciamento do sistema familiar (casamento do filho, escolha de profissão, morar em outro lugar, grupo de amigos etc.) ele é vivenciado com uma certa dificuldade, ou como uma traição geradora de chantagens e sentimentos de abandono e culpa. RODRIGUES (2011). 11 Fonte: psicologado.com.br Diantede tantas situações em que acontecem por influências, é comum e também natural que a família adoeça e, então, entre no chamado estado "disfuncional". Uma família disfuncional é aquela sob o qual as necessidades materiais, sociais, espirituais, afetivas e culturais deixam de funcionar corretamente, respondendo às exigências internas e externas de mudança, padronizando seu funcionamento. Isso geralmente ocorre quando os membros da estrutura familiar deixam de contribuir para que o ambiente seja positivo. (BALTAZAR, 2004). Nesse sentido, as relações tornam-se cada vez mais frágeis e desgastadas, não deixando alternativas, podemos dizer que existe um bloqueio no processo de comunicação familiar. Por mais doentio que possa parecer, este comportamento tem que ser mantido nem que para isso seja eleito um membro para "ser" ou "ter" o problema. Os sintomas identificados no paciente constituem a expressão de uma disfunção familiar e tratar apenas do paciente identificado somente iria desfocar o problema, sem considerar as inter-relações que se estabelecem no grupo. (BALTAZAR, 2004). 12 2 O DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO DA CRIANÇA NO CONTEXTO DA FAMÍLIA. Fonte: revistacrescer.globo.com Atualmente, as crianças em idade escolar passam mais tempo longe de casa do que antes. Contudo, o lar e as pessoas que ali convivem continuam sendo a parte mais importante de seu mundo. A maioria dos pais continuam oferecendo apoio e sendo amorosos com seus filhos. De uma maneira geral, as crianças buscam em seus pais afeto, orientação, laços seguros e duradouros, além de afirmação de competência ou valor pessoal. Depois dos pais, os avós são os mais importantes, considerados pessoas calorosas, fonte de apoio e carinho, promovendo a autoestima. À medida que as vidas das crianças mudam, também muda a relação entre elas e os pais. Muitos pais se perguntam até que ponto devem se envolver com a vida escolar das crianças. Eles se perguntam o que fazer em relação a uma criança que se queixa do professor ou se comporta mal na escola. Eles se preocupam onde e com quem estão as crianças quando não estão na escola. Discórdias muitas vezes surgem em relação às tarefas domésticas e mesadas. (ANGELIM 2005). Evidentemente, muitas dessas questões são irrelevantes nas sociedades em que as crianças têm que trabalhar para ajudar a família a sobreviver. Para compreender o estado psicológico da criança na família precisamos observar o 13 ambiente familiar sua estrutura e sua atmosfera; mas isso, por sua vez, é influenciado pelo que ocorre fora de casa. Importante lembrar, que os fatores externos podem influenciar diretamente o ambiente familiar. Entre esses fatores, podemos citar a profissão e a condição socioeconômica dos pais, além das tendências da sociedade como divórcio e um possível segundo casamento. Acima dessas influências encontram-se valores culturais mais importantes que definem ritmos da vida familiar e papéis dos membros familiares. Os diversos grupos étnicos têm estratégias adaptativas diferentes, padrões culturais que promovem a sobrevivência e o bem-estar do grupo e afetam o modo de socialização das crianças. As crianças de algumas famílias minoritárias são estimuladas a cooperar, compartilhar e desenvolver interdependência. Os papéis sociais tendem a ser mais flexíveis. Em função da necessidade econômica, os adultos dividem o sustento da família, e as crianças acabam por assumir responsabilidades pelos irmãos mais jovens. A família maior (que abrange diversas gerações, formadas não apenas pelos pais e filhos, mas também pelos parentes mais distintos: avós, tias, tios e primos) oferece laços íntimos e fortes sistemas de apoio. Esses parentes têm maior probabilidade de viver na mesma casa que a criança, interagindo diariamente com ela. (ANGELIM 2005). Esses padrões culturais influenciam os padrões de desenvolvimento psicológico das crianças; os pais na família extensa tornam-se cada vez mais importantes para as crianças mais velhas como uma ponte para o mundo social externo. Ademais, uma criança em aprendizado deve sempre ser observada à luz de suas diferenças culturais, uma vez que cada uma tem a sua específica. o ambiente no lar de uma criança tem dois componentes principais. Existe a estrutura familiar: se os dois pais ou apenas um, ou outra pessoa, está criando a criança. Ambos os fatores têm sido afetados pelas (HAURIN, 1992, apud ANGELIM, 2005) As crianças geralmente se saem melhor na escola e têm menos problemas emocionais e comportamentais quando crescem em uma casa mais intacta com dois pais harmoniosos. 14 Fonte: exame.com A influência mais importante do ambiente familiar no desenvolvimento de uma criança é a atmosfera social e psicológica na família: isto é, o ambiente de apoio e amor ou movido por conflitos, e se é bom ou mau, ou não. Frequentemente, os dois aspectos são interdependentes. ANGELIM (2005). Um aspecto significativo da atmosfera no lar é a condição socioeconômico da família, a qual reflete em grande parte o trabalho remunerado que um ou ambos os pais realizam. O emprego dos pais tem outros efeitos indiretos no ambiente familiar e, portanto, no desenvolvimento psicológico dos filhos. A maior parte do tempo de esforço e afeto do adulto é dedicada à profissão. 3 A FAMÍLIA E AS ORIGENS DO SINTOMA O estudo da família e sua importância na estruturação de sintomas em seus membros têm sido abordados por vários estudiosos que acreditam que as condições nas quais ocorre o desenvolvimento da criança determinam uma embaraçada série de relações intersubjetivas, estruturadoras de redes de fantasias e de significados que só podem ser corretamente avaliadas se incluídas em uma psicodinâmica familiar. (BALTHAZAR M, 2006) 15 Ao transmitir conhecimento para os filhos, os pais agem de acordo com as possibilidades psicológicas reais que possuem, determinadas pelos respectivos traços de caráter, que configuram a cultura e a ideologia da família. Desta forma, os filhos incorporam esses ensinamentos também segundo as variantes impressas em sua personalidade pelos acontecimentos que lhes cabem vivenciar e em conformidade com os mecanismos de defesa que vão elaborando a partir das séries complementares, e também um considerável peso recebido de seus progenitores. Devemos então nos atentar ao fato de que a família tem a responsabilidade tanto para o bem, quanto para o mal da criança e do adolescente. Acerca das enfermidades causadas pelo mal comportamento da família, Soifer nos diz que o papel de "bode expiatório" que recai sobre algumas crianças, representa uma aprendizagem, que seus progenitores não puderam completar no momento evolutivo correspondente. (SOIFER, 1982) No mesmo sentido corrobora Pichon Rivière: O mecanismo de depositação como o entrejogo que se dá entre o depositante, o depositado e o depositário. O depositado são os afetos, fantasias e imagens que cada pessoa (depositante) coloca sobre o outro depositário. Investigou, além