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FUNÇÕES DA FAMÍLIA Professoras: Me. Nathalia Barbosa Limeira Me. Fernanda Regina Cinque de Brito DIREÇÃO Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho Diretoria de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha Head de Produção de Conteúdos Rodolfo Pinelli Head de Planejamento de Ensino Camilla Cocchia Gerência de Produção de Conteúdos Gabriel Araújo Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Supervisão de Projetos Especiais Daniel F. Hey Projeto Grá� co Thayla Guimarães Design Educacional Marcus Vinicius Almeida da Silva Machado Design Grá� co Ellen Jeane da Silva C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; LIMEIRA, Nathalia Barbosa; BRITO, Fernanda Regina Cinque de. Dinâmica Familiar e Aprendizagem. Nathalia Barbosa Limeira; Fernanda Regina Cinque de Brito. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017. 26 p. “Pós-graduação Universo - EaD”. 1. Família. 2. Aprendizagem. 3. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. 370 CIP - NBR 12899 - AACR/2 01 02 03 sumário 9| FUNÇÕES DA FAMÍLIA 12| PAPÉIS: CONJUGAL, PARENTAL, FRATERNO E FILIAL 17| IMPLICAÇÕES ACERCA DOS PAPÉIS FAMILIARES OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Compreender a família como possuidora de funções. • Refl etir sobre os diversos papéis familiares intrínsecos à noção de família. • Refl etir sobre as implicações dos papéis familiares no desenvolvimento da criança. PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Funções da família • Papéis: conjugal, parental, fraterno e fi lial • Implicações acerca dos papéis familiares FUNÇÕES DA FAMÍLIA INTRODUÇÃO O objetivo de nossa discussão neste momento é apresentar e analisar as funções de cada um dos componentes da família. Quando falamos em funções, estamos tra- tando dos papéis que cada um destes integrantes representa ou devem representar para a construção de um ciclo familiar saudável. As relações familiares possuem sua singularidade e cada uma destas relações possui uma dinâmica que lhes é própria. Com isso, quero afirmar que para com- preendermos as dinâmicas das relações familiares, tema principal de nossa discussão, será preciso compreender como se estrutura e se organiza cada um dos partícipes da família. Ainda que tenhamos uma família formada somente por mãe e filho, ou ainda na substituição da família como tradicionalmente a compreendemos, na es- truturação pai-mãe-filho, a função que cada um dos pares, nesta relação, incorpora permitirá ou não o crescimento saudável e autônomo de seus filhos. Pós-Universo 7 Neste sentido, discutiremos aqui quais os papéis ou funções destinados aos pais, mães e filhos dentro da família, sempre fazendo a ressalva de que, ainda que não se faça presente uma destas figuras, o espaço deixado por esta ausência precisa ser suprido por uma terceira personagem. Nossa personalidade forma-se a partir das relações estabelecidas dentro de nossas famílias e, portanto, conhecer como ocorre a dinâmica das relações familiares torna-se essencial em nosso trabalho. Ainda que a família não determine fundamentalmente como será o sujeito e ainda que não possamos afirmar que famílias mal estruturadas, consequentemente, gerem filhos perturbados ou problemáticos, sua influência tem um fator preponderante na formação do indivíduo. Assim, caro(a) aluno(a) vamos iniciar nossa jornada de estudos! Pós-Universo 8 Pós-Universo 9 FUNÇÕES DA FAMÍLIA Os papéis familiares referem-se à forma como cada membro do sistema irá desem- penhar a função que lhe compete naquele momento. De acordo com Ríos-González (2003), os papéis familiares se originam das funções e se baseiam nas relações fami- liares ou nas atribuições que a família institui a cada membro dela mesma. De acordo com Macedo (1994, p.186), “a família tem como propósito fornecer um contexto que permita a sobrevivência e o desenvolvimento de seus membros, procu- rando atender as necessidades de todos”. Neste sentido, podemos afirmar que duas são as