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Declarações e tratados 
Internacionais de proteção 
dos direitos humanos 
ratificados pelo Brasil
Licensed to João Luiz Melo Santiago - joaolmsantiago@gmail.com - 917.561.203-82
SST
Zolotar, Márcia
Declarações e tratados internacionais de proteção dos 
direitos humanos ratificados pelo Brasil / Márcia Zolotar 
Ano: 2020
nº de p.: 11
Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados.
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Declarações e tratados internacionais 
de proteção dos direitos humanos 
ratificados pelo Brasil
Apresentação
Desde os tempos mais remotos, as nações foram se adaptando e criando estruturas 
de relacionamento, considerando as atividades executadas como comércio, 
estabelecimento de fronteiras, regras de conflitos, entre outras. As declarações 
e tratados internacionais são documentos importantes que buscam estabelecer 
um relacionamento equilibrado entre as nações, com o objetivo dessa relação ser 
sempre harmoniosa entre os interesses particulares de cada país. Dentro dessas 
relações, podem existir eventualmente conflitos de interesse, e as declarações e 
tratados costumam estabelecer as bases de relacionamento entre as nações que o 
assinam.
Nesta unidade, vamos abordar os conceitos essenciais, seu funcionamento e 
apresentar quais são as declarações e tratados internacionais assinados pelo 
Brasil. 
Declarações e tratados internacionais 
no Brasil
O Brasil, assim como os demais países da América Latina, vive um processo 
de democratização e de fortalecimento de suas instituições. Nesse sentido, a 
Constituição Federal (CF) de 1988 foi um marco importante ao consagrar os direitos 
humanos e a dignidade humana ao patamar de núcleo básico e formador do 
ordenamento jurídico brasileiro. Segundo o art. 1º da CF/88:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel 
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado 
Democrático de Direito e tem como fundamentos:
III - a dignidade da pessoa humana […]. (BRASIL, 1988).
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Mas como os tratados internacionais passaram a ser interpretados frente a essa 
nova Constituição? Comecemos pela leitura do art. 5, § 2º da CF/88:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes:
§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem 
outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos 
tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja 
parte. (BRASIL, 1988)
Assim, a Constituição de 1988 conferiu aos direitos elencados em tratados 
internacionais a hierarquia de normas constitucionais.
No caso dos tratados internacionais que versem sobre direitos 
humanos, há uma outra peculiaridade. Eles possuem o que 
chamamos de natureza constitucional, ao passo que os demais 
tratados têm tão somente natureza infraconstitucional.
Sobre isso, Flavia Piovesan (2013, p. 60) afirma: “[...] o Direito 
Brasileiro faz opção por um sistema misto, que combina regimes 
jurídicos diferenciados: um regime aplicável aos tratados de 
direitos humanos e um outro aplicável aos tratados tradicionais”.
Atenção
Uma questão importante que se coloca diz respeito ao resultado, no ordenamento 
jurídico brasileiro, da ratificação de um tratado internacional. Três situações 
poderão surgir:
1. Compatibilização com o determinado na Constituição:
Neste caso, não haveria problema, tendo em vista que a Constituição de 1988 
prevê vários artigos cujo objeto é a proteção aos direitos humanos, tais como 
os arts. 5º, III e LVIII, dentre outros.
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2. Complementação dos direitos previstos no texto constitu-
cional:
Nesta segunda situação, embora ainda não existentes no ordenamento 
jurídico nacional, os tratados internacionais servem exatamente para 
preencher essa lacuna e auxiliar na efetividade na proteção aos direitos 
humanos.
3. Colisão com o ordenamento jurídico interno:
Aqui, há um difícil conflito. A solução é dada pela prática adotada pela 
jurisprudência dos órgãos de supervisão internacional de direitos humanos: 
“A escolha da norma mais benéfica ao indivíduo é tarefa que caberá 
fundamentalmente aos Tribunais nacionais e a outros órgãos aplicadores do 
direito, no sentido de assegurar a melhor proteção possível ao ser humano” 
(PIOVESAN, 2013, p. 73).
Instrumentos internacionais de 
proteção aos direitos humanos no 
Brasil
Abaixo, destacamos os mais importantes instrumentos internacionais de proteção 
aos direitos humanos ratificados pelo Brasil (PIOVESAN, 2013, p. 55):
1. Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura – 20
de julho de 1989.
2. Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos Cruéis ou
Degradantes – 28 de setembro de 1989.