disso, seguindo este ponto de vista, o papel do bode expiatório, pessoa sobre a qual convergem as depositações de toda a família a qual, por seu turno, se encarrega do depositado. O bode expiatório constitui, portanto, o porta-voz da enfermidade familiar. (PICHON RIVIÈRE 1982, apud, BALTAZAR, 2066) Quando se tem uma incidência da família na enfermidade da criança, torna-se dificultoso classificar os membros doentes dentro dela. Contudo, é possível o reconhecimento dos mesmos através de um profundo estudo. No âmbito das relações familiares, o indivíduo acometido por tais enfermidades irá registrar uma gama de sentimentos inconscientes e desconhecidos que podem ter efeitos prejudiciais e inibidores, que guardam segredos e mitos de família. Os segredos podem pertencer a um membro da família; ou, tacitamente, compartilhados com outros, ou, inconscientemente,endossados por todos os membros da família, frequentemente de geração para geração, até se tornarem um mito. Quando falamos de segredos de família, fazemos uma distinção entre aqueles que são reconhecidos como fatos reais por um membro da família que os esconde 16 dos demais, e aqueles que não tem base real, mas surgem de fantasias. (BALTAZAR, 2006) Mesmo quando não existem os fatos reais guardados em segredo, alguns sentimentos como por exemplo o ciúme, a rivalidade, e o ódio, levam à uma suposta criação de fantasias, as quais, por não poderem ser expressas, tornam-se segredos. Esses segredos podem ser transmitidos subconscientemente por pais e filhos através de gerações e muitas vezes não são fáceis de distinguir dos mitos familiares. Foi através destes conceitos, que se desenvolveu piatório" -se o porta-voz da enfermidade familiar. Sob este prisma, a necessidade de realizar um diagnóstico familiar torna-se proeminente. Para entendermos uma dinâmica familiar e a rede de fantasias que nela se estrutura, é preciso ter em mente quais são as dificuldades internas que um indivíduo terá que vivenciar ao constituir uma família, ao conceber uma criança e cuidar do seu desenvolvimento. No livro Análise da Fobia de um Menino de Cinco Anos, Freud nos mostra a importância da intervenção, e nos orientou como as atitudes dos pais, conscientes ou inconscientes, podem interferir na formação de um sintoma na criança. A análise deste caso mostra como os sintomas do pequeno Hans foram interpretados como resultante de conflitos edípicos não resolvidos de seus pais. Além de sua própria situação edípica, ele deveria estruturar-se defensivamente também em relação aos conflitos parentais sobre ele projetados. (FREUD, 1969 apud BALTAZAR, 2006) O entrelaçamento do sintoma da criança junto as fantasias parentais, fazem com que o psicanalista e/ou psicólogo ouçam diferentes demandas e discursos sobre a criança, de forma que o possibilita fazer um deslocamento entre a demanda dos pais e o sintoma da criança. Poderíamos dizer que essa prática é marcada pela dependência estrutural da criança em relação aos seus cuidadores primários, fazendo com que o desconhecimento desse "nó sintomático" torne inviável o tratamento da criança. A criança procura responder ao enigma dos significantes obscuros propostos pelos adultos identifica-se ao que julga ser objeto do desejo materno, tentando preencher a falta estrutural do Outro e evitar a angústia de castração (MANONNI, [et al] 2001, apud BALTAZAR,2006). 17 Análise de uma fobia de um menino de 5 anos (Caso do Pequeno Hans), pós-escrito em 1922, Freud reforça a ideia de que, ao indicar uma função da especificidade da criança, ou seja, do fato de os pais, exercerem uma forte influência sobre ela, é necessário combinar o tratamento psicanalítico da criança com algum trabalho efetuado com os pais, sob o risco de a análise se tornar inviável caso haja resistência destes. (FREUD, 1969 apud BALTAZAR 2006). 4 O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO NO SISTEMA FAMILIAR Fonte:eusemfronteiras.com.br É de extrema importância entender a comunicação como manifestação característica do sistema familiar e como determinante das relações familiares subjacentes a esse processo. É fundamental considerar o mecanismo de feedback, isto é, mecanismo de retorno ao ponto de origem da resposta do destinatário da informação, o que tem como consequência manter ou alterar o conteúdo da comunicação por parte do emissor. Neste sistema de comunicação, admitimos que pode não haver coincidência entre o conteúdo da comunicação (mensagem) emitido pela fonte e a mensagem percepcionada pelo destinatário da comunicação. 18 Isso ocorre devido às barreiras e obstáculos na comunicação que dificultam a compreensão do processo familiar e, por vezes, contribuem para a instabilidade e o desequilíbrio do sistema. (DIAS 2011). É importante a existência de comunicação entre todos os membros da família, pois a influência principal na vida moral dos filhos é essencialmente exercida pelos pais, sobretudo das crianças mais novas. Esses bloqueios podem resultar das habilidades de comunicação do remetente e do receptor, como eles codificam e decodificam as mensagens e sua capacidade de raciocinar sobre seu conteúdo. A família é, então, um espaço privilegiado para a elaboração e aprendizagens de dimensões significativas de interação e comunicação onde as emoções e afetos positivos ou negativos vão dando corpo ao sentimento de sermos quem somos e de pertencermos àquela e não a outra família. Desta forma, o processo de comunicação na família sendo um sistema interativo onde o comportamento de cada indivíduo é fator e produto do comportamento dos outros, os resultados finais dependem menos das condições iniciais e mais do processo comunicativo. (DIAS 2011). A família passa por um processo de desenvolvimento, que engloba a diferenciação estrutural, com mudanças na organização relacional e transformações da comunicação. Durante este processo comunicativo há elementos que dão consistência às relações, e outros que transformam e dão origem a mudanças, sendo que no decurso das interações não há processos unilaterais, as relações são sempre bilaterais ou múltiplas. Portanto, a comunicação apresenta-se como fator determinante para facilitar as relações entre os membros da família e o meio social. 19 Fonte: porvir.org O exercício de comunicação estabelece uma relação, e, nesse sentido exige treino, reflexão, aprendizagem, prática e sobretudo uma série de atitudes e comportamentos que envolvem as palavras, o sentido compreensivo e lógico da estrutura, mas também os gestos e toda a linguagem do corpo. Estamos diante de um conceito transdisciplinar que traz valor agregado principalmente às Ciências Humanas e Sociais. Neste contexto, depreendemos que comunicar subentende-se relação, promove capacidade de expressão que, para além de quebrar a solidão, é ligado a outrem, é satisfação das necessidades de ordem intelectual, afetiva, moral e social, constituindo uma componente essencial da vida de cada um em particular e em geral de todo o sistema familiar. Se considerarmos o indivíduo como um sistema individual auto organizado, o mesmo é dizer que se constrói na relação que estabelece com os outros. Visto que a relação caracteriza e expressa o sistema familiar, os sujeitos que dele fazem parte encontram-se num processo de comunicação constante, ao qual não podem subtrair- se. (DIAS, 2011) Com efeito, podemos dizer que na relação familiar, os membros que interagem se situam num plano sistêmico e interativo de comunicação o indivíduo está permanentemente a fazer trocas entre o sistema familiar e o meio que o envolve cultural e socialmente, neste caso a família e a sociedade. 