necessidades atendidas primordialmente pela família, são elas: as necessidades relativas à sobrevivência que implicam na segurança física, alimento e moradia, e as necessidades relativas ao desenvolvimento cognitivo e emocional de seus membros por meio da transmissão dos valores, de aceitação e de ligação afetiva permanente. Partindo deste pressuposto e segundo as indicações de Osório (1996), podemos dividir as funções da família em três eixos: biológica, psicológica e social. Uma leitura apressada destas funções poderia creditar a função biológica à reprodução. Porém, a função biológica vai além do aspecto reprodutivo. Neste sentido, ela consiste em assegurar a sobrevivência da espécie através dos cuidados com o recém-nascido, ga- rantindo-lhe que este cuidado perpasse seu crescimento. Neste sentido, a garantia da sobrevivência divide-se em ensinar os cuidados com a alimentação, com a respi- ração, sono, locomoção, linguagem, entre outros. A função psicológica refere-se, de acordo com Osório (1996), ao provimento do alimento afetivo indispensável à sobrevivência emocional dos filhos. Neste sentido, garantir um bom desenvolvimento afetivo, tanto para a criança como nas relações que são estabelecidas entre ela e seus progenitores, é fundamental. É a partir da mediação realizada pelos pais com a criança que ela percebe e se relaciona com o mundo. De acordo com Winnicott (1993), a família contribui de dois modos para a maturidade emocional da criança: “ [...] de um lado, dá-lhe a oportunidade de voltar a ser dependente a qualquer momento; de outro, permite-lhe trocar os pais pela família mais ampla, sair desta em direção ao círculo social imediato e abandonar esta unidade por outras ainda maiores (WINNICOTT, 1993, p.137). Pós-Universo 10 Sobre a função psicológica, Polity (2001) afirma que a família é responsável por garan- tir a ideia de pertencimento, mas também de promover a individualização do sujeito. A ideia de pertencimento relaciona-se à ideia de identificação com o ambiente fami- liar ao qual ela pertence, tanto pelo sobrenome como pelas relações que estabelece neste ambiente. Quanto à ideia de individualização, paulatinamente, cabe à família permitir que a criança desenvolva sua personalidade e identidade, vendo-se como um sujeito que, embora tenha uma família, se singularize da mesma. Neste sentido, a função psicológica refere-se à garantia de um ambiente adequado para a apren- dizagem empírica da criança. Com relação à função social, lemos em Osório (1996, p.21): “ Entre as funções sociais da família, por sua relevância ao longo do proces- so civilizatório, está a transmissão das pautas culturais dos agrupamentos étnicos. Outra das importantes funções sociais da família, e que a ela é dele- gada pela sociedade, é a preparação para o exercício da cidadania. Neste sentido, compreendemos que embora a família tenha, entre suas funções, a função social, esta é compartilhada com a escola, haja vista que a escola é entendi- da como um ambiente de socialização da criança. Juntas, família e escola assumem, portanto, a função de socialização e de preparação para o exercício da cidadania. Soifer (1982) divide as funções da família partindo das mesmas bases expostas por Osório (1996) com a ressalva de que, em seus estudos, a autora fragmenta cada uma das funções, como podemos perceber logo a seguir: Cabe tanto à função psicológica, como à função social favorecer o proces- so de maturidade e inserção social da criança no contexto em que vive. Fonte: elaboradopelas autoras reflita Pós-Universo 11 FUNÇÕES DA FAMÍLIA Defesa da vida nos diferentes âmbitos: 1. Ensinar o cuidado físico - respiração, alimentação, sono, vestir-se, locomoção, higiene, perigos etc. 2. Ensinar as relações familiares - elaboração da inveja, ciúmes e narcisismo; - desenvolvimento do amor, respeito, solidariedade e características psicológi cas de cada sexo; 3. Ensinar a atividade produtiva e recreativa - jogar e brincar; - tarefas domésticas; aprender a aprender. - destreza física; - estudos e tarefas escolares; - artes; - desportos. 