3. Convenção sobre os Direitos da Criança – 24 de setembro de
1990.
4. Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos – 24 de janeiro
de 1992.
Citação
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5. Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais
– 24 de janeiro de 1992.
6. Convenção Americana de Direitos Humanos – 25 de setembro de
1992.
7. Convenção Americana para Punir, Prevenir e Erradicar a
Violência contra a Mulher – 27 de novembro de 1995.
8. Protocolo à Convenção Americana referente à Abolição da Pena
de Morte – 13 de agosto de 1996.
9. Protocolo à Convenção Americana referente aos Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais – Protocolo de San Salvador – 21
de agosto de 1996.
10. Convenção Interamericana para Eliminação de todas as Formas
de Discriminação contra Pessoas Portadoras de Deficiências – 15
de agosto de 2001.
11. Estatuto de Roma – Tribunal Penal Internacional – 20 de junho
de 2002.
12. Protocolo Facultativo à Convenção sobre a Eliminação de
todas as formas de Discriminação contra a Mulher – 28 de junho de
2002.
13. Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos das Crianças 
sobre o Envolvimento em Conflitos Armados – 27 de janeiro de 2004.
14. Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos das
Crianças sobre Venda, Prostituição e Pornografia Infantis – 27 de
janeiro de 2004.
15. Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura – 11 de
janeiro de 2007.
16. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiências e
seu Protocolo Facultativo – 1º de agosto de 2008.
17. Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional dos Direitos Civis
e Políticos, bem como do Segundo Protocolo ao mesmo Pacto
visando à Abolição da Pena de Morte em 25 de setembro de 2009.
Citação
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Sistema Europeu de Proteção dos 
Direitos Humanos
Pode-se afirmar que o Sistema Europeu de Proteção dos Direitos Humanos é 
reconhecidamente o mais eficiente dentre os demais Sistemas Regionais de 
Proteção. Tal entendimento é defendido por Flavia Piovesan (2015, p. 114):
Ressalte-se que, dos sistemas regionais, é o europeu o que traduz mais 
extraordinária experiência de justicialização de direitos humanos, por 
meio da atuação da Corte Europeia. Isto é, o sistema europeu não apenas 
elenca um catálogo de direitos, mas institui um sistema inédito que 
permite a proteção judicial dos direitos e liberdades neles previstos.
O Sistema Europeu foi fruto de um esforço conjunto para a promoção da unidade 
europeia, progresso econômico e proteção aos direitos humanos em uma Europa 
dizimada após a 2ª Guerra Mundial. O Conselho da Europa foi fundado em 1949 e é 
integrado por 47 Estados-Membros. Todos eles assinaram a Convenção Europeia 
de Direitos Humanos, cujo objetivo é a defesa dos direitos humanos noContinente 
Europeu. Confira, abaixo, o organograma do Conselho da Europa.
Estrutura do Conselho da Europa
Conselho da Europa
Comitê de 
Ministros
Assembleia 
Parlamentar
Secretariado-Geral Tribunal Europeu dos 
Direitos do Homem
Congresso dos 
Poderes Locais e 
Regionais
 Fonte: Elaborada pela autora (2018).
A Convenção Europeia dos Direitos Humanos e das Liberdades Fundamentais foi 
elaborada no âmbito do Conselho da Europa Ocidental, entrando em vigor no dia 3 
de setembro de 1953. É importante destacar que, nesse documento, os Estados-
partes aceitam a supervisão internacional quanto à proteção de direitos humanos e 
à adoção interna de parâmetros mínimos em matéria de proteção desses direitos.
No entendimento de Comparato (2015, p. 282), a Convenção Europeia teve 
importância ímpar na proteção aos direitos humanos:
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Mas a grande contribuição da Convenção Europeia para a proteção da 
pessoa humana foi, de um lado, a instituição de órgãos incumbidos de 
fiscalizar o respeito aos direitos nela declarados e julgar as suas eventuais 
violações pelos Estados signatários; de outro, o reconhecimento do 
indivíduo como sujeito do direito internacional, no que tange à proteção 
dos direitos humanos.
Os direitos protegidos na Convenção Europeia são fundamentalmente os direitos 
civis e políticos que representavam à época os ideias liberais e individualistas. São 
os chamados direitos de 1ª geração.
A proteção aos direitos de 2ª geração – direitos econômicos, sociais e culturais
– foram objeto da Carta Social Europeia, que entrou em vigor em 26 de fevereiros de
1965.