20 Desta forma, o processo de comunicação no sistema familiar conduz o indivíduo à adaptação social, caso contrário a relação familiar se tornaria insustentável, e a possibilidade do fracasso da sua integração no sistema familiar e no sistema social poderiam acontecer. Portanto, o sistema familiar pode facilitar as trocas adaptativas ajustando as mudanças que se dão no meio ambiente. A comunicação torna-se assim parte integrante do indivíduo na família e na sociedade. Como a família é a primeira instituição a facultar as relações o modo como nela se desenvolve os processos de comunicação determinará o maior ou menor sucesso do desenvolvimento pessoal e social dos seus membros e, consequentemente, a integração na sociedade. (DIAS, 2002 apud DIAS M, 2011). 5 ADOLESCÊNCIA E FAMÍLIA indivíduo seja ela por carga genética, psíquica ou moral. Entretanto, vivemos numa sociedade denominada filosoficamente de pós-moderna, e muitas convergentes, ora divergentes, e nesse conflito, como a família tem se apresentado em meio a essa turbulência? (TORRES,2007, apud OLIVEIRA 2015) A adolescência é um período de transição pessoal, da infância à idade adulta, que se desenvolve de um estado de forte dependência para um estado de autonomia pessoal e de uma condição de necessidade de controle externo para o autocontrole, sendo marcado por mudanças evolutivas rápidas e intensas nos sistemas biológicos, psicológicos e sociais. Nesse período evolutivo, crucial para o desenvolvimento do indivíduo, culmina todo o seu processo de maturação biopsicossocial, ocorrendo a aquisição da imagem corporal definitiva, bem como a estruturação final da personalidade, (DRUMMOND [et al], 1998, apud SANTOS; PRATTA 2007). Em geral, em nossa sociedade, a adolescência não é mais a condição de crianças, mas também não dever ser a condição de adultos. Esta é a condição de um adolescente, temporariamente selado. A construção psicológica do adolescente leva em consideração sua história pessoal, bem como suas novas habilidades sexuais, cognitivas e sociais. A história familiar do menor não se inicia na adolescência, está presente antes mesmo da infância, durante a gravidez planejada ou não. 21 Dependendo das características da família, várias características do adolescente irão emergir, considerando-as não apenas no nível interno do adolescente, mas também no nível de sua relação com o meio externo. Do ponto de vista sistêmico, a adolescência é entendida como uma fase do ciclo vital familiar, evento previsível que afeta fortemente a estrutura de vida, e apresenta tarefas específicas relacionadas à vida familiar para todos os membros da família. É importante que todos os membros familiares entendam o que acontece nas unidades interligadas, facilitando assim a construção de pensamentos pessoais importantes. Isso significa uma responsabilidade pessoal de escolher um caminho de vida. A adolescência favorece as condições necessárias para a emergência de uma série de problemas e conflitos dentro do contexto familiar, acentuando-se a frequência das brigas disputas entre pais e filhos durante este período, uma vez que a necessidade de negociação constante, inerente a esta etapa, aumenta o potencial de conflitos entre as gerações. Esse período tem sido descrito desde Anna Freud como conflitivo, como uma crise de identidade por Erickson e tem a denominação universal de tempestade e estresse. (SANTOS; PRATTA, 2007). As características do desenvolvimento psicossocial que ocorrem paralelamente às modificações do corpo são agrupadas no que Maurício Knobel denominou síndrome normal da adolescência. A adolescência é assim um conceito relativo a um processo e o adolescente é o sujeito que está vivenciando esse processo. Denomina-se síndrome normal da adolescência o conjunto de sinais e sintomas que caracterizam esta fase da vida que são: Busca de si e da identidade Tendência grupal Necessidade de fantasiar e intelectualizar Crises religiosas Deslocamento temporal Evolução sexual do autoerotismo até a heterossexualidade Atitude social reivindicatória Contradições sucessivas em todas as manifestações de conduta 22 Separação progressiva dos pais Constantes flutuações do humor e do estado de ânimo. A adolescência afeta o ciclo e o estilo de vida mais do que qualquer outra fase da vida, pois desestabiliza o sistema e causa ajustes mais profundos para manter os relacionamentos que envolvem a saúde mental dos membros. Quando um grupo familiar possui um filho adolescente, o grupo como um todo parece adolescer. Os pais vivenciam sentimentos variados em decorrência da adolescência de seus filhos e as respostas que são capazes de dar aos adolescentes estão condicionadas à forma pela qual os mesmos resolveram o seu processo adolescente, ao nível de integração que têm como casal e a sua capacidade de adaptação às redefinições que esta situação implica. (CRUZ 2007). O estresse e a tensão normais provocados na família por um adolescente são exacerbados quando os pais sentem uma profunda insatisfação e são compelidos a fazer mudança em si mesmos. O que muitas vezes se cria é um campo de demandas conflitantes, em que o estresse parece ser transmitido para cima e para baixo entre as gerações. Por serem tão intensas, as demandas adolescentes frequentemente precipitam mudanças no relacionamento entre as gerações, fazendo aflorar conflitos não resolvidos entre pais e avós (dos adolescentes), em sua infância ou adolescência. O conflito entre os pais e os avós pode ter efeito negativo sobre o relacionamento entre os pais e os adolescentes. O impasse também pode ocorrer em direção oposta: um conflito entre os pais e o adolescente pode afetar o relacionamento conjugal, o que acaba prejudicando o relacionamento entre os pais e os avós. (CRUZ 2007). Os pais, além de reavaliar e analisar sua adolescência, enfrentam novas etapas em seu ciclo vital, o que suscita novas preocupações: a perda do corpo jovem e a aproximação da aposentadoria e da velhice. Nessa fase, a família também se adapta às novas necessidades de seus membros, que entram em novos estágios do ciclo de vida. ambos os cônjuges, com exploração das satisfações e insatisfações pessoais, profissionais e conjugais, ao mesmo tempo em que os avós passam pelas experiências da aposentadoria e possíveis mudanças, como doença e morte. Os pais 23 podem ter de se transformar em cuidadores de seus próprios pais ou ajudá-los a integrar as perdas da velhice. (CRUZ 2007). Com o rápido crescimento físico e maturidade sexual durante a puberdade, os movimentos que buscam fortalecer a identidade e estabelecer autonomia da família são acelerados. Para muitos pais, a percepção de que seu filho está se transformando em um adolescente ocorre apenas quando percebem as mudanças físicas que ocorreram na criança. O desenvolvimento psicossocial não é levado em consideração Há muitas queixas associadas aos comportamentos dos filhos