4. Ensinar as relações sociais - com outros familiares: avós, tios, primos etc. - com amigos e outras pessoas em geral. 5. Ensinar a inserção profissional (relações de trabalho) 6. Ensinar as relações sentimentais - escolha de um parceiro (parceira); - noivado. 7. Ensinar como formar e consolidar uma nova família. Fonte: adaptado de Soifer (1982, p.25) As funções postas por Soifer evidenciam a função familiar como defesa e preparo para a vida em diferentes âmbitos. Além do cuidado físico e do preparo psicológi- co indispensável às relações humanas, acresce-se aqui a função intrínseca à família com relação às atividades produtivas e recreativas. As funções tanto biológicas, quanto sociais ou psicológicas que cabem à família foram somente divididas aqui para uma apresentação didática da mesma, pois na prática, não há como separá-las. É a partir destas funções destinadas à família que podemos pensar então nos papéis atribuídos a cada um dos membros familiares, sobre os quais discorreremos a seguir. Pós-Universo 12 PAPÉIS: CONJUGAL, PARENTAL, FRATERNO E FILIAL Agora, caro(a) aluno(a) é importante que entendamos a respeito dos papéis no con- texto familiar, para isso, vamos destacar os papéis conjugal, parental fraterno e filial separadamente para melhor elucidação dos mesmos. O papel conjugal O papel conjugal deve ser entendido como o papel do casal e as relações que cada um estabelece nesta relação. Neste sentido, para compreendermos os papéis conju- gais inerentes à família, é preciso compreendermos o arranjo familiar que esta institui ao se formar, sendo que os papéis desempenhados por cada um são distintos. Pós-Universo 13 Esta clareza na identificação das atribuições nem sempre é visível ao casal e muitas vezes, no processo de diagnóstico psicopedagógico, este aspecto pode surgir como um entrave. Se a relação conjugal não se concretiza de maneira saudável, isso recai consequentemente sobre os filhos, ainda que “o papel conjugal não abarque [...], as atribuições decorrentes da função reprodutora, que pertencem à esfera do papel pa- rental” (OSÓRIO, 1996, p.18). Aqui reside a complexidade do diagnóstico e do processo de intervenção e com- preensão dos papéis familiares: é preciso distinguir, ainda que isso demande uma reconstrução destes papéis, quais são os papéis desempenhados, por exemplo, pela mãe, mulher e esposa, e perceber nestas singularidades onde estes papéis contêm fraturas e onde tais fraturas incidem sobre as dificuldades vivenciadas pelas crianças. O que nos importa na compreensão deste papel desempenhado pelo casal é a sua organização diante das responsabilidades inerentes à vida a dois. Quem é o provedor financeiro e sentimental? Quem toma as decisões, o casal ou apenas um? Como se organizam quanto ao cumprimento das tarefas do lar? Quem fica respon- sável pelo quê? Essas questões são importantes para compreendermos a dinâmica da relação instituída pelo casal e, desta forma, nos permite visualizar a organização da família sobre seus diferentes âmbitos e papéis. O papel parental Enquanto o papel conjugal, como vimos, refere-se à relação instituída entre o casal, o papel parental refere-se aos papéis desempenhados pelos pais com relação aos filhos.. Neste sentido, afirma Polity (2001, p.37): “Os pais transmitem a seus filhos seus conhecimentos, de acordo com as possibilidades psicológicas reais que possuem, determinadas pelos respectivos traços de caráter, e estes, por sua vez, configuram a cultura e a ideologia da família”. As funções biológicas, sociais e psicológicas, apresentadas na primeira seção, incidem aqui, haja vista que são os pais os responsáveis pelo cuidado biológico, psi- cológico e social de seus filhos. As expectativas postas pelos pais para com seus filhos também aparecem como fundamentais à nossa compreensão da dinâmica familiar, Pós-Universo 14 pois a projeção dos pais sobre os filhos incide na negação da personalidade e apa- recimento da individualidade dos