A Corte Europeia adotou quatro importantes princípios. Vamos conhecer agora cada 
um deles?
1. Princípio da interpretação teleológica:
Segundo este princípio, a interpretação a ser dada aos direitos elencados na 
Convenção deve ser a mais apropriada possível, visando alcançar os fins e 
objetivos ali traçados. Devem ser evitadas quaisquer leituras interpretativas 
que limitem o alcance das obrigações assumidas pelos Estados-partes.
2. Princípio da interpretação efetiva:
Este princípio fala por si. A Corte Europeia deve assegurar aos direitos 
previstos na Convenção efetividade, adequação e caráter satisfatório.
3. Princípio da interpretação dinâmica e evolutiva:
A interpretação pela Corte deve se adaptar às mudanças ocorridas na 
sociedade, nos planos político, econômico e social. Os direitos humanos 
se caracterizam por serem um conceito histórico, em processo contínuo de 
evolução e desenvolvimento.
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4. Princípio da Proporcionalidade:
Este princípio determina uma razoabilidade entre os meios empregados e 
os fins a serem atingidos. Dessa forma, deve haver um equilíbrio entre o 
interesse geral da comunidade e as demandas individuais de proteção aos 
direitos humanos.
A partir de 1º de novembro de 1988, surgiu um novo sistema que substituiu a Corte 
e a Comissão de Direitos Humanos por uma Corte permanente. Esse sistema foi 
aprovado pelo Protocolo nº 11. A nova Corte é regida por importantes princípios do 
direito: contraditório e da ampla defesa.
A quantidade de seus membros deve ser a mesma do Conselho da Europa. Quando 
o Estado-Membro ratifica a Convenção, já está, implicitamente, aceitando a
jurisdição da Corte Europeia. Possui, ainda, jurisdição contenciosa e consultiva.
Os princípios do contraditório e da ampla defesa são indissociáveis 
e estão presentes no processo judicial e administrativo. 
Pelo contraditório, cada uma das partes tem direito a tomar 
conhecimento do que é alegado no processo e contestar. No caso 
da ampla defesa, as partes podem trazer ao processo quaisquer 
provas lícitas para provar a verdade, omitir-se ou calar-se, a fim 
de evitar autoincriminação
Saiba mais
O novo sistema, com a criação de uma Corte Europeia, trouxe importantes 
modificações, tais como:
• indivíduos, grupos de indivíduos e organizações não governamentais (ONGs)
têm acesso direto à Corte Europeia, mediante o direito de petição;
• a Corte possui competência consultiva e contenciosa. No caso desta última,
as decisões são vinculantes e têm natureza declaratória;
• o número de juízes deverá ser igual ao número de Estados-partes;
• as línguas oficiais são o inglês e o francês.
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O Sistema Europeu enfrenta novos desafios diante da inclusão de países na 
Comunidade Europeia e da onda de refugiados que acometeu o continente. Sobre 
isso, comenta Piovesan (2015, p. 131):
Atente-se, todavia, que a inclusão dos países do leste Europeu no 
sistema europeu, com sua agenda própria de violações, está a deflagrar 
a crescente abertura da Corte Europeia à jurisprudência interamericana 
relativa a graves violações de direitos perpetradas por regimes autoritários, 
envolvendo a prática de tortura, execução su- mária e desaparecimento 
forçado de pessoas.
Conclusão
O tema desta unidade é bastante amplo e, dependendo da questão analisada, 
por ser muito complexo. Isso porque, quando se trata de questões envolvendo 
interesses difusos, até se chegar a um consenso, as negociações podem demorar 
muitos anos, e analisar as variáveis presentes em um caso concreto levam em 
consideração as declarações e tratados internacionais.
Por conta disso, trata-se de um tema muito relevante para os seus estudos, que 
pode ser o diferencial de conhecimento em um processo de seleção de um trabalho, 
por exemplo. Nesse ponto, é importante que seus conhecimentos sejam difundidos 
entre a sua comunidade, gerando oportunidades de discussões e aprendizado para 
todos.
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Referências
COMPARATO, F. K. A afirmação histórica dos direitos humanos. 3. ed. rev. amp. São 
Paulo: Saraiva, 2003.
PIOVESAN, F. Direitos Humanos e Justiça Internacional: um estudo comparativo dos 
sistemas regionais europei, interamericano e africano. São Paulo: Saraiva Educação, 
2015.
PIOVESAN, F. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 14. ed., rev. 
e atual. São Paulo: Saraiva, 2013.
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