porque estes não são entendidos como devem no período da adolescência, mas sim percebidos como uma característica de má criação criação dos filhos (comportamentos não aprovados). Muito frequentes são as queixas quanto à instabilidade de comportamento, indisciplina, rebeldia dos filhos. É comum que o adolescente tente descobrir novas direções para sua vida, e quando isso ocorre, vem também a possibilidade de questionar a ordem familiar já existente. O ambiente e a dependência que experimentam criam tensão e instabilidade nas relações familiares, muitas vezes levando a conflitos intensos e possivelmente crônicos. Os adolescentes, no esforço para abrir seu próprio caminho, recorrem a ataques de raiva, se retraem emocionalmente por trás de portas fechadas, buscam apoio nos avós e/ou apresentam intermináveis exemplos de amigos que têm mais liberdade. (CRUZ 2007). O adolescente quer independência, mas também precisa de limites. Por outro lado, há muitos pais que compreendem a adolescência como um processo na vida do filho, agindo como facilitadores da vivência deste processo, ou seja, mantendo postura de diálogo, de abertura para com o filho. Muitos pais atuam com rigidez intensa frente a seus filhos, gerando conflitos. Outros atuam com permissividade extrema, deixando de orientar o filho num momento tão importante como este, de estruturação da personalidade. Na adolescência, a evolução da dependência absoluta da infância à autonomia adulta pode ser um momento doloroso para pais e filhos. Muitas vezes, os pais sentem um vazio quando os adolescentes se tornam mais independentes, pois percebem que não são mais necessários como antes, e dessa forma, vem o sentimento de perda (perda da criança) e medo de abandono. (CRUZ, 2007) 24 Em algumas situações, os pais podem vir a demonstrar dificuldades em lidar com a perda da dependência do filho, e em decorrência disso, apresentar um quadro depressivo. Da mesma maneira,o adolescente precisa lidar com a perda do eu infantil e da família como fonte primária de afeto. A perda desse primeiro vínculo romântico também pode desencadear a depressão no adolescente. Esse duplo movimento de luto do qual participam pais e filhos foi denominado por Stone e Church como síndrome da ambivalência dual. (CRUZ 2007). A adolescência exige mudanças estruturais e renegociação de papéis na família, e unidades que protegem e nutrem os filhos. Desta forma, as famílias passam a ser o centro de preparação para a entrada do adolescente no universo das responsabilidades e dos compromissos do mundo adulto. A família constitui fronteiras mais flexíveis, permitindo aos adolescentes que se aproximem e sejam dependentes nos momentos em que não conseguem manejar suas vidas sozinhos, e, ao mesmo tempo, se afastarem experimentando desafios, com graus crescentes da independência, quando estão prontos, exigindo esforços especiais de todos os membros da família. Para viver satisfatoriamente essa etapa da vida o adolescente deve cumprir aquilo que Erickson chama de tarefas do desenvolvimento: Conhecer a si mesmo; Adotar um papel sexual; Conseguir autonomia diante da família; Definir- se vocacionalmente; Atingir relações interpessoais autônomas para consolidar sua identidade. Na tentativa de diminuir os conflitos gerados nesse período, muitas famílias continuam em busca de soluções que costumavam funcionar em estágios anteriores, entretanto, a flexibilidade é a chave do sucesso paras as famílias nesse estágio. Por exemplo, flexibilizar mais as fronteiras familiares e modular a autoridade parental permite maior independência e desenvolvimento aos adolescentes. (CRUZ, 2007) 25 6 DESENVOLVIMENTO INFANTIL E O DIVÓRCIO Fonte: dm.jor.br Na infância ocorrem os seguintes processos de desenvolvimento da criança: cognitivo, físico e mental. A primeira infância é o momento em que a criança aprende e se conceitua como um eu. Newcombe define que, com aproximadamente 18 meses, a criança já se reconhece, fazendo com que nos meses seguintes sua autopercepção e sentimentos sejam aprimorados. (NEWCOMBE, 1999) As crianças mais velhas tendiam a se descrever com base em como percebiam seus corpos, quando nomeavam características observáveis e, posteriormente, observavam apenas características psicológicas. A importância da autoestima das crianças pode ser constatada na literatura, pois após formarem um autoconceito, elas atribuem valores a si mesmas, o que pode afetar sua autoestima. A saúde psicológica dos pais interfere diretamente no desenvolvimento dos filhos, uma vez que são os pais que asseguram o emocional da criança, além de sua independência e comportamento no meio social. Em lares com pais divorciados, manter um relacionamento forte entre ex- cônjuges será de extrema importância, pois uma boa relação entre os pais faz com que os filhos se adaptem melhor ao novo contexto familiar. De maneira geral, os filhos pequenos sofrem mais no divórcio, pois acreditam que são os responsáveis por ele. 26 O divórcio vivido na infância pode ter efeitos negativos na vida de uma criança, porque ao final do divórcio e a partida de um dos pais, a criança acaba privada de um dos genitores. Além do contato, que possivelmente se torna menor, a criança pode perceber uma perda da atenção, da figura parental e do tempo disponível. O divórcio gera um sentimento de insegurança nos filhos, influenciado diretamente no comportamento parental. A longo prazo, o desenvolvimento de uma criança exposta a esses fatores pode levar a dificuldades de autoestima. Oaklander afirma ainda que o divórcio poderá ser o desencadeador da baixa autoestima na criança, demonstrando-se através de comportamentos como: chorar com facilidade, necessidade de vencer, trapaças, comportamentos antissociais, críticas a si mesmo. O divórcio pode ainda, dificultar o desenvolvimento sadio da criança que, se acompanhada de negligência por parte do genitor presente, eleva o grau de sofrimento da criança. (OAKLANDE 1980; apud GONÇALVES, 2016) A infância é uma fase inicial do desenvolvimento psicológico e fisiológico, portanto, as crianças afetadas nesta fase são suscetíveis a uma série de patologias. Isso é exacerbado pela ausência de um dos pais durante o desenvolvimento, o que pode afetar a saúde mental da criança. Além disso, durante o divórcio, a criança passa por muitas situações novas e desconfortáveis, que com o tempo podem se transformar em distúrbios psicossociais. Segundo Toloi, nos conflitos interparentais, lidar com o divórcio e com seus efeitos têm grande influência na saúde mental dos sujeitos envolvidos. As mudanças que ocorrem de forma rápida são decorrentes de inúmeras transformações nas crianças que vivenciaram o divórcio dos pais, causando impacto direto no funcionamento mental. (TOLOI 2006; apud GONÇALVES; 2016) Pais e mães divorciados encontram muitas dificuldades para manter um relacionamento coparental saudável, com uma maior possibilidade de envolver-se em brigas, discussões e, até mesmo agressões. As crianças que assistem esses tipos de agressões recebem um impacto direto em sua saúde mental. A separação pode ser entendida como uma relação parental fracassada, porém, quando existem filhos, trata-se de uma relação de pais separados e de filhos que precisam se ajustar à nova dinâmica