filhos. Essas projeções podem ser doloridas e traumáticas para os filhos, os quais muitas vezes não conseguem ultrapassar a barreira destas projeções e não internalizam seu próprio eu, ficando à margem das vontades de seus pais. Os pais têm, neste sentido, a função de cuidar, mas também de impor limites e ensiná-los a convivência fami- liar e social. Claro é que limites muitos rígidos são tão danosos quanto à falta deles. Então como proceder? Enquanto a criança é pequena, sua dependência é quase total de seus pais e, paulatinamente, ela avança para tornar-se independente e, consequen- temente, seus limites vão sendo alargados pela família. Mas, essencialmente, é no seio familiar que ela encontrará a noção de realidade, daquilo que pode e não pode, daquilo que é real e daquilo que é imaginário. O limite se estabelece, como podemos perceber, como uma barreira importante e saudável ao crescimento da criança. É ele quem baliza e orienta a criança naquilo que pode ou não fazer e os pais são os maiores responsáveis por esta orientação, além das funções biológicas, sociais e psicológicas, como já mencionamos acima. O papel fraterno O papel fraterno refere-se à relação entre irmãos e, de acordo com Osório (1996, p.19), “o papel fraterno oscila entre dois comportamentos antagônicos: a rivalidade e a soli- dariedade”. Para compreendermos estes dois conceitos – rivalidade e solidariedade –, Barbosa (2001), em um dos seus capítulos do livro A Psicopedagogia no âmbito da instituição escolar, nos oferece um belíssimo texto intitulado “A criança falando dos limites”. Aqui, a autora fala pela voz de uma criança, sobre a noção de limite, estabelecendo uma relação desde o ventre de sua mãe. Incentivo que você faça a leitura do texto completo. Fonte: BARBOSA, L. M. S. A psicopedagogia no âmbito da instituição escolar. Curitiba: Expoente, 2001. saiba mais Pós-Universo 15 devemos pensar na relação entre irmãos. Pensemos, pois, no nascimento do segundo filho de um casal. Sua chegada, ainda que planejada e preparada, traz consigo a an- gústia do primeiro filho, que como sabemos, “perde sua majestade”. A atenção não é mais voltada somente a ele, mas ao bebê que requer tantos ou mais cuidados que ele. Isso pode gerar na criança certa inveja e também ciúmes, já que, agora, as visitas, os telefonemas e as preocupações se dão em torno do recém-nascido. O bebê é visto então, ainda que inconscientemente, como um rival de seu irmão, pois desloca a atenção que antes era sua. Neste sentido, ainda que os pais tenham maturidade emocional para lidar com este período, certo é que ao longo da vida dos filhos, esses dois conceitos, de rivali- dade e solidariedade, perpassam as relações desenvolvidas entre os irmãos. Podemos compreender que o papel fraterno se estabelece tanto dentro quanto fora do contexto familiar. Tanto nas relações amistosas quanto profissionais, entre outras, há a prevalência desta rivalidade, mas também da solidariedade. Compreender como se organiza estas relações entre irmãos é fundamental para a compreensão do sintoma e da hipótese diagnóstica. O papel filial O papel filial, como o próprio nome indica, refere-se ao papel dos filhos na família. E qual seria este papel? De acordo com Soifer (1982, p.30), “[...] fica, portanto, claro que a função dos filhos é essencialmentede aprendizagem”. Se o papel parental tem sua significância pela orientação e aprendizagem da criança, no estabelecimento dos limites e dos cuidados necessários à sua sobrevivência, o papel filial terá, neste sentido, sua importância na aprendizagem destes limites, assim como na contenção dos impulsos destrutivos. Pós-Universo 16 “O papel filial está centrado na dependência, cujas raízes remontam à prematuridade peculiar à situação do recém-nascido humano, que depende dos cuidados paren- tais para sobreviver” (OSÓRIO, 1996, p.19). Esta noção de dependência é essencial na relação filial. Desde bebê, o filho depende dos cuidados de outros para sua sobrevi- vência. À medida que cresce, esta dependência vai diminuindo e, consequentemente, sua independência aumentando. O crescimento sadio dos filhos pressupõe que os pais auxiliem a criança nesta passagem, de modo que ainda que ele se torne inde- pendente, realizando sem a ajuda de outrem os cuidados com seu corpo e com sua vida, seja profissional, financeira, psicológica ou social, o indivíduo deve compreen- der que sua independência nunca é total. Necessitamos sempre do outro. Um indivíduo de extrema independência pode tornar-se egoísta e seu narcisismo impor-lhe conflitos psicológicos. Porém, a mediação na passagem da heteronomia para a autonomia deve ser realizada pelos pais, no sentido de ajudá-lo a compreen- der o mundo e a si mesmo. Pós-Universo 17 IMPLICAÇÕES ACERCA DOS PAPÉIS FAMILIARES Ao longo da discussão, identificamos, ainda que sucintamente, a função da família e de cada um dos integrantes dela. Mas quando pensamos na família contemporânea, nos novos arranjos e dinâmicas que ela exige, percebemos o quão frágil e também confuso pode parecer à família o desempenho destes papéis. Talvez essa confusão se deva ao fato de que ainda estamos reorganizando-nos quanto aos papéis familiares e ao próprio conceito de família. A sociedade da informação e do conhecimento, a entrada da mulher no mercado de trabalho, a taxa crescente de divórcios, o aumento de números de famílias compostas por pais ou mães solteiras exigem que pensemos e reconfiguremos o que entendemos por família. De fato, com uma jornada de trabalho que passa das 40 horas semanais, acrescido dos afazeres domésticos e dos cuidados com os membros da família, como conci- liar tantas funções e papéis? Neste sentido, os apontamentos realizados por Moraes contribuem para nossa discussão acerca deste fato: “ No século XX, com a expansão das cidades e o crescente processo de assa- lariamento da mulher, também se inicia o rompimento do ciclo essencial na reprodução da família conjugal: a dependência econômica da mulher ao homem. Daí a importância da autonomia financeira das mulheres, que se exprime bem na palavra de ordem feminista de que “o trabalho liberta”. Salário e pílula permitiram o começo da implosão da família tradicional [...]. Era a família idealizada dos filmes dos anos 1950, nos quais papai ia traba- lhar depois de dar um beijo em mamãe que, com um avental irrepreensível, acenava da porta de casa, enquanto um casal de filhos loiros e saudáveis brincava nos belos jardins das casas sem muros dos subúrbios norte-ameri- canos (MORAES, 2001, p.19). Pós-Universo 18 Longe estamos do modelo de família apresentado acima. Acerca deste tema, ca- be-nos afirmar que em se tratando de famílias ocidentais, parece-nos importante destacar dois aspectos: a Revolução Industrial e as ideias postas pelo Iluminismo, acerca da igualdade e dos valores democráticos. Esses conceitos fundamentam a ideia de que homens e mulheres são iguais e, portanto, têm os mesmos direitos e deveres. Isso modifica a estrutura familiar, porque põe em cheque o antigo modelo da família ideal, esboçado na citação acima. Claro nos parece que o modelo de família patriarcal e tradicional sofre, atualmen- te, sua derrocada e urge refletirmos sobre esse fato, repensando principalmente a criança neste contexto. Neste sentido, podemos inferir que a principal transformação que tem ocorrido no âmbito familiar situa-se sobre o fim do patriarcalismo, que marca, consequente- mente, a autoridade imposta institucionalmente pelo homem sobre a mulher e seus filhos. Ainda de acordo com Castells (1999), a globalização, o movimento feminista e a entrada da mulher no mercado de trabalho são fatores essenciais que originam novos formatos de família. Pós-Universo 19 Importa-nos, neste sentido, compreender que a função familiar, dada pelas funções biológicas, psicológicas e sociais, permanece independente dos arranjos e desloca- mentos realizados ao longo dos anos neste grupo. Desta forma, cabe-nos compreender que: “ Os papéis familiares nem sempre correspondem aos indivíduos que