familiar. As mudanças em tal núcleo geram conflitos emocionais cabendo aos ex-cônjuges escolher a forma de vivenciar a nova 27 configuração da relação e da realidade familiar, beneficiando o filho, que continua existindo para ambos (GRZYBOWSKI, 2010) Diante de um sistema familiar, as relações possíveis são inúmeras, e as crianças contribuem ativamente nas interações. Cada membro da família tem um papel importante e influente. A influência da criança no relacionamento com os pais é muito importante para o seu desenvolvimento saudável. O surgimento de alguma mudança repentina na base familiar pode afetar diretamente seu desenvolvimento. Algumas das principais mudanças incluem: crescimento físico, desenvolvimento da linguagem, autoconceito, desenvolvimento cognitivo e independência. Martins nos relata que: Devido à grande incidência de divórcios na atualidade, os efeitos para as crianças estão sendo potencializados, desestabilizando vínculos familiares e criando um novo modelo de família, a família monoparental. Entende-se que a separação vem afetando todas as partes envolvidas no divórcio, então, com o objetivo de diminuição dos danos, a psicologia, nesses casos, procura trabalhar as possibilidades de vínculo, favorecer a preservação da saúde mental dos envolvidos, principalmente da criança em desenvolvimento. A elaboração do divórcio, para a criança, dependerá de como ele se deu, de forma conflituosa ou não, de como serão estabelecidos os vínculos no período posterior ao divórcio, da frequência das visitas, do relacionamento entre os pais. (MARTINS, 2010 apud GONÇALVES 2016) 7 PARENTALIDADE X CONJUGALIDADE: OS DESAFIOS DE COMPARTILHAR A CONVIVÊNCIA COM OS FILHOS APÓS O DIVÓRCIO O aumento dos divórcios forçou as famílias a se reorganizarem de novas maneiras após o fim do casamento. Com quem os filhos ficam é uma questão recorrente neste cenário e o motivo do conflito entre o ex-cônjuge. Com efeito, a separação está relacionada à vida de casado, e para que ambos possam cumprir a paternidade, eles precisam ter um certo relacionamento, para que o pai e a mãe possam estar próximos dos filhos. Essa discussão se faz presente, hoje, especialmente por meio da valorização recente por parte da Justiça da guarda compartilhada dos filhos entre os genitores, priorizando a participação de ambos os pais no convívio com os filhos. Porém, muitas vezes, os conflitos entre os membros do ex-casal permanecem e surge a pergunta se é possível, de fato,compartilhar o convívio com os filhos quando não se compartilham mais tantos outros aspectos da vida. 28 Para Dantas é de suma importância que se fortaleçam os vínculos com os filhos após a separação. A construção da personalidade da criança, para a autora, se relaciona com o momento no qual se reconhece em seus pais. Ela levanta a importância paternal e maternal para o desenvolvimento sadio da criança, já que sem relação com os pais, a criança não consegue construir sua própria identidade. Os momentos de ser reconhecido e se reconhecer precisam acontecer na relação entre pais e filhos. (DANTAS, 2004 apud GONÇALVES 2016), Diante do que foi citado acima, o contexto apresentado tem como objetivo investigar tanto a percepção de pais e mães sobre o exercício da parentalidade e suas transformações após o divórcio, bem como as diferenças envolvidas nesse processo entre os genitores. Os impactos da dissolução da conjugalidade na parentalidade são o ponto-chave nessa discussão. De acordo com GORIN M; (2015) então, sobre como ocorre a construção do casal e sobre o desejo de ter filhos, para depois podermos explorar mais profundamente as dificuldades do exercício da parentalidade após a separação. Dessa forma, nos questionamos sobre a complexidade da coparentalidade depois do divórcio, levando em conta que as discordâncias não cessam e que os filhos acabam sendo muito envolvidos nesses conflitos. As esferas conjugais e parentais se misturam, levando-nos a interrogar sobre as repercussões da dissolução da conjugalidade no sujeito e como isso transforma a experiência de ser pai e mãe. (GORIN, 2015) 7.1 Do casal conjugal ao casal parental Na construção do casal conjugal, há negociação entre os dois indivíduos envolvidos, de forma que ambos precisam abandonar uma parte de seus modelos e ideias, mas ao mesmo tempo manter, necessariamente, outras partes de seu espaço psíquico. A partir da conjugalidade construída e constantemente investida por ambos os membros do casal, o nascimento de uma criança aparece como traumático para os pais em termos psíquicos. Isso porque novamente demanda deslocamentos de identificações e investimentos para os sujeitos, um novo trabalho de elaboração psíquica precisa ser realizado, trazendo à tona conflitos, angústias e defesas. (SMADJA, 2011 apud GORIN 2015). 29 Nesse contexto, a parentalidade é uma construção, implicando mudanças para o casal e para seus membros individualmente. Em meio a essas mudanças, o nascimento do filho traz novas funções para o homem e a mulher, de forma que um tempo de adaptação se faz necessário. Além disso, essas novas responsabilidades de cada um em relação à parentalidade têm repercussões na relação conjugal. Ziviani, Féres-Carneiro e Magalhães destacam que um casal engloba conteúdos psíquicos de dois sujeitos com histórias e vivências distintas. O conteúdo transgeracional e as identificações de cada membro do casal são oriundos de sua família de origem e levados para a formação da identidade conjugal. Para os autores, conciliar a conjugalidade e a parentalidade é um dos grandes desafios e torna o vínculo indissolúvel, pois a dissolução do casamento não acarreta na dissolução do casal parental. Isso significa que a responsabilidade, em relação à prole, constitui uma continuidade de vínculo em relação ao cônjuge. (ZIVIANI [et al] 2012, apud GORIN 2015) Assim, a introdução de uma criança entre os dois parceiros é um acontecimento complexo. Smadja destaca as diversas facetas envolvidas no desejo de um casal conjugal de ter filhos. Para o autor, esse desejo é ambivalente para todos, e envolve não apenas investimento no objeto, mas investimento narcísico também. O que poderia levar a inúmeros questionamentos, como, por exemplo, se o desejo é ter um filho para si ou ter um filho do parceiro e, em última instância, se é possível separar o próprio desejo do desejo do outro. (SMADIA, 2011, apud GORIN 2015) O autor destaca que o desejo de ter filho é marcado de forma central pela diferença entre os gêneros. Para as mulheres, de forma geral, o filho aparece como complemento narcísico e fálico. Além disso, o filho ocupa um lugar erótico, relacionado à fantasia da experiência de maternidade, que se relaciona ao desejo incestuoso de ter um filho do pai. É comum para homens e mulheres que os filhos ocupem um lugar de interrogação no que diz respeito aos objetos de investimento e seu espaço no funcionamento conjugal. O complexo de Édipo e o narcisismo, com suas marcas na constituição psíquica, orientam as possibilidades subjetivas no processo de tornar-se pai e mãe, com toda a história familiar e individual que acompanha o sujeito. (SMADJA, 2011 apud GORIN M; 2015). 7.2 A dissolução do casal conjugal: como permanecer um casal parental? O conceito de parentalidade se refere a um tornar-se pai e mãe, consciente ou inconsciente, que passa pela história da família e pelo contexto sociocultural. 30 A respeito do processo de construção da parentalidade, Lebovici descreve o ser pai ou mãe para além do biológico, ressaltando a descendência e o herdado da parentalidade como o produto do parentesco biológico e da parentalização do pai e Em relação à parentalização, este autor aponta que os filhos têm um papel ativo nesse processo. (LEBOVOCI, 2006, apud GORIN, 2015) A construção da parentalidade envolve elaborá-la no imaginário e lidar com os próprios pais. Nos casos de famílias recompostas, esse processo é ainda mais complexo. É a partir dessa concepção que refletiremos sobre a parentalidade e o divórcio. Após o divórcio, há um término do casal conjugal, porém, caso existam filhos, o vínculo como casal parental deve continuar. Isso se justifica, porque, independentemente do arranjo conjugal, os genitores permanecerão nos papéis de pais dos filhos. Quando duas pessoas se casam, há a construção de uma nova identidade. Essa identidade conjugal se desfaz aos poucos no divórcio, demandando uma redefinição da identidade individual de cada um dos membros do ex-casal. Esse processo é doloroso tanto para o homem quanto para a mulher e acontece de formas singulares. É um desafio para ambos, em meio aos conflitos e às mudanças, continuar a ser pai e mãe. (FÉRES-CARNEIRO, 2003 apud GORIN, 2015). Na fase de reorganização da identidade individual, exercer a parentalidade de forma conjunta torna-se complexo. O vínculo que uniu o casal e os sentimentos antigos e atuais estão atrelados, inevitavelmente, à parentalidade, sendo difícil dissociá-los. Além disso, destacam que a ligação entre os genitores e os filhos antes e depois do divórcio, especialmente em relação à presença do pai, marca a coparentalidade, em função do, não raro, afastamento da figura paterna. Os homens estão cada vez mais participativos no cuidado com os filhos, envolvendo trocas emocionais e afetivas nas relações. Porém, ao longo desses processos de reorganização familiar, as mulheres, ainda que se sintam satisfeitas com a maternidade, sentem o peso das responsabilidades do excesso de tarefas no dia a dia com filhos, casa e trabalho. A coparentalidade após o divórcio depende da cooperação entre os ex- cônjuges. É importante que os pais possam negociar entre eles, as questões relacionadas ao cuidado com os filhos, apesar de estarem separados. Especialmente 31 em um momento conflituoso, isso se torna mais difícil, visto que conjugalidade e parentalidade ficam sem um contorno que as delimitem. Dessa forma, a reestruturação da família deve ser inspirada pelo casal parental e não pelo conjugal. 7.3 A importância familiar para a reestruturação da criança após a separação A família é o primeiro grupo ao qual a criança pertence e é a partir dele que surgem inúmeros tipos de vínculo que poderão interferir na formação da identidade do sujeito e também na sua modalidade de aprendizagem, cuja formação se dará de acordocom seus primeiros contatos no âmbito familiar. Nesse sentido, a família, em um primeiro momento, comporta toda a referência da criança e é a responsável pela sua formação. A família, como sistema, tem a função psicossocial de proteger, cuidar e zelar por seus membros. A sua estrutura é formada pelas normas transacionais que se repetem e, assim, criam sua identidade, compartilhando e repassando histórias e vivências passadas. Com a separação, a divisão da família ocorre, sua estrutura é prejudicada e os vínculos familiares empobrecidos (ALMEIDA, 2011 apud GONÇALVES; 2016). De modo geral, a família pode ser compreendida como um grupo de pessoas que moram junto e desenvolvem laços afetivos e/ou sanguíneos. Ela é também a base do sujeito, já que ao nascer é inserido em grupos familiares, garantindo sua sobrevivência e aprendendo determinados valores. Nos dias atuais, com a sua reestruturação, pode haver famílias com só um dos genitores, ou genitores do mesmo sexo, uma família adotiva, entre outras, dependendo da nova organização feita. Sendo assim, no período posterior ao divórcio, a família passa também pela mudança no seu núcleo. Santos fez a seguinte construção em relação às fases que ocorrem após o divórcio: Fase aguda: a fase pré-divórcio, na qual ocorrem as brigas, discussões, insatisfação com o outro e evidente frustração, na maioria das vezes, é vivenciada também pela criança. Fase transitória: o divórcio já foi consolidado, e agora ocorrem as reorganizações de papéis, as novas normas e regras, entre pais e filhos. Fase do ajuste: aceitação do divórcio, fase em que ocorre a restauração tanto de pais quanto de filhos, consolidando novas visões e podendo ser 32 inserido novo integrante ao âmbito familiar. (SANTOS, 2013, apud, GONÇALVES, 2016) Com a separação dos pais, é possível que ocorra um distanciamento desses em relação aos filhos. Após o divórcio pode ainda ocorrer a briga pela guarda da criança, colocando mais distanciamento à vinculação familiar pós-divórcio. Neste contexto, a criança precisa reconstruir as figuras paterna e materna após a separação, ressignificando as vivências e experiências passadas. Após a mudança grandiosa que é a saída de uma das figuras parentais de casa, é preciso se adaptar a uma moradia onde as coisas serão diferentes. É de grande importância para a estruturação da criança que esses ambientes sejam, em alguma medida, parecidos, compartilhando das mesmas regras, deveres e rotina (GRZYBOWSKI 2010, apud GONÇALVES, 2016). As crianças mais jovens, costumam ter maiores dificuldades de entender e simbolizar a separação, e estão mais propensas a se culparem e sentirem abandonados pelos pais. Nas palavras de Ramires: Junto com a mudança estrutural familiar existem as externas, como mudança de casa, nível econômico social, perda do contato com a outra parte. Na separação, o ideal seria que a família se subdividisse em busca de um relacionamento saudável, principalmente para melhor relação com os filhos. (RAMIRES, 2010; apud GONÇALVES 2016) A alteração do núcleo familiar coloca essa criança diante de fatores estressantes, dificultando seu ajuste ao divórcio dos pais, aumentando os níveis de ansiedade e depressão na criança. É importante que o relacionamento entre os pais esteja estável, pois com isso é possível um melhor ajustamento da criança ao divórcio. Após o divórcio, ocorre a readaptação da criança à nova configuração familiar, momento em que ela irá internalizar que o divórcio ocorreu de forma conjugal e não parental. Embora o casal tenha se separado, eles continuarão sendo pais da criança. Sabe-se que, após o divórcio, é possível ocorrer uma diminuição da qualidade da parentalidade com a criança, acontecendo um maior afastamento em relação aos filhos. Contudo, a problemática maior seria quando o filho também se torna ex-filho, gerando sofrimento emocional. Segundo Dantas: 33 É importante a figura paterna que, na maioria das separações, é quem sai de casa e acaba se ausentando da vida da criança. O autor coloca, na figura do pai, o primeiro papel de separar a criança de sua mãe, rompendo a simbiose e colocando-lhe limite. O segundo papel paterno seria ajudar a confirmar a identidade de seu filho (a) também