conven- cionalmente designamos como seus depositários. Assim [...] o papel fraterno poderá ser acoplado ao papel do avô que circunstancialmente desempe- nha funções de confidente ou companheiro de um neto que é filho único; o papel filial poderá estar depositado num dos cônjuges cuja maturidade emocional o torne carente da proteção e cuidados habitualmente requeri- dos por uma criança, e assim por diante (OSÓRIO, 1996, p.17). A discussão posta por Osório é fundamental neste sentido, ela mostra-nos que inde- pendente dos arranjos existentes o que deve prevalecer são os papéis ou as funções que à família cabe, independente de quem ocupa, ainda que ocasionalmente, este lugar. Caro(a) aluno(a), independente do arranjo familiar, é a qualidade destas relações e não a organização da mesma (no que se refere à sua formação, se por pai-mãe- -filho, mãe-filho, avôs-filho etc.) que incide sobre a criança. Ambientes sadios são proporcionadores de crianças sadias, pois o ambiente é favorável ao pleno desen- volvimento, ao passo que ambientes disfuncionais são geradores de sintomas ou transtornos que implicam sobre o desenvolvimento da criança. Dentre estes transtornos de desenvolvimentos relacionados à dinâmica familiar, Soifer (1982) apresenta os seguintes transtornos: 1) transtornos de conduta (fobias, obsessões, alucinações, impulsividade, roubos, mentiras, toxicomania, entre outros); 2) transtornos de aprendizagem escolar (disgrafia, dificuldade escolar em geral); 3) transtorno de linguagem (falta ou atraso na aquisição da linguagem, dislalias, ga- gueira etc); 4) transtornos esfincterianos (enurese noturna ou diurna, encoprese); 5) transtornos de sono (insônia, terrores noturnos, pavor, pesadelos, sonambulismo); 6) doenças psicossomáticas (inapetência, sonambulismo, anginas, bronquites, ade- noidite, eczemas, psoríase e outras doenças da pele, úlcera gastroduodenal, colite ulcerosa, constipação, diarreia, diabete, obesidade, reumatismo cardíaco e artrite; nefrite) e 7) configurações familiais especiais (famílias com gêmeos ou trigêmeos etc.; famílias com filhos adotivos, casais separados). Pós-Universo 20 Ainda com relação aos transtornos de desenvolvimento causados pela família, es- pecificamente com relação ao papel desempenhado pela mãe, Spitz (1968 apud RODRIGUES, 1976) apresenta uma série de atitudes maternas e seus efeitos na criança. No quadro 1, reproduzimos as principais atitudes maternas e seus efeitos na criança, de acordo com Spitz: Quadro 1: Efeitos das atitudes maternas sobre as crianças ATITUDES MATERNAS EFEITOS NA CRIANÇA Manifesta repulsa afetiva Coma recém-nascido Rejeição ativa Vômitos e doenças respiratórias Solicitude ansiosa excessiva Cólicas Hostilidade-Angústia Neurodermatite infantil Oscilação entre mimos e hostilidade Hipermotibilidade (abalos e ritmos anormais) Saltos de humor cíclicos Jogos fecais Hostilidade recalcada – atitudes compensatórias Hipertimia agressiva Privação afetiva parcial Depressão Privação afetiva total Marasmo Fonte: Spitz (apud RODRIGUES,1976, p.28) Ao longo do processo de diagnóstico e hipóteses do trabalho psicopedagógico, será importante reconstruirmos a históriade vida de nossos alunos/pacientes, levando em consideração o ciclo vital da família, assim como sua organização, no que tange aos papéis familiares desempenhados por cada um dos integrantes que a compõem. Nem sempre esta reconstituição, necessária, é simples. Por isso, o olhar atento ao comportamento dos mesmos e de todos os integrantes da família pode fornecer- -nos indícios que a entrevista familiar ou mesmo a anamnese não nos oferece. Quer saber mais sobre os transtornos de desenvolvimento relacionados à dinâmica familiar apontados por Soifer? Leia o livro de Raquel Soifer, intitula- do Psicodinamismos da Família com Crianças: Terapia Familiar com Técnicas de Jogo. Petrópolis: Vozes, 1983. saiba mais atividades de estudo 1. De acordo com Macedo (1994) a família tem o objetivo de fornecer condições ade- quadas que favoreçam a sobrevivência e o