investindo segurança e autoestima. O terceiro papel seria de transmitir-lhe afetos, para possibilitar melhor a vinculação entre ambos. (DANTAS, 2004; apud GONÇALVES 2016) Segundo Bolsoni, a família pode contribuir de diversas formas para que as crianças não sofram com o divórcio, sendo importante o diálogo e orientação realizado por um profissional durante tal processo, com o objetivo de minimizar os efeitos negativos da separação. A manutenção do diálogo entre os pais pode ajudar a criança a lidar com as dificuldades na transição da estrutura familiar. Se encontrada uma fonte de apoio nos pais, o filho pode até mesmo compartilhar seus medos e receios, ajudando a suportá-los. A parte que fica com a guarda da criança, na maioria dos casos, é a mãe. Durante a separação, a mãe, geralmente, passa por um período de stress e sobrecarga, pois em meio a dor da separação do ex-companheiro, ainda precisa fornecer suporte ao filho (BOLSONI, 2009; apud GONÇALVES 2016). A família é constituída em um campo dinâmico, no qual fatores conscientes e inconscientes influenciam nessa constituição. A criança sofre desde seu nascimento a influência dessa família, como também é um agente de mudança dentro do grupo familiar. Nesse grupo familiar, esta introjetado o conceito de família para cada genitor, influenciado pelo modo como viveram com suas famílias. A família não é estática, pois está sempre em movimento e transformação. Cada grupo familiar está sempre desejando, tendo relações objetais, lidando com suas necessidades, ansiedades e, por esse motivo, está sempre em movimento (ZIMERMAN, 1999; apud GONÇALVES C; 2016). Toda separação causará danos ou perdas para a criança, já que estava acostumada ao convívio familiar. Dessa forma, os pais estão expondo mais cedo a criança ao sofrimento por não ter mais a família, devido ao aumento do número de divórcios. O desgaste decorrente da separação dos pais que as crianças vivenciam as fere por diversos fatores. Mesmo nos casos em que os casais não se difamam ou se agridem na frente de seu filho (a), o sofrimento se faz presente. (SANTOS, 2013 apud GONÇALVES 2016). 34 8 ESTRATÉGIAS DE ATENDIMENTO FAMILIAR Fonte: clinicacoutinho.com Nas hipóteses desenvolvidas pelo profissional sobre o funcionamento do sistema familiar, a avaliação psicológica da família deve ser baseada como qualquer outro processo de avaliação psicológica. Os métodos de avaliação e entrevista familiar foram desenvolvidos à medida que diversas teorias sobre a família surgiram em diferentes paradigmas psicológicos, embora todos se fundamentem na hipótese da influência dos grupos sociais na construção do sujeito e no agenciamento de seu comportamento. A entrevista psicológica é a técnica mais antiga e a mais valiosa no contexto de investigação, avaliação e intervenção clínica. A abordagem psicodinâmica foi a primeira a desenvolver e aplicar o olhar clínico psicológico em uma situação de entrevistas. Autores como Freud, Adler e Jung apontaram para a importância do ambiente e do relacionamento familiar para a constituição psicológica do indivíduo. A terapia de família surgiu orientando-se inicialmente por dois paradigmas: a abordagem psicanalítica e a abordagem sistêmica. (TEODORO; BAPTISTA, 2020.) 35 8.1 Entrevista Circular A abordagem sistêmica nos trouxe a entrevista circular, técnica que permite interagir com a família, revelando aspectos do seu funcionamento ao focar seus aspectos ecossistêmicos. A entrevista circular refere-se a um modo específico de desenvolver um padrão de interação entre o terapeuta e a família. Nessa técnica,as questões são formuladas com o objetivo de revelar as conexões recorrentes, levando tanto a família quanto o terapeuta a desenvolver uma compreensão da situação problema em uma visão sistêmica. Segundo Féres Carneiro e Diniz Neto (2012), os terapeutas sistêmicos do grupo de Milão esboçaram três princípios para orientar a conduta do terapeuta: Neutralidade: Refere se à atitude do terapeuta de família que não se alia a nenhum membro específico, procurando manter-se curioso e aberto sobre os padrões de funcionamento. Circularidade: Denota a busca de compreensão do enlaçamento dos diversos aspectos de funcionamento da família que revelam a multiplicidade de olhares e vivências. Hipotetização: Refere-se à construção constante de hipóteses centradas na circularidade, mantendo uma atitude de curiosidade e abertura, apoiando a neutralidade. (CORDIOLI; GREVET 2019). 8.2 Entrevista Familiar O processo de avaliação e diagnóstico da entrevista familiar é guiado pela orientação teórica do clínico. Os objetivos de uma entrevista familiar inicial incluem: Identificar as variáveis familiares e individuais que podem ter influência decisiva na situação familiar problemática, Abordar o funcionamento da família, assim como sua dinâmica e de seus membros; 36 Conduzir a sessão de tratamento inicial, quando necessário, conforme A entrevista diagnóstica é dividida em três momentos: Estágio social o profissional age criando um setting social e culturalmente adequado à família, possibilitando a investigação e a intervenção psicoterapêutica inicial. Os aspectos de interação e enquadre são tão importantes quanto o ambiente físico, que pode ter o aspecto de uma sala de visita, com material de brinquedos, mesa e cadeiras para crianças pequenas caso seja necessário. O rapport inicial pode incluir um tempo de conversação informal e o estabelecimento de relacionamento através de comunicação verbal e não verbal amistosa. Estágio de questionamento multidimensional: O profissional investiga o motivo da consulta tanto quanto o modo como a família o descreve. A apresentação da problemática inicial é frequentemente um estágio confortável para a família que tenderá a descrever a imagem oficial do problema. (CORDIOLI & GREVET 2019). A exploração de visões alternativas dos outros membros da família deve ser feita respeitosamente, buscando-se a neutralidade sistêmica. Áreas potencialmente problemáticas não reportadas devem ser investigadas pois podem relacionar-se retroativamente com as dificuldades da família na área da queixa. A resistência em explorar outras áreas talvez esteja presente e surja na forma de convite à aliança com o terapeuta ou com a injunção para que ele aplique soluções preestabelecidas para o problema. É importante evitar confronto, já que a resistência pode ser compreendida como a comunicação silenciosa de áreas problemáticas de tensão que estão acima da possibilidade de manejo da família. A abordagem de áreas problemáticas deve ser realizada com cuidado e respeito, apontando-se a necessidade de compreender amplamente o problema e de demonstrar que o ponto de vista de todos é importante. (CORDIOLI & GREVET (2019). 37 Desenvolvimento: Diversas técnicas podem ser utilizadas para explorar a estrutura, o desenvolvimento e as questões emergentes do ciclo familiar. Elas correspondem às condições nas quais se realiza a entrevista, bem como à orientação teórica e à habilidade técnica do entrevistador. Féres Carneiro e Diniz Neto ao estudar os métodos de avaliação familiar, propõe a classificação em métodos objetivos, subjetivos e mistos, apontando, ainda, a possibilidade de utilização de testes psicológicos que por sua constituição, poderiam ser adequadamente utilizados em processos de atendimento familiar. (2012 apud CORDIOLI A; GREVET E; 2019), Os métodos objetivos classificam se em dois grupos: Métodos que utilizam questionários, Métodos que utilizam jogos, Os métodos subjetivos, por sua vez, classificam se em três grupos: Métodos que utilizam técnicas de desenhos, Métodos que se baseiam em técnicas psicodramáticas, Métodos que utilizam testes projetivos. Entre as técnicas mistas, estão: A tarefa familiar; A entrevista estruturada de Watzlawick, A primeira entrevista de Satir, A entrevista diagnóstica conjunta A entrevista familiar estruturada A atuação terapêutica apropriada deriva-se de um diagnóstico compreendido como um conjunto de hipóteses úteis e produtivas. Á medida que um diagnóstico familiar emerge distinções de condições permitem ao terapeuta realizar indicações gerais de tratamento conforme o universo possível. A avaliação é, contudo, um processo contínuo que orienta a atuação do clínico em cada sessão. Cabe ressaltar que a construção de hipóteses na prática clínica é sempre um processo de reavaliação, já que as hipóteses podem sempre se alterar, por não refletirem a especificidade da família ou por serem transformadoras, levando a novas dinâmicas e reestruturações. 38 8.3 Avaliação da Rede de Apoio A rede de apoio social e afetivo tem sido avaliada através de diferentes instrumentos, questionários, entrevistas. Destacam-se entre esses o mapa dos cinco campos. O mapa dos cinco campos é um instrumento lúdico, em sua aplicação, é utilizada a colocação livre de figuras, que representam crianças, jovens e adultos de ambos os sexos, em um quadro com círculos concêntricos. (CORDIOLI & GREVET 2019). Tem por objetivo avaliar a estrutura e a funcionalidade da rede de apoio socioafetivo, a partir dos cinco campos: Família; Escola; Amigos; Parentes; Contatos formais. Esse instrumento é composto por um pano de feltro e por imagens que podem ser fixadas com velcro. Permite que pessoas já falecidas sejam consideradas parte da rede de apoio, em função da consideração subjetiva da percepção da rede. O círculo central corresponde ao participante e cada círculo adjacente mede a qualidade do vínculo, ou seja, quanto mais perto do círculo central, maior é a percepção de proximidade do participante com a pessoa representada: O primeiro e o segundo círculos correspondem às relações mais próximas (maior vínculo); O terceiro e o quarto círculos correspondem às relações mais distantes (menos vínculo); O último círculo, na periferia do mapa, corresponde aos contatos insatisfatórios. (CORDIOLI; GREVET 2019). 39 9 TERAPIA FAMILIAR E DE CASAL Fonte: irresistivel.com.br A terapia de família tem seus fundamentos na teoria geral dos sistemas, proposta pelo biólogo alemão Bertallanffy, na teoria da comunicação, dos pequenos grupos, na teoria psicodinâmica (relações de objeto) e na teoria cognitivo comportamental, entre outras. (CORDIOLI; GREVET 2019). Por sistemas compreende-se um conjunto de elementos, direta ou indiretamente relacionados, que funcionam como uma unidade que determina o ambiente. Dentro desse enfoque, uma família pode ser considerada um sistema parcialmente aberto que interage com seus ambientes biológicos e sociocultural. Diversos enfoques teóricos embasam a terapia de família. Ackerman foi quem cunhou o termo terapia familiar, na década de 1950, e introduziu a ideia de trabalhar com a família nuclear, utilizando métodos psicodinâmicos. O enfoque proposto por Ackerman era predominantemente psicodinâmico, com ênfase nos mecanismos de defesa grupais (projeção, identificação projetiva, dissociação) e nos conceitos da teoria das relações objetais. O objetivo desta abordagem era a obtenção de insight, ou a abordagem dos conflitos transgeracionais (Bowen): diferenciação, triangulação, rupturas, ou experiencial com a proposição de envolver duas ou mais gerações na terapia. (CORDIOLI; GREVET 2019). 40 Ao longo do tempo, diversos outros enfoques foram sendo propostos: Estrutural / sistêmico(Minuchin) - a partir do estudo de jovens delinquentes provenientes de famílias hierarquicamente desorganizadas e com problemas de limites generacionais entre os vários subsistemas: Estratégico (Harley; Ackerman): Para os problemas decorrentes de arranjos hierárquicos e de papéis, bem como as reações em suas mudanças. Comportamental (Patterson; Margolin): Para problema que podem ser mantidos ou estimulados pelas atitudes da família, em padrões de relações simétricas ou complementares e nas funções de comunicação. Psicoeducacional (Anderson, Goldstein): Informativo, envolvendo o manejo de doenças crônicas, redução do estresse e manejo de crises. Periodicidade As sessões de terapia familiar ocorrem semanalmente, com todos ou parte dos membros presentes, podendo, posteriormente, passarem a ser quinzenais ou mensais (subsistema). Objetivos: Melhorar a comunicação entre os membros da família; Desenvolver a autonomia e a individualização dos diferentes indivíduos membros da família; Descentralizar e tornar mais flexíveis os padrões de liderança e de tomada de decisões; Reduzir os conflitos interpessoais e os sintomas; Melhorar o desempenho individual. A terapia de casal, da mesma forma que a terapia familiar, considera que existem possibilidades e vantagens de resolver os conflitos que surgem na vida de um casal na abordagem conjunta de forma mais rápida do que na abordagem individual. Baseia-se na teoria psicodinâmica (relações de objeto), na teoria da comunicação e na teoria dos contratos conjugais. (CORDIOLI; GREVET 2019). 41 9.1 Indicações da Terapia Familiar Quando é solicitada terapia de casal ou familiar: Doença física ou mental grave em adultos, gerando alto grau de disfunção familiar (esquizofrenia, transtorno bipolar, TOC, transtorno de pânico ou agorafobia, dependência a drogas ou álcool, transtornos alimentares, etc.). Quando o problema atual envolve dois ou mais membros da família; A família enfrenta uma crise de transição que pode leva-la à ruptura (mudança de papéis). Uma criança ou adolescente é o problema presente (autismo, TDAH, abuso de drogas, transtorno alimentar, obesidade, transtornos de impulsos, depressão). Ruptura da harmonia familiar em razão de conflitos interpessoais. (CORDIOLI; GREVET 2019). 42 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMANDA ZANK, Letícia; WALTRICK MACHADO BARBOSA, Claudia. Challenges e a busca incontrolável por like. Unifacvest, [S. l.], p. 1-23, 2018. ANTÔNIO BALTAZAR, José et al. FAMÍLIA E ESCOLA: UM ESPAÇO INTERATIVO E DE CONFLITOS. [S. l.]: Arte & ciência, 2006. ISBN 978-85-7473-324-1. ANTÔNIO BALTAZAR, JOSÉ. Estrutura e dinâmica das relações familiares e suainfluência no desenvolvimento infanto - juvenil: o quea escola sabe disso?. Docplayer, [S. l.], p. 1-175, 2004. BRITO, Leila Maria Torraca de. Família pós-divórcio: a visão dos filhos. Psicol. cienc. prof. vol.27 n.1 Brasília: Mar. 2007. Dispon. Acesso em: Abril de 2013. CAHALI, Yussef Said. Separações Conjugais e Divórcio. 12 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011. CAPUTI, Lesliane. Família contemporânea: uma instituição social de difícil definição. Unesp, [S. l.], p. 1-14, 2011. CASTELLS, Manuel. 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