desenvolvimento de seus membros, buscando atender as necessidades de todos. A partir do exposto, leia as afi rmativas e assinale a correta. a) Uma das necessidades primordiais que devemos considerar é a necessidade re- ferente à sobrevivência que implica na segurança cultural, emocional, econômica e religiosa. b) A transmissão de valores, de aceitação e de ligação afetiva permanente são exemplos relacionados às necessidades relativas ao desenvolvimento cognitivo e emocional. c) A única responsabilidade da família é em relação ao atendimento dos cuidados básicos, ou seja, alimentação, higiene e moradia, as demais são responsabilida- des da escola. d) Os cuidados relacionados ao desenvolvimento da criança somente podem ser efetivados na estrutura de família extensa, as demais organizações não permitem o desenvolvimento saudável. e) Nenhuma das assertivas acima está correta. 2. A partir da defi nição das funções da família, podemos refl etir acerca dos papéis atri- buídos a cada um dos membros familiares. Apresentamos quatro papéis, quais sejam: conjugal, parental, fraterno e fi lial. Sobre o papel fraterno é correto inferir: I. O papel fraterno está associado ao papel dos fi lhos no contexto familiar e a ideia central é a dependência que será mantida até a vida adulta. II. O papel fraterno está relacionada à relação estabelecida entre irmãos. III. O papel fraterno envolve três comportamentos que se complementam, ou seja, a amizade, a lealdade e a disputa. Todos são essenciais para que a relação frater- nal, ou seja, entre pais e fi lhos aconteça de forma harmônica. atividades de estudo IV. O papel fraterno pode ser estabelecido tanto no ambiente familiar como em outro contexto, ou seja, pode ocorrer tanto nas relações amistosas quanto nas profi ssionais, entre outras, pois há a prevalência da rivalidade, mas também da solidariedade. a) Estão corretas apenas I e II. b) Estão corretas apenas II e III. c) Estão corretas apenas II e IV. d) Estão corretas apenas I, III e IV. e) Nenhuma das alternativas acima está correta. 3. Em nossos estudos discutimos a importância de analisar a instituição familiar na con- temporaneidade, haja vista as mudanças decorrentes, sobretudo nas últimas décadas. Sobre este assunto, marque V para as afi rmativas verdadeiras e F para as falsas. ( ) A entrada da mulher no mercado de trabalho é uma das mudanças que exigiu repensar a dinâmica familiar, neste contexto, a mulher precisa dividir seu tempo com o trabalho e os afazeres próprios da casa. ( ) A função familiar, dada pelas funções biológicas, psicológicas e sociais, permane- ce independente dos arranjos e deslocamentos realizados ao longo dos anos. ( ) A dinâmica familiar deve promover ambientes saudáveis, pois são favoráveis ao pleno desenvolvimento da criança. ( ) Independente da organização familiar podemos verifi car ambientes saudáveis e disfuncionais, no último caso poderá provocar alguns transtornos, como por exemplo, de conduta e de aprendizagem. A sequência correta é: a) V, V, F, F. b) V, F, V, F. c) F, F, V, V. d) F, V, F, V. e) V, V, V, V. resumo Ao longo de nossas discussões, buscamos refl etir sobre a importância dos papéis familiares e sua infl uência no desenvolvimento cognitivo, social e psicológico da criança. Neste sentido, percor- remos quais seriam os papéis do casal, dos pais, dos fi lhos e dos irmãos, buscando compreender a família enquanto um sistema não rígido, nem fechado em si, que se reconstrói e permite a mo- bilidade de seus integrantes na busca de sua harmonia. Vimos que nas famílias disfuncionais, os papéis desempenhados não cumprem com o esperado para eles, o que ocasiona um sintoma ou um transtorno, o qual muitas vezes é melhor perce- bido no ambiente escolar. De qualquer forma, famílias disfuncionais emitem sinais que muitas vezes não são característicos de sua disfunção. Portanto, na elaboração da hipótese diagnóstica, se não conseguirmos perceber essas singularidades, não compreenderemos com clareza os sin- tomas apresentados. Muitas vezes, porém, a família favorece o crescimento harmonioso e saudável da criança, mas ainda assim, persistem alguns sintomas com relação à sua aprendizagem. Neste caso, excluídas as disfunções familiares, o que nos resta investigar? O espaço escolar e a relação da família com este outro universo. Ocorre que a criança perpassa tanto o universo escolar quanto o familiar e, muitas vezes, permanece mais no primeiro ambiente do que no segundo. Resta-nos, neste sentido, fazer uma observação cautelosa e coerente, buscando nas evidências, perceber como se estabelecem a dinâmica e as relações familiares. Geralmente, estas evidências não são dadas pelas palavras e discursos familiares, mas pelas projeções dos alunos/pacientes, seja por meio das provas projetivas, relatos, brincadeiras e testes psicológicos. Para fi nalizar, é importante percebermos como a família se organiza com relação aos papéis por ela estabelecidos. Desta organização deriva o que denominamos dinâmica das relações familiares. Neste sentido, é imprescindível conhecermos e compreendermos a função e o papel desempe- nhado por cada um dos integrantes da família. material complementar Título: Tutoria e interação em educação a distância Autor: José Ângelo Gaiarsa Editora: Agora Sinopse: este livro parte do princípio que vivenciamos três re- voluções: a tecnológica, a consideração da infl uência social na modelagem da personalidade e a educativa. Sobre a educação, o autor afi rma a profunda transformação que a área passa, cons- truindo um novo paradigma de desenvolvimento que concebe a criança pequena como um gênio em potencial, capaz de aprender além das palavras. Título: Passeio de Família Ano: 2010 Sinopse: este curta-metragem apresenta a aventura da uma família composta pelos pais e duas fi lhas em um passeio simples. Pelos olhos da fi lha mais nova, percebemos o mundo, a beleza e o quão importante é a participação da família na vida da criança. Comentário: importa-nos ver este fi lme a fi m de percebermos como as relações familiares são fundamentais na formação da per- sonalidade da criança. No fi lme, a questão da afetividade, da criação de vínculo afetivo e de participação familiar é retratada sob a ótima de uma criança. NA WEB Apresentação: A sugestão de material para leitura propõe compreender as atitudes maternas sobre três enfoques: irritabilidade, rejeição e intrusão. Ressaltando os elementos cognitivos e in- teracionais da criança. Link: Para ler o texto na íntegra, acesse: Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722000000300005>. referências BARBOSA, L. M. S. A psicopedagogia no âmbito da instituição escolar. Curitiba: Expoente, 2001. CASTELLS, M. O poder da identidade. São Paulo: Paz e Terra, 1999. MACEDO, R. A família diante das difi culdades escolares dos fi lhos. In: OLIVEIRA, V. B.; BOSSA, N. Avaliação psicopedagógica da criança de zero a seis anos. Petrópolis: Vozes, 1994. MORAES, M. L. Q. A estrutura contemporâneada família. In: COMPARATO, M. C. M.; MONTEIRO, D. S. F. A criança na contemporaneidade e a Psicanálise. Vol. 1. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001. OSÓRIO, L. C. Família hoje. Porto Alegre: Armed, 1996. POLITY, E. Di� culdades de Aprendizagem e família: construindo novas narrativas. São Paulo: Vetor, 19. RÍOS-GONZÁLES, J. A. Vocabulario básico de orientación y terapia familiar. Madrid. Editorial CCS, 2003. RODRIGUES, M. Psicologia educacional: uma crônica do desenvolvimento humano. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1976. SOIFER, R. Psicodinamismos da família com crianças. Petrópolis: Vozes, 1982. WINNICOTT, D. W. A família e o desenvolvimento individual. São Paulo: Martins Fontes, 1993. resolução de exercícios 1. Alternatica B. A transmissão de valores, de aceitação e de ligação afetiva permanente são exemplos relacionados às necessidades relativas ao desenvolvimento cogniti- vo e emocional. 2. Alternativa C. Estão corretas apenas II e IV. 3. Alternativa E. V, V, V, V.
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